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Não se trata de dizer que Mulheres apaixonadas é neutro em seu tratamento das sexualidades; estranhamente, o romance acaba sendo machista e feminista ao mesmo tempo, e pelos mesmos motivos. Ele desloca o olhar rumo ao corpo masculino, falo incluso, fetichizando-o, isto é, observando-o como uma coisa que possui poderes mágicos, e nem sempre benfazejos, o que me parece uma lição bem apropriada.
O que as mulheres de Lawrence sentem diante de coxas e ombros masculinos não me parece, afinal, tão diferente do que Stella sente entre os braços de Stanley Kowalski, ou do que sentimos diante de Marlon Brando na tela. As possibilidades de prazer estão lá, e os riscos também, bem evidentes. Dobrar-me aos poderes mágicos do desejo, porém, parece ser preferível a interditá-lo, reprimi-lo ou rir dele. E a ficção — que, tal qual os objetos de fetiche, tem um estranho poder de simultaneamente conjurar e não conjurar realidades — me parece um espaço adequado para bagunçar as normas e clichês do imaginário sexual.
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