Liberdade Quotes

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A liberdade é a possibilidade do isolamento. Se te é impossível viver só, nasceste escravo.
Fernando Pessoa
Recomeça… Se puderes, Sem angústia e sem pressa. E os passos que deres, Nesse caminho duro Do futuro, Dá-os em liberdade. Enquanto não alcances Não descanses. De nenhum fruto queiras só metade. E, nunca saciado, Vai colhendo Ilusões sucessivas no pomar E vendo Acordado, O logro da aventura. És homem, não te esqueças! Só é tua a loucura Onde, com lucidez, te reconheças.
Miguel Torga
Porque a revolução é uma pátria e uma família.
Jorge Amado (Capitães da Areia)
Devia ser sábado, passava da meia-noite. Ele sorriu para mim. E perguntou: - Você vai para a Liberdade? - Não, eu vou para o Paraíso. Ele sentou-se ao meu lado. E disse. - Então eu vou com você.
Caio Fernando Abreu (Onde Andará Dulce Veiga?: Um Romance B)
O sofrimento é como a liberdade: só aos corações de grande fortaleza pode aproveitar, aos outros humilha-os e corrompe-os, e mais nada.
Agustina Bessa-Luís (Contemplação Carinhosa da Angústia)
Amo a liberdade, por isso as coisas que amo deixo-as livres. Se voltarem é porque as conquistei, se não voltarem é porque nunca as tive
Bob Marley (Bob Marley: Guitar Chord Songbook (Guitar Chord Songbooks))
Os pássaros ficavam encolhidos a um canto, tentando evitar olhar para aquela porta aberta, desviavam os olhos da liberdade, que é uma das portas mais assustadoras. Só se sentiam livres dentro de uma prisão.
Afonso Cruz (A Boneca de Kokoschka)
Liberdade é pouco. O que eu desejo ainda não tem nome.
Clarice Lispector (Near to the Wild Heart)
Mas reconhecer tudo isso e ainda assim encontrar a liberdade, fazer as escolhas, saber o que é e o que pode vir a ser, isso é o adulto responsável. Curvando-se à necessidade, deve escolher. Es- sa liberdade de escolha é a carga e a dádiva que todos recebem ao deixar a infância, a carga e a dádiva que todos levam quando atin- gem o fim da infância.
Judith Viorst (Perdas Necessárias)
A liberdade é uma conversa fiada, é palavra de efeito, sempre no meio de uma frase para impressionar os desatentos, no fundo estamos presos à incapacidade de ser outra coisa diferente do que somos, do que a história da gente tramou.
Carla Madeira (Tudo é Rio)
Cultivo muito a independência. Por isso gosto do gato. Muita gente não gosta pela liberdade de que ele precisa para viver. No circo você vê tigre e urso, mas não vê um gato. O gato é altivo, e o ser humano não gosta de quem é altivo.
Nise da Silveira (Gatos, a Emoção de Lidar)
A felicidade é parecida com a liberdade, porque toda a gente fala nela e ninguém a goza.
Camilo Castelo Branco
A liberdade não é coisa que se mata, é vontade que mais cresce quanto mais alguém lhe puxa as raízes do chão, é a vontade indomável de quem quer viver sem a fraqueza obrigatória de se render.
Manuel Alves (Terra Fria)
Liberdade: essa palavra que o sonho humano alimenta: que não há ninguém que explique, e ninguém que não entenda!
Cecília Meireles (Romanceiro da Inconfidência)
Tenho medo que a liberdade se torne um vício
Miguel Sousa Tavares
Só esta liberdade nos concedem Os deuses: submetermo-nos Ao seu domínio por vontade nossa. Mais vale assim fazermos Porque só na ilusão da liberdade A liberdade existe.
Fernando Pessoa (Odas de Ricardo Reis)
O que não falamos se torna um segredo, e segredos quase sempre criam vergonha, medo e mitos. Falo porque um dia quero me sentir confortável falando, e não envergonhada ou culpada.
V (formerly Eve Ensler) (The Vagina Monologues)
A liberdade é a esperança mais cruel de tudo o que nasce em cativeiro.
Manuel Alves (VÉNUS 12)
MULHERES À BEIRA-MAR Confundindo os seus cabelos com os cabelos do vento, têm o corpo feliz de tão seu e tão denso em plena liberdade.
Sophia de Mello Breyner Andresen (Mar)
Somos assim: sonhamos o voo mas tememos a altura. Para voar é preciso ter coragem para enfrentar o terror do vazio. Porque é só no vazio que o voo acontece. O vazio é o espaço da liberdade, a ausência de certezas. Por isso trocamos o voo por gaiolas. As gaiolas são o lugar onde as certezas moram.
Fiodor Dostoïevski (Os Irmãos Karamazov)
A gente passa a vida pelejando com o dilema de existir ou desistir, com o que é bom e o que é ruim, o certo e o errado, a morte e a vida. Essas coisas não se separam. O lugar que dói é o mesmo que sente arrepios. É no corpo, no amor e na liberdade de escolher as coisas que a gente fica inteiro ou despedaçado. Então, pede para a parte boa dar conta da parte ruim.
Carla Madeira (Tudo é Rio)
«Para o cristão, a absolutização da liberdade humana não é outra coisa além do culto idolátrico do homem pelo homem.»
Jean-Marc Berthoud (Une religion sans dieu : les droits de l’homme contre l’Évangile)
Não o prazer, não a glória, não o poder: a liberdade, unicamente a liberdade.
Fernando Pessoa (Livro do Desassossego, Vol. I)
Pessoalmente, gosto da minha liberdade de expressão sem mas. É liberdade de expressão sem mas e café sem açúcar. Realmente, não fica tão docinho, mas não estraga o verdadeiro sabor.
Ricardo Araújo Pereira (Reaccionário com Dois Cês)
pensei que a liberdade vinha com a idade depois pensei que a liberdade vinha com o tempo depois pensei que a liberdade vinha com o dinheiro depois pensei que a liberdade vinha com o poder depois percebi que a liberdade não vem não é coisa que lhe aconteça terei sempre de ir eu
Sónia Balacó (CONSTELAÇÃO)
Quando você rompe o silêncio, descobre quantas outras pessoas viviam esperando uma permissão para fazer o mesmo.
V (formerly Eve Ensler) (The Vagina Monologues)
Certos escritores se desculpam de não haverem forjado coisas excelentes por falta de liberdade -- talvez ingênuo recurso de justificar inépcia ou preguiça. Liberdade completa ninguém desfruta: começamos oprimidos pela sintaxe e acabamos às voltas com a Delegacia de Ordem Política e Social, mas, nos estreitos limites a que nos coagem a gramática e a lei, ainda nos podemos mexer
Graciliano Ramos (Memórias do Cárcere - Volume I)
é esse, aliás, o problema da liberdade: se é muita, tudo pode ser tudo, não há limites para nada, não há obstáculos, e o aborrecimento instala-se. [as fronteiras] fazem com que não percamos a nossa identidade. A liberdade é o maior inimigo da identidade e uma pessoa tem de arranjar um equilíbrio entre ambas.
Afonso Cruz (O Pintor Debaixo do Lava-Loiças)
A teimar eu na liberdade e em privilegiar o pensamento e os versos, na tentativa de dominar e comandar o corpo que inutilmente me esforço por enganar nas suas exigências naturais, ao reconhecer o grande sossego que a frieza e a razão sempre trazem consigo, em detrimento do meu coração que na inquietude se esmera.
Maria Teresa Horta (As Luzes de Leonor)
Atravessar fronteiras era um desejo meu desde menina, incluindo as fronteiras mentais, não apenas as geográficas. Conhecer, descobrir, avançar, aprender: verbos que de certa forma me definem, todos relacionados com o exercício da liberdade.
Martha Medeiros (Um Lugar na Janela)
Lá fora é a liberdade e o sol. A cadeia, os presos na cadeia, a surra ensinaram a Pedro Bala que a liberdade é o bem maior do mundo. Agora sabe que não foi apenas para que sua história fosse contada no cais, no mercado, na Porta do Mar, que seu pai morrera pela liberdade. A liberdade é como o sol. É o bem maior do mundo.
Jorge Amado (Capitães da Areia)
Foi mais uma tarde de loucura e de sonho e, fosse qual fosse a faixa do tempo em que se encontrassem, sentiram-se, como todos os amantes, fora de qualquer espaço e de qualquer tempo. Fizeram um amor sagrado, um amor profano, um amor devoto, um amor transgressor, um amor nómada, um amor sedentário, um amor viajante, um amor de bichos, um amor de deuses." Um homem precisa de liberdade para depois apreciar o conforto da casa.
Rosa Lobato de Faria (As Esquinas do Tempo)
Há dois caminhos na vida; a liberdade para aqueles que arriscam, ou a prisão para aqueles que se acomodam.
Margarida Rebelo Pinto (O Amor é Outra Coisa)
Viu que estava irremediavelmente longe da mediana história local, e que os seus tesouros eram afinal uma sentença que a colocava em liberdade vigiada para toda a vida.
Agustina Bessa-Luís (Os Meninos de Ouro)
O inimigo mais perigoso da verdade e da liberdade, entre nós, é a enorme e silenciosa maioria dos meus concidadãos.
Henrik Ibsen (An Enemy of the People)
Não é verdade, monsieur, que o grande valor está em manter a própria liberdade intelectual, em não escravizar o nosso poder de apreciação, a nossa independência crítica?
Edith Wharton (The Age of Innocence)
Liberdade é perder toda a esperança... Você olha para uma estrela e desaparece dentro dela.
Chuck Palahniuk (Fight Club)
Em Deus, ou melhor, na ficção de Deus, está a verdadeira escravidão. A liberdade dos homens só será completa quando tivermos assassinado Deus.
José Eduardo Agualusa (Nação Crioula)
A liberdade, sim - sobre os cascos, sobre os dias, sobre as futuras travessias de águas irrequitas chamadas rios.
Ondjaki (E Se Amanhã o Medo)
O Sem-Pernas ficava pensando. E achava que a alegria daquela liberdade era pouca para a desgraça daquela vida.
Jorge Amado (Capitães da Areia)
Talvez espante ao leitor a franqueza com que lhe exponho e realço a minha mediocridade; advirta que a franqueza é a primeira virtude de um defunto. Na vida, o olhar da opinião, o contraste dos interesses, a luta das cobiças obrigam a gente a calar os trapos velhos, a disfarçar os rasgões e os remendos, a não estender ao mundo as revelações que faz à consciência; e o melhor da obrigação é quando, à força de embaçar os outros, embaça-se um homem a si mesmo, porque em tal caso poupa-se o vexame, que é uma sensação penosa, e a hipocrisia, que é um vício hediondo. Mas, na morte, que diferença! Que desabafo! Que liberdade! Como a gente pode sacudir fora a capa, deitar ao fosso as lentejoulas, despregar-se, despintar-se, desafeitar-se, confessar lisamente o que foi e o que deixou de ser!
Machado de Assis (Memórias Póstumas de Brás Cubas)
Antes de me organizar, tenho que me desorganizar internamente. Para experimentar o primeiro e passageiro estado primário de liberdade. Da liberdade de errar, cair e levantar-me. Mas se eu esperar compreender para aceitar as coisas - nunca o ato de entrega se fará. Tenho que dar o mergulho de uma só vez, mergulho que abrange a compreensão e sobretudo a incompreensão. E quem sou eu para ousar pensar? Devo é entregar-me. Como se faz? Sei porém que só andando é que se sabe andar e - milagre - se anda.
Clarice Lispector (The Stream of Life)
Algumas vezes as mudanças acontecem na marra. Uma guilhotina afiada corta as nossas mãos, e todas as rédeas escapam. É o que pensamos ter acontecido, até que a gente se dá conta de que nunca houve rédeas. Ninguém monta na vida. Brincamos de escolher, brincamos de poder conduzir o destino. Precisamos dessa ilusão para viver os dias de antes, dias em que podemos tudo só porque pensamos poder, e então a vontade do que está fora da gente joga sua sombra densa e pegajosa. Ficamos prisioneiros do que não queremos muito antes da morte.
Carla Madeira (Tudo é Rio)
Instruções para dar corda ao relógio Lá no fundo está a morte, mas não tenha medo. Segure o relógio com uma mão, pegue com dois dedos o pino da corda, puxe-o suavemente. Agora abre-se outro prazo, as árvores soltam suas folhas, os barcos correm regata, o tempo como um leque vai-se enchendo de si mesmo e dele brotam o ar, as brisas da terra, a sombra de uma mulher, o perfume do pão. Que mais quer, que mais quer? Amarre-o depressa ao seu pulso, deixe-o bater em liberdade, imite-o anelante. O medo enferruja as âncoras, cada coisa que pôde ser alcançada e foi esquecida começa a corroer as veias do relógio, gangrenando o frio sangue de seus pequenos rubis. E lá no fundo está a morte se não corremos, e chegamos antes e compreendemos que já não tem importância.
Julio Cortázar (Historias de cronopios y de famas / Un tal Lucas)
Não hei-de morrer sem saber qual a cor da liberdade. Eu não posso senão ser desta terra em que nasci. Embora ao mundo pertença e sempre a verdade vença, qual será ser livre aqui, não hei-de morrer sem saber. Trocaram tudo em maldade, é quase um crime viver. Mas, embora escondam tudo e me queiram cego e mudo, não hei-de morrer sem saber qual a cor da liberdade.
Jorge de Sena
Não há sentido mais amplo do que o que realiza a personalidade, consumando a liberdade. Tudo o que eu escrevo se destina a interessar as pessoas na sua própria entidade. Daí, muitas vezes, ela ter um efeito devastador, a obra e a pessoa que a produz. Sobretudo a pessoa, devo dizer. Eu desmarco os outros da rotina, espanto a manada. Depois os efeitos são maravilhosos, combinam com a imortalidade.
Agustina Bessa-Luís
Aceitamos a designação de municipalista; aceitamo-la da boca da democracia. Toca-nos provar que o municipalismo, instituição tão antiga, tão permanente como as sociedades, embora enfraquecida e até anulada em várias épocas pelos diversos despotismos, vale infinitamente mais do que as aspirações democráticas; que ele nos oferece o único meio possível de mantermos a nacionalidade, ao passo que seria o mais poderoso instrumento de uma liberdade verdadeira, convertendo o Governo representativo, de uma imensa decepção, numa realidade prática.
Alexandre Herculano
Meditar previamente sobre a morte é meditar previamente sobre a liberdade.Quem aprendeu a morrer desaprendeu a se subjugar. Não há nenhum mal na vida para aquele que bem compreendeu que a privação da vida não é um mal. Saber morrer liberta-nos de toda sujeição e imposição.
Michel de Montaigne (Ensaios: Que filosofar é aprender a morrer e outros ensaios)
É quase dia; desejara que já tivesses ido, não mais longe porém, do que a travessa menina deixa o meigo passarinho que das mãos ela solta - tal qual pobre prisioneiro na corda bem torcida - para logo puxá-lo novamente pelo fio de seda, tão ciumenta e amorosa é de sua liberdade.
William Shakespeare (Romeo and Juliet)
Um quer ir embora e, ao mesmo tempo, não. O outro quer liberdade, mas a dois. Então um se vai e deita em todas as camas, sofrendo. E o outro mergulha sozinho na dor, sobrevivendo. Diferença de idade não existe. A necessidade secreta de cada um é que destrói ilusões e constrói o que está por vir.
Martha Medeiros (Doidas e santas)
A cidade está alegre, cheia de sol. “Os dias da Bahia parecem dias de festa”, pensa Pedro Bala, que se sente invadido também pela alegria. Assovia com força, bate risonhamente no ombro de Professor. E os dois riem, e logo a risada se transforma em gargalhada. No entanto, não têm mais que uns poucos níqueis no bolso, vão vestidos de farrapos, não sabem o que comerão. Mas estão cheios da beleza do dia e da liberdade de andar pelas ruas da cidade.
Jorge Amado (Capitães da Areia)
Aqueles que negam liberdade aos outros não merecem para si mesmos.
Abraham Lincoln
Tens inteira liberdade de te absteres dos sofrimentos do mundo, isso corresponde à tua natureza; mas talvez o facto de te absteres seja o único sofrimento que possas evitar
Franz Kafka (Antologia de Páginas Íntimas)
Ensaiando sobre multiverso e elevando a literatura à liberdade do infinitário eu ergui inventos graciosos para fazer sombra sob a qual cessar de ser.
Filipe Russo (Caro Jovem Adulto)
Liberdade é quando você esquece o nome do tirano.
Joseph Brodsky
A liberdade costuma destruir as coisas, sabe.
Scott Westerfeld (Extras (Uglies, #4))
As circunstâncias externas podem roubar-nos tudo, menos uma coisa: a liberdade de escolher como responder a essas circunstâncias.
Viktor E. Frankl
Como você sabe o que sinto? Você toma liberdades com a mente alheia. Não dá pra você saber como me sinto, o que sinto ou por que sinto.
Daniel Keyes (Flowers for Algernon)
(...) Era muito simples o que ele ensinava.Dizia que somos maiores do que pensamos, e que a sabedoria é o caminho da liberdade. Para nos salvarmos não é necessário a pessoa retirar-se do Mundo, mas apenas renunciar à individualidade. O trabalho feito desinteressadamente purifica o espirito, e os deveres são oportunidades dadas ao homem para abafar a própria individualidade e identificar-se com a individualidade universal. (...)'' Difícil é andar sobre o aguçado fio da navalha; é árduo, dizem os sábios, é o caminho da Salvação. (Katha-Upanishad)
W. Somerset Maugham (The Razor’s Edge)
Receava, particularmente, a forma mais sutil da gratidão, que se torna carinho canino; não queria que a liberdade, a única roupa que caía bem na Maga, se perdesse numa feminilidade diligente.
Julio Cortázar (Rayuela)
As catástrofes dos tempos mostraram-nos que o povo ensinado a ser cegamente fiel em qualquer sistema se privará da sua própria liberdade; matará o que lhe dá a liberdade, e fugirá com o ditador.
Wilhelm Reich (The Function of the Orgasm (Discovery of the Orgone #1))
Não o nego, mas cativa-me a ideia da possibilidade, da liberdade. Quando tenho muitos livros para ler, tenho escolha. Quanto menos tiver, mais a minha liberdade está confinada. Ela depende dos livros que não são lidos. Se temos apenas um caminho, não temos liberdade, teremos impreterivelmente de o seguir. Para ela existir, temos de ter possibilidades, muitas, porque só daí pode resultar uma escolha lúcida.
Afonso Cruz (Mil Anos de Esquecimento)
Aos amantes apresento esta questão: quem o mais desditoso, Arcita ou Palamon? Este avistava a amada todo dia, mas não podia abandonar o cárcere; aquele tinha toda a liberdade, mas nunca mais veria o seu amor.
Geoffrey Chaucer (The Canterbury Tales)
Desde então, creio ter aprendido o que quer dizer amar: ser capaz não de tomar essas iniciativas 'exageradas' sobre si, mas de ser atento ao outro, respeitar seu desejo e seus ritmos, nada pedir mas aprender a receber e receber cada presente como uma surpresa da vida, e ser capaz, sem nenhuma pretensão, do mesmo presente e da mesma surpresa para o outro, sem lhe fazer a menor violência. Em sua, a simples liberdade.
ALTHUSSER LOUIS
A igualdade só pode ser assegurada se forem diminuídas as liberdades daqueles que estão em melhores condições. Garantir que cada indivíduo seja livre para fazer o que desejar inevitavelmente compromete a igualdade.
Yuval Noah Harari (Sapiens: A Brief History of Humankind)
Raul e Marcela - dizia-se - não eram dois esposos, eram dois amantes. Com efeito, para a sociedade, existe uma grande diferença entre «marido e mulher» e amante e amante. (...) O amor dos amantes é pelo contrário, livre; livre de todas as peias, de toda a hipocrisia. Não tem de guardar reservas: pode beijar as bocas, os seios, os corpos todos... É a liberdade na paixão, e como é liberdade, grangeou o ódio da «gente honesta»...
Mário de Sá-Carneiro (Loucura...)
Caminhar, quando se está triste, até que os sapatos incomodem, é uma daquelas iniciativas que a levam à força para fora de você, no mundo; que freiam a espiral dos pensamentos e fazem você se sentir antes de tudo livre, depois exausta. Dois antídotos para tristeza, não infalíveis, mas úteis, são o sentimento da liberdade e o da exaustão; a tristeza, para se sustentar e durar, requer espaços fechados, sufocantes, e energia. Como os vampiros, ela também teme a luz do sol.
Ilaria Gaspari (Lezioni di felicità: Esercizi filosofici per il buon uso della vita)
Mas permanece também a verdade de que todo fim na história constitui necessariamente um novo começo; esse começo é a promessa, a única 'mensagem' que o fim pode produzir. O começo, antes de tornar-se evento histórico, é a suprema capacidade do homem; politicamente, equivale à liberdade do homem. Initium ut esset homo creatus est - 'o homem foi criado para que houvesse um começo', disse Agostinho. Cada novo nascimento garante esse começo; ele é, na verdade, cada um de nós.
Hannah Arendt (The Origins of Totalitarianism)
(...)é um fato que a história do Estado liberal coincide, de um lado, com o fim dos Estados confessionais e com a formação do Estado neutro ou agnóstico quanto às crenças religiosas de seus cidadãos, e, de outro lado, com o fim dos privilégios e dos vínculos feudais e com a exigência de livre disposição dos bens e da liberdade de troca que assinala o nascimento e o desenvolvimento da sociedade mercantil burguesa. Sob esse aspecto, a concepção liberal do Estado contrapôe-se às várias formas de paternalismo, segundo as quais o Estado deve tomar conta de seus súditos tal como o pai de seus filhos, posto que os súditos são considerados como perenemente menores de idade. Um dos fin a que se propõe Locke com seus 'Dois ensaios sobre o governo' é o de demonstrar que o poder civil, nascido para garantir a liberdade e a propriedade dos indivíduos que se associam com o propósito de se autogovernar é distinto do governo paterno e mais ainda do patronal.
Norberto Bobbio (Liberalism and Democracy (Radical Thinkers))
Nossos dias são muito curtos para que tomemos, nos próprios ombros, o peso dos erros de outrem. Cada um vive a própria vida, e paga o preço de vivê-la. Em tudo, a única pena é que, com frequência, temos que pagar um preço alto por uma única falta. E, na verdade, estamos sempre a pagar. No trato com o homem, o Destino jamais encerra as contas.Há momentos, dizem-nos os psicólogos, quando a paixão pelo pecado, ou por aquilo que o mundo chama de pecado, domina de tal maneira uma personalidade, que toda fibra do corpo, e toda célula do cérebro, parece ser instinto com impulsos receosos. Nestes momentos, homens e mulheres perdem a liberdade da vontade. Como autômatos, consciência, morta, ou então, se conseguir viver, vive apenas para dar fascínio à revolta, e encanto a desobediência. Pois todos os pecados, como não se cansam de nos lembrar os teólogos, são pecados da desobediência. Quando, dos céus, cai o espírito maior, a estrela matutina do mal, é como rebelde que cai.
Oscar Wilde
Aquela corja tinha nascido para escravos. Queriam ser anarquistas à custa alheia. Queriam a liberdade, logo que fossem os outros que lha arranjassem, logo que lhe fosse dada como um rei dá um título! Quase todos eles são assim, os grandes lacaios!
Fernando Pessoa (O Banqueiro Anarquista (com resumo e biografia do autor) (Portuguese Edition))
Quando se está livre, a liberdade é como o vento, disse Curt Meyer-Classon, não a vemos, mas sabemos que está ali. Quando se é prisioneiro, porém, e a sentimos por um instante passageiro, passamos a entender que a forma mais verdadeira e perene é a esperança, assim como seu avesso é a tortura.
Joca Reiners Terron (Noite Dentro da Noite)
A literatura é um processo de libertação e, por conseguinte, aspira à liberdade. Quer dizer que o seu ponto de partida é uma recusa aos constrangimentos. Quer dizer, ainda, que os constrangimentos estão na sua génese ou no desencadear da sua explosão, como tem sido proclamado por tantos criadores.
Fernando Namora (Jornal Sem Data)
Você diz que minha maneira de pensar não pode ser aprovada. O que me importa? Bem louco é quem adota a maneira de pensar dos outros! Ela é fruto das minhas reflexões, deve-se á minha existência, à minha organização; não sou senhor de mudá-la, e, se fosse, não o faria. Essa maneira de pensar que você reprova é o único consolo de minha vida. Não foi a minha maneira de pensar que me desgraçou. O homem sensato que despreza o preconceito dos tolos necessariamente torna-se inimigo dos tolos; que se fie disto e caçoe destes. Um viajante segue numa bela estrada por onde espalharam armadilhas; cai numa delas. A quem a culpa, ao viajante ou ao celerado que as armou? Logo, se, como você diz, colocam minha liberdade a preço do sacrifício de meus princípios ou gostos, podemos nos dizer um eterno adeus, pois antes deles, sacrificaria mil vidas e mil liberdades se as tivesse. Taís princípios e gostos são levados por mim ao fanatismo, e éobra das perseguições dos meus tiranos. Quanto mais me atormentarem, mais enraizarão meus princípios no peito. E declaro abertamente jamais ser necessário me falarem de liberdade, se esta só me for oferecida pelo preço da destruição de meus princípios. Nem diante do cadafalso mudaria de idéia.
Marquis de Sade (Ciranda dos Libertinos)
Muitas pessoas gostam de dizer que as diferenças culturais são lindas, mas isso nem sempre é verdade. E que dá para viver sempre em paz. Eu gostaria que isso fosse verdade. Imagine que você mora em Londres, cidade saturada de “outros”. Imagine que você seja uma pessoa legal e sem preconceitos. De boa vontade, inclusive. Agora imagine que você tem uma filha educada nos padrões básicos ocidentais de um cristianismo relaxado e secularizado, isto é, sem muitos salamaleques religiosos, e que você seja um crente na ordem pública pautada pela liberdade de crença ou descrença. Sua filha, então, começa a namorar um muçulmano... Não precisa ser um radical extremista... Como seria? Não precisa imaginar questões muito complicadas sobre escolha entre Jesus e Maomé, pense apenas na educação dos netos, nos papéis masculinos e femininos, na vida profissional da sua filha, na relação com os “ancestrais”, nos calendários religiosos... Não sou contra casamentos interculturais, falo apenas da falsa facilidade com a qual se levam discussões como essas. Transtornos culturais se resolvem mais facilmente quando as pessoas envolvidas não dão muita bola para rituais e crenças específicas e aceitam a pasteurização contemporânea dessas crenças.
Luiz Felipe Pondé (Guia Politicamente Incorreto da Filosofia)
Grande é a poesia, a bondade e as danças… Mas o melhor do mundo são as crianças, Flores, música, o luar, e o sol, que peca Só quando, em vez de criar, seca.
Fernando Pessoa (Liberdade e outros Poemas Ortónimos)
Somos livres para escolher o que fazer de nossas vidas, e isso é amedrontador, pois coloca a responsabilidade em nossas mãos.
Martha Medeiros (Doidas e santas)
As coisas mudam, às vezes mudam, mudam para melhor, já tem acontecido.
Mário de Carvalho (A Liberdade de Pátio)
Tudo isso, sim, a história é história. Mas sabendo antes para nunca esquecer que a palavra é fruto da palavra. A palavra tem que se parecer com a palavra. Atingi-la é o meu primeiro dever para comigo. E a palavra não pode ser enfeitada e artisticamente vã, tem que ser apenas ela. Bem, é verdade que também queria alcançar uma sensação fina e que esse finíssimo não se quebrasse em linha perpétua. Ao mesmo tempo que quero também alcançar o trombone mais grosso e baixo, grave e terra, tão a troco de nada que por nervosismo de escrever eu tivesse um acesso incontrolável de riso vindo do peito. E quero aceitar minha liberdade sem pensar o que muitos acham: que existir é coisa de doido, caso de loucura. Porque parece. Existir não é lógico.
Clarice Lispector (The Hour of the Star)
A prova de que estou recuperando a saúde mental, é que estou cada minuto mais permissiva: eu me permito mais liberdade e mais experiências. E aceito o acaso. Anseio pelo que ainda não experimentei. Maior espaço psíquico. Estou felizmente mais doida. E minha ignorância aumenta. A diferença entre o doido e o não doido é que o não doido não diz nem faz as coisas que pensa.
Clarice Lispector
Se há na terra um reino que nos seja familiar e ao mesmo tempo estranho, fechado nos seus limites e simultaneamente sem fronteiras, esse reino é o da infância. A esse país inocente, donde se é expulso sempre demasiado cedo, apenas se regressa em momentos privilegiados — a tais regressos se chama, às vezes, poesia. Essa espécie de terra mítica é habitada por seres de uma tão grande formosura que os anjos tiveram neles o seu modelo, e foi às crianças, como todos sabem pelos evangelhos, que foi prometido o Paraíso. A sedução das crianças provém, antes de mais, da sua proximidade com os animais — a sua relação com o mundo não é a da utilidade, mas a do prazer. Elas não conhecem ainda os dois grandes inimigos da alma, que são, como disse Saint-Exupéry, o dinheiro e a vaidade. Estas frágeis criaturas, as únicas desde a origem destinadas à imortalidade, são também as mais vulneráveis — elas têm o peito aberto às maravilhas do mundo, mas estão sem defesa para a bestialidade humana que, apesar de tanta tecnologia de ponta, não diminui nem se extingue. O sofrimento de uma criança é de uma ordem tão monstruosa que, frequentemente, é usado como argumento para a negação da bondade divina. Não, não há salvação para quem faça sofrer uma criança, que isto se grave indelevelmente nos vossos espíritos. O simples facto de consentirmos que milhões e milhões de crianças padeçam fome, e reguem com as suas lágrimas a terra onde terão ainda de lutar um dia pela justiça e pela liberdade, prova bem que não somos filhos de Deus.
Eugénio de Andrade (Rosto Precário)
As várias formas hodiernas de dissolução do matrimónio, como as uniões livres e o "matrimónio de prova", até ao pseudomatrimónio entre pessoas do mesmo sexo, são, pelo contrário, expressões de uma liberdade anárquica que se faz passar indevidamente por verdadeira libertação do homem. Uma tal pseudoliberdade funda-se numa banalização do corpo que inevitavelmente inclui a banalização do homem. O seu pressuposto é que o homem pode fazer de si o que quer: o seu corpo torna-se assim numa coisa secundária, manipulável sob o ponto de vista humano, a ser utilizado como se deseja. O libertinismo, que se faz passar por descoberta do corpo e do seu valor, é na realidade um dualismo que torna o corpo desprezível, colocando-o por assim dizer fora do ser autêntico e da dignidade da pessoa.
Bento XVI
Já compreendemos que a aurora e o poente são os momentos em que goza liberdade peculiar; quando sua antiga natureza se manifesta sem nenhuma força controladora subjugá-la e impedir que fale conosco ou mesmo a incite a agir contra nós. Esse estado começa aproximadamente meia hora antes do amanhecer ou do crepúsculo e dura até o sol estar alto ou enquanto as nuvens ainda reluzem com os raios no horizonte.
Bram Stoker
Dostoiévski escreveu: «Se Deus não existisse, tudo seria permitido.» Aí se situa o ponto de partida do existencialismo. Com efeito, tudo é permitido se Deus não existe, fica o homem, por conseguinte, abandonado, já que não encontra em si, nem fora de si uma possibilidade a que se apegue. Antes de mais nada, não há desculpas para ele. Se, com efeito, a existência precede a essência, não será nunca possível referir uma explicação a uma natureza humana dada e imutável; por outras palavras, não há determinismo, o homem é livre, o homem é liberdade. Se, por outro lado, Deus não existe, não encotnramos diante de nós valores ou imposições que nos legitimam o comportamento. Assim, não temos nem atrás de nós, nem diante de nós, no domínio luminoso dos valores, justificações ou desculpas. Estamos sós e sem desculpas.
Jean-Paul Sartre
Compreendi, então, que um homem que houvesse vivido um único dia poderia sem custo passar cem anos numa prisão. Teria recordações suficientes para não se maçar. De certo modo, isto era uma vantagem. (pág. 66)
Albert Camus (The Stranger)
- Sim, é talvez tudo uma ilusão... E a Cidade a maior ilusão! Tão facilmente vitorioso redobrei de facúndia. Certamente, meu Príncipe, uma ilusão! E a mais amarga, porque o Homem pensa ter na Cidade a base de toda a sua grandeza e só nela tem a fonte de toda a sua miséria. (...) Na Cidade perdeu ele a força e beleza harmoniosa do corpo, e se tornou esse ser ressequido e escanifrado ou obeso e afogado em unto, de ossos moles como trapos, de nervos trémulos como arames, com cangalhas, com chinós, com dentaduras de chumbo, sem sangue, sem febra, sem viço, torto, corcunda - esse ser em que Deus, espantado, mal pode reconhecer o seu esbelto e rijo e nobre Adão! Na Cidade findou a sua liberdade moral: cada manhã ela lhe impõe uma necessidade, e cada necessidade o arremessa para uma dependência: pobre e subalterno, a sua vida é um constante solicitar, adular, vergar, rastejar, aturar; e rico e superior como um Jacinto, a Sociedade logo o enreda em tradições, preceitos, etiquetas, cerimónias, praxes, ritos, serviços mais disciplinares que os de um cárcere ou de um quartel... A sua tranquilidade (bem tão alto que Deus com ela recompensa os santos ) onde está, meu Jacinto? Sumida para sempre, nessa batalha desesperada pelo pão, ou pela fama, ou pelo poder, ou pelo gozo, ou pela fugidia rodela de ouro! Alegria como a haverá na Cidade para esses milhões de seres que tumultuam na arquejante ocupação de desejar - e que, nunca fartando o desejo, incessantemente padecem de desilusão, desesperança ou derrota? Os sentimentos mais genuinamente humanos logo na Cidade se desumanizam! Vê, meu Jacinto! São como luzes que o áspero vento do viver social não deixa arder com serenidade e limpidez; e aqui abala e faz tremer; e além brutamente apaga; e adiante obriga a flamejar com desnaturada violência. As amizades nunca passam de alianças que o interesse, na hora inquieta da defesa ou na hora sôfrega do assalto, ata apressadamente com um cordel apressado, e que estalam ao menor embate da rivalidade ou do orgulho. E o Amor, na Cidade, meu gentil Jacinto? Considera esses vastos armazéns com espelhos, onde a nobre carne de Eva se vende, tarifada ao arratel, como a de vaca! Contempla esse velho Deus do Himeneu, que circula trazendo em vez do ondeante facho da Paixão a apertada carteira do Dote! Espreita essa turba que foge dos largos caminhos assoalhados em que os Faunos amam as Ninfas na boa lei natural, e busca tristemente os recantos lôbregos de Sodoma ou de Lesbos!... Mas o que a cidade mais deteriora no homem é a Inteligência, porque ou lha arregimenta dentro da banalidade ou lha empurra para a extravagância. Nesta densa e pairante camada de Idéias e Fórmulas que constitui a atmosfera mental das Cidades, o homem que a respira, nela envolto, só pensa todos os pensamentos já pensados, só exprime todas as expressões já exprimidas: - ou então, para se destacar na pardacenta e chata rotina e trepar ao frágil andaime da gloríola, inventa num gemente esforço, inchando o crânio, uma novidade disforme que espante e que detenha a multidão como um monstrengo numa feira. Todos, intelectualmente, são carneiros, trilhando o mesmo trilho, balando o mesmo balido, com o focinho pendido para a poeira onde pisam, em fila, as pegadas pisadas; - e alguns são macacos, saltando no topo de mastros vistosos, com esgares e cabriolas. Assim, meu Jacinto, na Cidade, nesta criação tão antinatural onde o solo é de pau e feltro e alcatrão, e o carvão tapa o céu, e a gente vive acamada nos prédios como o paninho nas lojas, e a claridade vem pelos canos, e as mentiras se murmuram através de arames - o homem aparece como uma criatura anti-humana, sem beleza, sem força, sem liberdade, sem riso, sem sentimento, e trazendo em si um espírito que é passivo como um escravo ou impudente como um Histrião... E aqui tem o belo Jacinto o que é a bela Cidade! (...) -Sim, com efeito, a Cidade... É talvez uma ilusão perversa!
Eça de Queirós (A Cidade e as Serras)
Em todo amor há pelo menos dois seres, cada qual a grande incógnita na equação do outro. É isso que faz o amor parecer um capricho do destino – aquele futuro estranho e misterioso, impossível de ser descrito antecipadamente, que deve ser realizado ou protelado, acelerado ou interrompido. Amar significa abrir-se ao destino, a mais sublime de todas as condições humanas, em que o medo se funde ao regozijo num amálgama irreversível. Abrir-se ao destino significa, em última instância, admitir a liberdade no ser: aquela liberdade que se incorpora no Outro, o companheiro no amor. “A satisfação no amor individual não pode ser atingida sem a humildade, a coragem, a fé e a disciplina verdadeiras”, afirma Erich Fromm – apenas para acrescentar adiante, com tristeza, que em “uma cultura na qual são raras essas qualidades, atingir a capacidade de amar será sempre, necessariamente, uma rara conquista”.
Zygmunt Bauman (Liquid Love: On the Frailty of Human Bonds)
- Obedecer à sociedade? ... - replicou a marquesa, mostrando-se horrorizada. - É daí, senhor, que provêm todos os males. Deus não fez nem uma só lei para a nossa desgraça. Porém, os homens, reunindo-se, falsearam a sua obra. Nós, as mulheres, somo mais maltratadas pela civilização do que fomos pela natureza. Esta impõe-nos penas físicas que os homens não suavizaram, e a civilização desenvolveu sentimentos que eles enganam incessantemente. A natureza sufoca os seres fracos, os homens condenam-nos a viver para lhes oferecerem uma constante desgraça. O casamento, instituição em que hoje se funda a sociedade, faz-nos sentir todo o seu peso: para o homem a liberdade, para as mulheres os deveres. Nós lhes devemos toda a nossa vida, eles devem-nos apenas raros instantes. (...) Pois bem, o casamento, tal como hoje se efetua, afigura-se-me uma prostituição legal. Daí provieram todos os meus sofrimentos. (...) Fui a própria autora do mal, tendo desejado esse casamento.
Honoré de Balzac (La Femme De Trente Ans)
Essa existência claustral tão austera e melancólica, da qual acabamos de indicar alguns aspectos, não é a vida, porque não é a liberdade; não é o túmulo, porque não é a plenitude; é o estranho lugar de onde, como do alto de uma elevada montanha, se descobre, de um lado, o abismo em que estamos, do outro, o abismo em que estaremos; é uma fronteira estreita e enevoada que separa dois mundos, pelos dois, onde o raio enfraquecido da vida se mistura ao vago raio da morte; é a penumbra do túmulo.
Victor Hugo (Les Misérables)
Hoje é o último dia do ano. Em todo o mundo que este calendário rege andam as pessoas entretidas a debates consigo mesmas as boas ações que tencionam praticar no ano que entra, jurando que vão ser retas, justas e equânimes, que da sua emendada boca não voltará a sair uma palavra má, uma mentira, uma insidia, ainda que as merecesse o inimigo, claro que é das pessoas vulgar que estamos falando, as outras, as de exceção, as incomuns, regulam-se por razões suas próprias para serem e fazerem o contrário sempre que lhes apetece ou aproveite, essas são as que não se deixam iludir, chegam a rir-se de nós e das boas intenções que mostramos, mas, enfim, vamos aprendendo com a experiencia, logo nos primeiros dias de Janeiro teremos esquecido metade do que havíamos prometido, e, tendo esquecido tanto, não há realmente motivo para cumprir o resto, é como um castelo de cartas, se já lhe faltam as obras superiores, melhor é que caia tudo e se confundam os naipes. Por isso é duvidoso ter-se despedido Cristo da vida com as palavras da escritura, as de Mateus e Marcos, Deus meu, Deus meu, por que me desamparaste, ou as de Lucas, Pai, nas tuas mãos entrego o meu espirito, ou as de João, Tudo está cumprido, o que Cristo disse foi, palavra de honra, qualquer pessoa popular sabe que esta é a verdade, Adeus mundo, cada vez a pior. Mas os deuses de Ricardo Reis são outros, silenciosas entidades que nos olham indiferentes, para quem o mal e o bem são menos que palavras, por as não dizerem eles nunca, e como as diriam, se mesmo entre o bem e o mal não sabem distinguir, indo como nós vamos no rio das coisas, só ditamos. Esta lição nos foi dada para que não nos afadiguemos a jurar novas e melhores intenções para o ano que tem, por elas não nos julgarão os deuses, pelas obras, também não, só juízes humanos ousam julgar, os deuses nunca, porque se supõe saberem tudo, salvo se tudo isto é falso, se justamente não é sua ocupação única esquecerem em cada momento o que do cada momento lhes vão ensinando os atos dos homens, os bons como os maus, iguais derradeiramente para os deuses, porque inúteis lhes são. Não digamos Amanhã farei, porque o mais certo é estarmos cansados amanhã, digamos antes, Depois de amanhã, sempre teremos um dia de intervalo para mudar de opinião e projeto, porém ainda mais prudente seria dizer, Um dia decidirei quando será o dia de dizer depois de amanhã, e talvez nem seja preciso, se a morte definidora vier antes desobrigar-me do compromisso, liberdade que a nós próprios negamos.
José Saramago (The Year of the Death of Ricardo Reis)
A sociedade normal é aquela onde os povos, nações e estados são mantidos como formas tradicionais de comunidade humana, como as formas criadas, criados pela história e tradição. Eles podem mudar ou se transformar, mas eles não devem ser abolidos ou mesclados forçadamente em um único caldeirão global. A diversidade de povos e nações é um tesouro histórico da humanidade. Abolindo isso, iremos para a abolição da história, para o fim do casamento plural, liberdade e riqueza cultural. Os processos de globalização devem ser imediatamente cortados.
Alexander Dugin (Geopolítica do Mundo Multipolar)
A grande decepção dos amantes que buscam a felicidade (estado de prazer permanente, institucionalizado) através do amor é produzida pela sua incapacidade em aceitar que, como todas as coisas vivas, o amor também tem um começo, um meio e um fim. Nem seu tempo, nem seu espaço e nem o seu tesão podem ser determinados e controlados por razão da vontade e pela força de poder. Assim, às vezes somos obrigados a perder um amor precocemente, ou a ter de suportá-lo desnaturado, moribundo ou mesmo morto. Só a liberdade e a autonomia nos ensinam a aceitar biológica e humanamente o tempo, o espaço e o tesão das coisas vivas.
Roberto Freire (Sem Tesão Não Há Solução)
A história liberal diz-me que procure a liberdade para me exprimir e para me realizar. Mas tanto o ‘eu’ como a liberdade são quimeras mitológicas saídas de contos de fadas dos tempos antigos. O liberalismo tem uma noção particularmente confusa de ‘livre-arbítrio’. Os seres humanos, evidentemente, têm vontade, têm desejos e, por vezes, são livres de cumprir esses desejos. Se por ‘livre-arbítrio’ entendermos a liberdade de fazer o que se deseja, então, sim, os seres humanos têm livre-arbítrio. Mas se ‘livre-arbítrio’ significar a liberdade de escolher aquilo que se deseja, então, não, os seres humanos não têm livre-arbítrio.
Yuval Noah Harari (21 Lessons for the 21st Century)
Era uma vez um pássaro. Adornado com um par de asas perfeitas e plumas reluzentes, coloridas e maravilhosas. Enfim, um animal feito para voar livre e solto no céu, e alegrar quem o observasse. Um dia, uma mulher viu o pássaro e apaixonou-se por ele. Ficou a olhar o seu voo com a boca aberta de espanto, o coração batendo mais rapidamente, os olhos brilhando de emoção. Convidou-o para voar com ela, e os dois viajaram pelo céu em completa harmonia. Ela admirava, venerava, celebrava o pássaro. Mas então pensou: talvez ele queira conhecer algumas montanhas distantes! E a mulher sentiu medo. Medo de nunca mais sentir aquilo com outro pássaro. E sentiu inveja, inveja da capacidade de voar do pássaro. E sentiu-se sozinha. E pensou: “vou montar uma armadilha. Da próxima vez que o pássaro surgir, ele não partirá mais.” O pássaro, que também estava apaixonado, voltou no dia seguinte, caiu na armadilha, e foi preso na gaiola. Todos os dias ela olhava o pássaro. Ali estava o objecto da sua paixão, e ela mostrava-o ás suas amigas, que comentavam: “Mas tu és uma pessoa que tem tudo.” Entretanto, uma estranha transformação começou a processar-se: como tinha o pássaro, e já não precisava de o conquistar, foi perdendo o interesse. O pássaro sem puder voar e exprimir o sentido da sua vida, foi definhando, perdendo o brilho, ficou feio – e a mulher já não lhe prestava atenção, apenas prestava atenção á maneira como o alimentava e como cuidava da sua gaiola. Um belo dia o pássaro morreu. Ela ficou profundamente triste, e passava a vida a pensar nele. Mas não se lembrava da gaiola, recordava apenas o dia em que o vira pela primeira vez, voando contente entre as nuvens. Se ela se observasse a si mesma, descobriria que aquilo que a emocionava tanto no pássaro era a sua liberdade, a energia das asas em movimento, não o seu corpo físico. Sem o pássaro a sua vida também perdeu o sentido, e a morte veio bater á sua porta. “Por que vieste?” perguntou á morte. “Para que possas voar de novo com ele nos céus”, respondeu a morte. “Se o tivesses deixado partir e voltar sempre, amá-lo-ias e admirá-lo-ias ainda mais; porém, agora precisas de mim para puderes encontrá-lo de novo.
Paulo Coelho (Eleven Minutes)
Os homens de espírito livre, que vivem só para o conhecimento, em breve acharão ter alcançado a sua definitiva posição relativamente à sociedade e ao Estado e, por exemplo, dar-se-ão de bom grado por satisfeitos com um pequeno emprego ou com uma fortuna que chegue à justa para viver; pois arranjar-se-ão para viver de maneira que uma grande tansformação dos bens materiais, até mesmo um derrube da ordem política, não deite também abaixo a sua vida. Em todas essas coisas eles gastam a menor energia possível, de modo a poderem imergir, com todas as forças reunidas e, por assim dizer, com um grande fôlego, no elemento do conhecimento. Podem, assim, ter esperança de mergulhar profundamente e também de, talvez, verem bem até ao fundo.
Friedrich Nietzsche (Human, All Too Human: A Book for Free Spirits)
Tomemos um exemplo: o eleitor que não quer votar com o Governo. Ei-lo, aí, junto da urna da oposição, com o seu voto hostil na mão, inchado do seu direito. Se, para o obrigar a votar com o Governo o empurrarem às coronhadas e às cacetadas, o homem volta-se, puxa de uma pistola – e aí temos a guerra civil. Para que esta brutalidade obsoleta? Não o espanquem, mas, pelo contrário, acompanhem-no ao café ou à taberna, conforme estejamos no campo ou na cidade, paguem-lhe bebidas generosamente, perguntem-lhe pelos pequerruchos, metamlhe uma placa de cinco tos-tões na mão e levem-no pelo braço, de cigarro na boca, trauteando o Hino, até junto da urna do Governo, vaso do Poder, taça da Felicidade! Tal é a tradição humana, doce, civilizada, hábil, que faz com que se possa tiranizar um País, com o aplauso do cidadão e em nome da Liberdade.
Eça de Queirós (O Conde d'Abranhos / A Catástrofe)
Uma coisa que custa trabalho a entender é que o arquiduque maximiliano tenha decidido fazer a viagem de regresso nesta época do ano, mas a história assim o deixou registado como facto incontroverso e documentado, avalizado pelos historiadores e confirmado pelo romancista, a quem haverá que perdoar certas liberdades em nome, não só do seu direito a inventar, mas também da necessidade de preencher os vazios para que não viesse a perder-se de todo a sagrada coerência do relato. No fundo, há que reconhecer que a história não é apenas selectiva, é também discriminatória, só colhe da vida o que lhe interessa como material socialmente tido por histórico e despreza todo o resto, precisamente onde talvez poderia ser encontrada a verdadeira explicação dos factos, das coisas, da puta realidade. Em verdade vos direi, em verdade vos digo que mais vale ser romancista, ficcionista, mentiroso.
José Saramago (A Viagem do Elefante)
Aprendi que: - o homem pode ser enganado pela ilusão e pensar que ela é verdade. Para diferenciar ilusão e verdade, temos de usar quantos sentidos e inteligência Deus nos deu; - a única salvação para nós é quando estamos em terra firme; - não se pode dormir quando a vigília é necessária; - enquanto há vida, não há motivo para desespero; - a comida é alimento quando ingerida com moderação, mas um perigo quando ingerida por gulodice, e isso é verdade também para os apetites carnais; - continuar com tradições desgastadas é uma perigosa tolice. As tradições são o passado e existem coisas do passado que devem ser superadas; - a liberdade é a vida do espírito, e que o próprio paraíso não tem nenhum valor para o homem se este perder sua liberdade. De quanta coisa nesse mundo somos escravos!; - o homem pode ser contemplado com um milagre, mas não basta que ele o utilize e dele se aproprie; ele deve também abordá-lo guiado pela luz de Deus que brilha em seu coração.
Naguib Mahfouz (Arabian Nights & Days)
A centralização administrativa tende a multiplicar em demasia as rodas e as peças da máquina administrativa, os empregados, as comunicações hierárquicas do serviço, a papelada, a escrita, as dúvidas e as formalidades (...) É incontestável que a excessiva centralização, quando se juntam a governamental e a administrativa, não é das coisas mais favoráveis à liberdade dos cidadãos, que peia e embaraça. Fortalece, além do necessário e justo, o Poder Executivo, e põe os cidadãos na dependência imediata do Poder Central, em negócios nos quais pode essa imediata dependência escusar-se. Um governo bem organizado não deve governar tudo diretamente, e substituir em tudo a sua iniciativa, ação e atividade de todos. Há muitos assuntos nos quais a ação do interesse particular ou local é mais ativa, mais pronta, mais eficaz, mais económica do que a do Governo (...)A absorção da gerência de todos os interesses, ainda que secundários e locais, pelo Governo Central, mata a vida nas localidades, nada lhes deixa a fazer, perpetua nelas a indiferença e ignorância de seus negócios, fecha as portas da única escola em que a população pode aprender e habilitar-se praticamente para gerir negócios públicos
Visconde do Uruguai 1862
a poesia não nos salva da morte mas faz o luto connosco" "todas as conversas por mais rebuscadas são rios que vão desaguar em ti volta e meia os arbustos tremem e o cheiro que aparece é teu" "e se foi o acaso de nos fintarmos a vida inteira pelos mesmos sítios sem nos cruzarmos ou talvez o acaso de nos cruzarmos pelas mesmas ruas sem notar" "podes vir podemos falar sobre tudo podemos falar do cheiro dos livros em segunda mão cheiram aos avós de quem? cheiram aos avós de alguém apesar de não serem os nossos mas não tivemos todos os mesmos avós? não importa" "o inverno todo à espera do verão o frio sempre à mingua do calor não perguntar com medo do não nem sequer dar com medo da dor a inspiração a sorte as certezas tal como tantos outros ventos são vagas que devemos respeitar as estações são no seu tempo não as podemos apressar
Isabel Viana (o 3 é um número par)