Boa Tarde Quotes

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O amor é fodido. Hei-de acreditar sempre nisto. Onde quer que haja amor, ele acabará, mais tarde ou mais cedo, por ser fodido. É melhor do que morrer. Há coisas, como o álcool e os livros, que continuam boas. A morte é mais aborrecida. Por que é que fodemos o amor? Porque não resistimos. É do mal que nos faz. Parece estar mesmo a pedir. De resto, ninguém suporta viver um amor que não esteja pelo menos parcialmente fodido. Tem de haver escombros. Tem de haver esperança. Tem de haver progresso para pior e desejo de regresso a um tempo mais feliz. Um amor só um bocado fodido pode ser a coisa mais bonita deste mundo
Miguel Esteves Cardoso (O Amor é Fodido)
(…) Senti saudades, não do passado, mas dum futuro qualquer, tão longe, tão lá no fundo, tão sonho, tecido apenas de pequenas coisas doces, num mundo menos pesado de cadáveres, sem outro heroísmo que não fosse o de vivermos teimosamente todos os dias e, sobretudo, sem a horrível morte colectiva a substituir a boa, a individual, a sagrada morte de cada um. (…) Assim cogitei toda a tarde, no oitavo dia do mês de Maio de mil novecentos e quarenta e cinco, data em que findou a segunda guerra mundial, no meio de vivas e de bandeiras de triunfo, e em que tentei, em vão, resignar-me ao mundo dos outros e às montras de enchidos de porco, - sem estrelas reflectidas nos vidros.
José Gomes Ferreira (O Mundo dos Outros - Histórias de Vagabundagem)
Vim a saber mais tarde que muitos homens vêem sempre a boa fortuna dos outros como uma desfeita contra si próprios.
Robin Hobb (Assassin's Apprentice (Farseer Trilogy, #1))
Se o sofrimento for sentido, canta-se sem ouvintes, basta apenas abrir a boca que sai lá de dentro o medo aos gritos, e depois volta a entrar, porque é disto que a música vive.
Ivan Vera Gomes (Boa Noite Já é Tarde)
«Bom dia», diz ele, e ocorre-me então que a palavra «dia», no sentido em que ele a emprega, se refere especificamente às horas entre as oito da manhã e o meio-dia. Nunca tinha pensado nisso antes. Ele quer que as horas entre as oito e o meio-dia sejam boas, isto é, agradáveis, divertidas, proveitosas! Quatro horas de prazer e trabalho frutuoso! Caramba, é estupendo!Que coisa mais simpática! Bom dia! E o mesmo se aplica a «boa tarde» e «boa noite»! Meu Deus! A língua inglesa é uma forma de comunicação! O acto de conversar não é apenas um fogo cruzado em que se dispara e se é atingido!
Philip Roth (Portnoy’s Complaint)
Primeiro casa para todos, diziam, depois comida para todos, depois transporte para todos, depois meios de produção para todos. Que as casas devessem ser construídas por empreiteiros privados não lhes importava muito; a verdade haveria de prevalecer no choque dialético entre o individual e o coletivo, entre o egoísmo e o altruísmo, entre o custo das casas e os preços cobrados pelos empreiteiros, entre a boa qualidade apregoada para a argamassa e as fendas que mais cedo ou mais tarde apareceriam nas paredes; fendas enormes, ramificadas em caprichosos desenhos (galhados de cervos, árvores de decisão ou mesmo letras como as que o plano incluía, de acordo com as ideias do socialista francês Louis Blanc, a criação, no setor público da economia, de verdadeiras oficinas sociais auto-administradas em moldes empresariais. O lucro dessas oficinas, em parte seria destinado à assistência médica e à previdência social, e em parte reinvestido. Operários investindo, aí estava a coisa: as armas do capitalismo usadas contra o próprio capitalismo!
Moacyr Scliar (The Centaur in the Garden)
Só uma pessoa o visitava com regularidade, todas as semanas, sem falhar, e não era nenhum dos membros da congregação, nem nenhum dos seus «anjos» devotos. Era a minha mãe. Nunca percebi porquê. No passado, tinham-se odiado. O reverendo Martin tinha dito e feito coisas horríveis à minha mãe. Mais tarde, ela havia de me dizer: - Exactamente por isso, Eddie. Tens de compreender que ser uma pessoa boa nada tem a ver com entoar hinos nem rezar a um qualquer deus mítico. Não é usar um crucifixo nem ir todos os domingos à igreja. Uma pessoa boa não precisa de religião porque está em paz consigo mesma ao fazer o que deve ser feito.
C.J. Tudor (O homem de giz)
Algumas vezes tapei-te sem saberes, isso conta para alguma coisa? No caixão foi a vez que estiveste mais fria, senti-te no pequeno beijo ao despedir-me. Retribuíste-me à tua maneira, como podias, como foste podendo nos últimos dias, quase sem forças para o cigarro que levavas à boca, queimando-o com um desesperado bafo que tremia-te até aos pés, enchendo-te de fumo que te livravas com um abanar de mãos, como se estivesses a dizer adeus.
Ivan Vera Gomes
...Ele acariciava-a nalguns cabelos enquanto ela brincava com o bordo dos bolsos das calças, a enfiar primeiro a ponta das unhas compridas, a seguir os dedos, e só depois o resto das mãos, a procurá-lo, a encontrá-lo? Onde estamos nós quando nos estão por dentro? Um punho vazio por lá, até ao fim da algibeira, uma aproximação mais intima que qualquer amor, uma compreensão, um entendimento sobre qualquer reacção, alguém verdadeiramente nos braços de alguém, confiantes, donos de si, entregues um ao outro - Toma, é para ti. Toda a gente a perder o sorriso à volta menos vocês os dois, indiferentes ao local onde se tocavam, como se estivessem dentro de uma casa feita com lençóis, duas crianças livres sem mais nada na vontade, só o que tinham em frente, a encostarem-se, a voarem alto sem chão para aterrar, planam baloiçando até ao cimo dos prédios, serenos, satisfeitos, a cidade inteira nos pés, as luzes acendem-se a anunciar a noite, se não largarem as mãos sabem sempre para onde ir, com uma aprovação sobre aquilo que sentem, quantos de nós a tem? A aflição de uma paixão sem dó, um beijo escorregadio, uma nudez para além do corpo, clara, impaciente, apertos marcados na nuca, cinco dedos a tocarem piano numa das pernas, a cantarem uma melodia baixinho, lentamente.
Ivan Vera Gomes
Uma maneira cómoda de travar conhecimento com uma cidade é descobrir como lá se trabalha, como se ama e como se morre. Na nossa pequena cidade, talvez por efeito do clima, tudo se faz ao mesmo tempo, com o mesmo ar frenético e distante. Ou seja, as pessoas aborrecem-se e aplicam-se a criar hábitos. Os nossos concidadãos trabalham muito, mas apenas para enriquecerem. Interessam-se principalmente pelo comércio e ocupam-se, em primeiro lugar, segundo a sua própria expressão, em fazer negócios. Naturalmente, têm gosto pelos prazeres simples, gostam das mulheres, do cinema e dos banhos de mar. Porém, muito sensatamente, reservam os prazeres para os domingos e os sábados à noite, procurando nos outros dias da semana ganhar muito dinheiro. À tarde, quando saem dos escritórios, reúnem-se a uma hora fixa nos cafés, passeiam na mesma avenida ou põem-se às varandas. Os desejos dos mais novos são violentos e breves, enquanto os vícios dos mais velhos não vão além das associações de bolómanos, os banquetes das amicales e as assembleias onde se joga forte sobre a sorte das cartas. Dir-se-á que nada disso é peculiar à nossa cidade e que, em suma, todos os nossos contemporâneos são assim. Sem dúvida, nada há de mais natural, hoje em dia, do que ver as pessoas trabalharem de manhã à noite e perderem em seguida, a jogar às cartas, no café, ou a dar à língua, o tempo que lhes resta para viverem. Mas há cidades e países onde as pessoas têm, de tempos a tempos, a suspeita de que existe mais alguma coisa. Isso, em geral, não lhes modifica a vida. Simplesmente houve essa suspeita, e sempre é um ganho. Orão, pelo contrário, é uma cidade sem suspeitas, ou seja, uma cidade inteiramente moderna. Não é, pois, necessário precisar a maneira como se ama entre nós. Os homens e as mulheres ou se devoram rapidamente no chamado ato do amor ou se entregam a um longo hábito entre dois. Também isso não é original. Em Orão, como no resto do mundo, por falta de tempo e de reflexão, é-se obrigado a amar sem o saber. O que é mais original na nossa cidade é a dificuldade que lá se encontra em morrer. Dificuldade, aliás não é o termo exato: seria mais justo falar em desconforto. Nunca é agradável estar doente, mas há cidades e países onde nos amparam na doença e onde se pode, de certo modo, deixar correr. Um doente precisa de ternura, gosta de se sentir apoiado em qualquer coisa, o que é bastante natural. Em Orão, porém, os excessos do clima, a importância dos negócios que lá se tratam, a insignificância da paisagem, a rapidez do crepúsculo e a qualidade dos prazeres, tudo exige boa saúde. Um doente, lá, encontra-se muito só. Como pensar então naquele que vai morrer, apanhado na armadilha por detrás das paredes crepitantes do calor, enquanto no mesmo minuto toda uma população, ao telefone ou nos cafés, fala de letras de câmbio, de mercadorias recebidas ou de descontos? Compreender-se-á o que há de desconfortável na morte, mesmo moderna, quando ela sobrevém num lugar tão árido.
Albert Camus (The Plague)
Em Paris, passeando de braço dado com uma noiva casual num outono tardio, quase não conseguia conceber felicidade mais pura que daquelas tardes douradas, com cheiro rústico das castanhas nos braseiros, os acordões sentimentais, os namorados insaciáveis que não acabavam de se beijar nunca na calçada dos cafés, mas mesmo assim dizia a si mesmo com a mão no coração que não se dispunha a trocar por tudo aquilo um único instante do seu Caribe em abril. Era ainda jovem demais para saber que a memória do coração elimina as más lembranças e enaltece as boas e que graça a esse artifício conseguimos suportar o passado. Mas quando voltou a ver do convés do navio o promontório branco do bairro colonial, os urubus imóveis nos telhados, a roupa dos pobres estendida a secar nas sacadas, compreendeu até que ponto tinha sido uma vítima fácil das burlas caritativas da saudade.
Gabriel García Márquez (Love in the Time of Cholera)
Este homem é previdente e antecipa-se, está alerta e conta com o que quase ninguém conta: conta com o que há-de vir e vê o que acontecerá depois, e por isso quando faz qualquer coisa acredita que é justo. Ou talvez não seja assim mas o inverso, talvez tenha boa retórica mental e verbal e actue em tudo sem premeditação, sabendo que encontrará mais tarde o argumento ou o raciocínio adequado para justificar o que terão improvisado o seu gosto e o seu instinto, isto é, para explicar a si mesmo os seus actos e as suas palavras, sabendo que tudo se pode defender e que qualquer convicção contrária pode ser rebatida, a razão pode estar sempre do nosso lado e tudo pode ser revelado quando é acompanhado pela sua exaltação ou a sua desculpa ou pela sua atenuante ou pela sua mera representação, revelar é uma forma de generosidade, tudo pode acontecer e tudo pode ser enunciado e ser aceite, de tudo se pode sair impune ou, ainda mais, indemne, os códigos e mandamentos e leis não se sustêm e são sempre convertíveis em papel molhado, há-de haver sempre alguém que consegue dizer: "Não se aplicam a mim, ou não no meu caso, ou desta vez, embora talvez na próxima sim, se cometer a próxima.
Javier Marías (Tomorrow in the Battle Think on Me)
Coma arroz tenha fé nas mulheres O que eu não sei Eu ainda posso aprender Se estou sozinha agora Estarei com elas mais tarde Se estou fraca agora Posso me tornar forte Lentamente, lentamente Se aprender, posso ensinar as outras Se as outras aprenderem antes Eu devo acreditar Que elas voltarão e me ensinarão Elas não vão embora do país com seu conhecimento E me enviarão uma carta em algum momento Devemos estudar todas as nossas vidas Mulheres vindas de mulheres Indo para mulheres Tentando fazer tudo que pudermos Com as palavras Em seguida, tentar trabalhar com ferramentas Ou com nossos corpos Tentando ficar o tempo que for preciso Lendo livros quando não há professores Ou quando eles estão muito distantes Ensinando a nós mesmas Imaginando outras lutando Devo acreditar que nós estaremos juntas E construir confiança o suficiente Para que quando eu precise lutar sozinha Eu saiba que há irmãs que Ajudariam se soubessem Irmãs que viriam Para me apoiar mais tarde Mulheres exigindo liberdade Cada uma com suas necessidades Nossa vida completamente dilacerada Pela velha sociedade Nunca nos dando o amor ou o trabalho Ou a força ou a segurança ou a informação Que nos poderia ser útil Nunca ajudadas pelas Instituições Que nos aprisionam Quando precisamos de cuidados médicos Somos abatidas Quando precisamos da polícia Somos insultadas e ignoradas Quando precisamos de pais e mães Encontramos robôs Treinados para nos manter em nossos lugares Quando precisamos de trabalho Nos dizem para nos tornarmos parte do sistema que nos destrói Alimento que nutre Medicina que cura Canções que nos lembram de nós mesmas E nos fazem querer continuar com o que importa para nós Vamos sair de novo Encontrando as mulheres que saem pela primeira vez Sabendo que esse amor faz uma boa diferença em nós Afirmando uma vida contínua com mulheres Devemos ser amantes médicas soldadas Artistas mecânicas agricultoras Todas em nossas vidas Ondas de mulheres Tremendo de amor e raiva Cantando, nós devemos enfurecer Beijando, virar e quebrar a velha sociedade Sem nos tornarmos os nomes que elogiam As mentes que pagam Coma arroz tenha fé nas mulheres O que eu não sei agora Ainda posso aprender Lentamente, lentamente Seu eu aprender posso ensinar as outras Se as outras aprendem antes Eu devo acreditar Que elas voltarão e me ensinarão fran winant – Tradução por Marcella
Fran Winant
Dia desses estava brincando com o filho de uma amiga. Não me recordo qual foi a brincadeira que fiz, mas lembro que ele, de um jeito sério e firme, me repreendeu. "Tia, eu não gosto dessa brincadeira". Foi desconfortável escutar isso. Ver um serzinho de um metro te falando que você não pode fazer algo é estranho, sobretudo dentro dessa nossa percepção de que adulto manda, criança obedece. Identifiquei a raiz do meu desconforto e sorri. "Isso mesmo" Quando alguém fizer algo que você não gosta, fale!". Ele retribuiu o sorriso, sugeriu outra brincadeira e seguimos, com a mesma leveza que estávamos brincando, mas agora eu sabia o limite até onde poderia ir. E, principalmente, ele sabia que o seu "Não" deveria ser respeitado. Não sei dizer quantas crianças já foram abusadas sexualmente. Quantas e quantas foram indevidamente tocadas pelos adultos próximos e que não disseram "não" porque sequer sabiam que tinham esse direito. A gente vive nessa loucura de que tem que ensinar a criança a respeitar os outros, a obedecer, e esquece que, tão importante quanto isso, é ensinar que merecem respeito. Que podem e devem dizer NÃO. E toda vez que desrespeitamos esse direito inalienável, lhes ensinamos que a sua voz não merece ser ouvida, que seu corpo não merece ser respeitado, que seus limites não deveriam existir. Salvo situações extremas - o que não inclui orgulho ferido - o não deve sim ser atendido. E, nas exceções, mesmo que não atendido, deve ser acolhido e valorizado. Portanto, inclua, ali, ao lado do "por favor", "obrigada", "bom dia", "boa tarde" e "boa noite", o magnífico e essencial "NÃO!
Elisama Santos (Educacao Nao Violenta (Em Portugues do Brasil))
Mas, quando nada subsiste de um passado antigo, após a morte dos seres, após a destruição das coisas, apenas o cheiro e o sabor, mais frágeis mas mais vivazes, mais imateriais, mais persistentes, mais fiéis, permanecem ainda por muito tempo, como almas, a fazer-se lembrados, à espera sobre a ruína de tudo o resto, a carregar sem vacilações sobre a sua gotinha quase impalpável o edifício imenso da memória. E mal reconheci o gosto do pedaço de madalena ensopado na tília que a minha tia me dava (se bem que então ainda não soubesse e tivesse de deixar para muito mais tarde a descoberta de porque é que aquela recordação me fazia tão feliz), logo a velha casa cinzenta sobre a rua, onde ficava o seu quarto, veio, como um cenário de teatro, juntar-se ao pequeno pavilhão que dava para o jardim, que havia sido construído para os meus pais nas traseiras (aquela superfície truncada, a única que até então tinha tornado a ver); e com a casa, a cidade, desde manhã até à noite e com toda a espécie de tempo, a praça para onde me mandavam antes do almoço, as ruas onde ia fazer compras, os caminhos que se tomavam quando estava bom tempo. E, tal como naquele jogo em que os Japoneses se divertem a molhar numa tigela de porcelana cheia de água pedacinhos de papel até então indistintos e que, logo depois de ensopados, se estendem, torcem, tomam cor, se diferenciam, se transformam em flores, em casas, em personagens consistentes e reconhecíveis, assim também, agora, todas as flores do nosso jardim e as do parque do senhor Swann, e os nenúfares do Vivonne, e a boa gente da aldeia, e as suas casinhas, e a igreja, e Combray inteira mais os arredores, tudo isso que toma forma e solidez, saiu, cidade e jardins da minha xícara de chá.
Marcel Proust
Diante dos seus olhos apareceu então a imagem minúscula e claramente iluminada de Adolf Hitler dirigindo-se ao servis lacaios que deviam constituir o Reichtag por finais dos anos 30. Der Führer estava então com o seu ar sarcástico, jovial e zombeteiro. Aquela cena famosa ― que todos os homens de Yancy conheciam de cor― era aquela em que Hitler respondia ao requerimento que lhe fora feito pelo presidente Roosevelt para que garantisse as fronteiras de uma boa dúzia de minúsculas nações europeias. Uma a uma Hitler enunciava as nações que constituíam tal lista, a voz ia num crescendo ao ler o nome de cada uma, e de cada vez, as marionetes articuladas exultavam com o crescendo de troça do seu líder. A emotividade de tudo aquilo ― der Führer, possesso de um divertimento titânico perante aquela lista tão absurda (mais tarde iria invadir, sistematicamente, quase todas as nações então referidas), os rugidos daqueles loucos… Joseph Adams escutava, observava, sentia ecoarem dentro de si esses berros, sentia um divertimento sarcástico em consonância com o de Hitler ― e ao mesmo tempo sentia um receio pura e simplesmente infantil de que aquela cena tivesse alguma vez ocorrido realmente. O que de fato acontecera. Aquele segmento, do primeiro episódio do documentário A, era ― por estranho que tal pudesse parecer, dada a sua natureza de tal modo demoníaca ― autêntico.
Philip K. Dick (The Penultimate Truth)
Ando a escrever até me cair a pele, porque nem sempre se sofre com lágrimas.
Ivan Vera Gomes (Boa Noite Já é Tarde)
O país inteiro pode arder, menos os livros.
Ivan Vera Gomes (Boa Noite Já é Tarde)
Se fizer a primeira chamada recebo uma Bíblia grátis. Talvez ligue, Deus é um gajo que custa muito e esta é uma oportunidade única de tê-lo sem pagar.
Ivan Vera Gomes (Boa Noite Já é Tarde)
Fizeste uma rosa de papel e puseste-a no prato da tua mãe, e ela a sentir-se de novo a parir-te.
Ivan Vera Gomes (Boa Noite Já é Tarde)
O frio deita-se sempre tarde.
Ivan Vera Gomes (Boa Noite Já é Tarde)
Todos os caminhos se alongam na ansiedade de querer chegar.
Ivan Vera Gomes (Boa Noite Já é Tarde)
Tudo isto é tão desproporcionado e tão belo, só vou sair do meu país em último caso. A tatuagem da águia do Benfica no peito do Miguel fascina-me, nos dias de calor exibe-a de camisa sem botões com o andar curvo do vinho, e sempre que cai sem mais sede, é de costas que fica deitado, porque o orgulho que tem pelo clube é maior que a dignidade que tem por si.
Ivan Vera Gomes (Boa Noite Já é Tarde)
Não vás na onda de quem se afoga porque não é com fechaduras que se trancam as portas.
Ivan Vera Gomes (Boa Noite Já é Tarde)
Se hoje não chover fico-me pelas estrelas.
Ivan Vera Gomes (Boa Noite Já é Tarde)
És tão reles que nem reparas que estás a roubar a dignidade a quem come o frango com as mãos.
Ivan Vera Gomes (Boa Noite Já é Tarde)
É a sensação de rodar, rodar, rodar, sem saber exatamente pra onde estava indo ou como se já estivesse no céu. Por que acredito totalmente que é pra lá que eu vou quando isso for decidido, quando for o momento. Eu não sabia o que estava acontecendo, porque eu não sabia como começou acontecer. Uma tarde de domingo, linda, maravilhosa, um sol belo, azul, 17h. Eu, ahn, ao contrário do que os homens pensam, eu dirijo muito bem. Porque pra dirigir Rio, São Paulo, Porto Alegre, precisa dirigir muito bem. Não tinha movimento e era incrível, era Domingo, era pra estar lotado de carros vindo da praia. Era verão. Dia 19 de dezembro de 1999, exatamente no dia que minha mãe se tivesse viva, estaria de aniversário. E eu vinha muito feliz, e eu estava indo muito feliz pra Santa Isabel, aonde esses amigos maravilhosos numa turnê que eu fiz com terapia sexual e que eles se tornaram amigos íntimos. Estávamos indo eu e a minha empresária, minha amiga querida, que hoje é minha amiga querida e não mais empresária, Berenice Lamônica, quando tudo começou a girar, girar, girar, girar e eu disse: "Berenice, segura, nós vamos bater". Nada mais me lembro! Nada mais me lembro! Apenas sei que foram horas e horas e horas e horas de resgate porque pensavam que eu estava realmente morta! (...) Eu tive sete vértebras realmente feridas, não pude nem mais fazer a novela, não pude mais nem...Eu tive que...Era natal, tive que ir com aquelas macas da Varig e tal, e realmente foi uma coisa terrível e foram meses e meses na cama de recuperação, foi uma coisa terrível. (...) Ah, eu tenho certeza absoluta que foi ele que me salvou! Aliás, a minha vida, eu digo: é uma antes do acidente e outra pós-acidente (...) A oração, sobretudo, a oração é que te recupera. E ali começou uma nova Leila, uma nova Leila! É esse Deus que me tirou dali, são esses anjos, esse Jesus Cristo meu irmão que me tirou dali. E um bom carro também, né, se pode falar! Se eu tivesse de um fusquinha que tem que empurrar - me desculpe os fusquinhas, acho ótimo - eu não estaria lá, com certeza. Não estaria mais aqui, eu seria também um anjo, tenho certeza. Porque tudo que eu faço na minha vida, sem pieguice, é tentar ser boa!
Leila Lopes
Deus é só uma expressão como outra qualquer que nos apazigua como uma asneira ou um grito. Por favor, livrai-nos de Ti, ámen.
Ivan Vera Gomes (Boa Noite Já é Tarde)
Entra demasiado mar por aqui adentro.
Ivan Vera Gomes (Boa Noite Já é Tarde)
Talvez me esqueça de ti e viva sem te ter perdido.
Ivan Vera Gomes (Boa Noite Já é Tarde)