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NĂŁo Ă© que as pessoas já nĂŁo acreditem nela [publicidade] ou a tenham aceitado como rotina. É que, se ela fascinava por este poder de simplificação de todas as linguagens, este poder Ă©-lhe hoje subtraĂdo por um outro tipo de linguagem ainda mais simplificado e, logo, mais operacional: as linguagens informáticas. O modelo de sequĂŞncia, de banda sonora e de banda-imagem que a publicidade nos oferece, a par com os outros grandes media, o modelo de perequação combinatĂłria de todos os discursos que ela propõe, este contĂnuum ainda retĂłrico de sons, de signos, de sinais, de slogans que ela domina como ambiente total, está largamente ultrapassado, justamente na sua função de estĂmulo, pela banda magnĂ©tica, pelo continuum electrĂłnico que está a perfilar-se no horizonte deste fim de sĂ©culo. O microprocesso, a digitalidade, as linguagens cibernĂ©ticas vĂŁo muito mais longe no mesmo sentido da simplificação absoluta dos processos do que a publicidade fazia ao seu humilde nĂvel, ainda imaginário e espectacular. E Ă© porque estes sistemas vĂŁo mais longe, que polarizam hoje o fascĂnio outrora concedido Ă publicidade. E a informação, no sentido informático do termo, que porá fim, que já põe fim, ao reino da publicidade. É isto que assusta e Ă© isto que apaixona. A «paixĂŁo» publicitária deslocou-se para os computadores e para a miniaturização informática da vida quotidiana. A ilustração antecipadora desta transformação era o papoula de K. Ph. Dick, este implante publicitário transistorizado, espĂ©cie de ventosa emissora, de parasita electrĂłnico que se fixa ao corpo e de que este tem muita dificuldade em libertar-se. Mas o papoula Ă© ainda uma forma intermediária: Ă© já uma espĂ©cie de prĂłtese incorporada, mas recita ainda mensagens publicitárias. Um hĂbrido, pois, mas prefiguração das redes psicotrĂłpicas e informáticas de pilotagem automática dos indivĂduos, ao lado do qual o «condicionamento» publicitário parece uma deliciosa peripĂ©cia.
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