“
Tenho um cachorro temporário, todo torto, com os pelos eriçados e o rabinho trêmulo. Exploramos juntos as ruas, vamos ao parque correr; conhecemos os outros cães, mastins desanimados, labradores festivos, cavalier kings charles spaniels tímidos e os milhares de cruzamentos imprevisíveis dos nascidos de amores clandestinos enquanto os donos, que nunca sabem de nada, olham para o outro lado. O mundo nunca me pareceu tão vasto. Aproveitamos o dia e eu não trocaria esta nova vida pela de mais ninguém. Não poderia invejar ninguém; a vida que estou vivendo, agora que examinei os mínimos detalhes, agora que não tento fazê-la parecida com algum tipo de ideal inatingível, é tão minha que não posso cotejá-la com nenhuma outra, em nenhuma régua de comparação. Infinitas são as coisas que não tenho, infinitas também as que não conheço; mas desde que perdi minhas velhas certezas e aprendi a me sujeitar às regras das escolas antigas, reencontrei um prazer perdido há muito tempo. O de aprender, de tentar, de virar meus pensamentos do avesso, de descobrir que estava errando e que só o fato de descobrir isso é uma oportunidade para tentar fazer um pouco melhor. Perdi muito, e entre as coisas perdidas há também aquelas que eu pensava controlar, possuir, saber: mas isso pelo menos me dá a chance de continuar a procurar, a demandar, a estudar, a espiar a vida de todos os ângulos. Vivo buscando algo que não sei; talvez apenas a felicidade de continuar a buscar. Penso nas palavras de Sócrates: uma vida sem busca não é digna de ser vivida. Caminho com o Cão pelas ruas do bairro, não tenho nada de meu, sou feliz. Quem sabe eu tenha aprendido a viver um pouco a partir dos filósofos antigos; e talvez seja isso, afinal, o que vale a pena contar.
”
”
Ilaria Gaspari (Lezioni di felicità: Esercizi filosofici per il buon uso della vita)