“
Este último capítulo é todo de negativas. Não alcancei a celebridade do emplasto, não fui ministro, não fui califa, não conheci o casamento. Verdade é que, ao lado dessas faltas, coube-me a boa fortuna de não comprar o pão com o suor do meu rosto. Mais; não padeci a morte de D. Plácida, nem a semidemência do Quincas Borba. Somadas umas coisas e outras, qualquer pessoa imaginará que não houve míngua nem sobra, e conseguintemente que saí quite com a vida. E imaginará mal; porque ao chegar a este outro lado do mistério, achei-me com um pequeno saldo, que é a derradeira negativa deste capítulo de negativas: — Não tive filhos, não transmiti a nenhuma criatura o legado da nossa miséria.
”
”
Machado de Assis (Memórias póstumas de Brás Cubas)
“
pra onde vão os trens, meu pai? para mahal, tamí, para camirí, espaços no mapa, e depois o pai ria: também pra lugar algum, meu filho, tu podes ir e ainda que se mova o trem, tu não te moves de ti.
”
”
Hilda Hilst (A Obscena Senhora D)
“
Ouve, meu filho, disse o demónio pondo-me a mão na cabeça...
”
”
Edgar Allan Poe
“
Eis os únicos barcos que temos para voltar a nossa pátria; eis nosso único meio de escapar de Minos. Ele, que fechou todas as outras saídas, não pode fechar o ar para nós; resta-nos o ar; fenda-o graças a minha invenção. Mas não é para a virgem de Tégia, nem para o companheiro de Boótes, que é preciso olhar, mas para Orião, armado com uma clava; é por mim que você deve orientar sua marcha com as asas que eu lhe darei; irei na frente para mostrar o caminho; preocupe-se somente em me seguir; guiado por mim você estará seguro, se através das camadas do éter, nós nos aproximarmos do sol, a cera não poderá suportar o calor; se, descendo, agitarmos as asas muito perto do mar, nossas plumas, batendo, serão molhadas pelas águas marinhas. Voe entre os dois. Preste atenção também nos ventos, meu filho; onde seu sopro o guiar, deixe-se levar em suas asas."
(Conselhos de Dédalo a Ícaro - em A Arte de Amar)
”
”
Ovid (The Art of Love)
“
-Você chora a morte de seu pai, Branford? - berrou novamente o pirata. - Eu choro a morte do meu! - e o pirata bateu forte duas vezes no peito. - Você sente pela morte de seus soldados? Eu sinto pela morte dos meus! Mas sabe qual é a nossa diferença, príncipe?
Eu sou filho de um pirata, e você é filho de um Rei.
”
”
Raphael Draccon (Caçadores de bruxas (Dragões de Éter, #1))
“
Fred Potter voltou-se para o filho e sorriu. Estás a ver?, disse. AS nossas vidas são como as coisas que fazemos. Damos-lhe forma, construímo-las e levamo-las ao forno. É assim, meu filho, somos moldados e levados ao lume. Mas um jarro não tem possibilidade de escolher se quer conter água, vinho ou ficar simplesmente vazio. Tu tens, filho. Tu tens.
”
”
Joanne Harris (Runemarks (Runemarks, #1))
“
O perdão não muda o passado, nunca se esqueça disso, meu filho. O passado é eterno.
”
”
Carla Madeira (Tudo é Rio)
“
Tive agora a noção do que é ser pobre, ao desejar ter fortuna para dar ao meu filho
”
”
Honoré de Balzac
“
Há uma piada italiana muito engraçada sobre um homem pobre que vai todos os dias à igreja rezar diante da estátua de um grande santo, implorando: «Querido santo, por favor, por favor, por favor... dá-me a graça de ganhar a lotaria.»
Este lamento continua durante meses. Por fim, a estátua exasperada ganha vida, olha para ele e diz com um ar fatigado: «Meu filho, por favor, por favor, por favor... compra um bilhete.»
”
”
Elizabeth Gilbert (Comer, Rezar, Amar)
“
Podes ver aqui, meu filho, a curta duração dos bens confiados à fortuna, pelos quais os humanos tanto se arrepelam; e que ouro todo que existe sob o céu ou que existiu não poderia dar a paz a uma só destas almas fatigadas. p.34
”
”
Dante Alighieri (A Divina Comédia - O Inferno)
“
Os homens nos fazem acreditar que precisamos desejar filhos ou morrer. Foi por isso que quando perdi meu primeiro filho eu quis a morte, porque não fora capaz de corresponder ao modelo esperado de mim pelos homens da minha vida, meu pai e meu marido, e agora tenho que incluir também meus filhos. Mas quem foi que escreveu a lei que nos proíbe de investir nossas esperanças em nossas filhas? Nós, mulheres, corroboramos essa lei mais que ninguém. Enquanto não mudarmos isso, este mundo continuará sendo um mundo de homens, mundo esse que as mulheres sempre ajudarão a construir.
”
”
Buchi Emecheta (The Joys of Motherhood)
“
A mãe teve reuniões com vários professores. (...) «Robert vive num mundo construído por ele. Eu sei que ele é meu filho, mas por vezes tenho a sensação de que ele veio não de mim e do meu marido, mas de algum outro lugar para onde tenta voltar. (...)»
”
”
Robert James Waller (The Bridges of Madison County)
“
A mãe teve reuniões com vãrios professores. (...) «Robert vive num mundo construído por ele. Eu sei que ele é meu filho, mas por vezes tenho a sensação de que ele veio não de mim e do meu marido, mas de algum outro lugar para onde tenta voltar (...)»".
”
”
Robert James Waller (The Bridges of Madison County)
“
A mãe teve reuniões com vários professores. (...) «Robert vive num mundo construído por ele, Eu sei que ele é meu filho, mas por vezes tenho a sensação de que ele veio não de mim e do meu marido, mas de algum outro lugar para onde tenta voltar. (...)».
”
”
Robert James Waller (The Bridges of Madison County)
“
Por onde andas, meu amor maior? Porque me tens aqui cativa neste lugar onde a culpa e os fantasmas me perseguem? Quero de novo sentar-me junto da Fonte Nova, ouvir as águas que nela correm cantando o nosso amor a uma só voz, esconder-me deste mundo horrível e carrasco que teima em ver-me como uma maldição, esquecer-me de tanta perfídia e de toda a maldade que nos cerca e ser tua mais uma vez; sentir os teus dedos pelo meu corpo ainda fresco, saborear a força dos teus pulsos guerreiros em volta da minha cintura que a maternidade não roubou, respirar o teu ar enquanto encostas a tua cara nos meus cabelos loiros que tanto amas, sentir-te todo dentro de mim como um caudal de paixão e de força que nunca se cansa nem morre, na esperança de me dares ainda mais filhos saudáveis como os que Deus nos enviou.
”
”
Margarida Rebelo Pinto
“
No dia de sua morte, minha avó entregou ao meu pai o relógio de bolso do senhor arcebispo, de ouro maciço, marca Ferrocarril de Antioquia, mas fabricado na Suíça, que conservo até hoje e que passará ao meu filho, como um testemunho e um estandarte (embora eu não saiba do quê), no dia em que eu morrer [60].
”
”
Héctor Abad Faciolince (El olvido que seremos)
“
Meu passado aumenta a cada dia.
”
”
Lourenço Mutarelli (O filho mais velho de Deus e/ou livro IV)
“
O caráter pessoal, meu bom senhor, é a coisa principal; a personalidade de um homem deve ser tão forte quanto uma pedra, já que tudo o mais é construído sobre ela.
”
”
Ivan Turgenev (Pais e Filhos (Coleção Duetos) (Portuguese Edition))
“
Nasci em Blunderstone, Suffolk, ou “por ali”, como dizem na Escócia. Fui filho póstumo. Os olhos de meu pai estavam fechados para a luz deste mundo havia seis meses quando os meus se abriram para ele.
”
”
Charles Dickens (David Copperfield)
“
-Dentro de cem anos ninguém que você conhece estará vivo. Então o que vai importar se lutamos ou simplesmente passamos os dias dormindo ao sol?
Zhenjin piscou para ele, incapaz de entender o humor estranho do pai.
-Se não importa, então por que vamos lutar contra seu irmão?
-Talvez eu não tenha dito direito. Quero dizer que não importa se mudamos o mundo. O mundo vai em frente, e novas vidas chegam e partem. O próprio Gêngis disse que seria esquecido, e, acredite, ele deixou uma sombra longa. O modo como vivemos importa, Zhenjin! Importa que usemos o que recebemos, durante apenas o breve tempo que temos ao sol. - Ele sorriu ao ver o filho lutando com a ideia. -É só isso o que se pode alegar, quando o fim chegar: "Não desperdicei meu tempo." Acho que isso importa. Acho que talvez só isso importe.
”
”
Conn Iggulden (Conqueror (Conqueror, #5))
“
Vivam pois e sejam felizes, filhos do meu coração, e nunca esqueçam que até ao dia em que Deus se dignar desvendar o futuro ao homem, toda a sabedoria humana residirá nestas palavras: Esperar e ter esperança.
”
”
Alexandre Dumas (The Count of Monte Cristo)
“
Eu transava com um idiota, merecia mais suspense, por que eu não cultivava amigas em vez de tomar cerveja com a empregada? Namorado em vez de amante, um filho que fosse meu. Mas eu teria que gostar dessas pessoas, esse elenco atual eu podia botar na rua sem dar satisfação.
”
”
Andréa del Fuego (A pediatra)
“
Mas nunca gostei de lavouras nem de cuidar da casa onde são criados ótimos filhos; de lanças polidas e de setas coisas terríveis, diante das quais outros homens ficam arrepiados, Mas um deus fê-las agradáveis ao meu espírito: homens diferentes se comprazem com diferentes trabalhos.
”
”
Homer (Odisséia III: Ítaca)
“
Como poderia ele interessar? Há um crime e nao ha remorsos. Eu teria feito ao contrario. Teria contado a historia do meu condenado. Filho de gente honesta. Uma boa educação. Amor. Crime. Um crime! E depois remorsos, remorsos. Mais as leis humanas são implacáveis. É preciso que ele morra!
”
”
Victor Hugo (Último día de un condenado a muerte (Spanish Edition))
“
Sim, é só isso', refletiu Dária Aleksandrovna, ao recordar sua vida naqueles quinze anos de casamento, 'gravidez, enjoo, pensamento embotado, indiferença a tudo e, principalmente, feitura. (...) O parto, o sofrimento, um sofrimento horrendo, aquele último minuto... (...)
'E tudo isso para quê? No que vai dar, tudo isso? Vai dar em que eu, sem ter um só minuto de tranquilidade, ora grávida, ora amamentndo, sempre irritada, rabugenta, um peso para mim mesma e um tormento para os outros, e também repulsiva para o meu marido, vou consumindo a minha vida e criando filhos infelizes, mal-educados e indigentes.
”
”
Leo Tolstoy (Anna Karenina)
“
CONSOLO NA PRAIA
Vamos, não chores…
A infância está perdida.
A mocidade está perdida.
Mas a vida não se perdeu.
O primeiro amor passou.
O segundo amor passou.
O terceiro amor passou.
Mas o coração continua.
Perdeste o melhor amigo.
Não tentaste qualquer viagem.
Não possuis casa, navio, terra.
Mas tens um cão.
Algumas palavras duras,
em voz mansa, te golpearam.
Nunca, nunca cicatrizam.
Mas, e o humour?
A injustiça não se resolve.
À sombra do mundo errado
murmuraste um protesto tímido.
Mas virão outros.
Tudo somado, devias
precipitar-te — de vez — nas águas.
Estás nu na areia, no vento…
Dorme, meu filho.
”
”
Carlos Drummond de Andrade (Daqui Estou Vendo o Amor)
“
Olha, dona”, interrompeu Salu antes que a mulher continuasse sua pregação, “eu não tenho muita letra nem estudo, mas quero que a senhora entenda uma coisa. Eu não sou a única a morar nesta terra. Muitos desses moradores que vocês querem mandar embora chegaram muito antes de vocês. Vocês não eram nem nascidos. Muitos nasceram aqui. Tenho filhos e netos, todos nasceram em Água Negra. Também não posso dizer o que cada um pensa dela, tim-tim por tim-tim, porque não estou nos pensamentos de ninguém. Mas falo por mim: eu nasci em Bom Jesus, mas também nasci de alguma forma nesta terra. Cheguei aqui moça e jovem. Aqui vivi, criei meus filhos, labutei com meu marido, vi meus vizinhos e compadres serem enterrados, lá no cemitério que vocês fecharam. Fui parida, mas também pari esta terra. Sabe o que é parir? A senhora teve filhos. Mas sabe o que é parir? Alimentar e tirar uma vida de dentro de você? Uma vida que irá continuar mesmo quando você já não estiver mais nesta terra de Deus? Não sei se a senhora sabe, mas eu peguei em minhas mãos a maioria desses meninos, homens e mulheres que a senhora vê por aí. Sou mãe de pegação
deles. Assim como apanhei cada um com minhas mãos, eu pari esta terra. Deixa ver se a senhora entendeu: esta terra mora em mim”, bateu com força em seu peito, “brotou em mim e enraizou.” “Aqui”, bateu novamente no peito, “é a morada da terra. Mora aqui em meu peito porque dela se fez minha vida, com meu povo todinho. No meu peito mora Água Negra, não no documento da fazenda da senhora e de seu marido. Vocês podem até me arrancar dela como uma erva ruim, mas nunca irão arrancar a terra de mim.
”
”
Itamar Vieira Junior (Torto Arado)
“
São os muros que fazem os ladrões.
A coragem não é contagiosa; o medo, sim.
A literatura é a maneira que um verdadeiro mentiroso tem para se fazer aceitar socialmente.
A verdade é uma superstição.
Deus deu-nos sonhos para que possamos espreitar o outro lado.
A realidade é dolorosa e imperfeita, é essa a sua natureza e por isso a distinguimos dos sonhos. (...) A realidade fere, mesmo quando, por instantes, nos parece um sonho. Nos livros está tudo o que existe, muitas vezes em cores mais autênticas, e sem a dor verídica de tudo o que realmente existe. Entre a vida e os livros, meu filho, escolhe os livros.
Imaginem um rapaz correndo de moto numa estrada secundária. O vento bate-lhe no rosto. O rapaz fecha os olhos e abre os braços, como nos filmes, sentindo-se vivo e em plena comunhão com o universo. Não vê o caminhão irromper do cruzamento. Morre feliz. A felicidade é quase sempre uma irresponsabilidade. Somos felizes durante os breves instantes em que fechamos os olhos.
Existem pessoas que revelam, desde muito cedo, um enorme talento para a desventura. A infelicidade atinge-os como uma pedrada, dia sim, dia não, e eles recebem-na com um suspiro conformado. Outras há, pelo contrário, com uma estranha propensão para a felicidade. Estas são atraídas pelo azul, aquelas pela embriaguez dos abismos.
A memória é uma paisagem contemplada de um comboio em movimento.
”
”
José Eduardo Agualusa
“
... Quando cheguei ao palacio que é a cidade os meus filhos vieram dizer-me que havia encontrado macarrão no lixo. E a comida era pouca, eu fiz um pouco do macarrão com feijão. E o meu filho João José disse-me: – Pois é. A senhora disse-me que não ia mais comer as coisas do lixo.
Foi a primeira vez que vi a minha palavra falhar. Eu disse:
– É que eu tinha fé no Kubstchek.
– A senhora tinha fé e agora não tem mais?
– Não, meu filho. A democracia está perdendo os seus adeptos. No nosso paiz tudo está enfraquecendo. O dinheiro é fraco. A democracia é fraca e os políticos fraquíssimos. E tudo que está fraco, morre um dia.
... Os políticos sabem que eu sou poetisa. E que o poeta enfrenta a morte quando vê o seu povo oprimido.
”
”
Carolina Maria de Jesus (Child of the Dark: The Diary of Carolina Maria de Jesus, 50th Anniversary Edition)
“
Àquela que acaba de ler a minha história e que está para fechar este livro, digo: «Não o feches no esquecimento. Ajuda-me. Deixa ressoar na tua memória este grito que é o meu e o de tantas outras mulheres.» De todas aquelas que a justiça esquece e humilha, lá onde as leis são feitas por homens que as dominam, que as consideram inferiores aos animais, que lhes roubam corpo, alma e filhos.
”
”
Zana Muhsen
“
(...) quando chegar estará o meu filho morto, infeliz menino, Jesus da minha alma, ora é neste momento da mais sentida aflição que um pensamento estúpido entra como um insulto na cabeça de José, o salário, o salário da semana que vai ser obrigado a perder, e é tanto o poder destas vis coisas materiais que o acelerado passo, não indo ao ponto de deter-se, um tudo-nada se lhe retarda, como a dar tempo ao espírito de ponderar as probabilidades de reunir ambos os proveitos, por assim dizer, a bolsa e a vida. Foi tão subtil a mesquinha ideia, como uma luz velocíssima que surgisse e desaparecesse sem deixar memória imperativa duma imagem definida, que José nem vergonha chegou a sentir, esse sentimento que é, quantas vezes, porém não as suficientes, nosso mais eficaz anjo da guarda.
”
”
José Saramago (The Gospel According to Jesus Christ)
“
Eu espero alguém que não desista de mim mesmo quando já não tem interesse.
Espero alguém que não me torture com promessas de envelhecer comigo, mas sim que realmente envelheça comigo.
Espero alguém que se orgulhe do que escrevo, que me faça ser mais amigo dos meus amigos e mais irmão do meu irmão.
Espero alguém que não tenha medo do escândalo, mas tenha medo da indiferença.
Espero alguém que ponha bilhetinhos dentro daqueles livros que vou ler até o fim.
Espero alguém que se arrependa rápido de suas grosserias e me perdoe sem querer.
Espero alguém que me avise que estou repetindo a roupa na semana.
Espero alguém que nunca abandone a conversa quando não sei mais o que falar.
Espero alguém que, nos jantares entre os amigos, dispute comigo para contar primeiro como nos conhecemos.
Espero alguém que goste de dirigir para nos revezarmos em longas viagens.
Espero alguém disposto a conferir se a porta está fechada e o fogão desligado, se meu rosto está aborrecido ou esperançoso.
Espero alguém que prove que amar não é contrato, que o amor não termina com nossos erros.
Espero alguém que não se irrite com a minha ansiedade.
Espero alguém que possa criar toda uma linguagem cifrada para que ninguém nos recrimine.
Espero alguém que arrume ingressos de teatro de repente, que me sequestre ao cinema, que cheire meu corpo suado depois de uma corrida como se ainda fosse perfume.
Espero alguém que não largue as mãos dadas nem para coçar o rosto.
Espero alguém que me olhe demoradamente quando estou distraído, que me telefone para narrar como foi seu dia.
Espero alguém que procure um espaço acolchoado em meu peito.
Espero alguém que minta que cozinha e só diga a verdade depois que comi.
Espero alguém que leia uma notícia, veja que haverá um show de minha banda predileta, e corra para me adiantar por e-mail.
Espero alguém que ame meus filhos como se estivesse reencontrando minha infância e adolescência fora de mim.
Espero alguém que fique me chamando para dormir, que fique me chamando para despertar, que não precise me chamar para amar.
Espero alguém com uma vocação pela metade, uma frustração antiga, um desejo de ser algo que não se cumpriu, uma melancolia discreta, para nunca ser
prepotente.
Espero alguém que tenha uma risada tão bonita que terei sempre vontade de ser engraçado.
Espero alguém que comente sua dor com respeito e ouça minha dor com interesse.
Espero alguém que prepare minha festa de aniversário em segredo e crie conspiração dos amigos para me ajudar.
Espero alguém que pinte o muro onde passo, que não se perturbe com o que as pessoas pensam a nosso respeito.
Espero alguém que vire cínico no desespero e doce na tristeza.
Espero alguém que curta o domingo em casa, acordar tarde e andar de chinelos, e que me pergunte o tempo antes de olhar para as janelas.
Espero alguém que me ensine a me amar porque a separação apenas vem me ensinando a me destruir.
Espero alguém que tenha pressa de mim, eternidade de mim, que chegue logo, que apareça hoje, que largue o casaco no sofá e não seja educada a ponto de estendê-lo no cabide.
Espero encontrar uma mulher que me torne novamente necessário.
”
”
Fabrício Carpinejar
“
Quando sou realmente mau, tão perverso que não lhe resta senão erguer as mãos para o céu e perguntar a Deus o que fez para merecer um filho assim, nessas ocasiões o meu pai é convocado para fazer justiça; descobre-se então que a minha mãe é demasiado sensível, um ser demasiadamente delicado, para administrar castigos corporais. «Dói-me mais a mim», ouço-a a explicar à tia Clara, «do que lhe dói a ele. Eu sou assim feita. Não sou capaz, pronto.»
Oh, pobre mãe.
”
”
Philip Roth (Portnoy’s Complaint)
“
Não há felicidade nem infelicidade no mundo; há apenas a comparação de um estado com o outro, nada mais. Aquele que sentiu a dor mais profunda é quem melhor pode apreciar a suprema felicidade. É preciso ter querido morrer para saber quanto é bom viver. Vivam, pois, e sejam felizes, amados filhos do meu coração, e nunca se esqueçam de que, até ao dia que Deus se dignar revelar o futuro ao homem, toda a sabedoria humana se resume nestas palavras: Aguardar e ter esperança!
”
”
Alexandre Dumas
“
um pai, poderia irritar-se ao ver o filho que volta inesperadamente e se joga em seus braços exclamando: “Eis-me de volta, meu pai, não vos zangueis se interrompo uma viagem que, segundo vossas ordens, eu devia agüentar mais tempo. O mundo é igual por toda parte e por toda parte vive de penas e trabalhos, recompensa e prazer. Mas que me importa tudo isso? Só estou bem onde tu estás, e quero sofrer e gozar na tua presença! E tu, Pai celeste e misericordioso, serias capaz de não dar ouvidos ao teu filho?
”
”
Johann Wolfgang von Goethe (The Sorrows of Young Werther)
“
Tinha então pouco mais de dezessete... Aqui devia ser o meio do livro, mas a inexperiência fez-me ir atrás da pena, e chego quase ao fim do papel, com o melhor da narração por dizer. Agora não há mais que levá-la a grandes pernadas, capítulo sobre capítulo, pouca emenda, pouca reflexão, tudo em resumo. Já esta página vale por meses, outras valerão por anos, e assim chegaremos ao fim. Um dos sacrifícios que faço a esta dura necessidade é a análise das minhas emoções dos dezessete anos. Não sei se alguma vez tiveste dezessete anos. Se sim, deves saber que é a idade em que a metade do homem e a metade do menino formam um só curioso. Eu era um curiosíssimo, diria o meu agregado José Dias, e não diria mal. O que essa qualidade superlativa me rendeu não poderia nunca dizê-lo aqui, sem cair no erro que acabo de condenar; a análise das minhas emoções daquele tempo é que entrava no meu plano. Posto que filho do seminário e de minha mãe, sentia já, debaixo do recolhimento casto, uns assomos de petulância e de atrevimento; eram do sangue, mas eram também das moças que na rua ou da janela não me deixavam viver sossegado. Achavam-me lindo, e diziam-mo; algumas queriam mirar de mais perto a minha beleza, e a vaidade é um princípio de corrupção.
”
”
Machado de Assis (Dom Casmurro)
“
Apático", dizia ele. "Totalmente apático. Nenhuma emoção. Meus filhos mortos e eu apático. Os olhos do meu filho revirados pra cima, e o pulso dele morto. O coração morto. Meu filho não respira. Meu filhinho. O Les. O único filho homem que eu tive na vida, e eu nunca mais vou ter outro, não. Mas não senti nada. Era como se ele fosse um desconhecido. A mesma coisa com a Rawley. Era uma desconhecida. Minha filhinha. A culpa toda é da porra do Vietnã! A guerra já acabou há tanto tempo e foi você que fez isso! Meus sentimentos estão completamente atrapalhados. É como se eu tivesse levado uma porrada na cabeça com um porrete desse tamanho quando não tem nada acontecendo. Aí de repente tem uma coisa acontecendo, uma puta duma coisa *enorme*, e eu não sinto porra nenhuma. Totalmente apático. Meus filhos morreram, mas o meu corpo está entorpecido e a minha cabeça está vazia. Vietnã. Foi por isso! Eu nunca chorei pelos meus filhos. Ele tinha cinco anos e ela oito. Eu perguntei pra mim mesmo: 'Por que é que eu não sinto nada? Por que foi que eu não salvei meus filhos? Por quê?'. Castigo. Castigo! Eu não conseguia parar de pensar no Vietnã. Todas as vezes que eu achei que morri. Foi aí que comecei a sacar que eu não vou morrer. Porque eu já morri, porra. Porque eu morri no Vietnã. Por que eu sou um cara que já *morreu*.
”
”
Philip Roth (The Human Stain (The American Trilogy, #3))
“
Alguém deve deixar alguma coisa para trás quando morre, dizia o meu avô. Um filho, ou um livro, ou um quadro, ou uma casa, ou uma parede construída ou um par de sapatos feitos à mão. Ou um jardim plantado. Alguma coisa em que a nossa alma tenha para onde ir quando morremos e, quando as pessoas olharem para essa árvore ou flor que plantámos, nós estamos lá. Não interessa aquilo que fazemos, dizia ele, desde que mudemos alguma coisa antes de lhe tocarmos e a transformarmos numa coisa que seja semelhante a nós depois de afastarmos as mãos. A diferença entre o homem que apenas apara relvados e um verdadeiro jardineiro está no toque, dizia ele. O cortador de relva pode não ter lá estado; o jardineiro ficará lá uma vida inteira.
”
”
Ray Bradbury (Fahrenheit 451)
“
Muitas pessoas de meu mundo acham estranho, até trágico, que a autora de histórias de amor tão emocionalmente satisfatórias, aparentemente nunca tenha encontrado o amor; mas eu não. Por um lado, ela era um gênio: ardendo de desejo de criar obras de arte imortais, não uma casa confortável para marido e filhos. Por outro lado, ela escrevia sobre o mundo que conhecia e sobre o que sentia que atrairia os leitores. O enredo matrimonial é interessante especialmente pelo modo como ilumina o coração de seus personagens, pelo que eles aprendem sobre si mesmos a caminho do altar. Ela se preocupa com questões maiores: como distinguir pessoas boas de falsificações plausíveis; o que uma vida moral exige de nós; o problema de ser uma mulher inteligente em um mundo que não tinha lugar para ela.
”
”
Kathleen A. Flynn (The Jane Austen Project)
“
Naquela ocasião, ao contrário, vi nitidamente as mães de família do bairro velho. Eram nervosas, eram aquiescentes. Silenciavam de lábios cerrados e ombros curvos ou gritavam insultos terríveis aos filhos que as atormentavam. Arrastavam-se magérrimas, com as faces e os olhos encavados, ou com traseiros largos, tornozelos inchados, as sacolas de compra, os meninos pequenos que se agarravam às suas saias ou que queriam ser levados no colo. E, meu Deus, tinham dez, no máximo vinte anos a mais do que eu. No entanto pareciam ter perdido os atributos femininos aos quais nós, jovens, dávamos tanta importância e que púnhamos em evidência com as roupas, com a maquiagem. Tinham sido consumidas pelo corpo dos maridos, dos pais, dos irmãos, aos quais acabavam sempre se assemelhando, ou pelo cansaço ou pela chegada da velhice, pela doença. Quando essa transformação começava? Com o trabalho doméstico? Com as gestações? Com os espancamentos?
”
”
Elena Ferrante (The Story of a New Name (Neapolitan Novels, #2))
“
A Historia me chupa inteiro, a lingua porejando sangue goza filhinho, sim dona Historia, vou indo, estou cheio de ideias, tenho duvidas, tenho gozo rapidos e agudos, vou te apalpando agora, o povo me olha, o povo quer muito de mim, gosto do povo, devo ser o povo, devo ser um unico e harmonico povo-ovo, devo morrer pelo povo, adentrado nele, devo rugir e ser um so com o povo, Axelrod-povo, Axelroad-coesao, virulência, Axelroad-filho do povo, HISTORIA-POVO, janto com meus pais, sopa de proletariado, paezinhos mencheviques, engulo o monopolio, emocionado bebo a revoluçao, lendo vou dirigindo o intelecto, mas estou faminto, estarei sempre faminto, cago o capitalismo, o lucro, a bolsa de titulos, e ainda estou faminto, ô meu deus, eu me quero a mim, o ossudo seco, eu.
Aos vinte temos muitas certezas e depois so duvidas, certeza de nada eu tenho exceçao. Aos vinte pontifiquei, tinha orgulho danado, um visual pretensamento sabio
como?
”
”
Hilda Hilst
“
Acham eles que passando nós fome nas nossas terras nos devíamos sujeitar a tudo, mas aí é que se enganam, que a nossa fome é uma fome limpa, e os cardos que temos de ripar, ripam-nos as nossas mãos, que mesmo quando estão sujas, limpas são, não há mãos mais limpas do que as nossas, é a primeira coisa que aprendemos quando entramos no quartel, não faz parte da instrução de arma, mas adivinha-se, e um homem pode escolher entre a fome inteira e a vergonha de comer o que nos dão, quando também é certo que a mim me vieram chamar a Monte Lavre para servir a pátria, dizem eles, mas servir a pátria não sei o que seja, se a pátria é minha mãe e meu pai, dizem também, de meus verdadeiros pais sei eu, e todos sabem dos seus, que tiraram à boca para não faltar à nossa, e então a pátria deverá tirar à sua própria boca para não faltar à minha, e se eu tiver de comer cardos, coma-os a pátria comigo, ou então uns são filhos da pátria e os outros filhos da puta.
”
”
José Saramago
“
Nunca vou conhecer meus netos", disse ela.
Coleman estava preparado. O importante era não pensar no cabelo de Iris e deixar que sua mãe falasse, deixá-la encontrar sua fluência e, com base no fluxo suave de suas próprias palavras, criar para ele uma desculpa.
"Você nunca vai deixar que eles me vejam", prosseguiu sua mãe. "Nunca vai deixar eles saberem quem eu sou. 'Mamãe', você vai me dizer, 'vá à estação rodoviária de Nova York, fique sentada na sala de espera, que às onze e vinte e cinco eu passo com os meus filhos, todos eles endomingados. 'Fique sentadinha, mamãe, não diga nada, que eu passo com eles bem devagar'. E você sabe muito bem que eu vou estar lá. A estação rodoviária. O jardim zoológico. O Central Park. O que você disser, é claro que eu vou fazer. Você me diz que a única maneira de eu pegar os meus netos é você me contratar pra tomar conta deles, dizendo que meu nome é sra. Brown, e eu aceito. É claro que eu faço o que você mandar. Eu não tenho opção.
”
”
Philip Roth (The Human Stain (The American Trilogy, #3))
“
Repensei no corpo em desordem da professora, no corpo desgovernado de Melina. Sem uma razão evidente, comecei a olhar com atenção para as mulheres ao longo da estrada. De repente me veio a impressão de ter vivido com uma espécie de limitação do olhar: como se só fosse capaz de focalizar nosso grupo de meninas, Ada, Gigliola, Carmela, Marisa, Pinuccia, Lila, a mim mesma, minhas colegas de escola, e jamais tivesse realmente notado o corpo de Melina, o de Giuseppina Peluso, o de Nunzia Cerullo, o de Maria Carracci. O único corpo de mulher que eu tinha examinado com crescente preocupação era a figura claudicante de minha mãe, e apenas por aquela imagem me sentira perseguida, ameaçada, temendo até agora que ela se impusesse de chofre à minha própria imagem. Naquela ocasião, ao contrário, vi nitidamente as mães da família do bairro velho. Eram nervosas, eram aquiescentes. Silenciavam de lábios cerrados e ombros curvos ou gritavam insultos terríveis aos filhos que as atormentavam. Arrastavam-se magérrimas, com as faces e os olhos encavados, ou com traseiros largos, tornozelos inchados, as sacolas de compra, os meninos pequenos que se agarravam às suas saias ou queriam ser levados no colo. E, meu Deus, tinham dez, no máximo vinte anos a mais do que eu. No entanto pareciam ter perdido os atributos femininos aos quais nós, jovens, dávamos tanta importância e que púnhamos em evidência com as roupas, com a maquiagem. Tinham sido consumidas pelo corpo dos maridos, dos pais, dos irmãos, aos quais acabavam sempre se assemelhando, ou pelo cansaço ou pela chegada da velhice, pela doença. Quando essa transformação começava? Com o trabalho doméstico? Com as gestações? Com os espancamentos? Lila se deformaria como Nunzia? De seu rosto delicado despontaria Fernando, seu andar elegante se transmutaria nas passadas abertas e braços afastados do tronco, de Rino? E também meu corpo, um dia, cairia em escombros, deixando emergir não só o de minha mãe, mas ainda o do pai? E tudo o que eu estava aprendendo na escola se dissolveria, o bairro tornaria a prevalecer, as cadências, os modos, tudo se confundiria numa lama escura, Anaximandro e meu pai, Fólgore e dom Achille, as valências e os pântanos, os aoristos, Hesíodo e a vulgariadade arrogante dos Solara, como de resto há milênios acontecia na cidade, sempre mais decomposta, sempre mais degradada?
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Elena Ferrante (The Story of a New Name (Neapolitan Novels, #2))
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-Ah, Nick- disse Mãe Abagail-, abriguei ódio ao Senhor no meu coração. Todo homem ou mulher que O ame, bem, eles também O odeiam, porque Ele é um Deus duro, um Deus ciumento. Ele é o que é, e neste mundo costuma recompensar o serviço com sofrimento, enquanto aqueles que praticam o mal desfilam pelas estradas em Cadillacs. Até mesmo a alegria de servi-Lo é uma alegria amarga. Faço a vontade Dele, mas minha parte humana O amaldiçoou dentro do coração. "Abby", me disse o Senhor, "muito adiante há trabalho para ti. Portanto vou te deixar viver cada vez mais, até tua carne ficar amarga em cima dos ossos. Eu te deixarei ver todos os teus filhos morrerem antes de ti, que continuará caminhando sobre a terra. Vou deixar que vejas a terra de teu pai ser tomada, pedaço por pedaço. E, no fim, tua recompensa será ir embora com estranhos, para longe das coisas que mais amou, e morrerás em terra estranha, com o trabalho ainda por terminar. Esta é a Minha vontade, Abby", me disse Ele. E respondi: "Sim, meu Senhor, será feita a Vossa vontade." Mas no meu coração praguejei contra Ele e perguntei: "Por quê? Por quê?" E a única resposta que tive foi: "Onde estavas tu quando fiz o mundo?
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Stephen King (The Stand)
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Não é com a mente aquisitiva e possessiva, acumulação de conhecimentos intelectuais, que se chega à Sabedoria. A mente aquisitiva aumenta a erudição, mas a Sabedoria não é erudição. Pode-se ser erudito e não sábio, e sábio sem ser erudito. Nossa mente, através dos tempos, adquiriu grande experiência em defender e proteger o eu, criando um sistema de segurança em todos os setores de nossa atividade: física, material, econômica, afetiva e intelectual, através de nossos apegos a conceitos, credos, teorias, sistemas filosóficos etc. Essas acumulações nada significam, são limitações do nosso pensamento vinculado a condicionamentos. É imprescindível que a mente possa receber o novo, o desconhecido, sem pretender amoldá-lo, ajustá-lo aos condicionamentos do passado.
O apego às acumulações do passado, significa condicionamento ao tempo, e jamais, dentro do tempo, se poderá compreender o Eterno (Incondicionado). Só quando a mente se libertar de toda e qualquer acumulação do passado, o pensamento poderá ser criador, capaz de reto pensar e chegar à Sabedoria.
Pela ignorância, a idéia de apego surge no homem comum não esclarecido, porque o ego, pela insatisfatoriedade, tende sempre a se preencher, se completar e se expandir. Assim, preenchemos e completamos nosso ego psicologicamente pela esposa, filhos (os filhos pelos pais), amigos, pelo clube a que pertencemos, pelo país em que vivemos etc. Todos nós nos completamos psicologicamente porque somos dependentes uns dos outros. Porém esta união, que nos completa, que nos traz felicidade, é algo muito precário. Pela natureza impermanente desta existência, não se pode manter esta união e felicidade indefinidamente, mais cedo ou mais tarde há uma separação inevitável e isto é sofrimento.
Porém, quando, pelo autoconhecimento e progresso espiritual, vamos compreendendo gradativamente as Quatro Nobres Verdades, os fenômenos que caracterizam a existência (Impermanência, Insatisfatoriedade e Impessoalidade), o que é a Sabedoria, então não vamos mais nos completar psicologicamente. Continuaremos a amar os outros de uma maneira mais correta, e o apego irá se manifestando cada vez mais fracamente.
O amor no homem comum está sempre ligado ao apego, há sempre a idéia de propriedade: "meu filho", "meu marido", "minha esposa", "meu pai", etc. Este amor é inseparável do apego.
Quando, pelo desenvolvimento da Sabedoria, vamos ganhando essa capacidade de amar sem nos apegar, há verdadeira felicidade, porque amamos sem nos escravizar aos outros e às coisas. Gradativamente, nos tornamos a nossa própria lanterna, não mais dependendo dos outros para nos completar psicologicamente.
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Georges da Silva (Budismo: Psicologia do Autoconhecimento)
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E eu via prados e declives, gretas de penhascos cobertas de grama, flores, fetos e musgos, aos quais a velha voz popular dera nomes tão singulares e tão cheios de significações. Viviam, filhos e netos que são das montanhas, coloridos e inofensivos, ali mesmo nos seus postos. Eu os apalpava, contemplava-os, aspirava-lhes o perfume e aprendia seus nomes. Impressionava-me ainda mais séria e profundamente com a contemplação das árvores. Via cada uma delas levando sua vida à parte, aperfeiçoando sua forma e coroa especiais, projetando sua sombra peculiar. A mim me pareciam ermitãs e lutadoras, mais estreitamente aparentadas com as montanhas, pois cada uma delas, sobretudo as que se erguiam nos pontos mais altos das montanhas, mantinham sua luta silenciosa e tenaz pela existência e desenvolvimento, contra o vento, o tempo e as rochas. Cada qual tinha que suportar seu próprio peso e se agarrar com força ao solo, resultando daí que cada uma possuía uma forma particular e chagas especiais. Havia pinheiros aos quais as tormentas só permitiam que apresentassem galhos de um só lado, e outros cujos troncos avermelhados se haviam enroscado, quais serpentes, ao redor de rochas, de tal maneira que árvores e rochas se agarravam umas às outras para se sustentarem. A mim elas se assemelhavam a guerreiros e despertavam no meu coração um sentimento de medo e de respeito. (p. 8)
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Hermann Hesse (Peter Camenzind)
“
Olha, dona”, interrompeu Salu antes que a mulher continuasse sua pregação, “eu não tenho muita letra nem estudo, mas quero que a senhora entenda uma coisa. Eu não sou a única a morar nesta terra. Muitos desses moradores que vocês querem mandar embora chegaram muito antes de vocês. Vocês não eram nem nascidos. Muitos nasceram aqui. Tenho filhos e netos, todos nasceram em Água Negra. Também não posso dizer o que cada um pensa dela, tim-tim por tim-tim, porque não estou nos pensamentos de ninguém. Mas falo por mim: eu nasci em Bom Jesus, mas também nasci de alguma forma nesta terra. Cheguei aqui moça e jovem. Aqui vivi, criei meus filhos, labutei com meu marido, vi meus vizinhos e compadres serem enterrados, lá no cemitério que vocês fecharam. Fui parida, mas também pari esta terra. Sabe o que é parir? A senhora teve filhos. Mas sabe o que é parir? Alimentar e tirar uma vida de dentro de você? Uma vida que irá continuar mesmo quando você já não estiver mais nesta terra de Deus? Não sei se a senhora sabe, mas eu peguei em minhas mãos a maioria desses meninos, homens e mulheres que a senhora vê por aí. Sou mãe de pegaçã deles. Assim como apanhei cada um com minhas mãos, eu pari esta terra. Deixa ver se a senhora entendeu: esta terra mora em mim”, bateu com força em seu peito, “brotou em mim e enraizou.” “Aqui”, bateu novamente no peito, “é a morada da terra. Mora aqui em meu peito porque dela se fez minha vida, com meu povo todinho. No meu peito mora Água Negra, não no documento da fazenda da senhora e de seu marido. Vocês podem até me arrancar dela como uma erva ruim, mas nunca irão arrancar a terra de mim.
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Itamar Vieira Junior (Torto Arado)
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Então prostrei-me aos seus pés, pensando: "Esta é certamente a hora da minha morte, pois o Leão (que é digno de toda a honra) bem saberá que, durante toda a minha vida, tenho servido a Tash e não a ele. No entanto, melhor é ver o Leão e depois morrer do que ser Tisroc do mundo inteiro e viver sem nunca havê-lo encontrado." Porém, o glorioso ser inclinou a cabeça dourada e me tocou a testa com a língua, dizendo: "Filho, sê bem-vindo!" Mas eu repliquei: "Ai de mim, Senhor! Não sou filho teu, mas, sim, um servo de Tash!" "Criança", continuou ele, "todo o serviço que tens prestado a Tash, eu o considero como serviço prestado a mim." Então, tão grande era o meu anseio por sabedoria e conhecimento, que venci o temor e resolvi indagar o glorioso ser: "Senhor, é verdade, então, como disse o macaco, que tu e Tash sois um só? O Leão deu um rugido tão forte que a terra tremeu (sua ira, porém, não era contra mim), dizendo: "É mentira! Não porque ele e eu sejamos um, mas por sermos o oposto um do outro é que tomo para mim os serviços que tens prestado a ele. Pois eu e ele somos tão diferentes, que nenhum serviço que seja vil pode ser prestado a mim, e nada que não seja vil pode ser feito para ele. Portanto, se qualquer homem jurar em nome de Tash e guardar o juramento por amor a sua palavra, na verdade jurou em meu nome, mesmo sem saber, e eu é que o recompensarei. E se algum homem cometer alguma crueldade em meu nome, então, embora tenha pronunciado o nome de Aslam, é a Tash que está servindo, e é Tash quem aceita suas obras. Compreendes isto, filho meu?" Eu respondi: "Senhor, tu sabes o quanto eu compreendo." E, constrangido pela verdade, acrescentei: Mesmo assim, tenho aspirado por Tash todos os dias da minha vida." "Amado", falou o glorioso ser, não fora o teu anseio por mim, não terias aspirado tão intensamente, nem por tanto tempo. Pois todos encontram o que realmente procuram.
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C.S. Lewis (The Last Battle (Chronicles of Narnia, #7))
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- O quê? - fez indignado Flores, erguendo-se, num só e rápido movimento, da cadeira, e deixando a xícara sobre a mesa. - Pois tu não sabes quem sou eu, quem é Leonardo Flores? Pois tu não sabes que a poesia para mim é a minha dor e é a minha alegria, é a minha própria vida? Pois tu não sabes que tenho sofrido tudo, dores, humilhações, vexames, para atingir o meu ideal? Pois tu não sabes que abandonei todas as honrarias da vida, não dei o conforto que minha mulher merecia, não eduquei convenientemente meus filhos, unicamente para não desviar dos meus propósitos artísticos? Nasci pobre, nasci mulato, tive uma instrução rudimentar, sozinho completei-a conforme pude; dia e noite lia e relia versos e autores; dia e noite procurava na rudeza aparente das coisas achar a ordem oculta que as ligava, o pensamento que as unia; o perfume à cor, o som aos anseios de mudez de minha alma; a luz à alegoria dos pássaros pela manhã; o crepúsculo ao cicio melancólico das cigarras - tudo isto eu fiz com sacrifício de coisas mais proveitosas, não pensando em fortuna, em posição, em respeitabilidade. Humilharam-me, ridicularizaram-me, e eu, que sou homem de combate, tudo sofri resignadamente. Meu nome afinal soou, correu todo este Brasil ingrato e mesquinho; e eu fiquei cada vez mais pobre, a viver de uma aposentadoria miserável, com a cabeça cheia de imagens de ouro e a alma iluminada pela luz imaterial dos espaços celestes. O fulgor do meu ideal me cegou; a vida, quando não me fosse traduzida em poesia, aborrecia-me. Pairei sempre no ideal; e se este me rebaixou aos olhos dos homens, por não compreender certos atos desarticulados da minha existência; entretanto, elevou-me aos meus próprios, perante a minha consciência, porque cumpri o meu dever, executei a minha missão: fui poeta! Para isto, fiz todo o sacrifício. A Arte só ama a quem a ama inteiramente, só e unicamente; e eu precisava amá-la, porque ela representava, não só a minha Redenção, mas toda a dos meus irmãos, na mesma dor. Louco?! Haverá cabeça cujo maquinismo impunemente possa resistir a tão inesperados embates, a tão fortes conflitos, a colisões com o meio tão bruscas e imprevistas? Haverá?
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Lima Barreto (Clara dos Anjos)
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Quem alcançou neste mundo grandeza igual à dessa bendita mulher, a mãe de Deus, a virgem Maria? No entanto, como se fala dela? A sua grandeza não provém do fato de ter sido bendita entre as mulheres, e se uma estranha coincidência não levasse a assembléia a pensar com a mesma desumanidade do predicador, qualquer jovem devia, seguramente, perguntar: Por que não fui eu também bendita entre as mulheres? Se se não possuísse outra resposta, de forma alguma acharia ter de rejeitar esta pergunta, pretextando a sua falta de senso; porque, no abstrato, em presença de um favor, todos temos mesmos direitos. São esquecidos a tribulação, a angústia, o paradoxo. Meu pensamento é tão puro como o de qualquer outro; e ele purifica-se, exercendo-se sobre as coisas. E se não se enobrecer pode-se então esperar pelo espanto; porque se essas imagens foram alguma vez evocadas jamais poderão ser esquecidas. E se contra elasse peca, extraem da sua muda cólera uma terrível vingança, mais terrível do que os rugidos de dez ferozes críticos. Maria,indubitavelmente, deu à luz o filho graças a um milagre, mas no decorrer de tal acontecimento foi como todas as outras mulheres, e esse tempo é o da angústia, da tribulação e do paradoxo. O anjo foi,sem dúvida, um espírito caritativo, mas não foi complacente porque não foi dizer a todas as outras virgens de Israel: Não desprezeis Maria, porque lhe sucedeu o extraordinário. Apresentou-se perante ela só e ninguém a pôde compreender. No entanto, que outra mulher foi mais ofendida do que Maria? Pois não é também verdade que aquele a quem Deus abençoa é também amaldiçoado com o mesmo sopro do seu espírito? É desta forma que se torna necessário, espiritualmente,compreender Maria. Ela não é, de maneira alguma, uma formosa dama que brinca com um deus menino, e até me sinto revoltado ao dizer isto e muito mais ao pensar na afetação e ligeireza de tal concepção. Apesar disso, quando diz: sou a serva do Senhor, ela é grande e imagino que não deve ser difícil explicar por que razão se tornou mãe de Deus. Não precisa, absolutamente nada, da admiração do mundo, tal como Abraão não necessita de lágrimas,porque nem ela foi uma heroína, nem ele foi um herói. E não se tornaram grandes por terem escapado à tribulação, ao desespero e ao paradoxo, mas precisamente porque sofreram tudo isso. Há grandeza em ouvir dizer ao poeta, quando apresenta o seu herói trágico à admiração dos homens: chorai por ele; merece-o; porque é grandioso merecer as lágrimas dos que são dignos de as derramar;há grandeza em ver o poeta conter a multidão, corrigir os homens e analisá-los um por um para verificar se são dignos de chorar pelo herói, porque as lágrimas dos vulgares chorões profanam o sagrado.Contudo ainda é mais grandioso que o cavaleiro da fé possa dizer ao nobre caráter que quer chorar por ele: não chores por mim, chora antes por ti próprio.
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Søren Kierkegaard
“
Meu distante mas sempre perto amigo, a perda de uma mãe e sempre dolorosa para os seus filhos, estou contigo nesta hora de pesar. A vida e madrasta e severa mas em contrapartida muito curta, cedo vira a hora em que dirás as palavras que não disses-te, farás o que não tiveste tempo, perdoaras a ti próprio aquilo que não querias dizer.... O tempo só existe na nossa alma , somente o espírito e eterno.
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”
Nuno Rosa
“
3 de maio
Aprendi com meu filho de dez anos
Que a poesia é a descoberta
Das coisas que eu nunca vi
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Oswald de Andrade
“
Cria que o Senhor conservara nosso filho com vida quando estivera muito doente e, se eu o deixasse prejudicar o cumprimento de meu dever, Deus iria tirá-lo de mim.
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Alberto R. Timm (Meditações Diárias 2018 - Um Dia Inesquecível (Portuguese Edition))
“
No woman should come in at the tail end of the work and reap the benefits. Either she comes in with equal or more, and from there, meu filho, you build a life.
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”
Olivia Gaines (Courting Guinevere (The Davonshire Series Book 1))
“
Primeiro havia abalado um, depois outro e por fim os últimos dois, espalhando-se pelos vários cantos da Terra como se fossem inimigos, que não eram. Eles mesmos tinham vindo trazer para a casa comum do pai as jovens mulheres que deixavam, com suas arcas, crianças e fogões. Como nós três - éramos dois irmão - havíamos sido os últimos a chegar, tínhamos ocupado o quarto de abóbada, o que dava para trás, o mais sombrio. Mas havia quem dormisse nos corredores e sítios desvãos duma casa grande demais para se viver. E nesse ambiente de meninos e mulheres, exercendo o seu magistério de homem director, inválido, sentado numa cadeira de imóvel, desesperava o meu avô. A menos que mandasse chamar o filho mais novo, aquele que depois, para sua arrelia, havia de riscar a poeira das estradas, a correr, a correr na sua Instrumentalina.
”
”
Lídia Jorge (A Instrumentalina)
“
Here is a scene that happens in Brazil thousands of times each day: It’s early morning. Time for young Marcos to leave for school. As he gathers his books and heads for the door, he stops by his father’s chair. He looks into his father’s face. “Benção, Pai?” (Blessing, Father?) Marcos asks. The father raises his hand. “Deus te abençoe, meu filho” (God bless you, my son), he says.
”
”
Max Lucado (Grace for the Moment: 365 Devotions for Kids)
“
Que isto é assim mesmo: se não formos nós a educar os nossos pais, quem é que os educa? Se não formos nós a ensinar-lhes certas coisas, quem é que os ensina?
Meu Deus, como os meus pais estão necessitados de lições minhas!
Meu Deus, como os meus pais precisavam de ser meus filhos!
”
”
Alice Vieira (Rosa, Minha Irmã Rosa)
“
Poema - Uma triste história de amor
Há Muito tempo
nos confins do universo
existia uma triste história de amor
A Morte se apaixonou pela solidão
e deste amor improvável
nasceu uma triste criança
A Solidão não suportava a sua tristeza
e todas as noites
ela era atormentada por sua terrível melancolia
A Morte ao escutar aquela criança chorar
seus olhos embargavam-se de sangue
O Universo estava em crise
os deuses questionavam a sua própria divindade
e a presença daquela inocente criança
faziam os diabos chorarem
Como em um conto de fadas
ou em uma poesia de amor
aquela criança trouxe a aquele mundo fantástico
sentimentos de dor
Mas que culpa tinha a pobre criança?
O brilho em seus olhos
expressavam a morte das estrelas
e as suas asas tão belas
eram negras como o próprio universo
A Solidão nunca foi capaz de amar
o seu próprio filho
E a sua paixão pela morte
era como uma sinfonia perfeita
A Morte não roubava a sua Solitude
e a solidão não entregava a Morte
sentimentos de dor
A Sinfonia de um relacionamento perfeito
deu origem a uma criança maldita
Com o universo em desequilíbrio
a solidão pegou o seu próprio filho em seus braços
e para não sacrificar a sua solitude
a arremessou no mundo dos homens
Essa criança sou eu...
A Minha alma foi aprisionada no corpo
de uma criança humana
eu cresci no lar de uma família
que nunca foi capaz de me amar
Caminhei sozinho durante noites solitárias
e as únicas coisas que me atraiam
eram as sinfonias das estrelas ao se apagarem
Eu sou o filho bastardo da solidão
e não há nada neste mundo
capaz de preencher o vazio que existe em meu peito
Se não fosse a música,
o diabo que vive em mim já teria enlouquecido
Eu passo noites de insônia acordado
escutando as mais melancólicas sinfonias
esperando que em uma bela manhã
a morte venha me encontrar
Deitado submerso em uma banheira
repleta de água
eu vejo o sangue dos meus punhos
fundirem-se com a canção das estrelas
A Solidão chorava por ter abandonado o seu próprio filho
e aquela pobre criança
que a muito tempo foi arremessada no mundo dos homens
sorri pela primeira vez
submersa em uma banheira de sangue
”
”
Gerson De Rodrigues
“
Poema - Gênesis 4:11-12
Me coloquem em uma camisa de força
e me tranquem nos cárceres privados
da minha própria mente
Dancem como macacos
enquanto os deuses mutilam seus próprios filhos
Matem uns aos outros
em nome de ideologias que os condenam
Agora apontem os seus dedos para mim e gritem
- Prendam-no em camisas de força
este homem que não merece o amor dos deuses
E quem os merece?
Ah...
se ousaste a pensar sobre os deuses
não falarias em nome do amor
Que tipo de pai deixaria os seus filhos
rastejando entre ratos e baratas
tendo a morte como a sua última esperança?
E não me venham gritar em meus ouvidos surdos
- Tu não conheces os deuses!
Matei o meu próprio irmão
para provocar a ira de Deus
Dancei com Cristo músicas de amor e luxuria
deitei-me com os Anjos ao lado de Maria
quando Deus concebeu a ela o símbolo da mentira
Caminhei pelo inferno com os pés descalços
e durante milênios eu não sabia o meu próprio nome
Eu vi Sócrates chorar em seus momentos de duvida
incentivei Pilatos a matar o traste na cruz!
E mesmo após me banhar em pecados e luxuria
Deus havia me perdoado
castigando-me com a vida que eu nunca almejei
Quantas vezes você não olhou no espelho
e clamou de joelhos para que a morte
não o salvaste deste tormento?
Quantas vezes você não sentiu tanta dor
que o desejo de morrer
era o único sentimento puro em seu coração?
E ao caminhar pela rua
sentia não pertencer a essa espécie
Buscou em mil livros a resposta para as suas angustia
e ainda assim
chorou em silencio sem que alguém pudesse compreende-lo
Sinto-me assim todos os dias!
o meu nome é Caim!
e a minha maldição é viver!
Clamo a ti
Oh Deus
Me coloque em uma camisa de força
E me tranque nos cárceres privados
Da minha própria mente !
Pois não há nenhum homem neste mundo
capaz de cessar as minhas dores
”
”
Gerson De Rodrigues
“
Ao testemunhar o fracasso da medicina perante o meu filho, desenvolvi uma teoria esdrúxula: A vida é algo que temos de parar de corrigir. O meu pequeno era um universo de bolso que eu jamais poderia aspirar a sondar. Cada um de nós é uma experiência, e nem sequer sabemos o que está a experiência a testar.
Ninguém é perfeito. Mas, caramba, todos ficamos tão lindamente aquém.
”
”
Richard Powers (Bewilderment)
“
No meu tempo de menino tínhamos pena dos pobres. Eles cabiam naquele lugarzinho menor, carentes de tudo, mas sem perder humanidade. Os meus filhos, hoje, têm medo dos pobres. A pobreza converteu-se num lugar monstruoso.
”
”
Mia Couto (O Assalto)
“
A vida nunca segue o caminho que queremos ou esperamos. Até quando conseguimos exatamente o que queríamos, depois vemos que não queríamos aquilo de verdade. Então, meu filho, se encontrar um pingo de felicidade e paz, fique grato e viva. Não tente conseguir mais, porque um pingo é o máximo que a maioria das pessoas consegue.
”
”
Blake Crouch (Upgrade)
“
Antes de ter medo do pecado, meu filho, tenha medo da virtude, quando ela for triste e quiser limitar o homem.
”
”
Jorge Amado (Tieta (THE AMERICAS))
“
- (...) só digo bem dos hipies, são pássaros do jardim de Deus, todos eles, os místicos e os ateus.
- Os místicos e os ateus, como pode ser isso meu pai? Não cabe em meu entendimento.
- Não é o rótulo que dá qualidade à bebida, meu filho.
”
”
Jorge Amado (Tieta (THE AMERICAS))
“
Os dois professores que esperávamos entraram logo depois, e fomos os quatro juntos para a salinha do jantar, onde encontramos o jovem de quem já me falara. Fizeram-lhe rasgados cumprimentos e o trataram com um respeito tão profundo quanto o de um escravo ao seu senhor; perguntei a causa a meu gênio, que me respondeu que era por sua idade, porque naquele mundo os velhos rendiam toda espécie de honra e deferência aos jovens; mais ainda, que os pais obedeciam a seus filhos tão logo que, na opinião do Senado dos filósofos, tivessem atingido a idade da razão.
“Espantai-vos”, continuou ele, “com um hábito tão contrário ao de vosso país? Todavia ele não repugna à sã razão, pois, em consciência, dizeime, quando um homem jovem e ardente possui a força de imaginar, julgar e executar, não é mais capaz de cuidar de uma família do que um fraco sexagenário? Este pobre embotado, cuja neve dos sessenta invernos enregelou a imaginação, guia-se pelo exemplo dos felizes resultados e todavia foi a sorte que os tornou possíveis contra todas as regras e toda a administração da prudência humana. Quanto ao julgamento, ele também é pouco, embora o comum dos homens em vosso mundo faça dele um apanágio da velhice; e para tirá-lo do engano, ele precisa saber que o que se chama prudência num velho não é mais do que um temor pânico, um medo horrível, que o obseda de empreender alguma coisa. Assim, meu filho, quando não enfrentou um perigo no qual um jovem se lançou, não é porque tivesse prejulgado a catástrofe, mas porque não possuía fogo suficiente para acender esses nobres impulsos que nos fazem ousar, e a audácia naquele jovem era como um penhor da vitória de seu desígnio, porque aquele ardor que faz a prontidão e a facilidade de uma execução era a que o impelia a empreendê-la. Quanto ao fato de executar, eu faria injustiça a vosso espírito se me esforçasse por convencê-lo com provas. Sabeis somente que a juventude é própria para a ação; e se não estais totalmente persuadido disso, dizei-me, peço-vos, quando respeitais um homem corajoso, não será porque ele pode vingar-vos de vossos inimigos ou de vossos opressores? Por que então ter-lhe ainda consideração senão pelo hábito, quando um batalhão de setenta janeiros tiver gelado seu sangue e o frio todos os nobres entusiasmos que animam as pessoas jovens diante da justiça? Quando tendes consideração pelo forte, não será para que vos seja agradecido por uma vitória de que não poderíeis disputar-lhe? Por que então submeter-vos a ele quando a preguiça tiver abatido seus músculos, debilitado suas artérias, evaporado seus espíritos e sugado a medula dos seus ossos! Se adorásseis uma mulher, não seria pela sua beleza? Por que então continuar as vossas genuflexões depois que a velhice fez dela um fantasma a ameaçar de morte os que estão vivos? Enfim, quando honráveis um homem de espírito, era porque com a vivacidade de seu gênio compreendia uma questão complicada e a esclarecia, porque distraía com sua fala elegante uma assembléia de elite, porque ordenava as ciências com um só pensamento, e porque nunca uma bela alma teve mais violentos desejos de a ele se assemelhar. E, contudo, continuais a homenageá-lo, quando seus órgãos gastos tornam sua cabeça imbecil e pesada e quando, em meio a um grupo, parecia mais, pelo seu silêncio, a estatueta de um Deus lar do que um homem capaz de pensar.
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”
Cyrano de Bergerac (Voyage dans la Lune)
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— Nossa. E tem mais? — Tem. Ele está grávido. — ela disse. — Meu Deus! Pobre garoto. Vou descobrir se ele tem família, se o filho tem pai... tudo isso.
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R. Maya (Alcateia Hunter ( Alcateia Hunter, #1))
“
O filho que se recusa a seguir jornada sob a tutela do pai constitui o símbolo da mais peculiar capacidade humana. "Não tenho de ser o que meu pai foi. Não tenho de obedecer às regras do meu pai e nem acreditar em tudo que ele acreditou. É minha força como humano poder fazer minhas próprias escolhas a respeito daquilo em que acreditar ou não, a respeito do que ser e do que não ser.
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Frank Herbert
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Acredito que meus dois filhos sejam não apenas melhores leitores, mas pessoas melhores por causa daquele momento especial que passávamos todas as noites antes de dormir lendo os Contos de Fadas dos irmãos Grimm e os de George MacDonald ou histórias folclóricas e os contos engraçados do Oriente Médio e da Armênia que minha avó imigrante me contava quando eu era criança. Penso que a disposição de meu filho para ir a uma vila remota da Armênia no verão de 1996, a fim de concluir a reconstrução de uma igreja antiga derrubada por um terremoto foi assistida pelo fato de eu ter lhe contado as histórias de minha avó.
”
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Vigen Guroian (Cultivando um Coração de Virtudes (Portuguese Edition))
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Chaparro se prometera que aquela mulher não iria enlouquecê-lo de novo, porque ele estava bem assim, e porque não precisava de uma nova e brutal desilusão, de uma nova insônia, de um novo vazio no estomâgo. Foi por isso que lhe disse “como vai, doutora?, quanto tempo”, embora notasse que ela ficava meio sem graça, porque vinha adiantando a face para dar um beijo nele e se atrapalhava como se atrapalha alguém que vem nos tratar por você e topa com uma parede de quatro metros, sem fissuras, à qual convém responder “bem, e o senhor?, é verdade, quanto tempo”. E por isso, porque a situação o aborreceu, angustiou ou entristeceu — ou lhe produziu todos esses sentimentos —, Chaparro balbuciou a desculpa de que havia deixado um monte de trabalho inacabado sobre sua escrivaninha e saiu disparado. Retirou-se em velocidade suficiente para escapar ao perfume que ela sempre usara, mas não para ficar a salvo de escutar as corriqueiras respostas às corriqueiras perguntas de como vai sua família, Irene, bem, graças a Deus as meninas bem, seu marido, meu marido bem, trabalhando muito e de saúde muito bem; raios partam também a ele, o desgraçado filho de mil putas, com perdão da palavra porque o estúpido não tem culpa de ter se casado com ela mas dá no mesmo, com que direito ela fez isso a ele, que estava tão bem sozinho ou efemeramente acompanhado.
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Eduardo Sacheri (El Secreto de Sus Ojos)
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CAPÍTULO XCIX O FILHO É A CARA DO PAI Minha mãe, quando eu regressei bacharel quase estalou de felicidade Ainda ouço a voz de José Dias, lembrando o evangelho de São João, e dizendo ao ver-nos abraçados: – Mulher, eis aí o teu filho! Filho, eis aí a tua mãe! Minha mãe, entre lágrimas: – Mano Cosme, é a cara do pai, não é? – Sim, tem alguma cousa, os olhos, a disposição do rosto. É o pai, um pouco mais moderno, concluiu por chalaça. E diga-me agora mana Glória, não foi melhor que ele não teimasse em ser padre? Veja se este peralta daria um padre capaz. – Como vai o meu substituto? – Vai indo, ordena-se para o ano, respondeu tio Cosme. Hás de ir ver a ordenação; eu também, se o meu senhor coração consentir. É bom que te sintas na alma do outro, como se recebesses em ti mesmo a sagração. – Justamente! – exclamou minha mãe. – Mas veja bem, mano Cosme, veja se não é a figura do meu defunto. Olha, Bentinho, olha bem para mim. Sempre achei que te parecias com ele, agora é muito mais. O bigode é que desfaz um pouco... – Sim, mana Glória, o bigode realmente... mas é muito parecido. E minha mãe beijava-me com uma ternura que não sei escrever. Tio Cosme, para alegrá-la, chamava-me doutor, José Dias também, e todos em casa, a prima, os escravos, as visitas, Pádua, a filha, e ela mesma repetiam-me o título.
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Machado de Assis (Dom Casmurro)
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— A hora exata! — exclamou Fedor Pavlovitch. — E esse meu filho Dmitri sem vir! Peço que lhe perdoe, sagrado velho. — Aliocha estremeceu ao ouvir o «sagrado». — Eu sou muito pontual: nem minuto a mais nem a menos. Recordo sempre que a pontualidade é o ornamento dos reis.
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Fyodor Dostoevsky (Os Irmãos Karamazov)
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Eu não conheço o doutor Gabriel Pardal. Há anos atrás ele foi assassinado pela própria esposa. O doutor possuía uma dívida no banco, então essa dívida passou para ela. Ocorre que seu filho a envenenou num suco de maracujá. Como você deve imaginar, a dívida correu para o filho. Acontece que sua irmã jogou seu irmão no precipício e assim a dívida pulou para ela. Estávamos namorando há dois anos com casamento marcado em Verona. Fomos à praia comemorar. Num banho de mar, uma onda mais forte puxou-a num caldo levando-a pro fundo. Não resistiu. Morreu afogada. Juro que sou inocente. Não conheço o doutor Gabriel Pardal, não tenho culpa de nada, mas a dívida do banco agora está em meu nome, não tenho dinheiro, não tenho ninguém, sou a pessoa errada. Por isso esse pulso ardido, na falta de fôlego essa declaração, por isso essa bomba armada.
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Gabriel Pardal (Carnavália)
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Sócrates – Mas se te tornares sábio, meu filho, todos serão teus amigos e teus parentes: serás útil e bom. Se não, nem os estranhos, nem teu pai, nem tua mãe, nem os teus familiares serão teus amigos. Como é possível ter pensamentos de arrogância sobre assuntos em que nem sequer se sabe pensar ainda? (PLATÃO. Lísias).
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Clóvis de Barros Filho (A vida que vale a pena ser vivida (Portuguese Edition))
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— Não sei vadiar nem coberto de lençol quanto mais vestido com roupa. Tu tem vergonha de quê, meu bem? A gente não vai se casar, não é para isso mesmo? E mesmo que não fosse, a vadiação é coisa de Deus, foi ele quem mandou que se vadiasse. “Vão vadiar por aí, meus filhos, vão fazer neném” que ele disse e foi das coisas mais direitas que ele fez.
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Jorge Amado (Dona Flor and Her Two Husbands)
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Fazal Elahi viu-lhe as mãos fechadas, é assim que nascemos, pensou ele, com os punhos cerrados, o meu filho não agarra em nada senão nele mesmo
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Afonso Cruz (Para Onde Vão Os Guarda-Chuvas)
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Dizem que o diabo só existe no quê, no inferno, mas para mim, Nicolau Pedro Nkanga, no meu nome de batismo, mais conhecido por kota Lau, na minha palavra de honra, juro com sangue de Cristo!, eu, Nicolau Pedro Nkanga, arrepito, vi nos meus olhos o diabo era mesmo pessoa nesta terra, com diabices dele, a me fazer as caretas, assim, as truquices dele, no quê, sacana, filho da mãe dele que lhe pariu e do pai dele também, o mau malvado do diabo. Um dia até que o gajo me apareceu mesmo no sonho, queria me matar, me puxar para ir com ele no inferno dele, veja sô!, o Senhor Santo Deus é que nos chama ou é o diabo que nos empurra só no buraco?!
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Boaventura Cardoso
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Maria, Maria
Nosso filho está perto
Esta noite eu o vi em sonhos
Me chamando
Antes já o pressentia
Esta noite eu o vi de repente, vagamente
Maria, Maria
Maria tenho medo que você não chegue a tempo
Que ele apareça em meu quarto noturno
Com uma faca na mão
E um sorriso violento nos lábios
É preciso impedir que ele cresça longe de nós
E não nos reconheça
Maria, Maria
Não pense que estou louco
Nosso filho já nasceu
E se não tomarmos conhecimento
Como iremos saber
Que a nossa carne que nos mata
Maria, Maria
Tente mesmo chegando
A cabeleira vermelha
Como incêndio mais belo do que nós
Enquanto nós pensamos
Que ainda jaz
Na caixa de sapato
Não deixe nosso filho
Substituir o teu leite
Pelo leite das feras
Maria, Maria
Maria
Não te iludas com pílulas ou outros métodos
Tarde demais para tais providências
Essa noite, Maria, essa noite ele gritou seu nome
Maria, Maria
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Caetano Veloso
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[…] Depois de algum tempo, de ter perguntado pelo Tô Manel a várias pessoas, lembrei-me de ir tentar a sorte no ponto de encontro. Meti-me na bicha e fui escutando os apelos que as pessoas iam fazendo em busca dos seus familiares: “me chamo Fololinda Gouveia, estou a precurar meu filho que desapareceu em oitenta e nove, nome dele mais conhecido é Joãozinho Gouveia, peço só nas pessoas que estão a me ouvir favor só de lhe falarem que mãe dele está lhe precurar, moro no Cazenga”; “Meu nome é André Sapanjo, estou a precurar minha mulher que fugiu com outro homem em noventa e dois, uma grande cabra!, perdão!, não era isso que queria dizer, faz só favor de cortar nesta parte, cabra era no antigamente, agora que estou com a palavra do Senhor no coração não lhe posso chamar nem de cabra nem de puta, ai! ai! ai!, corta, corta, corta só também nesta palavra de puta que é muito feia, já cortou?, hã, ok…, nome dela da minha santinha é Madalena, quero que ela volta, volta só mana Lena, minha fofinha, agora estou bem na vida, mijo forte, tenho carros nas lundas, aqui em Luanda tenho várias lojas e carros, vou te dar cama e mesa, vais ver só no amor que vou te dar, moro na Mabor!”; “Meu nome que me pusseram com ele no baptismo é Mana Maria Teresinha do Menino Jesus, diga?, juro mesmo é esse nome que me pusseram com ele!, me chamam também mana Teté, estou só a precurar no pai das crianças que ele me deixou quando quando foi na tropa em oitenta e nove, o nome dele?, o nome dele mesmo é Zeca, Zeca quê?, Zeca só!, o outro nome dele nunca lhe perguntei, mas está aqui foto dele, peço só para me falarem onde é que ele está, vivo ou morto!, Zeca vem só na casa, as crianças estão te chorar todos dias!, moro no Golfe perto da paragem dos autocarros.” Uma velha, de panos, falando umbundo, olhava atentamente para cãmera da TPA que fazia o registo dos apelos e gesticula como se estivesse a ver a imagem da pessoa que procurava reflectida no olhp da câmera: “ Onde é que andas meu Neto?, desde que foste na tropa não voltaste mais porquê?, te mataram nos bandidos ou quê?, fala só meu neto, fala, não faz mais sofrer na tua mãe e na tua avó, ouviste? Vem só na casa, estamos a morar na mesma casa aqui em Luanda, ele me ouviu né?, só logo a noite no Nação Coragem?, não faz mal, mas tenho certeza que está hora ele já me viu falar”. Quando chegou a minha vez exibi foto dele que dona Marília me tinha enviado com a carta, era uma foto muito antiga tirada nos anos sessenta que, talvez por isso, era capaz de não ajudar nada, o Tô hoje deve ter mais ou menos a minha idade, mas pronto, deixei a foto e a filiação dele, e acrescentei que ele devia de estar na província da Huíla, e a única forma de eu puder ser contactodo caso alguém soubesse do Tô era só memso na portária da Rádio. Pessoas que estvam por perto ainda se admiraram por um preto vir procurar paradeiro de um branco, por isso me olharam só dessas – as dúvidas. Sei que a foto dele passou várias vezes no Nação Coragem e depois, cerca de quarenta dias após minha ida no Ponto de Encontro, a Rádio pela mesma via mandou-me chamar: o Tô manel tinha morrido naufragado ao largo sudoeste da africano.[…]
— Noites de Vigília, de Boaventura Cardoso
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Noites de Vigília, de Boaventura Cardoso
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“[…] Depois de algum tempo, de ter perguntado pelo Tô Manel a várias pessoas, lembrei-me de ir tentar a sorte no ponto de encontro. Meti-me na bicha e fui escutando os apelos que as pessoas iam fazendo em busca dos seus familiares: “me chamo Fololinda Gouveia, estou a precurar meu filho que desapareceu em oitenta e nove, nome dele mais conhecido é Joãozinho Gouveia, peço só nas pessoas que estão a me ouvir favor só de lhe falarem que mãe dele está lhe precurar, moro no Cazenga”; “Meu nome é André Sapanjo, estou a precurar minha mulher que fugiu com outro homem em noventa e dois, uma grande cabra!, perdão!, não era isso que queria dizer, faz só favor de cortar nesta parte, cabra era no antigamente, agora que estou com a palavra do Senhor no coração não lhe posso chamar nem de cabra nem de puta, ai! ai! ai!, corta, corta, corta só também nesta palavra de puta que é muito feia, já cortou?, hã, ok…, nome dela da minha santinha é Madalena, quero que ela volta, volta só mana Lena, minha fofinha, agora estou bem na vida, mijo forte, tenho carros nas lundas, aqui em Luanda tenho várias lojas e carros, vou te dar cama e mesa, vais ver só no amor que vou te dar, moro na Mabor!”; “Meu nome que me pusseram com ele no baptismo é Mana Maria Teresinha do Menino Jesus, diga?, juro mesmo é esse nome que me pusseram com ele!, me chamam também mana Teté, estou só a precurar no pai das crianças que ele me deixou quando quando foi na tropa em oitenta e nove, o nome dele?, o nome dele mesmo é Zeca, Zeca quê?, Zeca só!, o outro nome dele nunca lhe perguntei, mas está aqui foto dele, peço só para me falarem onde é que ele está, vivo ou morto!, Zeca vem só na casa, as crianças estão te chorar todos dias!, moro no Golfe perto da paragem dos autocarros.” Uma velha, de panos, falando umbundo, olhava atentamente para cãmera da TPA que fazia o registo dos apelos e gesticula como se estivesse a ver a imagem da pessoa que procurava reflectida no olhp da câmera: “ Onde é que andas meu Neto?, desde que foste na tropa não voltaste mais porquê?, te mataram nos bandidos ou quê?, fala só meu neto, fala, não faz mais sofrer na tua mãe e na tua avó, ouviste? Vem só na casa, estamos a morar na mesma casa aqui em Luanda, ele me ouviu né?, só logo a noite no Nação Coragem?, não faz mal, mas tenho certeza que está hora ele já me viu falar”. Quando chegou a minha vez exibi foto dele que dona Marília me tinha enviado com a carta, era uma foto muito antiga tirada nos anos sessenta que, talvez por isso, era capaz de não ajudar nada, o Tô hoje deve ter mais ou menos a minha idade, mas pronto, deixei a foto e a filiação dele, e acrescentei que ele devia de estar na província da Huíla, e a única forma de eu puder ser contactodo caso alguém soubesse do Tô era só memso na portária da Rádio. Pessoas que estvam por perto ainda se admiraram por um preto vir procurar paradeiro de um branco, por isso me olharam só dessas – as dúvidas. Sei que a foto dele passou várias vezes no Nação Coragem e depois, cerca de quarenta dias após minha ida no Ponto de Encontro, a Rádio pela mesma via mandou-me chamar: o Tô manel tinha morrido naufragado ao largo sudoeste da africano.[…]
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Boaventura Cardoso
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É que o meu mundo é mental, talvez ele dissesse, se fosse mais velho. Um filho é a ideia de um filho; uma mulher é a idea de uma mulher. As vezes as coisas coincidem com a ideia que fazemos delas; às vezes não. Quase sempre não, mas aí o tempo já passou, e então nos ocupamos de coisas novas, que se encaixam em outra família de ideias.
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Cristovão Tezza (O Filho Eterno)
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No dia em que nasci, as pessoas da nossa aldeia tiveram pena de minha mãe, e ninguém deu os parabéns a meu pai."
"Nasci menina num lugar onde rifles são disparados em comemoração a um filho, ao passo que as filhas são escondidas atrás de cortinas, sendo seu papel na vida apenas fazer comida e procriar. Para a maioria dos pachtuns, o dia em que nasce uma menina é considerado sombrio."
Yousafzai, Malala. Eu sou Malala: A história da garota que defendeu o direito à educação e foi baleada pelo Talibã (Locais do Kindle 149-151). Companhia das Letras. Edição do Kindle.
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Malala Yousafzai (I Am Malala: The Story of the Girl Who Stood Up for Education and Was Shot by the Taliban)
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Fêmea. Esse rótulo nunca fez nada por mim a não ser ditar o que posso e não posso fazer. Não ir a qualquer lugar sem permissão. Não mostrar pele demais. Não falar alto demais nem de forma brusca demais, ou mesmo falar, se os homens estiverem conversando. Não viver a vida sem estar constantemente preocupada se estou agradável ou não aos olhos dos outros. Nenhum futuro a não ser expelir filho após filho para um marido, ou morrer em uma crisálida para dar a algum rapaz a chance de alcançar a glória.
É como se eu estivesse dentro de um casulo apertado demais para tudo que sou. Se as coisas fossem do meu jeito, eu existiria como aquela borboleta, sem dar aos passantes uma oportunidade fácil para me limitarem com um simples rótulo.
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Xiran Jay Zhao (Iron Widow (Iron Widow, #1))
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Tenho um amigo cuja companheira, Rosa, era babá para uma família chique do 16º arrondissement de Paris. Mas ela quer ser professora de espanhol. Ela deixa essa família, anunciando sua decisão. Infelizmente seu projeto profissional vai por água abaixo e ela precisa voltar a ser babá. Ela encontra uma nova família em busca de alguém, mas que gostaria de conversar com a família anterior para saber como Rosa se comporta com as crianças, conhecer suas «referências». Ela não pode telefonar para a família que ela abandonou dizendo que está prestes a começar um novo trabalho. Meu amigo me liga para pedir que eu interprete, ao telefone, a mãe da família do 16º. Eu nego — sou péssima atriz. É finalmente Lila, uma outra amiga, que faz o papel ao telefone e que mantém esse diálogo improvável: ela é mãe em uma família com muitos filhos que vive no 16º arrondissement, ela descreve a vida deles, as atividades das crianças, dá detalhes, agrada a interlocutora. Ela entra no jogo dessa vida que ela não tem e que inventa durante a conversa. Na vida, Lila faz filmes que tomam o real de empréstimo, mas que se parecem com ficções. Ao inserir cenas escritas e interpretadas em situações reais, ela busca produzir emoções que os métodos do documentário não conseguiriam obter sozinhos. Essa mistura reorganiza as relações sociais ou joga luz sobre elas de um jeito diferente. Seus personagens desempenham frequentemente atitudes combativas, que recusam as determinações. Essa história de babá é interessante pois coloca Lila em uma situação de escrita e de jogo que ela conhece bem, em que a palavra é colocada numa partilha entre realidade e ficção, abrindo assim pistas políticas. No
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Clara Schulmann (Cizânias - Vozes de mulheres (Portuguese Edition))
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Ando sem saber aonde vou, se para a luz radiante ou para a vergonha imensa. Eis o mal, pois tudo é mistério neste mundo. Quando eu estava mergulhado na mais profunda degradação (e quase sempre estive mergulhado), sempre li e reli esses versos sobre Ceres e a miséria humana. Eles me corrigiram? Não! Porque eu sou um Karamázov. Porque, quando caio no abismo, caio de cabeça, de propósito; até me agrada cair assim: vejo beleza nessa queda. E no meio da vergonha eu canto um hino. Sou mau, vil e degradado, mas beijo a ponta do
manto em que se envolve o meu Deus; sou o caminho do mal, mas também sou Seu filho, Senhor, e O amo, sinto a alegria sem a qual o mundo não poderia existir.
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Fyodor Dostoevsky (The Brothers Karamazov)
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(...) As birras foram rareando cada vez mais. E ele começou de novo a gostar do «normal». Foi aí que percebi como tínhamos falhado naquele ponto de viragem para ti. Não insistimos. Não aceitámos o mau e não tivemos paciência suficiente para esperar o regresso do bom. E, por isso, peço muita desculpa. Não foi justo o que te aconteceu nem o modo como lidámos com isso. Mas, graças a ti, pude ser uma mãe melhor para o meu filho, quando ele mais precisou de mim.
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Lucy Score (Things We Hide from the Light (Knockemout, #2))
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[...] quando da invasão da baía dos Porcos, em 1961. Estella Menendez, funcionária pública, hoje com 45 anos, conta como se incorporou às milícias populares que foram a baía: "Eu era recém-casada, tinha um bebê de poucos meses. Entreguei meu filho à mãe de meu marido — ele já lutava na praia Girón —, peguei uma metralhadora e fui para a luta. Como eu, milhares de mulheres fizeram o mesmo. [...] em 72 horas o ataque mercenário foi dominado por nós — o Exército e o povo.
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Fernando Morais (A Ilha)
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meu filho: da mesma maneira que você é o motivo do meu maior cansaço quando a noite chega, no dia seguinte, quando o Sol nasce, é você o motivo da minha maior força para levantar.
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Thaís Vilarinho (Mãe fora da caixa (Portuguese Edition))
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— Sabe que dia é hoje, mãe? — Que dia, meu filho? — Dia vinte de setembro. Faz um ano que a revolução começou. D. Ana olhou as mãos caídas sobre o colo, lívidas. Fazia um ano. Um ano inteiro de ansiedades e esperas. — A gente aprende a não sentir o tempo, meu filho. Senão, acaba enlouquecendo.
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Leticia Wierzchowski (A casa das sete mulheres)
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Primeira: “O que você fez com meu Filho, Jesus Cristo?”.
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Rick Warren (Uma vida com propósitos: Para que estou na terra? (Portuguese Edition))
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Consolo na Praia
Vamos, não chores.
A infância está perdida.
A mocidade está perdida.
Mas a vida não se perdeu.
O primeiro amor passou.
O segundo amor passou.
O terceiro amor passou.
Mas o coração continua.
Perdeste o melhor amigo.
Não tentaste qualquer viagem.
Não possuis carro, navio, terra.
Mas tens um cão.
Algumas palavras duras,
em voz mansa, te golpearam.
Nunca, nunca cicatrizam.
Mas, e o humour?
A injustiça não se resolve.
À sombra do mundo errado
murmuraste um protesto tímido.
Mas virão outros.
Tudo somado, devias
precipitar-te, de vez, nas águas.
Estás nu na areia, no vento...
Dorme, meu filho.
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Carlos Drummond de Andrade (A Rosa do Povo)
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Falarei do decreto do Senhor; ele me disse: Tu és meu Filho, hoje te gerei. 8 Pede-me, e eu te darei as nações por herança, e as extremidades da terra por possessão. 9 Tu os quebrarás com uma vara de ferro; tu os despedaçarás como a um vaso de oleiro.
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Zeiset (A Bíblia Sagrada: Almeida Atualizada)
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— Ando meio indeciso sobre o que fazer. — Bom — o velho pigarreou e bateu a bengala no chão levemente —, o certo sempre vai ser o certo. Naveen suspirou antes de responder. — É muita responsabilidade, me sinto de mãos atadas. — Nesse caso — ele levou a mão com uma mancha branca em espiral até os cabelos grisalhos crespos e coçou a cabeça —, ou você tá de mão atada pra não fazer o que é errado... Ou — ele fez uma pausa — tem algo segurando você de fazer o que é correto. Prendendo pra não evoluir e ser uma pessoa melhor. Se for o primeiro caso, espero que suas mãos continuem muito bem presas, o mundo já tem muita ruindade. — Ele fez uma careta que tirou uma risada de Naveen — Agora... Se for o segundo caso, o que esse velho pode dizer pra você é que vai ser difícil no começo. Nunca é fácil tirar as amarras que nos colocam e ficam nos segurando por anos e anos. E mesmo depois que finalmente se livrar delas, você vai sentir as marcas ardendo e pressionando a pele por um tempo, porque alguns aprendizados, meu filho, demoram.
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Carol Camargo (Um Amigo do Outro Lado)
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Depois de ouvir todo tipo de ameaça e declarações degradantes, comecei a perder grande parte da conversa entre os árabes e seus cúmplices americanos, e a certa altura mergulhei em meus pensamentos. Tinha vergonha de que meu povo estivesse sendo usado para esse horrível trabalho por um governo que afirma ser o líder do mundo livre democrático, um governo que prega contra a ditadura e “luta” pelos direitos humanos e manda seus filhos para a morte por esse objetivo: que peça esse governo prega em seu próprio povo!
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Mohamedou Ould Slahi (Guantánamo Diary: Restored Edition)
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é que você realmente quer? Ele respondeu: “Quero que meu filho acorde feliz, seco e orgulhoso de si, não envergonhado.” Acrescentamos: Ótimo. Tendo esse tipo de pensamento, o que está vindo de você estará em harmonia com o que quer, não em desarmonia. E você também estará influenciando seu filho de forma mais positiva e poderosa. Assim, você dirá coisas como “Ah, isso faz parte do crescimento. Todos nós passamos por essa fase. Você está crescendo e logo vai resolver isso. Agora saia da cama e entre no banho”. O jovem pai nos telefonou poucas semanas depois dizendo que o filho não molhava mais a cama. Como vê, é simples. Quando você se sente mal, está no processo de atrair algo que o desagrada, porque está concentrado na falta daquilo que deseja. O processo de Colocar nos Eixos é a decisão consciente de identificar o que você deseja. A emoção negativa é útil, porque pode alertar para o fato de você estar atraindo o negativo. É como uma sirene. É parte do
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Esther Hicks (Peça e será atendido: Aprendendo a manifestar seus desejos)
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Meu filho Bruno, hoje com 20 anos, também me deu um belo exemplo de capacidade de superação. Ele estava treinando com a seleção brasileira juvenil e uma noite me ligou dizendo que havia sido cortado da equipe. Pedia que eu lhe conseguisse uma carona para voltar para casa, pois não queria passar mais aquela noite na concentração. Fiquei com o coração partido ao ouvi-lo triste. Na manhã seguinte fui acordá-lo. Ele, com a expressão cansada por sua primeira noite de insônia, me disse: “Pai, se o técnico me der uma segunda oportunidade na seleção, garanto que ele não vai conseguir me cortar.” Nesse momento percebi quanto Bruno havia amadurecido e como usaria aquela decepção como motivação para conquistar seus objetivos. Deu certo. No ano seguinte ele disputaria seu primeiro Campeonato Mundial Juvenil pelo Brasil.
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Bernardinho (Transformando Suor Em Ouro)
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A coisa que eu mais quero é ter a certeza de que meu namorado Rob saiba que por mim foi o mais amado, meus filhos Beto, Juca e Tui os mais bem-vindos, minha neta Ziza a mais aguardada, meus bichos os mais adorados, meus amigos (que conto numa mão só) os mais reconhecidos, minhas gavetas as mais arrumadinhas. A sorte de ter sido quem sou, de estar onde estou, não é nada se comparada ao meu maior gol: sim, acho que fiz um monte de gente feliz.
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Rita Lee (Rita Lee: Uma Autobiografia)
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- ... Meu filho, as especiarias têm o poder de transformar o simples ato de comer no maior dos prazeres, de converter algo tão rotineiro como a comida num luxo ao alcance dos poucos.
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Luis Zueco (O Mercador de Livros)
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É neste dia que acaba o meu romance com meu marido. O antigo sentimento ficou com aquelas queridas recordações para as quais não havia mais que apelar e um sentimento de um novo amor por meus filhos e pelo pai de meus filhos inaugurou o início de uma outra existência, feliz de um outro modo, e que ainda não esgotei na hora presente, convencida de que a realidade da felicidade está no lar e nas puras alegrias de família.
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Leo Tolstoy (A Felicidade Conjugal [com índice ativo] (Portuguese Edition))
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Para mim, não é nada agradável viver na cidade. Meu pensamento lá fica irrequieto e meu peito apertado. Não durmo bem, só como coisas estranhas e vivo com medo de ser atropelado por um carro! Nunca consigo pensar com calma. É um lugar que realmente provoca muita aflição. Os brancos pedem dinheiro para tudo o tempo todo, até para beber água e urinar! Aonde quer que se vá, há uma multidão de gente que se apressa para todos os lados sem que se saiba por quê. Anda-se depressa no meio de desconhecidos, sem parar e sem falar, de um lugar para outro. A vida dos brancos que se agitam assim o dia todo como formigas xiri na parece triste. Eles estão sempre impacientes e temerosos de não chegar a tempo a seus empregos ou de serem despedidos. Quase não dormem e correm sonolentos durante o dia todo. Só falam de trabalho e do dinheiro que lhes falta. Vivem sem alegria e envelhecem depressa, sempre atarefados, com o pensamento vazio e sempre desejando adquirir novas mercadorias. Então, quando seus cabelos ficam brancos, eles se vão e o trabalho, que não morre nunca, sobrevive sempre a todos. Depois, seus filhos e netos continuam fazendo a mesma coisa.
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Davi Kopenawa (The Falling Sky: Words of a Yanomami Shaman)