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O filósofo Gilles Deleuze era há muito tempo o melhor amigo de Bambam. Ele morava e dava aulas em Lyon, mas ia com frequência a Paris. Naquela sexta-feira, 10 de maio, pegaria o trem de volta para casa ás onze da noite, depois de um jantar para o qual Godard e eu tínhamos sido convidados.
Nós o víramos algumas vezes, sempre na casa de Rosier e Bambam. Godard e ele tinham uma relação estranha. Pareciam se observar como dois gatos desconfiados, embora soubéssemos que se admiravam e que um falava bem do outro. Reunidos, porém, o diálogo entre eles era truncado. Para mim, Godard justificava a reserva em relação a Gilles Deleuze criticando seu lado abertamente "dândi". Este último tinha a singularidade de usar as unhas compridas de mais, e nunca deixava de lembrar, a quem se surpreendesse com isso, que fazia como Púchkin e que se podia ver nisso uma espécie de homenagem. Godard não compreendia a relação entre o poeta russo que adorávamos tanto e o que ele comparava a "garras repugnantes". Naquela noite, contudo, estavam aplaudindo juntos a abertura, em Paris, das negociações de paz entre americanos e vietnamitas, bem como os acontecimentos do dia e os que pareciam anunciar para a noite.
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