“
Você aproximará seus lábios da cabeça reclinada junto à sua, acariciará outra vez os cabelos longos de Aura; tomará violentamente a frágil mulher pelos ombros, sem escutar seu gemido agudo; lhe arrancará a bata de tafetá, abraçá-la-á, e a sentirá nua, pequena e perdida em seu abraço, sem forças, não fará caso de sua resistência lamuriosa, de seu pranto impotente, beijará a pele do rosto sem pensar, sem distinguir: tocará esses seios flácidos até que a luz penetre suavemente e o surpreenda, o obrigue a afastar o rosto, procurar a grade da parede por onde começa a penetrar a luz da lua, essa fresta aberta pelos ratos, esse olho da parede que deixa filtrar a luz prateada que cai sobre o cabelo branco de Aura, sobre o rosto devastado composto de cascas de cebola, pálido, seco e enrugado como uma ameixa cozida: você afastará seus lábios dos lábios sem carne que você esteve beijando, das gengivas sem dentes que se abrem diante de você; verá sob a luz da lua o corpo despido da velha, da senhora Consuelo, frouxo, lacerado, pequeno e velho, tremendo levemente porque você toca nele, você o ama, você também regressou...
”
”