Voo Quotes

We've searched our database for all the quotes and captions related to Voo. Here they are! All 86 of them:

He cocked his head in an overly dramatic fashion. "Hey, I just got it: it was you, wasn't it?" He looked at Lissa, the back at me. "She got you to kill the fox, didn't she?Some weird kind of lesbian voo—ahhh!” Ralf burst into flames. I jumped up and pushed Lissa out of the way—not easy to do, since we were sitting at our desks. We both ended up on the floor as screams—Ralf's in particular—filled the classroom and Ms. Meissner sprinted for the fire extinguisher. And then, just like that, the flames disappeared. Ralf was still screaming and patting himself down, but he didn't have a single singe mark on him. The only indication of what had happened was the lingering smell of smoke in the air. For several seconds, the entire classroom froze. Then, slowly, everyone put the pieces together. Moroi magical specializations were well known, and after scanning the room, I deduced three fire users: Ralf, his friend Jacob, and— Christian Ozera. Since neither Jacob nor Ralf would have set Ralf on fire, it sort of made the culprit obvious. The fact that Christian was laughing hysterically sort of gave it away too.
Richelle Mead (Vampire Academy (Vampire Academy, #1))
— temos o voo do coração na ponta dos dedos na garganta ficou-nos um travo acetinado de corpos um rasto prateado de correrias pela cidade
Al Berto
Saudade de um tempo? Tenho saudade é de não haver tempo.
Mia Couto (O Último Voo do Flamingo)
Ainda lembrei de suas palavras amadurecendo uma esperança para mim quando eu de tudo descria: -Não vê os rios que nunca enchem o mar? A vida de cada um também é assim: está sempre toda por viver.
Mia Couto (O Último Voo do Flamingo)
Matar o patrão? Mais difícil é matar o escravo dentro de nós.
Mia Couto (O Último Voo do Flamingo)
Raising interest rates is voo-doo. You can't deal with a global system problem by trying to solve it with this.
Stafford Beer
I got some of their jabber out of a book. S'pose a man was to come to you and say Polly-voo-franzy—what would you think?" "I wouldn' think nuffn; I'd take en bust him over de head—dat
Mark Twain (The Adventures of Huckleberry Finn)
-Morreram milhares de moçambicanos,nunca vos vimos cá.Agora,desaparecem cinco estrangeiros e já é o fim do mundo?
Mia Couto (O Último Voo do Flamingo)
...pergunto a mim próprio até que ponto o silêncio absoluto e o completo isolamento infligidos a um jovem encerrado numa cela podem, antes de o levarem à loucura, dar azo a uma verdadeira vida imaginativa. Vida de tal modo intensa , de tal modo viva, que o indivíduo se desdobra literalmente. Levanta voo e vai vagabundear por onde lhe apetece. (...), os castelos no ar que o seu fecundo espírito inventa, que ele cria com uma imaginação tão incrivelmente fértil que, (...), chega a pensar que está a viver tudo quanto vai sonhando.
Henri Charrière (Papillon)
Somos assim: sonhamos o voo mas tememos a altura. Para voar é preciso ter coragem para enfrentar o terror do vazio. Porque é só no vazio que o voo acontece. O vazio é o espaço da liberdade, a ausência de certezas. Por isso trocamos o voo por gaiolas. As gaiolas são o lugar onde as certezas moram.
Fiodor Dostoïevski (Os Irmãos Karamazov)
Neste mundo não existe estabilidade. Quem será capaz de exprimir o significado das coisas? Quem pode prever o voo que uma palavra descreve depois de dita? É um balão que plana sobre as árvores. E o esforço de conhecer é sempre inútil. Tudo é experiência e aventura. Constantemente formamos novas combinações de elementos desconhecidos. O que está para vir?
Virginia Woolf (The Waves)
A morte é uma brevíssima varanda.Dali se espreita o tempo como a águia se debruça no penhasco- em volta todo o espaço se pode converter em esplêndida voação.
Mia Couto (O Último Voo do Flamingo)
O modo faz o percurso fora do percurso, margina-o de um sabor estranho mas que dá à contemplação a parte mais veloz do voo.
Maria Gabriela Llansol (O Raio Sobre o Lápis)
Somos donos de nossos actos, mas não donos de nossos sentimentos; Somos culpados pelo que fazemos, mas não somos culpados pelo que sentimos; Podemos prometer actos, mas não podemos prometer sentimentos... Actos sao pássaros engailoados, sentimentos são pássaros em voo
Mario Quintana
The one that sang, old Janine, was always whispering into the g***** microphone before she sang. She'd say, 'And now we like to geeve you our impression of Vooly Voo Fransay. Eet ees the story of leetle Fransh girl who comes to a beeg ceety, just like New York, and falls een love wees a leetle boy from Brookleen. We hope you like eet.' Then, when she was all done whispering and being cute as hell, she'd sing some dopey song, half in English and half in French, and drive all the phonies in the place mad with joy.
J.D. Salinger (The Catcher in the Rye)
Neo-Hoodoo is the 8 basic dances of 19th century New Orleans' Place Congo- the Calinda the Bamboula the Chacta the Babouille the Conjaille the Juba the Congo and the VooDoo- modernized into the Philly Dog, the Hully Gully, the Funky Chicken, the Popcorn, the Boogaloo and the dance of great American choreographer Buddy Bradley.
Ishmael Reed
- A vida não é concedida a título permanente. - declarou. - É um privilegio e temos de utilizar o nosso tempo de forma judiciosa.Cabe-nos a todos fazer dela o que pudermos (...)A alma é como um pássaro em voo. Escapa-nos e voa livre de novo. Sem constrangimentos." (pág.323)
Elizabeth Adler (The House in Amalfi)
Falar do trigo e não dizer o joio. Percorrer em voo raso os campos sem pousar os pés no chão. Abrir um fruto e sentir no ar o cheiro a alfazema. Pequenas coisas, dirás, que nada significam perante esta outra, maior: dizer o indizível. Ou esta: entrar sem bússola na floresta e não perder o rumo. Ou essa outra, maior que todas e cujo nome por precaução omites. Que é preciso, às vezes, não acordar o silêncio.
Albano Martins
Povoamento No teu amor por mim há uma rua que começa Nem árvores nem casas existiam antes que tu tivesses palavras e todo eu fosse um coração para elas Invento-te e o céu azula-se sobre esta triste condição de ter de receber dos choupos onde cantam os impossíveis pássaros a nova primavera Tocam sinos e levantam voo todos os cuidados Ó meu amor nem minha mãe tinha assim um regaço como este dia tem E eu chego e sento-me ao lado da primavera
Ruy Belo
segundo ele, o corpo era feito de tempo. Acabado o tempo que nos é devido, termina também o corpo. Depois de tudo, sobra o quê? Os ossos. O não-tempo, a nossa mineral essência. Se de alguma coisa temos que tratar bem é do esqueleto, nossa tímida e oculta eternidade.
Mia Couto (O Último Voo do Flamingo)
O tempo ė o eterno construtor de antigamente.
Mia Couto (O Último Voo do Flamingo)
E levito, voo de semente, para em mim mesmo te plantar menos que flor: simples perfume, lembrança de pétala sem chão onde tombar. in O amor, meu amor
Mia Couto (Idades Cidades Divindades)
O coração humano é como um pássaro nocturno. Espera por qualquer coisa em silêncio e, quando chega a altura, levanta voo e vai direito a ela.
Haruki Murakami
A Bíblia é o único livro de ar. Um livro impossível de ter entre duas mãos tranquilas: pôr-se-ia imediatamente em voo, espalharia a areia das suas frases entre os dedos.
Christian Bobin (Francisco e o Pequenino)
O que fizeram esses brancos foi ocuparem-nos.Não foi só a terra: ocuparam-nos a nós,acamparam no meio das nossas cabeças.Somos madeira que apanhou chuva.Agora não acendemos nem damos sombra.Temos que secar à luz de um sol que ainda não há.Esse sol só pode nascer dentro de nós.
Mia Couto (O Último Voo do Flamingo)
era de tarde ainda e um cabrito declamava o seu mé poético. talvez em seu voo sonoro ele cantasse a ilha, talvez buscasse pontes para o outro lado de todas as águas. dentro do cabrito uma rã despertou, e ele - lento, moroso, adormecido - esvaiu-se nos caminhos do vento, com estórias de desafio à racionalidade, vendendo destinos a quem soubesse escutá-lo. sinto-o ir, mas ao vento não.
Ondjaki (Sonhos Azuis pelas Esquinas)
O meu plano, idealmente, era trazer aqui a Alice num encontro, mas é bom fazer um voo experimental com outra pessoa primeiro, para poder determinar antecipadamente as minhas reacções espontâneas.
David Nicholls (Starter for Ten)
Sempre olhamos os seres alados com alguma inveja. Falta-nos a arte do voo. Desconhecemos, porém, que existem outros métodos para voar. E um deles, o mais simples e acessível, é deixarmo-nos encantar pelas suas histórias secretas.
Mia Couto (Pensageiro Frequente)
O anjo literário - anjo caído, talvez luciferino, mas anjo, no fim de contas - não tem horários fixos, nem momentos planificados. Voa por cima de um infeliz qualquer quando lhe apetece e ponto. Às vezes, esse anjo é perceptível. Às vezes, disfarça-se. Às vezes, o seu voo é tão fugaz e silencioso que nunca ninguém ficou a saber que passou por ali, espargindo palavras mágicas sobre uma qualquer vítima e deixando legiões de futuros leitores na perplexidade absoluta, porém, felizes.
Eduardo Halfon (O Anjo Literário)
S’pose a man was to come to you and say Polly-voo-franzy—what would you think?” “I wouldn’ think nuff’n; I’d take en bust him over de head—dat is, if he warn’t white. I wouldn’t ’low no nigger to call me dat.” “Shucks, it ain’t calling you anything. It’s only saying, do you know how to talk French?” “Well, den, why couldn’t he SAY it?” “Why, he IS a-saying it. That’s a Frenchman’s WAY of saying it.” “Well, it’s a blame ridicklous way, en I doan’ want to hear no mo’ ’bout it. Dey ain’ no sense in it.
Mark Twain (The Adventures of Huckleberry Finn)
Et maintenant, au coeur de la nuit comme un veilleur, il découvre que la nuit montre l'homme: ces appels, ces lumières, cette inquiétude. Cette simple étoile dans l'ombre: l'isolement d'une maison. L'une s'éteint: c'est une maison qui se ferme sur son amour.
Antoine de Saint-Exupéry
De que te queixas, alma abandonada? Porque razão esse voo agitado em torno da casa da vida? Porquê não olhar os longes que te pertencem em vez de lutar contra o que te é alheio? Mais vale o pombo vivo no telhado que o pardal semimorto que, na mão, se debate, crispado de terror.
Franz Kafka (Antologia de Páginas Íntimas)
Mas a terra é um ser: carece de família, desse tear de existências a que chamamos ternura.
Mia Couto (O Último Voo do Flamingo)
Tristeza de pássaro não inventou lágrima. Dizem: lágrima dos pássaros se guarda lá onde fica a chuva que nunca cai.
Mia Couto (O Último Voo do Flamingo)
Você devia ser como esses passaritos que vivem nas costas do hipopótamo: ser precisado pelos grandes, mas não ser visto por ninguém.
Mia Couto (O Último Voo do Flamingo)
Não vê os rios que nunca enchem o mar? A vida de cada um também é assim: está sempre toda por viver.
Mia Couto (O Último Voo do Flamingo)
No, it's not French," said Peter. "Try him with French if you know so much about it," said the farmer-man. "Parlay voo Frongsay?" began Peter, boldly, and the next moment the crowd recoiled again, for the man with the wild eyes had left leaning against the wall, and had sprung forward and caught Peter's hands, and begun to pour forth a flood of words which, though he could not understand a word of them, Peter knew the sound of.
E. Nesbit (The Railway Children)
Here, my man, just hold it this way, while I look into it a bit," he said one day to Fitz G., putting a wounded arm into the keeping of a sound one, and proceeding to poke about among bits of bone and visible muscles, in a red and black chasm made by some infernal machine of the shot or shell description. Poor Fitz held on like a grim Death, ashamed to show fear before a woman, till it grew more than he could bear in silence; and, after a few smothered groans,he looked at me imploringly, as if he said, "I wouldn't, ma'am, if I could help it," and fainted quietly away. Dr. P. looked up, gave a compassionate sort of cluck, and poked away more busily than ever, with a nod at me and a brief—"Never mind; be so good as to hold this till I finish." I obeyed, cherishing the while a strong desire to insinuate a few of his own disagreeable knives and scissors into him, and see how he liked it. A very disrespectful and ridiculous fancy of course; for he was doing all that could be done, and the arm prospered finely in his hands. But the human mind is prone to prejudice; and though a personable man, speaking French like a born "Parley voo," and whipping off legs like an animated guillotine, I must confess to a sense of relief when he was ordered elsewhere; and suspect that several of the men would have faced a rebel battery with less trepidation than they did Dr. P., when he came briskly in on his morning round.
Louisa May Alcott (Hospital Sketches)
Coitado! Que em um tempo choro e rio; Espero e temo, quero e aborreço; Juntamente me alegro e entristeço; Dua cousa confio e desconfio. Voo sem asas; estou cego e guio; E no que valho mais menos mereço. Calo e dou vozes, falo e emudeço, Nada me contradiz, e eu aporfio. Queria, se ser pudesse, o impossível; Queria poder mudar-me e estar quedo; Usar de liberdade e ser cativo; Queria que visto fosse e invisível; Queria desenredar-me e mais me enredo: Tais os extremos em que triste vivo!
Luís de Camões (Poesia Lírica)
Era uma vez um pássaro. Adornado com um par de asas perfeitas e plumas reluzentes, coloridas e maravilhosas. Enfim, um animal feito para voar livre e solto no céu, e alegrar quem o observasse. Um dia, uma mulher viu o pássaro e apaixonou-se por ele. Ficou a olhar o seu voo com a boca aberta de espanto, o coração batendo mais rapidamente, os olhos brilhando de emoção. Convidou-o para voar com ela, e os dois viajaram pelo céu em completa harmonia. Ela admirava, venerava, celebrava o pássaro. Mas então pensou: talvez ele queira conhecer algumas montanhas distantes! E a mulher sentiu medo. Medo de nunca mais sentir aquilo com outro pássaro. E sentiu inveja, inveja da capacidade de voar do pássaro. E sentiu-se sozinha. E pensou: “vou montar uma armadilha. Da próxima vez que o pássaro surgir, ele não partirá mais.” O pássaro, que também estava apaixonado, voltou no dia seguinte, caiu na armadilha, e foi preso na gaiola. Todos os dias ela olhava o pássaro. Ali estava o objecto da sua paixão, e ela mostrava-o ás suas amigas, que comentavam: “Mas tu és uma pessoa que tem tudo.” Entretanto, uma estranha transformação começou a processar-se: como tinha o pássaro, e já não precisava de o conquistar, foi perdendo o interesse. O pássaro sem puder voar e exprimir o sentido da sua vida, foi definhando, perdendo o brilho, ficou feio – e a mulher já não lhe prestava atenção, apenas prestava atenção á maneira como o alimentava e como cuidava da sua gaiola. Um belo dia o pássaro morreu. Ela ficou profundamente triste, e passava a vida a pensar nele. Mas não se lembrava da gaiola, recordava apenas o dia em que o vira pela primeira vez, voando contente entre as nuvens. Se ela se observasse a si mesma, descobriria que aquilo que a emocionava tanto no pássaro era a sua liberdade, a energia das asas em movimento, não o seu corpo físico. Sem o pássaro a sua vida também perdeu o sentido, e a morte veio bater á sua porta. “Por que vieste?” perguntou á morte. “Para que possas voar de novo com ele nos céus”, respondeu a morte. “Se o tivesses deixado partir e voltar sempre, amá-lo-ias e admirá-lo-ias ainda mais; porém, agora precisas de mim para puderes encontrá-lo de novo.
Paulo Coelho (Eleven Minutes)
Clark observa a actividade nocturna na pista, os aviões que estão parados à vinte anos, o reflexo da sua vela bruxuleante no vidro. Não tem esperança de ver um avião levantar voo novamente no seu tempo de vida, mas será possível que nalgum lugar haja navios a partirem? Se houver cidades com iluminação pública, se existem sinfonias e jornais, que mais pode conter este mundo que agora desperta? Talvez haja navios a içar velas neste preciso momento, a viajar em direcção a ele ou para longe dele, tripulados por marinheiro armados com mapas e conhecimento das estrelas, impulsionados pela necessidade, ou talvez simplesmente pela curiosidade: o que foi feito dos países do outro lado? É, pelo menos, agradável considerar essa possibilidade. Agrada-lhe a ideia de haver navios que se deslocam sobre as águas, em direcção a outro mundo fora do alcance da vista.
Emily St. John Mandel (Station Eleven)
Trago sempre nos olhos a imagem da minha primeira noite de voo na Argentina - uma noite escura onde apenas cintilavam, como estrelas, pequenas luzes perdidas na planície. Cada uma dessas luzes marcava, no oceano da escuridão, o milagre de uma consciência. Sob aquele teto alguém lia, ou meditava, ou fazia confidências. Naquela outra casa alguém sondava o espaço ou se consumia em cálculos sobre a nebulosa de Andrômeda, Mais além seria, talvez, a hora do amor. De longe brilhavam esses fogos no campo, como que pedindo sustento. Até os mais discretos: o do poeta, o do professor, o do carpinteiro. Mas entre essas estrelas vivas, tantas janelas fechadas, tantas estrelas extintas, tantos homens adormecidos. É preciso a gente tentar se reunir. É preciso a gente fazer um espaço para se comunicar com algumas dessas luzes que brilham, de longe em longe, ao longo da planura.
Antoine de Saint-Exupéry (Terre des hommes)
Il s'étonna de réfléchir sur des problèmes qu'il ne s'était jamais posés. Et pourtant revenait contre lui, avec un murmure mélancolique, la masse des douceurs qu'il avait toujours écartées: un océan perdu. "Tout cela est donc si proche?..." Il s'aperçut qu'il avait peu à peu repoussé vers la vieillesse, pour "quand il aurait le temps" ce qui fait douce la vie des hommes.(...) Mais il n'y a pas de paix. Il n'y a peut-être pas de victoire.
Antoine de Saint-Exupéry
Depois do 25 de Abril, por exemplo, tornámo-nos todos democratas. Não nos tornámos democratas por acreditar-mos na democracia, por odiarmos a guerra colonial, a polícia política, a censura, a simples proibição de raciocinar: tornámo-nos democratas por medo, medos dos doentes, do pessoal menor, dos enfermeiros, medo do nosso estatuto de carrascos, e até ao fim da Revolução, até 76, fomos indefectíveis democratas, fomos socialistas, diminuímos o tempo de espera nas consultas, chegámos a horas, conversámos atenciosamente com as famílias, preocupámo-nos com os internados, protestamos contra a alimentação, os percevejos, a humidade, os sanitários, a falta de higiene. Fomos democratas, Joana, por cobardia, pensou ele vendo um bando de rolas poisar num olival, agitar a tranquilidade do olival com o rebuliço do seu voo, tínhamos pânico de que nos acusassem como os pides, nos prendessem, nos apontassem na rua, pusessem os nossos nomes no jornal. E demorámos a entender que mesmo em 74, em 75, em 76, as pessoas continuavam a respeitar-nos como respeitam os abades nas aldeias, continuavam a ver em nós o único auxílio possível contra a solidão. E sossegámos. E passámos a trazer dobrados no sovaco jornais de direita. E sorríamos de sarcasmo ao escutar a palavra socialismo, a palavra democracia, a palavra povo. Sorríamos de sarcasmo, Joana, porque haviam abolido a guilhotina
António Lobo Antunes (Knowledge of Hell)
Os animais foram imperfeitos, compridos de rabo, tristes de cabeça. Pouco a pouco foram se compondo, fazendo-se paisagem, adquirindo manchas, graça, voo. O gato só gato apareceu completo e orgulhoso nasceu completamente terminado, caminha sozinho e sabe o que quer. O homem quer ser peixe e pássaro, a serpente queria ter asas, o cachorro é um leão desorientado, o engenheiro quer ser poeta, a mosca estuda para ser andorinha, o poeta tenta imitar a mosca, mas o gato só quer ser gato e todo gato é gato do bigode até o rabo, do pressentimento ao rato vivo, da noite até seus olhos de ouro. Não existe unidade como ele, nem têm a lua nem a flor tal contextura: é uma coisa só como o sol ou o topázio, e a elástica linhade seu contorno firme e sutil é como a linha da proa de uma nave. Seus olhos amarelos deixaram uma só ranhura para pôr as moedas da noite. Ó pequeno imperador sem orbe, conquistador sem pátria, mínimo tigre de salão, nupcial sultão do céu das telhas eróticas, o vento do amor na intempérie reclamas quando passas e pousas quatro pés delicados no solo, farejando, desconfiado de tudo que é terrestre, porque tudo é imundo para o imaculado pé do gato. Ó fera independente da casa, arrogante vestígio da noite, preguiçoso, ginástico, e alheio, profundíssimo gato, polícia secreta das moradas, talvez não sejas mistério, todo mundo sabe-te e pertences ao habitante menos misterioso, talvez todos o creiam, todos se creiam donos, proprietários, tios de gatos, companheiros, colegas, discípulos ou amigos de seu gato. Eu não. Eu não concordo. Eu não conheço o gato. Tudo sei, a vida e seu arquipélago, o mar e a cidade incalculável, a botânica, o gineceu com seus extravios, o mais e o menos da matemática, os funis vilcânicos do mundo, a casca irreal do crocodilo, a bondade ignorada do bombeiro, o atavismo azul do sacerdote, mas não posso decifrar um gato. Minha razão resvalou em sua indiferença, seus olhos têm números de ouro.
Pablo Neruda (Navegaciones y Regresos (Spanish Edition))
Osso é mais igual que pedra.
Mia Couto (O Último Voo do Flamingo)
O ovo dourado da criação No começo de tudo terá estado um gigantesco e belo voo dourado. Esse ovo nasceu de uma semente que errava há um ano pelo oceano cósmico, aquecida pelos intensos raios solares. De súbito, Brahma emergiu do ovo dourado que o sol chocou e ganhou a forma de dois seres distintos. Um era macho e o outro fêmea. Vivendo solitários sobre a face da Terra, os dois seres do começo da Criação acabaram por acasalar, nascendo dessa invulgar união todos os outros seres que depois se espalharam pelo céu, pelas águas dos imensos oceanos e pelos vários continentes. Como na origem de tudo esteve um imenso oceano, Brahma é também conhecido pelo nome de Narayana, que significa "aquele que nasceu das águas", sendo por vezes representado como uma criatura vogando nas águas originais sobre a folha de uma árvore, chupando um dedo do pé. Para muitos, esse é um símbolo da própria Eternidade.
José Jorge Letria (Lendas e contos indianos)
Ainda acreditou ser um pássaro que lançava ser seu voo da varanda para o distante chão. Nesse momento ele aprendia que o céu está padecendo de cataratas, repentinas névoas que impedem Deus de nos espreitar.
Mia Couto (Contos do Nascer da Terra)
Um pardal pousou no pessegueiro, bicou uma folha e prosseguiu seu voo. Virgínia seguiu-o com o olhar. Devia ser bom, também, nascer passarinho. Passarinho não tem essa complicação de pai e mãe assim separados. E passarinho não fica louco nunca. Franziu a testa: ou fica? Beija-flor era um que não parecia muito certo.
Lygia Fagundes Telles (Ciranda de Pedra)
Os loucos são felizes, basta ver como se riem das coisas mais estúpidas que se possa imaginar. Riem felizes do voo de uma borboleta.
Pepetela (O Tímido e as Mulheres)
Uma asa sulca a poeira dos vidros. Beno levanta voo com a ave, ve-se a sobrevoar os rostos daqueles que o túmulo da memória guardou. Debica-lhes os ossos, julgando que através da dor que lhes inflige os pode restituir à vida
Al Berto (Lunário)
Livre, como um pássaro que foge no final de outono. Voo em pensamentos cheios de sentimentos que me levam ao isolamento. Isolamento total e fatal da minha pobre alma. Pobre alma sem esperança de dias melhores. No momento, Sem esperança crer em mim é difícil. Dificílimo, estou frágil como um barco em um naufrágio. Vivo em uma ilha deserta de emoções Ilha cheia de enigma, Enigmas inacessíveis. Sinto-me em uma porta dos fundos, onde vivo um dilema. Entro ou saio? Vivo ou morro? Posso sair. Mas e os vestígios da minha vida? Alguém se lembrará de mim? Eu que nada sou nesse momento, E luto todo dia para ser Também, Posso entrar e continuar vivendo sendo o nada Nada que ninguém conhece nada quem ninguém pergunta Apenas um nada de vida, Nada de historia, nada de vestígio Um nada.
Davi Abramovich
É que há perguntas que não podem ser dirigidas às pessoas, mas à vida. Pergunte à vida, senhor. Mas não a este lado da vida. Porque a vida não acaba do lado dos vivos. Vai para além, para o lado dos falecidos. Procura desse outro lado da vida, senhor.
Mia Couto (O Último Voo do Flamingo)
Escrever é quando voo, escrever é quando começo incêndios. Escrever é quando tiro a morte do meu bolso esquerdo, atiro-a contra a parede e a pego de volta quando rebate.
Charles Bukowski
Não vê os rios que nunca enchem o mar? a vida de cada um também é assim, está sempre toda por viver...
Mia Couto
Pouco a pouco esta certeza ergueu-se, petrificou-se na minha alma, e como uma coluna num descampado dominou toda a minha vida interior: de sorte que, por mais desviado caminho que tomassem, os meus pensamentos viam sempre negrejar no horizonte aquela memória acusadora; por mais alto que se levantasse o voo das minhas imaginações, elas terminavam por ir fatalmente ferir as asas nesse monumento de miséria moral.
Eça de Queirós (O Mandarim)
Saída do aeroporto de Guarulhos, em São Paulo. Entro no táxi às dez e meia da noite, depois de um longo dia que incluiu uma palestra em Maceió, um voo para Brasília, um atraso de duas horas na conexão e uma turbulência
Leila Ferreira (A arte de ser leve (Portuguese Edition))
(...) a ausência de talento é uma bênção, verificou ele; só que custa a gente habituar-se a isso. E assumida a sua condição de homem comum reduzido aos raros voos de perdiz de uma poesia ocasional, sem a corcunda da imortalidade agarrada às costas, sentia-se livre para sofrer sem originalidade e dispensado de rodear os seus silêncios da muralha de taciturna inteligência que associava ao génio.
António Lobo Antunes (Memoria de elefante)
A chave é sonhar. E cagar nos profetas da impossibilidade. Naqueles que dizem “sim, mas”, naqueles que dizem “não é possível”, naqueles que dizem “não vamos ser capazes”, naqueles que antes de dar um passo têm de saber o que vão pisar. Coitados. Não sabem que só o que é surpresa nos surpreende, e que só o que nos surpreende nos mantém vivos. A chave é sonhar. E escolher para estar contigo quem saiba sonhar contigo. Quem não te corte as asas pela raiz. Quem não te impeça o voo antes de haver pelo menos uma tentativa de voar. Quem não te feche uma entrada que ainda nem sequer tentaste abrir. A chave é sonhar. E trabalhar. Trabalhar. Sempre trabalhar. Trabalhar para esse sonho. Trabalhar para todos os sonhos. E ir à procura do que ninguém tem – pois se alguém tivesse já não poderia ser o teu sonho, o teu tão especial sonho. E chegar onde ninguém chegou, tocar onde ninguém tocou, arriscar o que ninguém arriscou – pois se alguém já tivesse chegado, tocado ou arriscado já não seria a tua chegada, o teu toque, o teu risco. Trabalhar. Sempre trabalhar. A chave é sonhar. E ter medo. Ter muito medo. Ter sempre medo de que desta vez seja de vez, de que desta vez não dê. E continuar a tentar que dê. A demencialmente tentar que dê. A ir por um lado, depois por outro, depois pelo meio, até que por vezes tens mesmo de ir por um lado que ainda não existe, por uma porta que tu vais ter de inventar, por uma direcção que tu vais ter de encontrar. Ter medo. Sempre medo. Orgulhosamente medo. E continuar. A chave é sonhar. E ir até ao fim dos dias assim. Nem que haja uma doença, nem que haja uma perda, nem que haja uma ausência, nem que haja uma dor, nem que haja uma precisão, nem que o emprego acabe, nem que o dinheiro se vá, nem que a fé se evapore. Sonhar. Sempre sonhar. E o pobre sonha como sonha o milionário, e o doente sonha como sonha o saudável, e o que precisa sonha como sonha o que tudo tem e que mesmo assim de tudo precisa. Sonhar. Sempre sonhar. Com a cura para doença, com o abraço final, com a verdade total, e até com a casa perfeita no lugar perfeito com a companhia perfeita. Sonhar. Sempre sonhar. A chave é sonhar. E começar. Começar todos os dias. Como se fosse a primeira vez. E porque é mesmo a primeira vez. Começar. O projecto, a relação, a ideia, o caminho, a aprendizagem. Começar. Sempre começar. Mesmo o que já acabou. Mesmo o que está quase a acabar. Começar. Sempre começar. A chave é sonhar. E ter coragem. Ter a puta da coragem de ir contra o que assusta. Ter a puta da coragem de ir contra o que toda a gente pensa que é o mais certo. Ter a puta da coragem de não abdicar do que vês, de não tapares o que olhas, de não eliminares o que queres. Ter coragem. Sempre coragem. A absoluta coragem. A chave é sonhar. Sempre sonhar. E amar. Vem. Quero sonhar contigo para sempre.
Pedro Chagas Freitas (Prometo Perder)
Nunca conseguimos sentir a monstruosidade e a extensão de um acto se ele não nos tocar directamente.
Dulce Rodrigues (VOO 606 DE 11 DE SETEMBRO)
O Homem nasceu para ser livre, e qualquer ditadura, quer de esquerda, quer de direita, não pode subsistir por muito tempo.
Dulce Rodrigues (VOO 606 DE 11 DE SETEMBRO)
Neste mundo tudo é passageiro, aquilo que se ergue hoje como um símbolo altaneiro de poder e prestígio pode desmoronar-se em poucos segundos.
Dulce Rodrigues (VOO 606 DE 11 DE SETEMBRO)
Um rapaz franzino de cabelo arruivado, quase nu e a agarrar com força um arco, rastejava vagarosamente na direcção de um pequeno veado. Puxou de uma flecha com um curioso orifício na ponta e disparou-a em voo. A seta de conceção astuciosa produziu um silvo distintivo, levando o veado a levantar a cabeça, espantado, no momento preciso em que recebia a ponta afiada na garganta. O rapaz, nómada, órfão de pai e banido da tribo, vivia na floresta com a mãe. Destemido e brutal, era excecionalmente inteligente, com talento para perscrutar as mentes dos outros. Em breve, mataria um dos seus meios-irmãos numa altercação relativa à caça. Não obstante isto se ter passado num dos cantos mais remotos da Terra habitada, um lugar de planícies verdes sem fim, sem edifícios, e sob um céu imenso, este rapaz abalaria e reconfiguraria o mundo. O seu nome era Temujin. Viria a ser conhecido como Gengis Khan.
Andrew Marr (História do Mundo (Vol. 3))
Porque aqui você precisa de calar a sua sabedoria para sobreviver. Conhece a diferença entre o sábio branco e o sábio preto? A sabedoria do branco mede-se pela pressa com que responde. Entre nós o mais sábio é aquele que mais demora a responder. Alguns são tão sábios que nunca respondem.
Mia Couto (O Último Voo do Flamingo)
E pergunto: por que nos ensinaram essa merda de sermos humanos? Seria melhor sermos bichos, tudo instinto. Podemos violar, morder, matar. Sem culpa, sem juízo, sem perdão. A desgraça é esta: só uns poucos aprenderam a lição da humanidade.
Mia Couto (O Último Voo do Flamingo)
A escola foi para mim como um barco: me dava acesso a outros mundos. Contudo, aquele ensinamento não me totalizava.
Mia Couto (O Último Voo do Flamingo)
Mudam-se os tempos, desnudam-se as vontandes.
Mia Couto (O Último Voo do Flamingo)
Até saíra num jornal da capital que aquilo era abuso do poder. Jonas ria-se: ele não abusava; os outros é que não detinham poderes nenhuns. E repetia o ditado: cabrito come onde está amarrado.
Mia Couto (O Último Voo do Flamingo)
E contra factos tudo são argumentos.
Mia Couto (O Último Voo do Flamingo)
Sabia que o lastro de um homem durante toda a sua vida é de resguardar os sonhos em recantos da alma, sagrados, intocáveis, à espera do dia em que os milagres aconteçam e a alma reencontre a frescura perdida dos tempos de infância. Como a inocência dos pássaros que esvoaçam dentro de cada um de nós, num espaço exíguo, voando e batendo nas grades da gaiola em que os enclausurámos, até os seus voos ficarem cada vez mais repetitivos, tristes e raros. Pássaros cujas asas se tornaram inúteis de tanto tempo engaiolados, chilreando apenas melopeias tristes, carregadas de desilusão por tão servil rendição.
Rui Conceição Silva (Quando o Sol Brilha)
Uns não vivem por temer morrer; eu não morro por temer viver.
Mia Couto (O Último Voo do Flamingo)
Depois que Julie soube que estava morrendo, sua melhor amiga, Dara, querendo ser útil, enviou-lhe o conhecido ensaio “Bem-vindo à Holanda”. Escrito por Emily Perl Kingsley, mãe de uma criança com síndrome de Down, esse texto trata da experiência de ter suas expectativas de vida viradas de cabeça para baixo. Esperar um bebê é como planejar uma viagem fabulosa à Itália. Você compra um monte de guias e faz seus planos maravilhosos. O Coliseu, o David de Michelangelo, as gôndolas de Veneza. Pode ser que você aprenda algumas frases práticas em italiano. Tudo é muito excitante. Depois de meses de expectativa e ansiedade, finalmente chega o dia. Você faz as malas e vai. Várias horas depois, o avião aterrissa. A aeromoça aparece e diz: “Bem-vindos à Holanda”. “Holanda?!?”, você diz. “Como assim, Holanda?? Minha viagem era para a Itália! Eu deveria estar na Itália. Passei a vida toda sonhando em ir para a Itália.” Mas houve uma mudança no plano de voo. Eles aterrissaram na Holanda, e é lá que você tem que ficar. O importante é que eles não te levaram para um lugar horroroso, desagradável, imundo, cheio de pestilência, fome e doenças. É apenas um lugar diferente. Então, você precisa sair e comprar novos guias. Precisa aprender uma língua completamente nova. Você vai conhecer todo um novo grupo de pessoas que nunca viu. Trata-se apenas de um lugar diferente. É mais tranquilo do que a Itália, menos chamativo do que a Itália, mas depois que você está lá por um tempo e consegue recuperar o fôlego, olha em volta... e começa a reparar que a Holanda tem moinhos de vento... e a Holanda tem tulipas. A Holanda tem até Rembrandt. Mas todo mundo que você conhece está na agitação de ir e vir da Itália... Todos se vangloriam sobre a temporada maravilhosa que passaram lá. E pelo resto da sua vida, você dirá: “É, era para lá que eu deveria ter ido. Foi isso que planejei”. A dor disso nunca, jamais, jamais, jamais desaparecerá... porque a perda desse sonho é uma perda muito, muito significativa. Mas... se você passar a vida toda lamentando o fato de não ter chegado à Itália, pode ser que nunca se sinta livre para aproveitar coisas muito especiais e encantadoras que existem na Holanda.
Lori Gottlieb (Maybe You Should Talk to Someone)
As velas da memória Há nos silvos que as manhãs me trazem chaminés que se desmoronam: são a infância e a praia os sonhos de partida Abrir esse portão junto ao vento que a vida aquém ou além desta me abre? Em que outro mundo ouvi o rouxinol tão leve que o voo lhe aumentava as asas? Onde adiava ele a morte contra os dias essa primeira morte? Vinham núpcias sem conto na inconcebível voz Que plenitude aquela: cantar como quem não tivesse nenhum pensamento. Quem me deixou de novo aqui sentado à sombra deste mês de junho? Como te chamas tu que me enfunas as velas da memória ventilando: «aquela vez...»? Quando aonde foi em que país? Que vento faz quebrar nas costas destes dias as ondas de uma antiga música que ouvida obriga a recuar a noite prometida em círculos quebrados para além das dunas fazendo regressar rebanhos de alegrias abrindo em plena tarde um espaço ao amor? Que morte vem matar a lábil curva da dor? Que dor me faz doer de não ter mais que morrer? E ouve-se o silêncio descer pelas vertentes da tarde chegar à boca da noite e responder
Ruy Belo (Aquele Grande Rio Eufrates)
A nossa vida é assim, o voo é certo, o resto é tudo passageiro.
Malu Grabowski (Aceita um Cafezinho? (Portuguese Edition))
Se você pode sonhar sem limites, pode alçar voo para grandes alturas. Deixe a magia da imaginação libertar você.
Kerri Maniscalco (Escaping from Houdini (Stalking Jack the Ripper, #3))
Se te empurrarem em um abismo, embora difícil, cria asas e inicia um belo voo; lá do alto, ainda poderás agradecer aos minúsculos seres lá embaixo por terem te ajudado a descobrir que voavas.
Vinícius Lemarc (Vassalo: Poemas e Rodapés)
...Estou ao volante e, pelo retrovisor, observo um automóvel que vem atrás de mim. A luzinha da esquerda pisca e todo o automóvel emite ondas de impaciência. O condutor espera o ensejo de me ultrapassar; espreita esse momento como uma ave de rapina espreita um pardal. Véra, a minha mulher, diz-me: “Todos os cinquenta minutos morre um homem nas estradas de França. Olha para eles, para estes doidos todos que correm à nossa volta. São os mesmos que sabem mostrar-se de uma prudência extraordinária quando vêem assaltar uma velha na rua, mesmo diante dos olhos. Como é que podem não ter medo quando estão ao volante?” Que responder? Talvez o seguinte: o homem inclinado para a frente na sua motorizada só pode concentrar-se no segundo presente do seu voo; agarra-se a um fragmento do tempo cortado tanto do passado como do futuro; agarra-se à continuidade do tempo; está fora do tempo; por outras palavras, está no estado de êxtase; nesse estado, nada sabe da sua idade, nada da mulher, nada dos filhos, nada das preocupações e, portanto, não tem medo, porque a fonte do medo está no futuro, e quem se liberta do futuro nada tem a temer. A velocidade é a forma do êxtase com que a revolução técnica presenteou o homem. Ao contrário do motociclista, quem corre a pé continua presente no seu corpo, obrigado ininterruptamente a pensar nas suas bolhas, no seu ofegar; quando corre sente o seu peso, a sua idade, mais consciente do que nunca de si próprio e da sua vida. Tudo muda quando um homem delega a faculdade da velocidade numa máquina: a partir de então, o seu próprio corpo sai do jogo e ele entrega-se a uma velocidade que é incorpórea, imaterial, velocidade pura, velocidade em si mesma, velocidade êxtase. Curiosa aliança: a fria impessoalidade da técnica e as chamas do êxtase. Estou a lembrar-me dessa americana que, há trinta anos, expressão severa e entusiástica, qual apparatchik do erotismo, me deu uma aula (glacialmente teórica) sobre a libertação sexual; a palavra que se repetia mais vezes no seu discurso era a palavra orgasmo; contei: quarenta e três vezes. O culto do orgasmo; o utilitarismo puritano projectado na vida sexual; a eficácia contra a ociosidade; a redução do coito a um obstáculo que se deve ultrapassar o mais depressa possível para se chegar a uma explosão extática, único verdadeiro alvo do amor e do universo. Porque terá desaparecido o prazer da lentidão? Ah, onde estão os deambuladores de outrora? Onde estão esses heróis indolentes das canções populares, esses vagabundos que preguiçam de moinho em moinho e dormem ao relento? Terão desaparecido com os caminhos campestres, com os prados e as clareiras, com a natureza? Há um provérbio checo que descreve a sua ociosidade por meio de uma metáfora: contemplam as janelas de Deus. Quem contempla as janelas de Deus não se aborrece; é feliz. No nosso mundo, a ociosidade transformou-se em desocupação, o que é uma coisa muitíssimo diferente: o desocupado sente-se frustrado, aborrece-se, procura constantemente o movimento que lhe faz falta. Olho para o retrovisor: sempre o mesmo automóvel que não consegue ultrapassar-me por causa da circulação em sentido contrário. Ao lado do condutor, está sentada uma mulher; porque é que o homem não lhe conta alguma coisa engraçada? Porque não lhe põe a palma da mão no joelho? Em vez disso, amaldiçoa o automobilista que, à sua frente, não vai suficientemente depressa, e também a mulher não pensa em tocar com a mão o condutor, conduz mentalmente ao mesmo tempo que ele e como ele amaldiçoa-me. E eu penso nessa outra viagem de Paris para um solar no campo, que teve lugar há mais de duzentos anos, na viagem da Senhora de T. e do jovem cavaleiro que a acompanhava. É a primeira vez que estão tão perto um do outro, e a indizível atmosfera sensual que os envolve nasce justamente da lentidão do ritmo: balouçados pelo movimento da carruagem, os dois corpos tocam-se, primeiro sem o saberem, depois sabendo-o, e a história principia.
Milan Kundera (Slowness)
Que é, afinal, que eles queriam? Eles não sabiam, e usavam-se como quem se agarra em rochas menores até poder sozinho galgar a maior, a difícil e a impossível; usavam-se para se exercitarem na iniciação; usavam-se impacientes, ensaiando um com o outro o modo de bater asas para que enfim - cada um sozinho e liberto - pudesse dar o grande voo solitário que também significaria o adeus um do outro.
Clarice Lispector (Felicidade Clandestina)
VOO—vessel of opportunity
T.J. Newman (Drowning)
Se temo voz é para vazar sentimento. Contudo, sentimento demasiado nos rouba a voz
Mia Couto (O Último Voo do Flamingo)
Se temos voz é para vazar sentimento. Contudo, sentimento demasiado nos rouba a voz.
Mia Couto (O Último Voo do Flamingo)
A 4 de junho de 2015, seis meses depois da prisão: «Debalde procurámos indícios dessa matéria no requerimento e decisão ora recorrida, mas sobretudo procurámo-los nos factos imputados ao recorrente aquando do 1º interrogatório [...]. Ante a sua inexistência partimos para a integral audição daquele interrogatório [...]. Do que ouvimos (incluindo os excertos de algumas das escutas telefónicas que o MP entendeu ser relevante passar durante esse ato), constatámos que em momento algum o recorrente foi confrontado com quaisquer factos ou indícios concretos suscetíveis de integrar o crime de corrupção. E seguramente não o foi porque simplesmente no extenso rol de factos (recheado de expressões conclusivas e dedutivas) que o MP lhe imputou eles inexistem.» O que leram acima é uma pequena transcrição do voto do juiz desembargador José Reis, do Tribunal da Relação de Lisboa. É um voo de vencido, mas, por diversas razões e também por essa, ele adquire uma singularidade muito especial na história deste processo. Pela primeira vez, um juiz relator de um tribunal superior quis tomar conhecimento da substância dos autos, procurou os indícios de delito em todo o lado, primeiro, na decisão, na qual nada constava, depois, na imputação de factos, na qual nada encontrou, e, finalmente, no interrogatório - «debalde procurámos indícios», diz ele. Seis meses depois da prisão, um juiz afirma que fui preso sem haver indícios ou factos da prática do crime de corrupção. Diz o voto do juiz: «No fundo, este tribunal fica sem saber o que, concretamente, com relevância criminal, se está a investigar, pelo que não se pode conceder o seu aval àquele que desconhece. Ou seja, se se ignoram os indícios dos factos que se projetam demonstrar não se pode fazer um juízo fundamentado acerca da complexidade da investigação, sendo certo que não há complexidade alguma em investigar o nada, o vazio.»
José Sócrates (Só agora começou)
Don’t make me sic the Voo-doo on you.
Jason Medina (A Ghost In New Orleans)
Rini moved in to kiss him, but on his cheek. She gave him two pecks on his right cheek and one more on his left, which caused him to blush. “Three kisses, huh?” She beamed at him and nodded when she explained, “Fo’ Faith, Hope, an’ Charity.
Jason Medina (A Ghost In New Orleans)
Assim como a falta de combustível no voo da Lamia causou uma tragédia, a falta do óleo do Espírito Santo tem consequências eternas irreversíveis. Por favor, não seja negligente com sua vida como fez aquele piloto. O preço a ser pago é alto demais!
Alberto R. Timm (Meditações Diárias 2018 - Um Dia Inesquecível (Portuguese Edition))
So I was privileged to see the last rites of the Bokononist faith. We made an effort to find someone among the soldiers and the household staff who would admit that he knew the rites and would give them to "Papa". We got no volunteers. That was hardly surprising, with a hook and an oubliette so near. So Dr. von Koenigswald said that he would have a go at the job. He had never administered the rites before, but he had seen Julian Castle do it hundreds of times. "Are you a Bokononist?" I asked him. "I agree with one Bokononist idea. I agree that all religions, including Bokononism, are nothing but lies." "Will this bother you as a scientist," I inquired, "to go through a ritual like this?" "I am a very bad scientist. I will do anything to make a human being feel better, even if it's unscientific. No scientist worthy of the name could say such a thing." And he climbed into the golden boat with "Papa". He sat in the stern. Cramped quarters obliged him to have the golden tiller under one arm. He wore sandals without socks, and he took these off. And then he rolled back the covers at the foot of the bed, exposing "Papa's" bare feet. He put the soles of his feet against "Papa's" feet, assuming the classical position for boko-maru. "Gott mate mutt," crooned Dr. von Koenigswald. "Dyot meet mat," echoed "Papa" Monzano. "God made mud," was what they'd said, each in his own dialect. I will here abandon the dialects of the litany. "God got lonesome," said Von Koenigswald. "God got lonesome." "So God said to some of the mud, 'Sit up!'" - "So God said to some of the mud, 'Sit up!'" "'See all I've made,' said God, 'the hills, the sea, the sky, the stars.'" - "'See all I've made,' said God, 'the hills, the sea, the sky, the stars.'" "And I was some of the mud that got to sit up and look around." - "And I was some of the mud that got to sit up and look around." "Lucky me; lucky mud." "Lucky me, lucky mud." Tears were streaming down "Papa's" cheeks. "I, mud, sat up and saw what a nice job God had done." - "I, mud, sat up and saw what a nice job God had done." "Nice going, God!" "Nice going, God!" "Papa" said it with all his heart. "Nobody but You could have done it, God! I certainly couldn't have." - "Nobody but You could have done it, God! I certainly couldn't have." "I feel very unimportant compared to You." - "I feel very unimportant compared to You." "The only way I can feel the least bit important is to think of all the mud that didn't even get to sit up and look around." - "The only way I can feel the least bit important is to think of all the mud that didn't even get to sit up and look around." "I got so much, and most mud got so little." - "I got so much, and most mud got so little." "Deng you vore da on-oh!" cried Von Koenigswald. "Tz-yenk voo vore lo yon-yo!" wheezed "Papa". What they had said was, "Thank you for the honor!" "Now mud lies down again and goes to sleep." - "Now mud lies down again and goes to sleep." "What memories for mud to have!" - "What memories for mud to have!" "What interesting other kinds of sitting-up mud I met!" - "What interesting other kinds of sitting-up mud I met!" "I loved everything I saw!" - "I loved everything I saw!" "Good night." - "Good night." "I will go to heaven now." - "I will go to heaven now." "I can hardly wait..." - "I can hardly wait..." "To find out for certain what my wampeter was..." - "To find out for certain what my wampeter was..." "And who was in my karass..." - "And who was in my karass..." "And all the good things our karass did for you." - "And all the good things our karass did for you." "Amen." - "Amen.
Kurt Vonnegut Jr. (Cat’s Cradle)