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Dia desses estava brincando com o filho de uma amiga. Não me recordo qual foi a brincadeira que fiz, mas lembro que ele, de um jeito sério e firme, me repreendeu. "Tia, eu não gosto dessa brincadeira". Foi desconfortável escutar isso. Ver um serzinho de um metro te falando que você não pode fazer algo é estranho, sobretudo dentro dessa nossa percepção de que adulto manda, criança obedece. Identifiquei a raiz do meu desconforto e sorri. "Isso mesmo" Quando alguém fizer algo que você não gosta, fale!". Ele retribuiu o sorriso, sugeriu outra brincadeira e seguimos, com a mesma leveza que estávamos brincando, mas agora eu sabia o limite até onde poderia ir. E, principalmente, ele sabia que o seu "Não" deveria ser respeitado.
Não sei dizer quantas crianças já foram abusadas sexualmente. Quantas e quantas foram indevidamente tocadas pelos adultos próximos e que não disseram "não" porque sequer sabiam que tinham esse direito.
A gente vive nessa loucura de que tem que ensinar a criança a respeitar os outros, a obedecer, e esquece que, tão importante quanto isso, é ensinar que merecem respeito. Que podem e devem dizer NÃO.
E toda vez que desrespeitamos esse direito inalienável, lhes ensinamos que a sua voz não merece ser ouvida, que seu corpo não merece ser respeitado, que seus limites não deveriam existir. Salvo situações extremas - o que não inclui orgulho ferido - o não deve sim ser atendido. E, nas exceções, mesmo que não atendido, deve ser acolhido e valorizado.
Portanto, inclua, ali, ao lado do "por favor", "obrigada", "bom dia", "boa tarde" e "boa noite", o magnífico e essencial "NÃO!
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