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Segundo o modelo amoroso prevalecente nesses anos de minha juventude (e nada me faz pensar que as coisas tenham mudado significativamente), os jovens, depois de um período curto de vagabundagem sexual que corresponde à pré-adolescência, deviam se envolver, supostamente, em relações amorosas exclusivas, acompanhadas de uma monogamia estrita, em que entravam em cena atividades não só sexuais mas também sociais (saídas, fins de semana, férias). Essas relações não tinham, porém, nada de definitivo, mas deviam ser consideradas aprendizados da relação amorosa, de certa forma estágios (cuja prática se generalizava, aliás, no plano profissional como algo prévio ao primeiro emprego). Relações amorosas de duração variável (a duração de um ano que, por minha vez, eu mantinha podia ser considerada aceitável), em número variável (uma média de dez a vinte parecia razoável), deviam supostamente se suceder antes de resultar, como uma apoteose, na relação última, que teria, agora sim, caráter conjugal e definitivo, e levaria, pela geração de filhos, à constituição de uma família.”
Trecho de: Houellebecq, Michel. “Submissão.
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