Tempo E O Vento Quotes

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Vem, o tempo urge... as constelações já iniciaram o movimento de mudança de hemisfério, e as dunas fenderam-se onde o mar avançou, e o mar toca-nos os olhos e o sono. Vem, antes que os cardos se espalhem com o vento, e a geada esconda a água dos poços, e a noite acabe, assim, sem prevenir, dentro de uma mão que se fecha à luz. Vem, antes que os meus olhos só vejam o que tu não vês, e as minhas mãos já não toquem o que tu tocaste... e a tua boca se canse de procurar o que de ti ainda possuo, e do teu nome não reste mais que uma metade do meu.
Al Berto (O Anjo Mudo)
Bisogna sempre essere ubriachi. Tutto qui: è l'unico problema. Per non sentire l'orribile fardello del Tempo che vi spezza la schiena e vi tiene a terra, dovete ubriacarvi senza tregua. Ma di che cosa? Di vino, poesia o di virtù : come vi pare. Ma ubriacatevi. E se talvolta, sui gradini di un palazzo, sull’erba verde di un fosso, nella tetra solitudine della vostra stanza, vi risvegliate perché l’ebbrezza è diminuita o scomparsa, chiedete al vento, alle stelle, agli uccelli, all'orologio, a tutto ciò che fugge, a tutto ciò che geme, a tutto ciò che scorre, a tutto ciò che canta, a tutto ciò che parla, chiedete che ora è; e il vento, le onde, le stelle, gli uccelli, l'orologio, vi risponderanno: "È ora di ubriacarsi! Per non essere gli schiavi martirizzati del Tempo, ubriacatevi, ubriacatevi sempre! Di vino, di poesia o di virtù, come vi pare.
Charles Baudelaire (Paris Spleen)
Sempre mantive o hábito prazeroso dos tempos de faculdade, de sublinhar passagens e fazer anotações. Grande parte de minhas notas de Orgulho e Preconceito, A herdeira, O morro dos ventos uivantes, Madame Bovary e Tom Jones foi feita durante as noites de insônia. 224
Azar Nafisi (Reading Lolita in Tehran: A Memoir in Books)
Quando se ama alguém, tem-se sempre tempo para essa pessoa. E se ela não vem ter conosco, nós esperamos. O verbo esperar torna-se tão imperativo como o verbo respirar. A vida transforma-se numa estação de comboios e o vento anuncia-nos a chegada antes do alcance do olhar. O amor na espera ensina-nos a ver o futuro, a desejá-lo, a organizar tudo para que ele seja possível. É mais fácil esperar do que desistir. É mais fácil desejar do que esquecer. É mais fácil sonhar do que perder. E para quem vive a sonhar, é muito mais fácil viver. - Diário da Tua ausência
Margarida Rebelo Pinto
O tempo não é uma medida. Um ano não conta, dez anos não representam nada. Ser artista não significa contar, é crescer como a árvore que não apressa a sua seiva e resiste, serena, aos grandes ventos da primavera, sem temer que o verão possa não vir. O verão há de vir. Mas só vem para aqueles que sabem esperar, tão sossegados como se tivessem na frente a eternidade.
Rainer Maria Rilke (Letters to a Young Poet)
E se talvolta, sui gradini di un palazzo, sull’erba verde di un fosso, nella tetra solitudine della vostra stanza, vi risvegliate perché l’ebbrezza è diminuita o scomparsa, chiedete al vento, alle stelle, agli uccelli, all'orologio, a tutto ciò che fugge, a tutto ciò che geme, a tutto ciò che scorre, a tutto ciò che canta, a tutto ciò che parla, chiedete che ora è; e il vento, le onde, le stelle, gli uccelli, l'orologio, vi risponderanno: "E' ora di ubriacarsi! Per non essere gli schiavi martirizzati del Tempo, ubriacatevi, ubriacatevi sempre! Di vino, di poesia o di virtù , come vi pare
Charles Baudelaire
«Benvenuto nel Cimitero dei Libri Dimenticati, Daniel. ... «Questo luogo è un mistero, Daniel, un santuario. Ogni libro, ogni volume che vedi possiede un'anima, l'anima di chi lo ha scritto e di coloro che lo hanno letto, di chi ha vissuto e di chi ha sognato grazie a esso. Ogni volta che un libro cambia proprietario, ogni volta che un nuovo sguardo ne sfiora le pagine, il suo spirito acquista forza. Molti anni fa, quando mio padre mi portò qui per la prima volta, questo luogo era già vecchio, quasi come la città. Nessuno sa con certezza da quanto tempo esista o chi l'abbia creato. Ti posso solo ripetere quello che mi disse mio padre: quando una biblioteca scompare, quando una libreria chiude i battenti, quando un libro viene cancellato dall'oblio, noi, i custodi di questo luogo, facciamo in modo che arrivi qui. E qui i libri che più nessuno ricorda, i libri perduti nel tempo, vivono per sempre, in attesa del giorno in cui potranno tornare nelle mani di un nuovo lettore, di un nuovo spirito. Noi li vendiamo e li compriamo, ma in realtà i libri non ci appartengono mai. Ognuno di questi libri è stato il miglior amico di qualcuno. Adesso hanno soltanto noi, Daniel. Pensi di poter mantenere il segreto?»
Carlos Ruiz Zafón
Não se dirá: Quando a nogueira balançou no vento Mas sim: Quando o pintor de paredes esmagou os trabalhadores. Não se dirá: Quando o menino fez deslizar a pedra lisa pela superfície da correnteza Mas sim: Quando prepararam as grandes guerras. Não se dirá: Quando a mulher foi para o quarto Mas sim: Quando os grandes poderes se uniram contras os trabalhadores. Não se dirá: Os tempos eram negros E sim: Por que seus poetas silenciaram?
Bertolt Brecht
porque como o escuro era grande, o tempo muito frio, o mar muito grosso, o vento muito rijo, as aguas cruzadas, o escarcéo muito alto, e a força da tempestade muito terrivel, não havia cousa que bastasse a nos dar remedio, senão só a misericordia de Nosso Senhor,
Fernão Mendes Pinto (Peregrinação)
- Minha filha, vens da água e a água fala. Vens do tempo e estarás no tempo e a tua palavra estará no vento e será espalhada pela terra. A tua palavra será o fogo que transforma todas as coisas. A tua palavra estará na água be será espelho da língua. A tua palavra terá olhos e verá, terá ouvidos e ouvirá, terá tacto para mentir com a verdade e dirá verdades que parecerão mentiras. E com a tua palavra poderás regressar à quietude, ao princípio onde nada é, onde nada está, onde tudo o que foi criado regressa ao silêncio, mas a tua palavra despertá-lo-á e terás de nomear os deuses e terás de dar vozes às árvores e farás com que a natureza tenha língua e falará por ti o que é invisível. E a tua língua será palavra de luz e a tua palavra, pincel de flores, palavra de cores que, com a tua voz, pintará novos códices.
Laura Esquivel (Malinche)
C'era come un odore di Tempo, Nell'aria della notte. Tomàs sorrise all'idea, continuando a rimuginarla. Era una strana idea. E che odore aveva il Tempo, poi? Odorava di polvere, di orologi e di gente. E che suono aveva il Tempo? Faceva un rumore di acque correnti nei recessi bui d'una grotta, di voci querule, di terra che risuonava con un tonfo cavo sui coperchi delle casse, e battere di pioggia. E, per arrivare alle estreme conseguenze: che aspetto aveva il Tempo? Era come neve che cade senza rumore in una camera buia, o come un film muto in un'antica sala cinematografica, cento miliardi di facce cadenti come palloncini di capodanno, giù, sempre più giù, nel nulla. Così il tempo odorava, questo era il rumore che faceva, era così che appariva. E quella notte – Tomàs immerse una mano nel vento fuori della vettura – quella notte tu quasi lo potevi toccare, il Tempo. (Cronache Marziane, trad. Giorgio Monicelli)
Ray Bradbury (The Martian Chronicles)
Ecco dove accadde. Lei è stata qui. Questi leoni di pietra, ora senza testa, l'hanno fissata. Questa fortezza, una volta inespugnabile, cumulo di pietre ora, fu l'ultima cosa che vide. Un nemico da tempo dimenticato e i secoli, sole, pioggia, vento, l'hanno spianata. Immutato il cielo, un blocco d'azzurro intenso, alto, distante. Vicine, ogg come ieri, le mura ciclopiche che orientano il cammino: verso la porta dal cui fondo non fiotta più sangue. Nelle tenebre. Nel macello. E sola. Con questo racconto vado nella morte. Termino qui, impotente, e niente, niente di quello che avrei potuto fare o non fare, volere o pensare, mi avrebbe condotto a una meta diversa. Più profondamente di ogni altro moto dell'animo, più profondamente persino della mia paura, mi impregna, mi corrode, mi avvelena l'indifferenza dei celesti verso noi terreni. Naufragata l'audace impresa di opporre il nostro debole calore alla loro gelidità.
Christa Wolf (Kassandra)
Do fundo do silêncio, eu ouvia subir o clamor da ribeira que ali passava perto. Assim estive longo tempo acordado e sem sono. O vento crescia pela escuridão do quintal, encurvava-se sobre o casarão e caía adiante, solenemente, como uma vaga. A montanha falava, de enorme bocarra aberta, a voz dos grandes medos do espaço.
Vergílio Ferreira (Manhã Submersa)
Que amo eu, quando Vos amo? Não amo a formosura corporal, nem a glória temporal, nem a claridade da luz, tão amiga destes meus olhos, nem as doces melodias das canções de todo o gênero, nem o suave cheiro das flores, dos perfumes ou dos aromas, nem o maná ou o mel, nem os membros tão flexíveis aos abraços da carne. Nada disso amo, quando amo a Deus. E contudo, amo uma luz, uma voz, um alimento e um abraço, quando amo a Deus, luz, voz, perfume do homem interior, onde brillha para minha alma uma luz que nenhum espaço contém, onde soa uma voz que o tempo não arrebata, onde exala um perfume que o vento não esparge, onde se saboreia uma comida que a sofreguidão não diminui, onde se sente um contato que a saciedade não desfaz. Eis o que amo quando amo a Deus.
Augustine of Hippo
[...] e essa ideia de ter um filho homem era como a revanche de todas as suas impotências passadas. Um homem ao menos é livre; pode percorrer as paixões e os países, atravessar os obstáculos, ir atrás das alegrias mais distintas. Ao mesmo tempo inerte e flexível, a mulher tem a seu desfavor as fraquezas da carne e as dependências da lei. Sua vontade, como o véu do chapéu retido por uma fita, palpita ao sabor de todos os ventos; sempre há algum desejo que arrasta, alguma conveniência que retém.
Gustave Flaubert (Madame Bovary)
I GATTICI E vi rivedo, o gattici d'argento, brulli in questa giornata sementina: e pigra ancor la nebbia mattutina sfuma dorata intorno ogni sarmento. Gia vi schiudea le gemme questo vento che queste foglie gialle ora mulina; e io che al tempo allor gridai, Cammina, ora gocciare il pianto in cuor mi sento. Ora, le nevi inerti sopra i monti, e le squallide pioggie, e le lunghe ire del rovaio che a notte urta le porte, e i brevi dì che paiono tramonti. infiniti, e il vanire e lo sfiorire, e i crisantemi, il fiore della morte.
Giovanni Pascoli (Myricae)
PARA ATRAVESSAR CONTIGO O DESERTO DO MUNDO Para atravessar contigo o deserto do mundo Para enfrentarmos juntos o terror da morte Para ver a verdade para perder o medo Ao lado dos teus passos caminhei Por ti deixei meu reino meu segredo Minha rápida noite meu silêncio Minha pérola redonda e seu oriente Meu espelho minha vida minha imagem E abandonei os jardins do paraíso Cá fora à luz sem véu do dia duro Sem os espelhos vi que estava nua E ao descampado se chamava tempo Por isso com teus gestos me vestiste E aprendi a viver em pleno vento
Sophia de Mello Breyner Andresen (Livro Sexto)
A verdadeira beleza, aquela que não se desvanece ou se esvai, precisa de tempo, de pressão, precisa de uma resistência incrível. É o gotejamento lento que faz a estalactite, o tremor da Terra que cria as montanhas, o constante bater das ondas que quebra as rochas e suaviza as arestas. E da violência, do furor, da ira dos ventos, do rugido das águas que emerge algo melhor, algo que de outra forma nunca existiria. E assim suportamos. Temos fé na existência de um propósito. Temos esperança em coisas que não podemos ver. Acreditamos que há lições na perda e poder no amor, e que temos dentro de nós o potencial para uma beleza tão magnífica que o nosso corpo não pode contê-la.
Amy Harmon (Making Faces)
Nenhum de nós é filho de chocadeira Todos nós tivemos como primeira morada, o ventre materno E de lá quando saimos para esse mundo E cortam o nosso cordão umbilical Separam os nossos corpos, mas as nossas almas não Essas continuam unidas e ligadas para todo o sempre Vocês vão se encontrar de alguma forma, em algum pedaço Em algum verso deste poema Não foi o tempo, que tornou cinzentos os teus cabelos Muito, muito além do tempo Ainda posso vê-los como sempre foram Não foi o tempo que te fez madura Ainda te vejo na infantil procura a esperar por mim, tu Muito jovem, a imitar senhoras Cada segundo parecendo horas Não, não foi o tempo que te fez assim, foi o vento O sopro de Deus, o eterno momento Sim, foi ele que te fez assim
Desconhecido
La camera si è riempita di buio, solo con grande fatica si può distinguere il biancore del letto, e tutto il resto è nero. Fra poco dovrebbe levarsi la luna. Farà in tempo, Drogo, a vederla o dovrà andarsene prima? La porta della camera palpita con uno scricchiolio leggero. Forse è un soffio di vento, un semplice risucchio d'aria di queste inquiete notti di primavera. Forse è invece lei che è entrata, con passo silenzioso, e adesso sta avvicinandosi alla poltrona di Drogo. Facendosi forza, Giovanni raddrizza un po' il busto, si assesta con una mano il colletto dell'uniforme, dà ancora uno sguardo fuori della finestra, una brevissima occhiata, per l'ultima sua porzione di stelle. Poi nel buio, benché nessuno lo veda, sorride.
Dino Buzzati (The Tartar Steppe)
a poesia não nos salva da morte mas faz o luto connosco" "todas as conversas por mais rebuscadas são rios que vão desaguar em ti volta e meia os arbustos tremem e o cheiro que aparece é teu" "e se foi o acaso de nos fintarmos a vida inteira pelos mesmos sítios sem nos cruzarmos ou talvez o acaso de nos cruzarmos pelas mesmas ruas sem notar" "podes vir podemos falar sobre tudo podemos falar do cheiro dos livros em segunda mão cheiram aos avós de quem? cheiram aos avós de alguém apesar de não serem os nossos mas não tivemos todos os mesmos avós? não importa" "o inverno todo à espera do verão o frio sempre à mingua do calor não perguntar com medo do não nem sequer dar com medo da dor a inspiração a sorte as certezas tal como tantos outros ventos são vagas que devemos respeitar as estações são no seu tempo não as podemos apressar
Isabel Viana (o 3 é um número par)
Uno sguardo per capirsi, per ritrovarsi nudi pur senza essersi mai toccati o spogliati, ma poco importa se a toccarsi sono le anime, quelle anime nascoste, che nessuno vede.... nessuno sa... nesuno immagina... Poi tutto ci ha travolti, passione, amore, calore, sudore, respiri, voci, sussurri, mani, battiti, gambe, spalle, ali, vento, luce, colori, letto. Lui era morbido e ruvido nello stesso tempo. Un mescolarsi di suoni e di odori, di gesti e baci. "Tienimi ancora con te... non lasciarmi andare via... voglio venire via con te... toccami ancora... sentimi e respirami ancora... ho bisogno di te..." Per ripetere all'infinito... per sentire infinitamente tutte quelle emozioni sepolte dal vivere comune... dal vivere di nascosto... languidi e affamati, come un caldo tempo blues. [...] Dove finiva il mio corpo iniviava il suo. Ero intrecciata alle sue braccia, mentre le sue gambe scivolavano tra le mie.
Sara Rattaro (Un uso qualunque di te)
Da economia do tempo - Sêneca saúda o amigo Lucílio Comporta-te assim, meu Lucílio, reivindica o teu direito sobre ti mesmo e o tempo que até hoje foi levado embora, foi roubado ou fugiu, recolhe e aproveita esse tempo. Convence-te de que é assim como te escrevo: certos momentos nos são tomados, outros nos são furtados e outros ainda se perdem no vento. Mas a coisa mais lamentável é perder tempo por negligência. Se pensares bem, passamos grande parte da vida agindo mal, a maior parte sem fazer nada, ou fazendo algo diferente do que se deveria fazer. Podes me indicar alguém que dê valor ao seu tempo, valorize o seu dia, entenda que se morre diariamente? Nisso, pois, falhamos: pensamos que a morte é coisa do futuro, mas parte dela já é coisa do passado. Qualquer tempo que já passou pertence à morte. Então, caro Lucílio, procura fazer aquilo que me escreves: aproveita todas as horas; serás menos dependente do amanhã se te lançares ao presente. Enquanto adiamos, a vida se vai. Todas as coisas, Lucílio, nos são alheias; só o tempo é nosso. A natureza deu-nos posse de uma única coisa fugaz e escorregadia, da qual qualquer um que queira pode nos privar. E é tanta a estupidez dos mortais que, por coisas insignificantes e desprezíveis, as quais certamente se podem recuperar, concordam em contrair dívidas de bom grado, mas ninguém pensa que alguém lhe deva algo ao tomar o seu tempo, quando, na verdade, ele é único, e mesmo aquele que reconhece que o recebeu não pode devolver esse tempo de quem tirou. Talvez me perguntes o que faço para te dar esses conselhos. Eu te direi francamente: tenho consciência de que vivo de modo requintado, porém cuidadoso. Não posso dizer que não perco nada, mas posso dizer o que perco, o porquê e como; e te darei as razões pelas quais me considero miserável. No entanto, a mim acontece o que ocorre com a maioria que está na miséria não por culpa própria: todos estão prontos a desculpar, ninguém a dar a mão. E agora? A uma pessoa para a qual basta o pouco que lhe resta, não a considero pobre. Mas é melhor que tu conserves todos os teus pertences, e começarás em tempo hábil. Porque, como diz um sábio ditado, é tarde para poupar quando só resta o fundo da garrafa. E o que sobra é muito pouco, é o pior. Passa bem! (Sêneca, em "Aprendendo a Viver - Cartas a Lucílio")
Seneca (Letters from a Stoic)
E eu via prados e declives, gretas de penhascos cobertas de grama, flores, fetos e musgos, aos quais a velha voz popular dera nomes tão singulares e tão cheios de significações. Viviam, filhos e netos que são das montanhas, coloridos e inofensivos, ali mesmo nos seus postos. Eu os apalpava, contemplava-os, aspirava-lhes o perfume e aprendia seus nomes. Impressionava-me ainda mais séria e profundamente com a contemplação das árvores. Via cada uma delas levando sua vida à parte, aperfeiçoando sua forma e coroa especiais, projetando sua sombra peculiar. A mim me pareciam ermitãs e lutadoras, mais estreitamente aparentadas com as montanhas, pois cada uma delas, sobretudo as que se erguiam nos pontos mais altos das montanhas, mantinham sua luta silenciosa e tenaz pela existência e desenvolvimento, contra o vento, o tempo e as rochas. Cada qual tinha que suportar seu próprio peso e se agarrar com força ao solo, resultando daí que cada uma possuía uma forma particular e chagas especiais. Havia pinheiros aos quais as tormentas só permitiam que apresentassem galhos de um só lado, e outros cujos troncos avermelhados se haviam enroscado, quais serpentes, ao redor de rochas, de tal maneira que árvores e rochas se agarravam umas às outras para se sustentarem. A mim elas se assemelhavam a guerreiros e despertavam no meu coração um sentimento de medo e de respeito. (p. 8)
Hermann Hesse (Peter Camenzind)
O pilar e o anel em forma de círculo representam os princípios masculino e feminino. Na Grécia antiga o pilar era o "hérnia" que ficava do lado de fora da casa representando Hermes, enquanto a lareira redonda no interior simbolizava Héstia. Na índia e em outras partes do leste, o pilar e o círculo ficam "copulados". O lingam, ou símbolo fálico, penetra o yoni ou anel feminino, o qual se estende sobre ele como num jogo infantil de arremesso de argolas. Lá o pilar e o círculo juntavam-se, enquanto os gregos e os romanos conservavam esses mesmos dois símbolos de Hermes e Héstia relacionados, mas à parte. Para enfatizar mais essa separação, Héstia é uma deusa virgem que nunca será penetrada, como também a mais velha deusa olímpica. Ela é tia solteirona de Hermes considerado como o mais jovem deus olímpico - uma união altamente improvável. Desde os tempos gregos as culturas ocidentais têm enfatizado a dualidade, uma divisão ou diferenciação entre masculino e feminino, mente e corpo, logos e eros, ativo e receptivo, que depois se tornaram valores superiores e inferiores, respectivamente. Quando Héstia e Hermes eram ambos honrados nos lares e templos, os valores femininos de Héstia eram os mais importantes, e ela recebia as mais altas honras. Na época havia uma dualidade complementar. Héstia desde então foi desvalorizada e esquecida. Seus fogos sagrados não são mais cuidados e o que ela representa não é mais honrado. Quando os valores femininos de Héstia são esquecidos e desonrados, a importância do santuário interior, interiorização para encontrar significado e paz, e da família como santuário e fonte de calor ficam diminuídos ou são perdidos. Além disso, o sentimento de uma ligação básica com os outros desaparece, como desaparece também a necessidade dos cidadãos de uma cidade, país ou da terra se ligarem por um elo espiritual comum. Num nível místico, os arquétipos de Héstia e de Hermes se relacionam através da imagem do fogo sagrado no centro. Hermes-Mercúrio era o espírito alquímico Mercúrio, imaginado como fogo elementar. Tal fogo era considerado a fonte do conhecimento místico, simbolicamente localizado no centro da Terra. Héstia e Hermes representam idéias arquetípicas do espírito e da alma. Hermes é o espírito que põe fogo na alma. Nesse contexto, Hermes é como o vento que sopra a brasa no centro da lareira, fazendo-a acender-se. Do mesmo modo, as idéias podem excitar sentimentos profundos, ou as palavras podem tornar consciente o que foi inarticuladamente conhecido e iluminado o que foi obscuramente percebido.
Jean Shinoda Bolen (Goddesses in Everywoman)
Conheci que Madalena era boa em demasia, mas não conheci tudo de uma vez. Ela se revelou pouco a pouco, e nunca se revelou inteiramente. A culpa foi minha, ou antes, a culpa foi desta vida agreste, que me deu uma alma agreste. E, falando assim, compreendo que perco o tempo. Com efeito, se me escapa o retrato moral de minha mulher, para que serve esta narrativa? Para nada, mas sou forçado a escrever. Quando os grilos cantam, sento-me aqui à mesa da sala de jantar, bebo café, acendo o cachimbo. Às vezes as idéias não vêm, ou vêm muito numerosas e a folha permanece meio escrita, como estava na véspera. Releio algumas linhas, que me desagradam. Não vale a pena tentar corrigi-las. Afasto o papel. Emoções indefiníveis me agitam inquietação terrível, desejo doido de voltar, tagarelar novamente com Madalena, como fazíamos todos os dias, a esta hora. Saudade? Não, não é isto: é desespero, raiva, um peso enorme no coração. Procuro recordar o que dizíamos. Impossível. As minhas palavras eram apenas palavras, reprodução imperfeita de fatos exteriores, e as dela tinham alguma coisa que não consigo exprimir. Para senti-las melhor, eu apagava as luzes, deixava que a sombra nos envolvesse até ficarmos dois vultos indistintos na escuridão. Lá fora os sapos arengavam, o vento gemia, as árvores do pomar tornavam-se massas negras. - Casimiro! (...) A figura de Casimiro Lopes aparece à janela, os sapos gritam, o vento sacode as árvores, apenas visíveis na treva. Maria das Dores entra e vai abrir o comutador. Detenho-a: não quero luz. O tique-taque do relógio diminui, os grilos começam a cantar. E Madalena surge no lado de lá da mesa. Digo baixinho: - Madalena! A voz dela me chega aos ouvidos. Não, não é aos ouvidos. Também já não a vejo com os olhos. Estou encostado à mesa, as mãos cruzadas. Os objetos fundiram-se, e não enxergo sequer a toalha branca. - Madalena... A voz de Madalena continua a acariciar-me. Que diz ela? Pede-me naturalmente que mande algum dinheiro a Mestre Caetano. Isto me irrita, mas a irritação é diferente das outras, é uma irritação antiga, que me deixa inteiramente calmo. Loucura estar uma pessoa ao mesmo tempo zangada e tranqüila. Mas estou assim. Irritado contra quem? Contra Mestre Caetano. Não obstante ele ter morrido, acho bom que vá trabalhar. Mandrião! A toalha reaparece, mas não sei se é esta toalha sobre que tenho as mãos cruzadas ou a que estava aqui há cinco anos. (...) Agitam-se em mim sentimentos inconciliáveis, colerizo-me e enterneço-me; bato na mesa e tenho vontade de chorar. Aparentemente estou sossegado: as mãos continuam cruzadas sobre a toalha e os dedos parecem de pedra. Entretanto ameaço Madalena com o punho. Esquisito. Distingo no ramerrão da fazenda as mais insignificantes minudências. Maria das Dores, na cozinha, dá lições ao papagaio. Tubarão rosna acolá no jardim. O gado muge no estábulo. O salão fica longe: para irmos lá temos de atravessar um corredor comprido. Apesar disso a palestra de Seu Ribeiro e Dona Glória é bastante clara. A dificuldade seria reproduzir o que eles dizem. É preciso admitir que estão conversando sem palavras. Padilha assobia no alpendre. Onde andará Padilha? Se eu convencesse Madalena de que ela não tem razão... Se lhe explicasse que é necessário vivermos em paz... Não me entende. Não nos entendemos. O que vai acontecer será muito diferente do que esperamos. Absurdo. Há um grande silêncio. Estamos em julho. O nordeste não sopra e os sapos dormem. (...) Repito que tudo isso continua a azucrinar-me. O que não percebo é o tique-taque do relógio. Que horas são? Não posso ver o mostrador assim às escuras. Quando me sentei aqui, ouviam-se as pancadas do pêndulo, ouviam-se muito bem. Seria conveniente dar corda ao relógio, mas não consigo mexer-me.
Graciliano Ramos (São Bernardo)
Escurecia rápido, o navio afastava-se do poente. A lembrança da sombra no rosto de Marina tornava mais fácil aceitar a morte. Uma fita triangular de navegação tremulava no meio de uma corda tesa, gorda do vento, como uma língua de réptil. O corpo estava frio, sem pulso nem sinal algum, completamente largado sobre o seu. Já não havia quem observasse o pôr do sol, não havia o que olhar, apenas uma faixa de luz parda que se diluía sobre o horizonte, cada vez mais turva, indistinta do oceano. Completava-se o abandono lento em seus braços, sob o sorriso da portuguesa enternecida pelo aconchego da moça no ombro do marido. Era a suavidade da morte pública e despercebida. Ele tentava olhar adiante. Teria sido outra história se Marina tivesse se jogado ao mar. Cinquenta, sessenta, setenta metros de altura. Ele teria que se jogar também, arriscar a vida para ter o que enterrar, e iria junto, ninguém mergulha de um navio supondo que sobrevive, muito menos que salvará alguém. Se tivesse que se matar, haveria de ser como um prazer, o prazer que em vida lhe era torto. Deixaria o corpo boiar sobre o oceano, sem peso, ao sabor das correntes, o sono mais pesado e completo que alguém já teve. Talvez o prazer de jogar o corpo no vazio fosse ainda maior. Deixaria o ar limpar os pulmões e os pensamentos, purificar a vida que ficava para trás, no alto da amurada. Seria outro por um lapso, não haveria tempo para pensar no impacto. Talvez o mar restaurasse o sono, a onda fria embalasse as costas, o oceano como o único lugar em que os insones não são insones, embora lhes falte imaginação para sabê-lo. Tinha a impressão de que nunca mais adormeceria, enquanto ela dormiria para sempre, egoísta no sono final, a soberba daquele que reaprende a dormir e deixa o outro na vigília. Teria sido pior se ela tivesse esperado a volta para se matar. Ele aguentaria a náusea de cada milha. Agora podia abandonar o barco. Nada de Ilhas Canárias, Cádiz, Sevilha, nada do balanço que o torturava no convés ou na cabine. Olhava a distância em direção à noite e via o corpo desembarcar em Cabo Verde, sobrevoar o mar até Lisboa, voltar ao Brasil sobre o mesmo mar, as mesmas ilhas escassas do Atlântico. Dois, três dias com o corpo frio e rígido, rigor mortis, velava-o pelos ares, um fardo em plena leveza de nuvens, a dor que alçava ao sol dentro de um saco impermeável, um caixote de metal. Estariam no céu, um corpo que apodrece, um homem que chora, um amor que já não é mais. Alguém se aproximou, parou ao lado da amurada. O uniforme branco e impecável usado pelos tripulantes, certa familiaridade de hospital. — Preciso da sua ajuda. — What can I do for you, sir? — Minha mulher está morta.
Mauricio Lyrio (Memória da Pedra)
«È tempo di andare, signore», disse Parker, con Pullings e Rossall pronti a sollevare il loro comandante fuoribordo. «Andate», disse Jack. «Io vi seguirò.» Esitarono; poi, colta la nota appassionata nella sua voce e sul suo viso, passarono sulla corvetta e si trattennero all'impavesata. Il vento era girato e soffiava ora da terra; il cielo si andava schiarendo a oriente; erano fuori del Ras du Point, al di là delle secche, e l’acqua al largo era di un bell'azzurro profondo. Jack si alzò in piedi, si avviò, sforzandosi di camminare diritto, fino al portello sfondato di un cannone; saltò, un salto appena sufficiente a portarlo sulla Fanciulla, barcollò, poi si girò a guardare la sua nave. La Polychrest impiegò più di dieci minuti a colare a picco e a quel punto il sangue, quel poco che gli era rimasto, aveva formato una pozza ai suoi piedi. L’aria uscì in un sospiro dai boccaporti e la nave affondò lentamente, posandosi sul fondo, la punta degli alberi scheggiati che fuoriusciva di un piede dall'acqua. «Vieni, fratello», gli disse Stephen all'orecchio, come in un sogno, «devi scendere da basso, stai perdendo troppo sangue. Vieni, vieni. Presto, Bonden, aiutatemi a trasportarlo.»
Patrick O'Brian (Post Captain (Aubrey & Maturin #2))
Nessa noite se solveram, mãos de oleiro, salvando o outro de ter peso. Nessa noite o corpo de um foi lençol do outro. e ambos foram pássaros porque o tempo deles foi antes de haver terra. e quando ela gritou de prazer o mundo ficou cego: um moinho de braços se desfez ao vento. E mais nenhum destino havia.
Mia Couto (Venenos de Deus, Remédios do Diabo)
(...) Meu coração é um sapo rajado, viscoso e cansado, à espera do beijo prometido capaz de transformá-lo em príncipe. Meu coração é um álbum de retratos tão antigos que suas faces mal se adivinham. Roídas de traça, amareladas de tempo, faces desfeitas, imóveis, cristalizadas em poses rígidas para o fotógrafo invisível. Este apertava os olhos quando sorria. Aquela tinha um jeito peculiar de inclinar a cabeça. Eu viro as folhas, o pó resta nos dedos, o vento sopra. Meu coração é um mendigo mais faminto da rua mais miserável. Meu coração é um ideograma desenhado a tinta lavável em papel de seda onde caiu uma gota d’água. Olhado assim, de cima, pode ser Wu Wang, a Inocência. Mas tão manchado que talvez seja Ming I, o Obscurecimento da Luz. Ou qualquer um, ou qualquer outro: indecifrável. Meu coração não tem forma, apenas som. Um noturno de Chopin (será o número 5?) em que Jim Morrison colocou uma letra falando em morte, desejo e desamparo, gravado por uma banda punk. Couro negro, prego e piano. Meu coração é um bordel gótico em cujos quartos prostituem-se ninfetas decaídas, cafetões sensuais, deusas lésbicas, anões tarados, michês baratos, centauros gays e virgens loucas de todos os sexos. Meu coração é um traço seco. Vertical, pós-moderno, coloridíssimo de neon, gravado em fundo preto. Puro artifício, definitivo. Meu coração é um entardecer de verão, numa cidadezinha à beira-mar. A brisa sopra, saiu a primeira estrela. Há moças na janela, rapazes pela praça, tules violetas sobre os montes onde o sol se p6os. A lua cheia brotou do mar. Os apaixonados suspiram. E se apaixonam ainda mais. Meu coração é um anjo de pedra de asa quebrada. Meu coração é um bar de uma única mesa, debruçado sobre a qual um único bêbado bebe um único copo de bourbon, contemplado por um único garçom. Ao fundo, Tom Waits geme um único verso arranhado. Rouco, louco. Meu coração é um sorvete colorido de todas as cores, é saboroso de todos os sabores. Quem dele provar, será feliz para sempre. Meu coração é uma sala inglesa com paredes cobertas por papel de florzinhas miúdas. Lareira acesa, poltronas fundas, macias, quadros com gramados verdes e casas pacíficas cobertas de hera. Sobre a renda branca da toalha de mesa, o chá repousa em porcelana da China. No livro aberto ao lado, alguém sublinhou um verso de Sylvia Plath: "Im too pure for you or anyone". Não há ninguém nessa sala de janelas fechadas. Meu coração é um filme noir projetado num cinema de quinta categoria. A platéia joga pipoca na tela e vaia a história cheia de clichês. Meu coração é um deserto nuclear varrido por ventos radiativos. Meu coração é um cálice de cristal puríssimo transbordante de licor de strega. Flambado, dourado. Pode-se ter visões, anunciações, pressentimentos, ver rostos e paisagens dançando nessa chama azul de ouro. Meu coração é o laboratório de um cientista louco varrido, criando sem parar Frankensteins monstruosos que sempre acabam destruindo tudo. Meu coração é uma planta carnívora morta de fome. Meu coração é uma velha carpideira portuguesa, coberta de preto, cantando um fado lento e cheia de gemidos - ai de mim! ai, ai de mim! Meu coração é um poço de mel, no centro de um jardim encantado, alimentando beija-flores que, depois de prová-lo, transformam-se magicamente em cavalos brancos alados que voam para longe, em direção à estrela Veja. Levam junto quem me ama, me levam junto também. Faquir involuntário, cascata de champanha, púrpura rosa do Cairo, sapato de sola furada, verso de Mário Quintana, vitrina vazia, navalha afiada, figo maduro, papel crepom, cão uivando pra lua, ruína, simulacro, varinha de incenso. Acesa, aceso - vasto, vivo: meu coração teu.
Caio Fernando Abreu
Padre Cabral estava naquela primeira hora das honras em que as mínimas congratulações valem por odes. Tempo chega em que os dignificados recebem os louvores como um tributo usual, cara morta, sem agradecimentos. O alvoroço da primeira hora é melhor, esse estado da alma que vê na inclinação do arbusto, tocado do vento, um parabém da flora universal, traz sensações mais íntimas e finas que qualquer outro. Cabral ouviu as palavras de Capitu com infinito prazer. – Obrigado, Capitu, muito obrigado; estimo que você goste também. Papai está bom? E mamãe? A você não se pergunta, essa cara é mesmo de quem vende saúde. E como vamos de rezas?
Machado de Assis (Dom Casmurro)
Sina de mulher é essa: ficar em casa esperando, enquanto os homens vão em suas andanças. Mas por que será que o tempo custa tanto a passar quando há guerra? Decerto não pode andar ligeiro, tropeçando num morto a cada passo. E por que às vezes o vento geme tanto que parece ferido? Decerto porque viu muito horror no seu caminho. Foi uma guerra tremenda. Durou dez anos.
Erico Verissimo
Odiava a placitude das campas e o grasnar dos corvos. Até mesmo o vento parecia mais frio e sinistro nos cemitérios; transportava o desespero dos que partiam e a mágoa do que ficavam, ao mesmo tempo que murmurava aos ouvidos os milhares de sonhos quebrados e os dias roubados.
Patricia Morais
O primeiro ataque mongol se deu em novembro de 1274, com o desembarque de uma frota de cerca de 900 navios a noroeste da Kyushu. Apesar da superioridade em número de navios e homens, cerca de 40 mil, o comando mongol resolveu retirar-se visando minimizar os efeitos adversos das condições meteorológicas. Mas de pouco adiantou, pois uma violenta tempestade adveio na região, causando danificações em boa parte dos navios e a perda do contingente mongol em dois terços. Uma segunda tentativa de ofensiva mongol ocorreu em junho de 1281, quando uma frota mongol ainda mais numerosa, cerca de quatro mil navios e quase 150 mil homens, desembarcou na mesma região de Kyushu, na baía de Hakata. Tal quantidade de homens era composta por múltiplas lealdades, desde chineses recém subjugados das regiões meridionais até coreanos e mercenários que poderiam desertar ao sinal das primeiras adversidades [51]. Apesar da formidável superioridade numérica dos invasores, os japoneses tiveram tempo e preparo para a segunda investida. Ademais, um tufão castigou a região invadida, que destruiu ou inutilizou boa parte da frota mongol (fig. 18). Parecia, aos olhos japoneses, que os deuses tinham-lhes favorecidos novamente, e esses ventos foram interpretados como de origem divina, shinpu (神父) ou kamikaze(神風), “ventos divinos”. Kublai Kahn resignou-se em planejar novas invasões até sua morte em 1294.
Emiliano Unzer (História do Japão: Uma introdução)
A mulher do regulo da razão a Maria. Na Zambézia ainda ha gente que não conhece algodão nem seda. Nem artifícios. Adultos de tangas e crianças de traseiro ao vento. A mulher do regulo lembra-se das roupas das esposas dos antigos feitores. Saias longas de mil folhos, no intenso calor dos trópicos. E achavam imoralidade a nudez e a liberdade das pessoas da terra. os tempos mudaram muito. Até os padres aprenderam dos negros a dar mergulho nu à beira do mar. As mulheres brancas aprenderam das negras a andarem de tangas, a que agora chamam mini-saias, colantes. Agora são esses europeus que gostam de andar por aí de tangas enquanto o povo veste, com rigor, as roupas antigas. (...) A nudez de Maria era o regresso ao estado da pureza. Da transparência. As mulheres ficam escandalizadas, porque o nu de uma se reflecte no corpo de outra.
Paulina Chiziane (O Alegre Canto da Perdiz)
A mulher do régulo da razão a Maria. Na Zambézia ainda há gente que não conhece algodão nem seda. Nem artifícios. Adultos de tangas e crianças de traseiro ao vento. A mulher do régulo lembra-se das roupas das esposas dos antigos feitores. Saias longas de mil folhos, no intenso calor dos trópicos. E achavam imoralidade a nudez e a liberdade das pessoas da terra. Os tempos mudaram muito. Até os padres aprenderam dos negros a dar um mergulho nu à beira do mar. As mulheres brancas aprenderam das negras a andarem de tangas, a que agora chamam mini-saias, colantes. Agora são esses europeus que gostam de andar por aí de tangas enquanto o povo veste, com rigor, as roupas antigas. (...) A nudez de Maria era o regresso ao estado da pureza. Da transparência. As mulheres ficam escandalizadas, porque o nu de uma se reflecte no corpo da outra.
Paulina Chiziane (O Alegre Canto da Perdiz)
Non avevo voglia di aprirmi fino in fondo, gli avrei dovuto spiegare che di rassegnazione nelle mie parole non ce n’era, parlerei piú di accettazione, che significa prendere atto della realtà senza star lí a sprecare energie vitali. La distinzione è sottile, ma importante: la rassegnazione è una resa, l’accettazione è un punto di partenza. La prima ci obbliga a rinunciare a modificare le cose, a trasformare le situazioni, accettare invece ci dà la possibilità di spostare l’attenzione su altro, di restare vivi e ripartire, cercando di modellarci sul presente, di assecondare con i nostri movimenti gli attacchi della vita, come il judoka, che sa che contrastare aggredendo spesso porta solo a un dispendio di forze. Io, caro padre, accetto, non mi rassegno. Accetto di non poter cambiare alcuni aspetti di me e della mia vita, o di poterli cambiare solo grazie a enormi sacrifici. Accetto di non poter contrastare fino in fondo le mie paure, le fobie, le debolezze. Accetto quei muri grigi e la porticina laterale. Accetto di essere ipocondriaco. Non mi rassegno a dover morire, questo no, ma accetto di non poter fare nulla per contrastare questo. In fondo si tratta di accogliere l’idea che dalle cellule alle stelle tutto muore, e che un domani anche la mia fine servirà, grazie alle morti di ciascuno di noi la vita avrà lo spazio per rigenerarsi, ed evolvere. La caduta dell’albero permette alla luce di raggiungere nuovamente il terreno sottostante, cosí da far nascere un nuovo tronco. Gli atomi di cui sono composto, che forse un tempo sono appartenuti a un dinosauro, a un faraone, a Buddha, chissà, questi stessi atomi che provengono da una stella esplosa lontano, in altre galassie, dopo la mia morte rimarranno qui e torneranno in circolo, finiranno in milioni di altri organismi, senza mai fine. Si tratta forse di curvare quella che crediamo essere una linea retta fino ad avere un cerchio: non nascita, vita, morte, ma nascita, vita, morte, nascita, vita, morte, nascita, vita, morte… nascita. «La vita è solo un breve periodo di tempo in cui sei vivo». Lo disse quel genio di Philip Roth. Solo un breve periodo di tempo in cui siamo vivi. È una parentesi, in fondo, la nostra vita, e dico questo non perché voglia fare il pesante, il pessimista e il menagramo, no. Ho scherzato fino a ora e continuerò a farlo, tenterò di tenere a bada l’ansia con l’ironia e quella leggerezza che ad alcuni dà fastidio e altri non riconoscono. Ma non voglio parlare di me, desidero disquisire di vita, e di come la spendiamo. Perciò cito le parole di Roth e parlo di piccola parentesi, perché credo che il primario compito di ognuno sia rendere degna la propria esistenza, combattere con tutte le forze affinché sia tale, per non sentire di avere sprecato l’unica grande occasione che ci è stata data. Abbiamo il dovere di riempire questa parentesi di piú cose possibili, di piú cose meravigliose possibili. Dobbiamo approfittare del tempo, anzi approfittare del fatto che il tempo è poco, per lasciare un segno del nostro passaggio terreno. Lo diceva il giovane Seneca a soli venti anni: «La vita che ci è data è lunga a sufficienza per compiere grandissime imprese, purché sia spesa bene». Lo cantava anche Omero nell’Iliade: «Come stirpi di foglie, cosí le stirpi degli uomini; | le foglie, alcune ne getta il vento a terra, altre la selva | fiorente le nutre al tempo di primavera; | cosí le stirpi degli uomini: nasce una, l’altra dilegua». E chissà che un giorno non ci ritroveremo a volare liberi nell’aria per poi posarci sulla spalla di un nostro caro, come le farfalle monarca del Messico. «Quella che il bruco chiama fine del mondo, il resto del mondo chiama farfalla», è una meravigliosa frase taoista. Ecco, questo paragrafo, questo piccolo pensiero, caro padre, è il mio atto di fede, il mio tentativo. Esisto, e un domani sarò esistito, come disse pure Margherita Hack. «Qualcuno si ricorderà di me. E se cosí non fosse, non importa».
Lorenzo Marone (Inventario di un cuore in allarme)
Dorme, meu amor, que o mundo já viu morrer mais este dia e eu estou aqui, de guarda aos pesadelos. Fecha os olhos agora e sossega - o pior já passou há muito tempo; e o vento amaciou; e a minha mão desvia os passos do medo. Dorme, meu amor -- a morte está deitada sob o lençol da terra onde nasceste e pode levantar-se como um pássaro assim que adormeceres. Mas nada temas: as suas asas de sombra não hão-de derrubar-te -- eu já morri muitas vezes e é ainda da vida que tenho mais medo. Fecha os olhos agora e sossega -- a porta está trancada; e os fantasmas da casa que o jardim devorou andam perdidos nas brumas que lancei ao caminho. Por isso, dorme, meu amor, larga a tristeza à porta do meu corpo e nada temas: eu já ouvi o silêncio, já vi a escuridão, já olhei a morte debruçada nos espelhos e estou aqui, de guarda aos pesadelos - é noite é um poema que conheço de cor e vou cantar-to até adormeceres.
Maria do Rosário Pedreira (O Canto do Vento nos Ciprestes)
Diga ao seu patrão que estão aqui umas pessoas que vêm saber o que é que ele faz, já caíram as primeiras águas, é tempo de semear, e tendo a criada ido saber a resposta ficamos à porta, que a nós não nos mandam entrar e nisto volta a criada de mau modo, oxalá não seja esta a Amélia Mau-Tempo de quem neste relato se falou, e diz, O patrão manda dizer que não têm nada com isso, a terra é dele, e se tornam a aparecer cá manda chamar a guarda, mal acaba de dizer fecha-nos a porta na cara, nem a malteses isto se faria porque de malteses e navalha escondida têm estes medo que se pelam. Não vale a pena perguntar mais, Gilberto não semeia, Norberto não semeia, e se algum de outro nome semeia é por ainda temer que venham aí as tropas a perguntar, Então que é lá isso, mas há outras maneiras de matar estas moscas, fazer de conta, mostrar sorrisos e aparências de boa vontade, ora essa, com certeza, e proceder ao contrário, afiar a intriga, ao dinheiro do banco levanta-se e manda-se para o estrangeiro, não falta aí quem disso se encarregue em troca duma comissão razoável, ou então dispõem-se uns esconderijos no automóvel, a fronteira fecha os olhos, coitados, iam lá perder tempo a rastejar debaixo do carro, não são nenhuns garotos, ou a desmontar os guarda-lamas, são funcionários merecedores, têm de manter a farda limpa, e assim vão cinco mil contos, ou dez ou vinte, ou as joias da família, as pratas e os ouros, o que quiser, não faça cerimónia. Brutos conformados foram aqueles trabalhadores que vendo o olival carregado de azeitona, negra e madurinha, a luzir, como se já o azeite estivesse escorrendo, foram apanhá-la de caso pensado e discutido, como é, como faremos, tiraram a jorna que lhes competia segundo os salários da época e foram entregar o resto ao patrão, Quem é que lhes deu licença, foi pena não passar por lá o guarda, levavam um tiro para aprenderem a não se meter onde não são chamados, Patrão, o olival estava em condições de se apanhar, esperar mais tempo era perder-se tudo, está aí a azeitona que sobejou do nosso salário, mais essa é do que aquela que tirámos para nós, as contas são boas de fazer, Mas eu não dei autorização nem daria se ma pedissem, Tomámo-la nós. Foi um caso, sinal de mudança nos ventos, porém como se havia de salvar o fruto da terra se Adalberto mandou passar com as máquinas por cima da seara, se Angilberto lançou searas ao gado, se Ansberto puxou fogo ao trigo, tanto pão perdido, tanta fome agravada.
José Saramago (Levantado del suelo)
Volvi os olhos a qual tal grito emitira e percebi que as almas todas olhavam, perplexas, a mim e a minha sombra. Perguntou o mestre: ''Por que, filho, te pertubas a ponto de retardar os passos? Em que te incomoda o murmurar desta gente? Segue-me de perto e deixa falar. Sê como torre firma, cujo cimo não desaba ao soprar dos ventos. Pois é certo que, entregando-te ao mesmo tempo a vários pensamentos, perde em firmeza e teu ideal afastas, dado ser próprio de um pensamento enfraquecer a força do que lhe é anterior.
Dande Alighieri
THE SABBAT, TREGUENDA OR WITCH-MEETING— HOW TO CONSECRATE THE SUPPER. Here follows the supper, of what it must consist, and what shall be said and done to consecrate it to Diana. You shall take meal and salt, honey and water, and make this incantation: Scongiurasione alia Farina. Scongiuro te, o farina! Che sei i! corpo nostro—senia di te Non si potrebbe vivere—tu che Prima di divenire la farina, Sei stata sotto terra, dove tutti Sono nascosti tutti in segreti, Maccinata che siei a metterte al vento, Tu spolveri per 1' aria e te ne fuggi Portando con te i tuoi segreti! Ma quando grano sarai in spighe, In spige belle che le lucciole, Vengeno a ferti lume perche tu Possa crescere piii bella, altrimenti Tu non polresd crescere a divenire bella, Dunque anche tu appartieni THE SABBAT Alle Strege o alle Fate, perche IjC lucciole appartengono AIsol. . . . Lucciola caporala, Vieni corri e vieni a gara, Metti la briglia a la cavalla! Metti la briglia al figluol del t6 ! Vieni, corri e portala a m^ ! II figluol del i6 te lasciera andare Pero voglio te pigliare, Giache siei bella e lucente, Ti voglio mettere sotto un bicchiere £ guardarti coUa lente; Sotto un bicchiere tu staiai Fino che tutti i segreti, Di questo mondo e di quell' altro non n Sapere e anche quelle del grano, E della farina appena, Questi segreti io saprb, Lucciola mia libera ti lascierd Quando i segreti della terra io saprtS Tu sia benedetta ti diro! Scongiurazione del Sale. Scongiuro il sale suona mezza gibmo. In punlo in mezza a un fiume, Entro e qui miro 1' acqua, L' acqua e al sol altro non penso, Che a r acqua e al sol, alloro La mia mente tutta e rivolta, Altra pensier non ho desidero. Saper la, verissima che tanto tempo 6 Che soffro, vorrei saper il mio avenir, Se cattivo fosse, acqua e sol Migliorate il destino mio! 7Sb Conjuration of Meal. I conjure thee, O Meal! Who art indeed our body, since without thee We could not live, Ehou who (at first as seed) Before becoming flower went in the earth, Where all deep secrets hide, and then when ground Didst dance like dust in the wind, and yet meanwhile Didst bear with thee in flitting, secrets strange ! And
Charles Godfrey Leland (Aradia, Gospel of the Witches)
Olha mais uma vez Traça de cor o mapa desse rosto as suas linhas tatuadas no vento À tua espera o seu meio-sorriso iluminando corações como o teu esses olhos translúcidos a boca que também tu beijaste e que hoje ainda floresce no teu sangue É outro o mesmo rosto refém do tempo e no entanto igual ao da primeira noite ao da primeira esfinge O seu enigma está cada vez mais perto cada vez mais longe
Fernando Pinto do Amaral (Manual de Cardiologia)
È stata una giornata fantastica, ma alla fine siamo rimasti tutti sorpresi da un incredibile tramonto. È il tramonto più affascinante di sempre. "Rio ed io eravamo seduti e ci siamo fermati un attimo a godercela, ammirando i colori che c'erano nel cielo: era come guardare un quadro vivente". ​ “Questa è la storia di Martine e Rio. Il loro amore per i vecchi tempi - come le fedi nuziali che Rio teneva segretamente in una vecchia busta sigillata con lo stemma della sua famiglia o la collezione di cappelli di paglia vintage di Martine - ci ha semplicemente lasciato senza fiato. Ecco qua abbigliamento taglie comode, l'Italia, come una vecchia signora incantevole e misteriosa, che si mostra davanti a noi in tutta la sua preziosa e grande bellezza. “Semplicemente il posto migliore per una storia d'amore senza tempo: abbiamo suggerito a Martine e Rio di intraprendere la loro intima fuga nelle lussureggianti terre della Val D'Orcia. Una giornata lenta e serena per entrambi per godersi l'atmosfera di un matrimonio italiano. I colori più romantici e intangibili, un vento estivo caldo e gentile, creavano vibrazioni perfette e nostalgiche insieme. I nostri cuori si sono disperatamente innamorati del loro amore e delle loro azioni reciproche.
gillneit
Porque os tempos são ventos, não mais do que sopros velozes, quase tão breves como a vida, tão cheia de insignificâncias. No fundo, talvez a vida nos ensine isso, que é preciso ser-se feliz no que resta do tempo. E que essa é a nossa obrigação, a de tentarmos ser felizes neste mundo, nem que para isso tenhamos de atravessar as nossas próprias fronteiras, escolhendo a liberdade de vaguear pelo que resta dos nosso sonhos.
Rui Conceição Silva (Quando o Sol Brilha)
Passar quatro dias e quatro noites em casa, vendo o carnaval passar; ou não vendo nem isso, mas entregue a uma outra e cifrada folia, que nesta quarta-feira de cinzas abre suas pétalas de cansaço, como se também tivéssemos pulado e berrado no clube. Não ligar a televisão, esquecer-se do rádio; deixar os locutores falando sozinhos, na ânsia de encher de discurso uma festa à base de movimento e de canto. Perceber apenas o grito trêmulo, trazido e levado pelo vento, de um samba que marca realidade lúdica sem nos convidar à integração. Beneficiar-se com a ausência de jornais, que prova a inexistência provisória do mundo como arquitetura de notícias. Ter como companheiro o irmão gato Crispim, exemplo de abstenção sem sacrifício, manual de silêncio e sabedoria, aventureiro que experimentou a vertigem da luta-livre nos telhados e homologa a invenção da poltrona. Penetrar no vazio do tempo sem obrigações, como num parque fechado, aproveitando a ausência de guardas, e descobrindo nele tudo que as tabuletas omitem. Aceitar a solidão; escolhê-la; desfrutá-la. Sorrir dos psiquiatras que falam em alienação do mundo e recomendam a terapêutica de grupo. Estimar a pausa como valor musical, o intervalo, o hiato. O instante em que a agulha fere o disco sem despertar ainda qualquer som. Andar de um quarto para outro sem ser à procura de objetos: achando-os. Descobrir, sem mescalina, as cores que a cor esconde; os timbres entrelaçados no ruído. Olhar para as paredes, ou melhor, olhar as paredes em torno dos quadros. Sentir a casa como um todo e como partículas densas, tensas, expectantes, acostumadas a viver sem nós, à nossa revelia, contra o nosso desdém. Habitar realmente a casa, quatro dias: como ilha, fortaleza, continente; infinito no finito; reconsiderar os livros, arrumá-los primeiro com método, depois com voluptuosidade, fazendo com que cada prateleira exija o maior tempo possível; verificar que antes é preciso tirar a poeira de um, remover a boba capa de celofane que envolve a encadernação de outro. Reler dedicatórias, abrir ao acaso livros de poetas que preferimos e que infelizmente não são os mais modernos, nem os mais célebres; copiar meia estrofe por onde corre arrepio verbal; separar volumes que não nos falam mais nada e que devem tentar seu destino em outras casas. Sentir chegada a hora dos álbuns de pintura com pouco ou nenhum texto, e dos volumes iconográficos que nos contam Paris ou a vida de Mallarmé. Viajar em fotografias; sentir-se imagem flutuando entre imagens; a terra domesticada em figura, tornada familiar sem perda de sua essência enigmática. Reconhecer que muitos livros comprados a duras penas, pedidos ao estrangeiro ou longamente minerados nos sebos, não têm mais do que essa oportunidade de comunicação durante o ano; deixar que fiquem a sós conosco e nos confiem seu segredo. Admitir a fome, sem exigência de horário, e matá-la com o que houver à mão; renunciar à idéia de almoço e jantar, com reverência ao sagrado direito que assiste a todos, inclusive e principalmente às cozinheiras, de brincarem o seu carnaval; achar mais gosto nessa comida, porque não é regulamentar nem é seguida de nada: todas as obrigações estão suspensas, e só valem as que soubermos traçar a nós mesmos. Descortinar na preguiça um espaço incomensurável, onde cabe tudo; não enchê-lo demais; devassá-lo à maneira de um explorador que não quer ser muito rico e tanto sente prazer em descobrir como em procurar. Assim vosso cronista passou o carnaval: sem fugir, sem brincar, divertido em seu canto umbroso.
Carlos Drummond de Andrade (A Bolsa e a Vida)
Depois que Julie soube que estava morrendo, sua melhor amiga, Dara, querendo ser útil, enviou-lhe o conhecido ensaio “Bem-vindo à Holanda”. Escrito por Emily Perl Kingsley, mãe de uma criança com síndrome de Down, esse texto trata da experiência de ter suas expectativas de vida viradas de cabeça para baixo. Esperar um bebê é como planejar uma viagem fabulosa à Itália. Você compra um monte de guias e faz seus planos maravilhosos. O Coliseu, o David de Michelangelo, as gôndolas de Veneza. Pode ser que você aprenda algumas frases práticas em italiano. Tudo é muito excitante. Depois de meses de expectativa e ansiedade, finalmente chega o dia. Você faz as malas e vai. Várias horas depois, o avião aterrissa. A aeromoça aparece e diz: “Bem-vindos à Holanda”. “Holanda?!?”, você diz. “Como assim, Holanda?? Minha viagem era para a Itália! Eu deveria estar na Itália. Passei a vida toda sonhando em ir para a Itália.” Mas houve uma mudança no plano de voo. Eles aterrissaram na Holanda, e é lá que você tem que ficar. O importante é que eles não te levaram para um lugar horroroso, desagradável, imundo, cheio de pestilência, fome e doenças. É apenas um lugar diferente. Então, você precisa sair e comprar novos guias. Precisa aprender uma língua completamente nova. Você vai conhecer todo um novo grupo de pessoas que nunca viu. Trata-se apenas de um lugar diferente. É mais tranquilo do que a Itália, menos chamativo do que a Itália, mas depois que você está lá por um tempo e consegue recuperar o fôlego, olha em volta... e começa a reparar que a Holanda tem moinhos de vento... e a Holanda tem tulipas. A Holanda tem até Rembrandt. Mas todo mundo que você conhece está na agitação de ir e vir da Itália... Todos se vangloriam sobre a temporada maravilhosa que passaram lá. E pelo resto da sua vida, você dirá: “É, era para lá que eu deveria ter ido. Foi isso que planejei”. A dor disso nunca, jamais, jamais, jamais desaparecerá... porque a perda desse sonho é uma perda muito, muito significativa. Mas... se você passar a vida toda lamentando o fato de não ter chegado à Itália, pode ser que nunca se sinta livre para aproveitar coisas muito especiais e encantadoras que existem na Holanda.
Lori Gottlieb (Maybe You Should Talk to Someone)
Felizes são aqueles que não se deixam levar pelos conselhos dos maus, que não seguem o exemplo dos que não querem saber de Deus e que não se juntam com os que zombam de tudo o que é sagrado! 2 Pelo contrário, o prazer deles está na lei do SENHOR, e nessa lei eles meditam dia e noite. 3 Essas pessoas são como árvores que crescem na beira de um riacho; elas dão frutas no tempo certo, e as suas folhas não murcham. Assim também tudo o que essas pessoas fazem dá certo.1 1 1.3 Jr 17.8 4 O mesmo não acontece com os maus; eles são como a palha que o vento leva. 5 No Dia do Juízo eles serão condenados e ficarão separados dos que obedecem a Deus. 6 Pois o SENHOR dirige e abençoa a vida daqueles que lhe obedecem, porém o fim dos maus são a desgraça e a morte.
Sociedade Bíblica do Brasil (Bíblia do Semeador: Nova Tradução na Linguagem de Hoje (Portuguese Edition))
Era preciso avisar as pessoas dessas coisas. Informar que a imortalidade é mortal, que pode morrer, que aconteceu e ainda acontece. Que ela não se mostra enquanto tal, nunca, que ela é duplicidade absoluta. Que ela não existe no detalhe mas apenas como princípio. Que algumas pessoas podem acolher essa presença da imortalidade, desde de que não se dêem conta disso. Assim como algumas outras pessoas podem perceber essa presença nos demais, com a mesma condição, desde que não se dêem conta disso. Que a vida é imortal enquanto vive, enquanto se está em vida. Que a imortalidade não é uma questão de mais ou menos tempo, não é uma questão de imortalidade, é uma questão de alguma outra coisa que continua desconhecida. Que é tão falso dizer que ela não tem começo nem fim quanto dizer que ela começa e acaba com a vida do espírito, pois é do espírito que ela participa e da busca do vento. Olhem as areias mortas dos desertos, o corpo morto das crianças: a imortalidade não passa por ali, ela para e contorna.
Marguerite Duras (O Amante)
Il suicidio è così contrario a tanti nostri istinti e impulsi programmati che nessuno sano di mente va fino in fondo senza passare attraverso una marea di oscillazioni interne, con fasi in cui per poco non cambia idea ecc. Da questo punto di vista Kant, il logico tedesco, aveva ragione: gli esseri umani sono pressoché identici in termini di programmazione. Pur essendone solo di rado coscienti, fondamentalmente siamo solo strumento o espressione dei nostri impulsi evolutivi, a loro volta espressione di forze infinitamente più vaste e più importanti di noi. (Anche se esserne davvero coscienti è tutta un'altra cosa). Perciò non cercherò neppure di descrivere i vari momenti nel corso di quella giornata in cui mi sono seduto in soggiorno in preda a una furiosa crisi mentale sulla decisione di andare veramente sino in fondo. Tanto per cominciare, era intensamente mentale e richiederebbe un mucchio di tempo per esprimerla a parole, e poi risulterebbe ovvia o banale nel senso che molti dei pensieri e dei collegamenti erano in sostanza quel tipo di cose generiche che quasi tutti quelli sul punto di affrontare la morte finiscono per pensare. Come: "Questa è l'ultima volta che mi allaccio le scarpe.", "Come sembra deliziosa questa boccata d'aria", "Questo è l'ultimo bicchiere di latte che berrò.", "Che dono assolutamente inestimabile è la vista assolutamente consueta del vento che solleva i rami delle piante e li fa oscillare.
David Foster Wallace (Oblivion: Stories)
...Ah! O verbo e o silêncio são a mesma coisa. Que coisa bonita que eu falei, minha nossa senhora. É preciso escutar o silêncio, não como um surdo, mas como um cego! O silêncio das coisas tem um sentido. Quem não entende isso não entende nada. (...) – E a música? – desafiou. – A música – o velho traçou com o dedo uma pausa no ar – É a expressão mais completa do que estou dizendo. Ou que não estou dizendo, pois é preciso ouvir apenas o que não se diz. Quem tiver ouvidos para ouvir, ouça. Eu ia chegar nela. A música também é silêncio. Bach sabia disso, Mozart também. Beethoven só soube quando ficou surdo. O ar não é silencioso? O vento não faz barulho? E que é o vento senão ar? A música é o silêncio em movimento. – O mesmo com as palavras. – Não senhor: as palavras estão em quem fala e em quem escuta. O silêncio fica entre os dois, intocado, um silêncio enorme, intransponível. Ao passo que a música está nela mesma, isto é, no que resta além de nós. E o resto é silêncio. Adeus. Já a porta: – Reparem como o meu silêncio é mais sugestivo de que qualquer palavra. Olhou fixamente o casal durante algum tempo e voltou-se, solene, cruzou lento à rua, com a garrafa do uísque na mão".
Fernando Sabino (O Encontro Marcado)
[...] estou banhado em fel, Ana, mas sei como enfrentar tua rejeição, já carrego no vento do temporal uma raiva perpétua, tenho o fôlego obstinado, tenho requintes de alquimista, sei como alterar o enxofre com a virtude das serpentes, e, na caldeira, sei como dar à fumaça que sobe da borbulha a frieza da cerração nas madrugadas; vou cultivar o meu olhar, plantar nele uma semente que não germina, será uma terra que não fecunda, um chão capaz de necrosar como as geadas as folhas das árvores, as pétalas das flores e a polpa dos nossos frutos; não reprimirei os cantos dos lábios se a peste dizimar nossos rebanhos, e nem se as pragas devorarem as plantações, vou cruzar os braços quando todos se agitam ao meu redor, dar as costas aos que me pedem por socorro, cobrindo os olhos para não ver as suas chagas, tapando as orelhas para não ouvir seus gritos, vou dar de ombros se um dia a casa tomba: não tive o meu contento, o mundo não terá de mim a misericórdia; amar e ser amado era tudo o que eu queria, mas fui jogado à margem sem consulta, fui amputado, já faço parte da escória, vou me entregar de corpo e alma à doce vertigem de quem se considera, na primeira força da idade, um homem simplesmente acabado, bastante ativo contudo para furar fundo com o indicador a carne podre da carcaça, e, entre o polegar e o anular, com elegância, fechar trópicos e outras linhas, atirando num ossário o esqueleto deste mundo; pertenço como nunca desde agora a essa insólita confraria dos enjeitados, dos proibidos, dos recusados pelo afeto, dos sem-sossego, dos intranquilos, dos inquietos, dos que sem contorcem, dos aleijões com cara de assassino que descendem de Caim (quem não ouve a ancestralidade cavernosa dos meus gemidos?), dos que trazem um sinal na testa, essa longínqua cicatriz de cinza dos marcados pela santa inveja, dos sedentos de igualdade e de justiça, dos que cedo ou tarde acabam se ajoelhando no altar escuso do Maligno, deitando antes em sua mesa, piamente, as despojadas oferendas: uma posta de peixe alva e fria, as uvas pretas de uma parreira na decrepitude, os algarismos solitários das matemáticas, as cordas mudas de um alaúde, um punhado de desespero, e um carvão solene para os seus dedos criadores, a ele, o artífice do rabisco, o desenhista provecto do garrancho, o artesão que trabalha em cima de restos de vida, puxando no traço de sua linha a vontade extenuada de cada um, ele, o propulsor das mudanças, nos impelindo com seus sussurros contra a corrente, nos arranhando os tímpanos com seu sopro áspero e quente, nos seduzindo contra a solidez precária da ordem, este edifício de pedra cuja estrutura de ferro é sempre erguida, não importa a arquitetura, sobre os ombros ulcerados dos que gemem, ele, o primeiro, o único, o soberano, não passando o teu Deus bondoso (antes discriminador, piolhento e vingativo) de um vassalo, de um subalterno, de um promulgador de tábuas insuficiente, incapaz de perceber que suas leis são a lenha resinosa que alimenta a constância do Fogo Eterno! não basta o jato da minha cusparada, contenha este incêndio enquanto é tempo, já me sobe uma nova onda, já me queima uma nova chama, já sinto ímpetos de empalar teus santos, de varar teus anjos tenros, de dar uma dentada no coração de Cristo!
Raduan Nassar (Lavoura Arcaica)
Flores precisam de muita água e luz do sol para crescer. O amor também precisa de atenção e afeto, senão ele lentamente fenecerá nas mãos da negligência. Uma vez que o amor se foi, é tão frágil quanto uma folha totalmente seca. Você o recolhe, só para descobrir o que se transformou em cinzas sobre o seu toque antes cuidadoso, que se foi com um vento ligeiro, e para sempre. Não vire as costas para um amor que poderia pular a barreira do tempo entre a vida e a morte.
Kerri Maniscalco (Hunting Prince Dracula (Stalking Jack the Ripper #2))
a poesia não nos salva morte mas o luto connosco" "todas as conversas por mais rebuscadas são rios que vão desaguar em ti volta e meia os arbustos tremem e o cheiro que aparece é teu" "e se foi o acaso de nos fintarmos a vida inteira pelos mesmos sítios sem nos cruzarmos ou talvez o acaso de nos cruzarmos pelas mesmas ruas sem notar" "podes vir podemos falar sobre tudo podemos falar do cheiro dos livros em segunda mão cheiram aos avós de quem? cheiram aos avós de alguém apesar de não serem os nossos mas não tivemos todos os mesmos avós? não importa" "o inverno todo à espera do verão o frio sempre à mingua do calor não perguntar com medo do não nem sequer dar com medo da dor a inspiração a sorte as certezas tal como tantos outros ventos são vagas que devemos respeitar as estações são no seu tempo não as podemos apressar
Isabel Viana (o 3 é um número par)
a poesia não nos salva morte mas faz o luto connosco" "todas as conversas por mais rebuscadas são rios que vão desaguar em ti volta e meia os arbustos tremem e o cheiro que aparece é teu" "e se foi o acaso de nos fintarmos a vida inteira pelos mesmos sítios sem nos cruzarmos ou talvez o acaso de nos cruzarmos pelas mesmas ruas sem notar" "podes vir podemos falar sobre tudo podemos falar do cheiro dos livros em segunda mão cheiram aos avós de quem? cheiram aos avós de alguém apesar de não serem os nossos mas não tivemos todos os mesmos avós? não importa" "o inverno todo à espera do verão o frio sempre à mingua do calor não perguntar com medo do não nem sequer dar com medo da dor a inspiração a sorte as certezas tal como tantos outros ventos são vagas que devemos respeitar as estações são no seu tempo não as podemos apressar
Isabel Viana (o 3 é um número par)
–Que dia maravilhoso! Foi feito para nós – disse Diana. – Porém, receio que seja um dia excepcionalmente agradável durante um período de mau tempo. Vai chover amanhã. – Não tem importância. Vamos celebrar a beleza de hoje, mesmo que o sol não brilhe amanhã. Vamos desfrutar da amizade uma da outra, mesmo sabendo que temos de nos separar amanhã. Olhe para aquelas colinas compridas, verdes e douradas! E aqueles vales cobertos de névoa azul! Eles são nossos, Diana! Não faz mal se aquela colina mais distante ali está registrada em nome de Abner Sloan; ela é nossa hoje. Há um vento soprando do oeste. Sempre me sinto aventureira quando um vento oeste sopra. Vamos ter um passeio perfeito.
Lucy Maud Montgomery (Anne of Ingleside (Anne of Green Gables, #6))
Na miña gorxa agruman as palabras que de fontes moi fondas vanme vindo e fanse ríos longos polas veas, rosas de luz nos ollos ou escumas. Pero as miñas razón non son palabras sinon cousas que eisisten elas soias, que coma Dios eisisten arredradas nun silenzo de estrelas fuxidivas. Pequenas cousas, grandes coma vermes, pechadas no silenzo, sin palabras, pousadas sobre sí dende o principio, indo e vindo no tempo coma peixes, coma peixes do vento, sin palabras. Vós nunca entenderedes estas cousas, estas fontes tan fondas, sin palabras, que nas palabras xurden tatexando coma meniños nados nun hospicio. Oramá non sepades o segredo destas fontes tan fondas, sin palabras, xa que sodes somente unas palabras indo e vindo no tempo, unas palabras, palabras e palabras e palabras.
Celso Emilio Ferreiro (O Soño Sulagado)
Questo apice e questo inizio della decadenza è rappresentato da due film che sono il punto piú alto del momento d’oro ma anche, essendo il punto piú alto, il primo passo verso la decadenza; ma la cosa piú interessante è che sia Otto e mezzo, sia Il Gattopardo sono dei film decadenti che hanno al centro dei personaggi decadenti, che si pongono il problema della fine di un’era. Nel Gattopardo si tratta della fine di un’epoca storica. In Otto e mezzo c’è la fine della giovinezza (o la paura della fine della potenza) per un individuo e soprattutto per un artista. Uno non ha piú niente da dare al mondo, l’altro non ha piú niente da dire al mondo. Questo raccontano i due film che segnano la fine dell’età d’oro del cinema italiano e l’inizio della sua decadenza. Allo stesso tempo, rappresentano la risposta piú concreta all’inizio della crisi e alla concorrenza della tv: lo sfarzo della messinscena del Gattopardo, la grandiosità della messinscena libera e autoriale di Otto e mezzo. Sono due risposte produttive molto concrete, che infatti danno risultati sia di prestigio sia commerciale. Ma quella potenza produttiva non si vedrà piú; già Il sorpasso, loro contemporaneo, sceglie costi piú abbordabili con risultati ottimi. Da ora in poi, il cinema italiano non si permetterà piú facilmente film spettacolari; né Visconti e Fellini riusciranno a ottenere produzioni del genere senza lotta e sacrificio, e comunque non a questo livello. In piú, a suggellare la veridicità di questo ragionamento, la doppietta Sodoma e Gomorra e Il Gattopardo, cosí onerosi, distrugge la Titanus, che per riprendersi dovrà affidarsi a musicarelli e film con Franco Franchi e Ciccio Ingrassia. È la fine di un’epoca d’oro del cinema italiano. È la fine di un’epoca per don Fabrizio e la sua classe aristocratica. È la fine di un’epoca per Guido e la sua creatività senza freni. Il Gattopardo in particolare rappresenta la reazione del cinema al cambiamento che sta per avvenire: con il grande schermo, il colore, le grandi scenografie, è il kolossal italiano che si contrappone al decadimento del cinema. Lombardo ne parlerà cosí: «Il film è piú di Via col vento, è una cosa enorme. È favoloso. È difficilissimo per un film che tutti gli elementi siano contemporaneamente efficienti allo stesso modo. Io credo che Il Gattopardo segnerà un’epoca nel cinema italiano. Per me come produttore penso che nella mia vita di produttore mi basterà di avere fatto Il Gattopardo».
Francesco Piccolo (La bella confusione)
Pela montanha alcantilada Todos quatro em alegre companhia, O Amor, o Tempo, a minha Amada E eu subíamos um dia. Da minha Amada no gentil semblante Já se viam indícios de cansaço; O Amor passava-nos adiante E o Tempo acelerava o passo. — «Amor! Amor! mais devagar! Não corras tanto assim, que tão ligeira Não pode com certeza caminhar A minha doce companheira!» Súbito, o Amor e o Tempo, combinados, Abrem as asas trémulas ao vento... — «Porque voais assim tão apressados? Onde vos dirigis?» — Nesse momento, Volta-se o Amor e diz com azedume: — «Tende paciência, amigos meus! Eu sempre tive este costume De fugir com o Tempo... Adeus! Adeus!
António Feijó (Sol De Inverno)
O tempo tinha essa habilidade destrutiva, corroía os objetos abandonados, abria buracos tão fundos na dureza dos materiais como na memória, apagava as marcas dos acontecimentos, desenhava outras. Era bom que assim fosse, que o arrastar dos dias e anos renovasse os espaços, fora e dentro do ser.
Carla M. Soares (A Chama ao Vento)
Il pretesco si insinua dappertutto, specie nel suo contrario, il classico mangiapreti comunista alla (don) Peppone più prete dei preti che mangia – a parole – finché i don Camillo non gli danno un’ostia bella sostanziosa da mettersi sotto i denti. A me potrebbero offrire anche il soglio pontificio e lo accetterei, ma so solo io perché. Posso scendere a patti con un cattolico di Destra, ovvio che con una mano egli lavi quell’altra, sono entrambe mani e entrambe uguali per lui, uno specchio non se la prende col suo riflesso, ma non voglio avere niente a che fare con un cattolico di Sinistra: il primo so dove può arrivare e me lo aspetto – quindi mi dà la possibilità sia di abbassare la testa e adeguarmi sia di mettermi ai ripari sia di prepararmi a contrattaccare –, il secondo no, è un vero pozzo di San Patrizio di occulta e sorprendente malignità, poiché è mancino e destrorso allo stesso tempo ma la sua destra non sa mai cosa fa la sua sinistra. Se anche lui lo sapesse, figurati se lo viene a dire a te o se, una volta che te l’ha detto, se ne ricorda e non fa il contrario. Va dove tira il vento, e il vento non tira mai a Sinistra a meno che uno non si sfiati soffiandogli dietro con tutti i suoi polmoni perché non prenda una brutta piega: la solita. Il cattolico di Sinistra, incommensurabilmente infido, voltagabbana per vocazione incerta tra vinti e vincitori, soprattutto se i vincitori non sono stati ancora decisi, è spergiuro di ogni principio libertario ventilato finché non viene eletto e assurge a un qualche potere. Fedele all’idea nel tempo in mancanza di fatti e traditore all’occasione in presenza di cose: sinistro sempre.
Aldo Busi (Manuale del perfetto Gentilomo)
Onde eu tinha a cabeça? que feno é esse que fazia a cama, mais macio, mais cheiroso, mais tranquilo, me deitando no dorso profundo dos estábulos e currais? que feno era esse que me guardava em repouso, entorpecido pela língua larga de uma vaca extremosa, me ruminando carícias na pele adormecida? que feno era esse que me esvaía em calmos sonhos, sobrevoando a queimadura das urtigas e me embalando com o vento no lençol imenso da floração dos pastos? que sono era esse tão frugal, tão imberbe, só sugando nos mamilos o caldo mais fino dos pomares? que frutos tão conclusos assim moles resistentes quando mordidos e repuxados no sono dos meus dentes? que grãos mais brancos e seráficos, debulhando sorrisos plácidos, se a varejeira dos meus sonhos verdes me saía dos lábios? que semente mais escondida, mais paciente! que hibernação mais demorada! que sol mais esquecido, que rês mais adolescente, que sono mais abandonado entre mourões, entre mugidos! onde eu tinha a cabeça? nao tenho outra pergunta nessas madrugadas inteiras em claro em que abro as janelas e tenho ímpetos de acender círios em fileiras sobre as asas úmidas e silenciosas de uma brisa azul que feito um cachecol alado corre sempre na mesma hora a atmosfera; não era o meu sono, como um antigo pomo, todo feito de horas maduras? que resinas se dissolviam na danação do espaço, me fustigando sorrateiras a relva delicada das narinas? que sopro súbito e quente me ergueu os cílios de repente? que salto, que potro inopinado e sem sossego correu com meu corpo em galope levitado? essas as perguntas que vou perguntando em ordem e sem saber a quem pergunto, escavando a terra sob a luz precoce da minha janela, feito um madrugador enlouquecido que na temperatura mais caída da manhã se desfaz das cobertas do leito uterino e se põe descalço e em jejum a arrumar blocos de pedra numa prateleira; não era de feno, era numa cama bem curtida de composto, era de estrume meu travesseiro, ali onde germina a planta mais improvável, certo cogumelo, certa flor venenosa, que brota com virulência rompendo o musgo dos textos dos mais velhos; este pó primevo, a gama nuclear, engendrado nos canais subterrâneos e irrompendo numa terra fofa e imaginosa: "que tormento, mas que tormento!" fui confessando e recolhendo nas palavras o licor inútil que eu filtrava, mas que doce amargura dizer as coisas, traçando num quadro de silêncio a simetria dos canteiros, a sinuosidade dos caminhos de pedra no meio da relva, fincando as estacas de eucalipto dos viveiros, abrindo com mãos cavas a boca das olarias, erguendo em prumo as paredes úmidas das esterqueiras, e nesse silêncio esquadrinhado em harmonia, cheirando a vinho, cheirando a estrume, compor aí o tempo, pacientemente.
Raduan Nassar (Lavoura Arcaica)
Esquécese de todo e o mar chámalle na lembranza, chámalle con forza, duramente, mentres ela bota a melena para atrás, sen se decatar, mecanicamente, porque na praia un rapaz dille estás moi guapa e ela sente como se a enchesen de areas toda por dentro e o rapaz cóllelle a man e bícanse e nadan xuntos e o sol vainos dourando, emborrachando, e ela non di nada porque o rapaz fala, fala, fala e ela non quere saber nada, oír nada, senón soñar, soñar, só soñar e pasar as tardes na illa bailando cos pes metidos na auga e coas caras ben xuntiñas, collidos, electrizados subindo por aquel monte de lume, subindo entre brasas, subindo ata que aquela forza poderosa se desfaga en luciñas de cores e non quede máis que a quente recordanza fumegando, correndo para ver unha película italiana que ela volverá ver despois alá na cidade chuviosa de inverno, contándolle todo á súa amiga, chorando, non de rabia, non de desengano, senón de tristeza ou de noxo, chorando primeiro sen saber ben por que, despois pola chuvia, porque non hai sol, porque non hai mar, porque non ten praia, porque non o ten a el, chorando e contestando a unha carta e outra e outra ata que un día deixa de escribir porque non ten ganas e as lembranzas xa non lle din moito alí no "whisky-club", falando con outros rapaces, bailando, dicindo cal é o teu signo do horóscopo e a min gústanme os rapaces de vintecinco anos e el era un neno de dezasete, qué parva, cómo pasa o tempo, qué parva que é unha ás veces.
Carlos Casares (Vento ferido)
Sabemos que, nos últimos dias da história humana, muitas distorções sobre como interpretar a Bíblia surgirão e ventos de falsas doutrinas soprarão (Ef 4:14; 2Tm 4:3, 4). Ao mesmo tempo, Deus terá “um povo que mantenha a Bíblia, e a Bíblia só, como norma de todas as doutrinas e base de todas as reformas” (O Grande Conflito, p. 595).
Alberto R. Timm (Meditações Diárias 2018 - Um Dia Inesquecível (Portuguese Edition))
Sei davvero tu." Peter annuì perché aveva un nodo in gola e non riusciva a parlare anche se aveva mille domande da fargli. Accarezzò esitando il torace di James attraverso le pieghe delicate della sua giacca da camera e gli sentì il cuore battere velocemente, come se fosse nervoso sotto le sue dita. Avevano entrambi paura, pensò, così esposti l’uno davanti all’altro. Entrambi presenti, scarmigliati – veri. Era ovvio che Uncino era stato per James quello che Pan era stato per Peter: una creatura più coraggiosa, più fantastica, meno spaventata o sola. Il sogno di qualcuno in un mondo diverso. Ma James adesso era un uomo normale a cui piacevano gli stessi ridicoli vestiti e sul suo volto Peter riusciva a leggere tutta la cautela e la temperanza che doveva aver gettato al vento per diventare il re di tutti i pirati. Era perfetto. Peter strinse fra le dita la seta della giacca, con il cuore impazzito, stordito d’amore e di paura. Non sapeva cosa vedesse in lui James che intanto lo stava studiando in silenzio e con gli occhi pieni di meraviglia. Ma poi James gli sorrise – un sorriso lento, senza domande, pieno d’amore – e Peter rispose al suo sorriso. Gli occhi gli si riempirono di lacrime e lasciò andare la giacca di James per poterle asciugare sentendosi allo stesso tempo imbarazzato e incredibilmente felice. James si schiarì la voce e gli accarezzò il bacino. Si mise a sedere facendo pressione con una gamba sul fianco di Peter, e allungò una mano per prendere un paio d’occhiali da un tavolino. E starnutì. Quel piccolo movimento aveva scatenato una tempesta di polvere che li avvolse per un attimo. Peter mise velocemente la testa fuori dalla finestra cominciando a tossire; James fece lo stesso e lo raggiunse al davanzale mentre cercava di ripulire gli occhiali da molti anni di polvere. “Accidenti,” riuscì a dire, fra uno starnuto e l’altro. “Immagino che nessuno si sia occupato delle pulizie in tutto questo tempo. Ti ho portato in un posto disastrato.” “Non fa niente,” disse Peter. La sua voce lo sorprese; era più alta di come la ricordava, più sofisticata. James si mise gli occhiali sul naso sorridendo. Le lenti gli davano un aspetto un po’ ansioso. Aveva ancora soltanto una mano; l’altro suo braccio terminava con il polso. Colse Peter che lo guardava con curiosità. “Da ragazzo,” disse timidamente, “Era più eccitante immaginare d’avere un uncino che una protesi.” “Allora era vero: non sono stato io a tagliarti la mano.” “No, a meno che tu non abbia combinato qualcosa in combutta con il grembo di mia madre,” disse James facendolo ridere
Austin Chant (Peter Darling)
Ah, junventude! Juventude! Você parece não ligar para nada, parece possuir todos os tesouros do universo, até a tristeza lhe traz contentamento, até o desgosto lhe cai bem, você é confiante e ousada, você diz: Só eu vivo — cuidado! Mas também para você os dias correm e somem, sem conta e sem deixar vestígio, e tudo em você desaparece, como a cera sob o sol, como a neve... E talvez todo o segredo de seu encanto consista não na possibilidade de fazer tudo, mas na possibilidade de pensar que você fará tudo — consista justamente em que você solte aos ventos forças que não saberia empregar de outro modo — consista em que cada um de nós se considere de sério um perdulário, de acredite a sério que tem o direito de dizer: "Ah, quanta coisa eu faria se não tivesse desperdiçado meu tempo!".
Ivan Turgueniev (First Love)
Quando você dirige seu carro de um lugar para outro, tem consciência de quais são o ponto de partida e o de chegada. Você sabe e aceita que não pode chegar ao seu destino instantaneamente, que será necessário percorrer uma determinada distância, num certo tempo. Embora possa ficar ansioso para chegar logo, e talvez até se canse com a viagem, você enfrenta o percurso sem pensar em dar meia-volta e retornar ao ponto de partida. Você não anuncia aos quatro ventos sua incapacidade de realizar a jornada. Você aceita a distância entre o ponto de partida e o lugar para onde deseja ir e continua seguindo na direção dele. Você sabe o que deve fazer e faz o que é necessário. O mesmo acontece com o trajeto entre o lugar onde você está agora e aquele aonde deseja chegar.
Esther Hicks (Peça e será atendido: Aprendendo a manifestar seus desejos)