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A violência palestiniana tem a força do desespero. Brota de «uma comunidade de dor e ressentimento», como escreveu Jean-Pierre Filiu, formada por décadas de uma ocupação impiedosa que transformou a Faixa de Gaza numa «prisão a céu aberto». Esta descrição, acrescenta, «estava, de facto, errada, uma vez que em qualquer cadeia não se supõe que os reclusos sejam atingidos a tiro ou bombardeados, excepto no caso de um verdadeiro motim. Em Gaza, os ataques israelitas, fossem “direccionados” ou não, continuaram a ser um acontecimento regular. Não se trata de idealizar a violência, mas de compreender as suas raízes. O Hamas é popular entre um grande número de palestinianos, é um facto. É sobretudo popular entre os jovens da Cisjordânia, onde não consegue fazer valer a sua influência através da coerção. É popular porque luta contra a ocupação. Criado em 1987 na sequência da Primeira Intifada como o braço político e militar da Irmandade Muçulmana, o maior dos movimentos islâmicos conversadores do Médio Oriente, o Hamas ganhou força depois do fracasso dos Acordos de Oslo. Em 2000, a Segunda Intifada deu-lhe um novo influxo de energia. Em 2006, o Hamas foi eleito para governar Gaza, substituindo a Autoridade Palestiniana amplamente desacreditada. Condenou o Holocausto e o anti-semitismo, declarando que a sua luta não é contra os Judeus, mas contra o Estado sionista. Em 2017, os seus novos estatutos abandonaram o plano de destruir Israel e adoptaram a ideia de um Estado palestiniano dentro das fronteiras de 1967, ou seja, a Cisjordânia, a Faixa de Gaza e Jerusalém Oriental. A resposta de Israel foi o massacre de Março de 2018 mencionado anteriormente. Enquanto o Hamas desenvolvia uma estratégia política para substituir a opção militar ineficiente, Israel fechou a porta a qualquer diálogo, Netanyahu declarou a sua oposição a um Estado palestiniano e o seu governo expandiu os colonatos na Cisjordânia, mudou a capital para Jerusalém e «congelou» Gaza. O 7 de Outubro foi a retaliação inevitável.
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