“
As rugas são as cicatrizes das emoções que vamos tendo na vida.
”
”
Afonso Cruz (Vamos Comprar um Poeta)
“
Soun Tendo: Drowned Octopus Spring?
Guide from Jusenkyo: Is tragic tale of giant octopus who drown 1600 year ago...somehow.
”
”
Rumiko Takahashi
“
Cada um descobre o seu anjo
tendo um caso com o demónio.
”
”
Mia Couto
“
Bukan kulit luar yang penting, tetapi menjadikan pengalaman kita menjadi sesuatu yang terbaik bagi jiwa kita.
”
”
Shōko Tendō (Yakuza Moon: Memoar seorang Putri Gangster Jepang)
“
- Habitualmente não passamos certificados - afirmou o gato, carrancudo. - Mas para si, abrimos uma excepção.
E antes que Nikolai Ivanovitch tivesse tempo de se recompor, Hella, ainda nua, já estava sentada à máquina de escrever e o gato ditava-lhe:
- Pelo presente certifico que o seu portador, Nikolai Ivanovitch, passou a noite indicada num baile em casa de Satã, tendo sido recrutado como meio de transporte... Hella, abre parênteses! Entre parênteses escreve: «porco». Assinado, Behemot.
”
”
Mikhail Bulgakov
“
As aranhas são simples fachadas, simples máscaras, vazias de caráter, tendo apenas como objectivo de tecer teias de engodo, vozes sem poder
”
”
Andreia Rosa (A Sonhadora)
“
When I got home, I took a bat and examined my back in detail in the bathroom mirror. This tattoo would be for myself and no-one else. It wasn’t just because I was about to end my relationship with Iro, it was because I wanted to make some serious changes deep down inside me… My torso - my back and front – and my shoulders, breasts, and upper arms were decorated with a vibrantly coloured work of art. I knew it had been the right thing to do… When I looked at that beautifully crafted tattoo, I was filled with a sense of total contentment I had never experienced before. I felt as though I had been set free.
”
”
Shōko Tendō (Yakuza Moon: Memoar seorang Putri Gangster Jepang)
“
Se não tivesse sido eu, eu não saberia, e tendo sido eu, eu soube.
”
”
Clarice Lispector (The Passion According to G.H.)
“
Os poetas serão! Quando for abolida a servidão infinita da mulher, quando ela viver para ela e por ela, tendo-lhe o homem dado baixa – até agora abominável -, ela também será poeta! A mulher encontrará o desconhecido! Divergirão dos nossos os seus mundos de ideias? Ela descobrirá coisas estranhas, insondáveis, repugnantes, deliciosas, tomá-las-emos e compreenderemos
”
”
Arthur Rimbaud
“
Quantas pessoas, cidades, caminhos, não nos torna assim o ciúme ávidos de conhecer? Ele é uma sede de saber graças à qual, sobre pontos isolados uns dos outros, acabamos tendo sucessivamente todas as noções possíveis, exceto as que desejaríamos.
”
”
Marcel Proust (La Prisonnière)
“
E achava que estava tendo uma crise existencial. Mas não era nada.
”
”
Libba Bray (Going Bovine)
“
Há palavras que são pronunciadas com a simples intenção de agir sobre os outros homens e de produzir algum efeito: o que sucede também quando se escreve. Elas não têm valor: as únicas palavras que contam são as pronunciadas tendo em vista a verdade e não o resultado.
”
”
Louis Lavelle (Regras da vida cotidiana)
“
Nunca tendo sabido tratar desse bicho frágil e espantadiço a que chamavam felicidade, preocupava-me apenas em exibi-lo, deixara-o morrer à fome e à sede, mas continuava a exibir o seu cadáver, esperando que todos fizessem o favor de não me dizerem que haviam dado conta do mau cheiro.
”
”
Dulce Maria Cardoso (Eliete)
“
As mudanças económicas do século XVIII tornaram necessário fazer circular os efeitos do poder, por canais cada vez mais sutis, chegando até os próprios indivíduos, seus corpos, seus gestos, cada um de seus desempenhos cotidianos. Que o poder, mesmo tendo uma multiplicidade de homens a gerir, seja tão eficaz quanto se ele exercesse sobre um só.
”
”
Michel Foucault (Microfísica del poder)
“
Não acho que todo mundo possa continuar tendo dois olhos. Nem que possa evitar de ficar doente, e tal, mas todo mundo deveria ter um amor verdadeiro.
”
”
John Green
“
Hermafrodito foi nosso pecado;
Mas tendo as leis humanas transgredido
84 De brutos no apetite desregrado,
”
”
Dante Alighieri (30 Obras-Primas da Literatura Mundial [volume 1])
“
[...] queria agradar a todos e, tendo muito pouco a oferecer, oferecia expectativas
”
”
Benjamin Franklin (The Autobiography of Benjamin Franklin and The Way to Wealth)
“
Para mim, nenhum prazer tem gosto sem comunicação. Não me acorre um único pensamento espirituoso sem que me sinta agastado de tê-Io produzido sozinho, não tendo a quem o oferecer.
”
”
Michel de Montaigne (The Complete Essays)
“
Ela estudou tanto que, não tendo mais o que estudar, foi aprender o que não devia. Por exemplo: como negar o mundo, como ir contra o mundo.
”
”
Hye-Jin Kim (Concerning My Daughter)
“
Tendo sido maltratado enquanto caloiro, maltratava outros que parecessem infelizes ou fracos, não porque fosse cruel, mas porque era o que se devia fazer.
P.22, Maurice, Ed. Cotovia
”
”
E.M. Forster (Maurice)
“
Eu amava verdadeiramente a sra. de Guermantes. A maior felicidade que poderia pedir a Deus seria que fizesse tombar sobre ela todas as calamidades e que, arruinada, desconsiderada, despojada de todos os privilégios que dela me separavam, não tendo mais casa onde morar, nem pessoas que consentissem em saudá-la, viesse pedir-me asilo. Imaginava-a fazendo tal coisa.
”
”
Marcel Proust (The Guermantes Way)
“
Aí está o nó do dilema que todo alpinista no Everest acaba tendo que enfrentar: para ter sucesso, você precisa estar bastante motivado, mas, se a motivação for excessiva, é provável que você morra.
”
”
Jon Krakauer (Into Thin Air: A Personal Account of the Mt. Everest Disaster)
“
Donov foi chamado de louco, mesmo tendo os mesmos pensamentos que todo mundo tem, que “é preciso ver para crer”. Mas, mesmo quando veem, se recusam a acreditar. (...) É preciso acreditar primeiro, e só então conseguirá ver.
”
”
Lucas Gomes Dias
“
Que história é essa, perguntou o comandante, A história de uma vaca, As vacas têm história, tornou o comandante a perguntar, sorrindo, Esta, sim, foram doze dias e doze noites nums montes da galiza, com frio, e chuva, e gelo, e lama, e pedras como navalhas, e mato como unhas, e breves intervalos de descanço, e mais combates e investidas, e uivos, e mugidos, a história de uma vaca que se perdeu nos campos com a sua cria de leite, e se viu rodeada de lobos durante doze dias e doze noites, e foi obrigada a defender-se e a defender o filho, uma longuíssima batalha, a agonia de viver no limiar da morte, um círculo de dentes, de goelas abertas, de arremetidas bruscas, as cornadas que não podiam falhar, de ter de lutar por si mesma e por uma animalzinho que ainda não se podia valer, e também aqueles momentos em que o vitelo procurava as tetas da mãe, e sugava lentamente, enquanto os lobos se aproximavam, de espinhaço raso e orelhas aguçadas. Subhro respirou fundo e prosseguiu, Ao fim dos doze dias a vaca foi encontrada e salva, mais o vitelo, e foram levados em triunfo para a aldeia, porém, porém o conto não vai acabar aqui, continuou por mais dois dias, ao fim dos quais, porque se tinha tornado brava, porque aprendera a defender-se, porque ninguém podia já dominá-la ou sequer aproximar-se dela, a vaca foi morta, mataram-na, não os lobos que em doze dias vencera, mas os mesmos homens que a haviam salvo, talvez o próprio dono, incapaz de compreender que, tendo aprendido a lutar, aquele antes conformado e pacífico animal não poderia parar nunca mais.
”
”
José Saramago (A Viagem do Elefante)
“
O amor me amordaça antes que eu possa dizer que não quero essa alegria fulminante. E não tendo dito as palavras capazes de negar o encantamento eu permaneço submisso sob o feitiço. Forçado a um prazer que em razão à sobriedade eu não me permitiria.
”
”
Filipe Russo (Caro Jovem Adulto)
“
Ontem a Serra Leoa,
a guerra, a caça ao leão,
o sono dormido à toa
sob as tendas d’amplidão!
Hoje... o porão negro, fundo,
infeto, apertado, imundo,
tendo a peste por jaguar...
E o sono sempre cortado
pelo arranco de um finado
e o baque de um corpo ao mar...
”
”
Castro Alves (O Navio Negreiro)
“
São as regras do jogo."
"Quero alterá-las. Não seria bom se conseguissemos provara existência das coisas com a nossa mente, tendo a certeza de que estavam sempre nos seus lugares? Gostaria de saber como é um sítio quando não estou lá. Gostaria de ter a certeza.
”
”
Ray Bradbury (The Illustrated Man)
“
dito que a primeira hora é o leme do dia. Se sou preguiçoso ou casual nas minhas ações durante a primeira hora após acordar, tendo a ter um dia preguiçoso e desconcentrado. Mas, se me esforço para fazer essa primeira hora idealmente produtiva, o resto do dia tende a seguir esse fluxo.
”
”
Hal Elrod (O milagre da manhã)
“
[O colégio interno de] Sunnington foi a etapa seguinte na carreia de Maurice. (...)
Tendo sido maltratado enquanto caloiro, maltratava outros que parecessem infelizes ou fracos, não porque fosse cruel, mas porque era o que se devia fazer.
-------------------
p. 22, MAURICE, E.M.FORSTER
”
”
E.M. Forster (Maurice)
“
Interminável é assim o ciúme, pois mesmo se o ente amado, tendo morrido por exemplo, não o pode mais provocar pelos seus atos, acontece que reminiscências posteriores a qualquer fato se comportam de repente em nossa memória como outros tantos fatos, reminiscências que não havíamos esclarecido até então, que nos tinham parecido insignificantes e às quais basta que reflitamos sobre elas, sem nenhum evento exterior, para lhes darmos um sentido novo e terrível. Não é preciso sermos dois, basta estarmos só no quarto, a pensar, para que novas traições de nossa amante aconteçam, embora ela esteja morta. Por isso não se deve temer no amor, como na vida habitual, tão somente o futuro, mas também o passado, o qual não se realiza para nós muitas vezes senão depois do futuro, e não falamos apenas do passado que só se nos revela mais tarde, mas daquele que conservamos há muito tempo em nós e que de repente aprendemos a ler.
”
”
Marcel Proust (La Prisonnière)
“
Tendo a non fare molto caso alle altre persone – l'ho già detto in precedenza, è uno dei miei difetti più gravi – e nelle rare occasioni in cui metto la testa fuori dal guscio e do una bella occhiata, quello che mi colpisce in modo strabiliante non è quanto siano diversi da me, ma quanto siano simili, malgrado tutto.
”
”
John Banville (Ghosts (The Freddie Montgomery Trilogy #2))
“
No entanto, é forçoso aceitar que o Estado, tendo em vista sua finalidade precípua de promover o bem-estar da coletividade, preservar o Bem comum e garantir a Cidadania, vem, amiúde, falhando. Enredado continuamente no formalismo exacerbado e no atravancamento oriundo da lentidão burocratista, resultantes de nossa formação histórica (privilegiadora de alguns grupos sociais e, também, das práticas predatórias em relação ao patrimônio conjunto), o setor público (sem afastar-se de seus objetivos maiores) necessita romper essas amarras. Elas, em grande medida, ocasionam a facilitação da ineficácia, da inoperância, da incúria, da negligência e da prevaricação.
”
”
Mario Sergio Cortella (Não se desespere!)
“
Ensaio incalculáveis vezes, mentalmente, como vou pedir ajuda. “Taxista, eu tô tendo um ataque de pânico, você pode, por favor, ligar para meu plano de saúde e avisar para virem me retirar daqui com um helicóptero equipado com soro, Rivotril e crianças tocando harpa? Eu sei que isso não existe, mas, por favor, finja que está ligando.
”
”
Tati Bernardi (Depois a louca sou eu)
“
O completo imbecil, entretanto, alcança êxito, algumas vezes, porquanto, não tendo consciência da sua imbecilidade, jamais hesita em afirmar com autenticidade. Ora, a afirmação enérgica e repetida, possui prestígio. O mais vulgar dos "camelos", quando energicamente afirma a superioridade de um produto, exerce prestígio na multidão que o circunda.
”
”
Gustave Le Bon (الآراء والمعتقدات)
“
O mais corrente neste mundo, nestes tempos em que às cegas vamos tropeçando, é esbarrarmos, ao virar a esquina mais próxima, com homens e mulheres na maturidade da existência e da prosperidade, que, tendo sido aos dezoito anos, não só as risonhas primaveras do estilo, mas também, e talvez sobretudo, briosos revolucionários decididos a arrasar o sistema dos pais e pôr no seu lugar o paraíso,
enfim, da fraternidade, se encontram agora, com firmeza pelo menos igual,
repoltreados em convicções e práticas que, depois de haverem passado, para
aquecer e flexibilizar os músculos, por qualquer das muitas versões do conservadorismo moderado, acabaram por desembocar no mais desbocado e reaccionário egoísmo.
”
”
José Saramago (Seeing)
“
Olavismo. 1. Estilo de pensamento filosófico muito peculiar, que substitui o argumento pelo xingamento e o conceito pelo palavrão. 2. Fruto da expansão dos meios tecnológicos de informação, que, utilizando selfies e vídeos autoproduzidos, deixam aparecer na rede pessoas como se fossem “professores” e “intelectuais”, posando nas telas ao terem no fundo estantes decoradas com livros mal lidos e mal compreendidos. 3. Nome de uma corrente de fake-pensamento. "4. Expressão oriunda da composição de “Olá” e “revanchismo”, combinando alguém que chega de repente para dar a ideia aos governantes sem ideias de en-direitar o país com rifles e rifas e quem se sentiu a vida toda complexado por nunca ter conseguido entender o que é uma ideia e muito menos uma filosofia. 5. Nome da corrente ideológica que seduz, encanta e lidera o bando de ressentidos do país. 6. Uma forma bem específica de saudosismo: saudades da era medieval, saudades da teocracia, saudades de D. Pedro, saudades dos bons costumes. 7. Modo borrágico de expressar opiniões que procuram, em tese, chocar o senso comum, mas que nada mais fazem além de corroborar o pior dos sensos (o qual, infelizmente, muitas vezes é comum e quase sempre predominou ao longo da história). 8. Movimento de desespero final de quem quer encontrar uma identidade para chamar de sua e um líder para chamar de seu. 9. Espécie de fanatismo religioso que cultua o ódio e a intolerância travestidos de intelectualismo. 10. Seita seguida por pessoas particularmente vulneráveis a uma retórica violenta e macabra, mas perigosamente sedutora. 11. Doutrina do ter-razão-em-tudo quando não se tem razão em nada. Atribuindo a base dessa doutrina do ter-razão-em-tudo ao filósofo alemão Arthur Schopenhauer, é fácil constatar como olavistas não possuem o menor conhecimento nem de alemão e nem de filosofia, tendo (mal) entendido o próprio nome de Schopenhauer como “chope raro”, que, bebido, gera mal-entendidos dos princípios básicos da erística e da dialética. Com bases em erros fundamentais, o olavismo derivado desse “chope raro” (confundido com Schopenhauer) desenvolveu uma errística dislética, que se vale de argumentos nefastos (do latim nefas que significa ilícito) para destruir as questões mais lícitas do pensamento, da sociedade e da cultura. 11. Tradução google para o português bolsonarista da tradução google para o inglês trumpista da tradução google russa do resumo dos clássicos da extrema direita europeia, assinada por Dugin, ideólogo de Putin.
”
”
Luisa Buarque (Desbolsonaro de Bolso)
“
Aliás, exercia-se uma força de atração irresistível entre aqueles diversos astros, e em cada mesa os fregueses não tinham olhos senão para as mesas em que não se achavam, exceto algum rico anfitrião, o qual, tendo conseguido trazer algum escritor célebre, se empenhava em tirar dele, graças às virtudes da mesa giratória, frases insignificantes com que as damas se maravilhavam.
”
”
Marcel Proust (In the Shadow of Young Girls in Flower)
“
Ele só teve um momento de frieza, com o Dr. Cottard: vendo-o piscar o olho e sorrir-lhe com um ar ambíguo antes que se tivessem falado (mímica que Cottard chamava de "deixar fluir"), Swann acreditou que o médico o conheci sem dúvida por ter estado com ele em algum lugar de prazer, embora ele mesmo os frequentasse muito pouco, nunca tendo vivido no mundo da farra. Considerando a alusão de mau gosto, sobretudo na presença de Odette, que poderia fazer dele uma ideia falsa, simulou um ar glacial. Mas quando soube que a dama que se encontrava a seu lado era a sra. Cottard, pensou que um marido tão jovem não teria pensado em fazer alusão, diante de sua mulher, a divertimento desse tipo, e deixou de atribuir ao ar cúmplice do médico o significado que temia.
”
”
Marcel Proust (Un amour de Swann (À la recherche du temps perdu, #1.2))
“
Maria, deitada de costas, estava acordada e atenta, olhava fixamente um ponto em frente, e parecia esperar. Sem pronunciar palavra, José aproximou-se e afastou devagar o lençol que a cobria. Ela desviou os olhos, soergueu um pouco a parte inferior da túnica, mas só acabou de puxá-la mais para cima, à altura do ventre, quando ele já se vinha debruçando e procedia do mesmo modo com a sua própria túnica, e Maria, entretanto, abrira as pernas, ou as tinha aberto durante o sonho e desta maneira as deixara ficar, fosse por inusitada indolência matinal ou pressentimento de mulher casada que conhece os seus deveres. Deus, que está em toda a parte, estava ali, mas sendo aquilo que é, um puro espírito, não podia ver como a pele de um tocava a pele do outro, como a carne dele penetrou a carne dela, criadas uma e outra para isso mesmo, e, provavelmente, já nem lá se encontraria quando a semente sagrada de José se derramou no sagrado interior de Maria, sagrados ambos por serem a fonte e a taça da vida, em verdade há coisas que o próprio Deus não entende, embora as tivesse criado. Tendo pois saído para o pátio, Deus não pôde ouvir o som agónico, como um estertor, que saiu da boca do varão no instante da crise, e menos ainda o levíssimo gemido que a mulher não foi capaz de reprimir.
”
”
José Saramago (The Gospel According to Jesus Christ)
“
Europa propôs-se abandonar o sistema de Estados que concebeu e transcendê-lo mediante um conceito de soberania partilhada. Ironicamente, e embora tenha sido ela a inventar o conceito de equilíbrio de poder, é a Europa que vem limitando, substancial e intencionalmente, o elemento de poder nas suas novas instituições. Tendo reduzido o seu poderio militar, a Europa tem pouca capacidade de resposta perante a violação de normas universais.
”
”
Henry Kissinger (A Ordem Mundial)
“
A perfeição, para ser tal, tem que sair da imperfeição, o incorruptível tem que desenvolver-se do corruptível, tendo esse último como sua base, veículo e contraste. Luz Absoluta é Obscuridade absoluta, e vice-versa. O Bem e o Mal são gêmeos; nenhum dos dois existe 'per se', pois cada um tem que ser engendrado e criado pelo outro afim de vir a existência. Ambos têm que ser conhecidos e apreciados antes de ser objeto de percepção, daí que a na mente mortal tenham de estar separados.
”
”
Helena Petrovna Blavatsky (The Secret Doctrine)
“
- Obedecer à sociedade? ... - replicou a marquesa, mostrando-se horrorizada. - É daí, senhor, que provêm todos os males. Deus não fez nem uma só lei para a nossa desgraça. Porém, os homens, reunindo-se, falsearam a sua obra. Nós, as mulheres, somo mais maltratadas pela civilização do que fomos pela natureza. Esta impõe-nos penas físicas que os homens não suavizaram, e a civilização desenvolveu sentimentos que eles enganam incessantemente. A natureza sufoca os seres fracos, os homens condenam-nos a viver para lhes oferecerem uma constante desgraça. O casamento, instituição em que hoje se funda a sociedade, faz-nos sentir todo o seu peso: para o homem a liberdade, para as mulheres os deveres. Nós lhes devemos toda a nossa vida, eles devem-nos apenas raros instantes. (...) Pois bem, o casamento, tal como hoje se efetua, afigura-se-me uma prostituição legal. Daí provieram todos os meus sofrimentos. (...) Fui a própria autora do mal, tendo desejado esse casamento.
”
”
Honoré de Balzac (La Femme De Trente Ans)
“
En la perrera escribí con el pensamiento que algún día tendría al coronel García vencido ante mí y podría vengar a todos los que tienen que ser vengados. Pero ahora dudo de mi odio. En pocas semanas, desde que estoy en esta casa, parece haberse diluido, haber perdido sus nítidos contornos. Sospecho que todo lo ocurrido no es fortuito, sino que corresponde a un destino dibujado antes de mi nacimiento y Esteban García es parte de ese dibujo. Es un trazo tosco y torcido, pero ninguna pincelada es inútil. El día en que mi abuelo volteó entre los matorrales del río a su abuela, Pancha García, agregó otro eslabón en una cadena de hechos que debían cumplirse. Después el nieto de la mujer violada repite el gesto con la nieta del violador y dentro de cuarenta años, tal vez, mi nieto tumbe entre las matas del río a la suya y así, por los siglos venideros, en una historia inacabable de dolor, de sangre y de amor. (...)
Me será muy fácil vengar a todos los que tienen que ser vengados, porque mi venganza no sería más que otra parte del mismo mito inexorable. Quiero pensar que mi oficio es la vida y que mi misión no es prolongar el odio, sino sólo llenar estas páginas mientras espero el regreso de Miguel, mientras entierro a mi abuelo que ahora descansa a mi lado en este cuarto, mientras aguardo que lleguen tiempos mejores, gestando a la criatura que tendo en el vientre, hija de tantas violaciones, o tal vez la hija de Miguel pero sobre todo hija mía.
”
”
Isabel Allende
“
- Quem é que sabe? Desde que não há mais Deus, nem o Seu Filho, tampouco o Espírito Santo, quem perdoa? Eu não sei.
- Para você Deus não existe mais?
- Não, claro que não. Se Deus existisse, Ele não teria permitido que eu visse o que vi com estes meus olhos. Deixe *eles* ficarem com Deus.
- Eles O reivindicaram.
- Certamente eu sinto falta Dele, tendo nascido numa família religiosa. Mas hoje um homem dever ser responsável por si mesmo.
- Então serás tu mesmo que irás perdoar a tua matança.
”
”
Ernest Hemingway (For Whom the Bell Tolls)
“
Quando nos perdemos na consideração de grandeza infinita do mundo no espaço e no tempo, quando meditamos nos séculos passados e vindouros, ou também quando consideramos o céu noturno estrelado, tendo inumeráveis mundos efetivamente diante dos olhos, e a incomensurabilidade do cosmo se impõe à consciência - então sentimo-nos reduzidos a nada, sentimo-nos como indivíduo, como corpo vivo, como aparência transitória da vontade, uma gota no oceano, condenados a desaparecer, a dissolvermo-nos no nada.
”
”
Arthur Schopenhauer (O Mundo como Vontade e Representação; Crítica da Filosofia Kantiana; Parerga e Paralipomena)
“
Hoje é o último dia do ano. Em todo o mundo que este calendário rege andam as pessoas entretidas a debates consigo mesmas as boas ações que tencionam praticar no ano que entra, jurando que vão ser retas, justas e equânimes, que da sua emendada boca não voltará a sair uma palavra má, uma mentira, uma insidia, ainda que as merecesse o inimigo, claro que é das pessoas vulgar que estamos falando, as outras, as de exceção, as incomuns, regulam-se por razões suas próprias para serem e fazerem o contrário sempre que lhes apetece ou aproveite, essas são as que não se deixam iludir, chegam a rir-se de nós e das boas intenções que mostramos, mas, enfim, vamos aprendendo com a experiencia, logo nos primeiros dias de Janeiro teremos esquecido metade do que havíamos prometido, e, tendo esquecido tanto, não há realmente motivo para cumprir o resto, é como um castelo de cartas, se já lhe faltam as obras superiores, melhor é que caia tudo e se confundam os naipes. Por isso é duvidoso ter-se despedido Cristo da vida com as palavras da escritura, as de Mateus e Marcos, Deus meu, Deus meu, por que me desamparaste, ou as de Lucas, Pai, nas tuas mãos entrego o meu espirito, ou as de João, Tudo está cumprido, o que Cristo disse foi, palavra de honra, qualquer pessoa popular sabe que esta é a verdade, Adeus mundo, cada vez a pior. Mas os deuses de Ricardo Reis são outros, silenciosas entidades que nos olham indiferentes, para quem o mal e o bem são menos que palavras, por as não dizerem eles nunca, e como as diriam, se mesmo entre o bem e o mal não sabem distinguir, indo como nós vamos no rio das coisas, só ditamos. Esta lição nos foi dada para que não nos afadiguemos a jurar novas e melhores intenções para o ano que tem, por elas não nos julgarão os deuses, pelas obras, também não, só juízes humanos ousam julgar, os deuses nunca, porque se supõe saberem tudo, salvo se tudo isto é falso, se justamente não é sua ocupação única esquecerem em cada momento o que do cada momento lhes vão ensinando os atos dos homens, os bons como os maus, iguais derradeiramente para os deuses, porque inúteis lhes são. Não digamos Amanhã farei, porque o mais certo é estarmos cansados amanhã, digamos antes, Depois de amanhã, sempre teremos um dia de intervalo para mudar de opinião e projeto, porém ainda mais prudente seria dizer, Um dia decidirei quando será o dia de dizer depois de amanhã, e talvez nem seja preciso, se a morte definidora vier antes desobrigar-me do compromisso, liberdade que a nós próprios negamos.
”
”
José Saramago (The Year of the Death of Ricardo Reis)
“
Uma abelha pousada numa flor pica uma criança e a criança receosa passa a afirmar que o propósito da abelha é picar os homens. O poeta admira a abelha que se oculta na corola da flor e pretende que o seu fim é assimilar-lhe o perfume. O apicultor, observando que a abelha extrai o pólen da flor e o transporta para a colmeia, pretende que o seu fim é fabricar mel. Outro, que estudou de mais perto a vida da colmeia, afirma que a abelha colhe o pólen para alimentar as abelhas mais novas e criar a rainha, tendo como propósito a propagação da espécie. O botânico observa que, voando com o pólen de uma flor masculina para uma flor feminina, a abelha fecunda esta última: vê nisso, por seu turno, o papel da abelha. Outro, observando as variações das plantas, vê que a abelha contribui para elas e afirma que nisso consiste o seu papel. Mas o fim principal da abelha não se esgota em qualquer dos fins particulares que o espírito humano alcança. Quanto mais alto se eleva o espírito humano na descoberta do fim, tanto mais evidente se torna para ele o caráter inacessível do derradeiro fim.
”
”
Leo Tolstoy (Guerra e Paz)
“
Se tudo no mundo é relativo, nada tão relativo como a felicidade humana. Eu abandonava-me enfim ao meu cansaço, ao meu desgosto, ao meu desânimo, - quer isto dizer que os gozava. Daí estes dias correrem-me quase felizes. Há uma "sagesse" para os infelizes que substitui a felicidade; e que provém de se fazer uma voluptuosidade da própria dor, de se utilizar a dor como conducente a uma felicidade supra-terrena, ou de se chegar a considerar a dor estado normal, tendo por inesperados favores dos deuses quaisquer pequeninos prazeres sobrevindos...
”
”
José Régio (Jogo da Cabra Cega)
“
EIS-ME
Eis-me
Tendo-me despido de todos os meus mantos
Tendo-me separado de adivinhos mágicos e deuses
Para ficar sozinha ante o silêncio
Ante o silêncio e o esplendor da tua face
Mas tu és de todos o ausente o ausente
Nem o teu ombro me nem a tua mão me toca
O meu coração desce as escadas do tempo
(em que não moras)
E o teu encontro
São planícies e planícies de silêncio
Escura é a noite
Escura e transparente
Mas o teu rosto está para além do tempo opaco
E eu não habito os jardins do teu silêncio
Porque tu és de todos os ausentes o ausente
”
”
Sophia de Mello Breyner Andresen (Livro Sexto)
“
A única coisa que havia ali dentro era uma cama sem colchão, que ele olhava fixamente. Em cima dela, sua mãe teria chorado e tremido de medo. Em cima dela, teria lamentado sua vida, sofrido as dores do ventre e as do coração. Em cima dela, sua mãe teria conhecido sua desimportância, teria entendido que o mundo podia muito bem continuar sem ela. Em cima dela, sua mãe talvez tivesse desejado morrer. Enfim, em cima daquela cama, sua mãe acabou tendo seu encontro fatal com a morte. E, diante dela, se encontrava agora a explicação para toda aquela dor.
”
”
Camilo Gomes Jr. (Em memória)
“
Esse novo consenso do que passa a valer como legal ou ilegal significa que o batedor de carteiras, o pequeno traficante e o assaltante de rua tornam-se foco da ação policial e legal. O assalto especulativo de fundos de investimento, ao contrário – que eventualmente empobrece países do tamanho da Argentina ou da Malásia e impede o pagamento de aposentadorias, tendo impacto negativo dramático na vida de milhões – não é visto como crime. Por outro lado, o investidor que liderou o ataque é festejado como “gênio financeiro”, e sua foto aparece nas capas festejantes de revistas como The Economist e Time.
”
”
Jessé Souza (A Radiografia do Golpe: Entenda Como e Por Que Você Foi Enganado)
“
Pode-se dizer que em grande parte a “tragédia nacional” que Nelson Rodrigues desenha está contida no destino de suas mulheres, sempre à beira de uma grande transformação redentora, mas sempre retidas ou contidas em seu salto e condenadas a viver a impossibilidade. Em seu teatro, Nelson Rodrigues temperou o exercício do realismo cru com o da fantasia desabrida, num resultado sempre provocante. Valorizou, ao mesmo tempo, o coloquial da linguagem e a liberdade da imaginação cênica. Enfrentou seus infernos particulares: tendo apoiado o regime de 1964, viu-se na contingência de depois lutar pela libertação de seu
”
”
Nelson Rodrigues (Otto Lara Resende ou Bonitinha, mas ordinária (Portuguese Edition))
“
Durante a rápida estação em que a mulher permanece em flor, os caracteres da sua beleza servem admiravelmente bem à dissimulação à qual a sua fraqueza natural e as leis sociais a condenam. Sob o rico colorido do seu viçoso rosto, sob o fogo dos seus olhos, sob a fina textura das suas feições tão delicadas, com tantas linhas curvas ou retas, mas puras e perfeitamente determinadas, todas as suas comoções podem permanecer secretas: o rubor então nada revela, aumentando ainda mais cores já tão vivas; todos os focos interiores concordam tão bem com a luz desses olhos brilhantes de vida que a fugaz chama de um sofrimento aparece apenas como um encanto a mais. Por isso, na da há mais discreto do que um rosto juvenil, porque também não há nada mais imóvel. A fisionomia de uma jovem tem a serenidade, o polido, o frescor da superfície de um lago; a das mulheres só se revela aos trinta anos. Até essa idade, o pintor só lhes acha no rosto róseos e brancos sorrisos e expressões que repetem um mesmo pensamento, pensamento de mocidade e de amor, pensamento uniforme e sem profundidade; mas, na velhice, tudo na mulher fala, as paixões incrustaram-se-lhe no rosto; foi amante, esposa, mãe; as mais violentas expressões de alegria e de dor acabaram por alterar-lhe, torturar-lhe o rosto, formando aí mil rugas, tendo todas uma linguagem; e uma fronte de mulher torna-se, então, sublime pelo horror, bela pela melancolia, ou magnífica pela serenidade; se se permite desenvolver esta estranha metáfora, o lago seco deixa então ver todos os traços das torrentes que o produzi ram; uma fronte de mulher velha já então não pertence nem ao mundo, que, frívolo, se assusta de ver a destruição de todas as idéias de elegância a que está habituado, nem aos artistas vulgares, que nada descobrem por aí; mas, sim, aos verdadeiros poetas, àqueles que possuem o sentimento de uma beleza independente de todas as convenções sobre as quais repousam tantos preconceitos sobre a arte e a formosura.
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Honoré de Balzac (A Woman Of Thirty)
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Onde tudo é obscuro e inconcebido, a melhor comparação é o sonho. Maurice teve dois sonhos quando andou no colégio; eles irão explicá-lo.
(...)
O segundo sonho é mais difícil de contar. Não aconteceu nada. Mal viu um rosto, mal ouviu uma voz dizer «Aquele é o teu amigo», e acabou assim, tendo-o enchido de beleza e ensinado ternura. Ele podia morrer por um amigo assim, deixaria que um amigo assim morresse por ele; fariam qualquer sacrifício um pelo outro, e não haveria nada no mundo, nem a morte, nem a distância, nem o sofrimento, que os pudesse separar, pois «este é o meu amigo».
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p.23, MAURICE, E.M. FORSTER
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E.M. Forster (Maurice)
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Era deste jaez (feliz palavra árabe, cada vez menos usada e cujo significado vem em todos os dicionários e bela expressão tão rafada em tempo de letras mais bojudas, que qualquer escritor, com uma única excepção, hesitaria em usá-la), era deste jaez, dizia (fórmula de repetição também recuperada do arsenal literário e que se destina a evitar que a atenção do leitor se distraia e comece a pensar noutras coisas, nanja no essencial), dizia (embora antes seja meu dever chamar a atenção para este magnífico "nanja", que não é de origem japonesa, mas sim de etimologia facilmente descortinável) e tendo-me eu esquecido da continuação da frase vou retomá-la, desde o início com vossa licença.
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Mário de Carvalho (A arte de morrer longe)
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Os amigos cada vez mais se vêem menos. Parece que era só quando éramos novos, trabalhávamos e bebíamos juntos que nos víamos as vezes que queríamos, sempre diariamente. E, no maior luxo de todos, há muito perdido: porque não tínhamos mais nada para fazer.
Nesta semana, tenho almoçado com amigos meus grandes, que, pela primeira vez nas nossas vidas, não vejo há muitos anos. Cada um começa a falar comigo como se não tivéssemos passado um único dia sem nos vermos.
Nada falha. Tudo dispara como se nos estivera – e está – na massa do sangue: a excitação de contar coisas e partilhar ninharias; as risotas por piadas de há muito repetidas; as promessas de esperanças que estão há que décadas por realizar.
Há grandes amigos que tenho a sorte de ter que insistem na importância da Presença com letra grande. Até agora nunca concordei, achando que a saudade faz pouco do tempo e que o coração é mais sensível à lembrança do que à repetição. Enganei-me. O melhor que os amigos e as amigas têm a fazer é verem-se cada vez que podem. É verdade que, mesmo tendo passado dez anos, sente-se o prazer inencontrável de reencontrar quem se pensava nunca mais encontrar. O tempo não passa pela amizade. Mas a amizade passa pelo tempo. É preciso segurá-la enquanto ela há. Somos amigos para sempre mas entre o dia de ficarmos amigos e o dia de morrermos vai uma distância tão grande como a vida.
Miguel Esteves Cardoso, in 'Jornal Público
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Miguel Esteves Cardoso
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Nós, homens do conhecimento, não nos conhecemos; de nós mesmos somos desconhecidos - e não sem motivo. Nunca nos procuramos: como poderia acontecer que um dia nos encontrássemos? Com razão alguém disse:'onde estiver teu tesouro, estará também teu coração'. Nosso tesouro está onde estão as colmeias do nosso conhecimento. Estamos sempre a caminho delas, sendo por natureza criaturas aladas e coletoras do mel do espírito, tendo no coração apenas um propósito - levar algo 'para casa'. Quanto ao mais da vida, as chamadas 'vivências', qual de nós pode levá-las a sério? Ou ter tempo para elas? Nas experiências presentes, receio, estamos sempre 'ausentes': nelas não temos nosso coração - para elas não remos ouvidos. Antes, como alguém divinamente disperso e imerso em si, a quem os sinos acabam de estrondear no ouvido as doze batidas do meio-dia, e súbito acorda e se pergunta 'o que foi que soou?', também nós por vezes abrimos depois os ouvidos e perguntamos, surpresos e perplexos inteiramente, 'o que foi que vivemos?', e também 'quem somos realmente?', e em seguida contamos, depois, como disse, as doze vibrantes batidas da nossa vivência, da nossa vida, do nosso ser - ah! e contamos errado... Pois continuamos necessariamente estranhos a nós mesmos, não nos compreendemos, temos que nos mal-entender, a nós se aplicará para sempre a frase: 'cada qual é o mais distante de si mesmo' - para nós mesmos somos 'homens do desconhecimento'...
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Friedrich Nietzsche (On the Genealogy of Morals / Ecce Homo)
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Há alguns anos – não importa quantos ao certo –, tendo pouco ou nenhum dinheiro no bolso, e nada em especial que me interessasse em terra firme, pensei em navegar um pouco e visitar o mundo das águas. É o meu jeito de afastar a melancolia e regular a circulação. Sempre que começo a ficar rabugento; sempre que há um novembro úmido e chuvoso em minha alma; sempre que, sem querer, me vejo parado diante de agências funerárias, ou acompanhando todos os funerais que encontro; e, em especial, quando minha tristeza é tão profunda que se faz necessário um princípio moral muito forte que me impeça de sair à rua e rigorosamente arrancar os chapéus de todas as pessoas – então percebo que é hora de ir o mais rápido possível para o mar.
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Herman Melville (Moby-Dick or, The Whale)
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Não havia ali ninguém. As suas palavras desvaneceram-se. Como um foguete se desvanece. As suas fagulhas, tendo traçado uma trajetória luminosa na noite, entregam-se a ela, a escuridão desce, derrama-se sobre os contornos das casas e torres; colinas sombrias a ruírem e a esfumarem-se. Mas apesar de ocultas, a noite continua cheia delas; privadas de cor, destituídas de janelas, existem mais intensamente, exprimem aquilo que a luz do dia não consegue transmitir - a inquietação a expectativa das coisas amontoadas na escuridão: aconchegadas nas trevas; despojadas do alívio que o amanhecer lhes traz quando, ao lavar as paredes de branco e cinza, ao salientar cada janela, ao erguer a neblina dos campos, mostrando as vacas vermelho-acastanhadas pacificamente a pastar, tudo volta a ser desvendado perante o olhar; tudo volta à vida.
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Virginia Woolf (Mrs Dalloway)
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Não havia ali ninguém. As suas palavras desvaneceram-se. Como um foguete se desvanece. As suas fagulhas, tendo traçado uma trajetória luminosa na noite, entregam-se a ela, a escuridão desce, derrama-se sobre os contornos das casas e torres; colinas sombrias a ruírem e a esfumarem-se. Mas apesar de ocultas, a noite continua cheia delas; privadas de cor, destituídas de janelas, existem mais intensamente, exprimem aquilo que a luz do dia não consegue transmitir - a inquietação a expectativa das coisas amontoadas na escuridão, aconchegadas nas trevas; despojadas do alívio que o amanhecer lhes traz quando, ao lavar as paredes de branco e cinza, ao salientar cada janela, ao erguer a neblina dos campos, mostrando as vacas vermelho-acastanhadas pacificamente a pastar, tudo volta a ser desvendado perante o olhar; tudo volta à vida.
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Virginia Woolf (Mrs Dalloway)
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Pascal disse que o coração tem razões que a razão desconhece. Se é que o interpretei bem, ele queria
dizer que, quando a paixão se apodera de um coração, este inventa, para provar que por amor todo sacrifício é pouco, razões não somente plausíveis, mas conclusivas. Ficamos convencidos de que vale a pena
aceitar a desonra, e que a vergonha não é preço
exagerado para se pagar por ele. A paixão é destruidora. Destruiu Antônio e Cleópatra, Tristão e Isolda, Parnell e Kitty O’Shea. E, quando não destrói,
morre. É possível que então a pessoa se veja na amarga contingência de reconhecer que desperdiçou anos de vida, que se desgraçou inutilmente, que
sofreu a tortura do ciúme, engoliu toda espécie de
humilhações, tendo dado a sua ternura, as riquezas da sua alma a um ser insignificante, idiota, uma estaca onde dependurou seus sonhos, e que não valia
dois tostões de mel coado.
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W. Somerset Maugham (The Razor’s Edge)
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- Então não adivinhou -, disse, com um pouco de escárnio no seu terror. - Sou um indizível do tipo Oscar Wilde. - Os seus olhos fecharam-se, e levando os punhos cerrados até eles, ficou sentado imóvel, tendo apelado a César.
Por fim, veio a sentença. Mal conseguia acreditar no que ouvia. Era «Tolices, tolices!». Estava à espera de muita coisa, mas não disto; pois se as suas palavras eram tolices, a sua vida era um sonho.
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P.181, MAURICE, E.M. FORSTER
"So you've never guessed," he said, with a touch of scorn in his terror. "I'm an unspeakable of the Oscar Wilde sort." His eyes closed, and driving clenched fists against them he sat motionless, having appealed to Caesar.
At last judgement came. He could scarcely believe his ears. It was "Rubbish, rubbish!" He had expected many things, but not this; for if his words were rubbish his life was a dream.
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E.M. Forster (Maurice)
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Tudo era agora tão claro. Ele tinha mentido. Fraseava isso como «tendo sido alimentado de mentiras», mas a mentira é o alimento natural da adolescência, e ele tinha comido sofregamente. A sua primeira decisão foi a de ser de futuro mais cuidadoso. Ia viver uma vida honesta, não porque isso tivesse agora alguma importância, mas por uma questão de lealdade. Não voltaria a enganar-se tanto a si próprio. Não ia - e este era o teste - fingir estar interessado em mulheres, quando o único sexo que o atraía era o seu próprio. Amava homens e sempre os amara. Ansiava por abraçá-los e misturar o seu ser com o deles. Agora que perdera o homem que tinha correspondido ao seu amor, ele admitiu isto.
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P.70, MAURICE, E.M. FORSTER
He would not deceive himself so much. He would not – and this was the test – pretend to care about women when the only sex that attracted him was his own. He loved men and always had loved them. He longed to embrace them and mingle his being with theirs. Now that the man who returned his love had been lost, he admitted this.
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E.M. Forster (Maurice)
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Se eu estiver certo, o homem de gênio de então se encontrava em uma situação muito diferente daquela do seu sucessor moderno. Hoje, um homem assim, muitas vezes, ou até usualmente, sente-se confrontado com uma realidade, cuja significância ele não pode conhecer; ou com uma realidade que não tenha significância alguma; ou até com uma realidade tal que a própria questão, se tiver um sentido, é, em si, uma questão sem sentido. O objetivo para ele é, por sua própria sensibilidade, descobrir o sentido; ou com base em sua própria subjetividade, atribuir sentido ou ao menos uma forma para aquilo que, por si mesmo, não possui alguma dessas características. Mas o Modelo de universo de nossos ancestrais tinha uma significância embutida. E isso em dois sentidos: como tendo uma "forma significativa" (trata-se de um projeto admirável) e como manifestação da sabedoria e bondade de quem o criou. Não havia necessidade de despertá-lo para a beleza ou a vida. Para sermos mais enfáticos, o nosso problema não era o vestido de noiva, nem a mortalha. A perfeição alcançada já estava lá. A única dificuldade era de lhe dar uma resposta adequada.
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C.S. Lewis (The Discarded Image: An Introduction to Medieval and Renaissance Literature)
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Estou escrevendo há muito tempo e estou cansada, é cada vez mais difícil manter esticado o fio do relato dentro do caos dos anos, dos acontecimentos miúdos e grandes, dos humores. Sendo assim, ou tendo a passar por cima dos fatos relacionados a mim para logo agarrar Lila pelos cabelos com todas as complicações que ela tem, ou, pior, deixo-me tomar pelos acontecimentos de minha vida apenas porque os desembucho com mais facilidade. Mas tenho de me furtar a essa encruzilhada. Não devo seguir o primeiro caminho, no qual - já que a própria natureza de nossa relação impõe que eu só possa chegar a ela passando por mim - eu acabaria, caso me colocasse de fora, encontrando cada vez menos vestígios de Lila. Nem devo, por outro lado, seguir o segundo. De fato, o que ela com certeza mais apoiaria é que eu falasse de minha experiência cada vez mais profusamente. Vamos - me diria -, nos conte que rumo sua vida tomou, quem se importa com a minha, confesse que ela não interessa nem mesmo a você. E concluiria: eu sou um rascunho em cima de um rascunho, totalmente inadequada para um de seus livros; me deixe em paz, Lenù, não se narra um apagamento
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Elena Ferrante
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Que significava aquele imenso e eterno espetáculo, sempre renovado e que o atraíra sempre, desde a mais longínqua infância, mas no qual jamais pudera tomar parte? Cada manhã o mesmo sol deslumbrante! Todos os dias o mesmo arco-íris como um diadema sobre a cascata! Todas as tardes a geleira fulgurando envolta em púrpura ao fundo do horizonte! "Cada diminuta mosca que zunia ao redor dele no ardente raio do sol tinha a sua parte no coro, sabia o seu lugar, gostava e era feliz!" Cada folha de relva cresce e é feliz. Tudo tem sua trajetória, cada coisa sabe que possui um itinerário e por ele adiante envereda por entre hosanas! Não há quem não saia de manhã com uma canção e não volte ao crepúsculo, cantando... Só ele não sabe nada, não compreende nada, nem homens, nem sons. Não comparticipa de nada, é um banido. Oh! Naturalmente não dissera servindo-se de palavras, sua interrogação tendo sido apenas mental. Era um sofrimento mudo de quem não atina com um enigma; mas agora lhe parecia que havia dito tudo aquilo com as mesmas palavras de Ippolít, a ponto de a frase relativa à mosca parecer sua, Ippolít o havendo plagiado, tomando-a das suas lágrimas e dos pensamentos de então. Tamanha certeza teve disso que enquanto refletia, o seu coração acelerava o ritmo.
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Fyodor Dostoevsky (The Idiot)
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que quer o anarquista? A liberdade —a liberdade para si e para os outros, para a humanidade inteira. Quer estar livre da influência ou da pressão das ficções sociais; quer ser livre tal qual nasceu e apareceu no mundo, que é como em justiça deve ser; e quer essa liberdade para si e para todos os mais. Nem todos podem ser iguais perante a Natureza: uns nascem altos, outros baixos; uns fortes, outros fracos; uns mais inteligentes, outros menos... Mas
todos podem ser iguais daí em diante; só as ficções sociais o evitam. Essas ficções sociais é que era preciso destruir.
Era preciso destrui-las... Mas não me escapou uma coisa: era preciso destrui-las mas em proveito da liberdade, e tendo sempre em vista a criação da sociedade livre. Porque isso de destruir as ficções sociais tanto pode ser para criar liberdade, ou preparar o caminho da liberdade, como para estabelecer outras ficções sociais diferentes, igualmente más porque igualmente ficções. Aqui é que era preciso cuidado. Era preciso acertar com um processo de acção, qualquer que fosse a sua violência ou a sua não-violência (porque contra as injustiças sociais tudo era legítimo), pelo qual se contribuísse para destruir as ficções sociais sem, ao mesmo tempo, estorvar a criação da liberdade futura; criando já mesmo, caso fosse possível, alguma coisa da liberdade futura.
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Fernando Pessoa (El banquero anarquista)
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ele se deixava corroer pelos vermes de suas lembranças/ […] descanso minha cabeça entre essas palmas cheias de estrelas, cruzes e precipícios que um dia compuseram o meu destino./ Pois toda dor à qual nós nos abandonamos transforma-se em serenidade./ […] há muito foi mumificado pela mentira da glória./ Desperto cada noite sob o incêndio do meu próprio sangue./O respeito devido aos mártires acaba por enobrecer o instrumento ignóbil do suplício. Não basta amar as criaturas; é preciso adorar sua miséria, seu aviltamento, sua desgraça./[…] pareço-me com a Morte, a velha amante de Deus./A verdade é que Ele não me salvou nem da morte, nem dos males, nem do crime, porque é através deles que somos salvos. Salvou-me, porém, da felicidade./ Há seis dias, há seis meses… São passados seis anos, passar-se-ão seis séculos… Ah! Morrer para fazer parar o Tempo…[…]/ Falo-te em surdina porque só quando falamos em voz baixa escutamos a nós mesmos./ Toda vez que uma dor vinha até mim eu me apressava em sorrir-lhe para que ela me sorrisse em retribuição./ A ambição é apenas um logro. A sabedoria enganou-se. E o próprio vício mentiu. Não existe nem virtude, nem piedade, nem amor, nem pudor, nem os seus contrários, mas apenas uma concha vazia dançando no alto de uma alegria que é também a Dor, um clarão de beleza na tempestade das formas./ O amor é um castigo. Somos punidos por não termos podido permanecer sós…/ Pois, se o Tempo é o sangue dos vivos, a Eternidade deve ser o sangue das trevas./Criatura magnética, demasiado etérea para o solo, muito carnal para o céu, seus pés besuntados de cera romperam o pacto que nos une à terra./ Safo mergulha, tendo os braços abertos como para abraçar a metade do infinito./ Só se pode construir a felicidade sobre alicerces de desespero. Creio que vou poder começar a construir
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Marguerite Yourcenar (Fires)
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O único aspecto que varia nesta perspectiva são as mãos, todas estas mãos, claras, agitadas, ou expectantes ao redor da mesa verde; parecem estar à espreita, à entrada do antro sempre diferente de uma jogada, mas assemelhando-se a uma fera prestes a saltar, tendo cada uma a sua forma e a sua cor, umas despidas, outras munidas de anéis e pulseiras tilintantes; umas peludas como se de animais selvagens, outras flexíveis e luzidias como enguias, mas todas nervosas e vibrantes de uma imensa impaciência. (...)Mas, precisamente porque toda a sua atenção se concentra em exclusivo neste esforço de dissimulação do que existe de notório na sua pessoa, esquecem as mãos, esquecem que há pessoas que observam unicamente estas mãos e que, através delas, conseguem adivinhar tudo aquilo que tanto se esforçam por ocultar, de sorriso nos lábios e falsa expressões de indiferença. A mão, essa trai sem pudor o que eles têm de mais secreto. Pois há-de surgir, forçosamente, um momento em que todos aqueles dedos , a custo contidos e parecendo dormir, deixam o seu indolente abandono: no segundo decisivo em que a bola da roleta cai no seu alvéolo e em que é gritado o número vencedor, então, nesse segundo, cada uma destas cem ou cento e cinquenta mãos esboça involuntariamente um movimento muito pessoal, muito individual, imposto pelo instinto primitivo. E quando se está habituada, como eu, a observar este tipo de arena das mãos, há muito iniciada graças a esta fantasia do meu marido, acha-se muito mais apaixonante do que o teatro ou a música esta forma brusca, incessantemente diferente , incessantemente imprevista, em que os temperamentos, sempre novos, se desmascaram; não posso descrever-lhe em pormenor os milhares de atitudes que revelam as mãos durante um jogo: umas, animais selvagens de dedos peludos e recurvados que agarram o dinheiro à guisa de uma aranha; outras, nervosas, trémulas, de unhas pálidas, mal ousando tocar-lo; outras ainda, nobres ou plebeias, brutais ou tímidas, astuciosas ou quase balbuciantes; mas cada uma tem a sua maneira de ser muito particular, pois cada um destes pares de mãos exprime uma via diferente, exceptuando as dos quatro ou cinco croupiers.
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Stefan Zweig (Vingt-quatre heures de la vie d'une femme)
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Além disso, ele reconhecia que a caridade era a melhor instituição do Estado. Quanto ao pauperismo, tinha-o como uma fatalidade social: fossem quais fossem as reformas sociais, dizia, haveria sempre pobres e ricos: a fortuna pública deveria estar naturalmente toda nas mãos de uma classe, da classe ilustrada, educada, bem nascida. Só deste modo se podem manter os Estados, formar as grandes indústrias, ter uma classe dirigente forte, por possuir o ouro e base da ordem social.
Isto fazia necessariamente que parte da população "tiritasse de frio e rabiasse de fome". Era certamente lamentável, e ele, com o seu grande e vasto coração que palpitava a todo o sofrimento, lamentava-o. Mas a essa classe devia ser dada a esmola com método e discernimento: - e ao Estado pertencia organizar a esmola.
Porque o Conde censurava muito a caridade privada, sentimental, toda de espontaneidade. A caridade devia ser disciplinada, e, por amor dos desprotegidos regulamentada: por isso queria o Asilo, o Recolhimento dos Desvalidos, onde os pobres, tendo provado com bons documentos a sua miséria, tendo atestado bons atestados de moralidade, recebessem do Estado, sob a superintendência de homens práticos e despidos de vãs piedades, um tecto contra a chuva e um caldo contra a fome.
O pobre devia viver ali, separado, isolado da sociedade, e não ser admitido a vir perturbar com a expressão da sua face magra e com narração exagerada das suas necessidades, as ruas da cidade. "Isole-se o Pobre!" dizia ele um dia na Câmara dos Deputados, sintetizando o seu magnifico projecto para a criação dos Recolhimentos do Trabalho.
O Estado forneceria grandes casarões, com celas providas de uma enxerga, onde seriam acolhidos os miseráveis. Para conseguir a admissão, deveriam provar serem maiores de idade, haverem cumprido os seus deveres religiosos, não terem sido condenados pelos tribunais (isto para evitar que operários de ideias suversivas que, pela greve e pelo deboche, tramam a destruição do Estado, viessem em dia de miséria, pedir a esse mesmo Estado que os recolhesse).
Deveriam ainda provar a sobriedade dos seus costumes, nunca terem vivido amancebados nem possuírem o hábito de praguejar e blafesmar. Reconhecidas estas qualidades elevadas com documentos dos párocos, dos regedores, etc.; seria dada a cada miserável uma cela e uma ração de caldo igual à que têm os presos.
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Eça de Queirós (O Conde d'Abranhos / A Catástrofe)
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As dimensões do universo medieval não são tão facilmente percebidas, ainda hoje, quanto a sua estrutura; em meu próprio tempo de vida, um cientista distinto ajudou a disseminar um erro. 14 O leitor deste livro já deve estar sabendo que a Terra era, a julgar por padrões cósmicos, um pontinho - de nenhuma magnitude significativa. E como o Somnium Scipionis nos ensinou, as estrelas eram maiores do que ela. Isidoro já sabia no século VI que o Sol é maior, e a Lua, menor do que a Terra. (Etymologies, III, xlvii-xl- viii); Maimônides,15 no século XII, sustenta que cada estrela é noventa vezes maior; Roger Bacon, no século XIII, declara que a menor estrela é "maior" do que ela. 16 Quanto às estimativas da distância, contamos com a sorte de ter o testemunho de uma obra completamente popular, Lendas do Sul da Inglaterra, uma prova melhor do que qualquer produção pesquisada, em favor do Modelo, como ele existia no imaginário de pessoas comuns. Diz-se ali que se um homem fosse capaz de viajar para o alto, numa velocidade de quarenta milhas17 e um pouco mais por dia, ele ainda assim não conseguiria alcançar o Stellatum ("o mais alto céu que jamais se viu") em oito mil anos. 18 Esses fatos são em si curiosidades de interesse medíocre. Eles se tornam acessíveis, apenas à medida que nos permitem penetrar mais fundo na consciência dos nossos ancestrais, dando-nos conta de como um universo assim deve ter afetado aqueles que acreditavam nele. A receita para tal compreensão não é o estudo de livros. Você terá de sair numa noite estrelada e caminhar por aproximadamente meia hora, tentando examinar o céu em termos da velha cosmologia. Lembre-se de que agora você tem um "para cima" e um "para baixo" absolutos. A Terra é, de fato, o centro, o lugar mais baixo; o movimento para chegar a ela, de qualquer direção que seja, é um movimento para baixo. Como homem moderno, você localizava as estrelas a uma grande distância. Agora terá de substituir essa distância por um tipo de distância muito especial e muito menos abstrata chamada altura; Os Céus 1 103 que fala imediatamente aos nossos músculos e nervos. O Modelo Medieval é vertiginoso. E o fato de que a altura das estrelas na astronomia medieval é muito pequena comparada às distâncias modernas acabará se manifestando como não tendo o tipo de importância que você supunha. Para o pensamento e a imaginação, dez milhões de milhas e um bilhão são a mesma coisa. Ambas podem ser concebidas (isto é, podemos fazer contas com ambas) e nenhuma delas pode ser imaginada; e quanto mais imaginação tivermos, melhor deveríamos saber disso. A diferença realmente importante é que o universo medieval, ao mesmo tempo que era inimaginavelmente grande, também era indubitavelmente finito. E um resultado inesperado disso foi o de fazer com que a pequenez da Terra fosse sentida com mais vivacidade. Em nosso Universo ela é pequena, sem dúvida; mas as galáxias e tudo o mais também são - e daí? Mas para eles havia um padrão finito de comparação. A esfera celeste mais alta, o maggior corpo de Dante, era tão simples e finalmente o maior objeto existente. A palavra "pequeno" aplicada à Terra assume, então, uma significância bem mais absoluta. Repito, pelo fato de o universo medieval ser finito, ele adquire uma forma, a forma perfeitamente esférica, que contém em si uma diversidade ordenada. Consequentemente, olhar para fora numa noite escura com olhos modernos é como olhar para o mar, que vai minguando num dia de nevoeiro; ou olhar para uma floresta virgem - infindáveis árvores sem nenhum horizonte. Vislumbrar o universo medieval altaneiro é mais como visualizar um prédio bem alto. O "espaço" da astronomia moderna pode infligir terror, espanto ou um vago devaneio; as esferas celestes dos medievais nos apresentam um objeto no qual a mente pode repousar, impressionando por sua grandeza, mas satisfazendo por sua harmonia. Esse é o sentido pelo qual o nosso universo é romântico, e o deles era clássico.
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C.S. Lewis (The Discarded Image: An Introduction to Medieval and Renaissance Literature)
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(...)- Então, quer dizer que, mesmo tendo o poder de interferir e evitar que seu filho
sentisse dor, você optaria por demonstrar seu amor deixando-o aprender suas
próprias lições?
- Claro, a dor é parte do crescimento. É como aprendemos.
O camerlengo sacudiu a cabeça.
- Exatamente."
Cap. 89
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Dan Brown (Angels & Demons (Robert Langdon, #1))
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...Nessa amedrontadora etapa da história, enquanto se acumulam ruínas espirituais e materiais, essas providenciais iniciativas de caridade, que talvez poderiam parecer suficientes às necessidades comuns de outros tempos, tornaram-se, infelizmente, inadequadas. Vislumbramos, veneráveis irmãos, intermináveis multidões de crianças, que, gemendo e quase exaustas de fome, com suas mãozinhas pedem pão "não tendo ninguém que o reparta" (cf. Lm 4, 4); que, privadas de casa e de roupa, congeladas pelo frio do inverno, estão prestes a morrer, não tendo a mãe ou o pai que as cubra e as aqueça; que, enfim, doentes e talvez também atingidas pela tuberculose, falta o remédio adequado e os necessário cuidados. Trata-se de multidões, que com dor vemos perambulando pelas ruas barulhentas da cidade, impelidas pelo ócio e pela corrupção, ou vadiando incertas pelas cidades, vilas e campos, enquanto, infelizmente, ninguém lhes concede segura protecção contra a miséria, os vícios e os delitos. É por isso, veneráveis irmãos, que amando com "o mesmo amor de Cristo" (Fl 1, 8) esses nossos pequeninos filhos, dirigimos um caloroso apelo a vós e a quantos estão animados de nobres sentimentos de misericórdia e de piedade, para que todo tipo de esforço e iniciativa de caridade cristã seja dedicado com generosos entendimentos e propósitos para alívio e conforto de tantos. Nada se transcure daquilo que os nossos tempos sugerem; e se excogitem também novos sistemas e métodos, onde se possa, com o concurso de todos os bons, levar oportunos remédios aos males presentes, impedindo para o futuro deletérias consequências. Queira Deus, com a ajuda de sua graça, que quanto antes os vícios que arrastam tantas crianças abandonadas sejam extintos, sendo substituídos pela virtude, de modo que o ócio vão e a triste inércia dêem lugar ao honrado e alegre trabalho, e que a fome e a nudez de muitos obtenha o necessário socorro da divina caridade de Cristo, que especialmente nos nossos tempos deve reviver, crescer e flamejar nos seus sequazes. Tudo isso não só é de grande vantagem para a religião católica, mas também para a sociedade civil; já que, como todos sabem, os cárceres e as casas de recuperação não estariam tão repletos de criminosos, se os métodos e as medidas preventivas fossem aplicados oportunamente e em maior escala no que se refere à juventude; e se a infância crescesse sadia, íntegra e operosa por toda parte, mais facilmente haveria cidadãos credenciados com as maiores qualidades morais e físicas. Em uma palavra, de probidade e de firmeza.
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Pope Pius XII
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Tu, Rússia, és como o cavalo! Dois cascos dianteiros projetados para a escuridão, pasa o zazio; e os dois cascos traseiros cravados firmemente no solo de granito.
Queres tu também te separar da pedra que te segura, da mesma maneira que alguns dos teus filhos loucos que se apartaram do torrão pátrio - queres tu também te separar da pedra que te sustenta e ficar suspensa no ar, sem rédeas, para precipitar-te depois no caos das águas? Ou talvez queira lançar-te, rompendo as neblinas, através do espaço, para desaparecer, juntamente com os teus filhos, nas nuvens? Ou, empinada, puseste-te a meditar por muitos anos, oh, Rússia, diante do terrível destino que aqui te lançou - no meio deste norte soturno, onde até o ocaso leva muitas horas, onde o próprio tempo se lança, ora na noite gelada, ora - no resplendor do dia? Ou, temerosa do salto, baixarás novamente os cascos para levar, bufando, o enorme Cavaleiro das terras ilusórias para o fundo dos espaços planos?
Que assim não seja!...
Tendo uma vez se empinado e medido o espaço com o olhar, não baixará mais os cascos: o salto sobre a história: haverá; haverá uma grande agitação, rachar-se-á a terra; abalados pelo grande temor, irão ruir os próprios montes e as planícies queridas virarão um mar de corcovas. Nijni Nóvgorod, Vladímir e Uglitch ficarão sobre as corcovas.
Mas Petersburgo afundará.
Nesses dias todos os povos da terra irão arremeter-se de seus lugares; haverá uma grande batalha, - uma batalha inédita no mundo: hostes amarelas de asiáticos deixarão os locais tradicionais de sua habitação para manchar os campos da Europa com oceanos de sangue; haverá, haverá - Sushima! Haverá - uma nova Kalka!...
Campo de Kulikovo, à tua espera estou!
E neste dia o último sol resplandecerá sobre a minha terra pátria. Se, oh, Sol, se tu não nasceres, então, oh, Sol, as costas européias irão afundar sob o pesado calcanhar mongólico, e sobre essas costas irá encrespar-se a espuma; criaturas nascidas na Terra descerão novamente para o fundo dos oceanos - para o caos, progênito a muito tempo esquecido...
Nasce, oh, Sol!
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Andrei Bely (Petersburg)
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está claro que a reivindicação de um crente às bênçãos da nova aliança está na legitimidade da descendência de Abraão e em virtude das promessas dadas a ele no que diz respeito a tal semente, e não como tendo igual importância, posição ou grau que [o próprio Abraão]. Os crentes não são feitos, por esta aliança, pais de uma descendência bendita como Abraão foi o pai dos fiéis. Eles não podem reivindicar para si mesmos a promessa e sua semente como que segundo a substância [ou natureza] da aliança de Abraão.
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Nehemiah Coxe (Um Discurso Acerca Das Alianças Que Deus Fez Com O Homem Antes Da Lei (Portuguese Edition))
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Isto é pra quando você vier e sentir o temor de continuar procurando, mesmo já tendo ido longe demais. Ele deve ter lhe falado dos portos que visitou, do que viu pelo mundo, sempre um pouco mais além numa busca sem fim e circular; e do que trouxe para casa, não os objetos que passaram a assombrar a mãe depois da sua morte, mas o que lhe marcou os olhos para sempre, deixando-lhe aquela expressão que ele tentava disfarçar em vão e que eu apreendi quando chegou a Carolina na distração do seu cansaço, os olhos que traziam o que ele tinha visto pelo mundo, a morte de um ladrão a chibatadas numa cidade da Arábia, o terror de um menino operado pelo próprio pai, a entrega dos que lhe pediam que os levasse com ele, para onde quer que fosse, como se dele esperassem a salvação. Ele me disse que ninguém pode imaginar a tristeza e o horror de ser tomado como salvação por quem prefere se entregar sem defesas ao primeiro que aparece, quem sabe um predador, a ter que continuar onde está. E eu imaginei. Ao contrário de você, a única coisa que ainda me pergunto é sobre o momento em que ele entendeu que estava perdido, quando passou a sentir que alguém pudesse ver nele a salvação, o momento em que entendeu que tudo podia ser ainda muito pior e que havia gente abaixo dele na sua escala de aviltamento. Porque talvez tenha sido esse o instante em que ele decidiu que desceria também, sempre um pouco mais, nem que fosse para lhes dar a mão. E quando precisou que eu lhe estendesse a minha, já não estava ao meu alcance. Penso em como são formadas as personalidades peculiares. Se são como as outras, se são como nós. O que pode ter passado um homem na infância para trazer uma cicatriz daquelas na barriga? Que espécie de sofrimento o pôs em sintonia com um mundo pior que o seu?
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Bernardo Carvalho (Nine Nights)
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A primeira vantagem da Universidade, como instituição social, é a separação que se forma naturalmente entre estudantes e futricas, entre os que vivem de revolver ideias ou teorias e aqueles que vivem do trabalho. Assim, o estudante fica para sempre penetrado desta grande ideia social: que há duas classes — uma que sabe, outra que produz. A primeira, naturalmente, sendo o cérebro, governa; a segunda, sendo a mão, opera, e veste, calça, nutre e paga à primeira. Dois mundos — como diz o nosso poeta Gavião — que se não podem confundir e que, vivendo à parte, com fins diferentes, caminham paralelamente na civilização, um com o título egrégio de Bacharel, outro com o nome emblemático de Futrica. Bacharéis são os políticos, os oradores, os poetas, e, por adopção tácita, os capitalistas, os banqueiros, os altos negociadores. Futricas são os carpinteiros, os trolhas, os cigarreiros, os alfaiates… O Bacharel, tendo consciência da sua superioridade intelectual, da autoridade que ela lhe confere, dispõe do mundo; ao Futrica resta produzir, pagar para que o Bacharel possa viver, e rezar ao Ser Divino para que proteja o Bacharel.
O Bacharel, sendo o Espírito, deve impedir que o Futrica, que é apenas a matéria, aspire a viver como ele, a pensar como ele, e, sobretudo, a governar como ele. Deve mantê-lo portanto no seu trabalho subalterno, que é o seu destino providencial. E isto porque um sabe e o outro ignora.
Esta ideia de divisão em duas classes é salutar, porque assim, educados nela, os que saem da Universidade não correm o perigo de serem contaminados pela ideia contrária—ideia absurda, ateia, destruidora da harmonia universal — de que o futrica pode saber tanto como sabe o bacharel. Não, não pode: logo as inteligências são desiguais, e assim fica destruído esse princípio pernicioso da igualdade das inteligências, base funesta de um socialismo perverso.
Outra vantagem da Universidade é a organização dos seus estudos. O estudante ganha o hábito salutar de aceitar sem discussão e com obediência as ideias preconcebidas, os princípios adoptados, os dogmas provados, as instituições reconhecidas. Perde a funesta tendência — que tanto mal produz — de querer indagar a razão das coisas, examinar a verdade dos factos; perde, enfim, o hábito deplorável de exercer o livre-exame, que não serve senão para ir fazer um processo científico a venerandas instituições, que são a base da sociedade. O livre-exame é o princípio da revolução. A ordem o que é? — A aceitação das ideias adoptadas. Se se acostuma a mocidade a não receber nenhuma ideia
dos seus mestres sem verificar se é exacta, corre-se o perigo de a ver, mais tarde, não aceitar nenhuma instituição do seu país sem se certificar se é justa. Teríamos então o espírito da revolução que termina nas catástrofes sociais!
Conde de Abranhos
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Eça de Queirós (O Conde d'Abranhos / A Catástrofe)
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Muita gente começa seu dia tendo dez ou vinte tarefas para esse dia. No fim do horário de trabalho, só conseguiram fazer metade dos itens e sentem o peso do fracasso. Essas pessoas estão criando um jogo que não têm como vencer.
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Michael Hyatt (Este é o melhor ano da sua vida: Cinco Passos para Alcançar os seus mais Importantes Objetivos (Portuguese Edition))
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Todo aquele que, movendo-se no finito, torna-se consciente da existência de algo Infinito, deve formar uma concepção da relação que existe entre ambos. Aqui duas possibilidades se apresentam. Ou o Infinito se revela ao homem, e por meio dessa revelação desvela a relação realmente existente; ou o Infinito permanece mudo e silencioso, tendo o próprio homem que adivinhar, conjecturar e representar para si mesmo essa relação mediante sua imaginação; isto é, de uma maneira artificial. A primeira possibilidade é a posição cristã. Havendo o Infinito, outrora, falado, muitas vezes e de muitas maneiras, nos tempos passados, pelos profetas, nestes últimos dias, nos falou pelo Filho – sendo este Filho não um mistério silencioso, mas a Palavra eterna, criadora e expressiva. O paganismo, pelo contrário, sendo destituído da revelação, anseia pelo símbolo, criando assim seus ídolos, “que têm boca, mas não falam; têm ouvidos, mas não ouvem”. O símbolo é um elo fictício entre o Infinito invisível e o finito visível.
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Abraham Kuyper (Em toda a extensão do cosmos: textos selecionados de Abraham Kuyper)
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Baada ya kuomba, tendo ambalo unapaswa kulifanya kila siku, endelea kuomba kwa kushukuru na kumsifu Mungu hadi jibu lako litakapofika. Kwani, ulivyoomba mara ya kwanza Mungu alikusikia na alikujibu papo hapo!
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Enock Maregesi
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Quaresma vivia assim, sentindo que a campanha que lhe tinham movido, embora tendo deixado de ser pública, lavrava ocultamente. Havia no seu espírito e no seu caráter uma vontade de acabá-la de vez, mas como? Se não o acusavam, se não articulavam nada contra ele diretamente? Era um combate com sombras, com aparências, que seria ridículo aceitar.
De resto, a situação geral que o cercava, aquela miséria da população campestre que nunca suspeitara, aquele abandono de terras à improdutividade, encamonhavam sua alma de patriota meditativo a preocupações angustiosas.
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Lima Barreto (O Triste Fim de Policarpo Quaresma)
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when producer Jim Whitaker approached the studio with his interest in A Wrinkle in Time, executive Tendo Nagenda knew the perfect partner for him: Catherine Hand.
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Walt Disney Company (The World of A Wrinkle in Time: The Making of the Movie)
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Alcuni direbbero che Jacob è un fisico, altri potrebbero definirlo un filosofo, o semplicemente un «esperto del tempo», io invece tendo a considerarlo in termini meno reverenziali. Non di odio, però. Ilan chiamava Jacob «mio cugino della Svevia Esteriore». Quella battutina criptica, che gli avevo sentito fare spesso, probabilmente senza che si accorgesse di quante volte l’aveva già ripetuta, mi aveva sempre dato la sensazione di implicare una vaga parentela tra loro. Dovevo avere l’impressione (all’epoca) che Jacob e Ilan fossero lontani cugini di un qualche tipo. In seguito però arrivai a pensare, a momenti, almeno, che in realtà si trattasse al tempo stesso di un depistaggio e di una specie di indizio che alludeva a un segreto enorme, un segreto che non avrebbero mai condiviso con me. Non il solito segretuccio personale, come una tresca o un reato di poco conto o, che so, un testicolo in meno: no, un segreto di natura scientifica, quel raro tipo di segreto che ancora oggi, nella nostra epoca, riesce a farci inchinare al cospetto di qualcuno.
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Rivka Galchen (American Innovations)
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Tendo tamanho territorial e populacional similares aos do Brasil, com história colonial e escravista também semelhante, os Estados Unidos foram e continuam sendo o êmulo de todo brasileiro à procura de um modelo. Como
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Jessé Souza (A Tolice da Inteligência Brasileira)
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Pode ser que role de novo
Coisas inacabadas nas relações humanas atraem as pessoas na direção uma da outra
Entre os milhares de fotos feitas no dia 8 de março, durante as passeatas do Dia da Mulher, uma atraiu minha atenção por um motivo particular. Nela aparecia, com um seio de fora e um cartaz de protesto, uma mulher por quem eu estive apaixonado. Ela saiu da minha vida depois de dois encontros, com uma breve mensagem de WhatsApp na qual pedia que eu não mais lhe escrevesse. Estranhei, mas fiz como ela pedia – e tratei de pôr de lado o sentimento que começava. Depois de um tempo, deixei de pensar no assunto. Até que veio o 9 de março.
Naquele dia, vendo as imagens dela, olhando aquela mistura de beleza e radicalismo, senti um aperto no coração. E se aquela criatura de pele morena fosse, de alguma forma, o próximo amor da minha vida? E se o destino, com seu jeito estranho de fazer as coisas, a estivesse colocando de novo na minha frente, como havia feito um ano atrás, durante uma festa da qual eu já me preparava para sair?
Antes de prosseguir com a narrativa, um aviso: eu não acredito em destino. Não acho, de forma alguma, que as coisas estão fadadas a acontecer e que uma força nos carrega, inexoravelmente, para os braços de alguém ou para algum desfecho predeterminado. Nada disso. Sou um cara racional que acredita na sorte, no azar, nos acidentes e nas coincidências. Se eu não decidisse ir embora da tal festa, não cruzaria com a moça no meio da pista, me espiando com olhos de jabuticaba. Se eu não estivesse olhando as fotos das passeatas do dia 8, não veria de novo aquele sorriso familiar. As coisas acontecem para quem está vivo, e isso é tudo o que podemos dizer ou prever. Tenho certeza de que Vênus retrógrado não me atinge.
Tendo esclarecido isso, devo confessar que sofro de convicções estranhas. Uma delas é que encontrarei certas pessoas novamente. Quando garoto, eu via uma menina bonita passando na rua e pensava: “Não preciso me esforçar para falar com ela. Se for para acontecer, a gente vai se ver de novo”. No bairro da Penha, nos anos 1970, numa São Paulo com apenas 6 milhões de habitantes, era fácil reencontrar estranhos. Vira e mexe eu esbarrava nas garotas que atraíam a minha atenção. Agora, ficou mais difícil, mas ainda acontece – numa foto de internet, por exemplo, um dia depois de uma marcha que reuniu milhares de mulheres.
O que eu queria dizer, na verdade, é que às vezes as coisas ficam inacabadas nas relações humanas, e que essas pendências emocionais, por tênues que sejam, atraem as pessoas na direção uma da outra.
Se você tem um encontro afetivo com alguém e ele termina de forma abrupta, é possível que a outra pessoa sinta o mesmo hiato. Não é magia e nem destino, é sensibilidade humana. A gente não vive bem com a sensação do que poderia ter sido. Nosso coração requer narrativas completas. Se a história continua aberta para os dois, pode ser que um dia role de novo. Se apenas um lado sente isso e outro não sente nada, então é só mais um desencontro.
Existem encontros passageiros. Há desencontros notáveis, igualmente efêmeros. Certos eventos são como estrelas cadentes: a gente pisca e ele se esvai, brilhando apenas na memória. Por isso, quando as histórias não fecham, a gente trata de encerrá-las dentro de nós. Pode ser que um dia role, mas não é bom contar com isso. Quando as coisas não devem ser, não são – e isso, acreditem, nada tem a ver com os astros.
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Ivan Martins
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Wanasayansi wanaamini kuwa Yesu atarudi tarehe 29 Julai 2016. Tarehe hiyo kitu kikubwa sana kitatokea katika dunia yetu kitakachosababisha tetemeko kubwa la ardhi, litakalosababishwa na kubadilika kwa ncha za dunia, tendo litakalosababisha mionzi ya gama kutoka kwenye jua ifike duniani na kuua kila kitu kinachoonekana katika uso wa dunia hii. Watakatifu watafufuka na kumlaki Kristo mawinguni, ambaye anakuja kuwachukua wateule na kumweka Shetani kifungoni kwa miaka 1000. Hayo yote, wanasema, yatatokea ndani ya siku 11 kuanzia leo. Yaani, kusini mwa dunia kutakuwa kaskazini mwa dunia, kaskazini mwa dunia kutakuwa kusini mwa dunia.
Kitendo hicho kitafanya dunia ikose kinga ya sumaku iitwayo ‘magnetosphere’ ambayo hukinga dunia dhidi ya mionzi ya gama kutoka kwenye jua. Mionzi hiyo hugonga ukuta wa ‘magnetosphere’ kila baada ya dakika 8 kwa mwendokasi wa kilometa milioni 1080 kwa saa; na kusambazwa katika ncha za dunia ambapo aghalabu huchanganyikana na oksijeni na kutengeneza kitu kinaitwa ‘aurora’, au mwanga wa ncha, ambacho ni maajabu mengine ya angani. Mwaka 2012 wanasayansi walisema ncha za dunia zingebadilika lakini hazikubadilika. Je, muda umefika sasa wa kuwaamini wanasayansi? Biblia ni chuo cha Mungu. Soma Biblia kupata maarifa.
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Enock Maregesi
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Era como se, tendo confiado a alguém a importância de uma dívida para levá-la ao credor, o portador guardasse o dinheiro consigo e não levasse nada. Na vida comum, o ato de terceiro não desobriga o contratante; mas a vantagem de contratar com o Céu é que intenção vale dinheiro.
Hás de ter tido conflitos parecidos com esse, e, se és religioso, haverás buscado alguma vez conciliar o Céu e a Terra, por modo idêntico ou análogo. O Céu e a Terra acabam conciliando-se; eles são quase irmãos gêmeos, tendo o Céu sido feito no segundo dia e a Terra no terceiro.
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Machado de Assis (Dom Casmurro)
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Coitadinhos ou coitadinhas não devem ir a campo de batalha. Só atrapalham. Alguém gostaria de ter um samurai chorando no meio da batalha? Tendo crise de nervos? Com depressão? Ou precisando de um cafuné? Sendo tão inofensivo que não suporte um comando enérgico ou uma advertência verbal? Este não é um guerreiro. É uma flor. Deve estar num vaso e servir de ornamento para ninguém tocar. Não resiste a mais leve brisa da manhã.
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Jorge Kishikawa (ShinHagakure - Pensamentos de um Samurai Moderno - 3ª Edição Volume 1)
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Poema - Gênesis 4:11-12
Me coloquem em uma camisa de força
e me tranquem nos cárceres privados
da minha própria mente
Dancem como macacos
enquanto os deuses mutilam seus próprios filhos
Matem uns aos outros
em nome de ideologias que os condenam
Agora apontem os seus dedos para mim e gritem
- Prendam-no em camisas de força
este homem que não merece o amor dos deuses
E quem os merece?
Ah...
se ousaste a pensar sobre os deuses
não falarias em nome do amor
Que tipo de pai deixaria os seus filhos
rastejando entre ratos e baratas
tendo a morte como a sua última esperança?
E não me venham gritar em meus ouvidos surdos
- Tu não conheces os deuses!
Matei o meu próprio irmão
para provocar a ira de Deus
Dancei com Cristo músicas de amor e luxuria
deitei-me com os Anjos ao lado de Maria
quando Deus concebeu a ela o símbolo da mentira
Caminhei pelo inferno com os pés descalços
e durante milênios eu não sabia o meu próprio nome
Eu vi Sócrates chorar em seus momentos de duvida
incentivei Pilatos a matar o traste na cruz!
E mesmo após me banhar em pecados e luxuria
Deus havia me perdoado
castigando-me com a vida que eu nunca almejei
Quantas vezes você não olhou no espelho
e clamou de joelhos para que a morte
não o salvaste deste tormento?
Quantas vezes você não sentiu tanta dor
que o desejo de morrer
era o único sentimento puro em seu coração?
E ao caminhar pela rua
sentia não pertencer a essa espécie
Buscou em mil livros a resposta para as suas angustia
e ainda assim
chorou em silencio sem que alguém pudesse compreende-lo
Sinto-me assim todos os dias!
o meu nome é Caim!
e a minha maldição é viver!
Clamo a ti
Oh Deus
Me coloque em uma camisa de força
E me tranque nos cárceres privados
Da minha própria mente !
Pois não há nenhum homem neste mundo
capaz de cessar as minhas dores
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Gerson De Rodrigues
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Tendo apenas a luz da lua como fonte de iluminação, Erika deixou que cada palavra fizesse morada em sua mente, digerindo cada pedaço daquilo que estava lendo
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Victoria Guimarães (De Malas Prontas)
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Já estava acostumado aos amputados, às vitimas do agente laranja, aos famintos, pobres, garotos de rua de seis anos de idade que você encontra às três da madrugada gritando "Feliz ano novo! Olá! Bye-Bye!" em inglês, e depois aponta para suas bocas e faz "bum bum?". Estou ficando quase indiferente aos garotos famintos, sem pernas, sem braços, cobertos de cicatrizes, desesperançados, dormindo no chão, em triciclos, na beirada do rio. Mas não estava preparado para o homem sem camisa, com um corte de cabelo a la forma de pudim, que me detém na saída do mercado, estendendo a mão. No passado ele sofreu queimaduras e tornou-se uma figura humana quase irreconhecível, a pele transformada numa imensa cicatriz sob a coroa de cabelos pretos. Da cintura para cima (e sabe Deus até onde), a pele é uma cicatriz só; ele não tem lábios, nem nariz, nem sobrancelha. Suas orelhas são como betume, como se tivesse mergulhado e moldado num alto-forno, sendo retirado pouco antes de derreter por completo. Mexe seus dentes como uma abóbora de Halloween, mas não emite um único som através do que foi um dia, uma boca. Sinto um murro no estômago. Minha animação exuberante dos dias e horas anteriores desmorona. Fico paralisado, piscando e pensando na palavra napalm, que oprime cada batida do meu coração. De repente nada mais é divertido. Sinto vergonha. Como pude vir até esta cidade, até este país por razões tão fúteis, cheio de entusiasmo por algo tão...sem sentido, como sabores, texturas, culinária? A famíla daquele homem deve ter sido pulverizada, ele mesmo transformado num boneco desgraçado, como um modelo de cera de madame Tussaud, a pele escorrendo como vela pingando. O que estou fazendo aqui? Escrevendo um livro de merda? Sobre comida? Fazendo um programinha leve e inútil de tevê, um showzinho de bosta? A ficha caiu de uma vez e fiquei me desprezando, odiando o que faço e o fato de estar ali. Imobilizado, piscando nervosamente e suando frio, sinto que todo mundo na rua está me observando, que irradio culpa e desconforto, que qualquer passante vai associar os ferimentos daquele homem a mim e ao meu país. Dou uma espiada nos outros turistas ocidentais que vagueiam por ali com suas bermudas da Banana Republic e suas camisas pólo da Land´s End, suas confortáveis sandálias Weejun e Bierkenstock, e sinto um desejo irracional de assassiná-los. Parecem malignos, comedores de carniça. O Zippo com a inscrição pesa no meu bolso, deixou de ser engraçado, virou uma coisa tão pouco divertida quanto a cabeça encolhida de um amigo morto. Tudo o que comer terá gosto de cinzas daqui pra frente. Fodam-se os livros. Foda-se a televisão. Nem mesmo consigo dar algum dinheiro ao coitado. Tenho as mãos trêmulas, estou inutilizado, tomado pela paranoia, Volto correndo ao quarto refrigerado do New World Hotel, me enrosco na cama ainda desfeita, fico olhando para o teto com os olhos cheios de lágrimas, incapaz de digerir ou entender o que presenciei e impotente para fazer qualquer coisa a respeito. Não saio nem como nada pelas 24 horas seguintes. A equipe de tevê acha que estou tendo um colapso nervoso.
Saigon...Ainda em Saigon.
O que vim fazer no Vietnã?
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Anthony Bourdain (A Cook's Tour: Global Adventures in Extreme Cuisines)
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Tendo incorporado tudo que lhe era exterior tão completamente, como pode funcionar sem um exterior para colonizar ou do qual se apropriar? Para a maior parte das pessoas que com menos de 20 anos, na Europa e na América do Norte, a falta de alternativas ao capitalismo não é se nem sequer uma questão. Jameson costumava se referir, horrorizado, aos caminhos pelos quais o capitalismo se infiltrava no próprio inconsciente; agora, o fato de que o capitalismo terá colonizado até os sonhos da população é tão amplamente aceito que nem vale a pena comentar.
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Mark Fisher (Capitalist Realism: Is There No Alternative?)
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Quem sou eu? Um dos quatro filhos de um tenente-coronel na reserva, que ficou órfão aos sete anos de idade, tendo sido educado por mulheres e por estranhos e que, sem qualquer preparação mundana ou intelectual, se fez ao mundo por volta dos dezassete anos [...]. Sou feio, grosseiro, sujo e mal-educado, quando veio as coisas como o mundo as vê. Sou irascível, chato, intolerante e tímido como uma criança. Sou um labrego com todas as letras. O que sei aprendi-o sozinho, mal, aos solavancos, de modo descosido; e é bem pouco.
Sou imoderado, indeciso, inconstante, estupidamente vaidoso e expansivo como todos os fracos. Coragem é coisa que não tenho. A minha preguiça é tal que a ociosidade se tornou para mim uma exigência. Sou boa pessoa, entendendo por isso que gosto do bem, fico de mal comigo quando dele me afasto e é com agrado que volto atrás. Todavia, há em mim uma coisa que pode mais que o bem: a glória. Sou tão ambicioso que, a darem-me a escolher entre a glória e a virtude, receio bem que escolhesse a primeira. Modesto é que não sou, sem sombra de dúvida. Por isso me vêem com este ar de cão batido, por fora, mas se querem saber o que é o orgulho, olhem lá para dentro.
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Leo Tolstoy (What Is Art?)
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O general tinha visitado com antecedência os campos de batalha europeus junto com uma missão militar brasileira, estando a par das adversidades que os soldados brasileiros encontrariam pela frente, tendo voltado muito impressionado com o que viu na Europa (“Meu Deus! Esta é uma guerra de ricos!”, comentou ele ao presenciar uma preparação de artilharia).
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Cesar Campiani Maximiano (BARBUDOS, SUJOS E FATIGADOS)
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Embora guardas de alimentos sejam relativamente comuns entre animais, há apenas uma espécie em que fêmeas foram vistas provendo machos: um pequenino percevejo d'água australiano chamado Zeus. Os percevejos machos são menores que as fêmeas e montam nas costas de suas parceiras como jóqueis. As fêmeas secretam um material ceroso em suas costas e este é comido pelo macho, não tendo nenhuma finalidade exceto alimentá-lo. Machos impedidos de comer as secreções das fêmeas tornaram-se competitivos: roubam a presa fresca da fêmea. Os pesquisadores que descobriram esta estranha relação formularam a hipótese de que é mais vantajoso para as fêmeas alimentar os machos que as montam do que perder suas presas para eles, talvez porque o material ceroso contenha nutrientes de que elas não precisam. Esse sistema se desenvolveu aparentemente para impedir que os machos interferissem na alimentação das fêmeas. Em outras palavras, elas os alimentam para recompensá-los por se comportarem bem. Isso está próximo do sistema encontrado em humanos.
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Richard W. Wrangham (Catching Fire: How Cooking Made Us Human)
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O cozimento deu início a um compromisso dietético que atualmente move uma indústria. Os alimentos populares cozidos em fábricas gigantescas são muitas vezes desprezados, por serem supostamente desprovidos de micronutrientes, tendo excesso de gordura, sal e açúcar e muito poucos sabores interessantes, mas essas são as iguarias que evoluímos para desejar. O resultado é o excesso. Na virada do século XXI, 61% dos americanos estavam "com excesso de peso suficiente para começar a experimentar problemas de saúde como resultado direto".
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Richard W. Wrangham (Catching Fire: How Cooking Made Us Human)
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LóGICA é a ciência que estuda princípios e métodos de inferência, tendo o objetivo principal de determinar em que condições certas coisas se seguem (são consequência), ou não, de outras.
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Cezar A. Mortari (Introdução à lógica (Portuguese Edition))
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Quando um homem morre, ele se reintegra em sua respeitabilidade a mais autêntica, mesmo tendo cometido loucuras em sua vida. A morte apaga, com sua mão de ausência, as manchas do passado e a memória do morto fulge como diamante.
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Jorge Amado (The Two Deaths of Quincas Wateryell)
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Temo la solitudine, perchè tendo alla solitudine. Si ha sempre paura di ciò a cui si tende.
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Erika Silvestri (Il commerciante di bottoni)
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080-"O Pior da religião ocorre quando realmente se acredita nela. (jocax")
079-"O Nada não contém a regra 'Nada pode acontecer'.” (jocax)
078-"As leis não estão acima da ética.(jocax)".
077-"A Razão deve servir à Felicidade.(Jocax)"
076-"O Liberalismo econômico é uma doutrina que pretende entregar o galinheiro aos cuidados das raposas (jocax)".
075-"Nossos genes são nosso bem mais precioso" (jocax)
074-"A Religião é a 'Matrix' do sistema Capitalista. (Jocax)"
073-"Colocar a consciência numa entidade imaterial é o mesmo que colocar a origem da vida num cometa: Não resolve o problema, apenas empurra-o para um local ainda mais misterioso.(Jocax/2012)"
072-"Se formos omissos, presenciaremos nossos netos tendo criacionismo nas aulas de ciência. (jocax)"
071-"As leis não necessariamente foram feitas por pessoas melhores ou mais justas do que você." (jocax)
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jocax