Meu Amor Quotes

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meu amor, o inferno é o teu corpo foda a foda alcançado
Herberto Helder (Servidões)
Sometimes, meu amor, we lose too much time asking ourselves questions that we can't answer and forgetting that the answer is just beside us
Cristiane Serruya (Trust: Pandora's Box (TRUST Trilogy #3; TRUST Universe #6-8))
De vez em quando eu vou ficar esperando você numa tarde cinzenta de inverno, bem no meio duma praça, então os meus braços não vão ser suficientes para abraçar você e a minha voz vai querer dizer tanta, mas tanta coisa que eu vou ficar calada um tempo enorme. só olhando você, sem dizer nada só olhando e pensando: “meu Deus, mas como você me dói de vez em quando…
Caio Fernando Abreu
Sometimes, meu amor, we lose too much time asking ourselves questions that we can’t answer and forgetting that the answer is just beside us. You have to learn to ask and to listen. If one does not listen, the other does not exist. When the other does not exist, one is alone. I don’t want to be alone, do you?
Cristiane Serruya (Trust: Pandora's Box (TRUST Trilogy #3; TRUST Universe #6-8))
As palavras que te envio são interditas até, meu amor, pelo halo das searas; se alguma regressasse, nem já reconhecia o teu nome nas suas curvas claras.
Eugénio de Andrade (As Palavras Interditas / Até Amanhã)
De tudo ao meu amor serei atento Antes, e com tal zelo, e sempre, e tanto Que mesmo em face do maior encanto Dele se encante mais meu pensamento. Quero vivê-lo em cada vão momento E em seu louvor hei de espalhar meu canto E rir meu riso e derramar meu pranto Ao seu pesar ou seu contentamento E assim, quando mais tarde me procure Quem sabe a morte, angústia de quem vive Quem sabe a solidão, fim de quem ama Eu possa me dizer do amor (que tive): Que não seja imortal, posto que é chama Mas que seja infinito enquanto dure.
Vinicius de Moraes
... A tua presença é qualquer coisa como a luz e a vida E eu sinto que em meu gesto existe o teu gesto e em minha voz a tua voz.
Vinicius de Moraes
Para não te desperdiçares não dês o teu amor a quem to tira.
Pedro Paixão (Muito, Meu Amor)
Percebo que esse é o meu ideal de felicidade. Estar junto sem medo de que alguma coisa ruim vá acontecer a qualquer momento.
Vitor Martins (Um Milhão de Finais Felizes)
Amor violeta O amor me fere é debaixo do braço, de um vão entre as costelas. Atinge meu coração é por esta via inclinada. Eu ponho o amor no pilão com cinza e grão de roxo e soco. Macero ele, faço dele cataplasma e ponho sobre a ferida.
Adélia Prado (Bagagem)
Por mais que me custe aceitar, o meu porto de abrigo já não passa port i. Na verdade não passa por ninguém. Temos de o encontrar dentro de nós, ou estaremos perdidos para sempre.
Margarida Rebelo Pinto (O Amor é Outra Coisa)
Fíxenme médico por amor ao meu pai; non exerzo a profesión por amor á humanidade.
Alfonso Daniel R. Castelao
E não te deixes levar sem mais pelas palavras, as palavras enganam muito sem querer. Tem o máximo cuidado. Todo é pouco.
Pedro Paixão (Muito, Meu Amor)
Eu voltei à vida por você, meu amor; eu voltei à vida, feito de amor.
Filipe Russo (Caro Jovem Adulto)
O resto é a vida que nos deixa, a chama que morre no nosso olhar, a púrpura gasta antes de a vestirmos, a lua que vela o nosso abandono, as estrelas que estendem o seu silêncio sobre a nossa hora de desengano. Assídua a mágoa estéril e amiga que nos aperta o peito com amor. (Meu destino é a decadência)
Fernando Pessoa (Livro do Desassossego)
Ah, meu amor, não tenhas medo da carência: ela é o nosso destino maior. O amor é tão mais fatal do que eu havia pensado, o amor é tão inerente quanto a própria carência, e nós somos garantidos por uma necessidade que se renovará continuamente. O amor já está, está sempre. Falta apenas o golpe da graça - que se chama paixão.
Clarice Lispector (The Passion According to G.H.)
- Porque é que já não sabe voar, mãe? -Porque já sou crescida, meu amor. Quando as pessoas crescem esquecem-se de como se faz. - Porque é que se esquecem? - Porque já não são alegres, inocentes e cruéis. Só quem for alegre, inocente e cruel é que consegue voar.
J.M. Barrie
Quando é que isto começou? Isto, o quê? Isto. O amor? Talvez. O amor? Sim, pode ser isso. Quando é que o amor começou? Começou antes de ter começado. E depois? E depois não acabou quando devia acabar. Durou mais tempo. O coração bate mais tempo. Não há maneira de parar o coração.
Pedro Paixão (Muito, Meu Amor)
A percepção não passa da soma dos nossos mal-entendidos.
Haruki Murakami (Sputnik Sweetheart)
Não te amo como se fosse rosa de sal,topázio ou flecha de cravos que propagam o fogo: te amo como se amam certas coisas obscuras, secretamente,entre a sombra e a alma. Te amo como a planta que não floresce e leva dentro de si,oculta, a luz daquelas flores, e graças a teu amor vive escuro em meu corpo o apertado aroma que ascendeu da terra. Te amo sem saber como,nem quando,nem onde, te amo diretamente sem problemas nem orgulho: assim te amo porque não sei amar de outra maneira, senão assim deste modo em que eu não sou nem és tão perto que tua mão sobre meu peito é minha tão perto que se fecham meus olhos com meu sonho.
Pablo Neruda
Todas as cartas de amor são Ridículas. Não seriam cartas de amor se não fossem Ridículas. Também escrevi em meu tempo cartas de amor, Como as outras, Ridículas. As cartas de amor, se há amor, Têm de ser Ridículas. Mas, afinal, Só as criaturas que nunca escreveram Cartas de amor É que são Ridículas. Quem me dera no tempo em que escrevia Sem dar por isso Cartas de amor Ridículas. A verdade é que hoje As minhas memórias Dessas cartas de amor É que são Ridículas. (Todas as palavras esdrúxulas, Como os sentimentos esdrúxulos, São naturalmente Ridículas.)
Fernando Pessoa
Aquilo que os nossos olhos vêem nem sempre corresponde à realidade.
Haruki Murakami (Sputnik Sweetheart)
Devo manter meu coração cheio de amor hoje pois de que outra maneira poderei suportar mais este dia?
Oscar Wilde (De Profundis e Outros Escritos do Cárcere)
Não deve custar a morte a quem tiver o coração tranquilo. O pior é a saudade, saudade daquelas esperanças que tu achavas no meu coração.
Camilo Castelo Branco (Amor de Perdição)
Oi, meu amor.” She said. Hello, my love, in Portuguese.
Callie Anderson (Invisible Love Letter (Love Letter, #1))
meus pais estavam timidamente alegres no amor deles de anos, era bonito ser sexta-feira e estar casado, espero que um dia faça sexta no meu amor.
Aline Bei (O Peso do Pássaro Morto)
Cansado do universo e sociedade, Da abstracção que não finda o que é fundo Do meu fatal pôr-olhos sobre o mundo, Pobre de amor e rico de ansiedade, Já nada me seduz nem me persuade.
Fernando Pessoa (Poesia do Eu)
A vida é muito menos cheia de prosápia do que a morte. É uma espécie de maré pacífica, um grande e largo rio. Na vida é sempre manhã e está um tempo esplêndido. Ao contrário da morte, o amor, que é o outro nome da vida, não me deixa morrer às primeiras: obriga‑me a pensar nas pessoas, nos animais e nas plantas de quem gosto e que vou abandonar. Quando a vida manda mais em mim do que a morte, amo os que me amam, e cresce de repente no meu coração a maré da vida.
Paulo Varela Gomes
Povoamento No teu amor por mim há uma rua que começa Nem árvores nem casas existiam antes que tu tivesses palavras e todo eu fosse um coração para elas Invento-te e o céu azula-se sobre esta triste condição de ter de receber dos choupos onde cantam os impossíveis pássaros a nova primavera Tocam sinos e levantam voo todos os cuidados Ó meu amor nem minha mãe tinha assim um regaço como este dia tem E eu chego e sento-me ao lado da primavera
Ruy Belo
Já escondi um amor com medo de perdê-lo, já perdi um amor por escondê-lo. Já segurei nas mãos de alguém por medo, já tive tanto medo, ao ponto de nem sentir minhas mãos. Já expulsei pessoas que amava de minha vida, já me arrependi por isso. Já passei noites chorando até pegar no sono, já fui dormir tão feliz, ao ponto de nem conseguir fechar os olhos. Já acreditei em amores perfeitos, já descobri que eles não existem. Já amei pessoas que me decepcionaram, já decepcionei pessoas que me amaram. Já passei horas na frente do espelho tentando descobrir quem sou, já tive tanta certeza de mim, ao ponto de querer sumir. Já menti e me arrependi depois, já falei a verdade e também me arrependi. Já fingi não dar importância às pessoas que amava, para mais tarde chorar quieta em meu canto. Já sorri chorando lágrimas de tristeza, já chorei de tanto rir. Já acreditei em pessoas que não valiam a pena, já deixei de acreditar nas que realmente valiam. Já tive crises de riso quando não podia. Já quebrei pratos, copos e vasos, de raiva. Já senti muita falta de alguém, mas nunca lhe disse. Já gritei quando deveria calar, já calei quando deveria gritar.
Renato Dieckson
Ele e o marido da Senhora Dona Flor, cuida de tua virtude, de tua honra, de teu respeito humano. Ele e tua face matinal, eu sou tua noite, o amante para o qual nao tem nem jeito nem coragem. Somos teus dois maridos, tuas duas faces, teu sim teu nao. Para ser feliz, precisas de nos dois. Quando era eu so, tinhas meu amor e te faltava tudo, como sofrias! Quando foi so ele, tinhas de um tudo, nada te faltava, sofrias ainda mais. Agora sim, es dona Flor inteira como deves ser
Jorge Amado
No final das contas, era isso o que mais me doía, pois quando o amor se torna impossível, só nos resta uma alternativa. Amar em silêncio. Chorar em silêncio. Em segredo.
Luna Brandon (Eu Te Dou Meu Amor (Entregue a Você #1))
Junto dela nunca tive nem uma hora de felicidade, mas, mesmo assim, meu espírito, durante as vinte e quatro horas do dia, ainda desejava a felicidade de tê-la junto de mim até a morte.
Charles Dickens (Great Expectations)
Por onde andas, meu amor maior? Porque me tens aqui cativa neste lugar onde a culpa e os fantasmas me perseguem? Quero de novo sentar-me junto da Fonte Nova, ouvir as águas que nela correm cantando o nosso amor a uma só voz, esconder-me deste mundo horrível e carrasco que teima em ver-me como uma maldição, esquecer-me de tanta perfídia e de toda a maldade que nos cerca e ser tua mais uma vez; sentir os teus dedos pelo meu corpo ainda fresco, saborear a força dos teus pulsos guerreiros em volta da minha cintura que a maternidade não roubou, respirar o teu ar enquanto encostas a tua cara nos meus cabelos loiros que tanto amas, sentir-te todo dentro de mim como um caudal de paixão e de força que nunca se cansa nem morre, na esperança de me dares ainda mais filhos saudáveis como os que Deus nos enviou.
Margarida Rebelo Pinto
Quanto mais longe, mais perto me sinto de ti, como se os teus passos estivessem aqui ao pé de mim e eu pudesse seguir-te e falar-te e dizer-te quanto te amo e como te procuro, no meio de uma destas ruas em que te vejo, zangado de saudade, no céu claro, no dia frio. Devolve-me a minha vida e o meu tempo. Diz qualquer coisa a este coração palerma que não sabe nada de nada, que julga que andas aqui perto e chama sem parar por ti
Miguel Esteves Cardoso (O Amor é Fodido)
Como eu te amo (e portanto eu amo-te, sua tola, tal como o mar ama um minúsculo seixo no seu fundo, é exactamente assim que te cubro com o meu amor - e oxalá seja também um seixo ao teu lado, se o céu o permitir), amo o mundo inteiro, a que pertence também o ombro esquerdo, não primeiro era o ombro direito e, por isso, beijo-o quando isso me dá prazer (e tu tens a amabilidade de despir aí a blusa), o ombro esquerdo está também incluído e o teu rosto debaixo de mim no bosque e o repousar no teu peito quase desnudado. E por isso tens razão quando dizes que já fomos um único ser, e não tenho nenhum medo disso, pelo contrário, é a minha única felicidade e o meu único orgulho e não o restrinjo de modo nenhum ao bosque.
Franz Kafka
Não posso adiar o amor para outro século não posso ainda que o grito sufoque na garganta ainda que o ódio estale e crepite e arda sob montanhas cinzentas e montanhas cinzentas Não posso adiar este abraço que é uma arma de dois gumes amor e ódio Não posso adiar ainda que a noite pese séculos sobre as costas e a aurora indecisa demore não posso adiar para outro século a minha vida nem o meu amor nem o meu grito de libertação Não posso adiar o coração
António Ramos Rosa (Antologia Poética)
Já gastámos as palavras pela rua, meu amor, e o que nos ficou não chega para afastar o frio de quatro paredes. Gastámos tudo menos o silêncio. Gastámos os olhos com o sal das lágrimas, gastámos as mãos à força de as apertarmos, gastámos o relógio e as pedras das esquinas em esperas inúteis. Meto as mãos nas algibeiras e não encontro nada. Antigamente tínhamos tanto para dar um ao outro; era como se todas as coisas fossem minhas: quanto mais te dava mais tinha para te dar. Às vezes tu dizias: os teus olhos são peixes verdes. E eu acreditava. Acreditava, porque ao teu lado todas as coisas eram possíveis. Mas isso era no tempo dos segredos, era no tempo em que o teu corpo era um aquário, era no tempo em que os meus olhos eram realmente peixes verdes. Hoje são apenas os meus olhos. É pouco, mas é verdade, uns olhos como todos os outros. Já gastámos as palavras. Quando agora digo: meu amor, já se não passa absolutamente nada. E no entanto, antes das palavras gastas, tenho a certeza que todas as coisas estremeciam só de murmurar o teu nome no silêncio do meu coração. Não temos já nada para dar. Dentro de ti não há nada que me peça água. O passado é inútil como um trapo. E já te disse: as palavras estão gastas. Adeus.
Eugénio de Andrade
Isso não é amor. Eu já estive apaixonado, mas isso não é a mesma coisa. Não se trata de um sentimento meu, mas de uma força exterior que se apoderou de mim. Veja, eu fugi porque decidi que tal coisa não poderia acontecer, entende, como uma felicidade que não pode existir na terra; mas lutei contra mim mesmo e vejo que sem isso não existe vida.
Leo Tolstoy
A anos estou resvalando neste labirinto de corpos nus sem o morno do teu amor pro meu peito sossegar.
Filipe Russo (Caro Jovem Adulto)
Tong a toing mo thuath." (Tradução livre para Juro o que jura o meu povo.)
Sonia Ferreira (Mors-Amor)
A feiura é o meu estandarte de guerra. Eu amo o feio com um amor de igual para igual.
Clarice Lispector (Água Viva)
A brasa do teu corpo a queimar a palma acesa da mão do meu desejo
Maria Teresa Horta (Antologia de Contos / Só de Amor)
Carrego nos braços, nas costas o meu amor por ti.
Filipe Russo (Caro Jovem Adulto)
Eu te amei com todo meu amor a ponto de não tem me sobrado amor próprio algum com o qual me consolar.
Filipe Russo (Caro Jovem Adulto)
Meu amor pelo cinema é mais importante do que qualquer moral
Alfred Hitchcock
Nunca lhe confessei abertamente o meu amor, mas, se é verdade que os olhos falam, até um idiota teria percebido que eu estava apaixonada.
Emily Brontë
25 Como caíram os valorosos no meio da peleja! 26 Angustiado estou por ti, meu irmão Jônatas; muito querido me eras! Maravilhoso me era o teu amor, ultrapassando o amor de mulheres.
Zeiset (A Bíblia Sagrada: Almeida Atualizada)
Um amor fabricado pela minha infância, da ingenuidade à inocência, ainda reside em meu coração qual micronutriente em quantidade adequada fluindo pela corrente sanguínea a cumprir função orgânica.
Filipe Russo (Caro Jovem Adulto)
Que eu possa te encontrar um dia assim que não haja pressa em dizer adeus, que não haja medo de interrupções, que todas as emoções sejam derramadas, e cada canto e fenda do meu coração seja esvaziado.
Sanu Sharma
Não posso falar da nossa história de amor, portanto vou falar de matemática. Não sou matemática, mas uma coisa eu sei: Entre 0 e 1 existem números infinitos. Existe o 0,1 e o 0,12 e o 0,112 e uma série infinita de outros. Claro está que existe um maior conjunto infinito de números entre 0 e 2, ou entre 0 e um milhão. Algumas infinidades são maiores do que outras. Quem nos ensinou isto foi um escritor, de quem gostávamos. Há dias, muitos dias, em que sinto um rancor do tamanho do meu conjunto iluminado. Quero mais números do que é provável que tenha e, oh Deus, quero mais números para o Augustus Waters do que os que ele tem. Mas Gus, meu amor, não te consigo dizer como estou grata pela nossa pequena infinidade. Não a trocaria por nada deste mundo. No meio dos dias numerados, tu deste-me um para sempre, e eu estou grata
John Green (The Fault in Our Stars)
Tomei a amizade como uma versão adulta e vacinada do amor, o que significa que transferi para a casa dela a artilharia pesada do meu batalhão de afectos. Substituí o Príncipe Encantado pelo Amigo Maravilhoso que eras tu.
Inês Pedrosa (Fazes-me Falta)
Há pessoas com quem as palavras são desnecessárias. Nos entendíamos e amávamos mudamente, meu pai e eu. Talvez pelo fato de sua figura emocionar-me tanto, evitei sempre pisar com ele o terreno das coisas emocionais, pois estou certo de que, se começássemos a falar, cairíamos os dois em pranto, tão grandes eram em nós os motivos para chorar.
Vinicius de Moraes (Para Viver um Grande Amor: Crônicas e Poemas)
Esse amor sem fim, onde andará? Que eu busco tanto e nunca está E não me sai do pensamento Sempre, sempre longe Esse amor tão lindo que se esconde Nos confins do não sei onde Vive em mim além do tempo Longe, longe, onde? Por que não me surges nessa hora Como um sol Como o sol no mar Quando vem a aurora Esse amor que o amor me prometeu E que até hoje não me deu Por que não está ao lado meu? Esse amor sem fim, onde andará? Esse amor, meu amor, Onde andará?
Vinicius de Moraes
Existem várias maneiras de destruir um assunto, de deteriorar a realidade até não sobrar coisa nenhuma. Passa-se com as palavras o mesmo que com as coisas: quantas mais vezes as proferimos menos substância têm, as palavras e as coisas, porque as palavras podem tirar ou roubar às coisas o seu sentido. [...] Imagina agora o que acontece quando as palavras se reportam somente a si próprias. As palavras Deus ou Amor, por exemplo. Imagina o género de esvaziamento que acontece quando as usamos de maneira desenfreada e as pronunciamos milhares ou milhões de vezes todos os dias. 'Amo-te'. 'Amo-te'. 'Amo-te'. 'Meu Deus'. 'Meu Deus'. 'Meu Deus'. Palavras que não têm qualquer referente no mundo que lhes devolva o sentido. Palavras que são somente isso: a junção aleatória de vogais e consoantes; e, contudo, palavras que movem montanhas.
João Tordo (Anatomia dos Mártires)
Havia achado, sempre, que morrer de amor não era outra coisa além de licença poética. Naquela tarde, de regresso para casa, outra vez, sem o gato e sem ela, comprovei que não apenas era possível, mas que eu mesmo, velho e sem ninguém, estava morrendo de amor. E também percebi que era válida a verdade contrária: não trocaria por nada neste mundo as delícias de meu desassossego.
Gabriel García Márquez (Memories of My Melancholy Whores)
tu e todo o mundo têm noção de que há ou deverá haver uma existência para além de nós. Qual seria o sentido de eu ter sido criada, se estivesse contida apenas em mim mesma? Os grandes desgostos que tive foram os desgostos de Heathcliff, e eu senti cada um deles desde o início: o que me faz viver é ele. Se tudo o mais acabasse, e ele permanecesse, eu continuaria a existir; e, se tudo o mais permanecesse e ele fosse aniquilado, o universo transformar-se-ia um imenso desconhecido. O meu amor por Linton é como a folhagem das florestas. O tempo transformá-lo-á, tenho a certeza, da mesma forma que o Inverno transforma o arvoredo. O meu amor por Heathcliff lembra as rochas eternas: proporciona uma alegria pouco visível, mas é necessário. Nelly, eu sou Heathcliff!"
Emily Brontë (Wuthering Heights)
O amor é isso mesmo meu caro Kafka. Tu é que andas sempre nas nuvens e experimentas todos esses sentimentos maravilhosos, do mesmo modo que só tu é que desces ao abismo mais profundo da angústia. E o teu corpo e a tua alma têm de suportar. Estás entregue a ti próprio.
Haruki Murakami (Kafka on the Shore)
Os pensamentos que zoam no meu crânio são locatários de uma noite, meia dúzia de pares sem casa num ninho de amor passageiro, o fragor do guindaste da draga virá igualizar tudo, os momentos de deliciosa angústia do meu coração são roubados à sociedade de armadores que me emprega
Stig Dagerman (Island of the Doomed)
Dons do Amante Sobre a tua cabeleira hei-de pôr, para as núpcias, uma coroa de borboletas com suas asas pintadas. Terás de volta ao pescoço flores de abóbora, em prata, e a lua que para ti noites e noites forjei. Andarás pelo povo sobre um cavalo em turquesa. Um cavalo ardente e leve, animado pelo meu fogo de amor. E a teus pés eu lançarei uma pedra quente quente: o coração onde correm milhões de gotas de sangue.
Herberto Helder (O Bebedor Nocturno)
Mas de nenhum destes modos te sei amar,tão fraco ou inábil é o meu coração,de modo que,por o meu amor não ser perfeito,tenho de me contentar com que seja eterno.Tu sorris tristemente desta eternidade.Ainda ontem me perguntavas: ''No calendário do seu coração,quantos dias dura a Eternidade?
Eça de Queirós (A Correspondência de Fradique Mendes: Memórias e Notas)
A verdade é algumas vezes o escolho de um romance. Na vida real recebemo-la como ela sai dos encontrados casos ou da lógica implacável das coisas; mas, na novela, custa-nos a sofrer que o autor, se inventa, não invente melhor; e, se copia, não minta por amor da arte. Um romance que estriba na verdade o seu merecimento é frio, é impertinente, é uma coisa que não sacode os nervos, nem tira a gente, sequer uma temporada, enquanto ele nos lembra, deste jogo de nora, cujos alcatruzes somos, uns a subir, outros a descer, movidos pela manivela do egoísmo. A verdade! Se ela é feia, para que oferecê-la em painéis ao público!? A verdade do coração humano! Se o coração humano tem filamentos de ferro que o prendem ao barro donde saiu, ou pesam nele e o submergem no charco da culpa primitiva, para que é emergi-lo, retratá-lo e pô-lo à venda!? Os reparos são de quem tem o juízo no seu lugar; mas, pois que eu perdi o meu a estudar a verdade, já agora a desforra que tenho é pintá-la como ela é, feia e repugnante. A desgraça afervora ou quebranta o amor? Isto é que eu submeto à decisão do leitor inteligente. Fatos e não teses é o que eu trago para aqui. O pintor retrata uns olhos, e não explica as funções ópticas do aparelho visual.
Camilo Castelo Branco (Amor de Perdição)
Podias ter-me dito que ias sair da minha vida. A paixão é mesmo isto, nunca sabemos quando acaba ou se transforma em amor, e eu sabia que a tua paixão não iria resistir à erosão do tempo, ao frio dos dias, ao vazio da cama, ao silêncio da distância. Há um tempo para acreditar, um tempo para viver e um tempo para desistir, e nós tivemos muita sorte porque vivemos todos esses tempos no modo certo. Podias ter-me dito que querias conjugar o verbo desistir. Demorei muito tempo a aceitar que, às vezes, desistir é o mesmo que vencer, sem travar batalhas. Antigamente pensava que não, que quem desiste perde sempre, que a subtracção é a arma mais cobarde dos amantes, e o silêncio a forma mais injusta de deixar fenecer os sonhos. Mas a vida ensinou-me o contrário. Hoje sei que desistir é apenas um caminho possível, às vezes o único que os homens conhecem. Contigo aprendi que o amor é uma força misteriosa e divina. Sei que também aprendeste muito comigo, mais do que imaginas e do que agora consegues alcançar. Só o tempo te vai dar tudo o que de mim guardaste, esse tempo que é uma caixa que se abre ao contrário: de um lado estás tu, e do outro estou eu, a ver-te sem te poder tocar, a abraçar-te todas as noites antes de adormeceres e a cada manhã ao acordares. Não sei quando te voltarei a ver ou a ter notícias tuas, mas sabes uma coisa? Já não me importo, porque guardei-te no meu coração antes de partires. Numa noite perfeita entre tantas outras, liguei o meu coração ao teu com um fio invisível e troquei uma parte da tua alma com a minha, enquanto dormias.
Margarida Rebelo Pinto
Ali, onde o mar quebra, num cachão Rugidor e monótono, e os ventos erguem pelo areal os seus lamentos, Ali se há-de enterrar meu coração. Queimem-no os sóis da adusta solidão Na fornalha do Estio, em dias lentos; Depois, no Inverno, os sopros violentos Lhe revolvam em torno o árido chão… Até que se desfaça e, já tornado Em impalpável pó, seja levado Nos turbilhões que o vento levanter… Com suas lutas, seu cans ado anseio, Seu louco amor, dissolva-se no seio Desse infecundity, desse amargo mar!
Antero de Quental
Quando eu escrevo eu busco você à espera do meu contorno, à procura do meu preenchimento; tudo o quanto eu tento.
Filipe Russo (Caro Jovem Adulto)
În ziua în care m-am iubit cu adevărat, am înțeles că în toate împrejurările, mă aflam la locul potrivit, în momentul potrivit. Și atunci, am putut să mă liniștesc. Astăzi, știu că aceasta se numește – Respect pentru mine În ziua în care m-am iubit cu adevărat, am realizat că neliniștea și suferința mea emoțională, nu erau nimic altceva decât semnalul că merg împotriva convingerilor mele. Astăzi, știu că aceasta se numește … Autenticitate. În ziua în care m-am iubit cu adevărat, am încetat să doresc o viață diferită și am început să înțeleg că tot ceea ce mi se întâmplă, contribuie la dezvoltarea mea personală. Astăzi, știu că aceasta se numeste … Maturitate. În ziua în care m-am iubit cu adevărat, am început să realizez că este o greșeală să forțez o situație sau o persoană, cu singurul scop de a obține ceea ce doresc, știind foarte bine că nici acea persoană, nici eu însumi nu suntem pregătiți și că nu este momentul … Astăzi, știu că aceasta se numește … Respect. În ziua în care m-am iubit cu adevărat, am început să mă eliberez de tot ceea ce nu era benefic … persoane, situații, tot ceea ce îmi consumă energia. La început, rațiunea mea numea asta egoism. Astăzi, știu că aceasta se numește … Amor propriu. În ziua în care m-am iubit cu adevărat, am încetat să-mi mai fie teamă de timpul liber și am renunțat să mai fac planuri mari, am abandonat Mega-proiectele de viitor. Astăzi fac ceea ce este corect, ceea ce îmi place, când îmi place și în ritmul meu. Astăzi, știu că aceasta se numește … Simplitate. În ziua în care m-am iubit cu adevărat, am încetat să mai caut să am întotdeauna dreptate şi mi-am dat seama de cât de multe ori m-am înșelat. Astăzi, am descoperit … Modestia. În ziua în care m-am iubit cu adevărat, am încetat să retrăiesc trecutul şi să mă preocup de viitor. Astăzi, trăiesc prezentul, acolo unde se petrece întreaga viață. Astăzi trăiesc clipa fiecărei zile. Și aceasta se numeste … Plenitudine. În ziua în care m-am iubit cu adevărat, am înteles că rațiunea mă poate înşela şi dezamăgi. Dar dacă o pun în slujba inimii mele, ea devine un aliat foarte prețios. Si toate acestea înseamnă … să ştii să trăiești cu adevărat.” Traducere MIHAELA RADULESCU SCHWARTZENBERG.
Charlie Chaplin
Dizer não basta. Não é suficiente, não tem valor algum. O próprio Igor deixou claro. Palavras desaparecem, as ações, os gestos é que realmente contam. Você também acredita nisso, e me disse isso uma vez, lembra? Que era preciso mais que um amontoado de palavras para te convencer. Então eu te disse de outro jeito. Não se deu conta de todas as vezes em que me declarei pra você? Eu não disse que te amava quando encontrei você chorando naquelas escadas e te emprestei meu ombro? Ou quando seu irmão estava mal no hospital e fiquei ali do seu lado? Não disse que te amava quando levei você pra voar ou quando ficamos no meio daquele lago? Tem certeza que eu não disse que te amava todas as vezes em que rimos juntos, em que impliquei com você, todas as vezes em que fizemos amor? Tem certeza que eu nunca disse, Luna?
Carina Rissi (No Mundo da Luna)
Vi a engrenagem do amor e a modificação da morte, vi o Aleph, de todos os pontos, vi no Aleph a terra, e na terra outra vez o Aleph, e no Aleph a terra, vi meu rosto e minhas vísceras, vi teu rosto e senti vertigem e chorei, porque meus olhos haviam visto esse objeto secreto e conjetural cujo nome usurpam os homens, mas que nenhum homem olhou: o inconcebível universo. Senti infinita veneração, infinita lástima.
Jorge Luis Borges (The Aleph and Other Stories)
Estou decidida a adorar-te durante toda a vida e a não ter olhos para mais ninguém. E asseguro-te que também tu farás bem em não amar mais ninguém. Poderias, acaso, contentar-te com uma paixão menos ardente do que a minha? Encontrarás, talvez, maior beleza (e, no entanto, disseste-e outrora que não me faltava beleza), mas não encontrarás jamais amor tamanho - e o resto não conta. [...] Conjuro-te a que me digas por que é que te empenhaste em me encantar como fizeste, se já sabias que me havias de abandonar? Por que é que puseste tanto empenho em me tornar infeliz? Por que não me deixaste em paz no meu convento? Tinha-te feito algum mal? [...] Atribuo toda esta desgraça à cegueira com que me abandonei a dedicar-me a ti. Pois não devia eu prever que os meus prazeres acabariam antes que acabasse o meu amor? Podia eu esperar que ficasses para sempre em Portugal e que renunciasses à tua fortuna e à tua pátria para só pensares em mim? [...] Bem claramente vejo qual seria o remédio para todos os meus males e em breve me libertaria deles se deixasse de te amar. Mas ai de mim!, que terrível remédio! Não! Antes quero sofrer ainda mais do que esquecer-te... Infeliz que sou! Dependerá isso de mim? Não posso acusar-me de ter desejado, nem que fosse só por um momento, deixar de te amar! [...] Não é para te obrigar a escreveres-me que digo todas estas coisas. Oh!, não te violentes! De ti não quero nada senão o que espontaneamente vier e recuso todos os testemunhos de amor que constrangido me desses. Comprazer-me-ia em desculpar-te, só porque talvez tu te sintas bem em não ter o incômodo de me escrever, e sinto uma profunda disposição para te perdoar todas as faltas que cometeres.
Mariana Alcoforado (The letters of a Portuguese nun)
Em todas as ruas te encontro em todas as ruas te perco conheço tão bem o teu corpo sonhei tanto a tua figura que é de olhos fechados que eu ando a limitar a tua altura e bebo a água e sorvo o ar que te atravessou a cintura tanto tão perto tão real que o meu corpo se transfigura e toca o seu próprio elemento num corpo que já não é seu num rio que desapareceu onde um braço teu me procura Em todas as ruas te encontro em todas as ruas te perco
Mário Cesariny (Pena Capital)
Por favor, não me analise. Não fique procurando cada ponto fraco meu. Se ninguém resiste a uma análise profunda, quanto mais eu... Ciumento, exigente, inseguro, carente todo cheio de marcas que a vida deixou. Vejo em cada grito de exigência um pedido de carência, um pedido de amor.Amor é síntese é uma integração de dados. Não há que tirar nem pôr. Não me corte em fatias, ninguém consegue abraçar um pedaço. Me envolva todo em seus braços e eu serei o perfeito amor.
Mario Quintana
Desço aos infernos, a descer em mim. Mas agora o meu canto não perfura O coração da morte, À procura Da sombra Dum amor perdido. Agora É o repetido Aceno Do próprio abismo Que me seduz. É ele, embriaguez nocturna da vontade, Que me obriga a sair da claridade E a caminhar sem luz. Ergo a voz e mergulho Dentro do poço, Neste moço heroísmo Dos poetas, Que enfrentas confiantes O interdito Guardado por gigantes, Cães vigilantes Aos portões do mito. E entro finalmente No reino tenebroso Das minhas trvas. Quebra-se a lira, Cessa a melodia; E um medo triste, de vergonha e assombro, Gela-me o sangue, rio sem nascente, Onde o céu, lá no alto, se reflecte, Inútil como a paz que me promete.
Miguel Torga (Orfeu Rebelde)
Não me digas que não tu não podes dizer-me que não porque é tanto o alívio de amar de novo e deitar na cama e ser abraçado e tocado e beijado e teu coração saltará quando ouvires a minha voz e vires o meu sorriso e sentires a minha respiração no teu pescoço e teu coração vai disparar quando eu te quiser ver e eu irei mentir-te desde o primeiro momento e irei usar-te e irei penetrar-te e partirei o teu coração porque tu partiste o meu primeiro e tu me amarás mais a cada dia até que o peso desse amor seja insuportável e a tua vida seja minha e tu morrerás sozinha porque eu levarei o que eu quero e irei embora sem te deixar nada está sempre lá sempre esteve e não podes negar a vida que tu achas que é foda foda-se a vida foda-se a vida foda-se a vida agora que eu te perdi
Sarah Kane (Crave)
Tu eras também uma pequena folha que tremia no meu peito. O vento da vida pôs-te ali. A princípio não te vi: não soube que ias comigo, até que as tuas raízes atravessaram o meu peito, se uniram aos fios do meu sangue, falaram pela minha boca, floresceram comigo.
Pablo Neruda
Meu instinto inicial foi odiá-lo. Queria furar seus olhos, fazê-lo desaparecer da face do planeta. Sei lá por quê. O ódio não tem razão nem propósito. O amor tem propósito, mas o ódio não. O amor serve para a perpetuação da espécie humana, protege da esterilidade e das solidões mais fatais. O ódio é maior, tem mais tentáculos e fala com mais bocas do que o amor. O amor é uma função fisiológica, o ódio é uma fome sublime e furiosa. É o motivo pelo qual somos a espécie dominante do planeta. O ódio é a perpetração da espécie.
Victor Heringer (O amor dos homens avulsos)
Na margem do rio Piedra... Eu me sentei e chorei. Conta a lenda que tudo que cai nas águas deste rio - as folhas, os insetos, as penas das aves - se transforma nas pedras do seu leito. Ah, quem dera eu pudesse arrancar o coração do meu peito e atira-lo na correnteza, e então não haveria mais dor, nem saudade, nem lembranças. Ás margens do rio Piedra eu me sentei e chorei. O frio do inverno fez com que eu sentisse as lágrimas em meu rosto, e elas se misturaram com as aguas geladas que correm diante de mim. Em algum lugar este rio se junta com outro, depois com outro, até que - distante dos meus olhos e do meu coração - todas estas águas se misturam com o mar. Que as minhas lágrimas corram assim para bem longe, para que meu amor nunca saiba que um dia chorei por ele. Que minhas lágrimas corram para bem longe, e então eu esquecerei do rio Piedra, do mosteiro, da igreja nos Pirineus, da bruma, dos caminhos que percorremos juntos. Eu esquecerei as estradas, as montanhas, e os campos de meus sonhos - sonhos que eram meus, e que eu não conhecia.
Paulo Coelho (A orillas del rio piedra me senté y lloré)
É preciso amar o seu coração, Lisa, assim como a pessoa que você é. Somente depois disso você será capaz de entregá-lo a alguém. O amor, assim como todas as coisas mais importantes desse mundo, requer cuidado. Jamais entregue a sua felicidade nas mãos de alguém que não saberá aproveitá-la. A resposta está onde os olhos recusam a ver, mas você – Disse Lucien, tocando a mão de Lisa. –, somente você, saberá onde encontrá-la. – Explicou. – Em meu reino, na maioria das vezes ela está na lua ou no sol, na magia que reverbera pelo nosso corpo. No seu reino, acredito eu, ela está nas estrelas.
Leo Oliveira (Todos nós vemos estrelas)
Mas, assim, pensas que isto tudo é uma confusão, circo meu das palhaçadas, cabeçadas na lógica? Ainda vais rir, mas prepara também o teu coração pra chorar, a vida é mesmo esse laço apertado, tem dias que lhe conhecemos os segredos – lhe desapertamos, outros dias lutamos só, nossas derrotas e lágrimas, e ficamos a olhar: o pescador se irrita com os nós da rede? Isto tudo que eu te falo, não é efeito do álcool, não é com três nem sete que me vais derrubar; isto tudo que eu falo é assim mesmo, a mancha da confusão, labirinto, e há que descobrir as coisas no devagar das coisas: o amor não acende um fósforo sozinho.
Ondjaki (Quantas Madrugadas Tem a Noite)
mas o amor, essa palavra... Moralista Horacio, temeroso de paixões sem uma razão de águas fundas, desconcertado e arisco na cidade onde o amor se chama com todos os nomes de todas as ruas, de todas as casas, de todos os andares, de todos os quartos, de todas as camas, de todos os sonhos, de todos os esquecimentos ou recordações. amor meu, não te amo por ti nem por mim nem pelos dois juntos, não te amo porque meu sangue me faça te amar, amo te porque tu não és minha, porque tu estás do outro lado, desse lado pra onde me convidas a saltar e não posso dar o salto, porque no mais profundo de tudo tu não estás em mim, e não te alcanço, não consigo passar pra lá do teu corpo, do teu riso, há horas em que me atormento por saber que tu me amas (...) , atormento me com o teu amor que não me serve de ponte, pois uma ponte não se apoia de um só lado, Wright ou Le Corbusier jamais farão uma ponte apoiada de um só lado e não me olhes com esses olhos de pássaro, pra ti a operação do amor é muito fácil, tu ficarás curada antes de mim, e a verdade é que não amo aquilo que amas em mim.
Julio Cortázar
Parem todos os relógios, desliguem o telefone, Evitem o latido do cachorro com seu osso suculento, Silenciem os pianos e com tambores lentos Tragam o caixão, deixem que o luto chore. Deixem que os aviões voem em círculos altos Riscando no céu a mensagem: Ele Está Morto, Ponham gravatas beges no pescoço dos pombos brancos do chão, Deixem que os guardas de trânsito usem luvas pretas de algodão. Ele era meu Norte, meu Sul, meu Leste e Oeste, Minha semana útil e meu domingo inerte, Meu meio-dia, minha meia-noite, minha canção, minha fala, Achei que o amor fosse para sempre: Eu estava errado. As estrelas não são necessárias: retirem cada uma delas; Empacotem a lua e façam o sol desmanchar; Esvaziem o oceano e varram as florestas; Pois nada no momento pode algum bem causar.
W.H. Auden
Primeiro que tudo, não deixem que ninguém vos domine o corpo ou a mente. Tenham cuidado para que os vossos pensamentos permaneçam libertos. Podemos ser livres e, ainda assim, estar mais presos do que um escravo. Ouçam os homens mas não lhes dêem os vossos corações. Demonstrem respeito pelos homens de poder, mas não os sigam cegamente. Julguem com lógica e com razão, mas não comentem. Não considerem ninguém vosso superior, seja qual for a sua posição ou posto na vida. Tratem todos com justiça ou eles procurarão vingança. Tenham cuidado com o vosso dinheiro. Mantenham-se fiéis às vossas convicções, e os outros ouvir-vos-ão. Quanto às questões do amor... o meu único conselho é que sejam honestos. Essa é a vossa arma mais forte para destrancar um coração ou para obter perdão.
Christopher Paolini (Eragon (The Inheritance Cycle #1))
Depois da ventura de ter encontrado você, senti que tudo ficou diferente em minha vida. Deus colocou em minha vida uma pessoa maravilhosa, você veio para acabar com a indisfarçável carência que me acompanhava até então. A partir desse dia eu realmente me transformei numa pessoa alegre e feliz que não sente mais nenhum complexo... te quero e junto de você me sinto completamente realizada. Te amo tanto e esse amor faz de mim uma mulher que agora esta conhecendo a verdadeira felicidade. Você sim foi o responsável por toda essa transformação e não canso de dizer que você é uma pessoa linda, que corresponde satisfatoriamente ao meu amor. Agora que eu sinto toda a alegria que a sua presença traz a minha vida, espero poder estar com você para celebrar consigo a existência do nosso amor, e toda felicidade que você me proporciona.
Desconhecido
- Sim, é talvez tudo uma ilusão... E a Cidade a maior ilusão! Tão facilmente vitorioso redobrei de facúndia. Certamente, meu Príncipe, uma ilusão! E a mais amarga, porque o Homem pensa ter na Cidade a base de toda a sua grandeza e só nela tem a fonte de toda a sua miséria. (...) Na Cidade perdeu ele a força e beleza harmoniosa do corpo, e se tornou esse ser ressequido e escanifrado ou obeso e afogado em unto, de ossos moles como trapos, de nervos trémulos como arames, com cangalhas, com chinós, com dentaduras de chumbo, sem sangue, sem febra, sem viço, torto, corcunda - esse ser em que Deus, espantado, mal pode reconhecer o seu esbelto e rijo e nobre Adão! Na Cidade findou a sua liberdade moral: cada manhã ela lhe impõe uma necessidade, e cada necessidade o arremessa para uma dependência: pobre e subalterno, a sua vida é um constante solicitar, adular, vergar, rastejar, aturar; e rico e superior como um Jacinto, a Sociedade logo o enreda em tradições, preceitos, etiquetas, cerimónias, praxes, ritos, serviços mais disciplinares que os de um cárcere ou de um quartel... A sua tranquilidade (bem tão alto que Deus com ela recompensa os santos ) onde está, meu Jacinto? Sumida para sempre, nessa batalha desesperada pelo pão, ou pela fama, ou pelo poder, ou pelo gozo, ou pela fugidia rodela de ouro! Alegria como a haverá na Cidade para esses milhões de seres que tumultuam na arquejante ocupação de desejar - e que, nunca fartando o desejo, incessantemente padecem de desilusão, desesperança ou derrota? Os sentimentos mais genuinamente humanos logo na Cidade se desumanizam! Vê, meu Jacinto! São como luzes que o áspero vento do viver social não deixa arder com serenidade e limpidez; e aqui abala e faz tremer; e além brutamente apaga; e adiante obriga a flamejar com desnaturada violência. As amizades nunca passam de alianças que o interesse, na hora inquieta da defesa ou na hora sôfrega do assalto, ata apressadamente com um cordel apressado, e que estalam ao menor embate da rivalidade ou do orgulho. E o Amor, na Cidade, meu gentil Jacinto? Considera esses vastos armazéns com espelhos, onde a nobre carne de Eva se vende, tarifada ao arratel, como a de vaca! Contempla esse velho Deus do Himeneu, que circula trazendo em vez do ondeante facho da Paixão a apertada carteira do Dote! Espreita essa turba que foge dos largos caminhos assoalhados em que os Faunos amam as Ninfas na boa lei natural, e busca tristemente os recantos lôbregos de Sodoma ou de Lesbos!... Mas o que a cidade mais deteriora no homem é a Inteligência, porque ou lha arregimenta dentro da banalidade ou lha empurra para a extravagância. Nesta densa e pairante camada de Idéias e Fórmulas que constitui a atmosfera mental das Cidades, o homem que a respira, nela envolto, só pensa todos os pensamentos já pensados, só exprime todas as expressões já exprimidas: - ou então, para se destacar na pardacenta e chata rotina e trepar ao frágil andaime da gloríola, inventa num gemente esforço, inchando o crânio, uma novidade disforme que espante e que detenha a multidão como um monstrengo numa feira. Todos, intelectualmente, são carneiros, trilhando o mesmo trilho, balando o mesmo balido, com o focinho pendido para a poeira onde pisam, em fila, as pegadas pisadas; - e alguns são macacos, saltando no topo de mastros vistosos, com esgares e cabriolas. Assim, meu Jacinto, na Cidade, nesta criação tão antinatural onde o solo é de pau e feltro e alcatrão, e o carvão tapa o céu, e a gente vive acamada nos prédios como o paninho nas lojas, e a claridade vem pelos canos, e as mentiras se murmuram através de arames - o homem aparece como uma criatura anti-humana, sem beleza, sem força, sem liberdade, sem riso, sem sentimento, e trazendo em si um espírito que é passivo como um escravo ou impudente como um Histrião... E aqui tem o belo Jacinto o que é a bela Cidade! (...) -Sim, com efeito, a Cidade... É talvez uma ilusão perversa!
Eça de Queirós (A Cidade e as Serras)
Eu espero alguém que não desista de mim mesmo quando já não tem interesse. Espero alguém que não me torture com promessas de envelhecer comigo, mas sim que realmente envelheça comigo. Espero alguém que se orgulhe do que escrevo, que me faça ser mais amigo dos meus amigos e mais irmão do meu irmão. Espero alguém que não tenha medo do escândalo, mas tenha medo da indiferença. Espero alguém que ponha bilhetinhos dentro daqueles livros que vou ler até o fim. Espero alguém que se arrependa rápido de suas grosserias e me perdoe sem querer. Espero alguém que me avise que estou repetindo a roupa na semana. Espero alguém que nunca abandone a conversa quando não sei mais o que falar. Espero alguém que, nos jantares entre os amigos, dispute comigo para contar primeiro como nos conhecemos. Espero alguém que goste de dirigir para nos revezarmos em longas viagens. Espero alguém disposto a conferir se a porta está fechada e o fogão desligado, se meu rosto está aborrecido ou esperançoso. Espero alguém que prove que amar não é contrato, que o amor não termina com nossos erros. Espero alguém que não se irrite com a minha ansiedade. Espero alguém que possa criar toda uma linguagem cifrada para que ninguém nos recrimine. Espero alguém que arrume ingressos de teatro de repente, que me sequestre ao cinema, que cheire meu corpo suado depois de uma corrida como se ainda fosse perfume. Espero alguém que não largue as mãos dadas nem para coçar o rosto. Espero alguém que me olhe demoradamente quando estou distraído, que me telefone para narrar como foi seu dia. Espero alguém que procure um espaço acolchoado em meu peito. Espero alguém que minta que cozinha e só diga a verdade depois que comi. Espero alguém que leia uma notícia, veja que haverá um show de minha banda predileta, e corra para me adiantar por e-mail. Espero alguém que ame meus filhos como se estivesse reencontrando minha infância e adolescência fora de mim. Espero alguém que fique me chamando para dormir, que fique me chamando para despertar, que não precise me chamar para amar. Espero alguém com uma vocação pela metade, uma frustração antiga, um desejo de ser algo que não se cumpriu, uma melancolia discreta, para nunca ser prepotente. Espero alguém que tenha uma risada tão bonita que terei sempre vontade de ser engraçado. Espero alguém que comente sua dor com respeito e ouça minha dor com interesse. Espero alguém que prepare minha festa de aniversário em segredo e crie conspiração dos amigos para me ajudar. Espero alguém que pinte o muro onde passo, que não se perturbe com o que as pessoas pensam a nosso respeito. Espero alguém que vire cínico no desespero e doce na tristeza. Espero alguém que curta o domingo em casa, acordar tarde e andar de chinelos, e que me pergunte o tempo antes de olhar para as janelas. Espero alguém que me ensine a me amar porque a separação apenas vem me ensinando a me destruir. Espero alguém que tenha pressa de mim, eternidade de mim, que chegue logo, que apareça hoje, que largue o casaco no sofá e não seja educada a ponto de estendê-lo no cabide. Espero encontrar uma mulher que me torne novamente necessário.
Fabrício Carpinejar
Mas em meio a essa serena felicidade me invadia, de quando em vez, uma profunda tristeza, pois sabia muito bem que isso não podia durar muito. Meu destino não era viver em paz e na abundância, mas na agitação e no tormento. Sentia que mais cedo ou mais tarde haveria de despertar daquelas gratas imagens de amor e achar-me novamente só, inteiramente isolado no mundo frio dos demais, onde só havia para mim luta e solidão e nunca amor ou compaixão.
Hermann Hesse (Demian (Clasicos Juveniles) (Spanish Edition))
Dizias: «adeus» e saías da minha vida com um aperto de mão desembaraçado, quase cordial um gesto de boa camarada, como se nada tivesse havido antes, como se não tivéssemos sido tantas vezes na cama, um dentro do outro, um no outro, um-outro diferente, uma coisa sublime: Deus Criador, como os míseros humanos só ali o podem sentir e saber; um Outro que éramos nós ainda, mas tão transtornados, tão virados para fora de nós, tão esquecidos do mundo e de nós, tão eficazes, tão leais, nós boca com boca, corpo a corpo, um sexo torturando um sexo, mordendo-se devorando-se, numa febre de chegar ao fim depressa, ao esquecimento, ao repouso. Disseste: adeus e eu odiei-te logo nesse minuto, como te odeio agora, não por ti ou pelo corpo que já me esqueceu noutros que vieram depois, mas porque morri ali naquela palavra, - morri entendes? -, perdi-me numa grande confusão, esqueci-me de ser eu, fiquei roubado do meu passado.
Luiz Pacheco (O Homem que Calculava, A Casa Velha & Carta a Fátima)
Lembro-me de estar destroçada, de te ter arrancado de dentro de mim a ferros e, ainda assim, um braço teu ficou para trás. Lembro-me de abrir o meu diário em papel, furiosa porque tinha jurado que não escreveria nem mais uma linha a teu propósito, e escrever «durante o dia, bano-te do meu pensamento, mas todas as noites, é a teu lado que me deito, e nos teus braços que adormeço, e é a minha mão que agarro, fingindo que é a tua». (… ) Mas não é de ontem, quando abro a cama, peço-te que te chegues para lá. Deito-me e imagino que estás lá, cansado, extenuado de um dia de trabalho, quase sinto a tua respiração na minha nuca. Imagino que me dizes tudo aquilo que eu queria ouvir, mas não me alongo nisso, é mais íntimo ainda, o que queres ouvir de alguém é mais do que o que esperas dessa pessoa: é o segredo de quem és, de como és e do que queres da vida, na sua voz (…) Encho o peito de ar, subo, subo, subo, amo-te amo-te amo-te, sei-o tão bem, sei até que é para sempre, embora faça figas para que não seja (…) Não posso não posso não posso imaginar que o ar me vai fugir outra vez, que a qualquer momento os meios de informação vão trazer até mim aquele género de notícia que quase me mata - foram ao cinema, saíram juntos, comeram-se, foderam-se, falaram-se - eu disse quase, porque não matou. É verdade que foram muitas lágrimas, muitas reformulações de planos de vida e castelos de cartas a vir por aí abaixo, o jogo virou, e eu perdi. Uma vez mais, e os escritos pararam: o meu diário ficou a branco, o espaço virtual onde nos escrevia acabou com uma nota lúgubre na qual anunciei a minha morte. Estive de luto por mim mesma, estive sim. Doía-me o peito como me dói agora, ao recordar, a falta de ar, o choro compulsivo, os pensamentos sombrios, desesperados, como se nunca mais o sol nascesse no oriente e eu nunca mais o provasse, o sentisse nas costas, como se o mundo tivesse acabado ali, pelo menos o meu tinha, o assombro, os sentimentos, todos baralhados, como se me devesses alguma coisa quando não devias, como se me tivesses dado motivos para te amar tanto quando não me deste, como se quisesses o meu amor e depois o tivesses rejeitado, quando nunca o quiseste. E eu fechei as portas do meu recinto, pus panos negros nas janelas, anunciei que não estava. As pessoas bateram-me à porta, esconderam-me verdades que teriam acabado comigo naquele momento, compraram-me chocolates, secaram-me lágrimas com rosas. morri ali, é a verdade. (…) Mas a fé, a minha maldita fé de quem não acredita em deus e canalizou toda a sua crença nas causas impossíveis, deu-me ar, e mais ar, e subi a montanha, talvez nunca a tivesse subido tanto, julguei que via tudo lá de cima, tudo: falavam em auras, ao nosso redor, falavam na nossa perfeição, enquanto dupla, diziam que «não podia ser de outra forma», que «não se pode estar assim tão enganado», que me amas, imagina só a dimensão da loucura geral, que me amas mas que não tens espaço para mim, e eu, com o peito de cheio de ar, cheguei ao topo e comecei a voar (…) Já sonhaste alguma vez que caías? Eu já, é uma dor na boca do estômago, como se tudo te fugisse, como se o teu corpo se desmantelasse, como se o mundo inteiro implodisse para dentro de ti e soubesses que ias rebentar, ao mínimo toque de um objecto, de um elemento que não o ar, vais rebentar. Estou à espera que venham as abelhas, as orquídeas, os pés descalços na terra húmida, um livro, uns óculos, um copo vazio na mesa-de-cabeceira, e me faça explodir. Entretanto (…) vou imaginar que não estou a cair, que tal? Ao invés (…) vou deitar-me na minha caminha quentinha e imaginar que as tuas pernas se entrelaçam nas minhas e me aquecem os pés gelados e a tua voz, sonolenta, diz: “boa noite, dorme bem”, para eu poder responder-te também – “dorme bem, meu amor”.»
Célia Correia Loureiro
Já repeti o antigo encantamento, E a grande Deusa aos olhos se negou. Já repeti, nas pausas do amplo vento, As orações cuja alma é um ser fecundo. Nada me o abismo deu ou o céu mostrou. Só o vento volta onde estou toda e só, E tudo dorme no confuso mundo. "Outrora meu condão fadava, as sarças E a minha evocação do solo erguia Presenças concentradas das que esparsas Dormem nas formas naturais das coisas. Outrora a minha voz acontecia. Fadas e elfos, se eu chamasse, via. E as folhas da floresta eram lustrosas. "Minha varinha, com que da vontade Falava às existências essenciais, Já não conhece a minha realidade. Já, se o círculo traço, não há nada. Murmura o vento alheio extintos ais, E ao luar que sobe além dos matagais Não sou mais do que os bosques ou a estrada. "Já me falece o dom com que me amavam. Já me não torno a forma e o fim da vida A quantos que, buscando-os, me buscavam. Já, praia, o mar dos braços não me inunda. Nem já me vejo ao sol saudado ergUida, Ou, em êxtase mágico perdida, Ao luar, à boca da caverna funda. "Já as sacras potências infernais, Que, dormentes sem deuses nem destino, À substância das coisas são iguais, Não ouvem minha voz ou os nomes seus. A música partiu-se do meu hino. Já meu furor astral não é divino Nem meu corpo pensado é já um deus. "E as longínquas deidades do atro poço, Que tantas vezes, pálida, evoquei Com a raiva de amar em alvoroço, lnevocadas hoje ante mim estão. Como, sem que as amasse, eu as chamei, Agora, que não amo, as tenho, e sei Que meu vendido ser consumirão. "Tu, porém, Sol, cujo ouro me foi presa, Tu, Lua, cuja prata converti, Se já não podeis dar-me essa beleza Que tantas vezes tive por querer, Ao menos meu ser findo dividi Meu ser essencial se perca em si, Só meu corpo sem mim fique alma e ser! "Converta-me a minha última magia Numa estátua de mim em corpo vivo! Morra quem sou, mas quem me fiz e havia, Anônima presença que se beija, Carne do meu abstrato amor cativo, Seja a morte de mim em que revivo; E tal qual fui, não sendo nada, eu seja!
Fernando Pessoa
O amor era cheio de janelas abertas, correntes de ar, milhões de bactérias , fontes de medos, milhões de deimos, o amor podia destruir as paredes que erigíamos com tanto esmero, o amor podia até abraçar o estrangeiro, a distância, podia destruir toda a ética, deixar-nos à mercê do insólito, do inesperado, do horror da surpresa. A minha noção de amor, na juventude, era uma noção de propriedade. Se era algo que podia fazer parte da casa e da sua perpetuação, muito bem, poderia ser considerado. De outro modo, era uma fera, uma ferida, uma doença, tal como o meu pai me ensinara: o amor constrói-se, por isso a escolha deve ser racional e não passional, escolhemos uma pessoa adequada e depois vamos criando um edifício amoroso. O amor que nasce do ímpeto sentimental ou carnal é perigoso. É um ladrão de sobriedade e de objectividade. Barbarifica-nos. Temos de olhar para ele como quem olha para a porta e vê o que está do lado de fora. A passos, devagar e ponderadamente, vai arriscando, conquistando território selvagem e domesticando-o. A exaltação é para as galinhas. Os seres humanos decidem com ponderação, é tão simples quanto isso, não cacarejam nervosos.
Afonso Cruz (Princípio de Karenina (Geografias, #1))
CONSOLO NA PRAIA Vamos, não chores… A infância está perdida. A mocidade está perdida. Mas a vida não se perdeu. O primeiro amor passou. O segundo amor passou. O terceiro amor passou. Mas o coração continua. Perdeste o melhor amigo. Não tentaste qualquer viagem. Não possuis casa, navio, terra. Mas tens um cão. Algumas palavras duras, em voz mansa, te golpearam. Nunca, nunca cicatrizam. Mas, e o humour? A injustiça não se resolve. À sombra do mundo errado murmuraste um protesto tímido. Mas virão outros. Tudo somado, devias precipitar-te — de vez — nas águas. Estás nu na areia, no vento… Dorme, meu filho.
Carlos Drummond de Andrade (Daqui Estou Vendo o Amor)
... Eu me desnudo emocionalmente quando confesso minha carência – que estarei perdido sem você, que não sou necessariamente a pessoa independente que tentei aparentar. Na verdade, não passo de um fraco, cuja noção dos rumos ou do significado da vida é muito restrita. Quando choro e lhe conto coisas que, confio, serão mantidas em segredo, coisas que me levarão à destruição, caso terceiros tomem conhecimento delas, quando vou a festas e não me entrego ao jogo da sedução porque reconheço que só você me interessa, estou me privando de uma ilusão há muito acalentada de invulnerabilidade. Me torno indefeso e confiante como a pessoa no truque circense, presa a uma prancha sobre a qual um atirador de facas exercita sua perícia e as lâminas que eu mesmo forneci passam a poucos centímetros da minha pele. Eu permito que você assista a minha humilhação, insegurança e tropeços. Exponho minha falta de amor-próprio, me tornando, dessa forma, incapaz de convencer você (seria realmente necessário?) a mudar de atitude. Sou fraco quando exibo meu rosto apavorado na madrugada, ansioso ante a existência, esquecido das filosofias otimistas e entusiasmadas que recitei durante o jantar. Aprendi a aceitar o enorme risco de que, embora eu não seja uma pessoa atraente e confiante, embora você tenha a seu dispor um catálogo vasto de meus medos e fobias, você pode, mesmo assim, me amar...
Alain de Botton (The Romantic Movement: Sex, Shopping, and the Novel)
- Então que lhe ensinava você, abade, se eu lhe entregasse o rapaz? Que se não deve roubar o dinheiro das algibeiras, nem mentir, nem maltratar os inferiores, por que isso é contra os mandamentos da lei de Deus, e leva ao inferno, hein? É isso?... - Há mais alguma coisa... - Bem sei. Mas tudo isso que você lhe ensinaria que se não deve fazer, por ser um pecado que ofende a Deus, já ele sabe que se não deve praticar, por que é indigno dum cavalheiro e dum homem de bem... - Mas, meu senhor... - Ouça abade. Toda a diferença é essa. Eu quero que o rapaz seja virtuoso por amor da virtude e honrado por amor da honra; mas não por medo ás caldeiras de Pero Botelho, nem com o engodo de ir para o reino do céu...
Eça de Queirós (Os Maias)
Nessa altura, vários mitos eram criados pelos jovens das carrinhas de fumo e das florestas de cogumelos alucinogénios, os famintos pela sede do ácido lisérgico, que estavam demasiado cansados do sofrimento em que cresceram e que precisavam de se refugiar nos sonhos. No universo destas crianças, corriam histórias inacreditáveis sobre os locais nas montanhas que as mulheres procuravam para se refugiar, sítios onde as pessoas se uniam pela música e pelo amor, para um crescimento espiritual mútuo. Para a tia Jeanine, que já tinha crescido com a imagem do pai sem um pé devido à guerra, alimentar-se dessas histórias parecia um refúgio, que ela mais tarde tentaria transformar em casa. E uma dessas histórias, particularmente uma, ficou-lhe na memória até à última fase da sua vida, quando veio a falecer aos oitenta e um anos, queimada pelo fogo. (...) Naquela altura, miúdo, diziam que, se procurássemos bem, íamos encontrar um sítio onde o mundo não acabaria. Os homens nunca iriam saber que raio de sítio era aquele, totalmente indomável! Um sítio onde as mãos porcas dos homens não chegariam. Um sítio sobre o qual os homens nunca saberiam nada. Não achas que consegui? Ter o meu corpo a desaparecer na floresta, como vi acontecer aos miúdos no Japão, na floresta Aokighara que os engole para o seu âmago. A carne reduzida a pó, a minha essência a desaparecer no meio da vida. Eles diziam que, quando morres num sítio, ficas nesse sítio para sempre. Era por isso que toda a gente tinha medo de ir para a guerra. Não era de morrer que eles tinham medo, miúdo, era de morrer lá.
Pat R (Os Homens Nunca Saberão Nada Disto)
Naquela noite, enquanto esperava (bordando, vendo a neve cair, ouvindo Chopin e Elgar) que meu inglês apaixonado e instável aparecesse, eu de repente me conscientizei de como a música me parecia clara e tocante; como era de uma beleza extrema e melancólica o fato de eu observar a neve e esperar por ele. Eu estava sentindo mais beleza, mas também mais tristeza de verdade. Quando ele surgiu - elegante, acabando de chegar de um jantar de cerimônia, de smoking, com uma echarpe de seda branca jogada de qualquer jeito em volta do pescoço e uma garrafa de champanhe na mão - pus para tocar a sonata póstuma para piano em si-bemol, D. 960, de Schubert. Seu erotismo belíssimo e obsessivo me encheu de emoção e me fez chorar. Chorei pela contundência de toda a emoção que eu havia perdido sem saber, e chorei pelo prazer de voltar a vivenciá-la. Até hoje, não consigo ouvir essa obra sem me sentir cercada pela linda tristeza daquela noite, pelo amor que eu tinha o privilégio de conhecer e pela lembrança do equilíbrio precário que existe entre a sanidade e um sufocamento sutil e terrível dos sentidos.
Kay Redfield Jamison (An Unquiet Mind: A Memoir of Moods and Madness)
No mais fundo de ti, eu sei que traí, mãe Tudo porque já não sou o retrato adormecido no fundo dos teus olhos. Tudo porque tu ignoras que há leitos onde o frio não se demora e noites rumorosas de águas matinais. Por isso, às vezes, as palavras que te digo são duras, mãe, e o nosso amor é infeliz. Tudo porque perdi as rosas brancas que apertava junto ao coração no retrato da moldura. Se soubesses como ainda amo as rosas, talvez não enchesses as horas de pesadelos. Mas tu esqueceste muita coisa; esqueceste que as minhas pernas cresceram, que todo o meu corpo cresceu, e até o meu coração ficou enorme, mãe! Olha — queres ouvir-me? — às vezes ainda sou o menino que adormeceu nos teus olhos; ainda aperto contra o coração rosas tão brancas como as que tens na moldura; ainda oiço a tua voz: Era uma vez uma princesa no meio de um laranjal... Mas — tu sabes — a noite é enorme, e todo o meu corpo cresceu. Eu saí da moldura, dei às aves os meus olhos a beber, Não me esqueci de nada, mãe. Guardo a tua voz dentro de mim. E deixo-te as rosas. Boa noite. Eu vou com as aves.
Eugénio de Andrade (Os Amantes Sem Dinheiro: Poemas)
As mãos de Zahara apertaram fortemente a saia. - Vais infligir-me a humilhação de ser eu a dizê-lo? Lochan levantou-se. - Jamais desejaria que te humilhasses. Eu sei, sei-o há já demasiado tempo. Zahara sentiu o coração pular. - Se o sabes, porque nunca… - Esquece-me, Zahara, pois não sinto o mesmo – interrompeu ele. Ela recuou. - Mentes… Porquê? Eu sei… O modo como me tratas, como me olhas. Eu sei que gostas de mim, vejo-o no teu olhar, vejo-o neste instante! Lochan sentiu os olhos dela mergulharem nos seus. - Durante anos foram-me apresentados pretendentes das mais nobres famílias – ouviu – Todos me dariam o conforto a que estava habituada, todos me cobririam de jóias, de vestidos luxuosos... no entanto, eu recusava-os. Recusava-os porque não via nada no seu olhar. Para eles, eu seria como um troféu, serviria apenas para provocar inveja. Uma nuvem cobriu o sol, deixando-os na sombra. - Inconscientemente tornei-me arrogante, altiva, somente para os afastar de mim, para que não desejassem casar-se com alguém como eu… Mas tu, tu viste para além da máscara que construí. Naquele dia, na capital, tu viste o que ninguém foi capaz de ver: o meu coração. - Zahara… - Não acredito que não sintas qualquer amor por mim. Lochan voltou-lhe as costas. - Não quero saber se és pobre, não me importo com o teu passado. O que sinto por ti é o que sempre desejei sentir – ouviu. O silêncio envolveu-os por momentos. - Lamento… Zahara correu para a frente dele. No seu olhar era visível desespero. - Não te agrado, é isso? Ele limitou-se a desviar o rosto. - Responde-me! - Como poderia ficar indiferente a alguém como tu – disse voltando a olhar nos olhos dela. - Então porquê, porquê? Lochan agarrou-lhe nos ombros, assustando-a. - Esquece-me por favor. Odeia-me. Odeia-me por isto com todas as tuas forças, mas não me ames, nunca me ames, Zahara. Lochan largou-lhe os ombros. Ela ficou sem reacção, e as lágrimas voltaram a molhar o seu rosto. - Não me faças isto… - implorou. O olhar dele tornou-se gélido. O seu rosto mostrava-se agora tão indecifrável, como o de uma estátua. - Odeia-me pelo sofrimento que te acabo de causar e depois esquece-me – disse deixando-a só. Zahara viu-o desaparecer por entre as colunas do palácio.
Susana M. Almeida (O Renascer (Estrela de Nariën, #2))
The phone rang and Chassie excused herself to answer it. Silence hung between them as heavy as snow clouds in a winter sky. Eventually, Edgard said, "She doesn't know anything about me. Not even that we were roping partners. Not that we were..." He looked at Trevor expectantly. "No." Trevor quickly glanced at the living room where Chassie was chattering away. "You surprised?" "Maybe that she isn't aware of our official association as roping partners. There was no shame in that. We were damn good together, Trev." The word shame echoed like a slap. As good as they were together, it'd never been enough, in an official capacity or behind closed doors. "What are you really doin' here?" Edgard didn't answer right away. "I don't know. Feeling restless. Had the urge to travel." "Wyoming ain't exactly an exotic port of call." "You think I don't realize that? You think I wouldn't rather be someplace else? But something..." Edgard lowered his voice. "Ah, fuck it." "What?" "Want the truth? Or would you rather I lie?" "The truth." "Truth between us? That's refreshing." Edgard's gaze trapped his. "I'm here because of you." Trevor's heart alternately stopped and soared, even when his answer was an indiscernible growl. "For Christsake, Ed. What the hell am I supposed to say to that? With my wife in the next room?" "You're making a big deal out of this. She thinks we're friends, which ain't a lie. We were partners before we were..." Edgard gestured distractedly. "If she gets the wrong idea, it won't be from me." "Maybe I'm gettin' the wrong idea. The last thing you said to me when you fuckin' left me was that you weren't ever comin' back. And you made it goddamn clear you didn't want to be my friend. So why are you here?" Pause. He traced the rim of his coffee cup with a shaking fingertip. "I heard about you gettin' married." "That happened over a year ago and you came all the way from Brazil to congratulate me in person? Now?" "No." Edgard didn't seem to know what to do with his hands. He raked his fingers through his hair. His voice was barely audible. "Will it piss you off if I admit I was curious about whether you're really happy, meu amore?" My love. My ass. Trevor snapped, "Yes." "Yes, you're pissed off? Or yes, you're happy?" "Both." "Then this is gonna piss you off even more." "What?" "Years and miles haven't changed anything between us and you goddamn well know it." Trevor looked up; Edgard's golden eyes were laser beams slicing him open. "It don't matter. If you can't be my friend while you're in my house, walk out the fuckin' door. I will not allow either one of us to hurt my wife. Got it?" "Yeah." "Good. And I'm done talkin' about this shit so don't bring it up again. Ever.
Liz Andrews
«Sabe, meu amor, que te amo. E que te amarei até morrer. É por isso que todo o resto me parece tão pouco, um nada imenso de nenhum valor. Sabe que te choro e te venero, e sobretudo que te espero. E sabe que te vejo, com olhos de quem vê, e que te conheço, como só conhece um livro quem o lê. Sabe que à amargura dos dias subtraí a doçura de te ter. Sim, o cintilar da vida, ao meu redor, por te ter. Por saber-te nunca muito longe, embora raramente aqui. por saber que, nos teus olhos - laivos de mel e coisas mais profundas, lucidez e racionalidade - leio que também me lês. Deslizemos agora para o silêncio, perfeição. Não vejo já necessidade de prender a tua mão, pois que sinto que te prendi. Ao teu olhar, que se enreda no meu. que estranhas asas povoam as minhas entranhas, murmuram a meus ouvidos. que grande és, que tola sou. Sabe, meu amor, que tenho plena consciência das nossas dimensões. Basta-me ter-te assim, como te tenho, para seguir pela vida a sorrir. Em mim não se apagarão mais luzes, em mim, à noite, acendem-se as estrelas. Fosse eu firmamento, e tu o cimento com que se constrói o mundo. Sem nós, nada. Reservatório de tudo. Conheço-te, milagre maior, e tenho-te, não podia ter-te melhor. Porque caminhas a meu lado, não acorrentado a mim. Porque me beijas a testa e porque te louvo as mãos. Homem honesto. Amor maior. Porque me guias na escuridão das ingenuidades - resquícios da infância - e porque não me apontas caminhos, descreves-me paisagens. Sim e não, talvez e também. Veremos o que dali vem. E eu, a teu lado, que tola sou, pequena e feliz, que feliz é quem amou assim um grande amor. Ecos de palavras, distantes. Que importa se não somos amantes? Se nunca o seremos? Sei que te amo e, nalguma linguagem, sei que me amas também. Se é na matemática dos racionais, se na pureza dos amigos, se no secretismo dos poetas, isso não sei. Sei que te carrego em mim e que, se fechar os olhos, me sorris. Estás comigo a todo o instante. Não te guardo em caixas, fotografias ou objectos. Caberias lá tu em caixas, mundo, permanecerias lá tu imóvel, como os objectos, vida. Quanto muito, vejo-te às vezes num livro cá por casa. Mas sei-te, e sei-te quase de cor. Não quero saber-te, na totalidade ou de cor. Não o poderia, é inalcançável. Tão grande és tu, que não acabas. Em mim nunca acabarás. A felicidade que a tua volta me trouxe. E sabe que vou chorar, «a cada ausência tua eu vou chorar». Mas não lágrimas; é paixão, fogo, urgência. Coisa física, átomos de energia em colisão. Ainda assim, ter-te-ei aqui, para seguir pela vida a sorrir. A cada vez que afastar os lençóis, pedir-te-ei que te chegues para lá. E ainda que a tua boca nunca sobre a minha pouse, e ainda que nunca venhas a sorrir enquanto te beijo, sabe, meu amor, que te amo, e que te amarei até morrer. Com a certeza de quem quer viver, de quem quer seguir, a vida inteira, com a alma enredada na tua. Que o teu chá seja fervido da minha chaleira, e que os teus livros disputem com os meus o espaço da prateleira. Meu amor, sabe que te amarei a vida inteira.»
Célia Correia Loureiro (Os Pássaros)
Não é com a mente aquisitiva e possessiva, acumulação de conhecimentos intelectuais, que se chega à Sabedoria. A mente aquisitiva aumenta a erudição, mas a Sabedoria não é erudição. Pode-se ser erudito e não sábio, e sábio sem ser erudito. Nossa mente, através dos tempos, adquiriu grande experiência em defender e proteger o eu, criando um sistema de segurança em todos os setores de nossa atividade: física, material, econômica, afetiva e intelectual, através de nossos apegos a conceitos, credos, teorias, sistemas filosóficos etc. Essas acumulações nada significam, são limitações do nosso pensamento vinculado a condicionamentos. É imprescindível que a mente possa receber o novo, o desconhecido, sem pretender amoldá-lo, ajustá-lo aos condicionamentos do passado. O apego às acumulações do passado, significa condicionamento ao tempo, e jamais, dentro do tempo, se poderá compreender o Eterno (Incondicionado). Só quando a mente se libertar de toda e qualquer acumulação do passado, o pensamento poderá ser criador, capaz de reto pensar e chegar à Sabedoria. Pela ignorância, a idéia de apego surge no homem comum não esclarecido, porque o ego, pela insatisfatoriedade, tende sempre a se preencher, se completar e se expandir. Assim, preenchemos e completamos nosso ego psicologicamente pela esposa, filhos (os filhos pelos pais), amigos, pelo clube a que pertencemos, pelo país em que vivemos etc. Todos nós nos completamos psicologicamente porque somos dependentes uns dos outros. Porém esta união, que nos completa, que nos traz felicidade, é algo muito precário. Pela natureza impermanente desta existência, não se pode manter esta união e felicidade indefinidamente, mais cedo ou mais tarde há uma separação inevitável e isto é sofrimento. Porém, quando, pelo autoconhecimento e progresso espiritual, vamos compreendendo gradativamente as Quatro Nobres Verdades, os fenômenos que caracterizam a existência (Impermanência, Insatisfatoriedade e Impessoalidade), o que é a Sabedoria, então não vamos mais nos completar psicologicamente. Continuaremos a amar os outros de uma maneira mais correta, e o apego irá se manifestando cada vez mais fracamente. O amor no homem comum está sempre ligado ao apego, há sempre a idéia de propriedade: "meu filho", "meu marido", "minha esposa", "meu pai", etc. Este amor é inseparável do apego. Quando, pelo desenvolvimento da Sabedoria, vamos ganhando essa capacidade de amar sem nos apegar, há verdadeira felicidade, porque amamos sem nos escravizar aos outros e às coisas. Gradativamente, nos tornamos a nossa própria lanterna, não mais dependendo dos outros para nos completar psicologicamente.
Georges da Silva (Budismo: Psicologia do Autoconhecimento)
Saudades Sinto saudades de tudo que marcou a minha vida. Quando vejo retratos, quando sinto cheiros, quando escuto uma voz, quando me lembro do passado, eu sinto saudades... Sinto saudades de amigos que nunca mais vi, de pessoas com quem não mais falei ou cruzei... Sinto saudades da minha infância, do meu primeiro amor, do meu segundo, do terceiro, do penúltimo e daqueles que ainda vou ter, se Deus quiser... Sinto saudades do presente, que não aproveitei de todo, lembrando do passado e apostando no futuro... Sinto saudades do futuro, que se idealizado, provavelmente não será do jeito que eu penso que vai ser... Sinto saudades de quem me deixou e de quem eu deixei! De quem disse que viria e nem apareceu; de quem apareceu correndo, sem me conhecer direito, de quem nunca vou ter a oportunidade de conhecer. Sinto saudades dos que se foram e de quem não me despedi direito! Daqueles que não tiveram como me dizer adeus; de gente que passou na calçada contrária da minha vida e que só enxerguei de vislumbre! Sinto saudades de coisas que tive e de outras que não tive mas quis muito ter! Sinto saudades de coisas que nem sei se existiram. Sinto saudades de coisas sérias, de coisas hilariantes, de casos, de experiências... Sinto saudades do cachorrinho que eu tive um dia e que me amava fielmente, como só os cães são capazes de fazer! Sinto saudades dos livros que li e que me fizeram viajar! Sinto saudades dos discos que ouvi e que me fizeram sonhar, Sinto saudades das coisas que vivi e das que deixei passar, sem curtir na totalidade. Quantas vezes tenho vontade de encontrar não sei o que... não sei onde... para resgatar alguma coisa que nem sei o que é e nem onde perdi... Vejo o mundo girando e penso que poderia estar sentindo saudades Em japonês, em russo, em italiano, em inglês... mas que minha saudade, por eu ter nascido no Brasil, só fala português, embora, lá no fundo, possa ser poliglota. Aliás, dizem que costuma-se usar sempre a língua pátria, espontaneamente quando estamos desesperados... para contar dinheiro... fazer amor... declarar sentimentos fortes... seja lá em que lugar do mundo estejamos. Eu acredito que um simples "I miss you" ou seja lá como possamos traduzir saudade em outra língua, nunca terá a mesma força e significado da nossa palavrinha. Talvez não exprima corretamente a imensa falta que sentimos de coisas ou pessoas queridas. E é por isso que eu tenho mais saudades... Porque encontrei uma palavra para usar todas as vezes em que sinto este aperto no peito, meio nostálgico, meio gostoso, mas que funciona melhor do que um sinal vital quando se quer falar de vida e de sentimentos. Ela é a prova inequívoca de que somos sensíveis! De que amamos muito o que tivemos e lamentamos as coisas boas que perdemos ao longo da nossa existência...
Wagner Luiz Marques (COLETÂNEA DE HISTÓRIAS: PARA A CONSCIÊNCIA E O SUCESSO INTERNO DE CADA PESSOA)