Final Sem Quotes

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Na verdade é terrível - disse e escreveu o Velho. - Isso significa o final sem final. Vamos entrar no círculo do Eterno Retorno. E dele ninguém pode fugir.
Michael Ende (The Neverending Story)
Compreendera então, julgo, a natureza da minha situação. A solidão de um é amenizada pela solidão de outro, e deste modo, mesmo na miséria, existe uma espécie de partilha, de comunhão, a que não se pode dar o nome de alegria mas algo como um encolher de ombros. O estudante franzino fora durante os meus primeiros meses de isolamento esse encolher de ombros, a minha resignação perante a brutalidade daquilo que me acontecera. Que ele tivesse alguém e eu não perturbava-me, colocava um entrave à nossa amizade, um ponto final no nosso monólogo. De uma certa maneira que não sei explicar senão com palavras incoerentes, até então tinha sido como se eu tivesse dado um passo ao lado que me tivesse feito sair do mundo, um pequeno passo discreto e silencioso de retirada. Após essa noite, o mundo notou a minha falta e deu também ele um passo ao lado, mas um passo do mundo é muito maior do que um passo dos nossos, e num certo sentido eu fiquei atrás das coisas, deslocado.
João Tordo (O Livro dos Homens sem Luz)
Olavismo. 1. Estilo de pensamento filosófico muito peculiar, que substitui o argumento pelo xingamento e o conceito pelo palavrão. 2. Fruto da expansão dos meios tecnológicos de informação, que, utilizando selfies e vídeos autoproduzidos, deixam aparecer na rede pessoas como se fossem “professores” e “intelectuais”, posando nas telas ao terem no fundo estantes decoradas com livros mal lidos e mal compreendidos. 3. Nome de uma corrente de fake-pensamento. "4. Expressão oriunda da composição de “Olá” e “revanchismo”, combinando alguém que chega de repente para dar a ideia aos governantes sem ideias de en-direitar o país com rifles e rifas e quem se sentiu a vida toda complexado por nunca ter conseguido entender o que é uma ideia e muito menos uma filosofia. 5. Nome da corrente ideológica que seduz, encanta e lidera o bando de ressentidos do país. 6. Uma forma bem específica de saudosismo: saudades da era medieval, saudades da teocracia, saudades de D. Pedro, saudades dos bons costumes. 7. Modo borrágico de expressar opiniões que procuram, em tese, chocar o senso comum, mas que nada mais fazem além de corroborar o pior dos sensos (o qual, infelizmente, muitas vezes é comum e quase sempre predominou ao longo da história). 8. Movimento de desespero final de quem quer encontrar uma identidade para chamar de sua e um líder para chamar de seu. 9. Espécie de fanatismo religioso que cultua o ódio e a intolerância travestidos de intelectualismo. 10. Seita seguida por pessoas particularmente vulneráveis a uma retórica violenta e macabra, mas perigosamente sedutora. 11. Doutrina do ter-razão-em-tudo quando não se tem razão em nada. Atribuindo a base dessa doutrina do ter-razão-em-tudo ao filósofo alemão Arthur Schopenhauer, é fácil constatar como olavistas não possuem o menor conhecimento nem de alemão e nem de filosofia, tendo (mal) entendido o próprio nome de Schopenhauer como “chope raro”, que, bebido, gera mal-entendidos dos princípios básicos da erística e da dialética. Com bases em erros fundamentais, o olavismo derivado desse “chope raro” (confundido com Schopenhauer) desenvolveu uma errística dislética, que se vale de argumentos nefastos (do latim nefas que significa ilícito) para destruir as questões mais lícitas do pensamento, da sociedade e da cultura. 11. Tradução google para o português bolsonarista da tradução google para o inglês trumpista da tradução google russa do resumo dos clássicos da extrema direita europeia, assinada por Dugin, ideólogo de Putin.
Luisa Buarque (Desbolsonaro de Bolso)
Não há uma única coisa tão vazia e carente quanto tu, que abraças o universo: és o escrutador sem conhecimento, o magistrado sem jurisdição e, ao final, o bobo da farsa.
Michel de Montaigne (The Complete Essays)
É como a sua escrita — ela acrescenta sem mais nem menos. — Você não escreve pra chegar ao final. Você escreve porque gosta. Você escreve e não quer que termine. Faz sentido?
Dustin Thao (You've Reached Sam)
No final das contas, há apenas dois tipos de pessoas: as que dizem a Deus: 'Seja feita a Tua vontade', e aquelas a quem Deus diz no fim: 'Seja feita a sua vontade'. Todos os que estão no Inferno escolhem-no. Sem essa escolha pessoal, não poderia existir nenhum Inferno. Nenhuma alma que deseja, de maneira séria e persistente, a alegria jamais a perderá. Aqueles que procuram acham. Aos que batem, a porta se abrirá.
C.S. Lewis (The Great Divorce)
A avaliação inicial feita por Connell a respeito da leitura não foi refutada. Era cultura como representação de classe, literatura fetichizada por sua capacidade de levar pessoas instruídas em falsas jornadas emocionais para que depois se sintam superiores a pessoas sem instrução cujas jornadas emocionais gostaram de ler. Ainda que o escritor fosse uma boa pessoa, e embora seu livro fosse realmente perspicaz, todos os livros eram, no final das contas, vendidos como símbolos de status, e todos os escritores participavam em alguma medida desse marketing. Supunha-se que era assim que a indústria ganhava dinheiro. A literatura, como aparecia nessas leituras públicas, não tinha potencial como forma de resistência nem nada disso. Porém, Connell foi para casa naquela noite e releu algumas anotações que andava fazendo para um novo conto, e sentiu a velha batida de prazer dentro do corpo, como assistir a um gol perfeito, como o movimento rumorejante da luz através das folhagens, um fraseado musical da janela de um carro que passa. A vida propicia esses momentos de alegria, apesar de tudo.
Sally Rooney (Normal People)
Não tenho como evitar. Sou... Sou um capítulo curto, com final em aberto. Uma cascateira inveterada. Minto em nome do amor, sem ser poeta. Gostaria que alguém contasse essa minha história, sem que eu tivesse nada com isso. Um narrador, sabe? Num texto em terceira pessoa. A bem da verdade, odeio livros em primeira pessoa. Coisa de gente que faz diários. Não suporto. Posso contar distanciadamente? Ué, posso. Mas e agora? Agora já não é tarde demais? Faz mais de um ano que comecei a escrever isso para você. Não contei nada porque não conto nada a ninguém. Fico assim, mudando de capítulo e disfarçando
Fernanda Young (Tudo que Você Não Soube)
Nada.., que a tuga até num vale a pena…! Mambo que às vezes penso – epá, vais rir, eu sei, mas é o rabo das tugas… Meu, tábua d’engomar, a xoetice toda? Rabo foi aonde então, Nzambi lhes castigou assim porquê?, nossa observação que nós fazíamos, antigas missões na tuga e noutras europas mais, comissão disto e daquilo que dava é pra tirarmos comissões no nosso bolso, e nós ali no bar, fim de tarde, sem as palavras – os olhares só: uma tuga, duas tugas, muitas tugas, mas agora pra encontrar inda um rabo de acender mesmo as vistas? Passas mal. Uí, falo isso por causa da maka das culturas, diferenças só, que eu fico mesmo a pensar que a cultura está mesmo até nos nossos olhos de pessoas, tás a rir?, gala só então: um gajo é daqui, fica a pôr riso na dança dos tugas e outros europeus, ancas desarranjadas e não dão semba, tão a falar é malcriado, mambos dos brasileiros, carnaval só. Afinal? Mas depois, considera só: eles também a nos verem dançar e vestir e pôr cu duro, num vão falar dança dos bêbados?, a dar bungula puramente e pôr açúcar e as kabetulas todas, num vão dizer estamos a ficar parecidos com os macacos?, xinguilamentos musicais? Olhos deles, muadiê, tou ta pôr, e os nossos olhos todos de cada um: culturas!, num enormes plural e final das contas.
Ondjaki (Quantas Madrugadas Tem a Noite)
Para Mary, o problema era claro: ali estava uma possibilidade de trabalho, a qual devia ser aproveitada sem hesitação; Feld pagava bem e a atividade televisiva proporcionaria enorme prestígio; todas as semanas, no final do programa de Coelho Hentman, o nome de Chuck, como um dos escritores, surgiria na tela, para todo o mundo não-comuna. Mary sentiria orgulho, e aí residia o fator-chave: o trabalho do marido seria notavelmente criativo. E para Mary, a criatividade era o abre-te-sésamo da vida; o trabalho para a CIA, programando simulacros para propaganda que tagarelavam mensagens para africanos, latino-americanos e asiáticos incultos, não dava asas à criatividade; as mensagens costumavam ser as mesmas e, de qualquer maneira, a CIA era dona de má reputação nos círculos liberais, vanguardistas e sofisticados frequentados por Mary.
Philip K. Dick (Clans of the Alphane Moon)
O que se vai retardando dia a dia não é o final da intolerável ansiedade provocada pela separação, mas a temida volta de emoções inúteis. Como seria preferível a essa entrevista a recordação dócil, que completamos a nosso gosto com sonhos onde nos aparece essa mulher que na realidade não nos ama, e nos faz declarações de amor agora que estamos sozinhos! A essa recordação podemos dar toda a desejada doçura, amalgamando-a pouco a pouco com muitos de nossos desejos. E preferimo-la àquela entrevista adiada, em que teríamos de nos ver diante de uma criatura a quem já não se poderiam ditar as palavras desejadas, conforme o nosso gosto, mas que nos faria sofrer com novas friezas e violências inesperadas. Todos sabemos, depois que já deixamos de amar, que nem o esquecimento nem sequer a vaga recordação fazem sofrer tanto como um amor desventurado. E eu, sem o confessar, preferia a repousante doçura desse olvido antecipado.
Marcel Proust (In the Shadow of Young Girls in Flower)
A esquadra de dom João e da família real portuguesa entrou na baía de Guanabara no começo da tarde de 7 de março de 1808. Havia sol e o céu estava azul, sem uma única nuvem. Um vento forte soprava do oceano para aliviar o calor ainda sufocante do final do verão carioca.
Laurentino Gomes (1808 – Edição juvenil ilustrada (Portuguese Edition))
Livre, como um pássaro que foge no final de outono. Voo em pensamentos cheios de sentimentos que me levam ao isolamento. Isolamento total e fatal da minha pobre alma. Pobre alma sem esperança de dias melhores. No momento, Sem esperança crer em mim é difícil. Dificílimo, estou frágil como um barco em um naufrágio. Vivo em uma ilha deserta de emoções Ilha cheia de enigma, Enigmas inacessíveis. Sinto-me em uma porta dos fundos, onde vivo um dilema. Entro ou saio? Vivo ou morro? Posso sair. Mas e os vestígios da minha vida? Alguém se lembrará de mim? Eu que nada sou nesse momento, E luto todo dia para ser Também, Posso entrar e continuar vivendo sendo o nada Nada que ninguém conhece nada quem ninguém pergunta Apenas um nada de vida, Nada de historia, nada de vestígio Um nada.
Davi Abramovich
CVII No Porto cercado não se movia pois o inimigo era superior mas eis que revela grande valia Ao confundir seu feroz opositor! Sem conselho com razão fazia que por seu esforço era sabedor Manda ao Sul uma expedição naval Que lhe vai dar a vitória final!
José Braz Pereira da Cruz (Esta é a Ditosa Pátria Minha Amada)
É impossível compreender muitas das regiões mais pobres que existiam no mundo, no final do século XX, sem compreender o novo absolutismo do século XX: o comunismo. (…) O comunismo trouxe sempre ditaduras perversas e violações generalizadas dos direitos humanos.
Daron Acemoğlu (Why Nations Fail: The Origins of Power, Prosperity, and Poverty)
Viver para criar um legado é um objetivo sem perspectiva. Uma utilização mais sábia do tempo é construir um legado eterno. Você não foi posto neste mundo para ser lembrado. Você foi colocado aqui a fim de se preparar para a eternidade. Chegará o dia em que você estará diante de Deus, e ele fará uma auditoria em sua vida — um exame final, antes que você ingresse na eternidade. A Bíblia diz: “Lembrem-se: cada um de nós comparecerá diante do tribunal de Deus [...]. Sim, cada um de nós terá de prestar contas de si mesmo a Deus”.
Rick Warren (Uma vida com propósitos: Para que estou na terra? (Portuguese Edition))
Considero preconceito marcas e rótulos. Meu santuário é o corpo humano, a saúde, a inteligência, o talento, a inspiração, o amor e a liberdade absoluta, a insubordinação à violência e à mentira, onde quer que essas duas últimas se manifestem. Aí está o programa que seguiria, se fosse um grande artista.
Anton Chekhov
Eu tinha ■■■■■■■ de exemplos como esse, e piores, da ignorância dos interrogadores a respeito de seus presos. O governo devia sonegar-lhes informação básica por razões táticas, então diziam a eles: “O detento a seu cargo está profundamente envolvido em terrorismo e tem informação vital sobre ataques já realizados e futuros; cabe a você conseguir tirar dele tudo o que ele sabe”. Na verdade, dificilmente encontrei um detento que estivesse envolvido em algum crime contra os Estados Unidos. Assim, você tem interrogadores preparados, instruídos, treinados e incitados contra seus piores inimigos. E tem detentos normalmente capturados e entregues às forças americanas sem nenhum tipo de processo judicial. Depois disso, eles sofreram tratamento pesado e se encontraram encarcerados em outro hemisfério, na baía de GTMO, por um país que se diz guardião dos direitos humanos no mundo todo — mas um país que muitos muçulmanos suspeitam que está conspirando com outras forças do mal para varrer a religião islâmica da face da Terra. No final das contas, não é provável que o ambiente seja um lugar de amor e reconciliação. O ódio aqui é alimentado com fartura.
Mohamedou Ould Slahi (Guantánamo Diary: Restored Edition)
Na escola, no vilarejo, até no ensino médio em um município maior, tudo estava revelado: todos sabiam a quem 'pertencíamos, quanto ganhavam nossos pais — se ganhavam alguma coisa —, que nota tínhamos em italiano e matemática e se havíamos bebido demais numa festa; todos sabiam se beijávamos com ou sem língua, se era permitido ir por cima ou por baixo da camiseta, e quando nos preparávamos para as festas de final de ano ou as de dezoito anos para as quais éramos convidadas, não importava o quanto estivéssemos maquiadas ou quais roupas imprevisíveis usássemos, porque, assim que passávamos pela porta, toda a fumaça do palco desaparecia rapidamente, nunca havia um desconhecido com quem conversar, podíamos nos apaixonar só pelo hábito, os amigos de infância eram reciclados como amantes, e, por virada da sorte, às vezes, de pequena vendedora de fósforos nos tornávamos a garota mais bonita e popular do momento — mas não durava mais do que algumas semanas.
Claudia Durastanti (La straniera)
é preciso decidir, sabendo que qualquer caminho será doloroso e sem segurança sobre o final. Para ser honesto, essa é a condição geral da vida: nunca se sabe. “Se é bom ou se é mau, só o futuro o dirá”.
Rubem Alves (Se eu pudesse viver minha vida novamente (Portuguese Edition))
você não sabe o que vai encontrar no final. E você não pode voltar. Você sabe que ambos os caminhos estão cheios de dor e o final é incerto e desconhecido. Você terá de decidir sem certezas, entre uma dor e outra, fazendo uma aposta. A vida é assim. Seria bom se as alternativas com que nos defrontamos fossem sempre entre o certo e o errado, o bom e o mau. Seria fácil viver. Mas há situações que nos colocam diante de alternativas igualmente dolorosas e de resultado incerto.
Rubem Alves (Se eu pudesse viver minha vida novamente (Portuguese Edition))
Na comuna de Sainte-Engrâce, por exemplo, o padrão circular do vilarejo também é um modelo dinâmico que serve como dispositivo de contagem, a fim de assegurar o revezamento sazonal de tarefas e obrigações. A cada domingo, uma família leva dois pães para serem abençoados na igreja local, depois comem um deles e dão o outro de presente para o “primeiro vizinho” (o da casa à direita); na semana seguinte, esse vizinho fará o mesmo com a casa à sua direita, e assim por diante em sentido horário, de modo que, numa comunidade de cem lares, cerca de dois anos são necessários para completar o círculo.37 Como costuma ocorrer, há nessa ordenação toda uma cosmologia, uma teoria da condição humana, por assim dizer: os pães são considerados como “sêmen”, algo que infunde vida; já o cuidado dos mortos e dos moribundos move-se em sentido anti-horário. Mas o sistema também constitui uma base para a cooperação econômica. Se, por algum motivo, uma das famílias não pode cumprir suas obrigações no momento designado, um meticuloso sistema de substituição é acionado, com os primeiros, segundos e até terceiros vizinhos tomando seu lugar. Esse sistema também serve de modelo para quase todas as formas de cooperação. O mesmo sistema de “primeiros vizinhos” e de substituição, com o mesmo modelo serial de reciprocidade, é usado para realizar qualquer coisa que exija mais pessoas do que uma única família pode prover — desde a semeadura e a colheita até a produção de queijo e o abate de porcos. Assim sendo, as famílias não podem simplesmente programar as suas tarefas diárias em conformidade apenas com as próprias necessidades. Também precisam levar em conta as suas obrigações para com os vizinhos, que por sua vez têm suas próprias obrigações para com as outras casas, e assim por diante. Quando levamos em conta que algumas tarefas — como a condução de rebanhos aos pastos de maior altitude, ou a extração de leite, tosquia e guarda dos animais — podem exigir o esforço conjunto de dez habitações familiares diferentes, e que é preciso conciliar o agendamento de numerosos e variados compromissos, começamos a ter uma ideia da complexidade envolvida. Em outras palavras, essas economias “simples” quase nunca são de fato simples. Muitas vezes envolvem desafios logísticos de notável complexidade, superados por meio de intricados sistemas de ajuda mútua — tudo isso sem nenhuma necessidade de controle ou administração centralizados. Os moradores das aldeias bascas dessa região são igualitaristas explícitos, e fazem questão de afirmar que todas as família em última análise são equivalentes e têm as mesmas responsabilidades; porém, em vez de se governarem por meio de assembleias comunitárias (como aquelas famosas criadas por gerações passadas de aldeões bascos em locais como Guernica), recorrem a princípios matemáticos de rotatividade, substituição serial e alternância. O resultado final, porém, é o mesmo, e o sistema é flexível o suficiente para que alterações no número de famílias ou na capacidade de seus membros individuais sejam levadas em conta, assegurando que as relações igualitárias sejam preservadas no longo prazo, com ausência quase total de conflitos internos.
David Graeber (O despertar de tudo: Uma nova história da humanidade (Portuguese Edition))
Having tried to deal with the situation myself, I went to my manager—the same “Sandberg”-shouting SEM. He listened to my complaint and then told me that I should think about what I was “doing to send these signals.” Yup, it was my fault. I told the two other Sandbergs, who were outraged. They encouraged me to go over the SEM’s head and talk to the senior partner, Robert Taylor. Robert understood my discomfort immediately. He explained that sometimes those of us who are different (he is African American) need to remind people to treat us appropriately. He said he was glad I told the client no on my own and that the client should have listened. He then talked to the client and explained that his behavior had to stop. He also spoke with my SEM about his insensitive response. I could not have been more grateful for Robert’s protection. I knew exactly how that baby bird felt when he finally found his mother.
Sheryl Sandberg (Lean In: Women, Work, and the Will to Lead)
Irá o Mundo Moderno até ao fundo desse declive fatal ou, como aconteceu na decadência do mundo greco-romano, uma nova recuperação se produzirá ainda desta vez, antes que ele atinja o fundo do abismo para onde foi arrastado? Parece que uma paragem a meio do caminho já não será possível e que, segundo todas as indicações fornecidas pelas doutrinas tradicionais, entramos realmente na fase final de “Kali-Yuga”, no período mais sombrio desta “Idade Sombria”, neste estado de dissolução do qual não é mais possível sair senão por um cataclismo, porque não é já necessária apenas uma simples recuperação, mas antes uma renovação total. A desordem e a confusão reinam em todos os domínios; foram levadas a tal ponto, que ultrapassam de longe tudo o que se tinha visto anteriormente e, partindo do Ocidente, ameaçam agora invadir o Mundo inteiro. Sabemos bem que o seu triunfo nunca pode ser mais do que aparente e passageiro, mas um tal grau parece ser o sinal da mais grave de todas as crises que a Humanidade atravessou no decurso do seu ciclo atual. Não teremos nós chegado a essa época temível, anunciada pelos Livros sagrados da Índia, “em que as castas serão misturadas, em que a própria família não existirá”? Basta olharmos à nossa volta para nos convencermos que esse estado é realmente o do Mundo atual, e para verificar por toda a parte essa profunda queda que o Evangelho chama “a abominação da desolação”. Não devemos esconder a gravidade da situação; convém encará-la tal como ela é, sem nenhum “otimismo” mas também sem qualquer “pessimismo”, visto que, tal como eu disse anteriormente, o fim do Mundo antigo será igualmente o começo de um Mundo novo.
René Guénon, A Crise do Mundo Moderno
E nossa história não estará pelo avesso Assim, sem final feliz Teremos coisas bonitas pra contar E até lá, vamos viver Temos muito ainda por fazer Não olhe pra trás Apenas começamos O mundo começa agora Apenas começamos
Renato Russo
O mundo independia de mim - esta era a confiança a que eu tinha chegado: o mundo independia de mim, e não estou entendendo o que estou dizendo, nunca! nunca mais compreenderei o que eu disser. Pois como poderia eu dizer sem que a palavra mentisse por mim? como poderei dizer senão timidamente assim: a vida se me é. A vida se me é, e eu não entendo o que digo. E então adoro.
Clarice Lispector (The Passion According to G.H.)
Nossas escolas são construídas segundo o modelo das linhas de montagem. Escolas são fábricas organizadas para a produção de unidades bio-psicológicas móveis portadoras de conhecimentos e habilidades. (...) Unidades bio-psicológicas móveis que, ao final do processo, não estejam de acordo com tais modelos são descartadas.(...) É mercadoria espiritual que pode entrar no mercado de trabalho.
Rubem Alves (A Escola Com Que Sempre Sonhei Sem Imaginar Que Pudesse Existir)
– Queres pecar comigo? – Todos os dias. És todo o pecado que há para viver. O bom e o mau. Mas no final das contas só há um tipo de pecado: o que nos mantém vivos. Quem vive sem pecar e morre sem pecar nunca na realidade viveu. Limitou-se a andar por cá. Quem nunca pecou não é santo; é defunto.
Pedro Chagas Freitas (Prometo Falhar)
Escurecia rápido, o navio afastava-se do poente. A lembrança da sombra no rosto de Marina tornava mais fácil aceitar a morte. Uma fita triangular de navegação tremulava no meio de uma corda tesa, gorda do vento, como uma língua de réptil. O corpo estava frio, sem pulso nem sinal algum, completamente largado sobre o seu. Já não havia quem observasse o pôr do sol, não havia o que olhar, apenas uma faixa de luz parda que se diluía sobre o horizonte, cada vez mais turva, indistinta do oceano. Completava-se o abandono lento em seus braços, sob o sorriso da portuguesa enternecida pelo aconchego da moça no ombro do marido. Era a suavidade da morte pública e despercebida. Ele tentava olhar adiante. Teria sido outra história se Marina tivesse se jogado ao mar. Cinquenta, sessenta, setenta metros de altura. Ele teria que se jogar também, arriscar a vida para ter o que enterrar, e iria junto, ninguém mergulha de um navio supondo que sobrevive, muito menos que salvará alguém. Se tivesse que se matar, haveria de ser como um prazer, o prazer que em vida lhe era torto. Deixaria o corpo boiar sobre o oceano, sem peso, ao sabor das correntes, o sono mais pesado e completo que alguém já teve. Talvez o prazer de jogar o corpo no vazio fosse ainda maior. Deixaria o ar limpar os pulmões e os pensamentos, purificar a vida que ficava para trás, no alto da amurada. Seria outro por um lapso, não haveria tempo para pensar no impacto. Talvez o mar restaurasse o sono, a onda fria embalasse as costas, o oceano como o único lugar em que os insones não são insones, embora lhes falte imaginação para sabê-lo. Tinha a impressão de que nunca mais adormeceria, enquanto ela dormiria para sempre, egoísta no sono final, a soberba daquele que reaprende a dormir e deixa o outro na vigília. Teria sido pior se ela tivesse esperado a volta para se matar. Ele aguentaria a náusea de cada milha. Agora podia abandonar o barco. Nada de Ilhas Canárias, Cádiz, Sevilha, nada do balanço que o torturava no convés ou na cabine. Olhava a distância em direção à noite e via o corpo desembarcar em Cabo Verde, sobrevoar o mar até Lisboa, voltar ao Brasil sobre o mesmo mar, as mesmas ilhas escassas do Atlântico. Dois, três dias com o corpo frio e rígido, rigor mortis, velava-o pelos ares, um fardo em plena leveza de nuvens, a dor que alçava ao sol dentro de um saco impermeável, um caixote de metal. Estariam no céu, um corpo que apodrece, um homem que chora, um amor que já não é mais. Alguém se aproximou, parou ao lado da amurada. O uniforme branco e impecável usado pelos tripulantes, certa familiaridade de hospital. — Preciso da sua ajuda. — What can I do for you, sir? — Minha mulher está morta.
Mauricio Lyrio (Memória da Pedra)
Surpreende-me que os pais consintam. Ao que se diz, é um casamento de amor. - De amor! - exclamou a embaixatriz. - Onde foram arranjar ideias tão antediluvianas?Quem fala de paixão nos nossos dias? - Que quer, minha senhora - disse Vronski -, essa velha moda, tão ridícula, continua a não querer ceder o lugar. - Tanto pior para os que a mantêm! Em matéria de casamentos felizes, só conheço os casamentos de conveniência. - Seja! Mas não acontece, muitas vezes, que esses casamentos caem desfeitos em pó à aparição dessa paixão que era tratada como intrusa? - Dê-me licença: por casamento de conveniência, entendo aquele que se faz quando de ambas as partes se passou já pelas loucuras da juventude. O amor é como a escarlatina, é preciso apanhá-lo. - Nesse caso, devia-se arranjar um processo de o inocular, como as bexigas. - Durante a minha juventude, estive apaixonada por um sacristão - declarou a princesa Miagki. - Gostava bem de saber se o remédio operou. - Pondo de parte brincadeiras - disse Betsy - , creio que para conhecer o amor é preciso, primeiro enganar-se, depois reparar o erro. - Mesmo depois do casamento? - perguntou, rindo, a embaixatriz. - Nunca é tarde para o arrependimento - disse o diplomata, citando um provérbio inglês. - Exactamente - aprovou Betsy. - Cometer um erro, repará-lo depois, eis o que importa. Que pensa disto, minha querida? - perguntou a Ana , que escutava a conversa sem falar, com um meio sorriso nos lábios. - Creio - respondeu Ana, brincando com a luva - que, se há tantas opiniões quantas cabeças, há também tantas maneiras de amar quantos os corações. (...) Durante toda essa Primavera, não foi ele próprio e conheceu minutos trágicos. "Não posso viver sem saber o que sou e com que fim fui posto no mundo", dizia consigo. "E uma vez que não posso alcançar esse conhecimento, torna-se-me impossivel viver." "No infinito do tempo, da matéria, do espaço, uma bolha-organismo se forma, se mantém um momento, depois rebenta...Essa bolha sou eu!" Este sofisma doloroso era o único, o supremo resultado do raciocínio humano durante séculos; era a crença final que se encontrava na base de quase todos os ramos da actividade científica; era a convicção reinante, e, sem dúvida porque lhe parecia ser a mais clara, Levine penetrara-se involuntariamente dela. Mas esta conclusão parecia-lhe mais que um sofisma; via nela a obra cruelmente irrisória de uma força inimiga a que importava subtrair-se. O meio de libertar-se estava ao alcance de cada um...E a tentação do suicídio perseguiu tão frequentemente este homem saudável, este feliz pai de família, que ele afastava das suas mãos todas as cordas e não se atrevia a sair com a espingarda. No entanto, em vez de queimar os miolos, continuou simplesmente a viver.
Liev Tolstói (Anna Karenina)
Surpreende-me que os pais consintam. Ao que se diz, é um casamento de amor. - De amor! - exclamou a embaixatriz. - Onde foram arranjar ideias tão antediluvianas?Quem fala de paixão nos nossos dias? - Que quer, minha senhora - disse Vronski -, essa velha moda, tão ridícula, continua a não querer ceder o lugar. - Tanto pior para os que a mantêm! Em matéria de casamentos felizes, só conheço os casamentos de conveniência. - Seja! Mas não acontece, muitas vezes, que esses casamentos caem desfeitos em pó à aparição dessa paixão que era tratada como intrusa? - Dê-me licença: por casamento de conveniência, entendo aquele que se faz quando de ambas as partes se passou já pelas loucuras da juventude. O amor é como a escarlatina, é preciso apanhá-lo. - Nesse caso, devia-se arranjar um processo de o inocular, como as bexigas. - Durante a minha juventude, estive apaixonada por um sacristão - declarou a princesa Miagki. - Gostava bem de saber se o remédio operou. - Pondo de parte brincadeiras - disse Betsy - , creio que para conhecer o amor é preciso, primeiro enganar-se, depois reparar o erro. - Mesmo depois do casamento? - perguntou, rindo, a embaixatriz. - Nunca é tarde para o arrependimento - disse o diplomata, citando um provérbio inglês. - Exactamente - aprovou Betsy. - Cometer um erro, repará-lo depois, eis o que importa. Que pensa disto, minha querida? - perguntou a Ana , que escutava a conversa sem falar, com um meio sorriso nos lábios. - Creio - respondeu Ana, brincando com a luva - que, se há tantas opiniões quantas cabeças, há também tantas maneiras de amar quantos os corações. (...) Durante toda essa Primavera, não foi ele próprio e conheceu minutos trágicos. "Não posso viver sem saber o que sou e com que fim fui posto no mundo", dizia consigo. "E uma vez que não posso alcançar esse conhecimento, torna-se-me impossivel viver." "No infinito do tempo, da matéria, do espaço, uma bolha-organismo se forma, se mantém um momento, depois rebenta...Essa bolha sou eu!" Este sofisma doloroso era o único, o supremo resultado do raciocínio humano durante séculos; era a crença final que se encontrava na base de quase todos os ramos da actividade científica; era a convicção reinante, e, sem dúvida porque lhe parecia ser a mais clara, Levine penetrara-se involuntariamente dela. Mas esta conclusão parecia-lhe mais que um sofisma; via nela a obra cruelmente irrisória de uma força inimiga a que importava subtrair-se. O meio de libertar-se estava ao alcance de cada um...E a tentação do suicídio perseguiu tão frequentemente este homem saudável, este feliz pai de família, que ele afastava das suas mãos todas as cordas e não se atrevia a sair com a espingarda. No entanto, em vez de queimar os miolos, continuou simplesmente a viver.
Leo Tolstoy (Anna Karenina)
Quan­do in­fi­ne re­cu­pe­rò il fia­to fece usci­re tut­ti per par­la­re da solo col suo me­di­co. «Non mi im­ma­gi­na­vo che que­sta stron­za­ta fos­se così gra­ve da far pen­sa­re all'olio san­to» gli dis­se. «Io, che non ho la gio­ia di cre­de­re nel­la vita dell'al­tro mon­do.» «Non si trat­ta di que­sto» dis­se Ré­vé­rend. «E' noto che si­ste­ma­re le fac­cen­de del­la co­scien­za in­fon­de all'am­ma­la­to uno sta­to d'ani­mo che fa­ci­li­ta mol­to l'in­com­ben­za del me­di­co.» Il ge­ne­ra­le non pre­stò at­ten­zio­ne alla mae­stria del­la ri­spo­sta, per­ché lo fece rab­bri­vi­di­re la ri­ve­la­zio­ne ac­ce­can­te che la fol­le cor­sa fra i suoi mali e i suoi so­gni ar­ri­va­va in quel mo­men­to alla meta fi­na­le. Il re­sto era­no te­ne­bre. «Caz­zo» so­spi­rò. «Come farò a usci­re da que­sto la­bi­rin­to?» Esa­mi­nò il lo­ca­le con la chia­ro­veg­gen­za del­le sue in­son­nie, e per la pri­ma vol­ta vide la ve­ri­tà: l'ul­ti­mo let­to pre­sta­to, la toe­let­ta di pie­tà il cui fo­sco spec­chio di pa­zien­za non l'avreb­be più ri­pe­tu­to, il ba­ci­le di por­cel­la­na scro­sta­ta con l'ac­qua e l'asciu­ga­ma­no e il sa­po­ne per al­tre mani, la fret­ta sen­za cuo­re dell'oro­lo­gio ot­ta­go­na­le sfre­na­to ver­so l'ap­pun­ta­men­to ine­lut­ta­bi­le del 17 di­cem­bre all'una e set­te mi­nu­ti del suo po­me­rig­gio ul­ti­mo. Al­lo­ra in­cro­ciò le brac­cia sul pet­to e co­min­ciò a udi­re le voci rag­gian­ti de­gli schia­vi che can­ta­va­no il sal­ve del­le sei nei fran­toi, e vide dal­la fi­ne­stra il dia­man­te di Ve­ne­re nel cie­lo che se ne an­da­va per sem­pre, le nevi eter­ne, il ram­pi­can­te le cui nuo­ve cam­pa­nu­le gial­le non avreb­be vi­sto fio­ri­re il sa­ba­to suc­ces­si­vo nel­la casa sbar­ra­ta dal lut­to, gli ul­ti­mi ful­go­ri del­la vita che mai più, per i se­co­li dei se­co­li, si sa­reb­be ri­pe­tu­ta.
Gabriel García Márquez (I grandi romanzi)
Nós éramos um acaso, os nossos encontros seriam de acaso, o nosso conhecimento e a nossa experiência um do outro seriam sempre de acaso, sempre um somatório desconexo e contraditório de fragmentos sem continuidade. Um somatório que não daria nunca uma qualquer soma, qualquer resultado final, mas muito apenas uma existência como em sonhos, de que acordaríamos, às vezes, nos braços um do outro (e, quem sabe, também noutros braços de outrem). Não seria a nossa vida – e eu nem podia dizer «nossa vida», porque esta não era una, mas as duas vidas que tínhamos, cada um por conta própria – uma serena realidade, com abertas de alegre sonho, em que, abraçados e penetrados, conquistássemos um para o outro o que cada um de per si não teria. Seria exatamente o contrário. Tudo o que tivéssemos dissipá-lo-íamos, periodicamente e ocasionalmente, nos braços um do outro. Não serviríamos um ao outro de nada. Poderíamos até, e seria o mais certo, sermo-nos prejudiciais: ver-nos-íamos um no outro, como em espelhos. E de cada vez que nos assim víssemos, nas intermitências dos encontros, nos só veríamos piores. Mas não teríamos, de verdade, outros rostos, que não aqueles em que mutuamente nos espelhássemos, para vermos que estávamos cada vez mais longe do que poderíamos ter sido, e cada vez mais perto do que, na intermitência, éramos. Seria isto o amor, podia eu chamar-lhe amor? Amor, esta destruição, de vez em quando, do pouco com que nos havíamos defendido um do outro? Amor, essa desgraça de vivermos como que acorrentados a um feitiço ignóbil, sem pureza nem dignidade?
Jorge de Sena (Sinais de Fogo)
O cansaço está no final dos atos de uma vida mecânica, mas inaugura ao mesmo tempo o movimento da consciência. Ele a desperta e desafia a continuação. A continuação é o retorno inconsciente à mesma trama ou o despertar definitivo. No extremo do despertar vem, com o tempo, a consequência: suicídio ou restabelecimento. Em si, o cansaço tem alguma coisa de desanimador. Aqui, eu tenho de concluir que ele é bom. Pois tudo começa com a consciência e nada sem ela tem valor. Essas observações não têm nada de original. Mas são evidentes: por ora isso é suficiente para a oportunidade de um reconhecimento sumário das origens do absurdo. A simples "preocupação" está na origem de tudo.
Albert Camus (The Myth of Sisyphus)
- Para quê mais regras gerais, mais uniformizações universalistas? Talvez isso aproxime os homens... Talvez! Mas algemando-os; mas constrangendo-os a recalcar o excecional de cada um. Toda a regra geral é uma condenação das exceções. A aproximação dos homens será portanto fictícia... E já Você compreende aonde quero chegar, querido amigo: O que é preciso agora é aproximar os homens pelas suas diferenças. Mas os antagonismos confessados diretamente - irritam e repelem. Não acha que é melhor sugerir, penetrar, infiltrar...? Cada homem se enriquecerá dos individualismos alheios, e assim terá direito a afirmar o seu próprio. Bem sei, meu amigo: tudo isto parece utopia; e o caminho é sem dúvida longo, é delicado, é obscuro, tem de haver mortos pelo caminho... Mas só daqui pode nascer um novo universalismo! O resultado final será a ilimitação da personalidade, a dispersão do eu cerrado em si. O homem poderá então compreender e compreender-se. Cada um poderá então ser o que é, ser o que são os outros, ser em cada momento o que em cada momento é, e contradizer-se de palavra para palavra, de gesto para gesto, mantendo no entanto a sua admirável unidade! Ouça bem, querido amigo! A vida ainda está toda por explorar, não é verdade? O homem tem tirado sempre sobre si próprio, como um pião, dentro do mesmo círculo. Só os anormais...
José Régio (Jogo da Cabra Cega)
Não se iluda meu amor se o amor não lhe dei da flor que me pediu foi a lembrança que se fez O amor é efêmero Trato sem convicção Porém aos de nobre alma já foi guardado no coração Se triste te deixei perdoe-me por favor do amor que recebi te devolvo com paixão És linda por natureza uma flor sem igual se feliz foi o que tivemos não desperdice no final
Luis Vendramel (O Homem Mau, que morto buscou o céu (O ESCRITOR Livro 1) (Portuguese Edition))
Não consigo encontrar motivos para a existência sendo a existência minha maior inimiga. Por que viver? Pergunto-me todos os dias; Enquanto procuro motivações em livros empoeirados cuja importância só cabe inteiramente a mim, leio de Platão a Schopenhauer e convenço a mim mesmo que estou fazendo algo de útil, o “conhecimento’’ digo a mim mesmo, é importante, “o intelecto’’ repito a mim mesmo é o que vai me elevar ao Übermensch; E para quê? Morrer como Übermensch! Assim como o tolo que morre como um crente! Não há diferenças entre o tolo e o gênio debaixo de sete palmos, então aonde escondo meu último suspiro de esperança? Aonde encontrei motivações? Grito por toda a casa Quebro todos meus pertences GRITO COMO UM LOUCO!!! POR QUE EXISTO??? Sento-me nos cantos escuros daquela casa abandonada cuja única ‘alma’ é um ninguém! Alguém cuja vida deveria ser tomada a facadas e tiros, da forma mais cruel possível para que no momento de dor e agonia lembre-se que enquanto vivo não valorizou a vida! E Valorizar o que? Talvez mesmo diante da morte, eu lamente a inútil existência que me foi concebida contra minha maldita vontade! Quanto mais elevado o homem, menos motivos ele vê para existir, reflito sobre o universo e logo qualquer motivo que eu encontre para existir me parece desgraçado! Sim desgraçado! Desgraçado somos todos nós presos neste planeta enquanto buscamos motivos para existir e morrer, sem ao menos conhecer 1% de toda a existência. E Poderia ser mais cruel? A tal existência? Às vezes fico pensando a respeito da evolução das espécies, de todas as características possíveis que a seleção natural poderia conceber a uma espécie, nós desenvolvemos a pior delas! A consciência de nós mesmo, a capacidade de pensar, que castigo... Embora a maioria dos primatas não tenha a mínima ideia de sua inutilidade existencial. Talvez não exista um problema na evolução de nossa espécie – e sim em alguns homens – os pensadores são eles o problema! Olhem para todos esses macacos, dançando, rezando, cuidando da vida uns dos outros, discutindo sobre assuntos que pouco conhecem E claro sorrindo, com suas bocas cheias de dente e cérebros fúteis como a merda suja de cachorro! Felizes... Progredindo.... Evoluindo... Procriando... Enquanto nós pensadores afundamos nossas cabeças em livros empoeirados, escrevemos poemas, e refletimos sobre nossas estupida existência. Para que? Para que outros pensadores leiam nossos livros, e no futuro se tornem escritores e produzam mais livros (..) Quantos filósofos não existiram antes de mim? E quantos outros não existirão depois de mim? Nos fechamos em nosso mundo melancólico e convencemos a nós mesmo que somos melhores que eles, os chamamos de macacos e nos intitulamos Übermensch (...) Nós não somos melhores do que eles, não existem vencedores.... No final somos todos macacos. Não existem Übermensch, não existem pensadores, o que existe são macacos, copiando macacos, influenciando macacos Alguns macacos se chamam Nietzsche Outros morrem sem ter seus nomes mencionados em algum lugar. Nietzsche, ou qualquer outro macaco que já tenha existido neste podre planetinha – hoje se encontra morto. E quando nossa espécie deixar de existir.... Ninguém vai lembrar do que realizamos, pois nossas realizações não passam de brincadeira de macacos no zoológico.
Gerson De Rodrigues (Aforismos de um Niilista)
Poema - Esquizofrenias & Metáforas Se as estrelas fossem capazes de escrever poesias escreveriam sobre a morte do universo não há nada mais poético do que a arte de morrer Se os deuses descessem dos céus e me oferecessem uma nova vida eu a aceitaria! só pelo prazer de me enforcar nos cordões umbilicais e apodrecer nas entranhas da minha própria mãe Achas que eu sou louco? me consideras insano? Não tentem compreender os meus poemas se não consegues ouvir as vozes em sua mente Os Filósofos e os Poetas são como os Deuses e os Diabos eles podem elevar os homens aos céus, ou submetê-los a vermes insignificantes Sinto o vírus da vida corroer as minhas entranhas desde as auroras do meu nascimento Eu sou um homem falho um anjo caído que não foi capaz amar Fazem dias que eu não consigo dormir nos devaneios da minha mente insana mato-me todas as noites para suportar a dor A Filosofia e a insônia são como a noite e as estrelas lábios que nos beijam e nos levam a loucura É Por isso que as mentes mais insanas compartilham com a noite o desejo da morte que apenas as estrelas podem compreender Em uma destas noites frias uma sinfonia terrível rasgou os céus anjos e demônios caíram sem as suas asas crianças choravam e gritavam - Deus! Deus! gritavam os fiéis Aquela silenciosa e melancólica noite havia se tornado um terrível pesadelo A Morte e o Diabo invadiram o meu quarto com o seu cavalo de fogo beijaram-se sobre a minha cama enquanto gargalhavam sobre as minhas descrenças Acreditei fielmente que a morte iria me poupar deste inferno lancei-me aos seus pés de joelhos Gritando como um homem louco! - Joguem-me em uma vala qualquer! me enterrem vivo! mesmo que eu grite por misericórdia ou arranque as minhas próprias tripas em desespero matem-me sem nenhum perdão Ela sorriu de tal maneira e com uma voz cruel gritou em meus ouvidos - Se queres morrer Viva intensamente! Viva até que os vermes tenham pena da sua carcaça viva até que os deuses desçam dos céus em suas carruagens e implorem a ti pelo suicídio final
Gerson De Rodrigues
A cara de Abel estava coberta de moscas, havia moscas nos seus olhos abertos, moscas na comissura dos lábios, moscas nas feridas que tinha sofrido nas mãos quando as levantara para proteger-se dos golpes. Pobre Abel, a quem deus tinha enganado. O senhor havia feito uma péssima escolha para a inauguração do jardim do éden, no jogo da roleta posto a correr todos tinham perdido, no tiro ao alvo de cegos ninguém havia acertado. A eva e adão ainda restava a possibilidade de gerarem um filho para compensar a perda do assassinado, mas bem triste há de ser a gente sem outra finalidade na vida que a de fazer filhos sem saber porquê nem para quê. Para continuar a espécie, dizem aqueles que crêem num objectivo final, numa razão última, embora não tenham nenhuma ideia sobre quais sejam e que nunca se perguntaram em nome de quê terá a espécie de continuar como se fosse ela a única e derradeira esperança do universo. Ao matar Abel por não poder matar o senhor, Caim deu já a sua resposta. Não se augure nada bom da vida futura deste homem.
José Saramago (Caim)
Maomé deixou claro que seus inimigos tinham duas opções: submeter-se a sua vontade ou lutar contra seus seguidores suicidas até o final.
Harry Richardson (A Historia de Maome O Isla sem segredos (Portuguese Edition))
Deus difere do desconhecido pelo fato de que uma emoção profunda, vinda das profundezas da infância, liga-se imediatamente em nós à sua evocação. O desconhecido, ao contrário, deixa-nos frios, não se faz amar antes de derrubar todas as coisas em nós como um vento violento. Da mesma maneira, as imagens transtornadoras e os meios-termos aos quais recorre a emoção poética nos tocam sem dificuldade. Se a poesia introduz o estranho, ela o faz pela via do familiar. O poético é o familiar dissolvendo-se no estranho, e nós mesmos com ele. Ele nunca nos desapossa totalmente, pois as palavras, as imagens dissolvidas, estão carregadas de emoções já sentidas, fixadas a objetos que as ligam ao conhecido. A apreensão divina ou poética está no mesmo plano que as vãs aparições dos santos na medida em que ainda podemos, por meio dela, apropriar-nos daquilo que nos ultrapassa e, sem tomá-lo como um bem próprio, ao menos reconectá-lo a nós, àquilo que já tinha nos tocado. Dessa forma, não morremos inteiramente: um tênue fio, mas ainda um fio, liga o apreendido ao eu (por mais que eu rompa sua noção ingênua, Deus permanece o ser cujo papel foi ditado pela Igreja). Só nos desnudamos totalmente indo sem trapaças rumo ao desconhecido. É a parte de desconhecido que confere à experiência de Deus – ou do poético – sua grande autoridade. Mas o desconhecido exige ao final o império sem partilha.
Georges Bataille (Inner Experience)