Lygia Fagundes Quotes

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Quero te dizer também que nós, as criaturas humanas, vivemos muito (ou deixamos de viver) em função das imaginações geradas pelo nosso medo. Imaginamos consequências, censuras, sofrimentos que talvez não venham nunca e assim fugimos ao que é mais vital, mais profundo, mais vivo. A verdade, meu querido, é que a vida, o mundo dobra-se sempre às nossas decisões.
Lygia Fagundes Telles (As Meninas)
Ouça, Virgínia, é preciso amar o inútil. Criar pombos sem pensar em comê-los, plantar roseiras sem pensar em colher as rosas, escrever sem pensar em publicar, fazer coisas assim, sem esperar nada em troca. A distância mais curta entre dois pontos pode ser a linha reta, mas é nos caminhos curvos que se encontram as melhores coisas.
Lygia Fagundes Telles (Ciranda de Pedra)
E vendo que a libélula enveredava por entre os juncos, ficou pensando que mais importante do que nascer é ressuscitar.
Lygia Fagundes Telles (Ciranda de Pedra)
ô literatura! Por que as coisas nos parecem sempre belas quando protegidas pela distância?
Lygia Fagundes Telles
Mas não quero resposta, quero ficar só. Gosto muito das pessoas mas essa necessidade voraz que às vezes me vem de me libertar de todos. Enriqueço na solidão: fico inteligente, graciosa e não esta feia ressentida que me olha do fundo do espelho. Ouço duzentas e noventa e nove vezes o mesmo disco, lembro poesias, dou piruetas, sonho, invento, abro todos os portões e quando vejo a alegria está instalada em mim.
Lygia Fagundes Telles (As Meninas)
E tranquilidade era aquilo, aquela quietude sob a qual a vida palpitava
Lygia Fagundes Telles (Ciranda de Pedra)
Então meu amado foi se fechando com seu cachimbo e seu Proust, solidão de bicho de caramujo, pode bater que não abro.
Lygia Fagundes Telles (As Meninas)
Já que é preciso aceitar a vida, que seja então corajosamente
Lygia Fagundes Telles (Ciranda de Pedra)
E besouro que cai de costas não se levanta nunca mais.
Lygia Fagundes Telles
Podia-se desejar uma tarde feliz, uma noite feliz, um dia inteiro feliz, no máximo. Mas um ano?
Lygia Fagundes Telles (Ciranda de Pedra)
Think of something useless, and that's probably what I'll be doing. Listen, Virginia, we need to love the useless. We need to raise pigeons without a thought of eating them, plant rose bushes without expecting to pick roses, write without aiming at publication. We need to do things without expecting benefits in return. The shortest distance between two points may be a straight line, but it's in the curving paths that the best things are found. . . . We must love the useless, because there is beauty in uselessness.
Lygia Fagundes Telles (Ciranda de Pedra)
Se eu ficar assim imóvel, respirando leve, sem ódio, sem amor, se eu ficar assim um instante, sem pensamento, sem corpo…
Lygia Fagundes Telles (Antes do Baile Verde)
Não é uma forma de esconder seu sentimento de superioridade? Ter pena dos outros não é se sentir superior a esses outros?
Lygia Fagundes Telles (As Meninas)
Aí parei de chorar, chorava de ódio e o choro de ódio é estimulante, as minhas melhores ideias nasceram do ódio.
Lygia Fagundes Telles (As Meninas)
A melhor maneira para seguir não acreditando em nada é nos cercarmos de padres e freiras que acreditam demais.
Lygia Fagundes Telles (Ciranda de Pedra)
Via agora que jamais poderia se libertar das suas antigas faces, impossível negá-las porque tinha qualquer coisa de comum que permanecia no fundo de cada uma delas, qualquer coisa que era como uma misteriosa unidade ligando umas às outras, sucessivamente, até chegar à face atual.
Lygia Fagundes Telles (Ciranda de Pedra)
Ser ou estar. Não, não é ser ou não ser, essa já existe, não confundir com a minha que acabei de inventar agora. Originalíssima. Se eu sou, não estou porque para que eu seja é preciso que eu não esteja. Mas não esteja onde? Muito boa a pergunta, não esteja onde. Fora de mim, é lógico. Para que eu seja assim inteira (essencial e essência) é preciso que não esteja em outro lugar senão em mim. Não me desintegro na natureza porque ela me toma e me devolve na íntegra: não há competição mas identificação dos elementos. Apenas isso. Na cidade me desintegro porque na cidade eu não sou, eu estou: estou competindo e como dentro das regras do jogo (milhares de regras) preciso competir bem, tenho consequentemente de estar bem para competir o melhor possível. Para competir o melhor possível acabo sacrificando o ser (próprio ou alheio, o que vem a dar no mesmo). Ora, se sacrifico o ser para apenas estar, acabo me desintegrando (essencial e essência) até a pulverização total.
Lygia Fagundes Telles (As Meninas)
Sabe, Virgínia, vejo Laura como aquele espelho despedaçado: a gente pode ir lá no fundo e colar os cacos, mas tudo então que ele vier a refletir, o céu, as árvores, as pessoas, tudo, tudo estará como ele próprio, partido em mil pedaços. Veja bem, triste não é o que possa vir a acontecer... A morte, por exemplo. Triste é o que está acontecendo neste instante. Ela tem a cabeça doente, o coração doente. E não há remédio. Só o sopro lá dentro é que continua perfeito como o espelho antes de cair no chão.
Lygia Fagundes Telles (Ciranda de Pedra)
Sentei-me no chão roendo os sequilhos e chorando porque queria a minha mãe, não a que saiu de mantilha mas a que ficou no retrato.
Lygia Fagundes Telles (As Horas Nuas)
Ouça, querida”, disse Otávia certa vez, “não fique assim com essa mentalidade de donzela folhetinesca, não separe com tanta precisão os heróis dos vilões, cada qual de um lado, tudo muito bonitinho como nas experiências de química. Não há gente completamente boa nem gente completamente má, está tudo misturado e a separação é impossível. O mal está no próprio gênero humano, ninguém presta. Às vezes a gente melhora. Mas passa.
Lygia Fagundes Telles (Ciranda de Pedra)
— Assim é melhor. Então você ainda gosta dele? Terá que esquecer, Virgínia. Amar a pessoa errada não é das melhores coisas que nos podem acontecer e acontece com tanta frequência. Dante se esqueceu desse círculo no seu inferno, o dos rejeitados.
Lygia Fagundes Telles (Ciranda de Pedra)
Fico tomando sol porque não posso tomar o homem que amo”, pensou mastigando mais energicamente. E Ana Clara? As coisas que tomava seriam para substituir o casaco de onça? O Jaguar? E se fosse simplesmente porque não conheceu o sol, a infância, Deus. “Tudo que tive e ainda tenho, tão triste ir buscar lá fora o que devia estar aqui dentro.
Lygia Fagundes Telles (As Meninas)
Ana Clara contou que tinha um namorado que endoidava quando ela tirava os cílios postiços, a cena do biquíni não tinha a menor importância mas assim que começava a tirar os cílios, era a glória. Os olhos nus. Em verdade vos digo que chegará o dia em que a nudez dos olhos será mais excitante do que a do sexo.
Lygia Fagundes Telles (As Meninas)
Sabia que não ia voltar mas continuava pensando com tanta força. Como quando se tira um vestido velho do baú, um vestido que não é para usar, só para olhar. Só para ver como ele era. Depois a gente dobra de novo e guarda mas não se cogita em jogar fora ou dar. Acho que saudade é isso.
Lygia Fagundes Telles (As Meninas)
As personagens são como vampiros, cravam os caninos na nossa jugular e quando amanhece, voltam aos seus sepulcros até que anoiteça de novo. O fim do livro seria a pedra que ponho sobre esses visitantes. Definitivamente? Não. Um dia, de repente, com outro nome e outras feições e em outro tempo volta mascarada a mesma personagem, elas gostam da vida. Como nós.
Lygia Fagundes Telles
Daqui a pouco ficarei em cacos na sua mão - balbuciou. E como sentisse que ele afrouxava o braço, animou-o novamente. - Mas eu quero que seja assim.
Lygia Fagundes Telles (Ciranda de Pedra)
Nascemos todos os dias quando nasce o sol, começa hoje mesmo a vida que te resta.
Lygia Fagundes Telles (Ciranda de Pedra)
Tinha um velho que morreu agarrando o pinto, acho que ficou com medo da morte, o pobrezinho, tanto medo e na hora do medo agarrou o pinto. Foi enterrado assim.
Lygia Fagundes Telles (As Horas Nuas)
...queria saber apenas para onde vão os piolhos dos decapitados. Um enigma.
Lygia Fagundes Telles (As Horas Nuas)
Ontem um velhinho de oitenta e dois anos atravessou o Canal da Mancha, vupt! vupt! nadando. A múmia chegou inteira e ainda pediu um conhaque.
Lygia Fagundes Telles (As Horas Nuas)
Sempre fomos o que os homens disseram que nós éramos. Agora somos nós que vamos dizer o que somos.
Lygia Fagundes Telles (A Disciplina do Amor)
A morte combina muito com latim, não tem coisa que combine tanto com latim como a morte.
Lygia Fagundes Telles (As Meninas)
Lembro da ampulheta quebrada, entrei no escritório do pai para pegar o lápis vermelho e esbarrei no vidro do tempo. Fiquei em pânico vendo o tempo estacionado no chão: dois punhados de areia e os cacos. Passado e futuro. E eu? Onde ficava eu agora que o era e o será se despedaçaram? Só o funil da ampulheta resistira e no funil, o grão de areia em trânsito sem se comprometer com os extremos. Livre.
Lygia Fagundes Telles (As Meninas)
— Não quero ser rude, mãezinha, mas acho completamente absurdo se preocupar com isso. A senhora falou em crueldade mental. Olha aí a crueldade máxima, a mãe ficar se preocupando se o filho ou a filha é homossexual. Entendo que se aflija com droga e etecetera mas com o sexo do próximo? Cuide do próprio e já faz muito, me desculpe, mas fico uma vara com qualquer intromissão na zona sul do outro. Lorena chama de zona sul. A norte já é tão atingida, tão bombardeada, mas por que as pessoas não se libertam e deixam as outras livres? Um preconceito tão odiento quanto o racial ou religioso. A gente tem que amar o próximo como ele é e não como gostaríamos que ele fosse.
Lygia Fagundes Telles (As Meninas)
As faces estavam macilentas e o olhar tinha qualquer coisa de estagnado, visto mais de perto. Contudo, na voz, nos gestos, no olhar havia algo que a fazia mais real, mais palpável, ela que se tornara uma figura tênue como um sonho na escuridão.
Lygia Fagundes Telles (Ciranda de Pedra)
Descobri que ajuda muito na convivência com os outros. Às vezes a gente não sabe o que dizer e então acende um cigarro. Não sabe como começar um assunto e lá vem um cigarro, todos esses pequeninos gestos são importantes para os tímidos. E eu sou tímida.
Lygia Fagundes Telles (Ciranda de Pedra)
Perdão, foi engano”, disse a voz opaca, toda voz de engano fica opaca. Imagine se Lião escrevesse nesse tom assim opaco. Tão nítida. Nítida demais, os entendidos querem opacidade na linguagem, uma certa névoa confundindo sutilmente a silhueta das palavras. Biombos nas entrelinhas guarnecendo (amo essa palavra, guarnecendo) o mistério das letras. E as letras sem mistério em pleno coito com o Demônio. Há orgasmo? O Demônio vai e vem por linhas tortas, trançando os cabelos das amadas em nós indeslindáveis.
Lygia Fagundes Telles (As Meninas)
— Ah, minha filha linda! — disse Afonso. Voltou-se para Virgínia: — Dentro em breve ela aprenderá grego e latim, quero que seja a mulher mais culta da Terra. — Coitadinha — lamentou Otávia enchendo novamente a colher. Delicadamente introduziu-a na boca da criança. — Vocês já imaginaram a maravilha que seria o mundo se ao menos uma quinta parte desses gênios se realizasse na maioridade? Há milênios que os pais se debruçam como fadas sobre os berços e fazem profecias fabulosas. E há milênios a Terra prossegue corroída pelo germe humano, que é tão vulgar e medíocre quanto o da geração anterior. Está claro que a gente concorda sempre com os prognósticos sobre os infantes — acrescentou passando o guardanapo no queixo da menina. Deu uma risadinha. — Mas é por gentileza, não é, nenê?
Lygia Fagundes Telles (Ciranda de Pedra)
- Mulher sem homem acaba tão complexada, tão infeliz. Com homem também, tenho ganas de dizer-lhe e dar-lhe o espelho na mão.
Lygia Fagundes Telles
A distância mais curta entre dois pontos pode ser a linha reta, mas é nos caminhos curvos que se encontram as melhores coisas.
Lygia Fagundes Telles
— Quanto mais firo os que amo mais vou ferindo a mim mesma. Perco os outros e me perco, não é curioso isso? Marfa acha que só poderei me encontrar fazendo psicanálise. — Você vai se encontrar sem precisar dessas muletas, Raíza. Vai se salvar sem precisar de qualquer ajuda, estou certo disso. Um dia, de repente, dará consigo mesma e não se perderá nunca mais. Antes, terá que dar voltas e voltas até tomar o caminho certo, talvez demore um pouco.
Lygia Fagundes Telles (Verão no aquário)
Um dia qualquer, no meio de um pensamento, de uma palavra, você descobrirá de repente esta coisa extraordinária: cresci! O que não vai impedir que o caso ou Deus, dê a isto o nome que quiser, de vez em quando a governe como uma casca de noz no meio do mar. Mas reagirá de modo diferente, está compreendendo?
Lygia Fagundes Telles (Ciranda de Pedra)
Os encontros e as despedidas, tanta estrada, tanta, teria que usar sapatos de ferro como os da rainha da história antiquíssima cruzando montanhas e vales, procurava alguma coisa - o quê?!
Lygia Fagundes Telles (A Espera)
Não cortaremos os pulsos, ao contrário, costuraremos com linha dupla todas as feridas abertas.” LYGIA FAGUNDES TELLES
Lorena Portela (Primeiro Eu Tive Que Morrer (Portuguese Edition))
A busca nos caminhos da infância, "sou um arco em tuas mãos, Senhor. Distenda-o para que não apodreça". Os encontros e as despedidas, tanta estrada, tanta, teria que usar sapatos de ferro como os da rainha da história antiquíssima cruzando montanhas e vales, procurava alguma coisa - o quê?
Lygia Fagundes Telles (A Espera)
Já fui uma fábrica de angústia, quase virei sucata, sabe o que é sucata? Até descobrir que é possível transformar depressão em ação, mesmo querendo se matar você sobe no palco e faz seu número de sapateado.
Lygia Fagundes Telles (As Horas Nuas)
A única vantagem do bicho sobre o homem é a inconsciência da morte e da morte estou consciente
Lygia Fagundes Telles (As Horas Nuas)
A revolução é recente. Pense num tubo de ensaio que foi sacudido, a água fica turva mas quando o depósito se assentar essa água vai ficar límpida. Ainda que o fundo seja de sangue.
Lygia Fagundes Telles (As Horas Nuas)
É simples, Rosa, escuta, você está em pânico porque sente que está envelhecendo. Foge do trabalho, das pessoas, vai acabar fugindo de mim. Rosa Ambrósio, como vou fazer entrar nessa cabeça que não existe outra saída, existe? Para escapar da velhice, querida, só morrendo jovem mas agora não dá mais.
Lygia Fagundes Telles (As Horas Nuas)
Marghí, eu te amo mas não quero ficar, sou instável, tenho verdadeiro horror de me enraizar, me apoltronar na sua concha – ô Marghí! Sou um grego meio louco, está me escutando?
Lygia Fagundes Telles (A Espera)
Tenho medo, Marghí, medo de me enganar como já me enganei tantas vezes, quando pensava que era um amor definitivo, para sempre. Não era. No fundo de cada aventura, só vaidade. Ou horror da solidão. Acho que não presto, sou um desfibrado...
Lygia Fagundes Telles (A Espera)
Lembre-se de alguma coisa inútil e provavelmente será isso o que estarei fazendo. Ouça, Virgínia, é preciso amar o inútil. Criar pombos sem pensar em comê-los, plantar roseiras sem pensar em colher as rosas, escrever sem pensar em publicar, fazer coisas assim, sem esperar nada em troca. A distância mais curta entre dois pontos pode ser a linha reta, mas é nos caminhos curvos que se encontram as melhores coisas.
Lygia Fagundes Telles (Ciranda de Pedra)
Às vezes o silêncio é muito mais convincente do que a palavra.
Lygia Fagundes Telles (A Disciplina do Amor)
E se a vida estiver lá fora, naquelas vozes que desdenhei? E se o desvio da minha rota foi exatamente esse que escolhi? Mas haverá ainda tempo?
Lygia Fagundes Telles (A Disciplina do Amor)
- Literatura, bah. As mulheres já estão encontrando sua medida. Eles virão em seguida, acho que no futuro só vai haver andróginos - digo e fico rindo.
Lygia Fagundes Telles (As Meninas)
A menor distância entre dois pontos pode ser a linha reta, mas é nos caminhos curvos que se encontram as melhores coisas.
Lygia Fagundes Telles
Infinitamente. Eu poderia ficar repetindo infinitamente infinitamente. Uma simples palavra que se estende por rios, montes, vales infinitamente compridos como os braços de Deus. As palavras.
Lygia Fagundes Telles (As Meninas)
Mais tarde descobri que não gosta nem de poesia nem de música. Ainda assim, liguei o toca-discos e dei-lhe os patrícios, Bethânia, Caetano. E se não dei televisão é porque acho aquilo o fim. Embora esteja pensando numa mas só para ver os filmes antigos. E os longas-metragens de vampiros e monstros.
Lygia Fagundes Telles (As Meninas)
— Tinha um relógio grande assim na torre e eu queria me agarrar nos ponteiros, segurar as horas, por que é que o tempo não parava um pouco? Queria ficar lá dependurado, segurando o tempo.
Lygia Fagundes Telles (As Meninas)
A verdade na miséria fica um lixo. A nhem-nhem é igual com essa mania. Se um daqueles discípulos desse um saco de ouro pra Pilatos ele lá ia lavar as mãos? Lavava nada. Arrumava um cavalo e Jesus fugia pelos fundos e ainda por cima com uma escolta de cavalaria montada garantindo até a fronteira.
Lygia Fagundes Telles (As Meninas)
Só Jesus compreende e perdoa, só Ele que já curtiu como nós, Jesus, Jesus, como eu te amo! Vou pôr um disco em sua homenagem, espera, ofereço música assim como Abel oferecia ovelhas, é lógico que ovelha é muito mais importante mas Jesus sabe que tenho horror de sangue, minhas oferendas só podem ser musicais. Jimi Hendrix?
Lygia Fagundes Telles (As Meninas)
Tão lúcida quando fala mas quando escreve fica tão sentimental, oh, a lua, o lago.
Lygia Fagundes Telles (As Meninas)
Ela deixou pender os braços desamparados dentro das mangas do hábito, inclinou a cabeça e ficou pensativa, olhando para dentro de si mesma. E o que vê não deve ser animador.
Lygia Fagundes Telles (As Meninas)
Não sei explicar mas o que quero dizer é que acreditar no homem não me deixa tão feliz como acreditar nessas histórias absurdas que os homens contam.
Lygia Fagundes Telles (As Meninas)
Dedilhou o pulso estático numa busca tão intensa que acabou por transferir para o pulso da morta o latejar do próprio dedo inflamado.
Lygia Fagundes Telles (As Meninas)
O vinho ela aceita. Também aceita a lagosta, fala lagostim. Mas precisa lembrar a estatística das criancinhas morrendo de fome no Nordeste, esse assunto de Nordeste às vezes exorbita.
Lygia Fagundes Telles (As Meninas)
Não dá não dá ela repetia mostrando o dinheirinho que não dava embolado na mão. Mas dar mesmo até que ela deu bastante. Pra meu gosto até que ela deu demais. Uma corja de piolhentos pedindo e ela dando.
Lygia Fagundes Telles (As Meninas)
Mas o que seria loucura, recusar a realidade ou pactuar com ela?
Lygia Fagundes Telles (Um Coração Ardente)
Não conte a ninguém, mas descobri, a bolha de sabão é o amor
Lygia Fagundes Telles (A estrutura da bolha de sabão)
A Brazilian film? Naturally, if there's a bed, a woman with a raffish expression, and a man in only his underwear, it could only be Brazilian cinema.
Lygia Fagundes Telles
I was happy thinking only about letters and suddenly they began to compose into something, so dangerous when they get together. But at bottom they are careless. Childish. A, B, H, M, O, . . . so rare X. The Z, an amnesiac, ing in decline, his twin brother S with all the cunning of a usurper.
Lygia Fagundes Telles (Tigrela and Other Stories (English and Portuguese Edition))
A música tinha um enredo e desfiava esse enredo como uma pessoa amiga que entrava para uma visita, uma pessoa muito amiga mas muito estranha, que ora chorava, ora ria, repetindo de vez em quando o começo da historinha: “Sabe, Virgínia, eu vou contar, era uma vez...
Lygia Fagundes Telles (Ciranda de Pedra)
Papai, papai!”, chamou baixinho. Mas só o cipreste pareceu ter ouvido o apelo: fez um meneio sob o vento e em seguida curvou-se como um velho galhofeiro numa reverência.
Lygia Fagundes Telles (Ciranda de Pedra)
O relâmpago a iluminara e a devolvera à escuridão, lá onde também estavam os outros.
Lygia Fagundes Telles (Ciranda de Pedra)
Foi descendo a escada, evitando despertar os degraus.
Lygia Fagundes Telles (Ciranda de Pedra)
Ah! se a gente pudesse se organizar com o equilíbrio das estrelas tão exatas nas suas constelações. Mas parece que a graça está na meia-luz. Na ambiguidade. E até as estrelas, pobrezinhas, equilibradas mas tremendo tanto na solidão.
Lygia Fagundes Telles (As Horas Nuas)
Eis aí uma boa pergunta, dizem os políticos nojentos e não sabem responder a essa boa pergunta.
Lygia Fagundes Telles (As Horas Nuas)
Chego mais perto de minha dona, continua bela apesar dos estragos, seduziu o tempo. Como seduziu as pessoas.
Lygia Fagundes Telles (As Horas Nuas)
Às vezes quero morrer para depois ressuscitar jovem igual ao retrato que o polonês fez. Mas a gente não pode escolher a ressurreição, pode?
Lygia Fagundes Telles (As Horas Nuas)
Ao passar pela porta do quarto azul, susteve a respiração. “A mãe dormiu.” Era tão bom quando ela dormia! Os loucos deviam dormir o tempo todo, de dia e de noite, como as bonecas que só abrem os olhos quando tiradas da caixa.
Lygia Fagundes Telles (Ciranda de Pedra)
Um pardal pousou no pessegueiro, bicou uma folha e prosseguiu seu voo. Virgínia seguiu-o com o olhar. Devia ser bom, também, nascer passarinho. Passarinho não tem essa complicação de pai e mãe assim separados. E passarinho não fica louco nunca. Franziu a testa: ou fica? Beija-flor era um que não parecia muito certo.
Lygia Fagundes Telles (Ciranda de Pedra)
Voltei aos cremes e às saunas, tirei dos armários meus vestidos brancos, tenho que estar pronta porque hoje ou amanhã ou daqui a um mês. Ou um ano. Ele vai voltar.
Lygia Fagundes Telles (As Horas Nuas)
Para aliviar a tensão fiz uma pergunta, minha ignorância real ou fingida sempre serviu para desviar as discussões que se armavam entre papai e mamãe na hora das refeições, acho a mesa o local preferido para um casal deixar bem claro que o amor acabou e em lugar dele ficou outra coisa. Mais tarde descobri que a cama é um lugar melhor ainda para esse tipo de definições.
Lygia Fagundes Telles (As Horas Nuas)
Ela olhou os miolos esbranquiçados destacando-se no arroz. Por aquele labirinto tinham corrido, um por um, todos os pensamentos do boi, alguns ainda deviam ter ficado perdidos por ali, os últimos: pensamentos da hora da morte, quando sentira o cheiro do sangue dos companheiros sacrificados lá na frente. Afastou o prato, repugnada. Era sinistro mastigar pensamentos, poderiam ressuscitar e ela ficaria conhecendo o boi. Pior do que isto, ficaria o próprio boi!
Lygia Fagundes Telles (Ciranda de Pedra)
Importante papel está reservado aos psiquiatras. Aos profetas, acredito ainda mais nos profetas. Acho que eu seria mais útil se estudasse Medicina, de que vão adiantar no futuro as leis se agora já são o que se sabe. Uma psiquiatra maravilhosa. O chato é que quando leio um livro sobre doenças mentais, descubro em mim os sintomas de quase todas, uma psiquiatra por dentro demais da loucura.
Lygia Fagundes Telles (As Meninas)