Novo Livro Quotes

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Afundava a cara nos livros e se perdia em histórias. Quando levantava a cabeça achava tudo muito horrível, e sumia de novo, dentro de um livro qualquer.
Martha Batalha (A Vida Invisível de Eurídice Gusmão)
Desejava uma verdadeira livraria tal como um viciado deseja uma dose. Não havia mesmo nada melhor do que aquele maravilhoso cheiro a livros novos, tocar nas capas e folhear um livro, cujas páginas, se calhar, nunca tinham sido folheadas. (...) Há pessoas obececadas e apaixonadas por sapatos. Os sapatos eram bonitos, mas não se podia ficar a noite toda acordade a ler um par, pois não?
Jill Mansell (An Offer You Can't Refuse)
Há-de vir um Natal e será o primeiro em que se veja à mesa o meu lugar vazio Há-de vir um Natal e será o primeiro em que hão-de me lembrar de modo menos nítido Há-de vir um Natal e será o primeiro em que só uma voz me evoque a sós consigo Há-de vir um Natal e será o primeiro em que não viva já ninguém meu conhecido Há-de vir um Natal e será o primeiro em que nem vivo esteja um verso deste livro Há-de vir um Natal e será o primeiro em que terei de novo o Nada a sós comigo Há-de vir um Natal e será o primeiro em que nem o Natal terá qualquer sentido Há-de vir um Natal e será o primeiro em que o Nada retome a cor do Infinito
David Mourão-Ferreira (Cancioneiro de Natal)
Lembro-me de outro, um rapaz novo em estado terminal : se nos aproximávamos tirava um pente do bolso do pijama e compunha o cabelo. (…) Se lhe dissesse isto não acreditava: desde quando um camponês é melhor que um doutor? Tínhamos a mesma idade, mais coisa menos coisa. A diferença é que você era um homem e eu um palerma de bata. Não tenho bata há muito.
António Lobo Antunes (Quarto Livro de Crónicas)
As personagens são como vampiros, cravam os caninos na nossa jugular e quando amanhece, voltam aos seus sepulcros até que anoiteça de novo. O fim do livro seria a pedra que ponho sobre esses visitantes. Definitivamente? Não. Um dia, de repente, com outro nome e outras feições e em outro tempo volta mascarada a mesma personagem, elas gostam da vida. Como nós.
Lygia Fagundes Telles
— Se você se depara com um livro fácil de ler, significa que é tudo coisa que você já sabe — continuou ele. — É por isso que é fácil. Se você acha difícil, é prova de que é algo novo.
Sōsuke Natsukawa (The Cat Who Saved Books (The Cat Who..., #1))
[...] pensamos que o tempo “passa”, que flui por nós, mas e se formos nós que nos movemos para a frente, do passado para o futuro, sempre descobrindo o novo? Seria um pouco como ler um livro, entende? O livro está todo ali, todo de uma vez, entre as capas. Mas se você quer ler a história e entendê-la, deve começar na primeira página e avançar, sempre na ordem. Então o universo seria um grande livro, e nós, leitores muito pequenos.
Ursula K. Le Guin (The Dispossessed: An Ambiguous Utopia)
Por que lê tanto ? (...) - Olhe-me e diga o que vê. O rapaz olhou-o com suspeita - Isto é algum truque ? Vejo você. Tyrion Lannister Tyrion suspirou. - Você é notavelmente gentil para um bastardo, Snow. O que vê é um anão. Você tem o que ? Doze anos ? - Catorze - disse o rapaz. - Catorze, e é mais alto que alguma vez serei. Minhas pernas são curtas e tortas, e caminho com dificuldade. Necessito de uma sela especial para não cair do cavalo. Uma cela de minha própria concepção, talvez te interesse saber. Era isso ou montar um pônei. Meus braços são suficientemente fortes mas, uma vez mais, demasiado curtos. Nunca serei um espadachim. Se tivesse nascido camponês, provavelmente me teriam me expulsado para que morresse, ou vendido para a coleção de aberrações de algum negociante de escravos. Mas, ai de mim ! Nasci um Lannister de Rochedo Casterly, e as coleções de aberrações são das mais pobres. Esperam-se coisas de mim. Meu pai foi mão do rei durante vinte anos. Aconteceu que, mais tarde, meu irmão matou esse mesmo rei, mas minha vida está cheia dessas pequenas ironias. Minha irmã casou-se com o novo rei e o meu repugnante sobrinho será rei depois dele. Devo cumprir minha parte pela honra da minha casa, não concorda ? Mas como ? Bem, poderei ter as pernas pequenas demais para o corpo, mas minha cabeça é grande demais, embora eu prefira pensar que tem o tamanho certo para minha mente. Possuo um entendimento realista das minha forças e fraquezas. A mente é minha arma. Meu irmão tem a sua espada, O Rei Robert, o seu martelo de guerra, e eu tenho a minha mente... e uma mente necessita de livros da mesma forma que uma espada necessita de uma pedra de amolar se quisermos que se mantenha afiada - Tyrion deu uma palmada na capa de coura do livro - É por isso que leio tanto, Jon Snow.
George R.R. Martin (A Game of Thrones (A Song of Ice and Fire, #1))
Eu certamente não conseguiria — naquele momento da minha vida — lidar com outro grande peso, o ‘problema do negro’. A questão sexual e moral era difícil de trabalhar. Eu não teria como tratar das duas no mesmo livro. Não havia espaço para isso”, disse ele. Sua editora norte-americana, a Knopf, porém, queria outro romance sobre a vida no Harlem. Disseram a Baldwin que ele era um “escritor negro” e que tinha um público específico. “Então eles me falaram: ‘Você não pode se dar ao luxo de desagradar a esse público. Esse novo livro vai destruir a sua carreira, porque você não está escrevendo sobre as mesmas coisas e da mesma maneira que antes, e não vamos publicá-lo para lhe fazer um favor’.
James Baldwin (Giovanni’s Room)
Toda a gente sabe que os livros devoram espaço sem qualquer piedade.E não existe defesa possível.Ocupam primeiro as paredes, e depois continuam a espalhar-se por onde conseguirem. Apenas o tecto fica poupado. Chegam sempre uns novos, enquanto o dono não tem coração para se livrar de nenhum dos velhos. E assim, devagar, sem dar nas vistas,volumes de livros empurram tudo à sua frente. Como glaciares.
Zoran Živković (Biblioteket)
Serenado um pouco, abriu o livro e retomou a leitura. Esqueceu-se de si próprio por completo e bem podia então dizer que morrera. Sonhava no outro, ou melhor, o outro era um sonho que nele se sonhava, uma criatura da sua infinita solidão. Até que despertou com uma terrível pontada no peito. A personagem do livro acabara de lhe dizer de novo: «Devo repetir ao leitor que comigo morrerá.». E desta vez o efeito foi espantoso. O trágico leitor perdeu o conhecimento naquele seu leito de sofrimento espiritual; deixou de sonhar no outro e deixou de sonhar-se a si mesmo. E quando voltou a si, lançou fora o livro, apagou a luz e procurou adormecer, deixar de sonhar. Impossível! De quando em quando tinha de levantar-se para beber água; ocorreu-lhe que bebia no Sena, no espelho. «Estarei louco? - repetia -. Certamente que não, porque quando uma pessoa se pergunta se está louca é porque não está...». Levantou-se, pegou-lhe o fogo na lareira e queimou o livro, voltando em seguida a deitar-se. E conseguiu finalmente adormecer.
Miguel de Unamuno (Cómo se hace una novela)
A avaliação inicial feita por Connell a respeito da leitura não foi refutada. Era cultura como representação de classe, literatura fetichizada por sua capacidade de levar pessoas instruídas em falsas jornadas emocionais para que depois se sintam superiores a pessoas sem instrução cujas jornadas emocionais gostaram de ler. Ainda que o escritor fosse uma boa pessoa, e embora seu livro fosse realmente perspicaz, todos os livros eram, no final das contas, vendidos como símbolos de status, e todos os escritores participavam em alguma medida desse marketing. Supunha-se que era assim que a indústria ganhava dinheiro. A literatura, como aparecia nessas leituras públicas, não tinha potencial como forma de resistência nem nada disso. Porém, Connell foi para casa naquela noite e releu algumas anotações que andava fazendo para um novo conto, e sentiu a velha batida de prazer dentro do corpo, como assistir a um gol perfeito, como o movimento rumorejante da luz através das folhagens, um fraseado musical da janela de um carro que passa. A vida propicia esses momentos de alegria, apesar de tudo.
Sally Rooney (Normal People)
Com alguma dificuldade - eu estava absorvida por outros assuntos - fui cordial com Franco, me entretive todas as noites conversando com ele até tarde da noite. Apreciei que, em vez de me falar de política, tenha preferido contar mais a si mesmo que a mim como tínhamos estado bem juntos: nossos passeios em pisa na primavera, o mau cheiro do Lungarno, as vezes em que me confidenciara fatos de sua infância, dos pais, dos avós, que nunca havia dito a ninguém. Gostei sobretudo que tenha me deixado falar de minhas ansiedades, do novo contrato que tinha assinado com a editora, portanto da necessidade de escrever um novo livro, do possível retorno a Nápoles, de Nino. Nunca recorreu a generalizações ou a floreios de palavras. Ao contrário, foi direto, quase vulgar. Se você se preocupa mais com ele do que com você - me falou certa noite em que estava como aturdido -, deve aceitá-lo do jeito que é: com mulher, filhos, essa tendência permanente a trepar com outras mulheres, as canalhices de que é e de que será capaz. Lena, Lenuccia - murmurou com afeto, balançando a cabeça. E então riu, se levantou da poltrona, disse obscuramente que na opinião dele, o amor só acabava quando era possível voltar a si mesmo sem temor ou desgosto, e saiu da sala arrastando o passo, como se quisesse assegurar-se da materialidade do pavimento.
Elena Ferrante (The Story of the Lost Child (Neapolitan Novels, #4))
Está com medo?” Não de morrer, pensa. Mas um pouco desta etapa. Todos os dias, resta um pouco menos de mim. Hoje sou pensamentos sem palavras. Amanhã, serei um corpo sem pensamentos. E assim por diante. Mas, Maya, você está aqui agora, então estou feliz de estar aqui. Mesmo sem livros e palavras. Mesmo sem a minha mente. Como posso dizer isso, porra? Como sequer começar? Maya o encara e agora começa a chorar também. “Maya”, ele diz, “há apenas uma palavra que importa”. Ele olha para ver se ela entendeu. A testa está franzida. Ele percebe que não foi compreendido. Bosta. A maioria das coisas que fala não faz mais sentido. Se quer ser entendido, é melhor se limitar a frases de uma palavra só. Mas algumas coisas precisam de mais de uma palavra para ser entendidas. Vai tentar de novo. Nunca vai deixar de tentar. “Maya, somos o que amamos. Somos aquilo que amamos.
Gabrielle Zevin (The Storied Life of A.J. Fikry)
O mesmo acontece quando alguma cruel cilada do acaso impede o nosso inteligente e piedoso afeto de acorrer a tempo para ocultar a nossos olhares o que jamais devem contemplar, quando aquele é ultrapassado por estes, que, chegando primeiro e entregues a si mesmos, funcionam mecanicamente, à maneira de uma película, e nos mostram, em vez da criatura amada que já não existe desde muito, mas cuja morte o nosso afeto jamais quisera que nos fosse revelada, a nova criatura que cem vezes por dia ele revestia de uma querida e enganosa aparência. E como um enfermo que a si mesmo não via desde muito tempo, e que, compondo, a cada instante, o rosto, que ele não vê, segundo a imagem ideal que forma de si mesmo em pensamento, recua ao avistar no espelho, em meio de um rosto árido e deserto, a proeminência oblíqua e rósea de um nariz gigantesco como uma pirâmide do Egito, eu, para quem minha avó era ainda eu próprio, eu que jamais a vira a não ser em minh’alma, sempre no mesmo ponto do passado, através da transparência de recordações contíguas e superpostas, de súbito, em nosso salão que fazia parte de um mundo novo, o do tempo, o mundo em que vivem os estranhos de quem se diz “como envelheceu!”, eis que pela primeira vez e tão só por um instante, pois ela desapareceu logo, avistei no canapé, congestionada, pesada e vulgar, doente, cismando, a passear acima de um livro uns olhos, um olhar um pouco extraviado, a uma velha consumida que eu não conhecia.
Marcel Proust (The Guermantes Way)
Mover-se é viver, dizer-se é sobreviver. Não há nada real na vida que o não seja porque se descreveu bem. Os críticos da casa pequena soem apontar que tal poema, longamente ritmado, não quer, afinal, dizer senão que o dia está bom. Mas dizer que o dia está bom é difícil, e o dia bom, ele mesmo, passa. Tems pois que conservar o dia bomem uma memória florida e prolixa, e assim constelar de novas flores ou de novos astros os campos ou os céus da exterioridade vazia e passageira.
Fernando Pessoa (Livro do Desasocego - Tomo I e II (Edição Crítica das Obras de Fernando Pessoa, #12))
Já estava acostumado aos amputados, às vitimas do agente laranja, aos famintos, pobres, garotos de rua de seis anos de idade que você encontra às três da madrugada gritando "Feliz ano novo! Olá! Bye-Bye!" em inglês, e depois aponta para suas bocas e faz "bum bum?". Estou ficando quase indiferente aos garotos famintos, sem pernas, sem braços, cobertos de cicatrizes, desesperançados, dormindo no chão, em triciclos, na beirada do rio. Mas não estava preparado para o homem sem camisa, com um corte de cabelo a la forma de pudim, que me detém na saída do mercado, estendendo a mão. No passado ele sofreu queimaduras e tornou-se uma figura humana quase irreconhecível, a pele transformada numa imensa cicatriz sob a coroa de cabelos pretos. Da cintura para cima (e sabe Deus até onde), a pele é uma cicatriz só; ele não tem lábios, nem nariz, nem sobrancelha. Suas orelhas são como betume, como se tivesse mergulhado e moldado num alto-forno, sendo retirado pouco antes de derreter por completo. Mexe seus dentes como uma abóbora de Halloween, mas não emite um único som através do que foi um dia, uma boca. Sinto um murro no estômago. Minha animação exuberante dos dias e horas anteriores desmorona. Fico paralisado, piscando e pensando na palavra napalm, que oprime cada batida do meu coração. De repente nada mais é divertido. Sinto vergonha. Como pude vir até esta cidade, até este país por razões tão fúteis, cheio de entusiasmo por algo tão...sem sentido, como sabores, texturas, culinária? A famíla daquele homem deve ter sido pulverizada, ele mesmo transformado num boneco desgraçado, como um modelo de cera de madame Tussaud, a pele escorrendo como vela pingando. O que estou fazendo aqui? Escrevendo um livro de merda? Sobre comida? Fazendo um programinha leve e inútil de tevê, um showzinho de bosta? A ficha caiu de uma vez e fiquei me desprezando, odiando o que faço e o fato de estar ali. Imobilizado, piscando nervosamente e suando frio, sinto que todo mundo na rua está me observando, que irradio culpa e desconforto, que qualquer passante vai associar os ferimentos daquele homem a mim e ao meu país. Dou uma espiada nos outros turistas ocidentais que vagueiam por ali com suas bermudas da Banana Republic e suas camisas pólo da Land´s End, suas confortáveis sandálias Weejun e Bierkenstock, e sinto um desejo irracional de assassiná-los. Parecem malignos, comedores de carniça. O Zippo com a inscrição pesa no meu bolso, deixou de ser engraçado, virou uma coisa tão pouco divertida quanto a cabeça encolhida de um amigo morto. Tudo o que comer terá gosto de cinzas daqui pra frente. Fodam-se os livros. Foda-se a televisão. Nem mesmo consigo dar algum dinheiro ao coitado. Tenho as mãos trêmulas, estou inutilizado, tomado pela paranoia, Volto correndo ao quarto refrigerado do New World Hotel, me enrosco na cama ainda desfeita, fico olhando para o teto com os olhos cheios de lágrimas, incapaz de digerir ou entender o que presenciei e impotente para fazer qualquer coisa a respeito. Não saio nem como nada pelas 24 horas seguintes. A equipe de tevê acha que estou tendo um colapso nervoso. Saigon...Ainda em Saigon. O que vim fazer no Vietnã?
Anthony Bourdain (A Cook's Tour: Global Adventures in Extreme Cuisines)
Cada novo livro é uma viagem. Só que é uma viagem de olhos vendados em mares nunca dantes revelados – a mordaça nos olhos, o terror da escuridão é total.
Clarice Lispector (Um Sopro de Vida)
Os puritanos pensavam que o futuro da igreja repousava num clero distinguido... por um novo fervor, um equipamento intelectual superior, um poder de comunicar... O principal propósito do novo clérigo era comunicar zelo aos leigos, tornando-os capazes de unirem-se para selecionar seus próprios ministros, examinar suas próprias vidas espirituais, dirigir orações em família, ler livros santos e tomar parte na administração eclesiástica.[
Leland Ryken (Santos no mundo: os puritanos como realmente eram (Portuguese Edition))
— Então — começou a Sra. Elm, encarando Nora. — O que você está sentindo agora? — Como se ainda quisesse morrer. Faz tempo que venho querendo morrer. Já concluí por A mais B que minha dor de viver como a porra do desastre que eu sou é maior do que a dor que qualquer pessoa sentiria se eu morresse. Tenho certeza que seria um alívio, na verdade. Não tenho utilidade para ninguém. Eu sou péssima no trabalho. Deixei todo mundo na mão. Sou um desperdício de pegada de carbono, honestamente. Eu magoo as pessoas. Não tenho mais ninguém. Nem meu pobre e velho Volts, que morreu porque não consegui cuidar de um fato direito. Eu quero morrer. Minha vida é um desastre. Eu quero que acabe. Não fui feita para viver. E não faz o menor sentido eu passar por tudo isso. Porque é óbvio que meu destino é ser infeliz em outras vidas também. Essa sou eu. Não agrego nada. Estou chafurdando em autopiedade. Eu preciso da morte. A Sra. Elm estudou Nora com atenção, como se estivesse lendo um trecho de um livro que já havia lido antes, mas descoberto agora que contia um novo significado. — Precisar — disse ela, num tom de voz comedido — é uma palavra interessante. Implica estar carente de algo. Às vezes, se suprimos essa carência com outra coisa, a sensação original de precisar de algo desaparece completamente. Talvez seu problema seja a carência de alguma coisa e não você estar precisando de algo. Talvez exista uma vida que você precise muito viver.
Matt Haig (The Midnight Library)
A escuta é uma experiência diferente de se meramente ouvir. Não é uma recepção passiva do que o outro diz, muito menos a aceitação incondicional do que o outro quer dizer. Escutar é a arte de suspender nosso exercício de poder sobre o outro e sobre nós mesmos. Como abordei no livro que escrevi com o palhaço Cláudio Thebas, escutar implica passar por quatro estações: 1. Abrir-se em hospitalidade para a língua e da estrangeiridade de outrem. 2. Mergulhar em um exercício investigativo e curioso sobre as causas do sofrimento do outro. 3. Colocar-se no lugar do outro até o ponto em que o Outro que o habita convoca nossa loucura mais íntima. 4. Formular, a partir dessa loucura, um novo fragmento compartilhado de saber, por meio do qual a conversa continua e retorna à primeira de nossas quatro estações, mas agora em uma língua, uma cultura e uma relação diferente da primeira.
Christian Dunker (A arte de amar (Portuguese Edition))
No filme, The Matrix, Neo finalmente encontra o criador da Matrix. Neo era “o escolhido”, e teria de definir quem vivia e quem morreria. Ele deveria aceitar a morte de todos, em nome de reiniciar a Matrix. O criador o colocou na condição de que ele decidiria o futuro de todos, em nome de uma causa maior, que seria reiniciar a Matrix rumo a uma Matrix. Similar fábula de Noé, o criador queria limpar a Matrix do fato de que deu errado de novo, e ele já havia feito isso antes, e dera errado também. O criador, decepcionado com sua criação, já havia destruído antes a Matrix. A Matrix era uma mentira contada aos habitantes. Eles vivem felizes, enquanto as máquinas os usavam como bateria humana. Neo, diferente dos outros, fez uma escolha diferente: ele voltou, não fugiu que nem Noé, covarde. Noé juntou algumas peças de animais e sua família, e ficou caladinho.
Jorge Guerra Pires (Seria a Bíblia um livro científico?: Por que a Bíblia Sagrada não deve ser levada a sério e como argumentar contra ela (Inteligência Artificial, Democracia, e Pensamento Crítico) (Portuguese Edition))
LXII Após o livro de Luís António Verney, “ O verdadeiro método de estudar ”, Se tornar famoso em toda a grei, E o novo rei no trono se fixar…, Escolheu mui sabiamente o rei Um diplomata para governar, Valor ímpar, na sua época sem igual, Conhecido ficou Marquês de Pombal!
José Braz Pereira da Cruz (Esta é a Ditosa Pátria Minha Amada)
Este lugar é um mistério,Daniel,um santuário.Cada volume que vês,tem alma.A alma de quem o escreveu e a alma dos que o leram e viveram e sonharam com ele.Cada vez que um livro muda de mãos,cada vez que alguém desliza o olhar pelas suas páginas,o seu espírito cresce e torna-se mais forte.Há já muitos anos,quando o meu pai me trouxe pela primeira vez aqui,este lugar já era velho.Talvez tão velho como a própria cidade.Ninguém sabe de ciência certa desde quando existe,ou quem o criou. Dir-te-ei o que o meu pai me disse a mim.Quando uma biblioteca desaparece,quando uma livraria fecha as suas portas,quando um livro se perde no esquecimento,os que conhecemos este lugar,os guardiães, asseguramo-nos de que chegue aqui.Neste lugar,os livros de que já ninguém se lembra, os livros que se perderam no tempo,vivem para sempre,esperando chegar um dia ás mãos de um novo leitor,de um novo espírito.Na loja nós vendemo-los e compramo-los, mas na realidade os livros não têm dono.Cada livro que aqui vês foi o melhor amigo de alguém.Agora só nos têm a nós,Daniel.
Carlos Ruiz Zafón (The Shadow of the Wind (The Cemetery of Forgotten Books, #1))
Não me entendo. Alegro-me de ver Rodrigo a pisar chão seguro, mas entristeço-me de não o ter por companhia. Tristeza absurda de quem passou meia vida sem nada dizer e sem nada que lhe dissessem. Concedi-me alguns vícios - o tabaco, o tragozito de aguardente, até o odor do rio. Serão as pessoas o meu novo vício? Calma, Urbino, agrada-te do teu tabaco, dos sorvos de aguardente, das vistas do rio, dos livros que te quebram a solidão. Deixa a gente para outras gentes. Ou não, talvez me evada da melancolia desta jornada. Mudamos como mudam os dias. Amanhã, hoje já foi ontem.
Mário Zambujal (Cafuné)
Joana Ofélia sorria: —Não ligue, é feitio dela. —Não ligo. Só ligo à cor dos seus olhos, que ainda não consegui descobrir qual é. —Verdes. Os meus olhos são verdes — dizia Joana Ofélia. —Depende. —De muitas coisas — respondia Pedro Ruiz. — Da luz do dia. Da cortina a balançar na janela. Das palavras que disser. Das palavras que imaginar. Dos sonhos que tiver. Uma tarde estava Joana Ofélia a olhar pela janela, perguntou Pedro Ruiz: — É por essa janela que costuma voar? Joana Ofélia sorriu. — Qualquer janela serve. Foi Demétria quem me ensinou. Basta olharmos através dos vidros, e somos mais livres do que pássaros. As pessoas podem continuar a ver-nos, mas só nós sabemos que há muito que ali não estamos, que voámos com as aves, com o vento, com a poeira da estrada, com a água da chuva. —Palavras sábias lhe ensina Demétria — murmurou Pedro Ruiz, mudando de novo a cor dos seus olhos. («Verdes, definitivamente verdes.») —Demétria diz que o meu coração só sabe gostar de palavras... — continuou Joana Ofélia. Pedro Ruiz mudou de tinta, mudou de pincéis, olhou várias vezes para o rosto que tinha na sua frente. —...que o meu coração está fechado para as pessoas.. Uma brisa ligeira fazia dançar a cortina de renda. No parapeito da janela, bagas da erva-das-sete-sangrias secavam há muito, num velho boião de vidro. —Um dia — disse Pedro Ruiz, quase num sopro de voz — alguém vai chegar para a levar daqui, porque é esse o destino das pessoas. —...que o meu coração não nasceu para ser ligado, e que tudo está no 'Livro de São Cipriano'... Eram dois murmúrios na tarde a cair, duas estradas paralelas para lá da janela, duas sombras na parede da sala. —E há de procurar a cor certa dos seus olhos... (azuis, definitivamente azuis) —... e não há-de encontrá-la, nem aos seus olhos. Porque os seus olhos nasceram com asas, e os olhos que nascem com asas ninguém consegue aprisionar. —...e que um dia hão-de ir à minha procura e eu já terei voado. —Não têm poiso certo, não pertencem a ninguém. Pedro Ruiz estremeceu de repente. Como se acordasse. —Gosto das suas palavras. Lembram as palavras de Demétria — disse Joana Ofélia. —Eu não estava a dizer nada — murmurou Pedro Ruiz — Procurava apenas o tom certo dos seus olhos. —Verde. —Vioeta. Definitivamente violeta.
Alice Vieira (Se Perguntarem Por Mim Digam Que Voei)
Este lugar é um mistério.Um santuário.Todos os livros,todos os volumes que vês à tua frente,têm alma.A alma de quem os escreveu,a alma daqueles que os leram e viveram e sonharam com eles. De cada vez que um livro muda de mãos,de cada vez que alguém desliza o olhar pela suas páginas,o seu espírito cresce e torna-se mais forte.Neste lugar,os livros de quem já ninguém se lembra,os livros que ficaram perdidos no tempo,vivem para sempre,á espera de chegar às mãos de um novo leitor,de um novo espírito...
Carlos Ruiz Zafón (El juego del ángel (El cementerio de los libros olvidados, #2))
Ele sabia que não era como nos livros, mas sabia que todos os dias se escrevem livros novos
J.P. Simões (O Vírus da Vida)
Não importa quantos livros você escreva, cada novo projeto é sempre uma luta.
Ben Oliveira (Escrita Maldita)
Hoje estava capaz de me ir embora: pegar nas chaves do carro sem motivo nenhum (as chaves estão sempre no prato da entrada) descer as escadas (não descer pelo elevador, descer as escadas) até à garagem da cave, ver o fecho elétrico abrir-se com dois estalos e dois sinais de luzes, ver a porta automática subir devagarinho e, logo na rua, acelerar o mais depressa possível, queimando semáforos, na direção da auto-estrada, sem ligar aos painéis que indicam as cidades e a distância em quilómetros, sem uma ideia na cabeça, sem destino, sem mais nada para além desta pressa de me ir embora, colocar entre mim e mim o maior espaço possível, esquecer-me do meu nome, dos nomes dos meus amigos, da minha família, do livro que não acabo de escrever e me angustia. Parar num desses restaurantes à beira das portagens e comer sozinho, sem olhar para ninguém, sem ver ninguém nem sequer aquelas crianças que correm aos gritos entre as mesas e acelerar de novo, vazio, segurando o volante tal como, em pequeno, segurava o guiador da bicicleta enquanto o meu pai, correndo ao meu lado, me ensinava a pedalar.
António Lobo Antunes (Segundo livro de Crónicas)
Este livro é o relato de um desespero. Este mundo é dado ao homem como um enigma a resolver. Toda minha vida – seus momentos bizarros, desregrados, tanto quanto minhas pesadas meditações – se passou a resolver o enigma. Cheguei, efetivamente, à resolução de problemas cujas novidade e extensão me exaltaram. Adentrando regiões insuspeitadas, vi o que olho nenhum jamais vira. Nada mais embriagante: o riso e a razão, o horror e a luz tornados penetráveis... nada havia que eu não soubesse, que não fosse acessível à minha febre. Como uma insensata maravilhosa, a morte abria incessantemente ou fechava as portas do possível. Nesse dédalo, podia me perder à vontade, entregar-me ao arrebatamento, mas à vontade podia discernir os caminhos, preparar à marcha intelectual uma passagem precisa. A análise do riso abrira-me um campo de coincidências entre os dados de um conhecimento emocional comum e rigoroso e os do conhecimento discursivo. Os conteúdos, que se perdem uns nos outros, das diversas formas de dispêndio (riso, heroísmo, êxtase, sacrifício, poesia, erotismo ou outras) definiam por si próprios uma lei de comunicação que regulava os jogos do isolamento e da perda dos seres. A possibilidade de unir num ponto preciso duas sortes de conhecimento até aqui estranhas uma à outra ou confundidas grosseiramente dava a essa ontologia sua consistência inesperada: o movimento do pensar se perdia por inteiro, mas por inteiro se reencontrava, num ponto onde ri a multidão unânime. Isso me proporcionava um sentimento de triunfo: talvez ilegítimo, prematuro?...parece-me que não. Senti logo o que me acontecia como um peso. O que abalou meus nervos foi ter completado minha tarefa: minha ignorância incidia apenas sobre pontos insignificantes, mais nenhum enigma a resolver! Tudo desabava! Despertei diante de um novo enigma, e este, soube logo, insolúvel: esse enigma era mesmo tão amargo, deixou-me numa impotência tão acabrunhada que eu o experimentei como Deus, se existe, o experimentaria. Quase concluída, abandonei a obra em que devia se encontrar o enigma resolvido. Escrevi “O suplício”, em que o homem atinge o extremo do possível.
Georges Bataille (Inner Experience)
Debaixo da mesa onde fixava o olhar, Helena reparou que algo se mexia, algo pequeno. Apercebeu-se de que era a forma de um cão, igual à do beagle que vira lá fora, agora com o que parecia ser uma linha vermelha a contorná-lo. O cão aproximou-se da senhora que continuava a ler. Parecia que mais ninguém reparava nele. O pai acabara de limpar a mesa e tinha saído da sala. A mulher não tirava os olhos do livro. Naquele momento, o beagle estava já suficientemente perto das pernas dela para conseguir mordê-la. Helena sentiu o impulso de a avisar e levantou-se, mas não foi a tempo de falar. Ficou petrificada enquanto via o que estava a acontecer. O cão tinha chegado perto da mulher, mas não a mordeu. Como se já estivesse nos seus planos desde que saíra de baixo da mesa do fundo, lambeu-lhe demoradamente a perna. Depois, ainda com a língua colada à perna da senhora, a forma de beagle começou a dissipar-se, a tornar-se numa sombra sem forma, e a crescer.
Madalena Feliciano Santos (Sangue Novo: Uma Antologia)
Não há livro como a Bíblia para abrir um mundo novo ao aluno e fazer com que ele, sem conhecimento, venha a amar o conhecimento.
Leo Tolstoy
A exegese contemplativa não é algo novo. Ela é o tipo de exegese que foi praticada durante a maior parte da vida da igreja. Isso significa que o remédio para a nossa vergonha exegética não é a inovação, mas a recuperação. A recuperação da exegese contemplativa não significa abandonar um único item atual de fato exegético ou visão. Tendo, como temos, a responsabilidade de proclamar e ensinar o texto da Escritura, somos obrigados a saber o máximo possível sobre ele, em todos os aspectos: gramatical, teológico, histórico. O pastor exegeticamente descuidado deveria ser processado, se houvesse uma maneira de fazê-lo, com a mesma diligência e os mesmos fundamentos usados para o cirurgião que utiliza um bisturi contaminado. A exegese contemplativa não ignora ou denigre a exegese técnica — é diligente quanto a ela. Todavia, como Melville dizia aos EUA mais de cem anos atrás, técnica não é cura; informação não é conhecimento. Há algo vivo num corpo, num livro.
Eugene H. Peterson (O Pastor segundo Deus: a integridade pastoral vista por vários ângulos)
Chegando a São Paulo, morando em uma pensão, na mesa que me deram mal cabia a máquina de escrever. E eu sonhava com uma escrivaninha. Ao me mudar para um novo apartamento, em São Paulo, comprei uma escrivaninha gigantesca. Sob medida, fixa na parede, com espaço para dois computadores, muitos livros, muitas gavetas. E toda vez que eu sento nela sou invadido por uma felicidade profunda. Porque eu me lembro dos muitos momentos em que quis uma escrivaninha só minha e não tinha. Então dessa falta brotou uma felicidade que eu sinto ausente em alguns milionários que conheço. Porque nunca sentiram falta nem da escrivaninha.
Leandro Karnal (Felicidade: Modos de Usar)
Irá o Mundo Moderno até ao fundo desse declive fatal ou, como aconteceu na decadência do mundo greco-romano, uma nova recuperação se produzirá ainda desta vez, antes que ele atinja o fundo do abismo para onde foi arrastado? Parece que uma paragem a meio do caminho já não será possível e que, segundo todas as indicações fornecidas pelas doutrinas tradicionais, entramos realmente na fase final de “Kali-Yuga”, no período mais sombrio desta “Idade Sombria”, neste estado de dissolução do qual não é mais possível sair senão por um cataclismo, porque não é já necessária apenas uma simples recuperação, mas antes uma renovação total. A desordem e a confusão reinam em todos os domínios; foram levadas a tal ponto, que ultrapassam de longe tudo o que se tinha visto anteriormente e, partindo do Ocidente, ameaçam agora invadir o Mundo inteiro. Sabemos bem que o seu triunfo nunca pode ser mais do que aparente e passageiro, mas um tal grau parece ser o sinal da mais grave de todas as crises que a Humanidade atravessou no decurso do seu ciclo atual. Não teremos nós chegado a essa época temível, anunciada pelos Livros sagrados da Índia, “em que as castas serão misturadas, em que a própria família não existirá”? Basta olharmos à nossa volta para nos convencermos que esse estado é realmente o do Mundo atual, e para verificar por toda a parte essa profunda queda que o Evangelho chama “a abominação da desolação”. Não devemos esconder a gravidade da situação; convém encará-la tal como ela é, sem nenhum “otimismo” mas também sem qualquer “pessimismo”, visto que, tal como eu disse anteriormente, o fim do Mundo antigo será igualmente o começo de um Mundo novo.
René Guénon, A Crise do Mundo Moderno
Achava sem muita dificuldade livros novos que me despertavam a vontade de ler. Eu não sabia, até então, que ler podia ser algo tão maravilhoso. Cheguei a pensar que tinha desperdiçado todos os anos pregressos sem ler.
Satoshi Yagisawa (Days at the Morisaki Bookshop (Days at the Morisaki Bookshop, #1))
- Toda a cópia, por melhor que seja o copista, gera erros no texto. Se voltar a ser copiado, esses erros são reproduzidos e acrescentam-se novos. E assim sucessivamente, imagine-se até onde pode ser alterado.
Luis Zueco (O Mercador de Livros)
- Mudamos de trajes e as guerras são outras, mas o homem é o mesmo. - Víctor deu um passo na direção do jardim. - Igualmente miserável ou sublime. Tanto faz que lute em Troia ou no Novo Mundo.
Luis Zueco (O Mercador de Livros)
Tinha o formato de um livro, mas por que Beau lhe daria um livro? Não que não chegasse em casa constantemente com livros novos para si mesma, mas Beau sabia que ela o fazia com tanta frequência, que ele não tinha ideia de que livros Izzy possuía de fato.
Jasmine Guillory (By the Book (Meant to Be, #2))
Os escribas se multiplicam pela terra, cada escriba faz o filho ser escriba, o qual escreva história de seu escriba pai: um escriba vê o outro e aprende a sê-lo também, ser escriba ou mestre de escribas ou guardião das escritas, ou herói das bibliotecas, gerente de engenhos de escritos, fazendo as sagradas escrituras. Quando o último escriba morrer, outro escriba ao lado pronto para tomar nota. Livro, já estiveste dentro de um sonho e te fiz despertar porque o sol é melhor que o sonho! Desconfio da dúvida, incorro numa certeza: zombo de esquecimento. Mostro e nego o monstro para o monstrengo: acredito no que não sei, três barrufos, três toques! Toco, tuco, tucum! Aconteceu-lhe ser. Haja. Que é que há? Falo tanto que minto algo: muito não está certo. Assisto, míope. Horizonte de cegos: quem tem muitos olhos, comparo aos cegos e às cegas, reis às vistas ou ao alcance de um óculos de ver longe. Cego não vê, não lê, não crê, não é? O escriba sonha com um herói cego? Pois haja cegos nessa Pérsia! Aconteceu-lhe um estado, golpe de graspa na couraça da carcassa. Ofereço o pensamento e só ouvem a voz? Tacanho tacuíno, canhenho alcuinho. Caí em mim e fiquei parado como caí, negando ecos e dizendo o contrário? Mim, quem? Sonho um pouco e já volto para a revanche. Caimcapim! Alminguém... O mundo esquece de nós quando dele nos esquecemos. Obedeço à distração: lembro do Lete, que só de me lembrar um olvido me crise. Dou um salto no claro. Errei. Sobrou uma? Uma vez só, e basta uma. O poeta fala do ciclope cego, cego falando de cegos: não precisa de rei. Rei é para mandar, apreciar, punir: lei, régua, cárcere. Cego não faz nada, portanto não erra, logo não é réu de nada. Báratro de cego, — cucas adentro, ver o fogo, apaga o fogo. Fogapagou, fugapogeu! Minotauroformou-se, cada um trate de ensimesmar-se, mesmo que seja cegovesgo! Vire para dentro a cara que forachove. A sengas arengas, parlongas flamingas: abismo na cabeça, jogo a cabeça no abismo, um hiato nos abismos, pelo prisma dos sofrismas, espicho a cabeça de lado, abismado. Lavo minhas mãos no sangue da vítima, chacoalhar o olho, chácolher de molho! Galope galego, peregringrenalda! Dá tempo ao tempo que atrasa até acabar. Cada um como cada qual vê qualquer como bem quer: por essas e por outras, fico com uma e outras. Os ídolos caem no pensamento, explodindo em adorações. A mãe do esquecimento deixa lembranças, assim veio a filha a fazer-se mãe de sua própria progenitora. Filósofo, louco de propósito; intérprete de verdades, setenciado por si mesmo, pregador contrário a si, mestre de ver, cego. O silêncio é bemaventurado, e ele o exalta falando demasiado? O arqueiro, cego: a flecha não tem pé nem cabeça. Cego, em silêncio, esquecido, esquece de tudo, emudece de surdo e enlouquece de novo. Silêncio, vaso ou vazio? De que lado do espelho estás? Sonho um eco.
Paulo Leminski (Catatau (Portuguese Edition))
Tocando em cavalo novo o crânio, Eis que aí encontrei um unicornio!
Ana Claudia Antunes (As Amazonas da Antiguidade à Idade Media (Memorias de uma Amazona Livro 1) (Portuguese Edition))
«Conversaciones con la vaca» Em Buenos Aires conheci um escritor argentino muito excêntrico que se chamava, ou chama, Omar Vignole. Ignoro se ainda vive. Era um homem grandote, sempre de grossa bengala na mão. Certo dia, num restaurante do centro, no qual me convidara para comer, já perto da mesa dirigiu-se a mim, com ar deferente, dizendo-me com um vozeirão que ecoou por toda a sala, repleta de fregueses: « Senta-te, Ornar Vignole!» Sentei-me com certo mal-estar e perguntei-lhe acto contínuo: «Porque me chamas Omar Vignole, ciente de que és tu Ornar Vignole e eu Pablo Neruda?» «Sim», respondeu-me, «mas neste restaurante há muitos que só me conhecem de nome e, corno vários deles querem dar-me uma tareia, eu prefiro que a dêem a ti.» Vignole fora agrónomo numa província argentina e trouxera de lá uma vaca com a qual mantinha amizade entranhada. Passeava por Buenos Aires inteira com a sua vaca presa a uma corda. Publicou então alguns livros, que tinham sempre títulos alusivos: Lo que piensa la vaca, Mi vaca y yo, etc., etc. Quando se reuniu pela primeira vez naquela cidade o congresso do Pen Club mundial, os escritores, presididos por Victoria Ocampo, tremiam ante a ideia de ver Vignole chegar ao congresso com a vaca. Explicaram às autoridades o perigo que os ameaçava e a polícia isolou as ruas em torno do Hotel Plaza a fim de evitar a entrada, no luxuoso recinto onde decorria o congresso, do meu excêntrico amigo com o ruminante. Tudo foi inútil. Quando a festa estava no auge e os escritores examinavam as relações entre o mundo clássico dos Gregos e o sentido moderno da história, o grande Vignole irrompeu na sala de conferências com a sua inseparável vaca, que para mais começou a mugir como se pretendesse tomar parte no debate. Trouxera-a até ao centro da cidade dentro de uma enorme furgoneta fechada que iludiu a vigilância policial. Dele contarei ainda que uma vez desafiou um lutador de catch as can. O profissional aceitou o desafio, e chegou a noite do encontro, num Luna Park repleto. O meu amigo apareceu pontualmente com a vaca, amarrou-a a uma esquina do quadrilátero, despiu um roupão elegantíssimo e enfrentou o «Estrangulador de Calcutá». Porém, de nada serviam ali a vaca, nem o sumptuoso atavio do poeta-lutador. O «Estrangulador de Calcutá» atirou-se a Vignole e em três tempos deixou-o transformado num nó indefeso, colocando-lhe, para mais, em sinal de humilhação, um pé sobre a garganta de touro literário, no meio da tremenda assuada de um público feroz que exigia a continuação do combate. Poucos meses depois, publicou um novo livro: Conversaciones con la vaca. Jamais poderei esquecer a originalíssima dedicatória, impressa na primeira página da obra. Dizia, se bem me lembro: «Dedico este livro filosófico aos quarenta mil filhos da puta que me assobiaram e pediram a minha morte no Luna Park na noite de 24 de Fevereiro.»
Pablo Neruda (Confieso que he vivido)
O apêndice de Warren Buffett para a quarta edição revisada de O investidor inteligente (livro de Benjamin Graham) descreve um concurso em que cada um dos 225 milhões de americanos começa com 1 dólar e lança uma moeda uma vez por dia. As pessoas que acertam no primeiro dia recolhem um dólar daqueles que erraram; é feito um novo lançamento no segundo dia, e assim por diante. Dez dias depois, 220 mil pessoas acertaram dez vezes seguidas e ganharam 1.000 dólares. “Talvez tentem ser modestas, mas, nas festas, admitirão ocasionalmente, aos membros atraentes do sexo oposto, suas técnicas e os maravilhosos insights que podem oferecer para o estudo do lançamento de moedas.” Depois de mais dez dias, estamos com 215 sobreviventes que acertaram vinte vezes seguidas e ganharam 1 milhão de dólares cada. Essas pessoas escrevem livros intitulados “Como transformei um dólar em um milhão em vinte dias trabalhando trinta segundos por manhã” e passam a ganhar dinheiro com palestras. Soa familiar?
Howard Marks (O mais importante para o investidor: Lições de um gênio do mercado financeiro (Portuguese Edition))
O ser humano é a soma daquilo que viveu e do que leu. E o que lemos ajuda-nos a compreender o que vivemos. É uma espécie de enzima, de levedura, que faz com que o que vivemos fermente. Fui repórter de guerra muito novo e fiz isso durante 20 anos. Ter lido a "Ilíada" ou a "Odisseia" ajudou-me a entender melhor o que ia vendo. Os livros à mistura com a memória produzem uma fermentação, que é algo pessoal. É impossível digerir bem o resultado da vida se não houver livros que o permitam. -- Entrevista ao Expresso, publicada em 29/01/2021 na Edição nº 2518 da Revista
Arturo Pérez-Reverte
Ao revelar a riqueza do objecto vazio, Abdul criava novos universos e confirmava a ideia de que o mundo que vemos é meramente um a página de um livro que não vislumbramos senão com o auxílio da imaginação, ou seja, vivemos num multiverso, em que cada pessoa é autora e única criatura do seu cosmos.
Afonso Cruz (Uma Dor Tão Desigual)
Coma arroz tenha fé nas mulheres O que eu não sei Eu ainda posso aprender Se estou sozinha agora Estarei com elas mais tarde Se estou fraca agora Posso me tornar forte Lentamente, lentamente Se aprender, posso ensinar as outras Se as outras aprenderem antes Eu devo acreditar Que elas voltarão e me ensinarão Elas não vão embora do país com seu conhecimento E me enviarão uma carta em algum momento Devemos estudar todas as nossas vidas Mulheres vindas de mulheres Indo para mulheres Tentando fazer tudo que pudermos Com as palavras Em seguida, tentar trabalhar com ferramentas Ou com nossos corpos Tentando ficar o tempo que for preciso Lendo livros quando não há professores Ou quando eles estão muito distantes Ensinando a nós mesmas Imaginando outras lutando Devo acreditar que nós estaremos juntas E construir confiança o suficiente Para que quando eu precise lutar sozinha Eu saiba que há irmãs que Ajudariam se soubessem Irmãs que viriam Para me apoiar mais tarde Mulheres exigindo liberdade Cada uma com suas necessidades Nossa vida completamente dilacerada Pela velha sociedade Nunca nos dando o amor ou o trabalho Ou a força ou a segurança ou a informação Que nos poderia ser útil Nunca ajudadas pelas Instituições Que nos aprisionam Quando precisamos de cuidados médicos Somos abatidas Quando precisamos da polícia Somos insultadas e ignoradas Quando precisamos de pais e mães Encontramos robôs Treinados para nos manter em nossos lugares Quando precisamos de trabalho Nos dizem para nos tornarmos parte do sistema que nos destrói Alimento que nutre Medicina que cura Canções que nos lembram de nós mesmas E nos fazem querer continuar com o que importa para nós Vamos sair de novo Encontrando as mulheres que saem pela primeira vez Sabendo que esse amor faz uma boa diferença em nós Afirmando uma vida contínua com mulheres Devemos ser amantes médicas soldadas Artistas mecânicas agricultoras Todas em nossas vidas Ondas de mulheres Tremendo de amor e raiva Cantando, nós devemos enfurecer Beijando, virar e quebrar a velha sociedade Sem nos tornarmos os nomes que elogiam As mentes que pagam Coma arroz tenha fé nas mulheres O que eu não sei agora Ainda posso aprender Lentamente, lentamente Seu eu aprender posso ensinar as outras Se as outras aprendem antes Eu devo acreditar Que elas voltarão e me ensinarão fran winant – Tradução por Marcella
Fran Winant
... não consigo imaginar que volte a querer esforçar-me tanto por causa de outro ser humano. Investir tanto tempo e energia. Investir tanto de mim. Como se recomeça com outra pessoa? - Como é que um romancista começa um novo livro depois de acabar o anterior? Como é que um atleta lesionado recomeça a treinar a partir do zero?
Krystal Sutherland (Our Chemical Hearts)
pai (s.m.) alguns moram com você, outros não. era quem te levava ao cinema para ver aquele filme que sua mãe não deixava. é aquele que enche a boca de orgulho para falar da gente. é quem me ensinou que todo mundo erra, inclusive ele (e que tá tudo bem). é quem nasceu de novo vendo a gente nascer. “você cabia aqui na minha mão.” e você, pai, independente de tudo, cabe e sempre vai caber bem aqui: no coração.
João Doederlein (O Livro dos Ressignificados)
Sentir tudo de todas as maneiras; saber pensar com as emoções e sentir com o pensamento; não desejar muito senão com a imaginação; sofrer com coquetterie; ver claro para escrever justo; conhecer-se com fingimento e táctica, naturalizar-se diferente e com todos os documentos; em suma, usar por dentro todas as sensações, descansando-as até Deus; mas embrulhar de novo e repor na montra com aquele caixeiro que de aqui estou vendo com as latas pequenas da graxa da nova marca.
Fernando Pessoa (Livro do Desassossego I (Livro do Desassossego, #1))