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os livros, através das histórias e da ficção, podem ser uma forma de recuperarmos algum espaço.
Quando eu tinha 11 anos, sem amigos e com dificuldades de integração na escola, li Os Marginais, Tempos de Juventude e Tex, todos de S. E. Hinton, e subitamente voltei a ter amigos. Os livros que a autora escrevera eram meus amigos. As personagens que ela criara eram minhas amigas. E eram amigos a sério, pois ajudaram-me, tal como, noutras alturas, fui ajudado pelos meus amigos Ursinho Pooh, Scout Finch, Pip ou pela Cécile, de Bonjour Tristesse. As histórias em que eles habitavam eram lugares onde eu me podia esconder e sentir--me em segurança.
Os mundos da ficção são essenciais neste planeta que pode tornar-se excessivo, neste planeta em que estamos a ficar sem espaço mental. Esses mundos podem funcionar como um escape à realidade, sim, mas não como escapatória à verdade. É precisamente o contrário. Eu costumava ter dificuldades em integrar-me no mundo “real”. Os códigos que tínhamos de seguir. As mentiras que tínhamos de dizer. Os risos que tínhamos de fingir. Mas eu não sentia que a ficção fosse uma fuga a essas verdades; era uma espécie de porta de entrada nessa realidade. Mesmo que a verdade do livro estivesse repleta de monstros ou ursos falantes, o certo é que havia ali sempre algum tipo de verdade. Uma verdade capaz de manter a nossa sanidade ou, pelo menos, de nos manter na nossa pele.
No meu caso, ler nunca foi uma atividade antissocial. Bem pelo contrário, era profundamente social. Ficar intimamente ligado à imaginação de outro ser humano era o tipo de socialização mais profunda que podia existir. Ler era uma forma de me ligar a algo, sem necessidade de passar pelos inúmeros filtros que, geralmente, a sociedade impõe.
Muitas vezes, dá-se importância à leitura devido ao valor social. A leitura está associada à educação, à economia, e por aí fora. Mas isso é passar ao lado do verdadeiro sentido da leitura.
Ler não é importante por nos ajudar a arranjar um emprego. É importante por nos dar um espaço em que podemos existir para lá da nossa vida real. É a forma de os seres humanos se juntarem. De as mentes se ligarem umas às outras. É a forma dos sonhos, da empatia, da compreensão, do escape.
A leitura é amor em ação.
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