Liberdade Quotes

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A liberdade é a possibilidade do isolamento. Se te é impossível viver só, nasceste escravo.
Fernando Pessoa
Recomeça… Se puderes, Sem angústia e sem pressa. E os passos que deres, Nesse caminho duro Do futuro, Dá-os em liberdade. Enquanto não alcances Não descanses. De nenhum fruto queiras só metade. E, nunca saciado, Vai colhendo Ilusões sucessivas no pomar E vendo Acordado, O logro da aventura. És homem, não te esqueças! Só é tua a loucura Onde, com lucidez, te reconheças.
Miguel Torga
Porque a revolução é uma pátria e uma família.
Jorge Amado (Capitães da areia)
Devia ser sábado, passava da meia-noite. Ele sorriu para mim. E perguntou: - Você vai para a Liberdade? - Não, eu vou para o Paraíso. Ele sentou-se ao meu lado. E disse. - Então eu vou com você.
Caio Fernando Abreu (Onde Andará Dulce Veiga?: Um Romance B)
Amo a liberdade, por isso as coisas que amo deixo-as livres. Se voltarem é porque as conquistei, se não voltarem é porque nunca as tive
Bob Marley (Bob Marley: Guitar Chord Songbook (Guitar Chord Songbooks))
O sofrimento é como a liberdade: só aos corações de grande fortaleza pode aproveitar, aos outros humilha-os e corrompe-os, e mais nada.
Agustina Bessa-Luís (Contemplação Carinhosa da Angústia)
Liberdade é pouco. O que eu desejo ainda não tem nome.
Clarice Lispector (Near to the Wild Heart)
Os pássaros ficavam encolhidos a um canto, tentando evitar olhar para aquela porta aberta, desviavam os olhos da liberdade, que é uma das portas mais assustadoras. Só se sentiam livres dentro de uma prisão.
Afonso Cruz (A Boneca de Kokoschka)
Mas reconhecer tudo isso e ainda assim encontrar a liberdade, fazer as escolhas, saber o que é e o que pode vir a ser, isso é o adulto responsável. Curvando-se à necessidade, deve escolher. Es- sa liberdade de escolha é a carga e a dádiva que todos recebem ao deixar a infância, a carga e a dádiva que todos levam quando atin- gem o fim da infância.
Judith Viorst (Perdas Necessárias)
A liberdade é uma conversa fiada, é palavra de efeito, sempre no meio de uma frase para impressionar os desatentos, no fundo estamos presos à incapacidade de ser outra coisa diferente do que somos, do que a história da gente tramou.
Carla Madeira (Tudo é Rio)
Cultivo muito a independência. Por isso gosto do gato. Muita gente não gosta pela liberdade de que ele precisa para viver. No circo você vê tigre e urso, mas não vê um gato. O gato é altivo, e o ser humano não gosta de quem é altivo.
Nise da Silveira (Gatos, a Emoção de Lidar)
A felicidade é parecida com a liberdade, porque toda a gente fala nela e ninguém a goza.
Camilo Castelo Branco
A liberdade não é coisa que se mata, é vontade que mais cresce quanto mais alguém lhe puxa as raízes do chão, é a vontade indomável de quem quer viver sem a fraqueza obrigatória de se render.
Manuel Alves (Terra Fria)
Liberdade: essa palavra que o sonho humano alimenta: que não há ninguém que explique, e ninguém que não entenda!
Cecília Meireles (Romanceiro da Inconfidência)
Só esta liberdade nos concedem Os deuses: submetermo-nos Ao seu domínio por vontade nossa. Mais vale assim fazermos Porque só na ilusão da liberdade A liberdade existe.
Fernando Pessoa (Odas de Ricardo Reis)
Tenho medo que a liberdade se torne um vício
Miguel Sousa Tavares
Somos assim: sonhamos o voo mas tememos a altura. Para voar é preciso ter coragem para enfrentar o terror do vazio. Porque é só no vazio que o voo acontece. O vazio é o espaço da liberdade, a ausência de certezas. Por isso trocamos o voo por gaiolas. As gaiolas são o lugar onde as certezas moram.
Fiodor Dostoïevski (Os Irmãos Karamazov)
O que não falamos se torna um segredo, e segredos quase sempre criam vergonha, medo e mitos. Falo porque um dia quero me sentir confortável falando, e não envergonhada ou culpada.
V (formerly Eve Ensler) (The Vagina Monologues)
MULHERES À BEIRA-MAR Confundindo os seus cabelos com os cabelos do vento, têm o corpo feliz de tão seu e tão denso em plena liberdade.
Sophia de Mello Breyner Andresen (Mar)
A liberdade é a esperança mais cruel de tudo o que nasce em cativeiro.
Manuel Alves (VÉNUS 12)
pensei que a liberdade vinha com a idade depois pensei que a liberdade vinha com o tempo depois pensei que a liberdade vinha com o dinheiro depois pensei que a liberdade vinha com o poder depois percebi que a liberdade não vem não é coisa que lhe aconteça terei sempre de ir eu
Sónia Balacó (CONSTELAÇÃO)
Quando você rompe o silêncio, descobre quantas outras pessoas viviam esperando uma permissão para fazer o mesmo.
V (formerly Eve Ensler) (The Vagina Monologues)
A gente passa a vida pelejando com o dilema de existir ou desistir, com o que é bom e o que é ruim, o certo e o errado, a morte e a vida. Essas coisas não se separam. O lugar que dói é o mesmo que sente arrepios. É no corpo, no amor e na liberdade de escolher as coisas que a gente fica inteiro ou despedaçado. Então, pede para a parte boa dar conta da parte ruim.
Carla Madeira (Tudo é Rio)
«Para o cristão, a absolutização da liberdade humana não é outra coisa além do culto idolátrico do homem pelo homem.»
Jean-Marc Berthoud (Une religion sans dieu : les droits de l’homme contre l’Évangile)
Não o prazer, não a glória, não o poder: a liberdade, unicamente a liberdade.
Fernando Pessoa (Livro do Desassossego, Vol. I)
Pessoalmente, gosto da minha liberdade de expressão sem mas. É liberdade de expressão sem mas e café sem açúcar. Realmente, não fica tão docinho, mas não estraga o verdadeiro sabor.
Ricardo Araújo Pereira (Reaccionário com Dois Cês)
Antes de me organizar, tenho que me desorganizar internamente. Para experimentar o primeiro e passageiro estado primário de liberdade. Da liberdade de errar, cair e levantar-me. Mas se eu esperar compreender para aceitar as coisas - nunca o ato de entrega se fará. Tenho que dar o mergulho de uma só vez, mergulho que abrange a compreensão e sobretudo a incompreensão. E quem sou eu para ousar pensar? Devo é entregar-me. Como se faz? Sei porém que só andando é que se sabe andar e - milagre - se anda.
Clarice Lispector (The Stream of Life)
Certos escritores se desculpam de não haverem forjado coisas excelentes por falta de liberdade -- talvez ingênuo recurso de justificar inépcia ou preguiça. Liberdade completa ninguém desfruta: começamos oprimidos pela sintaxe e acabamos às voltas com a Delegacia de Ordem Política e Social, mas, nos estreitos limites a que nos coagem a gramática e a lei, ainda nos podemos mexer
Graciliano Ramos (Memórias do Cárcere - Volume I)
é esse, aliás, o problema da liberdade: se é muita, tudo pode ser tudo, não há limites para nada, não há obstáculos, e o aborrecimento instala-se. [as fronteiras] fazem com que não percamos a nossa identidade. A liberdade é o maior inimigo da identidade e uma pessoa tem de arranjar um equilíbrio entre ambas.
Afonso Cruz (O Pintor Debaixo do Lava-Loiças)
A teimar eu na liberdade e em privilegiar o pensamento e os versos, na tentativa de dominar e comandar o corpo que inutilmente me esforço por enganar nas suas exigências naturais, ao reconhecer o grande sossego que a frieza e a razão sempre trazem consigo, em detrimento do meu coração que na inquietude se esmera.
Maria Teresa Horta (As Luzes de Leonor)
Atravessar fronteiras era um desejo meu desde menina, incluindo as fronteiras mentais, não apenas as geográficas. Conhecer, descobrir, avançar, aprender: verbos que de certa forma me definem, todos relacionados com o exercício da liberdade.
Martha Medeiros (Um Lugar na Janela)
Lá fora é a liberdade e o sol. A cadeia, os presos na cadeia, a surra ensinaram a Pedro Bala que a liberdade é o bem maior do mundo. Agora sabe que não foi apenas para que sua história fosse contada no cais, no mercado, na Porta do Mar, que seu pai morrera pela liberdade. A liberdade é como o sol. É o bem maior do mundo.
Jorge Amado (Capitães da areia)
Foi mais uma tarde de loucura e de sonho e, fosse qual fosse a faixa do tempo em que se encontrassem, sentiram-se, como todos os amantes, fora de qualquer espaço e de qualquer tempo. Fizeram um amor sagrado, um amor profano, um amor devoto, um amor transgressor, um amor nómada, um amor sedentário, um amor viajante, um amor de bichos, um amor de deuses." Um homem precisa de liberdade para depois apreciar o conforto da casa.
Rosa Lobato de Faria (As Esquinas do Tempo)
A liberdade, sim - sobre os cascos, sobre os dias, sobre as futuras travessias de águas irrequitas chamadas rios.
Ondjaki (E Se Amanhã o Medo)
Há dois caminhos na vida; a liberdade para aqueles que arriscam, ou a prisão para aqueles que se acomodam.
Margarida Rebelo Pinto (O Amor é Outra Coisa)
Viu que estava irremediavelmente longe da mediana história local, e que os seus tesouros eram afinal uma sentença que a colocava em liberdade vigiada para toda a vida.
Agustina Bessa-Luís (Os Meninos de Ouro)
Liberdade é perder toda a esperança... Você olha para uma estrela e desaparece dentro dela.
Chuck Palahniuk (Fight Club)
Não é verdade, monsieur, que o grande valor está em manter a própria liberdade intelectual, em não escravizar o nosso poder de apreciação, a nossa independência crítica?
Edith Wharton (The Age of Innocence)
O Sem-Pernas ficava pensando. E achava que a alegria daquela liberdade era pouca para a desgraça daquela vida.
Jorge Amado (Capitães da areia)
O inimigo mais perigoso da verdade e da liberdade, entre nós, é a enorme e silenciosa maioria dos meus concidadãos.
Henrik Ibsen (An Enemy of the People)
Em Deus, ou melhor, na ficção de Deus, está a verdadeira escravidão. A liberdade dos homens só será completa quando tivermos assassinado Deus.
José Eduardo Agualusa (Nação Crioula)
Talvez espante ao leitor a franqueza com que lhe exponho e realço a minha mediocridade; advirta que a franqueza é a primeira virtude de um defunto. Na vida, o olhar da opinião, o contraste dos interesses, a luta das cobiças obrigam a gente a calar os trapos velhos, a disfarçar os rasgões e os remendos, a não estender ao mundo as revelações que faz à consciência; e o melhor da obrigação é quando, à força de embaçar os outros, embaça-se um homem a si mesmo, porque em tal caso poupa-se o vexame, que é uma sensação penosa, e a hipocrisia, que é um vício hediondo. Mas, na morte, que diferença! Que desabafo! Que liberdade! Como a gente pode sacudir fora a capa, deitar ao fosso as lentejoulas, despregar-se, despintar-se, desafeitar-se, confessar lisamente o que foi e o que deixou de ser!
Machado de Assis (Memórias Póstumas de Brás Cubas)
Algumas vezes as mudanças acontecem na marra. Uma guilhotina afiada corta as nossas mãos, e todas as rédeas escapam. É o que pensamos ter acontecido, até que a gente se dá conta de que nunca houve rédeas. Ninguém monta na vida. Brincamos de escolher, brincamos de poder conduzir o destino. Precisamos dessa ilusão para viver os dias de antes, dias em que podemos tudo só porque pensamos poder, e então a vontade do que está fora da gente joga sua sombra densa e pegajosa. Ficamos prisioneiros do que não queremos muito antes da morte.
Carla Madeira (Tudo é Rio)
Instruções para dar corda ao relógio Lá no fundo está a morte, mas não tenha medo. Segure o relógio com uma mão, pegue com dois dedos o pino da corda, puxe-o suavemente. Agora abre-se outro prazo, as árvores soltam suas folhas, os barcos correm regata, o tempo como um leque vai-se enchendo de si mesmo e dele brotam o ar, as brisas da terra, a sombra de uma mulher, o perfume do pão. Que mais quer, que mais quer? Amarre-o depressa ao seu pulso, deixe-o bater em liberdade, imite-o anelante. O medo enferruja as âncoras, cada coisa que pôde ser alcançada e foi esquecida começa a corroer as veias do relógio, gangrenando o frio sangue de seus pequenos rubis. E lá no fundo está a morte se não corremos, e chegamos antes e compreendemos que já não tem importância.
Julio Cortázar (Historias de cronopios y de famas / Un tal Lucas)
Não hei-de morrer sem saber qual a cor da liberdade. Eu não posso senão ser desta terra em que nasci. Embora ao mundo pertença e sempre a verdade vença, qual será ser livre aqui, não hei-de morrer sem saber. Trocaram tudo em maldade, é quase um crime viver. Mas, embora escondam tudo e me queiram cego e mudo, não hei-de morrer sem saber qual a cor da liberdade.
Jorge de Sena
Não há sentido mais amplo do que o que realiza a personalidade, consumando a liberdade. Tudo o que eu escrevo se destina a interessar as pessoas na sua própria entidade. Daí, muitas vezes, ela ter um efeito devastador, a obra e a pessoa que a produz. Sobretudo a pessoa, devo dizer. Eu desmarco os outros da rotina, espanto a manada. Depois os efeitos são maravilhosos, combinam com a imortalidade.
Agustina Bessa-Luís
Aceitamos a designação de municipalista; aceitamo-la da boca da democracia. Toca-nos provar que o municipalismo, instituição tão antiga, tão permanente como as sociedades, embora enfraquecida e até anulada em várias épocas pelos diversos despotismos, vale infinitamente mais do que as aspirações democráticas; que ele nos oferece o único meio possível de mantermos a nacionalidade, ao passo que seria o mais poderoso instrumento de uma liberdade verdadeira, convertendo o Governo representativo, de uma imensa decepção, numa realidade prática.
Alexandre Herculano
Meditar previamente sobre a morte é meditar previamente sobre a liberdade.Quem aprendeu a morrer desaprendeu a se subjugar. Não há nenhum mal na vida para aquele que bem compreendeu que a privação da vida não é um mal. Saber morrer liberta-nos de toda sujeição e imposição.
Michel de Montaigne (Ensaios: Que filosofar é aprender a morrer e outros ensaios)
É quase dia; desejara que já tivesses ido, não mais longe porém, do que a travessa menina deixa o meigo passarinho que das mãos ela solta - tal qual pobre prisioneiro na corda bem torcida - para logo puxá-lo novamente pelo fio de seda, tão ciumenta e amorosa é de sua liberdade.
William Shakespeare (Romeo and Juliet)
Um quer ir embora e, ao mesmo tempo, não. O outro quer liberdade, mas a dois. Então um se vai e deita em todas as camas, sofrendo. E o outro mergulha sozinho na dor, sobrevivendo. Diferença de idade não existe. A necessidade secreta de cada um é que destrói ilusões e constrói o que está por vir.
Martha Medeiros (Doidas e santas)
Povos livres, lembrem-se desta máxima: pode-se adquirir a liberdade, mas recuperá-la jamais.
Jean-Jacques Rousseau (The Social Contract)
Alguns turistas pensam que Amesterdão é uma cidade de pecado, mas, na verdade, é uma cidade de liberdade. E na liberdade, a maioria das pessoas encontra o pecado.
John Green (The Fault in Our Stars)
Aqui, exceto a liberdade, exceto muitas outras coisas que eu gostaria que fossem diferentes, não estou muito mal.
Vincent van Gogh (Cartas a Théo)
Liberdade e comunismo são duas ideias antagónicas.
António de Oliveira Salazar (Salazar: Citações)
As liberdades ilimitadas destroem-se a si próprias.
António de Oliveira Salazar (Salazar: Citações)
Não tem de ser assim tão ruim - disse Breu calmamente. - A maior parte das nossas prisões é criada por nós mesmos. Um homem também faz a própria liberdade.
Robin Hobb (Assassin's Apprentice (Farseer Trilogy, #1))
(...) Era muito simples o que ele ensinava.Dizia que somos maiores do que pensamos, e que a sabedoria é o caminho da liberdade. Para nos salvarmos não é necessário a pessoa retirar-se do Mundo, mas apenas renunciar à individualidade. O trabalho feito desinteressadamente purifica o espirito, e os deveres são oportunidades dadas ao homem para abafar a própria individualidade e identificar-se com a individualidade universal. (...)'' Difícil é andar sobre o aguçado fio da navalha; é árduo, dizem os sábios, é o caminho da Salvação. (Katha-Upanishad)
W. Somerset Maugham (The Razor’s Edge)
Não o nego, mas cativa-me a ideia da possibilidade, da liberdade. Quando tenho muitos livros para ler, tenho escolha. Quanto menos tiver, mais a minha liberdade está confinada. Ela depende dos livros que não são lidos. Se temos apenas um caminho, não temos liberdade, teremos impreterivelmente de o seguir. Para ela existir, temos de ter possibilidades, muitas, porque só daí pode resultar uma escolha lúcida.
Afonso Cruz (Mil Anos de Esquecimento)
Desde então, creio ter aprendido o que quer dizer amar: ser capaz não de tomar essas iniciativas 'exageradas' sobre si, mas de ser atento ao outro, respeitar seu desejo e seus ritmos, nada pedir mas aprender a receber e receber cada presente como uma surpresa da vida, e ser capaz, sem nenhuma pretensão, do mesmo presente e da mesma surpresa para o outro, sem lhe fazer a menor violência. Em sua, a simples liberdade.
ALTHUSSER LOUIS
a ordem sem liberdade, ainda que alicerçada numa exaltação momentânea, acaba por gerar os seus próprios anticorpos; mas a liberdade não pode ser garantida nem preservada sem uma moldura de ordem que preserve a paz.
Henry Kissinger (A Ordem Mundial)
Raul e Marcela - dizia-se - não eram dois esposos, eram dois amantes. Com efeito, para a sociedade, existe uma grande diferença entre «marido e mulher» e amante e amante. (...) O amor dos amantes é pelo contrário, livre; livre de todas as peias, de toda a hipocrisia. Não tem de guardar reservas: pode beijar as bocas, os seios, os corpos todos... É a liberdade na paixão, e como é liberdade, grangeou o ódio da «gente honesta»...
Mário de Sá-Carneiro (Loucura...)
A cidade está alegre, cheia de sol. “Os dias da Bahia parecem dias de festa”, pensa Pedro Bala, que se sente invadido também pela alegria. Assovia com força, bate risonhamente no ombro de Professor. E os dois riem, e logo a risada se transforma em gargalhada. No entanto, não têm mais que uns poucos níqueis no bolso, vão vestidos de farrapos, não sabem o que comerão. Mas estão cheios da beleza do dia e da liberdade de andar pelas ruas da cidade.
Jorge Amado (Capitães da areia)
A espécie humana é sempre igual, não muda nunca. A maioria gasta quase todo o seu tempo para sobreviver, e o pouco que lhe resta de liberdade causa-lhe tanta preocupação que ela busca por todos os meios livrar-se desta carga
Johann Wolfgang von Goethe (The Sorrows of Young Werther)
Monsieur Bergeret, com o nariz num livro grosso, pronunciou lentamente estas palavras: "A liberdade não tinha em seu favor senão uma ínfima minoria de pessoas instruídas. Quase o clero inteiro, os generais, a plebe ignara e fanática queriam um senhor." — Que está dizendo? – perguntou o senhor Mazure, agitado. — Nada – respondeu monsieur Bergeret. — Leio um capítulo da história da Espanha. O quadro dos costumes públicos ao tempo da restauração de Fernando VII.
Anatole France (The Amethyst Ring (A Chronicle of Our Own Times #3))
Caminhar, quando se está triste, até que os sapatos incomodem, é uma daquelas iniciativas que a levam à força para fora de você, no mundo; que freiam a espiral dos pensamentos e fazem você se sentir antes de tudo livre, depois exausta. Dois antídotos para tristeza, não infalíveis, mas úteis, são o sentimento da liberdade e o da exaustão; a tristeza, para se sustentar e durar, requer espaços fechados, sufocantes, e energia. Como os vampiros, ela também teme a luz do sol.
Ilaria Gaspari (Lezioni di felicità: Esercizi filosofici per il buon uso della vita)
Mas permanece também a verdade de que todo fim na história constitui necessariamente um novo começo; esse começo é a promessa, a única 'mensagem' que o fim pode produzir. O começo, antes de tornar-se evento histórico, é a suprema capacidade do homem; politicamente, equivale à liberdade do homem. Initium ut esset homo creatus est - 'o homem foi criado para que houvesse um começo', disse Agostinho. Cada novo nascimento garante esse começo; ele é, na verdade, cada um de nós.
Hannah Arendt (The Origins of Totalitarianism)
(...)é um fato que a história do Estado liberal coincide, de um lado, com o fim dos Estados confessionais e com a formação do Estado neutro ou agnóstico quanto às crenças religiosas de seus cidadãos, e, de outro lado, com o fim dos privilégios e dos vínculos feudais e com a exigência de livre disposição dos bens e da liberdade de troca que assinala o nascimento e o desenvolvimento da sociedade mercantil burguesa. Sob esse aspecto, a concepção liberal do Estado contrapôe-se às várias formas de paternalismo, segundo as quais o Estado deve tomar conta de seus súditos tal como o pai de seus filhos, posto que os súditos são considerados como perenemente menores de idade. Um dos fin a que se propõe Locke com seus 'Dois ensaios sobre o governo' é o de demonstrar que o poder civil, nascido para garantir a liberdade e a propriedade dos indivíduos que se associam com o propósito de se autogovernar é distinto do governo paterno e mais ainda do patronal.
Norberto Bobbio (Liberalism and Democracy (Radical Thinkers))
A liberdade se faz inteira debaixo da palavra, entre um músico Tang e um jarro de Oaxaca. (...) Benzinho, estamos invertendo a poesia de Eliot. Estamos curando o resfriado de Madame Sosostris, e esta coisa da alegria ainda vai dar muito certo.
Matilde Campilho (Jóquei)
Nossos dias são muito curtos para que tomemos, nos próprios ombros, o peso dos erros de outrem. Cada um vive a própria vida, e paga o preço de vivê-la. Em tudo, a única pena é que, com frequência, temos que pagar um preço alto por uma única falta. E, na verdade, estamos sempre a pagar. No trato com o homem, o Destino jamais encerra as contas.Há momentos, dizem-nos os psicólogos, quando a paixão pelo pecado, ou por aquilo que o mundo chama de pecado, domina de tal maneira uma personalidade, que toda fibra do corpo, e toda célula do cérebro, parece ser instinto com impulsos receosos. Nestes momentos, homens e mulheres perdem a liberdade da vontade. Como autômatos, consciência, morta, ou então, se conseguir viver, vive apenas para dar fascínio à revolta, e encanto a desobediência. Pois todos os pecados, como não se cansam de nos lembrar os teólogos, são pecados da desobediência. Quando, dos céus, cai o espírito maior, a estrela matutina do mal, é como rebelde que cai.
Oscar Wilde
Não se deve esperar da cultura de massas e, menos ainda, da sua versão capitalista de indústria cultural, o que ela não quer dar: lições de liberdade social e estímulos para a cons­trução de um mundo que não esteja atrelado ao dinheiro e ao status.
Alfredo Bosi (Dialética da Colonização)
Na verdade, os sentimentos são mecanismos bioquímicos que todos os mamíferos e aves usam para calcular rapidamente a probabilidade de sobrevivência e reprodução. Os sentimentos não têm por base a intuição, a inspiração ou a liberdade – baseiam-se em cálculos.
Yuval Noah Harari (21 lições para o século 21 (Portuguese Edition))
Você diz que minha maneira de pensar não pode ser aprovada. O que me importa? Bem louco é quem adota a maneira de pensar dos outros! Ela é fruto das minhas reflexões, deve-se á minha existência, à minha organização; não sou senhor de mudá-la, e, se fosse, não o faria. Essa maneira de pensar que você reprova é o único consolo de minha vida. Não foi a minha maneira de pensar que me desgraçou. O homem sensato que despreza o preconceito dos tolos necessariamente torna-se inimigo dos tolos; que se fie disto e caçoe destes. Um viajante segue numa bela estrada por onde espalharam armadilhas; cai numa delas. A quem a culpa, ao viajante ou ao celerado que as armou? Logo, se, como você diz, colocam minha liberdade a preço do sacrifício de meus princípios ou gostos, podemos nos dizer um eterno adeus, pois antes deles, sacrificaria mil vidas e mil liberdades se as tivesse. Taís princípios e gostos são levados por mim ao fanatismo, e éobra das perseguições dos meus tiranos. Quanto mais me atormentarem, mais enraizarão meus princípios no peito. E declaro abertamente jamais ser necessário me falarem de liberdade, se esta só me for oferecida pelo preço da destruição de meus princípios. Nem diante do cadafalso mudaria de idéia.
Marquis de Sade (Ciranda dos Libertinos)
Muitas pessoas gostam de dizer que as diferenças culturais são lindas, mas isso nem sempre é verdade. E que dá para viver sempre em paz. Eu gostaria que isso fosse verdade. Imagine que você mora em Londres, cidade saturada de “outros”. Imagine que você seja uma pessoa legal e sem preconceitos. De boa vontade, inclusive. Agora imagine que você tem uma filha educada nos padrões básicos ocidentais de um cristianismo relaxado e secularizado, isto é, sem muitos salamaleques religiosos, e que você seja um crente na ordem pública pautada pela liberdade de crença ou descrença. Sua filha, então, começa a namorar um muçulmano... Não precisa ser um radical extremista... Como seria? Não precisa imaginar questões muito complicadas sobre escolha entre Jesus e Maomé, pense apenas na educação dos netos, nos papéis masculinos e femininos, na vida profissional da sua filha, na relação com os “ancestrais”, nos calendários religiosos... Não sou contra casamentos interculturais, falo apenas da falsa facilidade com a qual se levam discussões como essas. Transtornos culturais se resolvem mais facilmente quando as pessoas envolvidas não dão muita bola para rituais e crenças específicas e aceitam a pasteurização contemporânea dessas crenças.
Luiz Felipe Pondé (Guia Politicamente Incorreto da Filosofia)
Aprendi muito, em muitas questões. Aprendi, mais do que tudo, que é preciso uma política que seja clara. O socialismo quer dizer combater a exploração e combater o capitalismo como forma de desigualdade social. Mas quer dizer também recusar os regimes de partido único ou de censura, ou de ataque à liberdade de opinião.
Francisco Louçã
E, finalmente, aos homens negros que, como eu, continuam em busca de liberdade, o maior agradecimento que eu poderia fazer. Nossas marcas nos levarão ao mais profundo autoconhecimento e, sem medo de ser que somos, transformaremos nossa realidade. Nossas vidas importam. Obrigada ao autor das nossas vidas. O futuro é preto.
Stefano Volp (Homens Pretos (Não) Choram)
Imaginamos um mundo onde as duas podemos ir jantar juntas num sábado à noite, sem que ninguém pense duas vezes no assunto. Dá vontade de chorar, a simplicidade, a exiguidade. Trabalhámos tanto para termos uma vida tão grandiosa. Mas agora tudo o que queremos são as mais pequenas liberdades. A paz quotidiana de amar sem restrições.
Taylor Jenkins Reid (The Seven Husbands of Evelyn Hugo)
Eu nunca fui livre na minha vida inteira. Por dentro, eu sempre me persegui. Eu me tornei intolerável para mim mesma. Vivo numa dualidade dilacerante. Eu tenho uma aparente liberdade mas estou presa dentro de mim. (...) Tenho medo de mim pois sou sempre apta a sofrer (...) Tenho que valer alguma coisa? Oh protegei-me de mim mesma, que me persigo.
Um sopro de vida, Clarice Lispector
Gostas quando o pai te proíbe de ir brincar com os rapazes? Ou quando a mãe diz que, um dia, terás de obedecer sempre ao teu marido? Então não digas a um pássaro que não pode voar.
André Ouro Verde (Palestina Sobre uma Tela)
A sua afirmação - as mulheres deviam ser livres, livres como nós - ia até ao fundo de um problema que no seu mundo se convencionara não existir. "Boas" mulheres, embora injustiçadas, nunca exigiriam o género de liberdade que ele pensava, e homens de espírito generoso como ele ficavam - assim no calor do argumento - cavalheirescamente prontos para conceder-lha.
Edith Wharton (The Age of Innocence)
Os seres humanos, evidentemente, têm vontade, têm desejos e, por vezes, são livres de cumprir esses desejos. Se por «livre-arbítrio» entendermos a liberdade de fazer o que se deseja, então, sim, os seres humanos têm livre-arbítrio. Mas se o «livre-arbítrio» significar a liberdade de escolher aquilo que se deseja, então, não, os seres humanos não têm livre-arbítrio.
Yuval Noah Harari (21 lições para o século 21 (Portuguese Edition))
Tudo isso, sim, a história é história. Mas sabendo antes para nunca esquecer que a palavra é fruto da palavra. A palavra tem que se parecer com a palavra. Atingi-la é o meu primeiro dever para comigo. E a palavra não pode ser enfeitada e artisticamente vã, tem que ser apenas ela. Bem, é verdade que também queria alcançar uma sensação fina e que esse finíssimo não se quebrasse em linha perpétua. Ao mesmo tempo que quero também alcançar o trombone mais grosso e baixo, grave e terra, tão a troco de nada que por nervosismo de escrever eu tivesse um acesso incontrolável de riso vindo do peito. E quero aceitar minha liberdade sem pensar o que muitos acham: que existir é coisa de doido, caso de loucura. Porque parece. Existir não é lógico.
Clarice Lispector (The Hour of the Star)
Se há na terra um reino que nos seja familiar e ao mesmo tempo estranho, fechado nos seus limites e simultaneamente sem fronteiras, esse reino é o da infância. A esse país inocente, donde se é expulso sempre demasiado cedo, apenas se regressa em momentos privilegiados — a tais regressos se chama, às vezes, poesia. Essa espécie de terra mítica é habitada por seres de uma tão grande formosura que os anjos tiveram neles o seu modelo, e foi às crianças, como todos sabem pelos evangelhos, que foi prometido o Paraíso. A sedução das crianças provém, antes de mais, da sua proximidade com os animais — a sua relação com o mundo não é a da utilidade, mas a do prazer. Elas não conhecem ainda os dois grandes inimigos da alma, que são, como disse Saint-Exupéry, o dinheiro e a vaidade. Estas frágeis criaturas, as únicas desde a origem destinadas à imortalidade, são também as mais vulneráveis — elas têm o peito aberto às maravilhas do mundo, mas estão sem defesa para a bestialidade humana que, apesar de tanta tecnologia de ponta, não diminui nem se extingue. O sofrimento de uma criança é de uma ordem tão monstruosa que, frequentemente, é usado como argumento para a negação da bondade divina. Não, não há salvação para quem faça sofrer uma criança, que isto se grave indelevelmente nos vossos espíritos. O simples facto de consentirmos que milhões e milhões de crianças padeçam fome, e reguem com as suas lágrimas a terra onde terão ainda de lutar um dia pela justiça e pela liberdade, prova bem que não somos filhos de Deus.
Eugénio de Andrade (Rosto Precário)
As várias formas hodiernas de dissolução do matrimónio, como as uniões livres e o "matrimónio de prova", até ao pseudomatrimónio entre pessoas do mesmo sexo, são, pelo contrário, expressões de uma liberdade anárquica que se faz passar indevidamente por verdadeira libertação do homem. Uma tal pseudoliberdade funda-se numa banalização do corpo que inevitavelmente inclui a banalização do homem. O seu pressuposto é que o homem pode fazer de si o que quer: o seu corpo torna-se assim numa coisa secundária, manipulável sob o ponto de vista humano, a ser utilizado como se deseja. O libertinismo, que se faz passar por descoberta do corpo e do seu valor, é na realidade um dualismo que torna o corpo desprezível, colocando-o por assim dizer fora do ser autêntico e da dignidade da pessoa.
Bento XVI
— Ela é bonita — comentou Shadow, examinando a moeda. O rosto prateado de Lady Liberdade lembrava um pouco o de Zorya Polunochnaya. — Essa é a eterna insensatez do homem — retrucou Wednesday, dando partida no carro. — Perseguir a doce carne, sem nunca perceber que é só uma cobertura bonitinha para os ossos. Comida de minhoca. À noite, você se esfrega em comida de minhoca. Sem querer ofender.
Neil Gaiman (Deuses Americanos (Deuses Americanos, #1))
Dostoiévski escreveu: «Se Deus não existisse, tudo seria permitido.» Aí se situa o ponto de partida do existencialismo. Com efeito, tudo é permitido se Deus não existe, fica o homem, por conseguinte, abandonado, já que não encontra em si, nem fora de si uma possibilidade a que se apegue. Antes de mais nada, não há desculpas para ele. Se, com efeito, a existência precede a essência, não será nunca possível referir uma explicação a uma natureza humana dada e imutável; por outras palavras, não há determinismo, o homem é livre, o homem é liberdade. Se, por outro lado, Deus não existe, não encotnramos diante de nós valores ou imposições que nos legitimam o comportamento. Assim, não temos nem atrás de nós, nem diante de nós, no domínio luminoso dos valores, justificações ou desculpas. Estamos sós e sem desculpas.
Jean-Paul Sartre
- Sim, é talvez tudo uma ilusão... E a Cidade a maior ilusão! Tão facilmente vitorioso redobrei de facúndia. Certamente, meu Príncipe, uma ilusão! E a mais amarga, porque o Homem pensa ter na Cidade a base de toda a sua grandeza e só nela tem a fonte de toda a sua miséria. (...) Na Cidade perdeu ele a força e beleza harmoniosa do corpo, e se tornou esse ser ressequido e escanifrado ou obeso e afogado em unto, de ossos moles como trapos, de nervos trémulos como arames, com cangalhas, com chinós, com dentaduras de chumbo, sem sangue, sem febra, sem viço, torto, corcunda - esse ser em que Deus, espantado, mal pode reconhecer o seu esbelto e rijo e nobre Adão! Na Cidade findou a sua liberdade moral: cada manhã ela lhe impõe uma necessidade, e cada necessidade o arremessa para uma dependência: pobre e subalterno, a sua vida é um constante solicitar, adular, vergar, rastejar, aturar; e rico e superior como um Jacinto, a Sociedade logo o enreda em tradições, preceitos, etiquetas, cerimónias, praxes, ritos, serviços mais disciplinares que os de um cárcere ou de um quartel... A sua tranquilidade (bem tão alto que Deus com ela recompensa os santos ) onde está, meu Jacinto? Sumida para sempre, nessa batalha desesperada pelo pão, ou pela fama, ou pelo poder, ou pelo gozo, ou pela fugidia rodela de ouro! Alegria como a haverá na Cidade para esses milhões de seres que tumultuam na arquejante ocupação de desejar - e que, nunca fartando o desejo, incessantemente padecem de desilusão, desesperança ou derrota? Os sentimentos mais genuinamente humanos logo na Cidade se desumanizam! Vê, meu Jacinto! São como luzes que o áspero vento do viver social não deixa arder com serenidade e limpidez; e aqui abala e faz tremer; e além brutamente apaga; e adiante obriga a flamejar com desnaturada violência. As amizades nunca passam de alianças que o interesse, na hora inquieta da defesa ou na hora sôfrega do assalto, ata apressadamente com um cordel apressado, e que estalam ao menor embate da rivalidade ou do orgulho. E o Amor, na Cidade, meu gentil Jacinto? Considera esses vastos armazéns com espelhos, onde a nobre carne de Eva se vende, tarifada ao arratel, como a de vaca! Contempla esse velho Deus do Himeneu, que circula trazendo em vez do ondeante facho da Paixão a apertada carteira do Dote! Espreita essa turba que foge dos largos caminhos assoalhados em que os Faunos amam as Ninfas na boa lei natural, e busca tristemente os recantos lôbregos de Sodoma ou de Lesbos!... Mas o que a cidade mais deteriora no homem é a Inteligência, porque ou lha arregimenta dentro da banalidade ou lha empurra para a extravagância. Nesta densa e pairante camada de Idéias e Fórmulas que constitui a atmosfera mental das Cidades, o homem que a respira, nela envolto, só pensa todos os pensamentos já pensados, só exprime todas as expressões já exprimidas: - ou então, para se destacar na pardacenta e chata rotina e trepar ao frágil andaime da gloríola, inventa num gemente esforço, inchando o crânio, uma novidade disforme que espante e que detenha a multidão como um monstrengo numa feira. Todos, intelectualmente, são carneiros, trilhando o mesmo trilho, balando o mesmo balido, com o focinho pendido para a poeira onde pisam, em fila, as pegadas pisadas; - e alguns são macacos, saltando no topo de mastros vistosos, com esgares e cabriolas. Assim, meu Jacinto, na Cidade, nesta criação tão antinatural onde o solo é de pau e feltro e alcatrão, e o carvão tapa o céu, e a gente vive acamada nos prédios como o paninho nas lojas, e a claridade vem pelos canos, e as mentiras se murmuram através de arames - o homem aparece como uma criatura anti-humana, sem beleza, sem força, sem liberdade, sem riso, sem sentimento, e trazendo em si um espírito que é passivo como um escravo ou impudente como um Histrião... E aqui tem o belo Jacinto o que é a bela Cidade! (...) -Sim, com efeito, a Cidade... É talvez uma ilusão perversa!
Eça de Queirós (A Cidade e as Serras)
Em todo amor há pelo menos dois seres, cada qual a grande incógnita na equação do outro. É isso que faz o amor parecer um capricho do destino – aquele futuro estranho e misterioso, impossível de ser descrito antecipadamente, que deve ser realizado ou protelado, acelerado ou interrompido. Amar significa abrir-se ao destino, a mais sublime de todas as condições humanas, em que o medo se funde ao regozijo num amálgama irreversível. Abrir-se ao destino significa, em última instância, admitir a liberdade no ser: aquela liberdade que se incorpora no Outro, o companheiro no amor. “A satisfação no amor individual não pode ser atingida sem a humildade, a coragem, a fé e a disciplina verdadeiras”, afirma Erich Fromm – apenas para acrescentar adiante, com tristeza, que em “uma cultura na qual são raras essas qualidades, atingir a capacidade de amar será sempre, necessariamente, uma rara conquista”.
Zygmunt Bauman (Liquid Love: On the Frailty of Human Bonds)
- Obedecer à sociedade? ... - replicou a marquesa, mostrando-se horrorizada. - É daí, senhor, que provêm todos os males. Deus não fez nem uma só lei para a nossa desgraça. Porém, os homens, reunindo-se, falsearam a sua obra. Nós, as mulheres, somo mais maltratadas pela civilização do que fomos pela natureza. Esta impõe-nos penas físicas que os homens não suavizaram, e a civilização desenvolveu sentimentos que eles enganam incessantemente. A natureza sufoca os seres fracos, os homens condenam-nos a viver para lhes oferecerem uma constante desgraça. O casamento, instituição em que hoje se funda a sociedade, faz-nos sentir todo o seu peso: para o homem a liberdade, para as mulheres os deveres. Nós lhes devemos toda a nossa vida, eles devem-nos apenas raros instantes. (...) Pois bem, o casamento, tal como hoje se efetua, afigura-se-me uma prostituição legal. Daí provieram todos os meus sofrimentos. (...) Fui a própria autora do mal, tendo desejado esse casamento.
Honoré de Balzac (La Femme De Trente Ans)
A morte dos outros anula uma parte das nossas liberdades, de não haver eco do amor que lhes temos, da impossibilidade de aço que se nos coloca de chegar até eles. Ninguém colmata a falta que o meu pai me faz, como ninguém preencherá o vazio de alguém que já não pisa o mesmo chão que nós. A crença é uma boa forma de lidar com a morte, mas a falta de garantias de que a vida depois da morte é como preconizam traz sempre um lastro de dor. De saudade. E da memória do que de mais belo a vida teve.
Daniel Oliveira
Hoje é o último dia do ano. Em todo o mundo que este calendário rege andam as pessoas entretidas a debates consigo mesmas as boas ações que tencionam praticar no ano que entra, jurando que vão ser retas, justas e equânimes, que da sua emendada boca não voltará a sair uma palavra má, uma mentira, uma insidia, ainda que as merecesse o inimigo, claro que é das pessoas vulgar que estamos falando, as outras, as de exceção, as incomuns, regulam-se por razões suas próprias para serem e fazerem o contrário sempre que lhes apetece ou aproveite, essas são as que não se deixam iludir, chegam a rir-se de nós e das boas intenções que mostramos, mas, enfim, vamos aprendendo com a experiencia, logo nos primeiros dias de Janeiro teremos esquecido metade do que havíamos prometido, e, tendo esquecido tanto, não há realmente motivo para cumprir o resto, é como um castelo de cartas, se já lhe faltam as obras superiores, melhor é que caia tudo e se confundam os naipes. Por isso é duvidoso ter-se despedido Cristo da vida com as palavras da escritura, as de Mateus e Marcos, Deus meu, Deus meu, por que me desamparaste, ou as de Lucas, Pai, nas tuas mãos entrego o meu espirito, ou as de João, Tudo está cumprido, o que Cristo disse foi, palavra de honra, qualquer pessoa popular sabe que esta é a verdade, Adeus mundo, cada vez a pior. Mas os deuses de Ricardo Reis são outros, silenciosas entidades que nos olham indiferentes, para quem o mal e o bem são menos que palavras, por as não dizerem eles nunca, e como as diriam, se mesmo entre o bem e o mal não sabem distinguir, indo como nós vamos no rio das coisas, só ditamos. Esta lição nos foi dada para que não nos afadiguemos a jurar novas e melhores intenções para o ano que tem, por elas não nos julgarão os deuses, pelas obras, também não, só juízes humanos ousam julgar, os deuses nunca, porque se supõe saberem tudo, salvo se tudo isto é falso, se justamente não é sua ocupação única esquecerem em cada momento o que do cada momento lhes vão ensinando os atos dos homens, os bons como os maus, iguais derradeiramente para os deuses, porque inúteis lhes são. Não digamos Amanhã farei, porque o mais certo é estarmos cansados amanhã, digamos antes, Depois de amanhã, sempre teremos um dia de intervalo para mudar de opinião e projeto, porém ainda mais prudente seria dizer, Um dia decidirei quando será o dia de dizer depois de amanhã, e talvez nem seja preciso, se a morte definidora vier antes desobrigar-me do compromisso, liberdade que a nós próprios negamos.
José Saramago (The Year of the Death of Ricardo Reis)
As pessoas raramente depositam toda a sua fé numa única história. Em vez disso, mantêm um portefólio de várias histórias e várias identidades, mudando de uma para a outra à medida das necessidades. Essas dissonâncias cognitivas são inerentes a quase todas a sociedades e movimentos. (…) A modernidade não rejeitou a profusão de histórias que herdou do passado. Em vez disso, abriu um supermercado de histórias. O ser humano moderno tem liberdade para experimentá-las a todas, escolhendo e combinando aquilo que lhe aprouver.
Yuval Noah Harari (21 lições para o século 21 (Portuguese Edition))
Se o projeto europeu falhar, porém, isso indicará que a crença nos valores liberais da liberdade e da tolerância não bastam para solucionar os conflitos culturais do mundo e para unir a Humanidade perante a ameaça da guerra nuclear, do colapso ecológico e da disrupção tecnológica. (…) Seria uma enorme pena que a experiência europeia de liberdade e tolerância se desmoronasse devido a um medo exagerado dos terroristas. Isso não só seria a concretização dos objetivos terroristas, como também daria a um punhado de fanáticos demasiado poder para decidir o futuro da Humanidade.
Yuval Noah Harari (21 lições para o século 21 (Portuguese Edition))
Era uma vez um pássaro. Adornado com um par de asas perfeitas e plumas reluzentes, coloridas e maravilhosas. Enfim, um animal feito para voar livre e solto no céu, e alegrar quem o observasse. Um dia, uma mulher viu o pássaro e apaixonou-se por ele. Ficou a olhar o seu voo com a boca aberta de espanto, o coração batendo mais rapidamente, os olhos brilhando de emoção. Convidou-o para voar com ela, e os dois viajaram pelo céu em completa harmonia. Ela admirava, venerava, celebrava o pássaro. Mas então pensou: talvez ele queira conhecer algumas montanhas distantes! E a mulher sentiu medo. Medo de nunca mais sentir aquilo com outro pássaro. E sentiu inveja, inveja da capacidade de voar do pássaro. E sentiu-se sozinha. E pensou: “vou montar uma armadilha. Da próxima vez que o pássaro surgir, ele não partirá mais.” O pássaro, que também estava apaixonado, voltou no dia seguinte, caiu na armadilha, e foi preso na gaiola. Todos os dias ela olhava o pássaro. Ali estava o objecto da sua paixão, e ela mostrava-o ás suas amigas, que comentavam: “Mas tu és uma pessoa que tem tudo.” Entretanto, uma estranha transformação começou a processar-se: como tinha o pássaro, e já não precisava de o conquistar, foi perdendo o interesse. O pássaro sem puder voar e exprimir o sentido da sua vida, foi definhando, perdendo o brilho, ficou feio – e a mulher já não lhe prestava atenção, apenas prestava atenção á maneira como o alimentava e como cuidava da sua gaiola. Um belo dia o pássaro morreu. Ela ficou profundamente triste, e passava a vida a pensar nele. Mas não se lembrava da gaiola, recordava apenas o dia em que o vira pela primeira vez, voando contente entre as nuvens. Se ela se observasse a si mesma, descobriria que aquilo que a emocionava tanto no pássaro era a sua liberdade, a energia das asas em movimento, não o seu corpo físico. Sem o pássaro a sua vida também perdeu o sentido, e a morte veio bater á sua porta. “Por que vieste?” perguntou á morte. “Para que possas voar de novo com ele nos céus”, respondeu a morte. “Se o tivesses deixado partir e voltar sempre, amá-lo-ias e admirá-lo-ias ainda mais; porém, agora precisas de mim para puderes encontrá-lo de novo.
Paulo Coelho (Eleven Minutes)
Os homens de espírito livre, que vivem só para o conhecimento, em breve acharão ter alcançado a sua definitiva posição relativamente à sociedade e ao Estado e, por exemplo, dar-se-ão de bom grado por satisfeitos com um pequeno emprego ou com uma fortuna que chegue à justa para viver; pois arranjar-se-ão para viver de maneira que uma grande tansformação dos bens materiais, até mesmo um derrube da ordem política, não deite também abaixo a sua vida. Em todas essas coisas eles gastam a menor energia possível, de modo a poderem imergir, com todas as forças reunidas e, por assim dizer, com um grande fôlego, no elemento do conhecimento. Podem, assim, ter esperança de mergulhar profundamente e também de, talvez, verem bem até ao fundo.
Friedrich Nietzsche (Human, All Too Human: A Book for Free Spirits)
Tomemos um exemplo: o eleitor que não quer votar com o Governo. Ei-lo, aí, junto da urna da oposição, com o seu voto hostil na mão, inchado do seu direito. Se, para o obrigar a votar com o Governo o empurrarem às coronhadas e às cacetadas, o homem volta-se, puxa de uma pistola – e aí temos a guerra civil. Para que esta brutalidade obsoleta? Não o espanquem, mas, pelo contrário, acompanhem-no ao café ou à taberna, conforme estejamos no campo ou na cidade, paguem-lhe bebidas generosamente, perguntem-lhe pelos pequerruchos, metamlhe uma placa de cinco tos-tões na mão e levem-no pelo braço, de cigarro na boca, trauteando o Hino, até junto da urna do Governo, vaso do Poder, taça da Felicidade! Tal é a tradição humana, doce, civilizada, hábil, que faz com que se possa tiranizar um País, com o aplauso do cidadão e em nome da Liberdade.
Eça de Queirós (O Conde d'Abranhos / A Catástrofe)
Ao contrário do catolicismo, o comunismo não tem uma doutrina. Enganam-se os que supõem que ela a tem. O catolicismo é um sistema dogmático perfeitamente definido e compreensível, quer teologicamente, quer sociologicamente. O comunismo não é um sistema: é um dogmatismo sem sistema – o dogmatismo informe da brutalidade e da dissolução. Se o que há de lixo moral e mental em todos os cérebros pudesse ser varrido e reunido, e com ele se formar uma figura gigantesca, tal seria a figura do comunismo, inimigo supremo da liberdade e da humanidade, como o é tudo quanto dorme nos baixo instintos que se escondem em cada um de nós. O comunismo não é uma doutrina porque é uma antidoutrina, ou uma contradoutrina. Tudo quanto o homem tem conquistado até hoje, de espiritualidade moral e mental – isto é de civilização e de cultura -, tudo isso ele inverte para formar a doutrina que não tem.
Fernando Pessoa (The Book of Disquiet)
Deveras não tinha queixas dos amos e não era movida pela cupidez ou a leviandade; era possuída dum vício que seria dominante do seu carácter pela vida fora, aquilo que determinaria a sua vocação, a sua fortuna, e havia de muitas vezes atrair-lhe a fama de ingrata e de coração árido, essa paixão, esse grave apetite da alma era a insatisfação de todo o convívio, o que fazia despertar nela uma espécie de desprezo pelas regalias obtidas, pelos amigos e fidelidades fixas, pela estabilidade sentimental e as razões de bom proveito, Mal a rotina lhe aparecia com a sua nitidez de paredes conhecidas e gente sem segredos, ela entrava em crise, projectava fugas, intrigava pela liberdade; no príncipio davam crédito aos seus lamentos algo alucinados, auxiliavam-na e ouviam-na com uma estupefacção maravilhada, depois abandonavam-na um tanto ao seu capricho de viver sempre na folga de todas as dedicações, no desprendimento de todas as forças que constrangessem a sua vontade e a sua boémia de coração.
Agustina Bessa-Luís (O Sermão do Fogo)
A beleza não oferece resultados isolados nem para o entendimento, nem para a vontade, não realiza, isoladamente, fins intelectuais ou morais, não encontra uma verdade sequer, não auxilia nem mesmo o cumprimento de um dever, e é, numa palavra, tão incapaz de fundar o caráter quanto de iluminar a mente. Pela cultura estética, portanto, permanecem inteiramente indeterminados o valor e a dignidade pessoais de um homem, à medida que estes só podem depender dele mesmo, e nada mais se alcançou senão o fato de que, a partir de agora, tornou-se-lhe possível pela natureza fazer de si mesmo o que quiser — de que lhe é completamente devolvida a liberdade de ser o que deve ser. Com isso, porém, alcança-se algo infinito. Pois, se lembramos que justamente essa liberdade lhe havia sido tomada pela coerção unilateral da natureza na sensação e pela legislação exclusiva da razão no pensamento, temos de considerar a capacidade que lhe é de-volvida na disposição estética como a suprema de todas as dádivas, a dádiva da humanidade.
Friedrich Schiller (The Aesthetic Letters, Essays And The Philosophical Letters Of Schiller)
A eternidade é bem distinta da perpetuidade, da mera continuidade infinita no tempo. A perpetuidade é nada mais do que a realização de uma série infinita de momentos, cada um dos quais se perde assim que se realizam. A eternidade é a fruição real e perene de vida ilimitada. O tempo, mesmo o tempo infinito, não passa de uma imagem, quase uma paródia, daquela plenitude; uma tentativa desesperada de compensar a transitoriedade de seus "presentes", multiplicando-os infinitamente. Esse é o motivo por que a Lucrécia de Shakespeare o chama de "seu criado incessante por toda a eternidade" (Rapto, 967). E Deus é eterno, não perpétuo. Estritamente falando, Ele nunca prevê; Ele simplesmente vê. Seu "futuro" é apenas uma área, e apenas para nós uma área especial, do Seu Agora infinito. Ele vê ( em vez de lembrar) seus atos de ontem porque o ontem ainda "está aí" para Ele; Ele vê (em vez de prever) os seus atos futuros porque Ele já está no amanhã. Como um espectador humano, ao assistir aos meus atos presentes, não infringe sua liberdade, assim tampouco sou menos livre para agir como bem entendo no futuro, porque Deus, no futuro (o Seu presente) me vê agir.
C.S. Lewis (The Discarded Image: An Introduction to Medieval and Renaissance Literature)
A centralização administrativa tende a multiplicar em demasia as rodas e as peças da máquina administrativa, os empregados, as comunicações hierárquicas do serviço, a papelada, a escrita, as dúvidas e as formalidades (...) É incontestável que a excessiva centralização, quando se juntam a governamental e a administrativa, não é das coisas mais favoráveis à liberdade dos cidadãos, que peia e embaraça. Fortalece, além do necessário e justo, o Poder Executivo, e põe os cidadãos na dependência imediata do Poder Central, em negócios nos quais pode essa imediata dependência escusar-se. Um governo bem organizado não deve governar tudo diretamente, e substituir em tudo a sua iniciativa, ação e atividade de todos. Há muitos assuntos nos quais a ação do interesse particular ou local é mais ativa, mais pronta, mais eficaz, mais económica do que a do Governo (...)A absorção da gerência de todos os interesses, ainda que secundários e locais, pelo Governo Central, mata a vida nas localidades, nada lhes deixa a fazer, perpetua nelas a indiferença e ignorância de seus negócios, fecha as portas da única escola em que a população pode aprender e habilitar-se praticamente para gerir negócios públicos
Visconde do Uruguai 1862