Uma Vida Pequena Quotes

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nosso tempo é especialista em criar ausências: do sentido de viver em sociedade, do próprio sentido da experiência da vida. isso gera uma intolerância muito grande com relação a quem ainda é capaz de experimentar o prazer de estar vivo, de dançar, de cantar. e está cheio de pequenas constelações de gente espalhada pelo mundo que dança, canta, faz chover. o tipo de humanidade zumbi que estamos sendo convocados a integrar não tolera tanto prazer, tanta fruição de vida. então, pregam o fim do mundo como uma possibilidade de fazer a gente desistir dos nossos próprios sonhos. e a minha provocação sobre adiar o fim do mundo é exatamente sempre poder contar mais uma história. se pudermos fazer isso, estaremos adiando o fim.
Ailton Krenak (Ideias Para Adiar o Fim do Mundo)
aqueles peixes bonitos que vês dentro dos aquários pequenos, sabes que têm uma memória de uns segundos, três segundos, assim. é por isso que não ficam loucos dentro daqueles aquários sem espaço, porque a cada três segundos estão como num lugar que nunca viram e podem explorar. devíamos ser assim, a cada três segundos ficávamos impressionados com a mais pequena manifestação de vida, porque a mais ridícula coisa na primeira imagem seria uma explosão fulgurante da percepção de estar vivo. compreendes. a cada três segundos experimentávamos a poderosa sensação de vivermos, sem importância para mais nada, apenas o assombro dessa constatação.
Valter Hugo Mãe (A máquina de fazer espanhóis)
Medo e ódio, medo e ódio: muitas vezes aquelas pareciam ser as únicas características suas. Medo de todo mundo; ódio de si mesmo.
Hanya Yanagihara (Uma vida pequena)
devíamos ser assim, a cada três segundos ficávamos impressionados com a mais pequena manifestação de vida, porque a mais ridícula coisa na primeira imagem seria uma explosão fulgurante da percepção de estar vivo. compreendes. a cada três segundos experimentávamos a poderosa sensação de vivermos, sem importância para mais nada, apenas o assombro dessa constatação.
Valter Hugo Mãe (a máquina de fazer espanhóis (Portuguese Edition))
E com uma letra bem pequena, lá estava escrito no seu epitáfio: Tentou ser, não conseguiu; tentou ter, não possuiu; tentou continuar, não prosseguiu; e nessa vida de expectativas frustradas tentou até amar… Pois bem, não conseguiu, e aqui está.
Machado de Assis (Dom Casmurro)
A vida, que parece uma linha recta, não o é. Construímos a nossa vida só nuns cinco por cento, o resto é feito pelos outros, porque vivemos com os outros e às vezes contra os outros. Mas essa pequena percentagem, esses cinco por cento, é o resultado da sinceridade consigo mesmo.
José Saramago
A vida é tão triste, pensava nesses momentos. É tão triste, e, ainda assim, todos a vivemos. Todos nos agarramos a ela; todos procuramos algo que nos console.
Hanya Yanagihara (Uma vida pequena)
Posso acreditar em coisas que são verdade e posso acreditar em coisas que não são verdade. E posso acreditar em coisas que ninguém sabe se são verdade ou não. Posso acreditar no Papai Noel, no coelhinho da Páscoa, na Marilyn Monroe, nos Beatles, no Elvis e no Mister Ed. Ouça bem... Eu acredito que as pessoas evoluem, que o saber é infinito, que o mundo é comandado por cartéis secretos de banqueiros e que é visitado por alienígenas regularmente -uns legais, que se parecem com lêmures enrugados, e uns maldosos, que mutilam gado e querem nossa água e nossas mulheres. Acredito que o futuro é um saco e que é demais, e acredito que um dia a Mulher Búfalo Branco vai ficar preta e chutar o traseiro de todo mundo. Também acho que todos homens não passam de meninos crescidos com profundos problemas de comunicação e que o declínio da qualidade do sexo nos Estados Unidos coincide com o declínio dos cinemas drive-in de um Estado ao outro. Acredito que todos os políticos são canalhas sem princípios, mas ainda assim melhores do que as outras alternativas. Acho que a Califórnia vai afundar no mar quando o grande terremoto vier, ao mesmo tempo em que a Flórida vai se dissolver em loucura, em jacarés, em lixo tóxico. Acredito que sabonetes antibactericidas estão destruindo nossa resistência à sujeira e às doenças, de modo que algum dia todos seremos dizimados por uma gripe comum, como aconteceu com os marcianos em Guerra dos Mundos. Acredito que os melhores poetas do século passado foram Edith Sitwell e Don Marquis, que o jade é esperma de dragão seco, e que há milhares de anos em uma vida passada eu era uma xamã siberiana de um braço só. Acho que o destino da humanidade está escrito nas estrelas, que o gosto dos doces era mesmo melhor quando eu era criança, que aerodinamicamente é impossível pra uma abelha grande voar, que a luz é uma onda e uma partícula, que tem um gato em uma caixa em algum lugar que está vivo e que está morto ao mesmo tempo (apesar de que, se não abrirem a caixa algum dia e alimentarem o bicho, ele no fim vai ficar só morto de dois jeitos), e que existem estrelas no universo bilhões de anos mais velhas do que o próprio universo. Acredito em um deus pessoal que cuida de mim e se preocupa comigo e que supervisiona tudo que eu faço, em uma deusa impessoal que botou o universo em movimento e saiu fora pra ficar com as amigas dela e nem sabe que estou viva. Eu acredito em um universo vazio e sem deus, um universo com caos causal, um passado tumultuado e pura sorte cega. Acredito que qualquer pessoa que diz que o sexo é supervalorizado nunca fez direito, que qualquer um que diz saber o que está acontecendo pode mentir a respeito de coisas pequenas. Acredito na honestidade absoluta e em mentiras sociais sensatas. Acredito no direito das mulheres à escolha, no direito dos bebês de viver, que, ao mesmo tempo em que toda vida humana é sagrada, não tem nada de errado com a pena de morte se for possível confiar no sistema legal sem restrições, e que ninguém, a não ser um imbecil, confiaria no sistema legal. Acredito que a vida é um jogo, uma piada cruel e que a vida é o que acontece quando se está vivo e o melhor é relaxar e aproveitar.
Neil Gaiman (American Gods (American Gods, #1))
Ainda na véspera eram seis viventes, contando com o papagaio. Coitado, morrera na areia do rio, onde haviam descansado, à beira de uma poça: a fome apertara demais os retirantes e por ali não existia sinal de comida. Baleia jantara os pés, a cabeça, os ossos do amigo, e não guardava lembrança disto. Agora, enquanto parava, dirigia as pupilas brilhantes aos objetos familiares, estranhava não ver sobre o baú de folha a gaiola pequena onde a ave se equilibrava mal.
Graciliano Ramos (Vidas secas)
Há uma condescendência devastadora em sacrificar pessoas, especialmente crianças, no altar da "diversidade" e na virtude da preservação de uma variedade de tradições religiosas. O restante de nós vive feliz com nossos carros e computadores, vacinas e antibióticos. Mas vocês, pessoinhas exóticas com seus chapéus e calçolas, suas carroças, seu dialeto arcaico e suas casinhas de banho, vocês enriquecem nossas vidas. É claro que se deve permitir que vocês aprisionem suas crianças em seu túnel do tempo seiscentista, senão perderíamos uma coisa irrecuperável: uma parte da maravilhosa diversidade da cultura humana. Uma pequena parte de mim ver alguma coisa nisso. Mas a maior parte fica é com enjoo.
Richard Dawkins
Tu eras também uma pequena folha que tremia no meu peito. O vento da vida pôs-te ali. A princípio não te vi: não soube que ias comigo, até que as tuas raízes atravessaram o meu peito, se uniram aos fios do meu sangue, falaram pela minha boca, floresceram comigo.
Pablo Neruda
Toda a arte é agressiva, Isabella. E toda a vida de artista é uma pequena ou uma grande guerra, a começar pelo próprio e pelas suas limitações. Para chegar a alguma coisa que te proponhas é preciso primeiro a ambição e depois o talento, o conhecimento e, por fim, a oportunidade.
Carlos Ruiz Zafón (The Angel's Game (The Cemetery of Forgotten Books, #2))
Sabia que era uma ideia romântica, mas os admirava: admirava todos que conseguiam viver ano após ano à base de suas minguantes esperanças, mesmo que envelhecessem e se tornassem mais obscuros a cada dia. E era o mesmo romantismo que o fazia pensar em seu tempo na organização como uma referência aos amigos, que viviam o tipo de vida que o encantava: considerava-os verdadeiros sucessos e sentia-se orgulhoso. Diferentemente dele, não tinham uma estrada definida a ser trilhada. Mesmo assim, seguiam em frente com obstinação, passando seus dias produzindo coisas belas.
Hanya Yanagihara (Uma vida pequena)
Por que lê tanto ? (...) - Olhe-me e diga o que vê. O rapaz olhou-o com suspeita - Isto é algum truque ? Vejo você. Tyrion Lannister Tyrion suspirou. - Você é notavelmente gentil para um bastardo, Snow. O que vê é um anão. Você tem o que ? Doze anos ? - Catorze - disse o rapaz. - Catorze, e é mais alto que alguma vez serei. Minhas pernas são curtas e tortas, e caminho com dificuldade. Necessito de uma sela especial para não cair do cavalo. Uma cela de minha própria concepção, talvez te interesse saber. Era isso ou montar um pônei. Meus braços são suficientemente fortes mas, uma vez mais, demasiado curtos. Nunca serei um espadachim. Se tivesse nascido camponês, provavelmente me teriam me expulsado para que morresse, ou vendido para a coleção de aberrações de algum negociante de escravos. Mas, ai de mim ! Nasci um Lannister de Rochedo Casterly, e as coleções de aberrações são das mais pobres. Esperam-se coisas de mim. Meu pai foi mão do rei durante vinte anos. Aconteceu que, mais tarde, meu irmão matou esse mesmo rei, mas minha vida está cheia dessas pequenas ironias. Minha irmã casou-se com o novo rei e o meu repugnante sobrinho será rei depois dele. Devo cumprir minha parte pela honra da minha casa, não concorda ? Mas como ? Bem, poderei ter as pernas pequenas demais para o corpo, mas minha cabeça é grande demais, embora eu prefira pensar que tem o tamanho certo para minha mente. Possuo um entendimento realista das minha forças e fraquezas. A mente é minha arma. Meu irmão tem a sua espada, O Rei Robert, o seu martelo de guerra, e eu tenho a minha mente... e uma mente necessita de livros da mesma forma que uma espada necessita de uma pedra de amolar se quisermos que se mantenha afiada - Tyrion deu uma palmada na capa de coura do livro - É por isso que leio tanto, Jon Snow.
George R.R. Martin (A Game of Thrones (A Song of Ice and Fire, #1))
Não somos robôs nem pedras falantes, senhor agente, disse a mulher, em toda a verdade humana há sempre algo de angustioso, de aflito, nós somos, e não estou a referir-me simplesmente à fragilidade da vida, somos uma pequena e trémula chama que a cada instante ameaça apagar-se, e temos medo, acima de tudo temos medo
José Saramago (Seeing)
Ikigai reside no reino das pequenas coisas. O ar matinal, a xícara de café, o raio de sol, o massagear da carne de polvo e o elogio do presidente norte-americano estão em pé de igualdade. Só aqueles capazes de reconhecer a riqueza desse espectro podem realmente apreciá-la e senti-la. Essa é uma lição importante do ikigai.
Ken Mogi (Ikigai: Os cinco passos para encontrar seu propósito de vida e ser mais feliz (Portuguese Edition))
Seu maior problema era que, quando trabalhava ao lado seus colegas à noite e o grupo se enfurnava em seus próprios sonhos e ambições, quando todos desenhavam e planejavam suas construções improváveis, ele ficava ali sem fazer nada. Perdera a capacidade de imaginar qualquer coisa. Assim, todas as noites, enquanto os outros criavam, ele copiava. [...] Sentia saudade dos anos em que bastava estar em seu quarto com a mão passando sobre a folha de papel quadriculado, antes dos anos de decisões e identidades, quando seus pais faziam as escolhas por ele, e a única coisa em que tinha que se concentrar era no traço limpo de uma linha, na perfeição da borda régua.
Hanya Yanagihara (A Little Life)
Quando eu era pequena, pensava que poderia dormir por muito tempo e conseguir acordar em uma época melhor da vida. Fiz várias tentativas, mas nenhuma funcionou. No máximo, acordava no outro dia para o almoço e nada tinha mudado. Hoje seria um bom dia para que essa magia existisse. Gostaria de acordar quando tudo isso estivesse resolvido.
Pam Gonçalves (Uma História de Verão)
Como é bom a gente ter tido infância para poder lembrar-se dela. E trazer uma saudade muito esquisita escondida no coração. Como é bom a gente ter deixado a pequena terra em que nasceu E ter fugido para uma cidade maior, para conhecer outras vidas. Com é bom chegar a este ponto de olhar em torno E se sentir maior e mais orgulhoso porque já conhece outras vidas... Como é bom se lembrar da viagem, dos primeiros dias na cidade, Da primeira vez que olhou o mar, da impressão de atordoamento. Como é bom olhar para aquelas bandas e depois comparar. Ver que está tão diferente, e que já sabe tantas novidades... Como é bom ter vindo de tão longe, estar agora caminhando Pensando e respirando no meio de pessoas desconhecidas Como é bom achar o mundo esquisito por isso, muito esquisito mesmo E depois sorrir levemente para ele com os seus mistérios... Que coisa maravilhosa, exclamar. Que mundo maravilhoso, exclamar. Como tudo é tão belo e tão cheio de encantos! Olhar para todos os lados, olhar para as coisas mais pequenas, E descobrir em todas uma razão de beleza.
Manoel de Barros
Você pode não entender agora, mas um dia entenderá: o único segredo da amizade, acredito eu, é encontrar pessoas melhores que você, não mais inteligentes, não mais bacanas, mas sim mais bondosas, mais generosas e mais piedosas, e tentar dar ouvidos a elas quando dizem algo sobre você, não importa o quanto seja ruim, ou bom, e confiar nelas, o que é a coisa mais difícil. Mas também a melhor.
Hanya Yanagihara (Uma vida pequena)
Existe um ritmo específico para se andar no mundo sozinha. Você descobre quais são as coisas sem as quais pode ou não pode viver, as necessidades mais básicas e as pequenas alegrias que definem a vida de uma pessoa. Não se trata da comida, do teto sobre a sua cabeça nem das coisas essenciais de que o corpo precisa para funcionar — o que, para ela, é apenas um luxo —, mas de tudo o que te mantém sã. Que te traz alegria. Que torna a vida suportável.
V.E. Schwab (The Invisible Life of Addie LaRue)
Poema em Linha Reta Nunca conheci quem tivesse levado porrada.
Todos os meus conhecidos têm sido campeões em tudo.
E eu, tantas vezes reles, tantas vezes porco, tantas vezes vil,
Eu tantas vezes irrespondivelmente parasita,
Indesculpavelmente sujo.
Eu, que tantas vezes não tenho tido paciência para tomar banho,
Eu, que tantas vezes tenho sido ridículo, absurdo,
Que tenho enrolado os pés publicamente nos tapetes das etiquetas,
Que tenho sido grotesco, mesquinho, submisso e arrogante,
Que tenho sofrido enxovalhos e calado,
Que quando não tenho calado, tenho sido mais ridículo ainda;
Eu, que tenho sido cômico às criadas de hotel,
Eu, que tenho sentido o piscar de olhos dos moços de fretes,
Eu, que tenho feito vergonhas financeiras, pedido emprestado sem pagar,
Eu, que, quando a hora do soco surgiu, me tenho agachado
Para fora da possibilidade do soco;
Eu, que tenho sofrido a angústia das pequenas coisas ridículas,
Eu verifico que não tenho par nisto tudo neste mundo.
Toda a gente que eu conheço e que fala comigo
Nunca teve um ato ridículo, nunca sofreu enxovalho,
Nunca foi senão príncipe - todos eles príncipes - na vida...
Quem me dera ouvir de alguém a voz humana
Que confessasse não um pecado, mas uma infâmia;
Que contasse, não uma violência, mas uma cobardia!
Não, são todos o Ideal, se os oiço e me falam.
Quem há neste largo mundo que me confesse que uma vez foi vil?
Ó principes, meus irmãos,
Arre, estou farto de semideuses!
Onde é que há gente no mundo?
Então sou só eu que é vil e errôneo nesta terra? Poderão as mulheres não os terem amado,
Podem ter sido traídos - mas ridículos nunca!
E eu, que tenho sido ridículo sem ter sido traído,
Como posso eu falar com os meus superiores sem titubear?
Eu, que venho sido vil, literalmente vil,
Vil no sentido mesquinho e infame da vileza.
Fernando Pessoa (A poesia completa de Álvaro de Campos)
E aprendi oque é óbvio para uma criança. Que a vida é simplesmente uma coleção de pequenas vidas,cada uma vivida um dia de cada vez. Aprendi que devemos viver cada dia encontrando a beleza nas flores e na poesia e conversando com os animais. Que não há nada melhor do que um dia sonhos, com pores do sol e brisas refrescantes. Mas acima de tudo, aprendi que a vida é me sentar em banco junto a riachos antigos com a minha mão no joelho dela, e às vezes,nos dias bons, me apaixonar. -
Nicholas Sparks (Diário de uma Paixão: Uma das mais emocionantes e intensas histórias de amor)
Serão medidas terapêuticas — transes durante os quais as mais torturantes lembranças, os eventos que parecem capazes de inutilizar a vida para sempre são varridos com uma folha escura que alisa sua aspereza e doura mesmo os mais feios e mais desprezíveis com brilho e incandescência? Terá o dedo da morte que ser colocado no tumulto da vida, de tempos em tempos, para que não sejamos dilacerados? Será que somos feitos de tal forma que devemos receber a morte em pequenas doses diariamente, ou não podemos continuar com o direito à vida?
Virginia Woolf (Orlando)
Também nunca me fora revelada a pequena tatuagem azul, como a de Popeye, no alto do braço direito, quase na altura do ombro — as palavras "Marinha dos EUA" entre os braços em gancho de uma pequena âncora —, percorrendo a hipotenusa do deltoide. Um pequeno símbolo, se fosse necessário, de todas as milhões de circunstâncias da vida daquele outro indivíduo, daquela enxurrada de detalhes que constituem a confusão de uma biografia humana — um pequenino símbolo que chamava a minha atenção para o motivo pelo qual nossa compreensão das pessoas é sempre, na melhor das hipóteses, ligeiramente equivocada.
Philip Roth (The Human Stain (The American Trilogy, #3))
(...) porque os átomos são tão pequenos? Para começar, eles são mesmo muito pequenos. Toda pequena porção de matéria manuseada na vida cotidiana contém um número enorme deles. Muitos exemplos foram desenvolvidos para dar ao público uma ideia disso, nenhum mais impressionante que o usado por Lord Kelvin: suponha que você pudesse marcar as moléculas em um copo d'água; coloque então o conteúdo do copo no oceano e agite este de forma a poder distribuir as moléculas uniformemente pelos sete mares; se você, então, pegasse um copo d'água de qualquer lugar do oceano, encontraria nele cerca de 100 de suas moléculas marcadas
Erwin Schrödinger (What Is Life? with Mind and Matter and Autobiographical Sketches)
Já reparou que só a morte desperta nossos sentimentos? Como amamos os amigos que acabam de deixar-nos, não acha?! Como admiramos nossos mestres que já não falam mais, que estão com a boca cheia de terra! A homenagem vem, então, muito naturalmente, essa mesma homenagem que talvez tivessem esperado de nós durante a vida inteira. Mas sabe por que somos sempre mais justos e mais generosos para com os mortos? A razão é simples! Em relação a eles, já não há obrigações. Deixam-nos livres, podemos dispor de nosso tempo, encaixar a homenagem entre o coquetel e uma doce amante: em resumo, nas horas vagas. Se nos impusessem algo, seria a memória, e nós temos a memória curta. Não é o morto recente que nós amamos em nossos amigos, o morto doloroso, nossa emoção, enfim, nós mesmos![...] É assim o homem, caro senhor, com duas faces: não consegue amar sem se amar. Observe seus vizinhos, se por acaso ocorrer um falecimento no prédio. Adormecidos em sua vidinha, e eis que morre o porteiro. Despertam imediatamente, agitam-se, informa-se, enchem-se de compaixão. Um morto no prelo e o espetáculo começa, finalmente. Eles têm necessidade de tragédia que se pode fazer? - é sua pequena transcendência, é seu aperitivo. Será, aliás, por acaso que lhe falo em porteiro? Eu tinha um, que era uma verdadeira desgraça, a maldade em pessoa, um monstro de insignificância e de rancor que faria desanimar um franciscano. Eu nem sequer lhe dirigia a palavra, mas, por sua própria existência, ele comprometia minha satisfação habitual. Morreu, e eu fui a seu enterro. Será capaz de me dizer por quê?
Albert Camus (The Fall)
A fragilidade e a pequenez assumem dimensões infinitas conforme a sua raridade, subtileza ou efemeridade. Exercitar este olhar sobre o mundo é um trabalho poético que não só lhe imprime beleza como também glorifica a mortalidade como um dom. Perec, no seu livro "L'ínfra-ordinaire", fala precisamente da importância das pequenas coisas, da atenção que lhes devemos. Noticiam-se grandes desgraças, mas quando vemos o sol a pôr-se num cemitério de Samarcanda, é o poeta que o descreve, não é o jornalista. Os poetas vêem as intermitência da vida, os beijos que demos antes de os darmos, as garças a voar (tão intensas a pincelar o chão com as suas sombras), a chuva a bater na janela, um título esquecido de um romance imperdível, um esgar de maldade, um golo de vinho. Nenhum jornal noticia a chuva a bater na janela, isso é trabalho de um poeta. Não imaginamos a quantidade de coisas, consideradas lixo, que se podem contar ao mundo com uma beleza absurda. Aquilo que não cabe num jornal pode ser precisamente a matéria mais poética.
Afonso Cruz (Jalan Jalan - Uma Leitura do Mundo)
Deste modo, o Dataísmo ameaça fazer ao Homo sapiens o que este fez a todos os outros animais. No decurso da História, os humanos criaram uma rede global e avaliaram tudo de acordo com a função que cada coisa desempenhava dentro da rede. Durante milhares de anos, isto estimulou o orgulho da humanidade e os seus preconceitos. Visto que as funções mais importantes da rede eram desempenhadas por humanos, era-nos fácil reclamar para nós o mérito pelos feitos da rede e vermo-nos como o auge da criação. As vidas e as experiências dos outros animais eram subvalorizadas porque esses desempenhavam funções menos importantes e, sempre que um animal deixava de ter qualquer função, acabava por se extinguir. Porém, assim que os humanos perderem a sua importância funcional para a rede, chegaremos à conclusão de que, afinal de contas, não somos o auge da criação. Os critérios por nós consagrados irão condenar-nos a cair no esquecimento onde já estão os mamutes e o boto chinês. Em retrospectiva, a humanidade revelar-se-á uma pequena ondulação no fluxo cósmico de dados.
Yuval Noah Harari (Homo Deus A Brief History of Tomorrow By Yuval Noah Harari & How We Got to Now Six Innovations that Made the Modern World By Steven Johnson 2 Books Collection Set)
Certa vez, um professor mostrou aos seus alunos uma imensa tela pintada de branco com um minúsculo ponto preto. Perguntou a eles o que viam. Quase todos responderam que viam um ponto preto. O professor ressaltou então que não se tratava de um ponto preto numa tela branca, mas sim de uma tela branca com um ponto preto. Havia uma grande diferença nisso. O que ele quis demonstrar é que preferimos ver o defeito que há nas coisas, por menor que seja, do que suas qualidades. Quantas amizades você perdeu porque as pessoas tinham 99% de qualidades e 1% de defeitos, e por causa disso você achou que não valia a pena ser amigo delas? Assim fazemos quando criticamos quem está ao nosso redor e não vemos as coisas positivas que traz em seu coração. Fazemos isso quando reclamamos dos pequenos defeitos de nossos parceiros (ninguém é perfeito!) e não vemos o carinho e a dedicação que eles têm por nós. Fazemos isso quando não valorizamos as conquistas de nossos filhos, mas fazemos um escarcéu por causa da pequena falta que eles cometeram. Assim fazemos com as boas oportunidades que temos na vida: em vez de agarrá-las, só enxergamos as dificuldades e as pedras do caminho.
Marcelo Rossi (Philia (Em Portugues do Brasil))
Os deuses me concederam quase tudo: eu possuía o gênio, um nome, posição, agudeza intelectual, talento. Fiz da arte uma filosofia e da filosofia uma arte, não havia nada que dissesse ou fizesse que não provocasse a admiração das pessoas. Peguei o drama, a mais objetiva das formas da arte que se conhece, e transformei-o numa forma de expressão tão pessoal quanto o poema lírico ou o soneto, ao mesmo tempo em que ampliava o seu alcance e enriquecia as suas características. Drama, novela, poema em prosa ou verso, diálogos fantásticos ou sutis, o que quer que eu tocasse tornava belo, com um novo tipo de beleza; atribuí à própria verdade, como sua legítima jurisdição, tanto o que é falso quanto o que é verdadeiro e demonstrei que o falso e o verdadeiro são apenas formas de vida intelectual. Tratei a arte como a suprema realidade e a vida como uma mera ficção. Despertei a imaginação do século em que vivi, para que criasse um mito e uma lenda em torno da minha pessoa. Resumi todos os sistemas numa única frase e toda a existência numa epígrafe. Além de todas essas coisas eu ainda tinha algo diferente. Mas me deixei atrair por longos períodos de ócio sensual e insensato. Divertia-me ser um flâneur, um dândi, um homem da moda. Cerquei-me de naturezas menores e de inteligências medíocres. Dissipar o meu próprio gênio e desbaratar uma juventude que me parecia eterna provocava em mim uma estranha alegria. Cansado das alturas, desci voluntariamente às profundezas em busca de novas sensações. O que o paradoxo significava para mim no âmbito do pensamento, a depravação passou a significar no âmbito das paixões. No fim o desejo era como uma doença, uma loucura, ou ambas. Deixei de pensar nos outros, desfrutava o prazer onde quer que o encontrasse e seguia adiante. Esqueci que cada pequena ação cotidiana pode fazer ou desfazer um caráter e que tudo aquilo que fazemos no segredo da alcova teremos que confessá-lo um dia, gritando do alto dos telhados. Deixei de ser senhor de mim mesmo. Já não era mais o comandante da minha alma e não sabia. Permiti que o prazer me dominasse e acabei caindo em terrível desgraça. Agora só uma coisa me resta: a mais absoluta humildade.
Oscar Wilde (De Profundis (Portuguese Edition))
A mesma ignorância predominou em relação a muitas criaturas maiores, inclusive um dos mais importantes e menos compreendidos de todos os animais que por vezes se encontram nas casas modernas: o morcego. Quase ninguém gosta dos morcegos, o que é lamentável, porque eles fazem muito mais bem do que mal. Comem grandes quantidades de insetos, beneficiando as plantações e o ser humano. O morcego marrom, a espécie mais comum nos Estados Unidos, consome até seiscentos mosquitos por hora. O pequenino pipistrelo — que não pesa mais que uma pequena moeda — ingere até 3 mil insetos em suas incursões noturnas. Sem os morcegos, haveria muito mais mosquitos na Escócia, larvas no solo na América do Norte e febres nos trópicos. As árvores das florestas seriam mastigadas até serem destruídas. As plantações precisariam de mais agrotóxicos. O mundo natural se tornaria um lugar estressado até a exaustão. Os morcegos também são vitais para o ciclo de vida de muitas plantas silvestres, colaborando na polinização e na dispersão de sementes. Um minúsculo morcego da América do Sul, o Carollia perspicillata, chega a comer 60 mil sementinhas a cada noite. A propagação das sementes feita por uma única colônia — cerca de quatrocentos desses morceguinhos — pode produzir, anualmente, 9 milhões de mudas de árvores frutíferas. Sem os morcegos, essas novas árvores frutíferas não existiriam. Eles também são essenciais para a sobrevivência, na natureza, de madeira balsa, abacates, bananas, frutas-pão, cajus, cravo, tâmaras, figos, goiabas, mangas, pêssegos, cactos saguaro, entre outros. Há muito mais morcegos no mundo do que a maioria das pessoas imagina. Na verdade, eles constituem aproximadamente um quarto de todas as espécies de mamíferos — cerca de 1100. Variam em tamanho desde o morcego-abelha, que realmente não é maior que uma abelha e, portanto, é o menor de todos os mamíferos, até as magníficas raposas-voadoras da Austrália e do sul da Ásia, que podem alcançar quase dois metros de envergadura. No passado já foram feitas tentativas de aproveitar as qualidades especiais dos morcegos. Na Segunda Guerra Mundial, o Exército americano investiu muito tempo e dinheiro em um plano extraordinário para acoplar minúsculas bombas incendiárias a morcegos e lançar de aviões um grande número deles — até 1 milhão de cada vez — sobre o Japão. A ideia era que os morcegos se empoleirariam nos beirais e telhados e suas pequeninas bombas-relógio iriam deflagrar, fazendo com que pegassem fogo e causassem, assim, centenas de milhares de incêndios. Elaborar bombas e timers tão pequenos exigia muita experiência e engenho; mas, finalmente, na primavera de 1943, o trabalho estava adiantado e foi marcada uma experiência em Muroc Lake, na Califórnia. No entanto, as coisas não correram bem como o planejado, para dizer o mínimo. Os morcegos estavam bem armados com suas bombas em miniatura, mas ficou claro que essa não era uma boa ideia. Eles não pousaram em nenhum dos alvos designados, mas destruíram todos os hangares e a maioria dos depósitos no aeroporto de Muroc Lake, bem como o carro de um general do Exército. O relatório do general sobre os acontecimentos do dia deve ter sido uma leitura muito interessante. Seja como for, o programa foi cancelado logo em seguida. Um plano menos maluco, mas não mais bem-sucedido, para utilizar os morcegos foi concebido pelo dr. Charles A. R. Campbell, da Escola de Medicina da Universidade de Tulane. A ideia de Campbell era construir gigantescas “torres de morcegos”, onde estes poderiam se empoleirar, procriar e sair para comer mosquitos. Isso, segundo Campbell, reduziria substancialmente a malária, e também forneceria guano em quantidades comercialmente viáveis. Várias torres foram construídas, e algumas ainda estão de pé, mesmo que precariamente, mas nunca cumpriram sua função. Ao que parece, os morcegos não gostam de receber ordens sobre onde devem morar.
Bill Bryson (At Home: A Short History of Private Life)
As dimensões do universo medieval não são tão facilmente percebidas, ainda hoje, quanto a sua estrutura; em meu próprio tempo de vida, um cientista distinto ajudou a disseminar um erro. 14 O leitor deste livro já deve estar sabendo que a Terra era, a julgar por padrões cósmicos, um pontinho - de nenhuma magnitude significativa. E como o Somnium Scipionis nos ensinou, as estrelas eram maiores do que ela. Isidoro já sabia no século VI que o Sol é maior, e a Lua, menor do que a Terra. (Etymologies, III, xlvii-xl- viii); Maimônides,15 no século XII, sustenta que cada estrela é noventa vezes maior; Roger Bacon, no século XIII, declara que a menor estrela é "maior" do que ela. 16 Quanto às estimativas da distância, contamos com a sorte de ter o testemunho de uma obra completamente popular, Lendas do Sul da Inglaterra, uma prova melhor do que qualquer produção pesquisada, em favor do Modelo, como ele existia no imaginário de pessoas comuns. Diz-se ali que se um homem fosse capaz de viajar para o alto, numa velocidade de quarenta milhas17 e um pouco mais por dia, ele ainda assim não conseguiria alcançar o Stellatum ("o mais alto céu que jamais se viu") em oito mil anos. 18 Esses fatos são em si curiosidades de interesse medíocre. Eles se tornam acessíveis, apenas à medida que nos permitem penetrar mais fundo na consciência dos nossos ancestrais, dando-nos conta de como um universo assim deve ter afetado aqueles que acreditavam nele. A receita para tal compreensão não é o estudo de livros. Você terá de sair numa noite estrelada e caminhar por aproximadamente meia hora, tentando examinar o céu em termos da velha cosmologia. Lembre-se de que agora você tem um "para cima" e um "para baixo" absolutos. A Terra é, de fato, o centro, o lugar mais baixo; o movimento para chegar a ela, de qualquer direção que seja, é um movimento para baixo. Como homem moderno, você localizava as estrelas a uma grande distância. Agora terá de substituir essa distância por um tipo de distância muito especial e muito menos abstrata chamada altura; Os Céus 1 103 que fala imediatamente aos nossos músculos e nervos. O Modelo Medieval é vertiginoso. E o fato de que a altura das estrelas na astronomia medieval é muito pequena comparada às distâncias modernas acabará se manifestando como não tendo o tipo de importância que você supunha. Para o pensamento e a imaginação, dez milhões de milhas e um bilhão são a mesma coisa. Ambas podem ser concebidas (isto é, podemos fazer contas com ambas) e nenhuma delas pode ser imaginada; e quanto mais imaginação tivermos, melhor deveríamos saber disso. A diferença realmente importante é que o universo medieval, ao mesmo tempo que era inimaginavelmente grande, também era indubitavelmente finito. E um resultado inesperado disso foi o de fazer com que a pequenez da Terra fosse sentida com mais vivacidade. Em nosso Universo ela é pequena, sem dúvida; mas as galáxias e tudo o mais também são - e daí? Mas para eles havia um padrão finito de comparação. A esfera celeste mais alta, o maggior corpo de Dante, era tão simples e finalmente o maior objeto existente. A palavra "pequeno" aplicada à Terra assume, então, uma significância bem mais absoluta. Repito, pelo fato de o universo medieval ser finito, ele adquire uma forma, a forma perfeitamente esférica, que contém em si uma diversidade ordenada. Consequentemente, olhar para fora numa noite escura com olhos modernos é como olhar para o mar, que vai minguando num dia de nevoeiro; ou olhar para uma floresta virgem - infindáveis árvores sem nenhum horizonte. Vislumbrar o universo medieval altaneiro é mais como visualizar um prédio bem alto. O "espaço" da astronomia moderna pode infligir terror, espanto ou um vago devaneio; as esferas celestes dos medievais nos apresentam um objeto no qual a mente pode repousar, impressionando por sua grandeza, mas satisfazendo por sua harmonia. Esse é o sentido pelo qual o nosso universo é romântico, e o deles era clássico.
C.S. Lewis (The Discarded Image: An Introduction to Medieval and Renaissance Literature)
Temos observado nas vidas uma reação dupla à tribulação: ou ela nos quebra no espírito, derretendo a dureza e nos conduzindo a Deus em nosso desespero, ou ela nos lança sobre nossos pobres recursos e raciocínios humanos. Isso por sua vez nos torna endurecidos no espírito, críticos e geralmente cínicos. Ela rouba o coração do grande privilégio de confiar em Deus e do desenvolvimento da vida em possibilidades ricas e úteis. Mel ou Fel?               A adversidade vai tornar você mais amargo, ou melhor. Veja a semelhança entre essas duas palavras da língua inglesa: bitter and better (amargo e melhor). Observe o que é necessário para mudar totalmente o sentido delas: apenas a letra “i” para a letra “e” (em Inglês). Querido irmãos, é o “Eu” (I em Inglês) que muda toda a questão. Quando o “Eu” é colocado fora da dificuldade, a vida fica melhor (better); mas quando o “Eu” é introduzido e ficamos envolvidos na adversidade, a vida se torna mais amarga (bitter). Frequentemente esse “Eu” entra no caminho. O ego pobre, pequeno e ferido leva uma bofetada e corre rua abaixo gritando para ganhar atenção. O precioso e pequeno ego assenta na sua porta e derrama lágrimas de auto piedade; seus olhos ficam vermelhos e inchados e ele não vê mais as coisas como elas são ou deveriam ser.               É necessário um coração tranqüilo, paz de espírito e visão clara (ou de longo alcance, se você preferir), para interpretar a tribulação em termos de força e viver elevado. Almas pequenas, pessoas pequenas, geralmente são feridas o tempo todo. O ego no interior ganha importância indevida e por isso ele é facilmente ferido ou adulado. Tais almas possuem um mundo muito pequeno e, desse modo, tudo se relaciona diretamente com o seu ego interior. Resumindo: pessoas assim passarão por momentos muito difíceis.               Frequentemente tais almas são pessoas que estão buscando justiça, imparcialidade e um ajuste adequado de vida. Parece que elas nunca aprendem. Não estamos aqui em busca de justiça; estamos aqui para viver. Se você espera ser um cristão espiritual e vitorioso, você precisa aprender imediatamente como retirar a justiça do seu vocabulário, no que diz respeito à sua vida. Nós não experimentamos a justiça agora. A noite do ajuste de contas do Sábado de Deus ainda não chegou.
J. W. FOLLETTE (A tribulação é uma serva (Desenvolvendo a Salvação Livro 2) (Portuguese Edition))
A adversidade vai tornar você mais amargo, ou melhor. Veja a semelhança entre essas duas palavras da língua inglesa: bitter and better (amargo e melhor). Observe o que é necessário para mudar totalmente o sentido delas: apenas a letra “i” para a letra “e” (em Inglês). Querido irmãos, é o “Eu” (I em Inglês) que muda toda a questão. Quando o “Eu” é colocado fora da dificuldade, a vida fica melhor (better); mas quando o “Eu” é introduzido e ficamos envolvidos na adversidade, a vida se torna mais amarga (bitter). Frequentemente esse “Eu” entra no caminho. O ego pobre, pequeno e ferido leva uma bofetada e corre rua abaixo gritando para ganhar atenção. O precioso e pequeno ego assenta na sua porta e derrama lágrimas de auto piedade; seus olhos ficam vermelhos e inchados e ele não vê mais as coisas como elas são ou deveriam ser.               É necessário um coração tranqüilo, paz de espírito e visão clara (ou de longo alcance, se você preferir), para interpretar a tribulação em termos de força e viver elevado. Almas pequenas, pessoas pequenas, geralmente são feridas o tempo todo. O ego no interior ganha importância indevida e por isso ele é facilmente ferido ou adulado. Tais almas possuem um mundo muito pequeno e, desse modo, tudo se relaciona diretamente com o seu ego interior. Resumindo: pessoas assim passarão por momentos muito difíceis.               Frequentemente tais almas são pessoas que estão buscando justiça, imparcialidade e um ajuste adequado de vida. Parece que elas nunca aprendem. Não estamos aqui em busca de justiça; estamos aqui para viver. Se você espera ser um cristão espiritual e vitorioso, você precisa aprender imediatamente como retirar a justiça do seu vocabulário, no que diz respeito à sua vida. Nós não experimentamos a justiça agora. A noite do ajuste de contas do Sábado de Deus ainda não chegou.
J. W. FOLLETTE (A tribulação é uma serva (Desenvolvendo a Salvação Livro 2) (Portuguese Edition))
A vida muda num instante.
Deborah Rodriguez (Uma Pequena Casa de Chá em Cabul)
Entramos no mundo como uma pequena parte da vida que nos foi dada e, a partir daí, estaremos sempre pagando dívidas. Para nós mesmos. Para os outros. Até o fim da vida”.
Andrzej Sapkowski
alguém me procurava o que lembro : manchas de luz, só manchas, na infância, amarelo de areia e azul transparente, água através da qual outra luz surgia, nos meus olhos abertos uma pedra coberta de limo, o verde ondulava num movimento que fazia crescer cada fio e o tornava vagaroso, via-se a luz, a sua vida perceptível nas pequenas bolhas de ar a desprenderem-se do fundo, campo vertical semeado de luz, aproximava-me dele e cada palavra crescia no frio dos meus lábios como um desenho, e quase se tornava visível, a paisagem afastava todas as outras vozes, o campo picotado de restolho descia até à praia, gafanhotos saltavam arqueados pelo som, lentos na queda, através do calor íntimo de um som a crescer, a areia chegava-me à boca, em grãos de som, o mar era o desenho de um barco, alguém me procurava, alguém procurava o meu nome, de costas viradas para mim, a afastar-se de mim, num abandono que não acabará, no entanto, deve ter havido um momento em que essa voz se debruçou para a minha voz e se confundiu com ela, mas esqueci-o : o presente é um afastamento que se inicia, uma manhã que não culminará
Rui Nunes (Ouve-se Sempre a Distância Numa Voz)
Uma maneira cómoda de travar conhecimento com uma cidade é descobrir como lá se trabalha, como se ama e como se morre. Na nossa pequena cidade, talvez por efeito do clima, tudo se faz ao mesmo tempo, com o mesmo ar frenético e distante. Ou seja, as pessoas aborrecem-se e aplicam-se a criar hábitos. Os nossos concidadãos trabalham muito, mas apenas para enriquecerem. Interessam-se principalmente pelo comércio e ocupam-se, em primeiro lugar, segundo a sua própria expressão, em fazer negócios. Naturalmente, têm gosto pelos prazeres simples, gostam das mulheres, do cinema e dos banhos de mar. Porém, muito sensatamente, reservam os prazeres para os domingos e os sábados à noite, procurando nos outros dias da semana ganhar muito dinheiro. À tarde, quando saem dos escritórios, reúnem-se a uma hora fixa nos cafés, passeiam na mesma avenida ou põem-se às varandas. Os desejos dos mais novos são violentos e breves, enquanto os vícios dos mais velhos não vão além das associações de bolómanos, os banquetes das amicales e as assembleias onde se joga forte sobre a sorte das cartas. Dir-se-á que nada disso é peculiar à nossa cidade e que, em suma, todos os nossos contemporâneos são assim. Sem dúvida, nada há de mais natural, hoje em dia, do que ver as pessoas trabalharem de manhã à noite e perderem em seguida, a jogar às cartas, no café, ou a dar à língua, o tempo que lhes resta para viverem. Mas há cidades e países onde as pessoas têm, de tempos a tempos, a suspeita de que existe mais alguma coisa. Isso, em geral, não lhes modifica a vida. Simplesmente houve essa suspeita, e sempre é um ganho. Orão, pelo contrário, é uma cidade sem suspeitas, ou seja, uma cidade inteiramente moderna. Não é, pois, necessário precisar a maneira como se ama entre nós. Os homens e as mulheres ou se devoram rapidamente no chamado ato do amor ou se entregam a um longo hábito entre dois. Também isso não é original. Em Orão, como no resto do mundo, por falta de tempo e de reflexão, é-se obrigado a amar sem o saber. O que é mais original na nossa cidade é a dificuldade que lá se encontra em morrer. Dificuldade, aliás não é o termo exato: seria mais justo falar em desconforto. Nunca é agradável estar doente, mas há cidades e países onde nos amparam na doença e onde se pode, de certo modo, deixar correr. Um doente precisa de ternura, gosta de se sentir apoiado em qualquer coisa, o que é bastante natural. Em Orão, porém, os excessos do clima, a importância dos negócios que lá se tratam, a insignificância da paisagem, a rapidez do crepúsculo e a qualidade dos prazeres, tudo exige boa saúde. Um doente, lá, encontra-se muito só. Como pensar então naquele que vai morrer, apanhado na armadilha por detrás das paredes crepitantes do calor, enquanto no mesmo minuto toda uma população, ao telefone ou nos cafés, fala de letras de câmbio, de mercadorias recebidas ou de descontos? Compreender-se-á o que há de desconfortável na morte, mesmo moderna, quando ela sobrevém num lugar tão árido.
Albert Camus (The Plague)
Justamente sempre acontecia uma pequena coisa que a desviava da torrente principal. Era tão vulnerável. Odiava-se por isso? Não, odiar-se-ia mais se já fosse um tronco imutável até a morte, apenas capaz de dar frutos mas não de crescer dentro de si mesma. Desejava ainda mais: renascer sempre, cortar tudo o que aprendera, o que vira, e inaugurar-se num terreno novo onde todo pequeno ato tivesse um significado, onde o ar fosse respirado como da primeira vez. Tinha a sensação de que a vida corria espessa e vagarosa dentro dela, borbulhando como um quente lençol de lavas.
Clarice Lispector (Near to the Wild Heart)
A nossa bexiga imaginária pode expandir-se e contrair-se. Pode expandir-se até um grau extraordinário e então, com poucas contrações, relaxar-se. Pode estar flácida, tensa, relaxada ou excitada. Pode concentrar as cargas elétricas, junto com os fluidos que as transmitem de um lugar para outro, com intensidade variável. Pode conservar certas partes em um estado de tensão contínua e outras partes em um estado de contínuo movimento. Se a apertássemos de um lado, uma tensão e uma carga aumentadas apareceriam imediatamente em outra parte. Se nos esforçássemos realmente por manter uma pressão constante sobre a superfície toda, i.e., impedindo-a de expandir-se apesar da contínua produção interior de energia, ficaria eia um perpétuo estado de angústia; quer dizer que se sentiria constrangida e limitada. Se pudesse falar, pediria que a livrássemos dessa situação torturante. A bexiga não se importaria com o que lhe acontecesse, contanto que o movimento e a mudança fossem reintroduzidos no seu estado comprimido e rígido. Como não poderia efetuar essa mudança por sua própria iniciativa, alguém teria de fazê-lo, por exemplo girando-a no espaço (ginástica); amassando-a (massagem); furando-a, se necessário (fantasia de estar sendo aberta com furos); machucando-a (fantasia masoquista de apanhar, Haraquiri); e, se nada mais ajudasse, dissolvendo-a, destruindo-a, desintegrando-a (Nirvana, morte sacrificial) . Uma sociedade formada de semelhantes bexigas criaria as filosofias mais idealísticas a respeito do "estado de ausência de sofrimento". Como qualquer extensão em direção ao prazer ou motivada pelo prazer poderia ser sentida somente como dolorosa, a bexiga desenvolveria um medo à excitação agradável (angústia de prazer) e criaria teorias sobre a "maldade", a "propensão para o pecado" e a "ação destrutiva" do prazer. Em suma, seria um asceta do século vinte. Conseqüentemente, teria medo de qualquer ideia de possibilidade da tão ardentemente desejada relaxação; e então odiaria semelhante ideia e finalmente perseguiria e mataria qualquer um que falasse a respeito. Juntar-se-ia a outros seres igualmente constituídos, peculiarmente rígidos, e traçariam rígidas normas de vida. Essas normas teriam a função única de garantir a menor produção possível de energia interior, i.e., de garantir a tranqüilidade, a resignação, e a continuidade das reações habituais. Faria quaisquer tentativas inadequadas para dominar os excedentes de energia interior que não pudessem ser utilizados através do prazer natural ou do movimento. Por exemplo, criaria insensatas ações sádicas ou cerimônias de natureza essencialmente automática e de pequena finalidade (comportamento religioso compulsivo). As metas realistas se desenvolvem por si mesmas e, portanto, obrigam ao movimento e ao desassossego aqueles que se movem em direção a elas.
Wilhelm Reich (The Function of the Orgasm (Discovery of the Orgone #1))
Percebeu então o que Liz lhe tinha dado, aquilo que teria de procurar readquirir se alguma vez regressasse a Inglaterra: era o interesse pelas pequenas coisas, a fé na vida comum, a simplicidade que fazia a pessoa esfarelar um pedaço de pão para dentro de uma saco de papel, ir até à praia e dá-lo às gaivotas. Era este respeito pelas coisas triviais que a ele nunca lhe fora permitido possuir;
John le Carré (The Spy Who Came In from the Cold (George Smiley, #3))
pode-se ser sensível para consigo mesmo. Tem-se consciência, por exemplo, de uma sensação de cansaço e depressão e, em vez de ceder a ela e sustentá-la por sentimentos deprimentes, que sempre estão à mão, indaga-se de si mesmo: “que aconteceu?” Por que estou deprimido'? O mesmo se faz notando-se quando se está irritado ou encolerizado, ou com tendência a sonhar acordado, ou a outras atividades de evasão. Em cada uma dessas situações, o importante é estar cônscio delas, e não racionalizá-las pelos mil e um modos por que isso pode ser feito; além do mais, estar aberto à nossa própria voz interior, que nos dirá — muitas vezes quase de imediato — porque estamos ansiosos, deprimidos, irritados. A pessoa comum tem sensibilidade com relação a seus processos corporais; nota mudanças, ou mesmo pequenas manifestações de dor; esta espécie de sensibilidade corporal é relativamente fácil de experimentar, porque a maioria das pessoas tem uma imagem do que é sentir-se bem. A mesma sensibilidade para com os próprios processos mentais é muito mais difícil, porque muitos nunca conheceram uma pessoa que funcionasse otimamente. Tomam como a norma o funcionamento psíquico de seus pais e parentes, ou do grupo social em que nasceram, e, enquanto não diferem deles, sentem-se normais e sem interesse em observar qualquer coisa. Muitas pessoas há, por exemplo, que nunca viram uma pessoa amorosa, ou uma pessoa de integridade, coragem ou concentração. É de todo evidente que, a fim de ser sensível a si mesmo, tem-se de possuir uma imagem de funcionamento humano completo, saudável — e como se adquire tal experiência, quando não foi ela tida na própria infância, ou mais tarde na vida? Por certo, não há resposta simples para esta pergunta; mas ela indica um dos mais críticos fatores de nosso sistema educacional. Enquanto ensinamos conhecimentos, estamos perdendo aquele ensinamento que é o mais importante para o desenvolvimento humano: o ensinamento que só pode ser dado pela simples presença de uma pessoa amadurecida e amorosa.
Erich Fromm (The Art of Loving)
Vem, Noite antiquíssima e idêntica, Noite Rainha nascida destronada, Noite igual por dentro ao silêncio. Noite Com as estrelas lantejoulas rápidas No teu vestido franjado de Infinito. Vem, vagamente, Vem, levemente, Vem sozinha, solene, com as mãos caídas Ao teu lado, vem E traz os montes longínquos para o pé das árvores próximas. Funde num campo teu todos os campos que vejo, Faze da montanha um bloco só do teu corpo, Apaga-lhe todas as diferenças que de longe vejo. Todas as estradas que a sobem, Todas as várias árvores que a fazem verde-escuro ao longe. Todas as casas brancas e com fumo entre as árvores, E deixa só uma luz e outra luz e mais outra, Na distância imprecisa e vagamente perturbadora. Na distância subitamente impossível de percorrer. Nossa Senhora Das coisas impossíveis que procuramos em vão, Dos sonhos que vêm ter connosco ao crepúsculo, à janela. Dos propósitos que nos acariciam Nos grandes terraços dos hotéis cosmopolitas Ao som europeu das músicas e das vozes longe e perto. E que doem por sabermos que nunca os realizaremos... Vem, e embala-nos, Vem e afaga-nos. Beija-nos silenciosamente na fronte, Tão levemente na fronte que não saibamos que nos beijam Senão por uma diferença na alma. E um vago soluço partindo melodiosamente Do antiquíssimo de nós Onde têm raiz todas essas árvores de maravilha Cujos frutos são os sonhos que afagamos e amamos Porque os sabemos fora de relação com o que há na vida. Vem soleníssima, Soleníssima e cheia De uma oculta vontade de soluçar, Talvez porque a alma é grande e a vida pequena. E todos os gestos não saem do nosso corpo E só alcançamos onde o nosso braço chega, E só vemos até onde chega o nosso olhar. Vem, dolorosa, Mater-Dolorosa das Angústias dos Tímidos, Turris-Eburnea das Tristezas dos Desprezados, Mão fresca sobre a testa em febre dos humildes. Sabor de água sobre os lábios secos dos Cansados. Vem, lá do fundo Do horizonte lívido, Vem e arranca-me Do solo de angústia e de inutilidade Onde vicejo. Apanha-me do meu solo, malmequer esquecido, Folha a folha lê em mim não sei que sina E desfolha-me para teu agrado, Para teu agrado silencioso e fresco. Uma folha de mim lança para o Norte, Onde estão as cidades de Hoje que eu tanto amei; Outra folha de mim lança para o Sul, Onde estão os mares que os Navegadores abriram; Outra folha minha atira ao Ocidente, Onde arde ao rubro tudo o que talvez seja o Futuro, Que eu sem conhecer adoro; E a outra, as outras, o resto de mim Atira ao Oriente, Ao Oriente donde vem tudo, o dia e a fé, Ao Oriente pomposo e fanático e quente, Ao Oriente excessivo que eu nunca verei, Ao Oriente budista, bramânico, sintoísta, Ao Oriente que tudo o que nós não temos. Que tudo o que nós não somos, Ao Oriente onde — quem sabe? — Cristo talvez ainda hoje viva, Onde Deus talvez exista realmente e mandando tudo... Vem sobre os mares, Sobre os mares maiores, Sobre os mares sem horizontes precisos, Vem e passa a mão pelo dorso da fera, E acalma-o misteriosamente, Ó domadora hipnótica das coisas que se agitam muito! Vem, cuidadosa, Vem, maternal, Pé antepé enfermeira antiquíssima, que te sentaste À cabeceira dos deuses das fés já perdidas, E que viste nascer Jeová e Júpiter, E sorriste porque tudo te é falso e inútil. Vem, Noite silenciosa e extática, Vem envolver na noite manto branco O meu coração... Serenamente como uma brisa na tarde leve, Tranquilamente com um gesto materno afagando. Com as estrelas luzindo nas tuas mãos E a lua máscara misteriosa sobre a tua face. Todos os sons soam de outra maneira Quando tu vens. Quando tu entras baixam todas as vozes, Ninguém te vê entrar. Ninguém sabe quando entraste, Senão de repente, vendo que tudo se recolhe, Que tudo perde as arestas e as cores, E que no alto céu ainda claramente azul Já crescente nítido, ou círculo branco, ou mera luz nova que vem, A lua começa a ser real.
Fernando Pessoa (Poemas de Álvaro de Campos (Obra Poética IV))
Isso é uma decisão que só tu podes tomar, pequena. Vais deixar que as decisões de outros te definam ou vais tomar as rédeas da tua vida e tecer outra história?
Tânia Dias (Promessas de Sonhos)
A segunda explicação para a decadência era política e religiosa. De todas as nações da Europa, Portugal continuaria sendo, no começo do século XIX, a mais católica, a mais conservadora e a mais avessa às ideias libertárias que produziam revoluções e transformações em outros países. A força da Igreja era enorme. Cerca de 300 mil portugueses — ou 10% da população total do país — pertenciam a ordens religiosas ou permaneciam de alguma forma dependentes das instituições monásticas. Só em Lisboa, uma cidade relativamente pequena, com 200 mil habitantes, havia 180 monastérios. Praticamente todos os edifícios mais vistosos do país eram igrejas ou conventos.[51] Por três séculos, a Igreja havia mantido submissos o povo, seus nobres e reis. Por escrúpulos religiosos, a ciência e a medicina eram atrasadas ou pouco conhecidas. Dom José, herdeiro do trono e irmão mais velho do príncipe regente, dom João, havia morrido de varíola porque sua mãe, dona Maria I, tinha proibido os médicos de lhe aplicar vacina. O motivo? Religioso. A rainha achava que a decisão entre a vida e a morte estava nas mãos de Deus e que não cabia à ciência interferir nesse processo.
Laurentino Gomes (1808: Como uma Rainha Louca, um Príncipe Medroso e uma Corte Corrupta Enganaram Napoleão e Mudaram a História de Portugal e do Brasil)
Quando cheguei aqui, comecei a ler o material produzido pelos conservadores e percebi que eles representavam uma cultura muito mais vigorosa e superior que a dos progressistas. Em todos os debates, o que se vê são os conservadores levando uma grande vantagem. E logo percebi que havia uma competição entre uma superioridade intelectual e cultural contra uma superioridade, por assim dizer, administrativa e financeira. O livro The New Leviathan, de David Horowitz,[ 276 ] mostra que a proporção de dinheiro coletado pelo Partido Democrata e pela esquerda é muitas vezes maior do que as verbas das organizações de direita. A diferença é tão enorme que se torna quase incompreensível o equilíbrio dos resultados eleitorais, que sempre apresenta diferenças pequenas entre vencedores e perdedores. Então, como essa direita conservadora, com pouco dinheiro, consegue competir com esse monstro subsidiado por Rockefellers, George Soros e tutti quanti? A resposta está no seu próprio vigor intelectual incessante, que é caudaloso. Essa cultura não pára de produzir idéias, levantar debates, publicar livros, etc. Por fim, acabei vendo que essa América, que do Brasil parecia um bando de caipiras, é o centro da vida intelectual americana. O resto é apenas produção de uma ideologia já gasta e de um discurso que já foi desmoralizado.
Olavo de Carvalho (O Jardim das Aflições: De Epicuro à Ressurreição de César: ensaio sobre o Materialismo e a Religião Civil)
— Claro que existem coisas que desafiam a física e matemática e não tem explicação. Antigamente ninguém conseguia explicar vários fenômenos que ocorriam em grandezas tão pequenas quanto a quântica. A física clássica simplesmente falhava em explicar fenômenos tão pequenos e rápidos. Então veio a física quântica, que tem leis muito diferentes do que a gente havia entendido até aquele momento como universais. A física quântica não serviu para substituir ou falar contra a clássica, simplesmente a complementava em um universo que nós não conhecíamos ou vivíamos. Como a luz pode ser onda e partícula simultaneamente? Como o elétron ao redor do núcleo está em vários lugares num mesmo instante? Nós não estamos na escala de grandeza desses eventos, e não evoluímos para entendê-los, pois não vivemos nele, não seria útil nosso cérebro e órgãos sensoriais compreendê-los porque é uma realidade completamente diferente. A quântica explicou isso, e ao desvendarmos a quântica, descobrimos eventos que ocorriam no nosso cotidiano e não tínhamos ideia de que ela era responsável. Até hoje, em qualquer livro de física ou química, as constantes mais precisas que existem são as da física quântica, é a ciência mais exata depois da matemática. Percebe onde quero chegar? Há algumas décadas era a quântica: a ciência de eventos sem explicação que se dá no minúsculo. E se daqui um tempo descobríssemos uma nova física, não para negar as anteriores, mas para explicar tudo aquilo que ainda duvidamos, a física das grandezas gigantes, grandes demais para nossa percepção. Em vez de nanômetros e microssegundos, uma ciência em que a escala de medida é de anos-luz e éons. Nós não evoluímos para compreender eventos em escalas tão gigantes e lentas. deus é grande. Se por um lado, coisas pequenas têm suas próprias regras, por que não o contrário? Talvez deus exista aí, não num outro universo, mas num nível superior ao nosso, temos microscópios eletrônicos para ver os níveis inferiores ao nosso, mas enquanto aos superiores? Talvez quando desenvolvermos tais aparelhos podemos ter uma noção da grande imagem, do que acontece fora da caixa e como ele se manifesta no nosso dia a dia sem que tenhamos a mínima ideia. Aí veremos que as coisas podem não ser tão casuais e aleatórias assim, talvez haja algum significado na vida e no universo, algum objetivo para o qual caminhamos e fazemos parte, um destino e significado para nossa vida. Assim como a matemática e razão são mais exatos no mundo quântico que no nosso próprio mundo em que há sempre erros nas medições clássicas, talvez no mundo superior ao nosso, a matemática nem tenha significado, tudo seja abstrato e talvez os valores nem sejam números. Aí, nesse momento, a fé seria tão ciência quanto qualquer outra e deus poderia ser provado.
M. J. Azenha (Super Trash: O viajante do tempo de 10 minutos.)
Tenho medo dos desejos, mas é claro que não os respeito, mesmo que eu saiba o quanto podem ser fortes: em vez de dobrá-los, de domá-los com essa firmeza não natural, por que não parei para ouvi-los? Eu deveria ter percebido que essa febre de ascetismo, não muito diferente da impetuosidade a que se opõe, se voltaria contra mim. Não é fácil aprender a moderação: creio ser mesmo impossível, pelo menos enquanto eu olhar para ela com esta camada a mais de moralismo, esta mania de conferir um sentido aos mínimos gestos. Quis me impor uma postura austera, mas toda alheia, falsa. Não é verdade que me entusiasma fazer uma sopa, não é verdade que me basta uma maçã. Eu só queria me deixar absorver pelas pequenas coisas: mas o problema é outro. Em pé na frente de um armário semivazio, que se assemelha apenas ao meu lado mais severo – bani as cores, pois não me pareciam necessárias –, percebo estar diante de um bom problema: ao me concentrar em mim mesma, obcecada em aproveitar todo o meu arrebatamento, esqueci a amizade. Não posso pensar só no prazer: nem para tentar torná-lo demasiado sofisticado e essencial (com resultados que depois, como aconteceu comigo, desaparecem), nem para usá-lo como refúgio. Por nos enrodilharmos no interior de nossa vida secreta, a fim de nos consolar e nos proteger do mundo, acabamos nos transformando em pequenos caracóis confinados em suas conchas. Acendemos velas e luzinhas, buscamos serenidade ou minimalismos, abrimos a boca para palavras nórdicas intraduzíveis como hygge, concentramo-nos na simplicidade de pequenos prazeres idiossincráticos e indescritíveis – o primeiro gole de cerveja gelada. Mas, por favor, só o primeiro – porque, no fim das contas, duvidamos do prazer. Mas é tão chato, depois de um tempo, viver enfurnado nos próprios sentimentos!
Ilaria Gaspari (Lezioni di felicità: Esercizi filosofici per il buon uso della vita)
Nora sempre teve dificuldade em se aceitar como era. Desde pequena, tinha a sensação de que não era boa o suficiente. Seus pais, que carregavam ambos as próprias inseguranças, haviam alimentado essa sua percepção. Ela ficou imaginando agora com seria se aceitar incondicionalmente. Cada erro que havia cometido na vida. Cada marca em seu corpo. Cada sonho não realizado ou cada dor sentida. Cada desejo ou anseio reprimido. Ela imaginou como seria aceitar tudo. Da mesma forma como aceitava a natureza. Do mesmo jeito que aceitava uma geleira ou um papagaio-do-mar ou o salto de uma baleia. Ela imaginou se vendo como apenas mais uma genial aberração da natureza. Como um animal senciente qualquer. E, ao fazer isso, ela imaginou como era ser livre.
Matt Haig (The Midnight Library)
Em algum momento, todos nós enfrentaremos uma fase sombria na vida. Se não a morte de um ser amado, alguma coisa que aniquile nossa energia e nos faça duvidar do futuro. Nesse momento sombrio, mergulhe fundo dentro de si mesmo e dê o seu melhor.
William H. McRaven (Arrume a sua cama: Pequenas coisas que podem mudar a sua vida... E talvez o mundo (Portuguese Edition))
eu não sabia onde ele morava, como era a sua vida longe dali, se existia mesmo uma vida ou se o relógio simplesmente pingava as suas gotas de petróleo
Aline Bei (Pequena coreografia do adeus)
As pessoas argumentarão: "Mas se reencarnação é verdade, por que não me lembro de quem eu era? Por que não me lembro das minhas vidas passadas?" Lama Anagarika Govinda, mestre tibetano, responde: "A maioria das pessoas não se lembra de seus nascimentos, e ainda assim elas não duvidam que nasceram recentemente. Elas esquecem que a memória ativa é apenas uma pequena parte da nossa consciência normal, e que nossa memória subconsciente registra e preserva cada impressão e experiência passada, que nossa 'mente desperta' falha em lembrar." Carl Jung, em seu trabalho psicológico, continuou lutando com essa questão da memória subconsciente. Ele a chamou de "o inconsciente coletivo", que era uma maneira pela qual um ocidental poderia abordar a ideia da reencarnação, de informações que vem de fora desta vida.
Ram Dass (Paths to God: Living the Bhagavad Gita)
Já era altura de enfrentar novamente a sua pequena grande família, empilhada nos seus dois cubículos, compartilhando uma minúscula casa de banho. Era tempo de regressar novamente à vida do abrigo. Durante algum tempo. «E depois», disse de si para si, enquanto caminhava sozinho ao longo do corredor da clínica até à rampa que levava ao seu piso, ao seu piso de residência, «soarão as trombetas ― e ― desta vez erguer-se-ão não os mortos e sim os enganados. E sua carne não será incorruptível, é triste reconhecê-lo, mas altamente mortais, elimináveis. E ademais, os mortos ficarão loucos.»
Philip K. Dick (The Penultimate Truth)
Cerro os olhos e sei de novo que toda esta gente morreu. Mas o que mais me perturba é pensar que o rasto dessa gente está suspenso de mim. Porque eu tenho ainda uma pequena notícia da sua vida, o eco apagado do que foi a massa complexa do seu ser e sentir. Tia Dulce contou-me. E foi como se ela própria se dobrasse à piedade por essa gente desaparecida e quisesse que alguma coisa perdurasse. Mas de muitos retratos já nada sei. São esses que eu fito com mais angústia.
Vergílio Ferreira (Aparição)
O Joker tinha-se efetivamente tornado um rei e vivia numa casa dourada no céu. Os cidadãos procuravam clichés e faziam por recordar que ainda havia pássaros nas árvores e o céu não tinha desabado e ainda era, muitas vezes, azul. A cidade continuava de pé. E no rádio e nas aplicações de música que soavam nos auscultadores Bluetooth dos jovens descuidados, a vida continuava. Os Yankees continuavam a estar preocupados com a sua rotação de lançamento, os Mets continuavam a fazer fraca figura e os knicks continuavam a estar condenados pela maldição de serem os knicks. A Internet continuava cheia de mentiras e o negócio da verdade estava falido. Os melhores tinham perdido toda a convicção e os piores estavam repletos de uma intensidade apaixonada e a fraqueza dos justos era revelada pela ira dos injustos. Mas a República conservava-se mais ou menos intacta. Permitam-me que o deixe aqui expresso, porque era uma afirmação muitas vezes feita para consolar aqueles de nós que não eram fáceis de consolar. De certo modo é uma ficção, mas eu repito-a. Sei que depois da tempestade vinha outra tempestade, e outra ainda. Sei que o mau tempo vai estar nas previsões meteorológicas para sempre e que os dias felizes não estão de volta e que a intolerância é o que está na moda e o sistema está na realidade viciado, mas não como o palhaço maligno nos tentou fazer crer. Às vezes os maus ganham, e que se faz quando o mundo em que se acredita se revela uma lua de papel e surge um planeta escuro que diz “Não. O mundo sou eu.” Como vivemos no seio dos nossos compatriotas quando não sabemos quais deles se contam entre os mais de sessenta milhões que puseram o horror no poder, quando não podemos distinguir quem figura entre os noventa milhões que encolheram os ombros e ficaram em casa, ou quando os nossos concidadãos nos dizem que saber coisas é elitista e detestam as elites, e tudo aquilo que sempre tivemos é a nossa mente e fomos criados na crença do encanto do conhecimento, não aquele disparate do conhecimento-é-poder, mas sim o conhecimento é beleza, e depois tudo isso, a educação, a arte, a música, os filmes, se torna uma razão para ser abominado, e a criatura surgida do Spiritus Mundi se ergue e avança indolentemente em direção a Washington, DC, para nascer. O que fiz foi recolher-me à vida privada- agarrar-me à vida como a conhecera, ao seu quotidiano e à sua força, e insistir na capacidade do universo moral dos Jardins de sobreviver até ao mais feroz dos ataques. E agora, por conseguinte, deixem a minha história ter os seus momentos derradeiros, no meio do macrolixo que possa haver à volta de lerem isto, seja a manufactrovérsia, qualquer que seja o horror ou a estupidez ou fealdade ou vergonha. Deixem-me convidar o gigantesco rei do cabelo verde de banda desenhada vitorioso, com os seus direitos cinematográficos de um bilião de dólares, a sentar-se no banco traseiro e deixar que sejam as pessoas reais a conduzir o autocarro. As nossas pequenas vidas são talvez a única coisa que logramos compreender...
Salman Rushdie (The Golden House)
Na mesa, uma estação telefônica cibernética, um computador ligado à nuvem de prazos e agendas, e por todo lado fotos de paisagens que ela só vê no seu único mês de vida por ano. Nessa pequena jaula de conforto, Virginia baixa os olhos e se automatiza. Se tivesse possibilidade, ou coragem ou mais ímpeto, Virginia teria sido fotógrafa, ou veterinária ou psicóloga. [...] Por ora, o que importa mesmo é falar da viagem, do único mês do ano em que Virginia se põe viva. Os outros onze meses equivalem à austeridade de Itaquera.
Paula Fábrio (Um Dia Toparei Comigo)
A longo prazo, terminar uma maratona nos deixa mais felizes do que comer um bolo de chocolate. Criar um filho nos deixa mais felizes do que ganhar uma partida de videogame. Abrir uma pequena empresa com amigos e vencer dificuldades financeiras nos deixa mais felizes do que comprar um computador novo. São atividades estressantes, árduas e muitas vezes desagradáveis, além de trazer consigo inúmeros problemas, mas, ao mesmo tempo, são as que nos proporcionam os momentos mais marcantes e constituem nossas maiores alegrias. Atividades como essas envolvem dor, cansaço, raiva e até desespero — mas, depois de concluídas, olhamos para trás emocionados. É o que contaremos aos nossos netos. É como Freud disse: “Um dia, quando olhar para trás, os anos de luta lhe parecerão os mais bonitos.” Isso explica por que não devemos pautar nossa existência em valores escrotos — prazer, sucesso material, estar sempre certo e otimismo implacável. Alguns dos melhores momentos da vida não são prazerosos, não são grandiosos, não são reconhecidos e não são positivos.
Mark Manson (A sutil arte de ligar o f*da-se: Uma estratégia inusitada para uma vida melhor (Portuguese Edition))
À medida que perspectiva do mundo se amplia, não diminui apenas a dor que ela causa, mas também o significado que tem. Compreender o mundo exige que se mantenha uma certa distância dele. Ampliamos coisas que são demasiado pequenas para serem vistas a olho nu, como moléculas e átomos. Reduzimos coisas que são demasiados grandes, como nuvens, deltas de rios e constelações. Só fixamos o mundo quando o temos ao alcance dos nossos sentidos. A essa fixação chamamos conhecimento. Durante a nossa infância e juventude lutamos para manter a distância correta das coisas e dos fenómenos. Lemos aprendemos, experimentamos, corrigimos. Então, um dia, chegamos ao ponto em que todas as distâncias necessárias foram determinadas, todos os sistemas necessários foram estabelecidos. É aí que o tempo começa a acelerar. Já não encontra qualquer obstáculo, está tudo determinado, o tempo passa rapidamente pelas nossas vidas, os dias sucedem-se num piscar de olhos, e , antes que nos apercebamos do que está a acontecer, temos quarenta, cinquenta, sessenta anos... O sentido requer conteúdo, o conteúdo requer tempo, o tempo requer resistência. O conhecimento é distância, o conhecimento é estagnação e inimigo do sentido.
Karl Ove Knausgård (Min kamp 1 (Min kamp, #1))
Mover-se é viver, dizer-se é sobreviver. Não há nada real na vida que o não seja porque se descreveu bem. Os críticos da casa pequena soem apontar que tal poema, longamente ritmado, não quer, afinal, dizer senão que o dia está bom. Mas dizer que o dia está bom é difícil, e o dia bom, ele mesmo, passa. Tems pois que conservar o dia bomem uma memória florida e prolixa, e assim constelar de novas flores ou de novos astros os campos ou os céus da exterioridade vazia e passageira.
Fernando Pessoa (Livro do Desasocego - Tomo I e II (Edição Crítica das Obras de Fernando Pessoa, #12))
Em casa de pobre até os tempos emagrece. Sei por mim que comcei a envelhecer antes de ser criança. Mandaram-me calar ainda eu não falava. Mandaram-me varrer e eu tinha mãos apenas para brincar. Vantagem de uma vida que não começa: chegar-se ao fim sem precisar morrer.
Mia Couto (as pequenas doencas da eternidade)