“
Jamais haverá anos novos, se continuar a repetir os mesmos erros dos anos velhos
”
”
Luís de Camões
“
...do you like to write?"
"No. No writer really likes to write. I like to make love and drink wine. At my age I shouldn't lose time with anything else, but I can't stop writing. It's a disease.
”
”
Rubem Fonseca (Feliz Ano Novo)
“
Quando o Pereba chegou, eu enchi os copos e disse, que o próximo ano seja melhor. Feliz Ano Novo.
”
”
Rubem Fonseca (Feliz Ano Novo)
“
Os homens nunca hão-de perceber as mulheres. Esperar anos e anos por uma mala? Como quem espera um filho? Porque é que as mulheres gostam tanto de objectos novos? Porque é que os homens gostam tanto de mulheres novas?
”
”
Clara Ferreira Alves (Mala de Senhora e Outras Histórias)
“
(...)
e nunca me disseram o nome daquele oceano
esperei sentada à porta... dantes escrevia cartas
punha-me a olhar a risca do mar ao fundo da rua
assim envelheci... acreditando que algum homem ao passar
se espantasse com a minha solidão.
(anos mais tarde, recordo agora, cresceu-me uma pérola no coração. mas estou só, muito só, não tenho a quem a deixar.)
um dia houve
que nunca mais avistei cidades crepusculares
e os barcos deixaram de fazer escala à minha porta
inclino-me de novo para o pano deste século
recomeço a bordar ou a dormir
tanto faz
sempre tive dúvidas que alguma vez me visite a felicidade
”
”
Al Berto (O Último Coração do Sonho)
“
A luz mais gloriosa do Ano Novo é a doce esperança.
”
”
Mehmet Murat ildan
“
O BEIJO E A LÁGRIMA
Quero um beijo, pediu ela.
Um sismo
abalou o peito dele.
E devotou o calor
de lava dos seus lábios,
entontecida água na cascata.
Entusiamado,
ele se preparou para, de novo,
duplicar o corpo e regressar à vertigem do beijo.
Mas ela o fez parar.
Só queria um beijo.
Um único beijo para chorar.
Há anos que não pranteava.
E a sua alma se convertia
em areia do deserto.
Encantada,
ela no dedo recolheu a lágrima.
E se repetiu o gesto
com que Deus criou o Oceano.
”
”
Mia Couto (Idades Cidades Divindades)
“
Primeiro você precisa saber a sua própria língua de uma maneira absoluta. Depois, esquecer que sabe a língua e começar tudo de novo, para dar aquele passo novo na língua. Do contrário, você seria uma pessoa formal, escrevendo muito bem, mas uma coisa chatérrima. Portanto, é todo um processo de construir e destruir. Isso leva anos e, quando você está velhinho, parece que aí você consegue escrever mais ou menos bem. Quando se está com aquelas manchas nas mãos, que aparecem com os anos e que eu chamo de "as flores do sepulcro".
”
”
Hilda Hilst (Fico Besta Quando Me Entendem: Entrevistas com Hilda Hilst)
“
Entrávamos num novo mundo com novas pessoas, era como se a vida nos obrigasse a fazer luto dos anos passados. E, no final de contas, éramos todos passageiros.
”
”
Helena Magalhães (Raparigas Como Nós)
“
É impressionante como o rosto de uma pessoa amada -- o rosto de alguém com quem já vivemos, a quem julgamos conhecer, talvez o único rosto que seríamos capazes de descrever, que contemplamos durante anos, desde uma distância mínima -- é bonito, e de certo modo, é terrível saber que até esse rosto pode liberar de repente, inesperadamente, gestos novos. Gestos que talvez nunca voltemos a ver.
”
”
Alejandro Zambra (Ways of Going Home)
“
Eu detesto pactos de civilidade autenticados em cartório com direito à rescisão de contrato, processo civil, retratação pública e 10 anos de encarceramento de acordo com o novo adendo do código penal.
”
”
Filipe Russo (Caro Jovem Adulto)
“
Qualquer narrativa que queira conquistar a filiação da Humanidade terá, acima de tudo, de se mostrar capaz de fazer frente às revoluções gémeas da tecnologia da informação e da biotecnologia. Se o liberalismo, o nacionalismo, o islão ou qualquer outro credo novo quiser moldar o mundo do ano 2050, terá não só de conseguir explicar a inteligência artificial, os algoritmos da BigData e a bioengenharia como também terá de os integrar numa nova narrativa com sentido.
”
”
Yuval Noah Harari (21 lições para o século 21 (Portuguese Edition))
“
Um novo imigrante, em dois anos, descobre que o salão é, no fim das contas, um lugar onde os sonhos se tornam o conhecimento calcificado do que significa estar acordado em ossos americanos – com ou sem cidadania – doloroso, tóxico e mal pago.
”
”
Ocean Vuong (On Earth We're Briefly Gorgeous)
“
XXXVI
Portugal ganhava de novo fama…
A seus filhos a liberdade perdida,
Acendendo seus peitos a chama…
Que Camões, tão bem, dera vida!
- Não seria jamais a mesma…
Pois anos de prisão tão sentida,
Nem deuses do Olimpo fogoso,
Apagariam em povo tão orgulhoso!
”
”
José Braz Pereira da Cruz (Esta é a Ditosa Pátria Minha Amada)
“
Por que lê tanto ? (...)
- Olhe-me e diga o que vê.
O rapaz olhou-o com suspeita
- Isto é algum truque ? Vejo você. Tyrion Lannister
Tyrion suspirou.
- Você é notavelmente gentil para um bastardo, Snow. O que vê é um anão. Você tem o que ? Doze anos ?
- Catorze - disse o rapaz.
- Catorze, e é mais alto que alguma vez serei. Minhas pernas são curtas e tortas, e caminho com dificuldade. Necessito de uma sela especial para não cair do cavalo. Uma cela de minha própria concepção, talvez te interesse saber. Era isso ou montar um pônei. Meus braços são suficientemente fortes mas, uma vez mais, demasiado curtos. Nunca serei um espadachim. Se tivesse nascido camponês, provavelmente me teriam me expulsado para que morresse, ou vendido para a coleção de aberrações de algum negociante de escravos. Mas, ai de mim ! Nasci um Lannister de Rochedo Casterly, e as coleções de aberrações são das mais pobres. Esperam-se coisas de mim. Meu pai foi mão do rei durante vinte anos. Aconteceu que, mais tarde, meu irmão matou esse mesmo rei, mas minha vida está cheia dessas pequenas ironias. Minha irmã casou-se com o novo rei e o meu repugnante sobrinho será rei depois dele. Devo cumprir minha parte pela honra da minha casa, não concorda ? Mas como ? Bem, poderei ter as pernas pequenas demais para o corpo, mas minha cabeça é grande demais, embora eu prefira pensar que tem o tamanho certo para minha mente. Possuo um entendimento realista das minha forças e fraquezas. A mente é minha arma. Meu irmão tem a sua espada, O Rei Robert, o seu martelo de guerra, e eu tenho a minha mente... e uma mente necessita de livros da mesma forma que uma espada necessita de uma pedra de amolar se quisermos que se mantenha afiada - Tyrion deu uma palmada na capa de coura do livro - É por isso que leio tanto, Jon Snow.
”
”
George R.R. Martin (A Game of Thrones (A Song of Ice and Fire, #1))
“
Era o último dia do ano e para muitos, o único que realmente importava. Tudo o que não fora feito durante o ano, transformar-se -ia num novo desejo, quando a meia-noite fosse anunciada e as passas consumidas de forma pensativa.
Brindavam ao ano e à vida que deixavam para trás, dando as boas novas a um ano diferente, com novos conhecimentos, novos projectos e novas aventuras. E por um motivo que ainda não sabia descodificar, ninguém queria estar sozinho na última noite do ano. Era um dia como tantos outros, apenas com a diferença de um número no final do calendário, mas estar sozinho naquela noite era como um mau presságio para
o ano que se avizinhava.
”
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Carina Rosa (As Gotas de um Beijo)
“
Se acredito num velhote que vive nas nuvens, com uma barba branca e que nos julga com um código moral numerado de um a dez? Deus do céu, não, Elly, não acredito! Já teria sido expulso desta vida há muitos anos devido à minha história atribulada. Se acredito num mistério; no inexplicável fenómeno que é a própria vida? Na entidade grandiosa que ilumina as incongruências das nossas vidas, que nos dá coisas pelas quais nos devemos esforçar e também a humildade para nos recompormos e recomeçarmos tudo de novo? Então sim, nisso acredito. É a fonte da arte, da beleza, do amor e professa a derradeira bondade para com os seres humanos. Para mim, isso é Deus. Para mim, isso é vida. É nisso que acredito.
”
”
Sarah Winman (When God Was a Rabbit)
“
Apesar das objeções de todo mundo, vendi meu negócio e, embora um pouco constrangido com isso, pendurei a plaquinha de romancista na porta e me dispus a viver da escrita. “Só quero uns dois anos livres para escrever”, expliquei para minha esposa. “Se não funcionar, sempre podemos abrir um bar em algum outro lugar. Ainda sou novo e sempre podemos recomeçar as coisas.” “Tudo bem”, ela disse.
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”
Haruki Murakami (What I Talk About When I Talk About Running)
“
Numa determinada idade”, o diretor prosseguia, “tudo aquilo que fizemos não nos é mais suficiente; serviu apenas para nos tornar aqueles que somos. E do modo como somos, agora que somos verdadeiramente nós, aqueles que quisemos ou conseguimos ser, gostaríamos de começar a viver de novo, conscientemente, segundo nossos gostos de hoje. E no entanto devemos continuar vivendo a vida que escolhemos quando éramos outros. Trabalhei a vida inteira, foram trinta anos para me tornar quem eu sou. E agora?
”
”
Alba de Céspedes (Forbidden Notebook)
“
Mas, não obstante, eu acrescento que em qualquer pensamento genial ou no novo pensamento humano, ou simplesmente até em qualquer pensamento humano sério, que medra da cabeça de alguém, sempre resta algo que de maneira nenhuma se pode transmitir a outras pessoas, embora voc6e tenha garatujado volumes inteiros e passado trinta e cinco anos interpretando o seu pensamento; sempre restará algo que de maneira alguma desejará sair do seu crânio e permanecerá com você para todo o sempre; e assim você acaba morrendo sem ter transmitido a ninguém talvez o mais importante da sua idéia.
”
”
Fyodor Dostoevsky (The Idiot)
“
Se houver dor, cuida dela, e se houver chama, não a desprezes, não sejas brutal com ela. A abstinência do que gostamos pode ser algo terrível quando nos deixa acordados, durante a noite, e ver como os outros se esquecem de nós mais depressa do que gostaríamos de ser esquecidos não é melhor. Arrancamos tanto de nós próprios só para nos curarmos de coisas, mais depressa do que deveríamos, que entramos em falência por volta dos trinta anos e temos menos para oferecer de cada vez que começamos com alguém novo. Mas tentarmos não sentir nada, porque temos medo de sentir alguma coisa? Que desperdício!
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André Aciman (Call Me By Your Name (Call Me By Your Name, #1))
“
Os amigos cada vez mais se vêem menos. Parece que era só quando éramos novos, trabalhávamos e bebíamos juntos que nos víamos as vezes que queríamos, sempre diariamente. E, no maior luxo de todos, há muito perdido: porque não tínhamos mais nada para fazer.
Nesta semana, tenho almoçado com amigos meus grandes, que, pela primeira vez nas nossas vidas, não vejo há muitos anos. Cada um começa a falar comigo como se não tivéssemos passado um único dia sem nos vermos.
Nada falha. Tudo dispara como se nos estivera – e está – na massa do sangue: a excitação de contar coisas e partilhar ninharias; as risotas por piadas de há muito repetidas; as promessas de esperanças que estão há que décadas por realizar.
Há grandes amigos que tenho a sorte de ter que insistem na importância da Presença com letra grande. Até agora nunca concordei, achando que a saudade faz pouco do tempo e que o coração é mais sensível à lembrança do que à repetição. Enganei-me. O melhor que os amigos e as amigas têm a fazer é verem-se cada vez que podem. É verdade que, mesmo tendo passado dez anos, sente-se o prazer inencontrável de reencontrar quem se pensava nunca mais encontrar. O tempo não passa pela amizade. Mas a amizade passa pelo tempo. É preciso segurá-la enquanto ela há. Somos amigos para sempre mas entre o dia de ficarmos amigos e o dia de morrermos vai uma distância tão grande como a vida.
Miguel Esteves Cardoso, in 'Jornal Público
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Miguel Esteves Cardoso
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Insensivelmente, sem disso me aperceber, deixei usarem-se e romperem-se todos os laços que me ligavam a uma companheira que amei, que é bonita e que vale muito mais que a grande maioria das mulheres. Perdemos a pouco e pouco o hábito da intimidade e das palavras ternas. Hoje, vejo o mal que sem maldade fiz: a minha companheira há vinte de cinco anos que está sozinha. Mas é demasiado tarde. Gostava de lhe dizer que penso dela imensamente bem; e é-me impossível. Os gestos afectuosos de antigamente seriam de tal maneira insólitos, de tal maneira novos, que a timidez paralisa-me. E depois, o meu dever de marido é talvez apenas, no meu espírito, uma noção moral. Debaixo da cinza, os fogos acabam por se extinguir.
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”
Henri Roorda (Mi suicidio)
“
Mudanças, novos bairros onde circulo como um estrangeiro, renovando meu interesse pela cidade. Já faz algum tempo, Barracas, os velhos prédios da fábrica – por exemplo, a da Bagley –, tão abundante por aqui, junto com os armazéns próximos do porto velho, que dão nome ao bairro. Também fica perto o parque Lezama, que tem uma atmosfera serena, com alguns velhos bares e restaurantezinhos muito agradáveis. Sempre faço a experiência de ficar sem dinheiro e conhecer a cidade a pé, procurando locais baratos, viajando de ônibus, uma experiência mais direta, mais conflituosa, não mediada pela qualidade mágica do dinheiro que alivia todo desconhecimento da realidade, porque quando tudo pode ser comprado não há enigmas.
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Ricardo Piglia (Anos de Formação: Os Diários de Emilio Renzi)
“
Durante o segundo ano sofreu uma mudança. Tinha-se mudado para dentro do colégio e este começou a assimilá-lo. Talvez passasse os dias como dantes, mas quando os portões se fechavam sobre ele à noite iniciava-se um novo processo. Mesmo quando ainda era caloiro fez a importante descoberta de que os homens crescidos comportam-se educadamente uns com os outros, se não houver qualquer motivo em contrário. (...) As atitudes dos professores eram mais extraordinárias ainda. Maurice estava mesmo só a precisar de um ambiente assim para acalmar. Não lhe agradava ser bruto e grosseiro. Era contra a sua natureza. Mas isso tinha sido necessário no colégio ou ele não teria aguentado, e julgara que comportamentos assim seriam ainda mais necessários no maior campo de batalha que era a Universidade.
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p.32, MAURICE, E.M. FORSTER
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E.M. Forster (Maurice)
“
Nunca te contei isso, pai, mas eu estava completamente bêbado uma noite, tinha acabado de vomitar em frente à estátua de Pasquino e não poderia estar mais atordoado. Aqui, encostado contra este muro, eu soube, por mais bêbado que estivesse, que essa, com Oliver me abraçando, era a minha vida, que tudo o que tinha acontecido antes com outras pessoas não era nem um esboço grosseiro ou a sombra de um rascunho do que estava acontecendo naquele momento. Dez anos depois, quando olho para este muro e este poste velho, estou com ele de novo e juro, nada mudou. Em trinta, quarenta, cinquenta anos não vai ser diferente. Conheci muitas mulheres e ainda mais homens em minha vida, mas o que está gravado neste muro ofusca todas as pessoas que conheci. Quando venho aqui, posso estar sozinho ou com pessoas, com vocês, por exemplo, mas sempre estou com ele. Se eu ficasse olhando para este muro durante uma hora, estaria com ele durante uma hora. Se eu falasse com este muro, ele responderia. — O que ele diria? — perguntou Miranda, completamente envolvida na ideia de Elio com o muro. — O que ele diria? Sem sombra de dúvida: “Procure por mim, me encontre”. — E o que você diz? — Eu digo a mesma coisa. “Procure por mim, me encontre”. E nós dois ficamos felizes. Agora você sabe.
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”
André Aciman (Find Me (Call Me By Your Name, #2))
“
Gosto das pessoas que tiram e coleccionam fotografias. Das pessoas que guardam em gavetas especiais os álbuns com as memórias de uma vida.
Eu não gosto de fotografias ou por outra não tenho álbuns. Nem álbum sequer. Tive um há vários anos ao qual sucedeu o mesmo que a minha única tentativa de diário. Ficou pelo caminho. Acabei por oferecer a maioria das fotografias nem sei bem onde ficou esse álbum esventrado destituído de sentido que perdeu a dignidade.
Desde muito novo que decidi assim. Sinto-me inevitavelmente estranho quando um clique se prepara. Talvez como os índios que acreditavam que as máquinas fotográficas aprisionavam as almas e por isso as temiam.
Resisto a que me tirem o boneco. Penso sempre que ao contrário do sorriso aberto e alegre dos outros aquele é um momento para a minha tristeza acordar. Uma fotografia é invariavelmente o fantasma fugaz de um momento que desaparece. Um atestado de velhice. Uma prova de que somos mortais e nada mesmo nada se repetirá.
Não quero por isso que me peçam sorrisos rasgados imaginar passarinhos dizer «queijo» em línguas estranhas. Mas acedo a aparecer nas fotografias - porque sei que elas estão destinadas aos álbuns nas gavetas especiais das pessoas que adoram tirá-las e coleccioná-las.
Conforto-me na altura do clique com a terna certeza de que se porventura quiser rever aquele passado revisitar o fantasma feliz poderei sempre caminhar entre casas estacionar a várias portas e subir à casa de amigos para me encontrar.
Gosto das pessoas que tiram e coleccionam fotografias porque elas levam-me consigo para um lugar melhor: o esconderijo das suas próprias alegrias. As gavetas que nunca abrirei.
”
”
Luis Filipe Borges (A Vida é só Fumaça)
“
Há um morcego de papel da festa das bruxas pendurado num cordão acima de sua cabeça; ele levanta o braço e dá um piparote no morcego, que começa a girar.
- Dia de outono bem agradável - continua ele.
Fala um pouco do jeito como papai costumava falar, voz alta, selvagem mesmo, mas não se parece com papai; papai era um índio puro de Columbia - um chefe - e duro e brilhante como uma coronha de arma. Esse cara é ruivo, com longas costeletas vermelhas, e um emaranhado de cachos saindo por baixo do boné, está precisando de dar um corte no cabelo há muito tempo, e é tão robusto quanto papai era alto, queixo, ombros e peitos largos, um largo sorriso diabólico, muito branco e é duro de uma maneira diferente do que papai era, mais ou menos do jeito que uma bola de beisebol é dura sob o couro gasto. Uma cicatriz lhe atravessa o nariz e uma das maçãs do rosto, o luga em que alguém o acertou numa briga, e os pontos ainda estão no corte. Ele fica de pé ali, esperando, e, quando ninguém toma a iniciativa de lhe responder alguma coisa, começa a rir. Ninguém é capaz de dizer exatamente por que ele ri; não há nada de engraçado acontecendo. Mas não é da maneira como aquele Relações Públicas ri, é um riso livre e alto que sai da sua larga boca e se espalha em ondas cada vez maiores até ir de encontro às paredes por toda a ala. Não como aquele riso do gordo Relações Públicas . Este som é verdadeiro. Eu me dou conta de repente de que é a primeira gargalhada que ouço há anos.
Ele fica de pé, olhando para nós, balançando-se para trás nas botas , e ri e ri. Cruza os dedos sobre a barriga sem tirar os polegares dos bolsos. Vejo como suas mãos são grandes e grossas. Todo mundo na ala, pacientes, pessoal e o resto, está pasmo e abobalhado diante dele e da sua risada. Não há qualquer movimento para faze-lo parar, nenhuma iniciativa para dizer alguma coisa. Ele então interrompe a risada, por algum tempo, e vem andando, entrando na enfermaria. Mesmo quando não está rindo, aquele ressoar do seu riso paira a sua volta, da mesma maneira com o som paira em torno de um grande sino que acabou de ser tocado - está em seus olhos, na maneira como sorri, na maneira como fala. [1]
- Meu nome é McMurphy, companheiros, R. P. McMurphy, e sou um jogador idiota. - Ele pisca o olho e canta um pedacinho de uma canção : - .... " e sempre eu ponho ... meu dinheiro ... na mesa " - e ri de novo.
”
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Ken Kesey (One Flew Over the Cuckoo’s Nest)
“
A longo prazo, terminar uma maratona nos deixa mais felizes do que comer um bolo de chocolate. Criar um filho nos deixa mais felizes do que ganhar uma partida de videogame. Abrir uma pequena empresa com amigos e vencer dificuldades financeiras nos deixa mais felizes do que comprar um computador novo. São atividades estressantes, árduas e muitas vezes desagradáveis, além de trazer consigo inúmeros problemas, mas, ao mesmo tempo, são as que nos proporcionam os momentos mais marcantes e constituem nossas maiores alegrias. Atividades como essas envolvem dor, cansaço, raiva e até desespero — mas, depois de concluídas, olhamos para trás emocionados. É o que contaremos aos nossos netos. É como Freud disse: “Um dia, quando olhar para trás, os anos de luta lhe parecerão os mais bonitos.” Isso explica por que não devemos pautar nossa existência em valores escrotos — prazer, sucesso material, estar sempre certo e otimismo implacável. Alguns dos melhores momentos da vida não são prazerosos, não são grandiosos, não são reconhecidos e não são positivos.
”
”
Mark Manson (A sutil arte de ligar o f*da-se: Uma estratégia inusitada para uma vida melhor)
“
Qué necesitas en el año nuevo?
Necesitas un sueño; tu sueño necesita una acción; Y tu acción necesita un pensamiento correcto! Sin pensar correctamente, solo puedes tener sueños no realizados!
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”
Mehmet Murat ildan
“
uma vez, numa sessão de terapia com uma psicóloga, falei-lhe da minha persistente melancolia. Como se tivesse raiva dela, como se fosse contra esse sentimento. Como se o facto de ela andar comigo desde sempre fosse motivo para a ressentir. A psicóloga ficou calada enquanto eu falava, contando-lhe as poucas recordações que tinha da infância, e de como estavam impregnadas dessa tristeza. O meu avô morreu muito novo, disse-lhe eu, e talvez, sem me dar conta, eu tenha sentido muito a falta dele. Ela chegou-se à frente na cadeira e, de olhos nos meus, confessou que também se sentira triste na infância, e que eu, por mais anos que tivesse, teria sempre essa melancolia comigo, sempre, talvez houvesse períodos de tréguas, mas ela continuaria a arder no meu chão, podia amaldiçoá-la e tentar desenterrá-la das entranhas, que ela não era uma coisa a mais em mim, era eu, parte daquilo que sou. Abdicar não é ficar sem, é ficar com, na ausência de.
”
”
João Tordo (Granta Portugal 10: Revoluções)
“
No novo ano, o futuro continuava tão longe como no ano velho.
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”
Pepetela (O Tímido e as Mulheres)
“
Pode ser que role de novo
Coisas inacabadas nas relações humanas atraem as pessoas na direção uma da outra
Entre os milhares de fotos feitas no dia 8 de março, durante as passeatas do Dia da Mulher, uma atraiu minha atenção por um motivo particular. Nela aparecia, com um seio de fora e um cartaz de protesto, uma mulher por quem eu estive apaixonado. Ela saiu da minha vida depois de dois encontros, com uma breve mensagem de WhatsApp na qual pedia que eu não mais lhe escrevesse. Estranhei, mas fiz como ela pedia – e tratei de pôr de lado o sentimento que começava. Depois de um tempo, deixei de pensar no assunto. Até que veio o 9 de março.
Naquele dia, vendo as imagens dela, olhando aquela mistura de beleza e radicalismo, senti um aperto no coração. E se aquela criatura de pele morena fosse, de alguma forma, o próximo amor da minha vida? E se o destino, com seu jeito estranho de fazer as coisas, a estivesse colocando de novo na minha frente, como havia feito um ano atrás, durante uma festa da qual eu já me preparava para sair?
Antes de prosseguir com a narrativa, um aviso: eu não acredito em destino. Não acho, de forma alguma, que as coisas estão fadadas a acontecer e que uma força nos carrega, inexoravelmente, para os braços de alguém ou para algum desfecho predeterminado. Nada disso. Sou um cara racional que acredita na sorte, no azar, nos acidentes e nas coincidências. Se eu não decidisse ir embora da tal festa, não cruzaria com a moça no meio da pista, me espiando com olhos de jabuticaba. Se eu não estivesse olhando as fotos das passeatas do dia 8, não veria de novo aquele sorriso familiar. As coisas acontecem para quem está vivo, e isso é tudo o que podemos dizer ou prever. Tenho certeza de que Vênus retrógrado não me atinge.
Tendo esclarecido isso, devo confessar que sofro de convicções estranhas. Uma delas é que encontrarei certas pessoas novamente. Quando garoto, eu via uma menina bonita passando na rua e pensava: “Não preciso me esforçar para falar com ela. Se for para acontecer, a gente vai se ver de novo”. No bairro da Penha, nos anos 1970, numa São Paulo com apenas 6 milhões de habitantes, era fácil reencontrar estranhos. Vira e mexe eu esbarrava nas garotas que atraíam a minha atenção. Agora, ficou mais difícil, mas ainda acontece – numa foto de internet, por exemplo, um dia depois de uma marcha que reuniu milhares de mulheres.
O que eu queria dizer, na verdade, é que às vezes as coisas ficam inacabadas nas relações humanas, e que essas pendências emocionais, por tênues que sejam, atraem as pessoas na direção uma da outra.
Se você tem um encontro afetivo com alguém e ele termina de forma abrupta, é possível que a outra pessoa sinta o mesmo hiato. Não é magia e nem destino, é sensibilidade humana. A gente não vive bem com a sensação do que poderia ter sido. Nosso coração requer narrativas completas. Se a história continua aberta para os dois, pode ser que um dia role de novo. Se apenas um lado sente isso e outro não sente nada, então é só mais um desencontro.
Existem encontros passageiros. Há desencontros notáveis, igualmente efêmeros. Certos eventos são como estrelas cadentes: a gente pisca e ele se esvai, brilhando apenas na memória. Por isso, quando as histórias não fecham, a gente trata de encerrá-las dentro de nós. Pode ser que um dia role, mas não é bom contar com isso. Quando as coisas não devem ser, não são – e isso, acreditem, nada tem a ver com os astros.
”
”
Ivan Martins
“
Já estava acostumado aos amputados, às vitimas do agente laranja, aos famintos, pobres, garotos de rua de seis anos de idade que você encontra às três da madrugada gritando "Feliz ano novo! Olá! Bye-Bye!" em inglês, e depois aponta para suas bocas e faz "bum bum?". Estou ficando quase indiferente aos garotos famintos, sem pernas, sem braços, cobertos de cicatrizes, desesperançados, dormindo no chão, em triciclos, na beirada do rio. Mas não estava preparado para o homem sem camisa, com um corte de cabelo a la forma de pudim, que me detém na saída do mercado, estendendo a mão. No passado ele sofreu queimaduras e tornou-se uma figura humana quase irreconhecível, a pele transformada numa imensa cicatriz sob a coroa de cabelos pretos. Da cintura para cima (e sabe Deus até onde), a pele é uma cicatriz só; ele não tem lábios, nem nariz, nem sobrancelha. Suas orelhas são como betume, como se tivesse mergulhado e moldado num alto-forno, sendo retirado pouco antes de derreter por completo. Mexe seus dentes como uma abóbora de Halloween, mas não emite um único som através do que foi um dia, uma boca. Sinto um murro no estômago. Minha animação exuberante dos dias e horas anteriores desmorona. Fico paralisado, piscando e pensando na palavra napalm, que oprime cada batida do meu coração. De repente nada mais é divertido. Sinto vergonha. Como pude vir até esta cidade, até este país por razões tão fúteis, cheio de entusiasmo por algo tão...sem sentido, como sabores, texturas, culinária? A famíla daquele homem deve ter sido pulverizada, ele mesmo transformado num boneco desgraçado, como um modelo de cera de madame Tussaud, a pele escorrendo como vela pingando. O que estou fazendo aqui? Escrevendo um livro de merda? Sobre comida? Fazendo um programinha leve e inútil de tevê, um showzinho de bosta? A ficha caiu de uma vez e fiquei me desprezando, odiando o que faço e o fato de estar ali. Imobilizado, piscando nervosamente e suando frio, sinto que todo mundo na rua está me observando, que irradio culpa e desconforto, que qualquer passante vai associar os ferimentos daquele homem a mim e ao meu país. Dou uma espiada nos outros turistas ocidentais que vagueiam por ali com suas bermudas da Banana Republic e suas camisas pólo da Land´s End, suas confortáveis sandálias Weejun e Bierkenstock, e sinto um desejo irracional de assassiná-los. Parecem malignos, comedores de carniça. O Zippo com a inscrição pesa no meu bolso, deixou de ser engraçado, virou uma coisa tão pouco divertida quanto a cabeça encolhida de um amigo morto. Tudo o que comer terá gosto de cinzas daqui pra frente. Fodam-se os livros. Foda-se a televisão. Nem mesmo consigo dar algum dinheiro ao coitado. Tenho as mãos trêmulas, estou inutilizado, tomado pela paranoia, Volto correndo ao quarto refrigerado do New World Hotel, me enrosco na cama ainda desfeita, fico olhando para o teto com os olhos cheios de lágrimas, incapaz de digerir ou entender o que presenciei e impotente para fazer qualquer coisa a respeito. Não saio nem como nada pelas 24 horas seguintes. A equipe de tevê acha que estou tendo um colapso nervoso.
Saigon...Ainda em Saigon.
O que vim fazer no Vietnã?
”
”
Anthony Bourdain (A Cook's Tour: Global Adventures in Extreme Cuisines)
“
O sangue que deixou de correr em 1889 verteu em profusão nos dez anos seguintes, resultado do choque entre as expectativas e a realidade do novo regime.
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”
Laurentino Gomes (1889)
“
Ficar sozinha tempo demais não é saudável. A solidão é como um quarto grande e vazio dentro de você, que ecoa o som da vida que você não está vivendo. Então você o acaba preenchendo com coisas: trabalho, amigos, bicho de estimação e, com o tempo, fica suportável, e então confortável. Depois de muitos anos, é tão seguro que se torna o novo normal. Mas a pior parte é que esse quarto fica tão cheio de falsos confortos que não cabe mais ninguém. E você merece mais que isso.
”
”
Leisa Rayven (Mister Romance (Masters of Love, #1))
“
beliscar o próprio braço quando finalmente teve um vislumbre do internato onde moraria pelo resto do ano letivo. Era isso o que as pessoas faziam quando achavam que estavam sonhando, não? Ela já havia visto todas as fotos disponíveis no site do colégio no último mês (e eram mais de 1.600), mas nenhuma das imagens dos prédios de aparência clássica e opulente, com suas heras suntuosas cascateando pelas paredes, era capaz de traduzir adequadamente a emoção daquele novo ângulo pelo qual o observava. Entre os muros de pedra escura, havia um imponente portão de entrada. A grama bem cuidada se alastrava como um tapete de veludo, contornando caminhos de pedra gasta que se estendiam até o horizonte. Natalie não se lembrava de ter visto tantas árvores juntas em toda a sua vida! Quase parecia
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”
Marina Basso (Colegas de Quarto)
“
Surpreendo com o ritmo da partitura, com as pausas, os apartes, as conclusões, o humor delirante, a delicadeza, o lirismo e a redenção do texto. É como estar com o Ubaldo de novo; e quem esteve sabe do poder encantatório, dos volteios de raciocínio.
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”
Fernanda Torres (Sete Anos)
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Os participantes das redes de compartilhamento de arquivos compartilham diferentes tipos de conteúdos. Podemos dividi-los em quatro tipos.
A-Esses são aqueles que usam as redes P2P como substitutos para a compra de conteúdo. Dessa forma, quando um novo CD da Pitty é lançado, ao invés de comprar o CD, eles simplesmente o copiam. Podemos argumentar se todos os que copiaram as músicas poderiam comprá-las caso o compartilhamento não permitisse baixá-las de graça. Muitos provavelmente não poderiam, mas claramente alguns o fariam. Os últimos são os alvos da categoria A: usuários que baixam conteúdo ao invés de comprá-lo.
B-Há alguns que usam as redes de compartilhamento de arquivos para experimentarem música antes de a comprar. Dessa forma, um amigo manda para outro um MP3 de um artista do qual ele nunca ouviu falar. Esse outro amigo então compra CDs desse artistas. Isso é uma forma de publicidade direcionada, e que tem grandes chances de sucesso. Se o amigo que está recomendando a música não ganha nada recomendando porcarias, então pode-se imaginar que suas recomendações sejam realmente boas. O saldo final desse compartilhamento pode aumentar as compras de música.
C-Há muitos que usam as redes de compartilhamento de arquivos para conseguirem materiais sob copgright que não são mais vendidos ou que não podem ser comprados ou cujos custos da compra fora da Net seriam muito grandes. Esses uso da rede de compartilhamento de arquivos está entre os mais recompensadores para a maioria. Canções que eram parte de nossa infância mais que desapareceram há muito tempo atrás do mercado magicamente reaparecem na rede. (Um amigo meu me disse que quando ele descobriu o Napster, ele passou um fim de semana inteiro "relembrando" músicas antigas. Ele estava surpreso com a gama e diversidade do conteúdo disponibilizado.) Para conteúdo não vendido, isso ainda é tecnicamente uma violação de copyright, embora já que o dono do copgright não está mais vendendo esse conteúdo, o dano econômico é zero o mesmo dano que ocorre quando eu vendo minha coleção de discos de 45 RPMs dos anos 60 para um colecionador local.
D-Finalmente, há muitos que usam as redes de compartilhamento de arquivos para terem acesso a conteúdos que não estão sob copgright ou cujo dono do copyright os disponibilizou gratuitamente.
Como esses tipos diferentes de compartilhamento se equilibram?
Vamos começar de alguns pontos simples mas importantes. Do ponto de vista legal, apenas o tipo D de compartilhamento é claramente legal. Do ponto de vista econômico, apenas o tipo A de compartilhamento é claramente prejudicial. [78] O tipo B de compartilhamento é ilegal mas claramente benéfico. O tipo C também é ilegal, mas é bom para a sociedade (já que maior exposição à música é bom) e não causa danos aos artistas (já que esse trabalho já não está mais disponível). Portanto, como os tipos de compartilhamento se equilibram é uma pergunta bem difícil de responder e certamente mais difícil do que a retórica envolvida atualmente no assunto sugere.
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Lawrence Lessig (Cultura Livre (Portuguese Edition))
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De novo regressou à infância, era ainda ali que encontrava mais precisa a figura de Joaquim. Por exemplo, quando ela, menina de cinco anos, de cabelos cacheados e choro fácil, tivera aquele febrão alarmante. Joaquim não abandonara o quarto, sentado junto ao leito da pequena enferma, a tomar-lhe as mãos, a dar-lhe os remédios. Era um bom pai e um bom esposo. Com essa última lembrança, Vanda sentiu-se suficientemente comovida e — houvesse mais pessoas no velório — capaz de chorar um pouco, como é a obrigação de uma boa filha.
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Jorge Amado (The Two Deaths of Quincas Wateryell)
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Se a era dos dinossauros tinha sido o momento de maior orgulho na história da Terra até então, a sua sequência imediata foi, sem dúvida, o mais constrangedor. Depois que os dinossauros foram exterminados pelo gigantesco meteorito, a Terra foi dominada durante algum tempo por – veja só – grandes pássaros que não voavam. Com a maioria dos assustadores répteis mortos, os cientistas acreditam que os pássaros propriamente ditos – isto é, aqueles que podiam de fato voar – tenham descoberto que a comida passou a ser tão abundante e fácil de obter que eles podiam simplesmente saltar de um lado para o outro no chão até encontrá-la. Fartando-se de comida e se tornando cada dia mais burros, esses grandes pássaros, com o tempo, ficaram tão gordos e preguiçosos que literalmente não conseguiam mais se erguer do chão. A coisa permaneceu assim durante 20 milhões de anos, até que, finalmente, eles foram obrigados a dar lugar a criaturas que efetivamente faziam alguma coisa para viver. Esses novos e poderosos animais eram os mamíferos, cuja dominância tem permanecido insuperável até hoje.
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Anonymous
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Acho que minha meta de vida é não acordar um dia aos cinquenta anos num emprego que eu odeio porque me forçaram a estabelecer metas de vida quando eu era novo demais.
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Luisa Geisler (Luzes de emergência se acenderão automaticamente)
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Este lugar é um mistério,Daniel,um santuário.Cada volume que vês,tem alma.A alma de quem o escreveu e a alma dos que o leram e viveram e sonharam com ele.Cada vez que um livro muda de mãos,cada vez que alguém desliza o olhar pelas suas páginas,o seu espírito cresce e torna-se mais forte.Há já muitos anos,quando o meu pai me trouxe pela primeira vez aqui,este lugar já era velho.Talvez tão velho como a própria cidade.Ninguém sabe de ciência certa desde quando existe,ou quem o criou. Dir-te-ei o que o meu pai me disse a mim.Quando uma biblioteca desaparece,quando uma livraria fecha as suas portas,quando um livro se perde no esquecimento,os que conhecemos este lugar,os guardiães, asseguramo-nos de que chegue aqui.Neste lugar,os livros de que já ninguém se lembra, os livros que se perderam no tempo,vivem para sempre,esperando chegar um dia ás mãos de um novo leitor,de um novo espírito.Na loja nós vendemo-los e compramo-los, mas na realidade os livros não têm dono.Cada livro que aqui vês foi o melhor amigo de alguém.Agora só nos têm a nós,Daniel.
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Carlos Ruiz Zafón (The Shadow of the Wind (The Cemetery of Forgotten Books, #1))
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Pode parecer papo de velha, e claro que a coisa piora com a idade. Mas eu já pensava essas coisas aos quinze anos. Eu sempre pensei essas coisas, desde que comecei a pensar coisas. Aos vinte viajei com um namorado para Ilhabela e ele estava realmente preocupado se no dia seguinte “ventaria mais ao norte”, ou algo parecido, para ele praticar kitesurf. “Olha bem pra minha cara”, eu queria dizer a ele. Eu estava preocupada se meus pais morreriam antes do Natal, mesmo ainda sendo eles muito jovens e saudáveis (e sendo ainda jovens e saudáveis até hoje). Estava preocupada se acordaria às quatro da manhã com um ataque intenso de pânico que inviabilizaria estar naquela pousada, namorar, tomar café, ter amigos, trabalhar, ser promovida, ser promovida de novo, ter um parto normal, ter mais um filho, ir passar o Natal na casa dos pais de um marido “x”, andar pelas ruas, fazer compras num supermercado, envelhecer na companhia de alguém, ter alguém próximo a mim no dia da minha morte, não sentir dor ao morrer, ter alguém que eu amasse muito e com quem pudesse ficar muito à vontade para gemer de dor e talvez estar meio suja e talvez precisar de ajuda para ir ao banheiro no dia que eu bem velhinha tivesse que morrer.
E ele preocupado com o vento de Ilhabela.
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Tati Bernardi (Depois a louca sou eu)
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Vamos ser honesto, não existe e nem vai existir uma teoria científica competível com as teorias da religião. Imagine, uma teoria que explica tudo que você aprende com 12 anos de idade, e usa pelo resto da vida. Einstein dizia que uma boa teoria é aquela que explica para sua vó. Nenhum cientista conseguiu fazer isso, e nem vai. A teoria mestre ocupa a mente de cientistas brilhantes e nada de achar a solução da equação de Deus. Não temos como competir com religião, e pronto. Nossas teorias demandam tempo para criar, e tempo para entender. Cada teoria passa por muitas mãos, e um único cientista não consegue entender todas as teorias. Dependemos um do outro, e estamos sempre melhorando. O trabalho do anterior forma o trabalho do novo, e confiamos nos nossos predecessores. Nossas teorias ficam mais complicadas, e precisamos de computadores e muitas cientistas para resolver e entender. Nenhuma teoria compete com o criacionismo, nenhuma teoria científica é entendível por uma pessoa de 12 anos, a não ser que tenha um QI de 200. Para nós mortais, cada teoria é uma vida de estudos
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Jorge Guerra Pires
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Aos meus pés havia uma camada de folhas mortas, maços de cigarros vazios e vidro estilhaço. Aqueles fragmentos de pára-brisa, varridos para o lado por gerações de enfermeiros de ambulância, formavam uma pequena duna. Fiquei olhando para aquele colar empoeirado, o entulho de mil acidentes de automóvel. Em cinquenta anos, à medida que mais e mais carros colidissem ali, os estilhaços de vidro formariam uma barreira considerável, em trinta anos, uma praia de cristal afiado. Uma nova raça de vagabundos de praia talvez aparecesse, agachando-se junto àqueles montes de pára-brisas esfacelados, vasculhando à procura de tocos de cigarro, camisinhas usadas e moedas perdidas. Enterrada sob aquele novo estrato geológico sedimentado pela era dos acidentes de automóvel estaria minha própria pequena morte, tão anônima quanto cicatrizes vitrificadas numa árvore fóssil.
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J.G. Ballard (Crash)
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Atiradas na calçada, uma mãe e duas crianças pequenas pediam esmolas. No fim das contas, a felicidade — essa capacidade que às vezes temos de nos sentirmos bem e em paz e alegres e vibrantes, ignorando todo o sofrimento existente neste mundo —, a felicidade talvez seja a maior desumanidade possível. Dei dez reais à mulher. Era tudo o que eu podia dar. Ela, então, olhou para mim e, para terminar de me devastar, disse o seguinte: — Boas festas! E de todos os “boas-festas” que recebi nesse dia 23 de dezembro, é justamente esse, o dessa mulher, que faço questão de pegar emprestado para oferecer ao leitor. O “boas-festas” da gente sem eira nem beira. O “boas-festas” que nos acusa a todos. Para que não nos esqueçamos de que, afinal, cá estamos, todos nós, integrando esta sociedade doente, onde nenhuma alegria, nem mesmo a menorzinha das alegrias, deixa de ter aspecto indecente. Para que não nos esqueçamos de que, afinal, cá estamos, todos nós, mergulhados num contexto social que vai de mal a pior, onde há muito tempo a comemoração tornou-se absolutamente obscena. Para que percamos por completo a fome em plena ceia de Ano-Novo, incapazes de esquecer aqueles que não têm o que comer. Para que percamos por completo o sono, incapazes de esquecer aqueles que não têm onde dormir. Para que percamos por completo a vontade de sorrir, incapazes de esquecer aqueles que só têm motivos para chorar. Boas festas.
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José Falero (Mas em que mundo tu vive? (Portuguese Edition))
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A exegese contemplativa não é algo novo. Ela é o tipo de exegese que foi praticada durante a maior parte da vida da igreja. Isso significa que o remédio para a nossa vergonha exegética não é a inovação, mas a recuperação. A recuperação da exegese contemplativa não significa abandonar um único item atual de fato exegético ou visão. Tendo, como temos, a responsabilidade de proclamar e ensinar o texto da Escritura, somos obrigados a saber o máximo possível sobre ele, em todos os aspectos: gramatical, teológico, histórico. O pastor exegeticamente descuidado deveria ser processado, se houvesse uma maneira de fazê-lo, com a mesma diligência e os mesmos fundamentos usados para o cirurgião que utiliza um bisturi contaminado. A exegese contemplativa não ignora ou denigre a exegese técnica — é diligente quanto a ela. Todavia, como Melville dizia aos EUA mais de cem anos atrás, técnica não é cura; informação não é conhecimento. Há algo vivo num corpo, num livro.
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Eugene H. Peterson (O Pastor segundo Deus: a integridade pastoral vista por vários ângulos)
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Os anos compreendidos entre 1984 e 1986 constituíram um ponto de inflexão para a Nigéria, bem como para a maioria dos países africanos. Foram os anos em que, em resposta à crise da dívida, o governo nigeriano entrou em negociações com o Fundo Monetário Internacional (FMI) e com o Banco Mundial [...] e isso pressupunha um novo ciclo de acumulação primitiva e uma racionalização da reprodução social orientada para destruir os últimos vestígios de propriedade comunitária e relações comunitárias, impondo desse modo formas mais intensas de exploração.
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Silvia Federici (Caliban and the Witch: Women, the Body and Primitive Accumulation)
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realidade é melhor do que a ilusão. Você precisa acreditar que é capaz, que dentro de você tem a sabedoria da inteligência divina a inspirá-lo e descubra que você é muito melhor do que pensa. Feliz ano-novo! A realidade que criamos e a verdade
das coisas são muito diferentes.
Precisamos ver as coisas como
realmente são.
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Zíbia Gasparetto (Vá em frente!)
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Esse pacto datava do dia em que Alípio, com grande brilho e pompa, se separara dos Reformadores; mas nem por isso se podia esquecer que ele era apenas, segundo a frase de Fradinho «um Nacional de véspera!» Guedes Navarro tinha no seu partido homens com longos serviços, amigos de anos, Nacionais de tradição; teria ele a força de dispor de uma pasta a favor de um novo, de um principiante, de um intruso? Era decerto um intruso de génio, mas quem considera o génio quando se trata de recompensar a amizade?
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Eça de Queirós (O Conde d'Abranhos / A Catástrofe)
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Um novo ano vem chegando... A meia-noite passou, e a tempestade continua uivando como uma matilha de lobos feridos de morte. E a chuva cai com força sobre nós como um feixe de lanças chispantes. Mas nós estamos aqui quietos e pacientes e fitamos as trevas com olhos febris.
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Rilke Maria Rainer (Letters to a Young Poet)
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Achava sem muita dificuldade livros novos que me despertavam a vontade de ler. Eu não sabia, até então, que ler podia ser algo tão maravilhoso. Cheguei a pensar que tinha desperdiçado todos os anos pregressos sem ler.
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Satoshi Yagisawa (Days at the Morisaki Bookshop (Days at the Morisaki Bookshop, #1))
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COMPRO CUECAS USADAS PARA FINS SENTIMENTAIS Pago R$ 50 por cueca usada. Cuecas slip brancas valem mais (R$ 60). Tenho fetiche por: AGROBOYS (cada cueca será comprada por R$ 5 a mais; R$ 10 a mais caso o vendedor esteja usando um chapéu de palha durante o encontro com o comprador); ADVOGADOS (R$ 5 a mais por cueca caso o vendedor se apresente de terno); LIMPADORES DE JANELAS (venha com o uniforme da empresa para ganhar mais R$ 7 por cueca usada); PILOTOS DE MOTOCROSS (venha a caráter e R$ 150 serão somados ao valor total); HOMENS QUE PINTARAM O CABELO DE LOIRO PARA O ANO NOVO (valor total dobrado!). Compro sungas usadas, secas (R$ 70 por peça) ou molhadas (R$ 80 reais por peça — atenção: é importante que as peças molhadas estejam embaladas em saco plástico transparente e que tenham sido utilizadas nas últimas doze horas, no máximo. Obs.: caso tenha sido banho de mar, pago R$ 10 a mais por item). Encontre-me às 16h em frente à escola Elysium, no bairro Cacau, Rosália (Região Metropolitana do Rio de Janeiro). Estou disponível de segunda a sexta. Sou branco, tenho cabelos e olhos claros, e sou razoavelmente alto (meço um pouco mais de um metro e oitenta). Estarei parado próximo ao portão do colégio esperando — por favor, não deixe que meu semblante sério o intimide: aborde-me... mas seja discreto! O pagamento será realizado em dinheiro vivo. Para mais informações, entre em contato comigo pelo Facebook. Pedro von Schwenderlauf. (Caixa de mensagens sempre desbloqueada.)
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Ulysses Persona (Compro Cuecas Usadas para Fins Sentimentais (Lorde Psicose) (Portuguese Edition))
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Não podemos entrar num rio duas vezes no mesmo lugar”, já que ele está em constante mudança com a chegada de novas águas. O mesmo acontece com o corpo. Todos nós nos parecemos muito mais com um rio do que com qualquer coisa petrificada no tempo e no espaço. Se você pudesse ver seu corpo como realmente é, nunca o veria repetir-se. Noventa por cento dos átomos de nosso corpo não estavam nele há três meses. De certa forma, a configuração das células ósseas permanece a mesma; no entanto, átomos de todos os tipos atravessam livremente as paredes celulares, o que significa que adquirimos um novo esqueleto a cada três meses. A pele se renova a cada mês; adquirimos novo revestimento no estômago a cada quatro dias com a renovação constante da superfície que entra em contato com os alimentos a cada cinco minutos; as células do fígado se renovam de modo mais lento, mas novos átomos flutuam tranquilamente através delas, como a água no leito de um rio, fabricando um fígado a cada seis semanas. Mesmo no interior do cérebro, cujas células não são substituídas depois que morrem, o teor do carbono, nitrogênio, oxigênio etc. é hoje inteiramente diverso do de um ano atrás. É como se vivêssemos num edifício cujos tijolos fossem sistematicamente trocados a cada ano.
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Deepak Chopra (A cura quântica (Portuguese Edition))
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Da terra despedaçada pelo fogo e embebida em sangue surgem espíritos que não se deixam encantar com o silêncio dos canhões; em vez disso, influenciam de um modo estranho todas as valorizações existentes e dão-lhes um sentido modificado.
Tivessem uns reconhecido isto como uma recaída numa barbárie moderna, tivessem-no outros saudado como um banho de aço — o mais importante é ver que um afluente novo e ainda indomado de forças elementares se apoderou do nosso mundo. Sob a segurança enganadora da ordem envelhecida, que é apenas possível enquanto ainda existir o cansaço, estas forças estão demasiado próximas, são demasiado destruidoras, de tal modo que o simples olhar as poderia abarcar. A sua forma é a da anarquia, que, nos anos de uma assim chamada paz, surge nos bandos ardentes como um vulcão à superfície.
Quem aqui ainda acreditar que este processo se deixa domar através de ordens de velho estilo pertence à raça dos vencidos, que está condenada ao aniquilamento. Dá-se antes a necessidade de novas ordens em que esteja incluído o extraordinário — de ordens que não estejam calculadas para a exclusão do que é perigoso, mas criadas por um novo casamento da vida com o perigo.
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Ernst Jünger
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moço de dezasseis anos que não sabia nada, mas era precisamente por essa razão que estava mais adaptado ao mundo novo do que ele, que sabia tudo.
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Giuliano da Empoli (O Mago do Kremlin)
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Quem faz televisão em Portugal sabe que qualquer programa legendado em horários nobres tem pior audiência do que programas falados em português (com exceção, nos últimos anos, dos filmes em alturas de Natal e Ano Novo), também porque muita gente nem sequer consegue ler as legendas.
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Pedro Boucherie Mendes (Ainda Bem Que Ficou Desse Lado)
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Digamos que você precisa contratar uma empresa para instalar o seu novo aparelho de ar-condicionado. Você liga para cinco empresas diferentes que achou no Google e descobre que: • Todas dizem ter o melhor equipamento; • Todas dizem ter a melhor equipe; • Todas dizem ter o melhor atendimento; • Todas dizem ser pontuais; • Todas dizem ter vários anos de experiência. Meu pai! Como saber a diferença entre um e outro? Todo mundo parece igual. Em um mercado assim, que fator é decisivo na hora da compra? Isso mesmo. O preço. Já que todos são iguais, eu vou comprar de quem me pedir o menor preço. Todo mundo parece ter qualidade, pontualidade e equipamentos de ponta. Então, vou tentar ver o mais barato e agendar um horário.
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Pedro Superti (Ouse ser diferente: Como a diferenciação é a chave para se reinventar nos negócios, relacionamentos e vida pessoal (Portuguese Edition))
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O ser humano é a soma daquilo que viveu e do que leu. E o que lemos ajuda-nos a compreender o que vivemos. É uma espécie de enzima, de levedura, que faz com que o que vivemos fermente. Fui repórter de guerra muito novo e fiz isso durante 20 anos. Ter lido a "Ilíada" ou a "Odisseia" ajudou-me a entender melhor o que ia vendo. Os livros à mistura com a memória produzem uma fermentação, que é algo pessoal. É impossível digerir bem o resultado da vida se não houver livros que o permitam. -- Entrevista ao Expresso, publicada em 29/01/2021 na Edição nº 2518 da Revista
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Arturo Pérez-Reverte
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uma chance de começar tudo de novo, com sete novos dias bem na sua frente, como um Ano-Novo encolhido.
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Zoe Sugg (Garota Online)
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Em 14 de setembro, os bombardeamentos foram particularmente intensos. Para os 393 mil judeus de Varsóvia, um terço da população da cidade, esse era um dia santo e, em geral, festivo, o ano-novo judeu. “Precisamente quando as sinagogas estavam cheias”, anotou em seu diário uma testemunha ocular, “Nalewki, o bairro judeu de Varsóvia, começou a ser bombardeado.
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Martin Gilbert (A Segunda Guerra Mundial: Os 2.174 dias que mudaram o mundo)
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O pretexto de exorcizar o fantasma vermelho da subversão, utilizado por Getúlio para justificar o golpe do Estado Novo em 1937, se voltava contra ele, oito anos depois. No Brasil, o truque era velho. Mas, de forma surpreendente, sempre funcionava.
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Lira Neto (Getúlio 1930-1945: Do Governo Provisório à Ditadura do Estado Novo)
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Espaço: a fronteira final. Estas são as viagens da nave estelar Enterprise. Em sua missão de cinco anos... para explorar novos mundos... para pesquisar novas vidas... novas civilizações... audaciosamente indo onde nenhum homem jamais esteve”.
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M. Miguel (Jornada nas Estrelas: Todas as curiosidades da série Clássica e original de Star Trek)
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Quando eu era muito novo e sentia em mim o impulso irreprimível de estar em qualquer outro lugar, foi-me assegurado por pessoas de idade madura que a maturidade curaria este desejo ardente. Quando os anos me indicavam como amadurecido, o remédio prescrito foi a meia-idade. Na meia-idade, asseguraram-me que uns anos mais acalmariam a minha febre, e agora, que tenho cinquenta e oito, talvez a senilidade o consiga.
Nada surtiu efeito. Quatro sopros roufenhos do apito de um navio ainda arrepiam o cabelo da minha nuca e põem os meus pés a sapatear. O som de um avião de jacto, de um motor a aquecer, até o bater de cascos ferrados no pavimento, provocam o antigo formigar, a boca seca e o olhar vago, o calor das palmas das mãos e a agitação violenta do estômago, aos pulos sob a caixa das costelas. Por outras palavras, não melhoro, ou, indo mais longe, quem foi vadio é sempre vadio.
Receio que a doença seja incurável.
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John Steinbeck (Travels with Charley: In Search of America)
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A mais gloriosa luz do Ano Novo é a doce esperança!
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Mehmet Murat ildan
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PRÓLOGO
Alguns Anos atrás no Planeta Orfheus...
Escurecia quando Lucius chegou ao local combinado, do qual haviam escolhido para ser o novo esconderijo. O último havia sido utilizado por vários meses, e estavam preocupados com a possibilidade de estarem sendo perseguidos e por fim, descobertos.
- Pensei que você não viesse... Estou lhe esperando faz quase uma hora, estava ficando angustiada. - disse Sofia aliviada.
- Desculpe meu amor... Tudo está se tornando cada vez mais difícil, quase não consegui vir hoje. Houve uma emboscada com as tropas de Igor na última invasão, e muitos guerreiros retornaram gravemente feridos. – ele a olhou surpreso. – Porque, esse encontro repentino? Nós havíamos combinado que o próximo seria na semana seguinte!
- Eu sei... Mas, não pude esperar...
Lucius deu-lhe um forte abraço, trazendo-a para junto de si. Permanecendo em silêncio por alguns momentos, sentindo o cheiro dela. A saudade e o desejo o consumiam. Ela significava o seu mundo, sem Sofia, sua vida jamais faria sentido. Ele nunca esqueceria aqueles olhos, serenos e sinceros, um azul tão claro e límpido, capaz de enxergar sua alma de guerreiro atormentado. Juntamente com seus cabelos dourados, Sofia parecia um anjo.
- Algum problema? Você ficou tão quieto e pensativo. – ela perguntou intrigada.
- Estou pensando em nós... Quanto tempo nós conseguiremos manter tudo em segredo? – ele afastou-se dela suspirando. - Ficar mentindo e fingindo que está tudo bem. Você faz ideia do quanto eu tenho que suportar quando está longe de mim? Ou quando vejo você com ele?
– Meu amor, agora não. Já discutimos diversas vezes sobre esse assunto. Você sabe que a nossa única alternativa, seria fugir, e rezar para que nunca nos encontrem.
Sofia sabia muito bem que as leis do Reino não podiam ser desrespeitadas. O amor, o respeito e a lealdade eram fatores primordiais, que faziam parte da hierarquia de Orfheus. Embora sempre fosse apaixonada por Lucius, que jamais demonstrou qualquer atitude ou interesse por ela, Sofia acabou se relacionando com Alex, irmão de Lucius em consequência de um pacto. Entretanto com o decorrer dos séculos, Lucius começou a mudar e demonstrar sentimentos amorosos por ela que, nunca deixou de amá-lo e sucumbiu às tentações e a paixão por ele. Inevitavelmente um caso de amor surgiu entre os dois.
Interrompendo os pensamentos dela, Lucius pegou-a pela mão e a levou para dentro da cabana. Este último lugar escolhido era reservado, adentro de uma vasta e linda floresta. Ele a puxou pela cintura, dando-lhe um beijo apaixonado, acariciou seus cabelos e disse baixinho.
- Amor... Senti tanto a sua falta.
- Eu também senti muitas saudades, mas o verdadeiro motivo que me trouxe hoje aqui às presas é outro. Preciso que você escute com atenção e mantenha a calma. – enquanto falava passava as mãos entre os cabelos negros de Lucius que contrastavam com sua pele clara. Sofia não queria assustá-lo. No entanto imaginava o quanto ele ficaria transtornado e nervoso com a notícia. Infelizmente a revelação era inevitável, cedo ou tarde, tudo viria à tona.
- Estou grávida. – ela declarou sem cerimônias.
Por um breve instante, Lucius não lhe disse nada. Somente a encarou sem reação alguma. Parecia estar em uma batalha silenciosa com seus próprios pensamentos.
- Mas como? – ele balbuciava não acreditando no que acabara de escutar. Certamente aquela revelação seria o fim para os dois.
- Fique calmo meu amor! Eu sei que isso muda tudo. O que estávamos planejando há meses, não será mais possível. – ela sentou-se em um banquinho improvisado e prosseguiu com lágrimas nos olhos. - Com o bebê a caminho, não posso simplesmente passar pelo portal, eu e o bebê morreríamos durante a travessia.
- Poderíamos pedir ajuda para a tia Wilda, ela é muito poderosa, provavelmente, ela seria capaz de quebrar a magia dos portais.
Sofia já havia pensado nessa possibilidade. Tinha plena consciência de que seria a única escolha que lhe restava.
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Gisele de Assis (Entre o Amor e o Sacrifício)
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- Ires despedir-te da casa?
eu não com onze, com cinquenta e dois anos, ou seja eu com onze e com cinquenta e dois anos, de cabelo preto e de cabelo loiro por cima do cabelo branco, sem compreender que o meu irmão mais velho se afogou, compreendia os dentes, as patas esticadas e um oleado em cima, não compreendia a morte, os círculos das gaivotas alcançavam as copas além de uma dúzia no tecto do Casino, o meu marido a limpar os dedos no guardanapo, com a ponta da língua no canto da boca, que dantes me enternecia por o tornar mais novo e desde há séculos deixou de enternecer-me, agradecia que pusesses a língua para dentro, obrigada
- Vai onde te apetecer mas eu preciso do carro
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António Lobo Antunes
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As lágrimas de Prajapati
Segundo a sabedoria dos mitos, o deu Prajapati nasceu do turbilhão das águas primordiais, chorando convulsivamente por estar sozinho e por não saber ao certo a razão por que tinhas vindo ao mundo.
Das lágrimas que verteu nesse choro convulsivo de criança abandonada à sua sorte nasceu a Terra e muitos dos seres que passaram a povoá-la. Mas lágrimas houve que foram arrastadas pelo vento para muito longe. Dessas lágrimas nasceu o céu e nasceram as nuvens.
Foi também das suas lágrimas que nasceram as pessoas e os espíritos, a noite e o dia, as estações do ano e também a morte, a única entidade capaz de pôr fim a muitos dos seres nascidos das copiosas lágrimas de Prajapati.
Diz-se que, ainda hoje, sempre que uma criança acabada de nascer irrompe num violento choro, há quem se interrogue sobre a possibilidade de ser um descendente de Prajapanti, com poderes bastantes para transformar as lágrimas da solidão primordial numa miríade de novos seres terrestres e celestes.
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José Jorge Letria (Lendas e contos indianos)
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Até o nome é enganador. «Bizantião» era o nome da antiga cidade grega que Constantino conquistou e escolheu para novo centro do Império Romano. Na sequência de uma tradição greco-romana de os monarcas atribuírem a cidades o seu próprio nome (como em Alexandria), chamou-lhe Constantinopla. Os cidadãos chamavam-se a si mesmo bizantinos, para se distinguirem dos romanos ocidentais, mas por vezes também romani («romanos» em latim), pois reivindicavam haver herdado o melhor da velha Roma. Tendemos a falar do Império Bizantino. Como já foi referido, os nórdicos aterrados chamaram àquele local Miklagard, «Grande Cidade»; era também conhecida em grego como Cidade de Deus. Hoje é Istambul. Porém, seja o que for que lhe chamemos, esta foi, como nos recorda o seu cronista moderno John Julius Norwich, uma sociedade humana de vida notavelmente prolongada. Fundada por Constantino em Maio do ano 330 e caída às mãos dos Otomanos em Maio de 1453, durou 1123 anos e 18 dias. Ou seja, aproximadamente o mesmo período de tempo que separa os Britânicos de hoje da Inglaterra de Alfredo, o Grande, dos Saxões e dos Dinamarqueses. Se Bizâncio foi um «fracasso» ou passou «à margem da corrente principal», foi um fracasso notavelmente persistente.
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Andrew Marr (História do Mundo (Vol. 3))