Bom Dia Quotes

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Se tens um coração de ferro, bom proveito. O meu, fizeram-no de carne, e sangra todo o dia.
José Saramago
Óóó. É sempre bom abandonar alguém que diz que gostaria de ver você de novo, porque inevitavelmente chegaria o dia em que você ia ter que abandonar essa pessoa porque ela não quer ver você de novo.
Irvine Welsh (Porno (Mark Renton, #3))
Bom dia, tristeza Que tarde, tristeza Você veio hoje me ver Já estava ficando Até meio triste De estar tanto tempo Longe de você
Vinicius de Moraes
Eu e Antônio estamos casados há vinte e seis anos. Nem sempre é bom, nem sempre é ruim. Desconheço a balança que mede isso. É o que é, aceito, rejeito, mas não escolho mais tirar de mim esse amor entranhado, pertence a lugares em mim que não mando mais. Não fico tomando conta, podia ser assim, podia ser assado, medindo com régua o que falta. Não quero viver sem Antônio, me caso todos os dias com ele, acordo e caso, depois faço o café. Tem dia que ele tá chato de doer, largo pra lá, vai ser chato longe de mim e pronto. Ele melhora sozinho, depois piora e torna a melhorar, e a gente vai assim tomando distância e diminuindo distância. Caminhando.
Carla Madeira (Tudo é rio)
- Seja que dia for, é bom voltar. Voltar, agora que temos paz... Sem desviar os olhos da penerira, Hanifa Assulua reclamou, em surdina. Eu falava da Paz? Qual Paz? - Talvez para eles, os homens - disse. - Porque nós, mulheres, todas as manhãs continuamos a despertar para uma antiga e infindável guerra.
Mia Couto (A Confissão da Leoa)
Por isso na beleza do dia Pirulito mira o céu com os olhos crescidos de medo e pede perdão a Deus tão bom (mas não tão justo também…) pelos seus pecados e os dos Capitães da Areia. Mesmo porque eles não tinham culpa. A culpa era da vida…
Jorge Amado (Capitães da Areia)
A vida toda achei que a história terminava quando o herói e a heroína ficavam noivos - afinal, o que é bom para Jane Austen tem de ser bom para todo mundo. Mas é mentira. A história está começando e todo dia vai ser um novo pedacinho da trama.
Mary Ann Shaffer (The Guernsey Literary and Potato Peel Pie Society)
Agora compreendo o que se procurava primeiro que tudo em nossos dias, quando se procurava mestres de virtude. O que se procurava era um bom sono, e para isso virtudes coroadas de dormideiras. Para todos estes sábios catedráticos, tão ponderados, a sabedoria era dormir sem sonhar: não conheciam melhor sentido da vida. [...] Bem-aventurados tais dormentes porque não tardarão a dormir de todo.
Friedrich Nietzsche (Thus Spoke Zarathustra)
Diz-se que o tempo cura tudo. Quem inventou o ditado esperava seguramente ser perdoado de muita coisa, e mesmo havendo séculos que a frase passa de boca em boca, nem por isso se tornou menos estúpida e falsa. O tempo é como um tempero. Um tempero perfeito que aprimora o sabor do que é bom e transforma o que é mau em algo do Demo. Só quem nunca odiou ou foi odiado não sabe como o tempo é uma salgadeira que leveda dias após dia.
Luísa Castel-Branco, "Em Nome do Filho"
Olá , bom dia! - disse o principezinho. - Olá , bom dia! - disse o vendedor. Era um vendedor de comprimidos para tirar a sede. Toma-se um por semana e deixa-se de ter necessidade de beber. - Porque é que andas a vender isso? - perguntou o principezinho. - Porque é uma grande economia de tempo - respondeu o vendedor. - Os cálculos foram feitos por peritos. Poupam-se cinquenta e três minutos por semana. - E o que se faz com esses cinquenta e três minutos? - Faz-se o que se quiser... "Eu", pensou o principezinho, "eu cá se tivesse cinquenta e três minutos para gastar, punha-me era a andar muito de mansinho à procura de uma fonte...
Antoine de Saint-Exupéry (The Little Prince)
Descobri como é bom chegar quando se tem paciência. E para se chegar, onde quer que seja, aprendi que não é preciso dominar a força, mas a razão. É preciso antes de mais nada, querer.
Amyr Klink (Cem Dias Entre Céu e Mar)
São poucas as pessoas de quem eu gosto realmente e mais restrito ainda o número daquelas de quem eu faço um bom juízo. Quanto mais conheço o mundo, maior é o meu descontentamento por ele; e cada dia confirma a minha crença na inconsistência de todos os caracteres humanos e na pouca confiança susceptível de ser depositada na aparência quer do mérito como do bom senso.
Jane Austen (Pride and Prejudice)
Não passei naqueles sete dias por um momento sequer de monotonia, tristeza ou desespero. Pois nada é mais certo do que a chegada do bom tempo após uma tempestade que parece interminável.
Amyr Klink
O Filósofo e a Velhice Não é bom deixar a noite julgar o dia: pois com frequência o cansaço torna-se juiz da força, do êxito e da boa vontade. Assim também é aconselhável extrema cautela em relação à idade e seu julgamento da vida, uma vez que a velhice, como a noite, ama disfarçar-se de uma nova e atraente moralidade e sabe humilhar o dia com os vermelhos do crepúsculo e o silêncio apaziguador ou nostálgico.
Friedrich Nietzsche (Daybreak: Thoughts on the Prejudices of Morality)
Quanto melhor conheço o mundo, menos ele me satisfaz; e cada dia vejo confirmada a minha crença na inconsistência de todos os caracteres humanos e na pouca confiança que se pode depositar nas aparências do mérito ou do bom senso.
Jane Austen (Orgulho e Preconceito)
É estranho, porque às vezes leio um livro e acho que sou a pessoa do livro. E também, quando escrevo cartas, fico uns dois dias pensando no que imaginei em minhas cartas. Não sei se isso é bom ou ruim. Mas eu estou tentando participar.
Stephen Chbosky (The Perks of Being a Wallflower)
Na verdade, o nosso amado é apenas outro ser humano, sendo a sua essência igual à das multidões que ignoramos todos os dias no comboio e no supermercado; mas, para nós, ele ou ela parece infinito, e é de bom grado que nos perdemos nessa infinitude.
Yuval Noah Harari (21 lições para o século 21 (Portuguese Edition))
Gostaria que alguém tentasse escrever um dia uma história trágica da literatura, na qual expusesse como as diferentes nações, cada uma das quais deposita seu maior orgulho nos grandes escritores e artistas que tem a exibir, trataram esses homens durante suas vidas. Assim, o autor poria diante dos nossos olhos aquela interminável batalha travada pelo que é bom e autentico, em todos os tempos e países, contra o domínio do que é deturpado e ruim; descreveria o martírio de quase todos os verdadeiros iluminados da humanidade, de quase todos os grandes mestres em cada disciplina e em cada arte; mostraria como eles, com poucas exceções, sofreram na pobreza e na miséria, sem reconhecimento, sem apreço, sem alunos, enquanto a fama, a honra e a riqueza eram reservadas aos indignos em cada área.
Arthur Schopenhauer (A Arte de Escrever)
Quando eu era pequena, pensava que poderia dormir por muito tempo e conseguir acordar em uma época melhor da vida. Fiz várias tentativas, mas nenhuma funcionou. No máximo, acordava no outro dia para o almoço e nada tinha mudado. Hoje seria um bom dia para que essa magia existisse. Gostaria de acordar quando tudo isso estivesse resolvido.
Pamela Gonçalves (Uma História de Verão)
Mas também acredito que a nossa era não deve ser fácil nem para as crianças. Nós, mulheres, como disse antes, somos obrigadas todos os dias a refletir sobre o nosso papel, sobre a nossa identidade. O mesmo não se pede aos homens. Vivem dentro da crisálida de um machismo vazio, infelizmente encontram fragmentos de violência, palavras e atitudes de gângster, mas são formas mortas, formas desabitadas. A masculinidade agora vive em um reino fantasma. Não sabem mais quem são. Não sabem mais se expressar, e muitas vezes o fazem com dor e agressividade. Seria bom, portanto, que o mesmo debate que tivemos com as mulheres estivesse agora sendo realizado com os homens. Em La Chimera tentei contar a história dessa gangue de homens que de alguma forma são prisioneiros de serem machistas a todo custo, que não sabem se dirigir às mulheres a não ser seduzindo ou atacando-as, que são extremamente solitários e desesperados, abandonados a si mesmos e aos fantasmas delirantes do passado. Pobres ladrões de tumbas! (tradução minha).
Alice Rohrwacher (Dopo il cinema: Le domande di una regista)
Voltando ao castelo, encontrou Cândido e enrubesceu; Cândido enrubesceu também. Ela lhe deu bom-dia com a voz entrecortada, e ele falou com ela sem saber o que dizia.
Voltaire (Cândido, ou o Otimismo (Portuguese Edition))
Como é bom a gente ter tido infância para poder lembrar-se dela. E trazer uma saudade muito esquisita escondida no coração. Como é bom a gente ter deixado a pequena terra em que nasceu E ter fugido para uma cidade maior, para conhecer outras vidas. Com é bom chegar a este ponto de olhar em torno E se sentir maior e mais orgulhoso porque já conhece outras vidas... Como é bom se lembrar da viagem, dos primeiros dias na cidade, Da primeira vez que olhou o mar, da impressão de atordoamento. Como é bom olhar para aquelas bandas e depois comparar. Ver que está tão diferente, e que já sabe tantas novidades... Como é bom ter vindo de tão longe, estar agora caminhando Pensando e respirando no meio de pessoas desconhecidas Como é bom achar o mundo esquisito por isso, muito esquisito mesmo E depois sorrir levemente para ele com os seus mistérios... Que coisa maravilhosa, exclamar. Que mundo maravilhoso, exclamar. Como tudo é tão belo e tão cheio de encantos! Olhar para todos os lados, olhar para as coisas mais pequenas, E descobrir em todas uma razão de beleza.
Manoel de Barros
Não há felicidade nem infelicidade no mundo; há apenas a comparação de um estado com o outro, nada mais. Aquele que sentiu a dor mais profunda é quem melhor pode apreciar a suprema felicidade. É preciso ter querido morrer para saber quanto é bom viver. Vivam, pois, e sejam felizes, amados filhos do meu coração, e nunca se esqueçam de que, até ao dia que Deus se dignar revelar o futuro ao homem, toda a sabedoria humana se resume nestas palavras: Aguardar e ter esperança!
Alexandre Dumas
A Sabedoria Sem Orelhas Ouvir diriamente o que se diz de nós ou mesmo tentar descobrir o que se pensa de nós - isso acaba por aniquilar o homem mais forte. É por isso que os outros nos deixam viver, para ter cada dia razão contra nós! Não suportariam se tivéssemos razão contra eles e, menos ainda, se quiséssemos ter razão! Numa palavra, façamos este sacrifício para o bom entendimento geral: não escutemos quando falam de nós, quando nos elogiam ou nos recriminam, quando expressam desejos e esperanças a nosso respeito, nem sequer pensemos nisso.
Friedrich Nietzsche (Daybreak: Thoughts on the Prejudices of Morality)
«Bom dia», diz ele, e ocorre-me então que a palavra «dia», no sentido em que ele a emprega, se refere especificamente às horas entre as oito da manhã e o meio-dia. Nunca tinha pensado nisso antes. Ele quer que as horas entre as oito e o meio-dia sejam boas, isto é, agradáveis, divertidas, proveitosas! Quatro horas de prazer e trabalho frutuoso! Caramba, é estupendo!Que coisa mais simpática! Bom dia! E o mesmo se aplica a «boa tarde» e «boa noite»! Meu Deus! A língua inglesa é uma forma de comunicação! O acto de conversar não é apenas um fogo cruzado em que se dispara e se é atingido!
Philip Roth (Portnoy’s Complaint)
Foi em ti que comecei a ver a perfeição que nunca busquei. Quando me fechei para o amor, tudo o que eu queria e estava disposta a oferecer era apenas amizade. Já andava cansada da sensação sombria e desconfiada de ter pessoas perto de mim que buscassem algo além da amizade. Já vivia inflamada pelas mágoas; por todas às vezes que tinha que colocar alguém muito especial na FRIENDZONE por não poder corresponder os seus sentimentos na mesma dose, na mesma medida. Esses momentos dilaceravam-me a alma, faziam-me chorar por longos dias e longas noites. Abatia-me o espírito saber que perderia mais um bom amigo por não amá-lo na mesma forma, tudo isso condoía-me o coração
Oliveira Prazeres
Esforça-te, e tem bom ânimo; porque tu farás a este povo herdar a terra que jurei a seus pais lhes daria. Js.1.7 Tão-somente esforça-te e tem mui bom ânimo, para teres o cuidado de fazer conforme a toda a lei que meu servo Moisés te ordenou; dela não te desvies, nem para a direita nem para a esquerda, para que prudentemente te conduzas por onde quer que andares. Js.1.8 Não se aparte da tua boca o livro desta lei; antes medita nele dia e noite, para que tenhas cuidado de fazer conforme a tudo quanto nele está escrito; porque então farás prosperar o teu caminho, e serás bem sucedido. Js.1.9 Não to mandei eu? Esforça-te, e tem bom ânimo; não temas, nem te espantes; porque o SENHOR teu Deus é contigo, por onde quer que andares. Js.
João Ferreira de Almeida (Bíblia Sagrada (Portuguese Edition))
Você pode não entender agora, mas um dia entenderá: o único segredo da amizade, acredito eu, é encontrar pessoas melhores que você, não mais inteligentes, não mais bacanas, mas sim mais bondosas, mais generosas e mais piedosas, e tentar dar ouvidos a elas quando dizem algo sobre você, não importa o quanto seja ruim, ou bom, e confiar nelas, o que é a coisa mais difícil. Mas também a melhor.
Hanya Yanagihara (Uma vida pequena)
Ian permaneceria na aldeia por alguns dias, para se certificar de que Hiram e o povo de Pássaro estavam de comum acordo. No entanto, Jamie não estava absolutamente certo de que o senso de responsabilidade de Ian fosse sobrepujar seu senso de humor - de certa forma, o senso de humor de Ian tendia para o lado dos índios. Uma palavra da parte de Jamie poderia, portanto, vir a calhar, só por precaução. - Ele tem mulher - Jamie disse a Pássaro, indicando Hiram com um movimento da cabeça, o qual agora estava empenhado em uma conversa séria com dois dos índios mais velhos. - Acho que ele não gostaria de uma mulher em sua cama. Ele pode ser indelicado com ela, não compreendendo o gesto de cortesia. - Não se preocupe - Penstemon disse, ouvindo a conversa. Olhou para Hiram e seu lábio curvou-se com desdém. - Ninguém iria querer um filho DELE. Agora, um filho SEU, Matador-de-Urso... - Ela lhe lançou um longo olhar por baixo das pestanas e ele riu, saudando-a com um gesto de respeito. Era uma noite perfeita, fria e revigorante, e a porta foi deixada aberta para que o ar pudesse entrar. A fumaça da fogueira erguia-se reta e branca, fluindo na direção do buraco no teto, seus fantasmas móveis parecendo espíritos ascendendo de alegria. Todos haviam comido e bebido ao ponto de um agradável estupor, e houve um silêncio momentâneo e uma difusa sensação de paz e felicidade. - É bom para os homens comerem como irmãos - Hiram observou para Urso-em-Pé, em seu titubeante tsalagi. Ou melhor, tentou. E afinal, Jamie refletiu, sentindo suas costelas rangerem sob a tensão, era realmente uma diferença muito pequena entre "como irmãos" e "seus irmãos". Urso-em-Pé deu um olhar pensativo a Hiram e afastou-se disfarçadamente para longe dele. Pássaro observou isso e, após um momento de silêncio, virou-se para Jamie. - Você é um homem muito engraçado, Matador-de-Urso - ele repetiu, sacudindo a cabeça. - Você venceu.
Diana Gabaldon (A Breath of Snow and Ashes (Outlander, #6))
Quando nós falamos que o nosso rio é sagrado, as pessoas dizem: “Isso é algum folclore deles”; quando dizemos que a montanha está mostrando que vai chover e que esse dia vai ser um dia próspero, um dia bom, eles dizem: “Não, uma montanha não fala nada”. Quando despersonalizamos o rio, a montanha, quando tiramos deles os seus sentidos, considerando que isso é atributo exclusivo dos humanos, nós liberamos esses lugares para que se tornem resíduos da atividade industrial e extrativista
Ailton Krenak (Ideias Para Adiar o Fim do Mundo)
Da economia do tempo - Sêneca saúda o amigo Lucílio Comporta-te assim, meu Lucílio, reivindica o teu direito sobre ti mesmo e o tempo que até hoje foi levado embora, foi roubado ou fugiu, recolhe e aproveita esse tempo. Convence-te de que é assim como te escrevo: certos momentos nos são tomados, outros nos são furtados e outros ainda se perdem no vento. Mas a coisa mais lamentável é perder tempo por negligência. Se pensares bem, passamos grande parte da vida agindo mal, a maior parte sem fazer nada, ou fazendo algo diferente do que se deveria fazer. Podes me indicar alguém que dê valor ao seu tempo, valorize o seu dia, entenda que se morre diariamente? Nisso, pois, falhamos: pensamos que a morte é coisa do futuro, mas parte dela já é coisa do passado. Qualquer tempo que já passou pertence à morte. Então, caro Lucílio, procura fazer aquilo que me escreves: aproveita todas as horas; serás menos dependente do amanhã se te lançares ao presente. Enquanto adiamos, a vida se vai. Todas as coisas, Lucílio, nos são alheias; só o tempo é nosso. A natureza deu-nos posse de uma única coisa fugaz e escorregadia, da qual qualquer um que queira pode nos privar. E é tanta a estupidez dos mortais que, por coisas insignificantes e desprezíveis, as quais certamente se podem recuperar, concordam em contrair dívidas de bom grado, mas ninguém pensa que alguém lhe deva algo ao tomar o seu tempo, quando, na verdade, ele é único, e mesmo aquele que reconhece que o recebeu não pode devolver esse tempo de quem tirou. Talvez me perguntes o que faço para te dar esses conselhos. Eu te direi francamente: tenho consciência de que vivo de modo requintado, porém cuidadoso. Não posso dizer que não perco nada, mas posso dizer o que perco, o porquê e como; e te darei as razões pelas quais me considero miserável. No entanto, a mim acontece o que ocorre com a maioria que está na miséria não por culpa própria: todos estão prontos a desculpar, ninguém a dar a mão. E agora? A uma pessoa para a qual basta o pouco que lhe resta, não a considero pobre. Mas é melhor que tu conserves todos os teus pertences, e começarás em tempo hábil. Porque, como diz um sábio ditado, é tarde para poupar quando só resta o fundo da garrafa. E o que sobra é muito pouco, é o pior. Passa bem! (Sêneca, em "Aprendendo a Viver - Cartas a Lucílio")
Seneca (Letters from a Stoic)
Mas, logo ao outro dia, seus parceiros, Todos nus e da cor da escura treva, Decendo pelos ásperos outeiros, As peças vem buscar que estoutro leva. Domésticos já tanto e companheiros Se nos mostram, que fazem que se atreva Fernão Veloso a ir ver da terra o trato E partir-se co eles pelo mato. É Veloso no braço confiado E, de arrogante, crê que vai seguro; Mas, sendo um grande espaço já passado, Em que algum bom sinal saber procuro, Estando, a vista alçada, co cuidado No aventureiro, eis pelo monte duro Aparece e, segundo ao mar caminha, Mais apressado do que fora, vinha. O batel de Coelho foi depressa Polo tomar; mas, antes que chegasse, Um Etíope ousado se arremessa A ele, por que não se lhe escapasse. Outro e outro lhe saem; vê-se em presa Veloso, sem que alguém lhe ali ajudasse, Acudo eu logo, e, enquanto o remo aperto Se mostra um bando negro descoberto. Da espessa nuvem setas e pedradas Chovem sobre nós outros, sem medida, E não foram ao vento em vão deitadas, Que esta perna trouxe eu dali ferida; Mas nós, como pessoas magoadas, A reposta lhe demos tão tecida, Que em mais que nos barretes se suspeita Que a cor vermelha levam desta feita. E, sendo já Veloso em salvamento, Logo nos recolhemos pera a armada, Vendo a malícia feia e rudo intento Da gente bestial, bruta e malvada, De quem nenhum milhor conhecimento Pudemos ter da Índia desejada Que estarmos inda muito longe dela. E assi tornei a dar ao vento a vela. Disse então a Veloso um companheiro (Começando-se todos a sorrir): "Oula, Veloso amigo, aquele outeiro É milhor de decer que de subir.
Luís de Camões (Os Lusíadas)
Um imenso animal leiteiro aproximou-se da mesa de Zaphod Beeblebrox. Era um enorme e gordo quadrúpede do tipo bovino, com olhos grandes e protuberantes, chifres pequenos e um sorriso nos lábios que era quase simpático. – Boa noite – abaixou-se e sentou-se pesadamente sobre suas ancas –, sou o Prato do Dia. Posso sugerir-lhes algumas partes do meu corpo? – Grunhiu um pouco, remexeu seus quartos traseiros buscando uma posição mais confortável e olhou pacificamente para eles. Seu olhar se deparou com olhares de total perplexidade de Arthur e Trillian, uma certa indiferença de Ford Prefect e a fome desesperada de Zaphod Beeblebrox. – Alguma parte do meu ombro, talvez? – sugeriu o animal. – Um guisado com molho de vinho branco? – Ahn, do seu ombro? – disse Arthur, sussurrando horrorizado. – Naturalmente que é do meu ombro, senhor – mugiu o animal, satisfeito –, só tenho o meu para oferecer. Zaphod levantou-se de um salto e pôs-se a apalpar e sentir os ombros do animal, apreciando. – Ou a alcatra, que também é muito boa – murmurou o animal. – Tenho feito exercícios e comido cereais, de forma que há bastante carne boa ali. – Deu um grunhido brando e começou a ruminar. Engoliu mais uma vez o bolo alimentar. – Ou um ensopado de mim, quem sabe? – acrescentou. – Você quer dizer que este animal realmente quer que a gente o coma? – cochichou Trillian para Ford. – Eu? – disse Ford com um olhar vidrado. – Eu não quero dizer nada. – Isso é absolutamente horrível – exclamou Arthur -, a coisa mais repugnante que já ouvi. – Qual é o problema, terráqueo? – disse Zaphod, que agora observava atentamente o enorme traseiro do animal. – Eu simplesmente não quero comer um animal que está na minha frente se oferecendo para ser morto – disse Arthur. – É cruel! – Melhor do que comer um animal que não deseja ser comido – disse Zaphod. – Não é essa a questão – protestou Arthur. Depois pensou um pouco mais a respeito. – Está bem – disse –, talvez essa seja a questão. Não me importa, não vou pensar nisso agora. Eu só... ahn... O Universo enfurecia-se em espasmos mortais. – Acho que vou pedir uma salada – murmurou. – Posso sugerir que o senhor pense na hipótese de comer meu fígado? Deve estar saboroso e macio agora, eu mesmo tenho me mantido em alimentação forçada há meses. – Uma salada verde – disse Arthur, decididamente. – Uma salada? – disse o animal, lançando um olhar de recriminação para ele. – Você vai me dizer – disse Arthur – que eu não deveria comer uma salada? – Bem – disse o animal –, conheço muitos legumes que têm um ponto de vista muito forte a esse respeito. E é por isso, aliás, que por fim decidiram resolver de uma vez por todas essa questão complexa e criaram um animal que realmente quisesse ser comido e que fosse capaz de dizê-lo em alto e bom tom. Aqui estou eu! Conseguiu inclinar-se ligeiramente, fazendo uma leve saudação. – Um copo d’água, por favor – disse Arthur. – Olha – disse Zaphod –, nós queremos comer, não queremos uma discussão. Quatro filés malpassados, e depressa. Faz 576 bilhões de anos que não comemos. O animal levantou-se. Deu um grunhido brando. – Uma escolha muito acertada, senhor, se me permite. Muito bem – disse –, agora é só eu sair e me matar. Voltou-se para Arthur e deu uma piscadela amigável. – Não se preocupe, senhor, farei isso com bastante humanidade.
Douglas Adams (The Restaurant at the End of the Universe (The Hitchhiker's Guide to the Galaxy, #2))
- Ora bem, minha filha, ouve-me. Muitas vezes, as jovens julgam-se notáveis, imagens encantadoras, figuras ideais, e inventam ideias fantasiosas sobre os homens, sobre os sentimentos, sobre o mundo. Depois atribuem inocentemente a um indivíduo as qualidades com que sonharam e confiam nele. Amam no homem da sua escolha aquela criatura imaginária, mas mais tarde, quando já não há hipótese de se libertarem da infelicidade, a enganadora aparência que elas embelezaram, o seu primeiro ídolo, transforma-se, por fim, num esqueleto odioso. Julie, preferia saber-te apaixonada por um velho a ver-te amar o coronel. Ah, se pudesses imaginar-te daqui por dez anos, darias valor à minha experiência! Conheço Victor: a sua alegria é uma alegria sem alma, uma alegria de caserna. Não tem talento e é perdulário. É daqueles homens que o céu criou para tomar e digerir quatro refeições por dia, dormir, amar à primeira vista e desinteressar-se. Não entende a vida. O seu bom coração, porque tem bom coração, levá-lo-á provavelmente a oferecer a sua bolsa a um infeliz, a um camarada, mas é negligente, mas não é dotado da delicadeza de coração que nos torna escravos da felicidade de uma mulher, mas é ignorante, egoísta... São demasiados mas. - No entanto, meu pai, precisou de talento e de recursos para se tornar coronel... - Minha querida, Victor será coronel toda a vida. Ainda não conheci ninguém que me parecesse digno de ti - replicou o velho pai com algum entusiasmo. Parou um momento, olhou para a filha e acrescentou: - Mas, minha pobre Julie, és ainda muito jovem, muito frágil, muito delicada para suportar as tristezas e as preocupações do casamento. D'Aiglemont foi mimado pelos pais, tal como tu o foste pela tua mãe e por mim. Como esperar que possam entender-se um ao outro quando possuem caracteres tão diferentes, cujos caprichos serão inconciliáveis? Serás vítima ou impiedosa. Qualquer das alternativas comporta semelhante grau de infelicidade na vida de uma mulher. Mas és delicada e modesta, serás a primeira a submeter-se. Enfim - exclamou, com a voz alterada -, possuis uma delicadeza de sentimentos que será ignorada, e então... Não conseguiu terminar, as lágrimas dominaram-no.
Honoré de Balzac (A Woman Of Thirty)
Les conhecia todas as histórias sobre as coisas que podiam acontecer na primeira vez, e agora ele está lá e não sente nada. Nada acontece. Todo mundo está lhe dizendo que vai ser bom, você vai conseguir segurar a barra, cada vez que você voltar vai ser um pouco melhor, até que um dia a gente leva você a Washington e você passa um lápis sobre um papel em cima do nome de Kenny, e isso vai ser realmente a cura espiritual — depois de tanta preparação, nada acontece. Nada. Swift ouviu o Muro chorar. Les não ouve nada. Não sente nada, não ouve nada, nem mesmo relembra nada. É como o dia em que ele viu os dois filhos mortos. Tanta expectativa, e nada. Ele, que tinha tanto medo de se emocionar demais, agora não sente nada, e isso é pior. Prova que apesar de tudo, apesar de Louie e das idas ao restaurante chinês, dos médicos, de ele ter largado a bebida, Les tinha razão desde o começo: ele já morreu. No restaurante chegou a sentir alguma coisa, e isso o enganou por um tempo. Mas agora ele não tem mais dúvida de que está morto, porque não consegue nem mesmo evocar a lembrança de Kenny. Antes essa lembrança o torturava, agora ele não consegue se ligar a ela de jeito nenhum.
Philip Roth (The Human Stain (The American Trilogy, #3))
A Isto chamam a vida. A este vazio. A este não saber que fazer das mãos quando, enfim, da máquina (da prostituição) as mãos se libertaram. A esta mesquinha oscilação entre nada e coisa nenhuma chamam vida. Enquanto nos comem a carne. A vida, no meu caso, António Almeida, de um funcionário exemplar. Dias cautelosos, anos silenciosos de obediência, cursivo distinto, camisa no fio mas limpa, como tem passado Vossa Excelêncía, etc. E a boca seca. E um cordão de císco na garganta, a palavra sempre adiada. A isto, ao meu barro domesticado, a esta voz dócil, ajoelhada, chamam vida; dócil, e na terra derramada. Aqui estou pois sentado na vida. Impotente. Como quem se senta num túmulo. Os braços, as pernas paralisadas. A cabeça cheia de fórmulas sem sentido — cheia de pedras. Pedras de cenário. O sangue parado nas veias, apodrecido por um dique (o Chefe impera do alto da sua própria solidão e sussurra entre dentes, içando lentamente os olhos por cima dos óculos: «um bom funcionário jamais se apaixona, rapazes; lembrai a eficiência das máquinas; das formigas»); o sangue gelado, contido em seus vasos e controlado pelas conveniências — que palavra (de vidro mas não transparente): conveniências. E que dizer do sexo? Dos rios logo ressequidos que um dia iluminaram o meu sexo? Minha mulher que o diga, ela também apodrecida. Se ao menos eu pudesse correr, blasfemar, trepar às montanhas — eu que tenho medo e não sei fazer revoluções, nem falar delas; correr durante cinco anos e durante outros tantos esconder-me numa toca. Mas de que serve queixar-me? Comigo falo. De que te serve, companheiro, ranger os dentes? E nada resolve correr ou ser dócil ou sentar-me junto ao fogo. E da violência? Que dizer dessa cabra? A morte continua do ventre ao túmulo — e chamam-lhe (sem ironia!) vida. Através deste caminho obscuro tomo nas mãos as contradições da vida, essa que, ao mesmo tempo, é, deveria ser, truculenta festa da carne, tumultuosa festa do espírito. É, deveria ser, uma cerimónia da qual sempre saíssemos feridos, amputados, refeitos — e mais velhos, e mais cansados, e mais humildes — mas sem este sabor na boca, este sabor que posso apenas situar entre nada e coisa nenhuma. Nem cúmplices da terra somos; nem quase já linguagem tem o nosso corpo… As Férias ou o Tema do Funcionário Cansado, 1967, incluído na recolha Contos da Morte Eufórica, (Dom Quixote, 1984)
Casimiro de Brito (Contos da Morte Eufórica)
John Huston chegou, vindo da Costa Oeste, para encenar a tradução [de Bowles] de Huis Clos [de Sartre]. O Oliver que estava a produzir a peça em colaboração com Herman Levine, tinha visto recentemente The Maltese Falcon [A Relíquia Macabra], e ficara convencido de que o Huston era o homem em cujas mãos queria pôr o trabalho. Como havia apenas três figuras no elenco, achara que poderíamos usar actores franceses para os papéis... (...) ...Entaladas entre os dois avassaladores sotaques franceses, as inconfundíveis entoações da beldade do sul Ruth Ford surgiam ainda mais chocantes na sua intensidade viperina. Isso preocupou-me, mas a noite de estreia provou que estava enganado: a assistência gostou da Ford. Só mais tarde percebi que ela havia representado parcialmente hipnotizada. Era um dos truques de Huston. Durante a Segunda Grande Guerra, ele tinha usado a hipnose como um tratamento psiquiátrico para casos de fadiga de combate. O documentário que fizera sobre cinco casos destes, Let There Be Light, era extraordinariamente comovente, mas o exército proibiu a sua distribuição, e acabou por ficar enterrado. Esta faceta da personalidade do John intrigava-me particularmente, e estava sempre a discuti-la com ele, até que por fim começou a incluir sessões hipnóticas nos ensaios. O que me fascinou nessas experiências era a forma como revelavam a extrema maleabilidade da psique humana. Certo dia, Tyrone Power veio ver-nos. O John tinha preparado um bom espectáculo para ele. Já tinha levado a Annabella e a Ruth Ford ao ponto de poder levá-las ao transe apenas estalando os dedos perto das suas caras. A Annabella tinha vestida uma camisa de mangas arregaçadas. O John estalou os dedos e segurou-a para que se mantivesse direita de pé. Depois, mostrou um lápis de metal e acendeu um cigarro. Em seguida, disse-lhe: «Isto vai fazer-te cócegas. Vou tocar-te com a ponta do meu lápis.» E pressionou o cigarro na pele do antebraço dela, com força suficiente para o apagar. A Annabella soltou um risinho e esfregou um pouco o braço. Então, o John disse: «Agora vou tocar-te com o meu cigarro.» Tocou levemente o outro braço com o lápis, e ela soltou um grito de dor. Depois de a fazer voltar a si, fez-nos examinar os braços dela: aquele onde tinha apagado o cigarro não tinha marca nenhuma, mas o que tinha sido tocado pelo lápis apresentava uma mancha vermelha bem visível. Isso deixou-me intrigado. Não parecia haver nada de extraordinário na falsa queimadura, mas o facto de que a pele do outro braço tinha resistido ao contacto do fogo sem qualquer marca era muito mais difícil de entender e conduzia inevitavelmente a um problema de gradação. Até que ponto pode a carne manter-se insensível?
Paul Bowles (Without Stopping)
Conheci que Madalena era boa em demasia, mas não conheci tudo de uma vez. Ela se revelou pouco a pouco, e nunca se revelou inteiramente. A culpa foi minha, ou antes, a culpa foi desta vida agreste, que me deu uma alma agreste. E, falando assim, compreendo que perco o tempo. Com efeito, se me escapa o retrato moral de minha mulher, para que serve esta narrativa? Para nada, mas sou forçado a escrever. Quando os grilos cantam, sento-me aqui à mesa da sala de jantar, bebo café, acendo o cachimbo. Às vezes as idéias não vêm, ou vêm muito numerosas e a folha permanece meio escrita, como estava na véspera. Releio algumas linhas, que me desagradam. Não vale a pena tentar corrigi-las. Afasto o papel. Emoções indefiníveis me agitam inquietação terrível, desejo doido de voltar, tagarelar novamente com Madalena, como fazíamos todos os dias, a esta hora. Saudade? Não, não é isto: é desespero, raiva, um peso enorme no coração. Procuro recordar o que dizíamos. Impossível. As minhas palavras eram apenas palavras, reprodução imperfeita de fatos exteriores, e as dela tinham alguma coisa que não consigo exprimir. Para senti-las melhor, eu apagava as luzes, deixava que a sombra nos envolvesse até ficarmos dois vultos indistintos na escuridão. Lá fora os sapos arengavam, o vento gemia, as árvores do pomar tornavam-se massas negras. - Casimiro! (...) A figura de Casimiro Lopes aparece à janela, os sapos gritam, o vento sacode as árvores, apenas visíveis na treva. Maria das Dores entra e vai abrir o comutador. Detenho-a: não quero luz. O tique-taque do relógio diminui, os grilos começam a cantar. E Madalena surge no lado de lá da mesa. Digo baixinho: - Madalena! A voz dela me chega aos ouvidos. Não, não é aos ouvidos. Também já não a vejo com os olhos. Estou encostado à mesa, as mãos cruzadas. Os objetos fundiram-se, e não enxergo sequer a toalha branca. - Madalena... A voz de Madalena continua a acariciar-me. Que diz ela? Pede-me naturalmente que mande algum dinheiro a Mestre Caetano. Isto me irrita, mas a irritação é diferente das outras, é uma irritação antiga, que me deixa inteiramente calmo. Loucura estar uma pessoa ao mesmo tempo zangada e tranqüila. Mas estou assim. Irritado contra quem? Contra Mestre Caetano. Não obstante ele ter morrido, acho bom que vá trabalhar. Mandrião! A toalha reaparece, mas não sei se é esta toalha sobre que tenho as mãos cruzadas ou a que estava aqui há cinco anos. (...) Agitam-se em mim sentimentos inconciliáveis, colerizo-me e enterneço-me; bato na mesa e tenho vontade de chorar. Aparentemente estou sossegado: as mãos continuam cruzadas sobre a toalha e os dedos parecem de pedra. Entretanto ameaço Madalena com o punho. Esquisito. Distingo no ramerrão da fazenda as mais insignificantes minudências. Maria das Dores, na cozinha, dá lições ao papagaio. Tubarão rosna acolá no jardim. O gado muge no estábulo. O salão fica longe: para irmos lá temos de atravessar um corredor comprido. Apesar disso a palestra de Seu Ribeiro e Dona Glória é bastante clara. A dificuldade seria reproduzir o que eles dizem. É preciso admitir que estão conversando sem palavras. Padilha assobia no alpendre. Onde andará Padilha? Se eu convencesse Madalena de que ela não tem razão... Se lhe explicasse que é necessário vivermos em paz... Não me entende. Não nos entendemos. O que vai acontecer será muito diferente do que esperamos. Absurdo. Há um grande silêncio. Estamos em julho. O nordeste não sopra e os sapos dormem. (...) Repito que tudo isso continua a azucrinar-me. O que não percebo é o tique-taque do relógio. Que horas são? Não posso ver o mostrador assim às escuras. Quando me sentei aqui, ouviam-se as pancadas do pêndulo, ouviam-se muito bem. Seria conveniente dar corda ao relógio, mas não consigo mexer-me.
Graciliano Ramos (São Bernardo)
Ellen White aconselha: “Só se pode viver esta vida uma vez” (Filhas de Deus, p. 150). “A vida é misteriosa e sagrada. É a manifestação do próprio Deus, fonte de toda a vida. Preciosas são as oportunidades que ela encerra, e devem ser zelosamente aproveitadas. Uma vez perdidas, desaparecem para sempre” (A Ciência do Bom Viver, p. 397).
Alberto R. Timm (Meditações Diárias 2018 - Um Dia Inesquecível (Portuguese Edition))
Bom dia!” Addy sings under the awning of his favorite open-air juice bar on Rua Santa Clara, his
Georgia Hunter (We Were the Lucky Ones)
– Queres pecar comigo? – Todos os dias. És todo o pecado que há para viver. O bom e o mau. Mas no final das contas só há um tipo de pecado: o que nos mantém vivos. Quem vive sem pecar e morre sem pecar nunca na realidade viveu. Limitou-se a andar por cá. Quem nunca pecou não é santo; é defunto.
Pedro Chagas Freitas (Prometo Falhar)
Mover-se é viver, dizer-se é sobreviver. Não há nada real na vida que o não seja porque se descreveu bem. Os críticos da casa pequena soem apontar que tal poema, longamente ritmado, não quer, afinal, dizer senão que o dia está bom. Mas dizer que o dia está bom é difícil, e o dia bom, ele mesmo, passa. Tems pois que conservar o dia bomem uma memória florida e prolixa, e assim constelar de novas flores ou de novos astros os campos ou os céus da exterioridade vazia e passageira.
Fernando Pessoa (Livro do Desasocego - Tomo I e II (Edição Crítica das Obras de Fernando Pessoa, #12))
Para Marguerite, se locomover é um verdadeiro ritual; ela odeia imprevistos, tem horror a eles. Sempre o mesmo itinerário: a padaria. - Bom dia. Um pãozinho de espelta, por favor. Marguerite só verifica a correspondência muito de vez em quando. Isso a aflige ao máximo.
Mademoiselle Caroline (La Différence invisible)
Se for você, aquele que não me ama como eu o amo, pode ligar que largo tudo e vou dormir só às quatro da tarde do dia seguinte, e tudo bem se continuo desempregada e pensando nos teus braços fortes, na tua bunda nua linda. Tudo bem se vou passar o resto da semana desgraçadamente com sono e sem direção. É bom pra literatura. E eu sou um exemplo de masoquismo. Agora me come de quatro e mete fundo.
Cristina Livramento (São Paulo & notas cinzentas de amor e saudade)
Pode ser que role de novo Coisas inacabadas nas relações humanas atraem as pessoas na direção uma da outra Entre os milhares de fotos feitas no dia 8 de março, durante as passeatas do Dia da Mulher, uma atraiu minha atenção por um motivo particular. Nela aparecia, com um seio de fora e um cartaz de protesto, uma mulher por quem eu estive apaixonado. Ela saiu da minha vida depois de dois encontros, com uma breve mensagem de WhatsApp na qual pedia que eu não mais lhe escrevesse. Estranhei, mas fiz como ela pedia – e tratei de pôr de lado o sentimento que começava. Depois de um tempo, deixei de pensar no assunto. Até que veio o 9 de março. Naquele dia, vendo as imagens dela, olhando aquela mistura de beleza e radicalismo, senti um aperto no coração. E se aquela criatura de pele morena fosse, de alguma forma, o próximo amor da minha vida? E se o destino, com seu jeito estranho de fazer as coisas, a estivesse colocando de novo na minha frente, como havia feito um ano atrás, durante uma festa da qual eu já me preparava para sair? Antes de prosseguir com a narrativa, um aviso: eu não acredito em destino. Não acho, de forma alguma, que as coisas estão fadadas a acontecer e que uma força nos carrega, inexoravelmente, para os braços de alguém ou para algum desfecho predeterminado. Nada disso. Sou um cara racional que acredita na sorte, no azar, nos acidentes e nas coincidências. Se eu não decidisse ir embora da tal festa, não cruzaria com a moça no meio da pista, me espiando com olhos de jabuticaba. Se eu não estivesse olhando as fotos das passeatas do dia 8, não veria de novo aquele sorriso familiar. As coisas acontecem para quem está vivo, e isso é tudo o que podemos dizer ou prever. Tenho certeza de que Vênus retrógrado não me atinge. Tendo esclarecido isso, devo confessar que sofro de convicções estranhas. Uma delas é que encontrarei certas pessoas novamente. Quando garoto, eu via uma menina bonita passando na rua e pensava: “Não preciso me esforçar para falar com ela. Se for para acontecer, a gente vai se ver de novo”. No bairro da Penha, nos anos 1970, numa São Paulo com apenas 6 milhões de habitantes, era fácil reencontrar estranhos. Vira e mexe eu esbarrava nas garotas que atraíam a minha atenção. Agora, ficou mais difícil, mas ainda acontece – numa foto de internet, por exemplo, um dia depois de uma marcha que reuniu milhares de mulheres. O que eu queria dizer, na verdade, é que às vezes as coisas ficam inacabadas nas relações humanas, e que essas pendências emocionais, por tênues que sejam, atraem as pessoas na direção uma da outra. Se você tem um encontro afetivo com alguém e ele termina de forma abrupta, é possível que a outra pessoa sinta o mesmo hiato. Não é magia e nem destino, é sensibilidade humana. A gente não vive bem com a sensação do que poderia ter sido. Nosso coração requer narrativas completas. Se a história continua aberta para os dois, pode ser que um dia role de novo. Se apenas um lado sente isso e outro não sente nada, então é só mais um desencontro. Existem encontros passageiros. Há desencontros notáveis, igualmente efêmeros. Certos eventos são como estrelas cadentes: a gente pisca e ele se esvai, brilhando apenas na memória. Por isso, quando as histórias não fecham, a gente trata de encerrá-las dentro de nós. Pode ser que um dia role, mas não é bom contar com isso. Quando as coisas não devem ser, não são – e isso, acreditem, nada tem a ver com os astros.
Ivan Martins
Não fico ressentida por conta disso, mas seria muito bom fazer coisas como passar um fim de semana em Paris, mas isso não é possível para mim no momento. Porém, sei que um dia, se seguir as regras da vida — o jogo da vida — poderei ter as coisas que sempre desejei, e elas serão muito mais especiais porque serei muito mais velha e muito mais capaz de apreciá-las.
Andrew Morton (Diana: Her True Story in Her Own Words)
Quase Ainda pior que a convicção do não e a incerteza do talvez é a desilusão de um quase. É o quase que me incomoda, que me entristece, que me mata trazendo tudo que poderia ter sido e não foi. Quem quase ganhou ainda joga, quem quase passou ainda estuda, quem quase morreu está vivo, quem quase amou não amou. Basta pensar nas oportunidades que escaparam pelos dedos, nas chances que se perdem por medo, nas ideias que nunca sairão do papel por essa maldita mania de viver no outono. Pergunto-me, às vezes, o que nos leva a escolher uma vida morna; ou melhor não me pergunto, contesto. A resposta eu sei de cor, está estampada na distância e frieza dos sorrisos, na frouxidão dos abraços, na indiferença dos "Bom dia", quase que sussurrados. Sobra covardia e falta coragem até pra ser feliz. A paixão queima, o amor enlouquece, o desejo trai. Talvez esses fossem bons motivos para decidir entre a alegria e a dor, sentir o nada, mas não são. Se a virtude estivesse mesmo no meio termo, o mar não teria ondas, os dias seriam nublados e o arco-íris em tons de cinza. O nada não ilumina, não inspira, não aflige nem acalma, apenas amplia o vazio que cada um traz dentro de si. Não é que fé mova montanhas, nem que todas as estrelas estejam ao alcance, para as coisas que não podem ser mudadas resta-nos somente paciência porém, preferir a derrota prévia à dúvida da vitória é desperdiçar a oportunidade de merecer. Pros erros há perdão; pros fracassos, chance; pros amores impossíveis, tempo. De nada adianta cercar um coração vazio ou economizar alma. Um romance cujo fim é instantâneo ou indolor não é romance. Não deixe que a saudade sufoque, que a rotina acomode, que o medo impeça de tentar. Desconfie do destino e acredite em você. Gaste mais horas realizando que sonhando, fazendo que planejando, vivendo que esperando porque, embora quem quase morre esteja vivo, quem quase vive já morreu.
Sarah Westphal
E disse Deus: haja luminares no firmamento do céu, para fazerem separação entre o dia e a noite; sejam eles para sinais e para estações, e para dias e anos; 15 e sirvam de luminares no firmamento do céu, para alumiar a terra. E assim foi. 16 Deus, pois, fez os dois grandes luminares: o luminar maior para governar o dia, e o luminar menor para governar a noite; fez também as estrelas. 17 E Deus os pôs no firmamento do céu para alumiar a terra, 18 para governar o dia e a noite, e para fazer separação entre a luz e as trevas. E viu Deus que isso era bom. 19 E foi a tarde e a manhã, o dia quarto.
Zeiset (A Bíblia Sagrada: Almeida Atualizada)
Seja bom com os outros. A distância que você caminha na vida vai depender da sua ternura com os jovens, da sua compaixão com os idosos, sua compreensão com aqueles que lutam, da sua tolerância com os fracos e os fortes. Porque algum dia na vida você poderá ser um deles.- George Washington Carver
James C. Hunter (O Monge e o Executivo: Uma História Sobre a Essência da Liderança)
Seja bom com os outros. A distância que você caminha na vida vai depender da sua ternura com os jovens, da sua compaixão com os idosos, sua compreensão com aqueles que lutam, da sua tolerância com os fracos e os fortes. Porque algum dia na vida você poderá ser um deles." - George Washington Carver
James C. Hunter (The Servant: A Simple Story About the True Essence of Leadership)
As árvores sabem que a única razão da sua vida é viver. Vivem para viver. Viver é bom. Raízes mergulhadas na terra, não fazem planos de viagem. Estão felizes onde estão. Enfrentam seca e chuva, noite e dia, chuva e calor, com silenciosa tranquilidade, sem acusar, sem lamentar. E morrem também tranquilas, sem medo. Ah! Como as pessoas seriam mais belas e felizes se fossem como as árvores.
Rubem Alves (O Amor que acende a lua)
[...]Creio que, depois desse funesto meteoro, podemos passar ao vinho, visto que é um trovão líquido, uma cólera potável e um trespasse que faz morrer os bêbados de saúde. Por mais abstinentes que sejamos, ele, o insensato, é a causa pela qual a definição dada por Aristóteles para o homem animal racional seja falsa; pelo menos, durante três meses ao ano pode-se dizer que é no cabaré que se vende a loucura em garrafas, e duvido mesmo que ele não tenha ido até os céus fazer com que o Sol cheire seus vapores, vendo como se deita tão cedo todos os dias. A Terra bebeu tanto no século de Copérnico que se pôs a dar piruetas e, se agora se move, são seguramente ss que a bebedeira lhe faz fazer. Não deixo, contudo, de gostar de ver a aguardente detestar seu pai, porque ele é para mim a testemunha de que o vinho foi forçado a perder o espírito. Ei-nos, portanto, (neste momento) condenados a morrer de sede, visto que nossa bebida está envenenada. Vejamos se as frutas se salvaram do furor de dezembro. Ai de mim! Por uma única [fruta] comida por Adão, cem mil pessoas morreram ainda sem existirem, e se tivesse começado uma segunda, teria infalivelmente expulsado a Terra trinta léguas mais longe. Toda a natureza, agora, está dedicada ao suplício de seus criminosos; ela mesma os coloca no patíbulo, a árvore os atira de ponta-cabeça, o vento os sacode, o Sol os desprende, e os pássaros se saciam com seus troncos apodrecidos. Depois, senhor, não achais errado que eu me irrite quando dizem: “Eis frutas em bom estado”, pois como pode estar em bom estado alguém que se enforcou pessoalmente? Aqui, todos os campos são limitados por vergéis, onde as pedradas respondem à oferta, e não será uma ocasião de dúvida de inocência de uma raça que vemos lapidada a cada momento? Considerando as perniciosas, eu não saberia imaginar o que podem ser senão diabos familiares mais gordos e mais agitados do que os outros; o bosque que os produz tem o cuidado de esconder tal pecado com folhas, como se não tivesse bastante descaramento para desnudar suas partes pudendas; mas agora que se desnudou e que sua verdura caiu, somente se vêem folhas na Universidade. Os vermes, as aranhas e as lagartas atingiram a cima das árvores e, mesmo sendo calvas, não deixam de ter parasitas na cabeça. Este é ainda, sem dúvida, mais um dos serviços do outono que, temendo que morrêssemos apenas de uma morte, após nos ter retirado os alimentos, deunos veneno. O que nos poderia restar de puro entre tantas coisas cujo uso nos é necessário senão, talvez, um pouco de ar; mas ele o sufocou com o contágio. Hoje, a peste (esta doença sem-fim) mantém a morte presa à sua própria; ela derruba a economia do mundo até fazer com que um miserável nascido entre andrajos morra coberto de púrpura, e julgai se o fogo com que nos ataca é ardente, quando basta um carvão sobre um homem para consumi-lo. (trecho de carta)
Cyrano de Bergerac (Voyage dans la Lune)
política, essa atitude coincide exatamente com o espírito evocado por um outro grande reformador, John Maynard Keynes, quando, passadas a Primeira Guerra e a Revolução Soviética, se dirigia aos jovens liberais reunidos em sua Summer School: “Quase toda a sabedoria de nossos homens de Estado foi erigida sobre pressupostos que eram verdadeiros numa época, ou parcialmente verdadeiros, e que o são, a cada dia, menos. Nós devemos inventar uma nova sabedoria para uma nova época. E ao mesmo tempo, se queremos reconstruir algo de bom, vamos precisar parecer heréticos, inoportunos e desobedientes aos olhos de todos aqueles que nos precederam.
Giuliano da Empoli (Os engenheiros do caos)
Durante muito tempo a relação amorosa entre pais e filhos me pareceu um mistério. Também levei anos para “entender” a extrema gentileza que as pessoas bem-educadas manifestam com um simples bom-dia. Sentia vergonha, como se eu não merecesse tamanha consideração, e chegava a fantasiar que havia algum interesse particular em mim. Depois de um tempo percebi que os sorrisos, as perguntas feitas com um ar gentil não eram tão diferentes de mastigar de boca fechada ou assoar o nariz discretamente.
Annie Ernaux
A mudança vem, ou a gente correndo atrás dela ou ela atropelando a gente com tudo, sem pedir para sair do meio. E é bom que venha mesmo, que o fim certo é que é bom, é o fim certo que empurra a gente, não fosse a certeza do fim, a gente ia viver igual todo santo dia?
Stênio Gardel (A palavra que resta)
Ao passar pela porta do quarto azul, susteve a respiração. “A mãe dormiu.” Era tão bom quando ela dormia! Os loucos deviam dormir o tempo todo, de dia e de noite, como as bonecas que só abrem os olhos quando tiradas da caixa.
Lygia Fagundes Telles (Ciranda de Pedra)
Por vezes, ao sexto ou sétimo cálice, sinto que quase o consigo, que estou prestes a consegui-lo, que as pinças canhestras do meu entendimento vão colher, numa cautela cirúrgica, o delicado núcleo do mistério, mas logo de imediato me afundo no júbilo informe de uma idiotia pastosa a que me arranco no dia seguinte, a golpes de aspirina e sais de frutos, para tropeçar nos chinelos a caminho do emprego, carregando comigo a opacidade irremediável da minha existência, tão densa de um lodo de enigmas como pasta de açúcar na chávena matinal. Nunca lhe aconteceu isto, sentir que está perto, que vai lograr num segundo a aspiração adiada e eternamente perseguida anos a fio, o projeto que é ao mesmo tempo o seu desespero e a sua esperança, estender a mão para agarrá-lo numa alegria incontrolável e tombar, de súbito, de costas, de dedos cerrados sobre nada, à medida que a aspiração ou o projecto se afastam tranquilamente de si no trote miúdo da indiferença, sem a fitarem sequer? Mas talvez que você não conheça essa espécie horrorosa de derrota, talvez que a metafísica constitua apenas para si um incômodo tão passageiro como uma comichão efémera, talvez que a habite a jubilosa leveza dos botes ancorados, balouçando devagar numa cadência autônoma de berços. Uma das coisas, aliás, que me encanta em si, permita-me que lho afirme, é a inocência, não a inocência inocente das crianças e dos polícias, feita de uma espécie de virgindade interior obtida à custa da credulidade ou da estupidez, mas a inocência sábia, resignada, quase vegetal, diria, dos que aguardam dos outros e deles próprios o mesmo que você e eu, aqui sentados, esperamos do empregado que se dirige para nós chamado pelo meu braço no ar de bom aluno crônico: uma vaga atenção distraída e o absoluto desdém pela magra gorjeta da nossa gratidão.
António Lobo Antunes (Os Cus de Judas)
CAPÍTULO XCIX   O FILHO É A CARA DO PAI   Minha mãe, quando eu regressei bacharel quase estalou de felicidade Ainda ouço a voz de José Dias, lembrando o evangelho de São João, e dizendo ao ver-nos abraçados: – Mulher, eis aí o teu filho! Filho, eis aí a tua mãe! Minha mãe, entre lágrimas: – Mano Cosme, é a cara do pai, não é? – Sim, tem alguma cousa, os olhos, a disposição do rosto. É o pai, um pouco mais moderno, concluiu por chalaça. E diga-me agora mana Glória, não foi melhor que ele não teimasse em ser padre? Veja se este peralta daria um padre capaz. – Como vai o meu substituto? – Vai indo, ordena-se para o ano, respondeu tio Cosme. Hás de ir ver a ordenação; eu também, se o meu senhor coração consentir. É bom que te sintas na alma do outro, como se recebesses em ti mesmo a sagração. – Justamente! – exclamou minha mãe. – Mas veja bem, mano Cosme, veja se não é a figura do meu defunto. Olha, Bentinho, olha bem para mim. Sempre achei que te parecias com ele, agora é muito mais. O bigode é que desfaz um pouco... – Sim, mana Glória, o bigode realmente... mas é muito parecido. E minha mãe beijava-me com uma ternura que não sei escrever. Tio Cosme, para alegrá-la, chamava-me doutor, José Dias também, e todos em casa, a prima, os escravos, as visitas, Pádua, a filha, e ela mesma repetiam-me o título.
Machado de Assis (Dom Casmurro)
sobremaneira o bom andamento dos trabalhos. Mesmo nos demais dias da semana, a sala onde se realizam os trabalhos mediúnicos deverá ser preservada. É preciso evitar ali reuniões sociais, conversas descuidadas, visitas inconvenientes, atos reprováveis. O ambiente costuma ser mantido em elevado teor vibratório pelos trabalhadores espirituais, o que se nota, especialmente nos dias de reunião, ao se penetrar no cômodo. O ideal, portanto, é ter um compartimento destinado somente à tarefa mediúnica. Quando isso for impraticável, que pelo menos se tenha o cuidado de usá-lo apenas para atividades nobres, como a boa leitura, a música erudita, o preparo de artigos e livros doutrinários, o estudo sério.
Hermínio C. Miranda (Diálogo com as sombras: teoria e prática)
Nas gaiolas, irremediavelmente mudos. Faziam greve contra mim. Tratava deles com cuidados maternos. Limpava-lhes as gaiolas, pisava-lhes milho — e nada, calados de vez. Dependurava-os então pelos pés de pau, para ver se os enganava com esse contato com os palcos dos seus dias de festa. E mudos sempre. Os meus pássaros só trabalhavam ao bom preço da liberdade.
José Lins do Rego (Menino de Engenho)
O tempo tinha essa habilidade destrutiva, corroía os objetos abandonados, abria buracos tão fundos na dureza dos materiais como na memória, apagava as marcas dos acontecimentos, desenhava outras. Era bom que assim fosse, que o arrastar dos dias e anos renovasse os espaços, fora e dentro do ser.
Carla M. Soares (A Chama ao Vento)
É a sensação de rodar, rodar, rodar, sem saber exatamente pra onde estava indo ou como se já estivesse no céu. Por que acredito totalmente que é pra lá que eu vou quando isso for decidido, quando for o momento. Eu não sabia o que estava acontecendo, porque eu não sabia como começou acontecer. Uma tarde de domingo, linda, maravilhosa, um sol belo, azul, 17h. Eu, ahn, ao contrário do que os homens pensam, eu dirijo muito bem. Porque pra dirigir Rio, São Paulo, Porto Alegre, precisa dirigir muito bem. Não tinha movimento e era incrível, era Domingo, era pra estar lotado de carros vindo da praia. Era verão. Dia 19 de dezembro de 1999, exatamente no dia que minha mãe se tivesse viva, estaria de aniversário. E eu vinha muito feliz, e eu estava indo muito feliz pra Santa Isabel, aonde esses amigos maravilhosos numa turnê que eu fiz com terapia sexual e que eles se tornaram amigos íntimos. Estávamos indo eu e a minha empresária, minha amiga querida, que hoje é minha amiga querida e não mais empresária, Berenice Lamônica, quando tudo começou a girar, girar, girar, girar e eu disse: "Berenice, segura, nós vamos bater". Nada mais me lembro! Nada mais me lembro! Apenas sei que foram horas e horas e horas e horas de resgate porque pensavam que eu estava realmente morta! (...) Eu tive sete vértebras realmente feridas, não pude nem mais fazer a novela, não pude mais nem...Eu tive que...Era natal, tive que ir com aquelas macas da Varig e tal, e realmente foi uma coisa terrível e foram meses e meses na cama de recuperação, foi uma coisa terrível. (...) Ah, eu tenho certeza absoluta que foi ele que me salvou! Aliás, a minha vida, eu digo: é uma antes do acidente e outra pós-acidente (...) A oração, sobretudo, a oração é que te recupera. E ali começou uma nova Leila, uma nova Leila! É esse Deus que me tirou dali, são esses anjos, esse Jesus Cristo meu irmão que me tirou dali. E um bom carro também, né, se pode falar! Se eu tivesse de um fusquinha que tem que empurrar - me desculpe os fusquinhas, acho ótimo - eu não estaria lá, com certeza. Não estaria mais aqui, eu seria também um anjo, tenho certeza. Porque tudo que eu faço na minha vida, sem pieguice, é tentar ser boa!
Leila Lopes
Quando se tem ouro na nossa frente, somos ofuscados pelo seu brilho e cegos ficamos. Mas distantes de tais joias a visão volta e percebemos que o momento já passou e que agora o "Bom dia" só damos àquela linda moça só nos sonhos e a realidade torna-se o pesadelo. Porém algumas palavras tem o mesmo destino do escritor, que esquecidos não atingem seu único propósito à única pessoa.
Vilmar Cazanatto
Normalmente eu não tinha muita paciência para estar com uma gaja durante muito tempo. Cada uma delas queria ficar comigo o máximo que pudesse, e para isso usavam de muitas artimanhas, como fazer o meu prato preferido – moamba de galinha –, me massajar nas costas depois do bem – bom, dar-me banho com sais ou fazer cafuné antes de adormecer, tudo bem feito na benquerença do benjamim. Tinha uma, nome dela era Santinha, que conseguiu me prender por um ano. A gaja era bonita e meiga, muito submissa, o que eu muito apreciava nas mulheres. Detestava tipas armadas que quisessem discutir comigo, levantar o nariz, isso eu nunca admitia, por isso gajas que tentassem pisar o risco levavam no focinho, qual não se bate em mulheres, Saiundo?!, eu também não gostava de lhes bater, mas depois verifiquei que era a única forma de lhes meter na linha, claro, não falo de todas, falo apenas daquelas que são razingonas, que querem mandar nos homens, isso nunca! Eu sei que isso é feio, mas às vezes é a única solução. Mas estava a falar da minha Santinha que era mesmo uma santa, e por isso fiquei com ela tanto tempo. Era doçura de criatura, melaçuda em todos os momentos, e na cama então é que ela se revelava completamente, e eu me perguntava como era que uma rapariga assim tão santíssima, ar dela angélico, na cama podia ser assim tão brava e fogosa ao ponto de me fazer gemer toda a noite, poça!, que às mulheres enganam muito, de sai são uma coisa, aquelas finúrias todas, de noite, na hora dos bons prazeres, até parece que têm o diabo no corpo. E assim fiquei com ela muito tempo, eu e a minha Santocas, santinha, santa. Mas um dia chateei-me com ela por causa dos muitos ciúmes que fazia a torto e a direito, não me podia ver com nenhuma rapariga e ficava logo amuada por muito tempo. Certo dia ela me viu a conversar com uma amiga, perto do Jumbo, Santinha veio ter comigo e, sem dizer nada, me puxou com força pelo braço. Perdi o controlo e ali mesmo lhe esbofeteei na presença da moça com quem estava a conversar e que era de facto uma simples só amiga, e assim que terminei aquela santa relação.
Boaventura Cardoso
No dia seguinte, o lojista chegou como de costume. Vinha preocupado com um ligeiro atraso e por isso achou estranho que a porta estivesse fechada e as gelosias das janelas cerradas. Hesitou, bateu à porta e acabou por ir sentar-se junto dos outros criados, debaixo do alpendre, aguardando. Era uma situação inédita, aquela, e eles, habituados à rotina e à obediência, não sabiam o que fazer. Comentavam uns com os outros, falavam de coisas pequenas, esperavam. Mas a responsabilidade roía o lojista que não se sentia bem desconversando com o tempo, esperando que as coisas se resolvessem por si próprias. Por isso juntou coragem e deu a volta à casa, espreitando à procura de um sinal. Subiu os três degraus da varanda, do outro lado, batendo as palmas bem alto para pedir licença. Foi então que deparou com a patroa ao fundo da varanda, quieta, olhando o rio. - Bom dia, patroa. Estamos já lá fora à espera de entrar. Há também alguns clientes. Teve como resposta o silêncio. Mama Mère desinteressa-se dele, envolvida agora em assunto mais interior e fundamental. Passou a noite naquela mesmíssima posição, a mão esquerda pousada no colo e a direita no cabo do punhal, erecta, olhando o rio com os seus grandes olhos abertos. O xaile descaiu-lhe para a cintura já há muito tempo, o que de restou pouco importa: o cacimbo não molesta os mortos da mesma maneira que molesta os vivos. O sol matinal espalha-se pelo soalho da varanda e daqui a pouco chegará aos pés da congolesa e começará a trepar-lhe pelas pernas, iluminando-a. O lojista esperou ainda um pouco, respeitoso. Mas intrigado com aquele alheamento, acabou por aproximar-se. Pigarreou primeiro, falou depois, tentando convencê-la a reagir, sem saber que Mama Mère estava já muito longe dali. Deu-se por fim conta de que o mundo desabava (quem depende daquela maneira, como o lojista e os criados, deposita sempre no protector o segredo da ordem das coisas). Deu vários passos na varanda sem se decidir por uma direcção, falou sozinho durante um bocado e acabou por fugir dali, gritando alto. De volta ao alpendre, levou ainda um tempo a fazer-se entender pelos restantes. Desataram então a falar muito alto uns com os outros, lamentando e inquirindo, descoordenados. Uns saíam do confuso círculo e iam espreitar à varanda. Voltavam depois gesticulando e bradando coisas incompreensíveis, como se visão do vulto induzisse a loucura.
João Paulo Borges Coelho (As Duas Sombras do Rio)
Há dias em que só uma xícara de café e um bom livro podem preencher o vazio da vida
Ben Oliveira
Tempo funesto, em que o escravo precisa de tais conceitos, em que é incitado para a reflexão sobre si e sobre aquilo que está além dele! Sedutor funesto, que aniquilou a situação de inocência do escravo com o fruto da árvore do conhecimento! Agora ele tem que se entreter dia após dia com tais mentiras transparentes, que todo bom observador reconhece na pretensa “igualdade para todos” e nos chamados “direitos do homem”, do homem como tal, ou na dignidade do trabalho. Ele não pode nem de longe compreender em que nível e em que altura é possível falar de “dignidade”, onde o indivíduo se ultrapassa totalmente e não precisa mais trabalhar nem depor a serviço de sua sobrevivência individual.
Friedrich Nietzsche
Exalo quando entendo suas palavras. O que ele quer dizer é que, no escuro da noite, ele não quer ser presidente, ou Matthew Hamilton. Ele quer ser apenas um homem capaz de perder o controle sem ter uma história no dia seguinte na mídia. Eu quero segurá-lo, e eu quero dizer a ele que eu amo o jeito que ele perde o controle, e que eu amo o fato de que ele usa todas as expectativas que o mundo já colocou em cima dele, porque ele só fez o nome Hamilton ser muito bom.
Katy Evans (Mr. President (White House, #1))
Está me desejando um bom dia, ou quer dizer que o dia está bom, não importa que eu queira ou não, ou quer dizer que você se sente bem neste dia, ou que este é um dia para estar bem?
J.R.R. Tolkien (The Hobbit (The Lord of the Rings, #0))
Jeff, um dia você entenderá que é mais difícil ser bom do que ser inteligente.
Brad Stone (A loja de tudo: Jeff Bezos e a era da Amazon)
Pode-se dizer que a seleção natural esquadrinha todos os dias e todas as horas, em todo mundo, todas as variações, mesmo as mais insignificantes, rejeita o que é ruim, preserva e incorpora o que é bom e ocorre de maneira silenciosa e insensível, em todo momento e lugar nos quais a oportunidade se apresenta.18
Elizabeth Kolbert (A sexta extinção: Uma história não natural)
Evite os petitórios. Deus sabe de tudo de que precisamos. É preciso silêncio e recolhimento. Depois, desligando o pensamento de tudo o que o distrai, elevar a mente até Jesus. Pensar no Mestre sempre nos inspira. Pensando nEle, é quase natural brotar a gratidão. E agradecer sempre pelas oportunidades, amplia a consciência para a percepção do quanto recebemos. Depois sugiro exercitar o perdão, por si e pelos que a cercam. Nunca se canse de exercitar o perdão, Sofia. Pode parecer, em determinado momento, que não há mais nada a perdoar. Mas creia-me: leva muito tempo para que o perdão atinja todas as camadas de nossa memória e se faça completo. Por isso, exercite diariamente o perdão. Quando alguém, ao longo do dia, feri-la, ficará muito mais fácil deixar ir aquela mágoa. Mentalize em seguida tudo de bom que deseja para sua vida e depois peça as bênçãos de Deus, e sinta o amor dEle fluindo em seu ser. ​– Parece tão lindo! Mas acho difícil de fazer isso todos os dias. Eu tento, mas muitas vezes não consigo, esqueço, me distraio. ​– Sei que pode parecer uma sequência simples e até tola, mas quando praticada com todo o foco, com entrega das emoções, você perceberá que ela te levará a uma experiência bastante enriquecedora. Experimente
Sandra Carneiro (Todas as flores que eu ganhei (Portuguese Edition))
Tudo nele é negro como a asa de um corvo. Não consigo ver mais nada que o possa distinguir melhor... mas, depois de o ter visto uma só vez empregando a sua força na batalha, creio que o reconheceria entre um milhar de guerreiros. Corre para a refrega como se o chamassem para um banquete. Há nele mais do que mera força, parece que o corpo e a alma se entregam em cada golpe que vibra ao inimigo. Que Deus o purifique do crime de derramamento de sangue! É terrível, mas magnífico, observar a maneira como o braço e o coração de um homem podem triunfar sobre centenas de outros homens. — Rebeca, descreveu um herói. Certamente, apenas descansam para refrescarem as forças ou descobrir um meio de atravessarem o fosso. Sob um chefe, tal como o descreveu, não há lugar para temores, nem para demoras amedrontadas, nem para hesitações num generoso empreendimento, uma vez que as dificuldades que o tomam árduo, tornam-no também glorioso. Juro, pela honra da minha casa; juro, pelo nome da minha bela amada, que suportaria de bom grado dez anos de cativeiro, para poder lutar um dia ao lado de tão grande cavaleiro numa refrega como esta! — Infelizmente — respondeu Rebeca, deixando o seu posto junto da janela e aproximando-se da cama do cavaleiro ferido — esse impaciente desejo de ação... essa luta e esse rancor contra a sua presente debilidade, não deixarão de ter efeitos prejudiciais sobre a sua combalida saúde. Como pode desejar infligir ferimentos a outrem, sem ver ainda curados os que recebeu? — Rebeca — volveu ele — não sabe como é impossível, para alguém treinado nas ações de cavalaria, permanecer passivo, como um padre ou como uma mulher, quando à sua volta se desenrolam feitos de honra! O amor da batalha é o alimento do qual vivemos... o pó da ‘mêlée’ é a respiração das nossas narinas! Não vivemos... não desejamos viver senão enquanto formos vitoriosos e afamados. Estas são as leis da Cavalaria, juradas por nós e às quais sacrificamos tudo o que nos é querido. — E o que é isso, valente cavaleiro, senão oferecer um sacrifício ao demónio da vaidade, e transformar-se em Moloch através do fogo! Que lhe resta como prémio de todo o sangue que derramou... De todos os trabalhos e dores que suportou... De todas as lágrimas que os seus feitos causaram, quando a morte quebra a espada do homem forte e ultrapassa a ligeireza do cavalo? — O que resta? — gritou Ivanhoe. — Glória! mulher, glória! Que doura o nosso sepulcro e perpetua o nosso nome. — Glória? — insistiu Rebeca. — Ai! A cota enferrujada pendurada como um brasão sobre o túmulo escuro, e desfazendo-se em pó... os caracteres desfigurados da inscrição que o ignorantemonge mal sabe ler ao curioso peregrino... Serão suficientes recompensas para o sacrifício de todos os generosos afetos, para uma vida miseravelmente passada a tornar os outros também miseráveis? Ou haverá alguma virtude nas rudes rimas de um bardo errante para que o amor caseiro, o quente afeto, a paz e a felicidade, sejam ferozmente afastados, para se tornar no herói dessas baladas que os menestréis vagabundos cantam à noite a rústicos bêbedos nadando em cerveja?
Walter Scott
Tenho setenta e cinco anos, Roman. Vi inúmeras coisas ao longo da vida, e neste momento posso dizer que este mundo está prestes a mudar. Os dias vindouros serão ainda mais sombrios. Se encontrar algo de bom, não solte. Não pode perder tempo preocupado com coisas que, no fim, não terão importância. Em vez disso, é preciso se arriscar pela luz. Entende o que estou dizendo?
Rebecca Ross (Divine Rivals (Letters of Enchantment, #1))
Até então ele passara pela despreocupada idade da primeira juventude, uma estrada que na meninice parece infinita, onde os anos escoam lentos e com passo leve, tanto que ninguém nota a sua passagem. Caminha-se placidamente, olhando com curiosidade ao redor, não há necessidade de se apressar, ninguém empurra por trás e ninguém espera, também os companheiros procedem sem preocupações, detendo-se frequentemente para brincar. Das casas, a porta, a gente grande cumprimenta-se benigna e aponta para o horizonte com sorrisos de cumplicidade; assim o coração começa a bater por heroicos e suaves desejos, saboreia-se a véspera das coisas maravilhosas que aguardam mais adiante; ainda não se veem, não, mas é certo, absolutamente certo, que um dia chegaremos a elas. Falta muito? Não, basta atravessar aquele rio lá longe, no fundo, ultrapassar aquelas verdes colinas. Ou já não se chegou, por acaso? Não são talvez estas árvores, estes prados, esta casa branca o que procurávamos? Por alguns instantes tem-se a impressão que sim, e quer-se parar ali. Depois ouve-se dizer que o melhor está mais adiante, e retoma-se despreocupadamente a estrada. Assim, continua-se o caminho numa espera confiante, e os dias são longos e tranquilos, o sol brilha alto no céu e parece não ter mais vontade de desaparecer no poente. Mas a uma certa altura, quase instintivamente, vira-se para trás e vê-se que uma porta foi trancada às nossas costas, fechando o caminho de volta. Então sente-se que alguma coisa mudou, o sol não parece mais imóvel, desloca-se rápido, infelizmente, não dá tempo de olhá-lo, pois já se precipita nos confins do horizonte, percebe-se que as nuvens não estão mais estagnadas nos golfos azuis do céu, fogem, amontoando-se umas sobre as outras, tamanha é sua afoiteza; compreende-se que o tempo passa e que a estrada, um dia, deverá inevitavelmente acabar. A um certo momento batem às nossas costas um pesado portão, fecham-no a uma velocidade fulminante, e não há tempo de voltar. Será então como um despertar. Olhará à sua volta, incrédulo; depois ouvirá um barulho de passos vindo de trás, verá as pessoas, despertadas antes dele, que correm afoitas e o ultrapassam para chegar primeiro. Ouvirá a batida do tempo escandir avidamente a vida. Nas janelas não mais aparecerão figuras risonhas, mas rostos imóveis e indiferentes. E se perguntar quanto falta do caminho, ainda lhe apontarão o horizonte, mas sem nenhuma bondade ou alegria. Entretanto, os companheiros se perderão de vista, um porque ficou para trás, esgotado, outro porque desapareceu antes e já não passa de um minúsculo ponto no horizonte. Além daquele rio — dirão as pessoas —, mais dez quilômetros, e terá chegado. Ao contrário, não termina nunca, os dias se tornam cada vez mais curtos, os companheiros de viagem, mais raros, nas janelas estão apáticas figuras pálidas que balançam a cabeça. Então já estará cansado, as casas, ao longo da rua, terão quase todas as janelas fechadas, e as raras pessoas visíveis lhe responderão com um gesto desconsolado: o que era bom ficou para trás, muito para trás, e ele passou adiante, sem dar por isso. Ah, é demasiado tarde para voltar, atrás dele aumenta o fragor da multidão que o segue, impelida pela mesma ilusão, mas ainda invisível, na branca estrada deserta. Ai, se pudesse ver a si mesmo, como estará um dia, lá onde a estrada termina, parado na praia do mar de chumbo, sob um céu cinzento e uniforme, sem nenhuma casa ao redor, nenhum homem, nenhuma árvore, nem mesmo um fio de erva, tudo assim desde um tempo imemorável.
Dino Buzzati (Il Deserto dei Tartari e Dodici Racconti)
Os mass media estão ao lado do poder na manipulação das massas ou estão ao lado das massas na liquidação do sentido, na violência exercida contra o sentido e o fascínio? São os media que induzem as massas ao fascínio, ou são as massas que desviam os tuedia para o espectaeular? Mogadiscio-Stammheim: os media assumem-se como veículo da condenação moral do terrorismo e da exploração do medo com fins políticos, mas simultaneamente, na mais completa ambiguidade, difundem o fascínio bruto do acto terrorista, são eles próprios terroristas, na medida em que caminham para o fascínio (eterno dilema moral, ver Umberto Eco: como não falar do terrorismo, como encontrar um bom uso dos media — ele não existe). Os media carregam consigo o sentido e o contra-sentido, manipulam em todos os sentidos ao mesmo tempo, nada pode controlar este processo, veiculam a simulação interna ao sistema e a simulação destruidora do sistema, segundo uma lógica absolutamente moebiana e circular — e está bem assim. Não há alternativa, não há resolução lógica. Apenas uma exacerbação lógica e uma resolução catastrófica. Com um correctivo. Estamos em face deste sistema numa situação dupla e insolúvel «double bind» — exactamente como as crianças perante as exigências do universo adulto. São simultaneamente intimidados a constituir-se como sujeitos autónomos, responsáveis, livres e conscientes, e a constituir-se como objectos submissos, inertes, obedientes, conformes. A criança resiste em todos os planos, e a uma exigência contraditória responde também com uma estratégia dupla. A exigência de ser objecto opõe todas as práticas da desobediência, da revolta, da emancipação, em suma, toda uma reivindicação de sujeito. À exigência de ser sujeito opõe, de maneira igualmente obstinada e eficaz, uma resistência de objecto, isto é, exactamente o oposto: infantilismo, hiperconformismo, dependência total, passividade, idiotia. Nenhuma das suas estratégias tem mais valor objectivo que a outra. A resistência-sujeito é hoje em dia unilateralmente valorizada e tida por positiva — do mesmo modo que na esfera política só as práticas de libertação, de emancipação, de expressão, de constituição como sujeito político, as que são tidas por válidas e subversivas. Isso significa que se ignora o impacte igual, e sem dúvida muito superior, de todas as práticas objecto, de renúncia à posição de sujeito e de sentido - exactamente as práticas de massa — que enterramos sob o termo depreciativo de alienação e de passividade. As práticas libertadoras respondem a unta das vertentes do sistema, ao ultimato constante que nos é dirigido de nos constituirmos em puro objecto, mas não respondem à outra sua exigência, a de nos constituirmos em sujeitos, de nos libertarmos, de nos exprimirmos a todo o custo, de votar, de produzir, de decidir, de falar, de participar, de fazer o jogo — chantagem e ultimato tão grave como o outro, mais grave, sem dúvida, hoje em dia. A um sistema cujo argumento é de opressão e de repressão, a resistência estratégica é de reivindicação libertadora do sujeito. Mas isto reflecte sobretudo a fase anterior do sistema e, se ainda nos confrontamos com ela, já não é o terreno estratégico: o argumento actual do sistema é de maximalização da palavra, de produção máxima de sentido. A resistência estratégica, pois, é de recusa de sentido e de recusa da palavra — ou da simulação hiperconformista aos próprios mecanismos do sistema, que é uma forma de recusa e de não aceitação. É o que fazem as massas: remetem para o sistema a sua própria lógica reduplicando-a, devolvem, como um espelho, o sentido sem o absorver. Esta estratégia (se é que ainda se pode falar de estratégia) leva a melhor hoje em dia, porque é essa fase do sistema que levou a melhor.
Jean Baudrillard (Simulacra and Simulation)
200 e 250 PPM: Você é um leitor lento. Esse é considerado o limite inferior da escala. Ainda há muito o que melhorar. Entre 250 e 280 PPM: Se o resultado dos seus cálculos lhe colocou nessa faixa, você se encontra na média do que a população costuma ler. E é claro que poderemos melhorar esse índice. Entre 280 e 300 PPM: Sua média é considerada alta e muitos leitores dinâmicos se encontram nessa faixa. Assim sendo, você já está acima de grande parte da população. Mas por que parar por aqui se sabemos que você pode melhorar ainda mais? Entre 300 e 400 PPM: Bem rápido e poucas pessoas conseguem ler acima de 300 PPM. Essa agora é uma zona de desafio constante e você vai estar sempre querendo ultrapassar ela. Acima de 400 PPM: Excelente nível. Quanto mais alto for sua taxa de PPM melhores serão suas habilidades de leitura dinâmica. O ideal é manter seus índices sempre acima desse grupo. Conforme dito anteriormente, isso traz inúmeros benefícios para você. Ficou satisfeito com seu resultado? Geralmente a maioria das pessoas não fica e tem o desejo de subir nessa escala da quantidade de palavras por minuto que consegue ler. Assim sendo, agora esse é o momento ideal para que você defina uma meta a alcançar! Imagine a quantidade de palavras por minuto que você deseja atingir. Porém tenha em mente que você está começando agora e o caminho pode ser longo, por causa disso é sempre bom ter metas realistas. Mas isso não significa que ela precise manter-se sempre a mesma. Logo após definida sua meta, chegou a hora de colocar sua leitura em prática. Conforme você verá mais à frente, é importante criar uma agenda de leitura e que ela seja algo prazeroso na sua vida. Isso porque a prática saudável de leitura vai influenciar positivamente na sua velocidade e compreensão do que você lerá. Nada do que é feito obrigado e por pressão produz efeitos muito positivos. Somado a tudo isso, estudos revelam que se você praticar entre 15 e 20 minutos por dia, aplicando as técnicas de leitura dinâmica você conseguirá chegar a cerca de 400 palavras por minuto da sua capacidade de leitura em poucos dias. Impressionante, não é mesmo? Depois de definir seu objetivo de velocidade de leitura, uma ferramenta importante e muito útil para monitorar seu desempenho e avanços é fazer um gráfico de cada dia de treino. Diariamente,
Edward W. Cooper (Leitura Dinâmica: Ultrapassando seus Limites: leia melhor e mais rápido com técnicas de leitura dinâmica e fixação (para estudo ou lazer) (Portuguese Edition))
- Notem: quando a arte desaparecer, e isso pode suceder dum momento para o outro, a civilização estará no fim. Um belo dia acordamos e já não temos a civilização
Mário de Carvalho (Era Bom que Trocássemos umas Ideias sobre o Assunto)
E assim por diante, na ladainha sem fim que todos os interrogadores recitavam quando viam pela primeira vez seus detentos. Muitos detentos não conseguiam deixar de rir ao ouvir esse absurdo mais próprio do Feitiço do Tempo [Groundhog Day]; na verdade, era o único entretenimento que tínhamos na câmara de interrogatório. Quando o interrogador disse a um dos detentos “Sei que você é inocente”, ele riu com vontade e respondeu: “Preferia ser um criminoso e estar em casa com meus filhos”. Acho que qualquer coisa perde força por ser muito repetida. Quando uma pessoa ouve pela primeira vez uma expressão como “Você é o pior criminoso da face da Terra”, o mais provável é que fique assustadíssima. Porém, quanto mais ouve isso, mais o medo vai diminuindo, e chega o momento em que não tem efeito nenhum. Soa mais como um bom-dia.
Mohamedou Ould Slahi (Guantánamo Diary: Restored Edition)
Cada um que vive. Eu e António estamos casados há vinte e seis anos. Nem sempre é bom, nem sempre é ruim. Desconheço a balança que mede isso. É o que é, aceito, rejeito, mas não escolho mais tirar de mim esse amor entranhado, pertence a lugares em mim que não mando mais. Não fico tomando conta, podia ser assim, podia ser assado, medindo com régua o que falta. Não quero viver sem o António, caso-me todos os dias com ele, acordo e caso, depois faço o café.
Carla Madeira (Tudo é Rio)
Reze e trabalhe, fazendo de conta que esta vida é um dia de capina com sol quente, que às vezes custa muito a passar, mas sempre passa. E você ainda pode ter muito pedaço bom de alegria... Cada um tem a sua hora e a sua vez: você há de ter a sua.
João Guimarães Rosa (Sagarana)
-- Crónica do Expresso: Nunca e Já -- Já tive muitos tios e tias. Já fiz de confidente, intermediário, amigo secreto, saco de pancada. Já mantive amizades atrozes, hoje estou protegido pela desconfiança. Já dormi ao relento porque estava apaixonado, ou porque tinha 20 anos. Já andei em baixo presumindo sem motivo a condenação ou a salvação. Já tentei ser jovem em jovem, e falhei, maduro em jovem, mas não funcionou, e jovem na maturidade, mas deixei-me disso. Já fui escuteiro, imaginem-me a atar nós e a montar tendas. Já fui advogado estagiário. Já jantei todas as noites com jornalistas. Já fui boicotado e vetado. Já andei três vezes à pancada. Já fui a algumas cidades estrangeiras a que não tenciono regressar, como Macau, fantasmagoria colonial onde nem se consegue dar com a campa de Camilo Pessanha. Já estive na Tomatina, uma experiência realmente divertida que não repetirei. Já me envolvi em polémicas, mas esgotou-se-me a paciência. Já encenei uma peça e já quase integrei uma banda. Já tomei decisões definitivas, mas nem todas se concretizaram. Já acreditei na “verdade”, depois tornei-me um relativista prático, embora não teórico. Já me senti um oitocentista e um romântico alemão, até descobrir Larkin. Já fui ao cinema cinco vezes por semana. Já me sentei tardes inteiras em esplanadas. Já escrevi poemas torrencialmente, ainda que não fossem poemas bons ou sequer poemas. Já escrevi textos à máquina e já enviei cartas e postais, uma época que terminou. Já me dediquei em vão à honra sem glória e à glória sem honra. Já acreditei. Já confiei. Já me importei, mas as coisas mudam. Mas também há o que nunca fiz ou farei, porque passou o tempo, a oportunidade, a vontade. Nunca vivi no estrangeiro, faltou-me arrojo para isso. Nunca tive sorte quando a sorte favoreceu os audazes. Nunca falei bem em público, ainda que hoje, comparativamente, seja um Cícero. Nunca perdi uma segunda oportunidade de causar uma primeira impressão negativa. Nunca fui avaliado pelas minhas intenções, como abusivamente pretendia. Nunca confirmei aquilo que alguns amigos esperavam de mim. Nunca me dei bem com os correligionários políticos, sou como o aviador irlandês que não gosta de quem defende nem detesta quem ataca. Nunca consegui ser um bom católico, se bem que admitir isto já seja um começo. Nunca vi as pirâmides, nem Petra, nem a muralha de China, nem a cidade dos incas. Nunca voltei a Itália com o meu pai. Nunca cheguei a entrevistar Heaney, Marías ou Kundera. Nunca conheci a Nastassja Kinski. Nunca aprendi alemão para ler Hōlderlin. Nunca estudei dinamarquês por causa de Kierkegaard, como Unamuno. Leio bem três ou quatro línguas, mas nunca falei bem nenhuma. Nunca me especializei em nada, nem quero. Nunca escrevi para cinema. Nunca escrevi um romance. Há um ou outro verso meu que algumas pessoas sabem de cor, mas são versos de que não gosto. Nunca dei a outra face voluntariamente, mas involuntariamente dei muitas vezes. Nunca me arrependi de me ter arrependido. Nunca aproveitei o dia, e quero que Horácio vá dar banho ao cão. Nunca hesitei em hesitar. Nunca ou raramente me lembro de imediato de uma resposta excelente, porque sofro de “espírito da escada”: quando me ocorre a frase definitiva, já é tarde. Nunca confundi o belo e o bom, quer dizer, confundi sempre, mas nunca mais. Lembro-me de há 30 anos estudar Latim, e que “nunc” quer dizer “agora”.
Pedro Mexia
Não é bom todo dia, mas é bom toda a vida.
Carla Madeira (Tudo é Rio)
Se tens um coração de ferro, bom proveito. O meu, fizeram-no de carne e sangra todo dia.
José Saramago
Apetece-lhe outro drambuie? Falar em ampolas bebíveis dá-me sempre sede de líquidos xaroposos, amarelos, na esperança insensata de descobrir, por intermédio deles e da suave e jovial tontura que me proporcionam o segredo da vida e das pessoas, a quadratura do círculo das emoções. Por vezes, ao sexto ou sétimo cálice, sinto que quase o consigo, que estou prestes a consegui-lo, que as pinças canhestras do meu entendimento vão colher, numa cautela cirúrgica, o delicado núcleo do mistério, mas logo de imediato me afundo no júbilo informa de uma idiotia pastosa a que me arranco no dia seguinte, a golpes de aspirina e sais de frutos, para tropeçar nos chinelos a caminho do emprego, carregando comigo a opacidade irremediável da minha existência, tão densa de um lodo de enigmas como a pasta de açúcar na chávena matinal. Nunca lhe aconteceu isto, sentir que está perto, que vai lograr num segundo a aspiração adiada e eternamente perseguida anos a fio, o projecto que é ao mesmo tempo o seu desespero e a sua esperança, estender a mão para agarrá-lo numa alegria incontrolável e tombar, de súbito, de costas, de dedos cerrados sobre nada, à medida que a aspiração ou o projecto se afastam tranquilamente de si no trote miúdo da indiferença, sem a fitarem seque? Mas talvez que você não conheça essa espécie horrorosa de derrota, talvez que a metafísica constitua apenas para si um incómodo tão passageiro como um comichão efémera, talvez que a habite a jubilosa leveza dos botes ancorados, balouçando devagar numa cadência autónoma de berços. Uma das coisas, aliás, que me encanta em si, permita-me que lho afirme, é a inocência, não a inocência inocente das crianças e dos polícias, feita de uma espécie de virgindade interior obtida à causa da credulidade ou da estupidez, mas a inocência sábia, resignada, quase vegetal, diria, dos que aguardam dos outros e deles próprios o mesmo que você e eu, aqui sentados, esperamos do empregado que se dirige para nós chamado pelo meu braço no ar de bom aluno crónico: uma vaga atenção distraída e o absoluto desdém pela magra gorjeta da nossa gratidão.
António Lobo Antunes (Os Cus de Judas)
Sou o que sobrou. Estou esperando pelo dia que eu serei tão bom quanto imagino.
Gabriel Yukio Goto (Um Abismo Atrai o Outro)
Hoje é um bom dia para refletir nos sábios conselhos recebidos de seus pais e de outros cristãos verdadeiros. Pela
Alberto R. Timm (Meditações Diárias 2018 - Um Dia Inesquecível (Portuguese Edition))
Alguns livros foram acrescentados por Antenor, que comprava livros como quem compra lanternas: é bom ter em casa os maiores pensadores do mundo, para se um dia precisarmos deles.
Martha Batalha (A Vida Invisível de Eurídice Gusmão)
Dia desses estava brincando com o filho de uma amiga. Não me recordo qual foi a brincadeira que fiz, mas lembro que ele, de um jeito sério e firme, me repreendeu. "Tia, eu não gosto dessa brincadeira". Foi desconfortável escutar isso. Ver um serzinho de um metro te falando que você não pode fazer algo é estranho, sobretudo dentro dessa nossa percepção de que adulto manda, criança obedece. Identifiquei a raiz do meu desconforto e sorri. "Isso mesmo" Quando alguém fizer algo que você não gosta, fale!". Ele retribuiu o sorriso, sugeriu outra brincadeira e seguimos, com a mesma leveza que estávamos brincando, mas agora eu sabia o limite até onde poderia ir. E, principalmente, ele sabia que o seu "Não" deveria ser respeitado. Não sei dizer quantas crianças já foram abusadas sexualmente. Quantas e quantas foram indevidamente tocadas pelos adultos próximos e que não disseram "não" porque sequer sabiam que tinham esse direito. A gente vive nessa loucura de que tem que ensinar a criança a respeitar os outros, a obedecer, e esquece que, tão importante quanto isso, é ensinar que merecem respeito. Que podem e devem dizer NÃO. E toda vez que desrespeitamos esse direito inalienável, lhes ensinamos que a sua voz não merece ser ouvida, que seu corpo não merece ser respeitado, que seus limites não deveriam existir. Salvo situações extremas - o que não inclui orgulho ferido - o não deve sim ser atendido. E, nas exceções, mesmo que não atendido, deve ser acolhido e valorizado. Portanto, inclua, ali, ao lado do "por favor", "obrigada", "bom dia", "boa tarde" e "boa noite", o magnífico e essencial "NÃO!
Elisama Santos (Educacao Nao Violenta (Em Portugues do Brasil))
O patrão que se esquece que tem um Senhor no céu fracassa em ser um bom patrão sobre a terra. (pg 176)
Hernandes Dias Lopes (Efésios - Igreja a Noiva Gloriosa de Cristo (Efésios - Comentários Expositivos Hagnos))
Qualquer coisa que brilhe São eternos esta oficina mecânica, estes carros, a luz branca do sol. Neste momento, especialmente neste, a morte não ameaça, tudo é parado e vive, num mundo bom onde se come errado, delícia de marmitas de carboidrato e torresmos. Como gosto disso, meu deus! Que lugar perfeito! Ainda que volta e meia alguém morra, tudo é muito eterno, só choramos por sermos condizentes. Necessito pouco de tudo, já é plena a vida,tanto mais que descubro: Deus espera de mim o pior de mim, num cálice de ouro o chorume do lixo que sempre trouxe às costas desde que abri meus olhos, bebi meu primeiro leite no peito envergonhado de minha mãe. Ofereço cantando, estou nua, os braços erguidos de contentamento. Sou deste lugar, com tesoura cega cortei aqui o meu cabelo, sedenta de ouro esburaquei o chão atrás do que brilhasse. Pois o encontro agora escuro e fosco no dia radioso é único e não cintila. Veio de vós. A vida. Do opaco. Do profundo de Vós. Abba! Abba! Aceita o que me enoja, gosma que me ocultou Teu rosto. Vivo do que não é meu. Toma pois minha vida e não me prives mais desta nova inocência que me infundes. Selected by: W. Johnson
Adélia Prado (Miserere)
Anos depois da guerra, depois dos casamentos, dos filhos, dos divórcios, dos livros, ele veio a Paris com a mulher. Telefonara-lhe. Sou eu. Ela reconhecera-o logo pela voz. Ele dissera: queria só ouvir a sua voz. Ela dissera: sou eu, bom dia. Ele estava intimidado, tinha medo como dantes. A sua voz tremia de repente. E com o tremor, de repente, ela voltara a encontrar a pronúncia da China. Ele sabia que ela tinha começado a escrever livros, soubera-o pela mãe dela que voltara a ver em Saigão. E depois dissera-lho. Dissera-lhe que era como dantes, que ainda a amava, que nunca poderia deixar de a amar, que a amaria até à morte.
Marguerite Duras (O Amante)
Parábola do bom samaritano — 29Ele, porém, querendo se justificar, disse a Jesus: "E quem é meu próximo?" 30Jesus retomou: "Um homem deseja de Jerusalém a Jericó, e caiu no meio de assaltantes que, após havê-lo despojado e espancado, foram-se, deixando-o semimorto. 31Casualmente, descia por esse caminho um sacerdote; viu-o e passou adiante. 32Igualmente um levita, atravessando esse lugar, viu-o e prosseguiu. 33Certo samaritano em viagem, porém, chegou junto dele, viu-o e moveu-se de compaixão. 34Aproximou-se, cuidou de suas chagas, derramando óleo e vinho, depois colocou-o em seu próprio animal, conduziu-o à hospedaria e dispensou-lhe cuidados. 35No dia seguinte, tirou dois denários e deu-os ao hospedeiro, dizendo: 'Cuida dele, e o que gastares a mais, em meu regresso te pagarei'. 36Qual dos três, em tua opinião, foi o próximo do homem que caiu nas mãos dos assaltantes?" 37Ele respondeu: "Aquele que usou de misericórdia para com ele". Jesus então lhe disse: "Vai, e também tu, faze o mesmo".
Various (Bíblia de Jerusalém: Bíblia Sagrada)
Hugo seperti bom waktu. Dia menyimpan begitu banyak amarah yang dapat meledak kapan saja. (Helen)
Ayudewi (Sweet Karma)