Esta Frio Quotes

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Onde é que dói na minha vida, para que eu me sinta tão mal? quem foi que me deixou ferida de ferimento tão mortal? Eu parei diante da paisagem: e levava uma flor na mão. Eu parei diante da paisagem procurando um nome de imagem para dar à minha canção. Nunca existiu sonho tão puro como o da minha timidez. Nunca existiu sonho tão puro, nem também destino tão duro como o que para mim se fez. Estou caída num vale aberto, entre serras que não têm fim. Estou caída num vale aberto: nunca ninguém passará perto, nem terá notícias de mim. Eu sinto que não tarda a morte, e só há por mim esta flor; eu sinto que não tarda a morte e não sei como é que suporte tanta solidão sem pavor. E sofro mais ouvindo um rio que ao longe canta pelo chão, que deve ser límpido e frio, mas sem dó nem recordação, como a voz cujo murmúrio morrerá com o meu coração...
Cecília Meireles
sim vou ter frio sinto que vou ter frio sinto já que vou ter esta noite frio do corpo que me corta sinto já o frio do corpo sinto o meu corpo frio sinto o meu frio corpo frio do frio que me faz suar frio do corpo só com frio de respirar de esperar frio de esperar por nada frio de nada frio de mim sim frio do não quando me olho na indiferença dos outros
Almeida Faria (Rumor Branco)
Que história é essa, perguntou o comandante, A história de uma vaca, As vacas têm história, tornou o comandante a perguntar, sorrindo, Esta, sim, foram doze dias e doze noites nums montes da galiza, com frio, e chuva, e gelo, e lama, e pedras como navalhas, e mato como unhas, e breves intervalos de descanço, e mais combates e investidas, e uivos, e mugidos, a história de uma vaca que se perdeu nos campos com a sua cria de leite, e se viu rodeada de lobos durante doze dias e doze noites, e foi obrigada a defender-se e a defender o filho, uma longuíssima batalha, a agonia de viver no limiar da morte, um círculo de dentes, de goelas abertas, de arremetidas bruscas, as cornadas que não podiam falhar, de ter de lutar por si mesma e por uma animalzinho que ainda não se podia valer, e também aqueles momentos em que o vitelo procurava as tetas da mãe, e sugava lentamente, enquanto os lobos se aproximavam, de espinhaço raso e orelhas aguçadas. Subhro respirou fundo e prosseguiu, Ao fim dos doze dias a vaca foi encontrada e salva, mais o vitelo, e foram levados em triunfo para a aldeia, porém, porém o conto não vai acabar aqui, continuou por mais dois dias, ao fim dos quais, porque se tinha tornado brava, porque aprendera a defender-se, porque ninguém podia já dominá-la ou sequer aproximar-se dela, a vaca foi morta, mataram-na, não os lobos que em doze dias vencera, mas os mesmos homens que a haviam salvo, talvez o próprio dono, incapaz de compreender que, tendo aprendido a lutar, aquele antes conformado e pacífico animal não poderia parar nunca mais.
José Saramago (A Viagem do Elefante)
Na margem do rio Piedra... Eu me sentei e chorei. Conta a lenda que tudo que cai nas águas deste rio - as folhas, os insetos, as penas das aves - se transforma nas pedras do seu leito. Ah, quem dera eu pudesse arrancar o coração do meu peito e atira-lo na correnteza, e então não haveria mais dor, nem saudade, nem lembranças. Ás margens do rio Piedra eu me sentei e chorei. O frio do inverno fez com que eu sentisse as lágrimas em meu rosto, e elas se misturaram com as aguas geladas que correm diante de mim. Em algum lugar este rio se junta com outro, depois com outro, até que - distante dos meus olhos e do meu coração - todas estas águas se misturam com o mar. Que as minhas lágrimas corram assim para bem longe, para que meu amor nunca saiba que um dia chorei por ele. Que minhas lágrimas corram para bem longe, e então eu esquecerei do rio Piedra, do mosteiro, da igreja nos Pirineus, da bruma, dos caminhos que percorremos juntos. Eu esquecerei as estradas, as montanhas, e os campos de meus sonhos - sonhos que eram meus, e que eu não conhecia.
Paulo Coelho (A orillas del rio piedra me senté y lloré)
tenho de me refazer continuamente com o que ainda há: estas palavras cujo sentido é o de serem suporte de outras palavras, e através das quais choro, perco-me, amo, reencontro-me. São elas que me dão peso, nestes tempos frios em que preciso de me orientar no interior de uma solidão que me afugenta como uma doença contagiosa. Porque não tenho nenhum dos sinais medonhos da proximidade: família, a eficácia dos gestos, a contabilidade do mundo. Eu, que me julguei corajoso, devia ter a coragem de desistir, para que não te degrades. No entanto, o que vai acontecer, é a tua progressiva destruição, até não seres mais do que um resíduo.
Rui Nunes
Além disso, ele reconhecia que a caridade era a melhor instituição do Estado. Quanto ao pauperismo, tinha-o como uma fatalidade social: fossem quais fossem as reformas sociais, dizia, haveria sempre pobres e ricos: a fortuna pública deveria estar naturalmente toda nas mãos de uma classe, da classe ilustrada, educada, bem nascida. Só deste modo se podem manter os Estados, formar as grandes indústrias, ter uma classe dirigente forte, por possuir o ouro e base da ordem social. Isto fazia necessariamente que parte da população "tiritasse de frio e rabiasse de fome". Era certamente lamentável, e ele, com o seu grande e vasto coração que palpitava a todo o sofrimento, lamentava-o. Mas a essa classe devia ser dada a esmola com método e discernimento: - e ao Estado pertencia organizar a esmola. Porque o Conde censurava muito a caridade privada, sentimental, toda de espontaneidade. A caridade devia ser disciplinada, e, por amor dos desprotegidos regulamentada: por isso queria o Asilo, o Recolhimento dos Desvalidos, onde os pobres, tendo provado com bons documentos a sua miséria, tendo atestado bons atestados de moralidade, recebessem do Estado, sob a superintendência de homens práticos e despidos de vãs piedades, um tecto contra a chuva e um caldo contra a fome. O pobre devia viver ali, separado, isolado da sociedade, e não ser admitido a vir perturbar com a expressão da sua face magra e com narração exagerada das suas necessidades, as ruas da cidade. "Isole-se o Pobre!" dizia ele um dia na Câmara dos Deputados, sintetizando o seu magnifico projecto para a criação dos Recolhimentos do Trabalho. O Estado forneceria grandes casarões, com celas providas de uma enxerga, onde seriam acolhidos os miseráveis. Para conseguir a admissão, deveriam provar serem maiores de idade, haverem cumprido os seus deveres religiosos, não terem sido condenados pelos tribunais (isto para evitar que operários de ideias suversivas que, pela greve e pelo deboche, tramam a destruição do Estado, viessem em dia de miséria, pedir a esse mesmo Estado que os recolhesse). Deveriam ainda provar a sobriedade dos seus costumes, nunca terem vivido amancebados nem possuírem o hábito de praguejar e blafesmar. Reconhecidas estas qualidades elevadas com documentos dos párocos, dos regedores, etc.; seria dada a cada miserável uma cela e uma ração de caldo igual à que têm os presos.
Eça de Queirós (O Conde d'Abranhos / A Catástrofe)
Já estava acostumado aos amputados, às vitimas do agente laranja, aos famintos, pobres, garotos de rua de seis anos de idade que você encontra às três da madrugada gritando "Feliz ano novo! Olá! Bye-Bye!" em inglês, e depois aponta para suas bocas e faz "bum bum?". Estou ficando quase indiferente aos garotos famintos, sem pernas, sem braços, cobertos de cicatrizes, desesperançados, dormindo no chão, em triciclos, na beirada do rio. Mas não estava preparado para o homem sem camisa, com um corte de cabelo a la forma de pudim, que me detém na saída do mercado, estendendo a mão. No passado ele sofreu queimaduras e tornou-se uma figura humana quase irreconhecível, a pele transformada numa imensa cicatriz sob a coroa de cabelos pretos. Da cintura para cima (e sabe Deus até onde), a pele é uma cicatriz só; ele não tem lábios, nem nariz, nem sobrancelha. Suas orelhas são como betume, como se tivesse mergulhado e moldado num alto-forno, sendo retirado pouco antes de derreter por completo. Mexe seus dentes como uma abóbora de Halloween, mas não emite um único som através do que foi um dia, uma boca. Sinto um murro no estômago. Minha animação exuberante dos dias e horas anteriores desmorona. Fico paralisado, piscando e pensando na palavra napalm, que oprime cada batida do meu coração. De repente nada mais é divertido. Sinto vergonha. Como pude vir até esta cidade, até este país por razões tão fúteis, cheio de entusiasmo por algo tão...sem sentido, como sabores, texturas, culinária? A famíla daquele homem deve ter sido pulverizada, ele mesmo transformado num boneco desgraçado, como um modelo de cera de madame Tussaud, a pele escorrendo como vela pingando. O que estou fazendo aqui? Escrevendo um livro de merda? Sobre comida? Fazendo um programinha leve e inútil de tevê, um showzinho de bosta? A ficha caiu de uma vez e fiquei me desprezando, odiando o que faço e o fato de estar ali. Imobilizado, piscando nervosamente e suando frio, sinto que todo mundo na rua está me observando, que irradio culpa e desconforto, que qualquer passante vai associar os ferimentos daquele homem a mim e ao meu país. Dou uma espiada nos outros turistas ocidentais que vagueiam por ali com suas bermudas da Banana Republic e suas camisas pólo da Land´s End, suas confortáveis sandálias Weejun e Bierkenstock, e sinto um desejo irracional de assassiná-los. Parecem malignos, comedores de carniça. O Zippo com a inscrição pesa no meu bolso, deixou de ser engraçado, virou uma coisa tão pouco divertida quanto a cabeça encolhida de um amigo morto. Tudo o que comer terá gosto de cinzas daqui pra frente. Fodam-se os livros. Foda-se a televisão. Nem mesmo consigo dar algum dinheiro ao coitado. Tenho as mãos trêmulas, estou inutilizado, tomado pela paranoia, Volto correndo ao quarto refrigerado do New World Hotel, me enrosco na cama ainda desfeita, fico olhando para o teto com os olhos cheios de lágrimas, incapaz de digerir ou entender o que presenciei e impotente para fazer qualquer coisa a respeito. Não saio nem como nada pelas 24 horas seguintes. A equipe de tevê acha que estou tendo um colapso nervoso. Saigon...Ainda em Saigon. O que vim fazer no Vietnã?
Anthony Bourdain (A Cook's Tour: Global Adventures in Extreme Cuisines)
Seu tio lhe bateu com o cabo da vassoura porque achou que ele não tinha limpado a varanda. Sua mãe preparava o jantar como se nada tivesse acontecido, o silêncio dela era cortante, frio. No entanto, e é importante observar esta mudança, durante a surra Ed não chorou. Agora, sozinho no quarto, ele percebeu que apanhar lhe doía cada dia menos, seu corpo estava ganhando resistência. Sorriu, orgulhoso, afinal não era pouco o que ele tinha que suportar. Ficou
Aline Bei (Pequena coreografia do adeus)
 EL PERDON Hoy día hay muchas parejas, que se reclaman, se exigen, se dicen cara a cara cosas como retándose, a fin de cuentas se están acusando uno a otro, entonces que es lo que pasa, es que quizá ya se olvidaron de “amarse los unos a los otros”, pareciera como si ahora fuera “reclámense los unos a los otros”, entonces necesitamos fijarnos en poner atención cada vez de que decimos algo, si lo que estamos diciendo con nuestras propias palabras son para amar a nuestra pareja, son para juzgarla o para criticarla, también en ocasiones son palabras para hacer sentir mal y no nos damos cuenta, esto es sencillo cada vez que hable con su pareja, pregúntese usted mismo ¿Qué fue lo que hable?, ¿Qué fue lo que dije?, ¿Qué fue lo que provocaron mis palabras?, dieron como resultado amor o enojo, muchas veces hablamos y decimos algo que ofendió y no nos dimos cuenta, pero observe este ejemplo si al carbón se le agrega fuego esto producirá calor, sería tonto pensar que esta combinación produciría frio o hielo, dependiendo de lo que diga o como lo diga producirá algo bueno o malo, si no produce lo que quiere es porque está esperando que una combinación de fuego y carbón produzca frio, es que dirá es que yo no digo nada mal, entonces porque tiene el resultado que tiene.
Raul Almanza (LAS SOLUCIONES PARA PROBLEMAS DEL MATRIMONIO: Una guía para parejas antes y después de iniciar una relación (Spanish Edition))
Há uma literatura para quando se está aborrecido. Abunda. Há uma literatura para quando está calmo. Esta é a melhor literatura, acho. Também há uma literatura para quando se está triste. E há uma literatura para quando se está alegre. Há uma literatura para quando se está ávido de conhecimento. E há uma literatura para quando se está desesperado. oi esta última que Ulisses Lima e Belano quiseram fazer. Grave erro, como se observará a seguir. Tomemos, por exemplo, um leitor médio, um tipo tranquilo, culto, de vida mais ou menos sadia, maduro. Um homem que compra livro e revistas de literatura. Bem, aí está. Esse homem pode ler aquilo que se escreve para quando se está sereno, para quando se está calmo, mas também pode ler qualquer outra classe de literatura, com o olhar crítico, sem cumplicidades absurdas ou lamentáveis, com desapaixonamento. É o que eu acho. Não quero ofender ninguém. Agora, pensemos no leitor desesperado, aquele a quem presumivelmente é dirigida a literatura dos desesperados. Quem é ele? Primeiro; é um leitor adolescente ou um adulto imaturo, acovardado, com os nervos à flor da pele. É o típico babaca (perdoem a expressão) que se suicidaria depois de ler Werther. Segundo: é um leitor limitado. Por que limitado? Elementar, porque só pode ser literatura desesperada ou para desesperados, dá na mesma, um tipo ou um exemplo, A montanha mágica (em minha modesta opinião, um paradigma da literatura tranquila, serena, completa) ou, já que aqui estamos, Os miseráveis, ou Guerra e Paz. Acho que fui bem claro, não? (...) E mais: os leitores desesperados são como as minas de ouro da Califórnia. Mais cedo do que se espera eles se esgotam! Por quê? É evidente! Não se pode viver desesperado a vida inteira, o corpo acaba se dobrando, a dor acaba se tornando insuportável, a lucidez se esvai em grandes jorros frios.
Roberto Bolaño
CXLIV Fechado numa autoridade imaginável Qual crisálida em plena mutação Seu governo viciado, inviável Caminhava ao sabor da ondulação…! Como num rio outrora navegável As velhas tágides choravam a Nação! Deixando de cantar em seu alegre rio Por suas águas notarem um rígido frio.
José Braz Pereira da Cruz (Esta é a Ditosa Pátria Minha Amada)
Nunca ouviram falar do louco que acendia uma lanterna em pleno dia e desatava a correr pela praça pública, gritando sem cessar: «Procuro Deus! Procuro Deus!» Mas como havia ali muitos daqueles que não acreditam em Deus, o seu grito, provocou grande riso. «Ter-se-á perdido, como uma criança?», dizia um. «Estará escondido? Terá medo de nós? Terá embarcado? Terá emigrado?» Assim gritavam e riam todos ao mesmo tempo. O louco saltou no meio deles e trespassou-os com o olhar. «Para onde foi Deus?», exclamou, «é o que lhes vou dizer. Matámo-lo... vocês e eu! Somos nós, nós todos, que somos os seus assassinos! Mas como fizemos isso? Como conseguimos esvaziar o mar? Quem nos deu uma esponja para apagar o horizonte inteiro? Que fizemos quando desprendemos a corrente que ligava esta terra ao Sol? Para onde vai ela agora? Para onde vamos nós próprios? Longe de todos os sóis? Não estaremos incessantemente a cair? Para diante, para trás, para o lado, para todos os lados? Haverá ainda um acima, um abaixo? Não estaremos errando através de um vazio infinito? Não sentiremos na face o sopro do vazio? Não fará mais frio? Não aparecem sempre noites, cada vez mais noites?
Friedrich Nietzsche
Helen não se lembrava de quando tinha chorado pela última vez, e agora fazia-o por razões que a princípio não compreendeu. A parte de si que não estava afetada pela dor percebia que seria natural chorar a morte de um progenitor, e quase chegou a pensar que as suas lágrimas eram o resultado de um reflexo inato que, em boa verdade, não envolvia as suas emoções. Esta mesma parte de si experimentava uma clara sensação de alívio por saber que o pai, com os seus dogmas inflexíveis e a sua penosa loucura, tinha desaparecido. Mas para onde tinha ido? E, com esta pergunta, a tristeza submergiu-a por completo. Podia ter sido vítima de fogo de artilharia ou de uma bala perdida; podia ter morrido de frio; podia ter sucumbido à fome. Mas também podia estar vivo, um idiota balbuciante deambulando pelos campos ou mendigando por cidades cujas línguas sabia falar. Ou podia, de algum modo, ter recuperado e constituído uma nova família, atribuindo a confusa recordação que tinha da sua filha a uma das alucinações que o haviam atormentado durante a doença. No sentido mais absoluto, Helen tinha perdido o pai.
Hernan Diaz (Trust)
La ruptura con el mundo heteosexual que marca rumbo hacia el lesbianismo como un lugar de llegada, limpio de conflicto, libre de daño, reverbera en ciertas aproximaciones la trayectoria política de la propuesta separatista del lesbofeminismo. Por otro lado, cabe decir que en nuestra ciudad, esta narrativa levanta por bandera a Las Guerrilleras de Wittig como un horizonte político ficcional, en una lectura de la obra que desdibuja los posicionamientos de la autora y arma en torno a esa ficción una mítica del lesbianismo separatista, donde Las Guerrilleras son cuerpos con vulvas y no cuerpos desviados sin importar sus genitales. Me pregunto, por qué recurrimos de manera casi obsesiva a metáforas como la isla de Lesbos, al lesbianismo como un barrio, las lesbianas como una comunidad. ¿Qué afectos políticos tienen esas ficciones en nuestro hacer activista? ¿Qué paños frios en nuestras incomodidades pretendemos encontrar en la endogamia? ¿Qué tranquilidad les regala a nuestras conciencias la sensación de conocernos entre todas?
VIto Balski (Cortar cebollas)
Você conheceu algum poema-veneno que faria explodir minha prisão num maço de miosótis? Uma arma que mataria o rapaz perfeito que mora em mim e me obriga a asilar todo um aglomerado de animais? As andorinhas se aninham debaixo de seus braços. Aí elas construíram um ninho de terra seca. Lagartas de veludo cor de tabaco mesclam-se nos cachos dos seus cabelos. Sob seus pés um enxame de abelhas, e ninhadas de víboras atrás dos seus olhos. Nada o emociona. Nada o perturba a não ser as meninas fazendo a primeira comunhão, pondo a língua para o padre, ajuntando as mãos, baixando os olhos. Faz frio como na neve. Sei que ele é sorrateiro. O ouro mal o faz sorrir, mas se ele sorrir, terá a graça dos anjos. Que cigano seria suficientemente veloz para livrar-me dele com um punhal inevitável? É necessário velocidade, uma boa pontaria, uma bela indiferença. E... o assassino ocupou seu lugar. Voltou esta manhã de uma volta pelas espeluncas onde viu marinheiros, putas, uma delas deixou no seu rosto o traço de uma mão sangrenta. Ele pode partir para bem longe mas é fiel como um pombo. Outra noite, uma velha atriz colocou uma camélia na sua lapela. Eu quis amassá-la: as pétalas caíram sobre o tapete (mas que tapete? Minha cela é pavimentada de pedras achatadas) em grossas gotas de água transparentes e mornas. Agora, apenas ouso olhar para ele, pois meus olhos atravessam sua carne de cristal e estes ângulos rígidos perfazem tantos arcos-íris que eis por que choro. Fim. Pode não parecer grande coisa para vocês, mas este poema me aliviou. Eu o caguei.
Jean Genet (Our Lady of the Flowers)