Um Caso Perdido Quotes

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... Eu me desnudo emocionalmente quando confesso minha carência – que estarei perdido sem você, que não sou necessariamente a pessoa independente que tentei aparentar. Na verdade, não passo de um fraco, cuja noção dos rumos ou do significado da vida é muito restrita. Quando choro e lhe conto coisas que, confio, serão mantidas em segredo, coisas que me levarão à destruição, caso terceiros tomem conhecimento delas, quando vou a festas e não me entrego ao jogo da sedução porque reconheço que só você me interessa, estou me privando de uma ilusão há muito acalentada de invulnerabilidade. Me torno indefeso e confiante como a pessoa no truque circense, presa a uma prancha sobre a qual um atirador de facas exercita sua perícia e as lâminas que eu mesmo forneci passam a poucos centímetros da minha pele. Eu permito que você assista a minha humilhação, insegurança e tropeços. Exponho minha falta de amor-próprio, me tornando, dessa forma, incapaz de convencer você (seria realmente necessário?) a mudar de atitude. Sou fraco quando exibo meu rosto apavorado na madrugada, ansioso ante a existência, esquecido das filosofias otimistas e entusiasmadas que recitei durante o jantar. Aprendi a aceitar o enorme risco de que, embora eu não seja uma pessoa atraente e confiante, embora você tenha a seu dispor um catálogo vasto de meus medos e fobias, você pode, mesmo assim, me amar...
Alain de Botton (The Romantic Movement: Sex, Shopping, and the Novel)
No meu caso também foi assim. Tive um grande amor e perdi-o. Não teria sido um grande amor se o não tivesse perdido.
José Eduardo Agualusa (As Mulheres do Meu Pai)
Meu caro amigo, não demos pretexto para nos julgarem, por pouco que seja! Caso contrário, eles nos deixam em pedaços. Somos obrigados às mesmas precauções que o domador. Se ele tem a infelicidade, antes de entrar na jaula, de cortar-se com a navalha, que banquete para as feras! Compreendi isso num relance, no dia em que me ocorreu a suspeita de que, talvez, eu não fosse tão digno de admiração. A partir de então, passei a ser desconfiado. Já que sangrava um pouco, estava totalmente perdido: iriam devorar-me.
Albert Camus (The Fall)
Diga ao seu patrão que estão aqui umas pessoas que vêm saber o que é que ele faz, já caíram as primeiras águas, é tempo de semear, e tendo a criada ido saber a resposta ficamos à porta, que a nós não nos mandam entrar e nisto volta a criada de mau modo, oxalá não seja esta a Amélia Mau-Tempo de quem neste relato se falou, e diz, O patrão manda dizer que não têm nada com isso, a terra é dele, e se tornam a aparecer cá manda chamar a guarda, mal acaba de dizer fecha-nos a porta na cara, nem a malteses isto se faria porque de malteses e navalha escondida têm estes medo que se pelam. Não vale a pena perguntar mais, Gilberto não semeia, Norberto não semeia, e se algum de outro nome semeia é por ainda temer que venham aí as tropas a perguntar, Então que é lá isso, mas há outras maneiras de matar estas moscas, fazer de conta, mostrar sorrisos e aparências de boa vontade, ora essa, com certeza, e proceder ao contrário, afiar a intriga, ao dinheiro do banco levanta-se e manda-se para o estrangeiro, não falta aí quem disso se encarregue em troca duma comissão razoável, ou então dispõem-se uns esconderijos no automóvel, a fronteira fecha os olhos, coitados, iam lá perder tempo a rastejar debaixo do carro, não são nenhuns garotos, ou a desmontar os guarda-lamas, são funcionários merecedores, têm de manter a farda limpa, e assim vão cinco mil contos, ou dez ou vinte, ou as joias da família, as pratas e os ouros, o que quiser, não faça cerimónia. Brutos conformados foram aqueles trabalhadores que vendo o olival carregado de azeitona, negra e madurinha, a luzir, como se já o azeite estivesse escorrendo, foram apanhá-la de caso pensado e discutido, como é, como faremos, tiraram a jorna que lhes competia segundo os salários da época e foram entregar o resto ao patrão, Quem é que lhes deu licença, foi pena não passar por lá o guarda, levavam um tiro para aprenderem a não se meter onde não são chamados, Patrão, o olival estava em condições de se apanhar, esperar mais tempo era perder-se tudo, está aí a azeitona que sobejou do nosso salário, mais essa é do que aquela que tirámos para nós, as contas são boas de fazer, Mas eu não dei autorização nem daria se ma pedissem, Tomámo-la nós. Foi um caso, sinal de mudança nos ventos, porém como se havia de salvar o fruto da terra se Adalberto mandou passar com as máquinas por cima da seara, se Angilberto lançou searas ao gado, se Ansberto puxou fogo ao trigo, tanto pão perdido, tanta fome agravada.
José Saramago (Levantado del suelo)
A perda de um objeto amoroso constitui-se uma experiência ímpar para o exame da ambivalência, pois, em cada relação, amor e ódio estão entrelaçados. Existe, em conseqüência disso, uma fantasia de perda do parceiro ou parceira, e essa fantasia é responsável por um grau maior ou menor de culpa. No caso do neurótico obsessivo, por exemplo, o conflito produzido pela ambivalência confere ao luto um cunho patológico. O obsessivo pode culpar-se pela perda porque, em algum nível, a desejou. O luto assim se reveste de um fator de complexidade, um elemento complicador, o chamado luto patológico. Mas o luto patológico, mesmo extremo e complicado, difere enormemente da condição melancólica. Por mais difícil que seja, o sujeito está lidando com algo que, na realidade, perdeu. No caso da melancolia, sempre tendo como referência a divisão do eu, Freud observa que o mecanismo de identificação narcisista faz desencadear o ódio contra si mesmo e, paralelamente, uma satisfação secundária com o próprio sofrimento. Dito de outra maneira, tanto na neurose obsessiva quanto na melancolia, a instância crítica, depois nomeada supereu, reveste-se de particular crueldade, esmagando o eu sob a pressão da culpa e encontrando, nesse movimento, algum tipo de satisfação. O automartírio implica algo da ordem do gozo, aqui entendido como uma parcela de satisfação, ainda que paradoxal, no sofrimento. Mas na melancolia, como já referimos, uma parte do eu se contrapõe à outra, toma-a como objeto, julga-a, confere uma sentença e desenvolve a convicção de que é merecedora de alguma espécie de castigo. A identificação melancólica ou narcisista, uma forma regredida de identificação, implica condições em que o eu é modificado, devorado pelo objeto, restando empobrecido. Como conseqüência ocorre, então, segundo Freud (1917), “uma identificação do eu com o objeto perdido” (p. 246). Na mesma linha de pensamento, Freud enfatiza, na divisão do eu, uma clivagem dolorosa, a inserção do sadismo e, com base nesse mecanismo, propõe uma explicação para o suicídio melancólico que detalharemos adiante. O eu só pode se condenar à morte se puder tratar a si mesmo como um objeto, um objeto a quem seria dirigido forte contingente de ódio e hostilidade. O melancólico é sustentado pela paixão do ódio.
Sandra Edler (Luto e Melancolia - À sombra do espetáculo)
A perda de objetos muito amados lança o sujeito na condição de sofrimento. Mas, por outro lado, o homem reluta e chega mesmo a se opor à idéia de afastar-se de um objeto amado que perdeu. Isso quer dizer que a elaboração do luto dá trabalho, implica um gasto energético significativo, consome tempo, e, durante esse tempo, a existência do objeto perdido é prolongada no psiquismo. O desligamento se dá paulatinamente. Freud observa que “uma a uma das lembranças e expectativas pelas quais a libido se ligava ao objeto são focalizadas e superinvestidas e nelas se realiza o desligamento da libido” (p. 243). Podemos facilmente observar, na prática, tal afirmativa. Basta visitarmos alguém que acaba de perder um ente querido. Invariavelmente percebemos que a conversa gira em torno do tema da morte, das circunstâncias em que ocorreu, das últimas palavras do falecido. E isso não ocorre apenas em caso de perda por morte. Ao ouvir uma jovem que foi deixada por um namorado ou demitida de um emprego que julgasse importante, observamos igual relutância em voltar-se para outro assunto. Isso se deve ao prolongamento, no psiquismo, do pensamento voltado ao que foi perdido. Freud situou o luto, a condição de perda de alguém ou de algo muito importante para o eu, como um modelo — o modelo do trabalho psíquico diante da elaboração de uma perda. Podemos perder de várias maneiras: a morte — perda absoluta, a separação, a desistência, o desaparecimento, o exílio. Além disso, as perdas não se referem apenas a pessoas. Podemos perder determinadas posições sociais e profissionais, bens, patrimônio. Perder faz parte da vida, mas a maneira como cada um reage às perdas difere enormemente.
Sandra Edler (Luto e Melancolia - À sombra do espetáculo)
A hostilidade dirigida ao objeto trouxe uma possibilidade de compreensão dos poderosos mecanismos envolvidos no suicídio como ato-limite. Tal hostilidade se volta ao próprio eu do sujeito numa espécie de confusão entre ele e o objeto. Como resultado dessa ação sádica, temos o ato suicida, a destruição do eu pela identificação inconsciente com o objeto. O eu trata a si mesmo como trataria o objeto do seu amor ambivalente. Freud conclui esse pensamento definindo três mecanismos encontrados na melancolia: a regressão da libido em direção ao eu, a perda do objeto e a ambivalência. Detalhes da identificação narcisista e o estudo mais elaborado da ação superegóica, desenvolvidos adiante, fornecem, paulatinamente, elementos para a compreensão desse quadro extremo. A observação clínica de Freud caminhava à frente, impulsionando a pesquisa teórica, apresentando questões, exigindo uma formulação mais ampla que pudesse dar conta das inúmeras interrogações e desafios gerados pelo contato com os pacientes. O ato suicida é um deles. O eu seria a grande reserva narcísica, um vasto campo de forças bem expresso no medo mobilizado diante de uma ameaça à vida. Como, então, compreender uma situação ou contexto no qual o eu consente em sua própria destruição? Freud chegará à formulação de que, na regressão narcisista, o objeto se revela mais poderoso que o próprio eu. Em situações opostas, na paixão intensa e na situação de suicídio, o eu é dominado, subjugado, pelo objeto, embora de maneiras totalmente distintas. No caso do suicídio, de ampla complexidade, Freud irá formular a idéia de que o sadismo dirigido ao objeto se volta contra o eu, que, sob a ação do supereu, tenta direcioná-lo à auto-extinção. Os estudos sobre essa questão prosseguem em textos posteriores, O eu e o isso (1923) e O problema econômico do masoquismo (1924). A questão da ação do objeto, tão nítida na melancolia, inspirou Freud numa poética expressão que ganhou notoriedade e é sempre citada nos muitos trabalhos sobre o tema: “a sombra do objeto caiu sobre o eu” (1917, p. 246) — o que ilustra, por sua vez, o ponto de articulação entre a melancolia e o narcisismo. Diferentemente do luto, a libido investida no objeto perdido retorna ao eu e lá estabelece a identificação do eu com o objeto perdido.
Sandra Edler (Luto e Melancolia - À sombra do espetáculo)