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Nesta terra abençoada onde a charrua do progresso só há quatro séculos começou a rotear, todos têm o seu quinhão na distribuição dos bens; ainda a esfinge da miséria e do infortúnio sem nome não atirou aos ângulos do espaço um enigma desolado que faz aborrecer a vida e blasfemar de Deus. Ninguém morre de fome. Os frutos prendem das árvores seculares, a maniva rebenta por mil estolhos do terreno inculto, os campos pejam-se de armentio sem conta. Parecem dizer: "Pássaros do céu, habitantes das florestas e das campinas, vinde, isto tudo é vosso". O colono deixa a pátria, e das praias ultramarinas vem faminto, sequioso, desesperado ao éden do Colombo, à luz de um sol que alenta e não mata. A Europa é o Prometeu mítico, em cujas vísceras o bico de um abutre trabalha sem cessar: a comuna que há de arrojá-la moribunda às portas do futuro. Às vezes, o homem aqui mesmo arranca um grito de angústia, rola na degradação de sua própria entidade... Por quê? Porque herdamos com uma civilização estranha, importada diariamente, seus vícios orgânicos.
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