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Os escribas se multiplicam pela terra, cada escriba faz o filho ser escriba, o qual escreva história de seu escriba pai: um escriba vê o outro e aprende a sê-lo também, ser escriba ou mestre de escribas ou guardião das escritas, ou herói das bibliotecas, gerente de engenhos de escritos, fazendo as sagradas escrituras. Quando o último escriba morrer, outro escriba ao lado pronto para tomar nota. Livro, já estiveste dentro de um sonho e te fiz despertar porque o sol é melhor que o sonho! Desconfio da dúvida, incorro numa certeza: zombo de esquecimento. Mostro e nego o monstro para o monstrengo: acredito no que não sei, três barrufos, três toques! Toco, tuco, tucum! Aconteceu-lhe ser. Haja. Que é que há? Falo tanto que minto algo: muito não está certo. Assisto, míope. Horizonte de cegos: quem tem muitos olhos, comparo aos cegos e às cegas, reis às vistas ou ao alcance de um óculos de ver longe. Cego não vê, não lê, não crê, não é? O escriba sonha com um herói cego? Pois haja cegos nessa Pérsia! Aconteceu-lhe um estado, golpe de graspa na couraça da carcassa. Ofereço o pensamento e só ouvem a voz? Tacanho tacuíno, canhenho alcuinho. Caí em mim e fiquei parado como caí, negando ecos e dizendo o contrário? Mim, quem? Sonho um pouco e já volto para a revanche. Caimcapim! Alminguém... O mundo esquece de nós quando dele nos esquecemos. Obedeço à distração: lembro do Lete, que só de me lembrar um olvido me crise. Dou um salto no claro. Errei. Sobrou uma? Uma vez só, e basta uma. O poeta fala do ciclope cego, cego falando de cegos: não precisa de rei. Rei é para mandar, apreciar, punir: lei, régua, cárcere. Cego não faz nada, portanto não erra, logo não é réu de nada. Báratro de cego, — cucas adentro, ver o fogo, apaga o fogo. Fogapagou, fugapogeu! Minotauroformou-se, cada um trate de ensimesmar-se, mesmo que seja cegovesgo! Vire para dentro a cara que forachove. A sengas arengas, parlongas flamingas: abismo na cabeça, jogo a cabeça no abismo, um hiato nos abismos, pelo prisma dos sofrismas, espicho a cabeça de lado, abismado. Lavo minhas mãos no sangue da vítima, chacoalhar o olho, chácolher de molho! Galope galego, peregringrenalda! Dá tempo ao tempo que atrasa até acabar. Cada um como cada qual vê qualquer como bem quer: por essas e por outras, fico com uma e outras. Os ídolos caem no pensamento, explodindo em adorações. A mãe do esquecimento deixa lembranças, assim veio a filha a fazer-se mãe de sua própria progenitora. Filósofo, louco de propósito; intérprete de verdades, setenciado por si mesmo, pregador contrário a si, mestre de ver, cego. O silêncio é bemaventurado, e ele o exalta falando demasiado? O arqueiro, cego: a flecha não tem pé nem cabeça. Cego, em silêncio, esquecido, esquece de tudo, emudece de surdo e enlouquece de novo. Silêncio, vaso ou vazio? De que lado do espelho estás? Sonho um eco.
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