Seja Luz Quotes

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Quando procuramos no infinitamente grande um ponto infinitamente pequeno, uma fonte de luz por mais afastada que seja, quando esperamos a chegada de um som vindo do fundo do universo há apenas uma coisa de que temos a certeza absoluta: a nossa vontade de descobrir.
Marc Levy (Le premier jour)
E se, por vezes, houver cerrações e nevoeiros tão densos que eu não seja capaz de enxergar o caminho? Basta que me tomes pela mão e me guies na escuridão; pois andar contigo nas trevas é muito mais doce e seguro que andar sozinha à luz do sol!
Susannah Spurgeon
E era apenas o contraste dessas duas entidades: o Ser e a Sombra, a Luz e as Trevas, que impressionara o jovem com a diferença que havia entre elas, ou seja, o homem e o sobre-humano.
Edward Bulwer-Lytton (Zanoni)
(...) em geral você subestimou suas próprias aptidões. É possível que você não seja em si mesmo luminoso, mas é um condutor de luz. Algumas pessoas, sem possuir gênio, têm o notável poder de estimulá-lo.
Arthur Conan Doyle (The Hound of the Baskervilles (Sherlock Holmes, #5))
Apenas desejo que este livro seja um manancial de luz, paz e amor para quem o ler através da melhoria da saúde evitando-se assim os bloqueios energéticos que originam doenças através das correntes mentais produzidas pelos sentimentos que se refletem no corpo espiritual ou perispírito e mais tarde no corpo físico.
Pedro Miguel Cruz (Magnetismo e Energias na Saúde)
Andar sempre a procura de «experiências transcendentes», mais variadas e intensas, é uma forma de fugir da realidade presente, daquilo que é, ou seja, de nós mesmos, da nossa própria mente condicionada. Uma mente desperta, inteligente, livre, que necessidade tem dessas experiências? A luz é luz, não anda à procura de mais luz.
J. Krishnamurti
Se é um erro amá-las, bem menos errado é lamentá-las. Lamentamos pelo cego que jamais viu a luz do dia, pelo surdo que jamais ouviu os acordes da natureza, pelo mudo que jamais pôde emitir a voz de sua alma, porém, sob um falso pretexto de pudor, não queremos lamentar a cegueira do coração, a surdez da alma, o mutismo da consciência que tornam louca a triste infeliz, fazendo, contra sua vontade, que seja incapaz de ver o bem, de ouvir o Senhor e de falar a língua pura do amor e da fé.
Alexandre Dumas fils (A Dama das Camélias (Série Reencontro))
Temos sorte de estar vivos, considerando o fato de que a grande maioria das pessoas que poderiam ser criadas pela loteria combinatória do DNA na realidade jamais nascerá. (...) Somos incrivelmente sortudos de estar sob a luz. Por mais curto que seja nosso tempo sob o sol, se desperdiçamos um segundo dele, ou reclamarmos que é tedioso ou estéril ou chato (como uma criança), isso não poderá ser visto como um insulto insensível para os trilhões de não-nascidos que jamais terão a chance de receber a vida?
Richard Dawkins
E agora que tudo se consumou, passados tantos e tantos anos, não sei sequer o que nos resta do destino, nem posso adivinhá-lo. Receio mesmo que me seja impossível trazer à vossa presença outra qualquer notícia acerca do nosso futuro. Como o havia eu de escrever, se a falta de luz me castigou tanto os olhos e não me permite sequer ver o que se passa do outro lado da rua? Além disso, há o problema de tudo: os sons, as sílabas, os sustenidos da própria fala. E também as palavras já não são nada do que eram.
João de Melo (Entre Pássaro e Anjo)
O Universo é algo que gera reverência, respeito. Em termos de tempo e espaço, sua escala torna a existência humana microscópica. É fascinante que as leis da natureza sejam as mesmas em todo o cosmos. A lei da gravidade, por exemplo, funciona aqui como a 1 bilhão de anos-luz de distância. Olhemos para cada detalhe, mínimo que seja, como para uma folha, e veremos que sua perfeição e harmonia são deslumbrantes. Creio que a folha resulta do processo de seleção natural, indicado por Darwin, ao longo de quase bilhões de anos de evolução da vida na Terra. Se olhamos essa mesma folha através de um microscópio, ficamos ainda mais maravilhados. Se alguém quer chamar esse sentimento de religioso, isso não me incomoda.
Carl Sagan
Cada vez que um acontecimento numinoso faz vibrar fortemente a alma, há o perigo de que se rompa o fio em que estamos suspensos. Então o ser humano pode cair num 'sim' absoluto ou num 'não', que também o é! 'Nirdvandva' - livre dos dois - diz o Oriente. Não esqueci tal coisa. O pêndulo do espírito oscila entre sentido e não sentido e não entre verdadeiro e falso. O perigo do numinoso é que ele impele aos extremos e então uma verdade modesta é tomada pela Verdade e um erro mínimo por uma grande aberração fatal. Tudo passa: o que ontem era verdade, hoje é erro, e o que antes de ontem era considerado erro será talvez uma revelação amanhã... E isto é ainda mais válido na dimensão psicológica, acerca da qual, na realidade sabemos pouquíssimo. Muitas vezes negligenciamos isto e estamos longe de levá-lo em conta: que nada, absolutamente nada existe, enquanto uma consciência, por restrita que seja - luz efêmera - não o advirta.
C.G. Jung
Espírito" vem da palavra latina que significa "respirar", O que respiramos é o ar, que é certamente matéria, por mais fina que seja. Apesar do uso em contrário, não há na palavra "espiritual" nenhuma inferência necessária de que estamos falando de algo que não seja matéria (inclusive aquela de que é feito o cérebro), ou de algo que esteja fora do domínio da ciência. De vez em quando, sinto-me livre para empregar a palavra. A ciência não é só compatível com a espiritualidade; é uma profunda fonte de espiritualidade. Quando reconhecemos nosso lugar na imensidão de anos-luz e no transcorrer das eras, quando compreendemos a complexidade, a beleza e a sutileza da vida, então o sentimento sublime, misto de júbilo e humildade, é certamente espiritual. Como também são espirituais as nossas emoções diante da grande arte, música ou literatura, ou de atos de coragem altruísta exemplar como os de Mahatma Gandhi ou Martin Luther King. A noção de que a ciência e a espiritualidade são de alguma maneira mutuamente exclusivas presta um desserviço a ambas.
Carl Sagan (The Demon-Haunted World: Science as a Candle in the Dark)
Escute, meu chapa: um poeta não se faz com versos. é o risco, é estar sempre a perigo sem medo, é inventar o perigo e estar sempre recriando dificuldades pelo menos maiores, é destruir a linguagem e explodir com ela. nada no bolso e nas mãos. sabendo: perigoso, divino, maravilhoso. […] difícil, pra quem não é poeta, é não trair a sua poesia, que, pensando bem, não é nada, se você está sempre pronto a temer tudo; menos o ridículo de declamar versinhos sorridentes. […] e fique sabendo: quem não se arrisca não pode berrar. citação: leve um homem e um boi ao matadouro. o que berrar mais na hora do perigo é o homem, nem que seja o boi. adeusão. […] Escrever não vale quase nada para as transas difíceis desse tempo, amizade. palavras são poliedros de faces infinitas e a coisa é transparente – a luz de cada face distorce a transa original, dá todos os sentidos de uma vez, não é suficientemente clara, nunca. nem eficaz, é óbvio. depende apenas de transar com a imagem, chega de metáforas, queremos a imagem nua e crua que se vê na rua, a imagem – imagem sem mais reticências, verdadeira.
Torquato Neto (Os Últimos Dias de Paupéria)
Tanto Aristóteles quanto Newton acreditavam em tempo absoluto. Ou seja, eles acreditavam que seria possível medir sem erro o intervalo de tempo entre dois eventos e que esse tempo seria o mesmo a despeito de quem o medisse, desde que se usasse um bom relógio. O tempo seria completamente separado e independente do espaço. Isso é o que a maioria das pessoas tomaria por senso comum. Entretanto, tivemos de mudar nossas ideias sobre o espaço e o tempo. Embora nossos conceitos aparentemente derivados do senso comum funcionem bem quando lidamos com coisas como maçãs ou planetas, que se movem devagar se comparadas a outras, eles não funcionam em nada para coisas que se movem na velocidade da luz ou perto dela. O
Stephen Hawking (Uma breve história do tempo (Portuguese Edition))
Fiz a descida toda no escuro. Agora via-se a Lua entre nuvens ralas de rebordos claros e a noite estava perfumada, ouvia-se o ruído hipnótico das ondas. Já na praia tirei os sapatos, a areia era fria, uma luz azul-cinza alongava-se até ao mar e depois espalhava-se pela extensão trémula da água. Pensei: sim, a Lila tem razão, a beleza das coisas é uma caracterização, o céu é o trono do medo; estou viva, neste momento, aqui a dez passos da água e na verdade isso não é belo, é aterrador; faço parte, juntamente com esta praia, com o mar, com o fervilhar de todas as formas animais, do terror universal; neste momento sou a partícula infinitesimal através da qual o terror de cada coisa toma consciência de si; eu; eu que oiço o ruído do mar, que sinto a humidade e a areia fria; eu que imagino Ischia inteira, os corpos abraçados de Nino e Lila, Stefano a dormir sozinho na casa nova cada vez menos nova, as Fúrias a favorecerem a felicidade de hoje para alimentarem a violência de amanhã. Sim, é verdade, tenho muito medo e por isso desejo que tudo acabe depressa, que as imagens dos pesadelos me comam a alma. Desejo que desta obscuridade saiam bandos de cães raivosos, víboras, escorpiões, enormes serpentes marinhas. Desejo que enquanto estou aqui sentada, à beira do mar, surjam da noite assassinos que me martirizem o corpo. Oh, sim, que eu seja castigada pela minha inadaptação, que me aconteça o pior, algo tão devastador que me impeça de fazer frente a esta noite, ao dia de amanhã, às horas e aos dias que me confirmarão, com provas cada vez mais esmagadoras, a minha constituição inadequada.
Elena Ferrante
No corpo feminino, o ponto de concentração está no mooladhara chackra, o qual está situado no colo do útero, logo atrás da abertura do útero. Este é o ponto onde o espaço e o tempo unem-se e explodem na forma de uma experiência. Esta experiência é conhecida como orgasmo na linguagem comum, mas na linguagem do Tantra ele é chamado um despertar. A fim de manter a continuidade desta experiência, é necessário que um acumulo de energia acontece naquele ponto em particular, ou bindu. Normalmente isso não acontece porque a explosão de energia dissipa-se por todo o corpo por meio do ato sexual. para evitar isso a mulher deve ser capaz de segurar sua mente em absoluta concentração naquele ponto em particular. Para isto, a prática é conhecida como sahajoli. Na verdade, sahajoli é a concentração no bindu, mas isto é muito difícil. Portanto, a pratica de sahajoli, que é a contração da vagina, bem como dos músculos uterinos, deve ser praticada por um longo período de tempo. Se é ensinada a menina, uddiyana bandha desde a mais tenra idade, ela aperfeiçoará sahajoli naturalmente com o tempo. Uddiyana bandha é sempre praticada com a retenção externa. É importante saber realizar isto em qualquer posição. Normalmente é praticado em siddhayoni asana, mas deve-se ser capaz de realizar em vajrasana ou na postura do corvo também. Quando você pratica uddiyana bandha, e outros dois bandhas – jalandhara e moola bandha ocorrem espontaneamente. Anos desta prática irá criar um senso de concentração no ponto correto no corpo. Esta concentração é mais mental em sua natureza, mas ao mesmo tempo, uma vez que não seja possível fazê-lo mentalmente, tem de começar de algum ponto físico. Se a mulher for capaz de concentrar-se e manter a continuidade da experiência, ela pode despertar sua energia para níveis superiores. De acordo com o tantra, há duas diferentes áreas do orgasmo. Uma é na zona nervosa, que é a experiência comum para muitas mulheres, e a outra é em mooladhara chakra. Quando sahajoli é praticado durante o maithuna (o ato da união sexual), mooladhara chakra desperta e o orgasmo espiritual, ou tântrico, acontece. Quando a yoguini é capaz de praticar sahajoli por 5 a 15 minutos, ela pode reter o orgasmo tântrico pelo mesmo período de tempo. Retendo esta experiência, o fluxo de energia é revertido. A circulação do sangue e das forças simpáticas e parassimpáticas move-se para cima. Neste ponto, ela transcende a consciência normal e vê a luz. É assim que ela entra no estado profundo de dhyana. A menos que a mulher seria capaz de praticar sahajoli, ela não será capaz de reter os impulsos necessários para o orgasmo tântrico, e conseqüentemente ela terá o orgasmo nervoso, que é de curta duração e seguida de insatisfação e exaustão. Isto é muitas vezes a causa da histeria de uma mulher e da depressão.
Satyananda Saraswati (Kundalini Tantra)
A Etimologia tentou separar duas raízes: de um lado a raiz-lua que, com men (lua) e mensis (mes) pertence a raíz ma do sacrifício mas; e de outro, a raiz sânscrita manas, com menos (grego), mens (latim) etc., que representa o espirito por excelência. Da raiz-espírito brota uma ampla ramificação de sentidos espirituais significativos: menos, espirito, coração, alma, coragem, ardor; menoinan, considerar, meditar, desejar; memona, ter em mente, pretender; mainomai pensar e também perder-se em pensamentos e delirar, a qual pertence mania, loucura, possessão e também manteia, profecia. Outros ramos da mesma raiz-espírito são menis, menos, raiva, menuo, indicar, revelar; meno, permanecer, demorar-se, manthano, aprender; menini, lembrar; e mentiri, mentir. Todas essas raízes-espírito originam-se de uma raiz original sânscrita Mati-h, que significa pensamento, intenção. Em nenhum lugar, seja ele qual for, essa raiz foi colocada em oposição a raiz-lua, men, lua; mensis, mes; mas, que e ligado a ma, medir. Dessa raiz origina-se não só matra-m, medida, mas também metis, inteligência, sabedoria; matiesthai, meditar, ter em mente, sonhar; e, mais ainda, para nossa surpresa, verificamos que essa raiz-lua, pretensamente oposta a raiz-espírito, e da mesma maneira derivada da raiz sânscrita mati-h, significando medida, conhecimento. Em conseqüência, a única raiz arquetípica subjacente a esses significados e espírito-lua, que se expressa em todas as suas ramificações diversificadas, revelando-nos assim sua natureza e seu significado primordial. O que emana do espírito-lua e um movimento emocional relacionado de perto com as atividades do inconsciente. Na erupção ativa e um espirito igneo: coragem, cólera, possessão e ira; sua auto-revelação conduz a profecia, cogitação e mentira, mas também a poesia. Junto com essa produtividade ignea, no entanto, coloca-se outra atitude mais “ medida “ que medita, sonha, espera e deseja, hesita e se retarda, que se relaciona com a memória e o aprendizado, e cujo efeito e a moderação, a sabedoria e o significado. Discutindo o assunto em outro lugar, mencionei, como uma atividade primaria do inconsciente, o Einfall, isto e, o pressentimento ou o pensamento que “ estala “ na cabeça. O aparecimento de conteúdos espirituais que penetram na consciência com suficiente forca persuasiva para fascina-la e controla-la, representa provavelmente a primeira forma de emergência do espirito no homem. Enquanto numa consciência ampliada e num ego mais forte esse fator emergente e introjetado e concebido como uma manifestação psíquica interna, no começo parece atingir a psique “ de fora “, como uma revelação sagrada e uma mensagem numinosa dos “ poderes “ ou deuses. O ego, ao experimentar esses conteúdos como vindos de fora, mesmo quando os chama de intuitos ou inspirações, recebe o fenômeno espiritual espontâneo com a atitude característica do ego da consciência matriacal. Porque ainda e verdade, como sempre foi, que as revelações do espírito-lua são recebidas mais facilmente quando a noite anima o inconsciente e provoca a introversão do que a luz brilhante do dia.
Erich Neumann (The Fear of the Feminine and Other Essays on Feminine Psychology)
MÁRIO DE SÁ-CARNEIRO (1890-1916) Atque in perpetuum, frater, ave atque vale! CAT . Morre jovem o que os Deuses amam, é um preceito da sabedoria antiga. E por certo a imaginação, que figura novos mundos, e a arte, que em obras os finge, são os sinais notáveis desse amor divino. Não concedem os Deuses esses dons para que sejamos felizes, senão para que sejamos seus pares. Quem ama, ama só a igual, porque o faz igual com amá-lo. Como porém o homem não pode ser igual dos Deuses, pois o Destino os separou, não corre homem nem se alteia deus pelo amor divino; estagna só deus fingido, doente da sua ficção. Não morrem jovens todos a que os Deuses amam, senão entendendo-se por morte o acabamento do que constitui a vida. E como à vida, além da mesma vida, a constitui o instinto natural com que se a vive, os Deuses, aos que amam, matam jovens ou na vida, ou no instinto natural com que vivê-la. Uns morrem; aos outros, tirado o instinto com que vivam, pesa a vida como morte, vivem morte, morrem a vida em ela mesma. E é na juventude, quando neles desabrocha a flor fatal e única, que começam a sua morte vivida. No herói, no santo e no génio os Deuses se lembram dos homens. O herói é um homem como todos, a quem coube por sorte o auxílio divino; não está nele a luz que lhe estreia a fronte, sol da glória ou luar da morte, e lhe separa o rosto dos de seus pares. O santo é um homem bom a que os Deuses, por misericórdia, cegaram, para que não sofresse; cego, pode crer no bem, em si, e em deuses melhores, pois não vê, na alma que cuida própria e nas coisas incertas que o cercam, a operação irremediável do capricho dos Deuses, o jugo superior do Destino. Os Deuses são amigos do herói, compadecem-se do santo; só ao génio, porém, é que verdadeiramente amam. Mas o amor dos Deuses, como por destino não é humano, revela-se em aquilo em que humanamente se não revelara amor. Se só ao génio, amando-o, tornam seu igual, só ao génio dão, sem que queiram, a maldição fatal do abraço de fogo com que tal o afagam. Se a quem deram a beleza, só seu atributo, castigam com a consciência da mortalidade dela; se a quem deram a ciência, seu atributo também, punem com o conhecimento do que nela há de eterna limitação; que angústias não farão pesar sobre aqueles, génios do pensamento ou da arte, a quem, tornando-os criadores, deram a sua mesma essência? Assim ao génio caberá, além da dor da morte da beleza alheia, e da mágoa de conhecer a universal ignorância, o sofrimento próprio, de se sentir par dos Deuses sendo homem, par dos homens sendo deus, êxul ao mesmo tempo em duas terras. Génio na arte, não teve Sá-Carneiro nem alegria nem felicidade nesta vida. Só a arte, que fez ou que sentiu, por instantes o turbou de consolação. São assim os que os Deuses fadaram seus. Nem o amor os quer, nem a esperança os busca, nem a glória os acolhe. Ou morrem jovens, ou a si mesmos sobrevivem, íncolas da incompreensão ou da indiferença. Este morreu jovem, porque os Deuses lhe tiveram muito amor. Mas para Sá-Carneiro, génio não só da arte mas da inovação nela, juntou-se, à indiferença que circunda os génios, o escárnio que persegue os inovadores, profetas, como Cassandra, de verdades que todos têm por mentira. In qua scribebat, barbara terrafuit. Mas, se a terra fora outra, não variara o destino. Hoje, mais que em outro tempo, qualquer privilégio é um castigo. Hoje, mais que nunca, se sofre a própria grandeza. As plebes de todas as classes cobrem, como uma maré morta, as ruínas do que foi grande e os alicerces desertos do que poderia sê-lo. O circo, mais que em Roma que morria, é hoje a vida de todos; porém alargou os seus muros até os confins da terra. A glória é dos gladiadores e dos mimos. Decide supremo qualquer soldado bárbaro, que a guarda impôs imperador. Nada nasce de grande que não nasça maldito, nem cresce de nobre que se não definhe, crescendo. Se assim é, assim seja! Os Deuses o quiseram assim. Fernando Pessoa, 1924.
Fernando Pessoa (Loucura...)
– Pedimos ajuda para garantir que a luz do Evangelho não seja extinta na Britânia – disse o outro padre –, para que os pagãos sejam totalmente derrotados e assim o amor de Cristo preencha esta terra. – O que ele quer dizer – explicou Pyrlig – é que sabia que você estava na merda, por isso me procurou e pediu ajuda, e eu não tinha nada melhor a fazer.
Bernard Cornwell
(...) Meu coração é um sapo rajado, viscoso e cansado, à espera do beijo prometido capaz de transformá-lo em príncipe. Meu coração é um álbum de retratos tão antigos que suas faces mal se adivinham. Roídas de traça, amareladas de tempo, faces desfeitas, imóveis, cristalizadas em poses rígidas para o fotógrafo invisível. Este apertava os olhos quando sorria. Aquela tinha um jeito peculiar de inclinar a cabeça. Eu viro as folhas, o pó resta nos dedos, o vento sopra. Meu coração é um mendigo mais faminto da rua mais miserável. Meu coração é um ideograma desenhado a tinta lavável em papel de seda onde caiu uma gota d’água. Olhado assim, de cima, pode ser Wu Wang, a Inocência. Mas tão manchado que talvez seja Ming I, o Obscurecimento da Luz. Ou qualquer um, ou qualquer outro: indecifrável. Meu coração não tem forma, apenas som. Um noturno de Chopin (será o número 5?) em que Jim Morrison colocou uma letra falando em morte, desejo e desamparo, gravado por uma banda punk. Couro negro, prego e piano. Meu coração é um bordel gótico em cujos quartos prostituem-se ninfetas decaídas, cafetões sensuais, deusas lésbicas, anões tarados, michês baratos, centauros gays e virgens loucas de todos os sexos. Meu coração é um traço seco. Vertical, pós-moderno, coloridíssimo de neon, gravado em fundo preto. Puro artifício, definitivo. Meu coração é um entardecer de verão, numa cidadezinha à beira-mar. A brisa sopra, saiu a primeira estrela. Há moças na janela, rapazes pela praça, tules violetas sobre os montes onde o sol se p6os. A lua cheia brotou do mar. Os apaixonados suspiram. E se apaixonam ainda mais. Meu coração é um anjo de pedra de asa quebrada. Meu coração é um bar de uma única mesa, debruçado sobre a qual um único bêbado bebe um único copo de bourbon, contemplado por um único garçom. Ao fundo, Tom Waits geme um único verso arranhado. Rouco, louco. Meu coração é um sorvete colorido de todas as cores, é saboroso de todos os sabores. Quem dele provar, será feliz para sempre. Meu coração é uma sala inglesa com paredes cobertas por papel de florzinhas miúdas. Lareira acesa, poltronas fundas, macias, quadros com gramados verdes e casas pacíficas cobertas de hera. Sobre a renda branca da toalha de mesa, o chá repousa em porcelana da China. No livro aberto ao lado, alguém sublinhou um verso de Sylvia Plath: "Im too pure for you or anyone". Não há ninguém nessa sala de janelas fechadas. Meu coração é um filme noir projetado num cinema de quinta categoria. A platéia joga pipoca na tela e vaia a história cheia de clichês. Meu coração é um deserto nuclear varrido por ventos radiativos. Meu coração é um cálice de cristal puríssimo transbordante de licor de strega. Flambado, dourado. Pode-se ter visões, anunciações, pressentimentos, ver rostos e paisagens dançando nessa chama azul de ouro. Meu coração é o laboratório de um cientista louco varrido, criando sem parar Frankensteins monstruosos que sempre acabam destruindo tudo. Meu coração é uma planta carnívora morta de fome. Meu coração é uma velha carpideira portuguesa, coberta de preto, cantando um fado lento e cheia de gemidos - ai de mim! ai, ai de mim! Meu coração é um poço de mel, no centro de um jardim encantado, alimentando beija-flores que, depois de prová-lo, transformam-se magicamente em cavalos brancos alados que voam para longe, em direção à estrela Veja. Levam junto quem me ama, me levam junto também. Faquir involuntário, cascata de champanha, púrpura rosa do Cairo, sapato de sola furada, verso de Mário Quintana, vitrina vazia, navalha afiada, figo maduro, papel crepom, cão uivando pra lua, ruína, simulacro, varinha de incenso. Acesa, aceso - vasto, vivo: meu coração teu.
Caio Fernando Abreu
Pessimista — eu não o sou. Ditosos os que conseguem traduzir para universal o seu sofrimento. Eu não sei se o mundo é triste ou mau nem isso me importa, porque o que os outros sofrem me é aborrecido e indiferente. Logo que não chorem ou gemam, o que me irrita e incomoda, nem um encolher de ombros tenho — tão fundo me pesa o meu desdém por eles — para o seu sofrimento. Mas nem quem crê que a vida seja meio luz meio sombras. Eu não sou pessimista. Não me queixo do horror da vida. Queixo-me do horror da minha. O único facto importante para mim é o facto de eu existir e de eu sofrer e de não poder sequer sonhar-me de todo para fora de me sentir sofrendo. Sonhadores felizes são os pessimistas. Formam o mundo à sua imagem e assim sempre conseguem estar em casa. A mim o que me dói mais é a diferença entre o ruído e a alegria do mundo e a minha tristeza e o meu silêncio aborrecido. A vida com todas as suas dores e receios e solavancos deve ser boa e alegre, como uma viagem em velha diligência para quem vai acompanhado (e a pode ver). Nem ao menos posso sentir o meu sofrimento como sinal de Grandeza. Não sei se o é. Mas eu sofro em coisas tão reles, ferem-me coisas tão banais que não ouso insultar com essa hipótese a hipótese de que eu possa ter génio. A glória de um poente belo, com a sua beleza entristece-me. Ante ele eu digo sempre: como quem é feliz se deve sentir contente ao ver isto! E este livro é um gemido. Escrito ele já o Só não é o livro mais triste que há em Portugal. Ao pé da minha dor todas as outras dores me parecem falsas ou íntimas. São dores de gente feliz ou dores de gente que vive e se queixa. As minhas são de quem se encontra encarcerado da vida, à parte... Entre mim e a vida... De modo que tudo o que angustia vejo. E tudo o que alegra não sinto. E reparei que o mal mais se vê que se sente, a alegria mais se sente do que se vê. Porque não pensando, não vendo, certo contentamento adquire-se, como o dos místicos e dos boémios e dos canalhas. Mas tudo afinal entra em casa pela janela da observação e pela porta do pensamento.
Fernando Pessoa (Livro do desassossego)
Entre as repreensões que [...] tive que ouvir muitas vezes, havia uma que me incomodava: que eu não sabia o que era a vida, estava cego, e nem ‘queria’ mesmo sabê-lo. Que eu usava viseiras, e estava decidido a jamais enxergar sem elas. Que eu sempre procurava aquilo que conhecia dos livros. Seja porque eu me restringia demais a ‘uma’ espécie de livros, seja porque eu tirava deles as conclusões erradas --- toda tentativa de falar comigo sobre as coisas como efetivamente eram estava destinada ao fracasso. “Você quer que ou tudo seja do mais alto padrão moral, ou então que seja o oposto”. A palavra liberdade, que sempre está em sua boca, é uma piada. Não há pessoa menos livre do que você. É-lhe impossível ficar ‘imparcial’ diante de um acontecimento, sem desenrolar diante deles todos os seus preconceitos, até que já não seja visível. Isso não seria tão grave [...] se não fosse essa resistência obstinada, essa arrogância, essa determinação firma de deixar tudo como está, sem alterar coisa alguma. Apesar de todas as suas belas palavras, você não tem ideia [...] utilidade que uma pessoa tem para as outras. [...] Você, o que faz?.” [...] Eu tinha a sensação de que, ao tomar conhecimento de coisas reprováveis, eu me tornava cúmplice das mesmas. Eu não queria aprender, quando aprender significava trilhar o mesmo caminho. Eu me defendia do aprendizado ‘imitativo’. Assim que eu percebia que me ‘recomendavam’ alguma coisa, só porque era costume no mundo, eu empacava e, aparentemente, não entendia o que queriam de mim.
Elias Canetti (The Torch in My Ear)
A culpa não morre no coração. Ela desce pela consciência até a verbalização vocal a fim de expandir-se externamente. A Culpa é uma flor maligna e interna que sonha em sentir o ar puro e crescer enquanto nos destroi. Portanto, não seja covarde ao alimenta-lá em seus pensamentos impuros com a luz da maldade e as lágrimas de remorso. Esmague-a com os bons propósitos ou ela te matará com os maus
J. De Moraes
Há-de então estes afastamento, para o qual a minha dor, por mais subtil que seja, não encontrou nome bastante lamentável, privar-me para sempre de me debruçar nuns olhos onde já vi tanto amor, que despertavam em mim emoções que me enchiam de alegria, que bastavam para meu contentamento e valiam, enfim, tudo quanto há? Ai!, os meus estão privados da única luz que os alumiava, só lágrimas lhes restam, e chorar é o único uso que faço deles, desde que soube que te havias decidido a um afastamento tão insuportável que me matará em pouco tempo.
Mariana Alcoforado (Cartas Portuguesas: CARTAS DE AMOR DE UMA FREIRA PORTUGUESA)
Qual poderá ser a origem de uma diferença de gostos tão radical? Pensando bem, é porque nós. Orientais, procuramos acomodar-nos aos limites que nos são impostos, que desde sempre satisfizemos com a nossa presente condição; consequentemente, não sentimos repulsa alguma pelo obscuro, resignamo-nos a ele como a algo inevitável: se a luz é fraca, pois que o seja! Mais, afundamo-nos com delícia nas trevas e descobrimos-lhe uma beleza própria.
Jun'ichirō Tanizaki
Pouco antes disso, em 1916, ele leu o primeiro autor cristão que o marcou profundamente (embora não soubesse desse seu qualificativo àquela altura), George MacDonald. Ele escrevia fantasias para adultos e crianças, e Lewis tanto que, a partir daí, passou a citá-lo em quase todos os seus escritos, tanto que chegou a publicar uma antologia de textos dele. Depois de convertido, Lewis costumava dizer que esse autor “batizou a imaginação” dele. Ou seja, enquanto a razão dele ainda estava fechada ao evangelho, a luz entrou na sua mente pela porta dos fundos. Assim que ingressou em Oxford, alistou-se voluntariamente na Unidade de Treinamento de Oficiais da Universidade de Oxford e foi chamado para juntar-se a um Batalhão de Cadetes, para combater na Primeira Guerra Mundial. Um fato curioso foi que, certo dia, 16 soldados se aproximaram dele, que estava sozinho, de mãos para o alto, em sinal de entrega. Ou seja, sem fazer nada, ele capturou 16 inimigos. Foi lá também que ele conheceu e fez amizade com Paddy Moore, com o qual fez um juramento mútuo de que, se algum dos dois morresse no campo de batalha, o outro tomaria conta do pai e mãe respectivos que deixariam para trás. A mãe de Paddy, Mrs. Moore, era divorciada e tinha outra filha.
Vinicius A. Miranda (O outro nome de Aslam: a simbologia bíblica nas Crônicas de Nárnia (Portuguese Edition))
Vem, Noite antiquíssima e idêntica, Noite Rainha nascida destronada, Noite igual por dentro ao silêncio. Noite Com as estrelas lantejoulas rápidas No teu vestido franjado de Infinito. Vem, vagamente, Vem, levemente, Vem sozinha, solene, com as mãos caídas Ao teu lado, vem E traz os montes longínquos para o pé das árvores próximas. Funde num campo teu todos os campos que vejo, Faze da montanha um bloco só do teu corpo, Apaga-lhe todas as diferenças que de longe vejo. Todas as estradas que a sobem, Todas as várias árvores que a fazem verde-escuro ao longe. Todas as casas brancas e com fumo entre as árvores, E deixa só uma luz e outra luz e mais outra, Na distância imprecisa e vagamente perturbadora. Na distância subitamente impossível de percorrer. Nossa Senhora Das coisas impossíveis que procuramos em vão, Dos sonhos que vêm ter connosco ao crepúsculo, à janela. Dos propósitos que nos acariciam Nos grandes terraços dos hotéis cosmopolitas Ao som europeu das músicas e das vozes longe e perto. E que doem por sabermos que nunca os realizaremos... Vem, e embala-nos, Vem e afaga-nos. Beija-nos silenciosamente na fronte, Tão levemente na fronte que não saibamos que nos beijam Senão por uma diferença na alma. E um vago soluço partindo melodiosamente Do antiquíssimo de nós Onde têm raiz todas essas árvores de maravilha Cujos frutos são os sonhos que afagamos e amamos Porque os sabemos fora de relação com o que há na vida. Vem soleníssima, Soleníssima e cheia De uma oculta vontade de soluçar, Talvez porque a alma é grande e a vida pequena. E todos os gestos não saem do nosso corpo E só alcançamos onde o nosso braço chega, E só vemos até onde chega o nosso olhar. Vem, dolorosa, Mater-Dolorosa das Angústias dos Tímidos, Turris-Eburnea das Tristezas dos Desprezados, Mão fresca sobre a testa em febre dos humildes. Sabor de água sobre os lábios secos dos Cansados. Vem, lá do fundo Do horizonte lívido, Vem e arranca-me Do solo de angústia e de inutilidade Onde vicejo. Apanha-me do meu solo, malmequer esquecido, Folha a folha lê em mim não sei que sina E desfolha-me para teu agrado, Para teu agrado silencioso e fresco. Uma folha de mim lança para o Norte, Onde estão as cidades de Hoje que eu tanto amei; Outra folha de mim lança para o Sul, Onde estão os mares que os Navegadores abriram; Outra folha minha atira ao Ocidente, Onde arde ao rubro tudo o que talvez seja o Futuro, Que eu sem conhecer adoro; E a outra, as outras, o resto de mim Atira ao Oriente, Ao Oriente donde vem tudo, o dia e a fé, Ao Oriente pomposo e fanático e quente, Ao Oriente excessivo que eu nunca verei, Ao Oriente budista, bramânico, sintoísta, Ao Oriente que tudo o que nós não temos. Que tudo o que nós não somos, Ao Oriente onde — quem sabe? — Cristo talvez ainda hoje viva, Onde Deus talvez exista realmente e mandando tudo... Vem sobre os mares, Sobre os mares maiores, Sobre os mares sem horizontes precisos, Vem e passa a mão pelo dorso da fera, E acalma-o misteriosamente, Ó domadora hipnótica das coisas que se agitam muito! Vem, cuidadosa, Vem, maternal, Pé antepé enfermeira antiquíssima, que te sentaste À cabeceira dos deuses das fés já perdidas, E que viste nascer Jeová e Júpiter, E sorriste porque tudo te é falso e inútil. Vem, Noite silenciosa e extática, Vem envolver na noite manto branco O meu coração... Serenamente como uma brisa na tarde leve, Tranquilamente com um gesto materno afagando. Com as estrelas luzindo nas tuas mãos E a lua máscara misteriosa sobre a tua face. Todos os sons soam de outra maneira Quando tu vens. Quando tu entras baixam todas as vozes, Ninguém te vê entrar. Ninguém sabe quando entraste, Senão de repente, vendo que tudo se recolhe, Que tudo perde as arestas e as cores, E que no alto céu ainda claramente azul Já crescente nítido, ou círculo branco, ou mera luz nova que vem, A lua começa a ser real.
Fernando Pessoa (Poemas de Álvaro de Campos (Obra Poética IV))
— Claro que existem coisas que desafiam a física e matemática e não tem explicação. Antigamente ninguém conseguia explicar vários fenômenos que ocorriam em grandezas tão pequenas quanto a quântica. A física clássica simplesmente falhava em explicar fenômenos tão pequenos e rápidos. Então veio a física quântica, que tem leis muito diferentes do que a gente havia entendido até aquele momento como universais. A física quântica não serviu para substituir ou falar contra a clássica, simplesmente a complementava em um universo que nós não conhecíamos ou vivíamos. Como a luz pode ser onda e partícula simultaneamente? Como o elétron ao redor do núcleo está em vários lugares num mesmo instante? Nós não estamos na escala de grandeza desses eventos, e não evoluímos para entendê-los, pois não vivemos nele, não seria útil nosso cérebro e órgãos sensoriais compreendê-los porque é uma realidade completamente diferente. A quântica explicou isso, e ao desvendarmos a quântica, descobrimos eventos que ocorriam no nosso cotidiano e não tínhamos ideia de que ela era responsável. Até hoje, em qualquer livro de física ou química, as constantes mais precisas que existem são as da física quântica, é a ciência mais exata depois da matemática. Percebe onde quero chegar? Há algumas décadas era a quântica: a ciência de eventos sem explicação que se dá no minúsculo. E se daqui um tempo descobríssemos uma nova física, não para negar as anteriores, mas para explicar tudo aquilo que ainda duvidamos, a física das grandezas gigantes, grandes demais para nossa percepção. Em vez de nanômetros e microssegundos, uma ciência em que a escala de medida é de anos-luz e éons. Nós não evoluímos para compreender eventos em escalas tão gigantes e lentas. deus é grande. Se por um lado, coisas pequenas têm suas próprias regras, por que não o contrário? Talvez deus exista aí, não num outro universo, mas num nível superior ao nosso, temos microscópios eletrônicos para ver os níveis inferiores ao nosso, mas enquanto aos superiores? Talvez quando desenvolvermos tais aparelhos podemos ter uma noção da grande imagem, do que acontece fora da caixa e como ele se manifesta no nosso dia a dia sem que tenhamos a mínima ideia. Aí veremos que as coisas podem não ser tão casuais e aleatórias assim, talvez haja algum significado na vida e no universo, algum objetivo para o qual caminhamos e fazemos parte, um destino e significado para nossa vida. Assim como a matemática e razão são mais exatos no mundo quântico que no nosso próprio mundo em que há sempre erros nas medições clássicas, talvez no mundo superior ao nosso, a matemática nem tenha significado, tudo seja abstrato e talvez os valores nem sejam números. Aí, nesse momento, a fé seria tão ciência quanto qualquer outra e deus poderia ser provado.
M. J. Azenha (Super Trash: O viajante do tempo de 10 minutos.)
Ao meu Senhor falarei, ainda que seja pó e cinza (Gn 18,27). Se eu me tiver em maior conta, eis que vos ergueis contra mim, e ao testemunho verdadeiro que dão meus pecados, não posso contradizer. Mas se me tiver por vil e me aniquilar, deixando toda a vã estima de mim mesmo, e me reduzir a pó, que sou na verdade, ser-me-à propícia a vossa graça, e a vossa luz há de vir em meu coração, e todo sentimento de amor-próprio, por mínimo que seja, perder-se-á no abismo do meu nada e perecerá para sempre. Ali me dais a conhecer o que sou, o que fui, a que ponto cheguei; porque sou nada - e não o sabia.
Tomás de Kempis (Imitação de Cristo)
Que coisa? Não sei. Qualquer coisa, um feto que está nas entranhas do futuro, — ou cinco fetos para imitar uma senhora de Aracati, estação da estrada de ferro Leopoldina, que acaba de dar à luz cinco criaturas. Todas gozam perfeita saúde. Eis o que se chama vontade de criar. Parecem uns retardatários, munidos de bilhetes, que receiam perder o espetáculo, e entram aos magotes. Não, amiguinhos, não é tarde; qualquer que seja a hora, chegareis a tempo. O espetáculo é semelhante ao panorama do Rio de Janeiro, de Victor Meirelles; está sempre no mesmo pavilhão.
Machado de Assis (Obras Completas de Machado de Assis VI: Crônica)
Um dos raros textos do Novo Testamento que parecem condenar a homossexualidade usa o termo grego malakoi[2] (plural de malakós) traduzido ali por “efeminados”. Mas, de acordo com o respeitado Léxico de Liddell e Scott[3], malakós possui basicamente duas acepções. Uma boa e outra pejorativa, não sendo considerada uma palavra técnica. Malakós ocorre em textos gregos desde antes de Platão e Aristóteles, com sentido básico (macio, mole, suave, alguém “fácil de lidar”, etc) ou metafórico,  (“não vigoroso”, “sem fibra”, algo como “molengão”, também “moralmente fraco”, “de caráter duvidoso”, “inconstante”, que se entrega facilmente diante de uma situação de pressão). Em época de implacável perseguição contra os cristãos, o mínimo exigido de um seguidor de Cristo é que fosse firme. O termo “malakoi” aponta para uma inaceitável fraqueza de caráter. Por que raios traduziram este termo como “efeminado”? Porque nas culturas antigas, a feminilidade era vista como sinônimo de fragilidade. Seria mais ou menos como dizer a um filho hoje em dia: Seja homem! Não seja uma mulherzinha! Espera-se que o objetivo de quem usa tal expressão não seja diminuir o valor da mulher, mas encorajar o filho a se portar varonilmente. Entretanto, expressões como esta acabam por perpetuar uma visão machista e misógina do mundo.
Hermes Fernandes (HOMOSSEXUALIDADE: Da sombra da lei à luz da graça (Portuguese Edition))
O casamento entre razão e pesadelo que dominou o século XX deu à luz um mundo cada vez mais ambíguo. Pela paisagem das comunicações se movem os espectros de tecnologias sinistras e os sonhos que o dinheiro pode comprar. Sistemas de armas termonucleares coexistem com comerciais de refrigerantes num reino de luz ofuscante dominado pela publicidade e por factóides, ciência e pornografia. Presidem a nossa vida os grandes Leitmotiven gêmeos do século XX: sexo e paranóia. Nossos conceitos de passado, presente e futuro são crescentemente forçados a uma revisão. Assim como o passado, em termos sociais e psicológicos, se tornou uma vítima fatal de Hiroshima e da era nuclear, o futuro, por sua vez, está deixando de existir, devorado pelo presente voraz. Incorporamos o futuro ao presente, como apenas uma das inúmeras variáveis a nós apresentadas. As opções se multiplicam à nossa volta, e vivemos num mundo quase infantil onde qualquer demanda, qualquer possibilidade, seja de estilos de vida, viagens ou papéis e identidades sexuais, pode ser satisfeita instantaneamente. Introdução
J.G. Ballard (Crash)
Nós queremos que você seja responsável por dizer e representar, em nosso meio, aquilo em que acreditamos sobre Deus, o reino e o evangelho. Nós cremos que o Espírito Santo está entre nós e dentro de nós. Cremos que o Espírito de Deus continua a pairar sobre o caos do mal do mundo e o nosso pecado, moldando uma nova criação e novas criaturas. Cremos que, por sua vez, Deus não é um espectador divertido e alarmado com os destroços da história do mundo, mas um participante dela. Cremos que tudo, especialmente tudo que parece destroço, é material que Deus está usando para fazer uma vida de louvor. Cremos em tudo isso, mas não o vemos. Vemos, como Ezequiel, esqueletos desmembrados, esbranquiçados sob um impiedoso sol babilônico. Nós vemos muitos ossos que já pertenceram a crianças que riam e dançavam, a adultos que faziam amor e planos, a crentes que levavam suas dúvidas à igreja e ali cantavam seus louvores — e pecavam. Nós não vemos os dançarinos, os amantes ou os cantores — na melhor hipótese, temos apenas fugazes vislumbres deles. O que vemos são ossos. Ossos secos. Vemos pecado e julgamento sobre o pecado. Assim parece. Assim parecia a Ezequiel; assim parece a qualquer pessoa com olhos para ver e cérebro para pensar; e assim parece a nós. “Mas nós cremos em outra coisa. Cremos que esses ossos se juntam formando seres humanos conectados, com tendões e músculos, que falam, cantam, riem, trabalham, creem e bendizem o seu Deus. Cremos que isso aconteceu da maneira como Ezequiel pregou e cremos que ainda acontece. Cremos que isso aconteceu em Israel e acontece na Igreja. Cremos ser parte do acontecimento ao cantarmos nossos louvores, escutarmos com fé a Palavra de Deus, recebermos a nova vida de Cristo nos sacramentos. Cremos que a coisa mais importante que acontece ou pode acontecer é não estarmos mais desmembrados, mas sermos lembrados no corpo ressurreto de Cristo. “Precisamos de ajuda para manter nossas crenças nítidas, precisas e intactas. Não confiamos em nós mesmos — nossas emoções nos seduzem a praticarmos infidelidades. Sabemos que somos lançados em um difícil e perigoso ato de fé e que existem fortes influências desejosas de dissolvê-lo ou destruí-lo. Queremos que você nos ajude: seja nosso pastor, um ministro de palavra e dos sacramentos, no meio da vida deste mundo. Ministre-nos com a Palavra e com os sacramentos em todas as diferentes partes e estágios de nossas vidas — em nosso trabalho e diversão, com nossos filhos e nossos pais, no momento do nascimento e no da morte, em nossas celebrações e tristezas, naqueles dias em que a manhã irrompe sobre nós num banho de luz do sol, e naqueles outros dias em que só garoa. Essa não é a única tarefa na vida de fé, mas é a sua tarefa. Nós encontraremos outro alguém para fazer as outras tarefas importantes e essenciais. Esta é a sua: Palavra e sacramento.
Eugene H. Peterson (The Contemplative Pastor: Returning to the Art of Spiritual Direction (The Pastoral Series #4))
Mas quem se lembra dis inícios do que quer que seja, uma vez passado um longo tempo? Numa relação amorosa prolongada, que importância tem quem deu o primeiro passo ou o fez o primeiro esforço, quem se afadigou a contruí-la e quem reparou em quem, para não falar em quem se insinuara primeiro, inoculando assim no outro a ideia amorosa ou a visão sexual, fazendo com que o outro olhasse para si a uma luz nunca antes acesa? O tempo suprime o tempo, ou o que vem apaga o que lhe cede o lugar e partiu; o hoje não se junta ao ontem: suplanta-o e afugenta-o, e nessa esfera quase sem memória a continuidade esfuma o que houve antes e o que houve depois, tudo se transforma num magma indistinguível e deixamos de conceber a existência que foi possível mas não aconteceu, a que foi descartada e posta de lado, a que ninguém prestou atenção, ou foi tentada e fracassou. O que não acontece carece de pujança e de distinção até, perde-se na extensa bruma do que não é nem será, e ninguém está minimamente interessado no que não aconteceu, nem sequer nós mesmo no que não nos aconteceu. Como tal, os prolegómenos não contam para nada. Uma vez decorridos os factosm estes anulam a forma como esse decorrer teve início, do mesmo modo que ninguém se interroga porque é que nasceu quando já está a percorrer o caminho a bom ritmo. Ou, melhor ainda, quando se põe a andar.
Javier Marías (Tomás Nevinson)
Uma das poucas coisas da infância no Meio-Oeste que ainda me fazem falta é essa convicção bizarra, iludida porém inabalável, de que tudo ao meu redor existia única e exclusivamente Para Mim. Serei eu o único a ter possuído essa sensação profunda e estranha quando criança? - de que tudo exterior a mim existia apenas na medida em que me afetava de alguma maneira? - de que todas as coisas eram de alguma maneira, por via de alguma atividade adulta obscura, especialmente dispostas ao meu favor? Alguém mais se identifica com essa memória? A criança deixa um quarto e agora tudo naquele quarto, assim que ela não está mais lá para ver, se dissolve numa espécie de vácuo de potencial ou então (minha teoria pessoal da infância) é levado embora por adultos escondidos e armazenado até que uma nova entrada da criança no quarto ponha tudo de volta em serviço ativo. Será que era insanidade? Era radicalmente egocêntrica, é claro, essa convicção, e consideravelmente paranoica. Fora a responsabilidade que implicava: se o mundo inteiro se dissolvia e se desfazia cada vez que eu piscava, o que aconteceria se meus olhos não abrissem? Talvez o que me faça falta agora seja o fato de o egocentrismo radical e delusório de uma criança não lhe trazer conflitos nem dor.Cabe a ela o tipo de solipsismo majestosamente inocente de, digamos, o Deus do bispo Berkeley: as coisas não são nada até que sua visão as extraia do vazio: sua estimulação é a própria existência do mundo. E talvez por isso uma criança pequena tema tanto o escuro: não tanto pela possível presença de coisas cheias de dentes escondidas no escuro, mas precisamente pela ausência de tudo que sua cegueira apagou. Para mim, ao menos, com o devido respeito aos sorrisos indulgentes dos meus pais, esse era o verdadeiro motivo por trás da necessidade de uma luz noturna: ela mantinha o mundo nos eixos.
David Foster Wallace (Ficando Longe do Fato de Já Estar Meio que Longe de Tudo)
Ela estava fascinada, não só pelo celeste, mas também pela explosão. Era uma imagem tão forte que permanecera com ela mesmo em Santa Helena, uma cena tão bela que sobrevivera aos poderes de Yaga, resistira à violência da transferência psíquica. - Luz e trevas, ordem e caos, calor e frio, todos os opostos coexistindo em completa harmonia. Como pode ter se apagado? - Para se tornar eterno, de fato. Essa é sua memória mais cara, a mais preciosa de suas recordações. Para você, e para muitos outros, o Grande Redemoinho jamais vai se extinguir. Todos os mundos, céus e infernos vivem eternamente dentro de nós. - Mesmo que tenham existido por um curto período? - Nada persiste por mais de um instante. Seja uma descarga cósmica ou um domingo de sol, todas as coisas estão em movimento.
Eduardo Spohr (Herdeiros de Atlântida)
Oh, sim, uma pessoa nunca é o que é - não de todo, não exactamente quando está só e vive no estrangeiro e fala sem cessar uma língua que não é a a sua ou aquela com que começou a falar. Por muito que o tempo de ausência se prolongue e não se vislumbre o seu termo porque não foi fixado desde o início ou se diluiu e não está já previsto, e além disso não haja razões para pensar que um dia possa haver ou divisar-se esse termo e o consequente regresso (o regresso ao antes que não terá esperado), e assim a palavra «ausência» perca sentido e enraizamento e força a cada hora que passa e que se passa longe e então também esta mesma outra palavra, «longe», os perde, esse tempo da nossa ausência vai-se-nos acumulando como um estranho parênteses que no fundo não conta nem nos alberga a não ser como fantasmas comutáveis sem marca, e do qual portanto tão-pouco temos de prestar contas a alguém, nem sequer a nós (ou pelo menos não pormenorizadas, nunca completas). Uma pessoa sente-se até certo ponto irresponsável pelo que faz ou presencia, como se tudo pertencesse a uma existência provisória, paralela, alheia ou emprestada, fictícia ou quase sonhada - ou talvez seja teórica como toda a minha vida, segundo a informação sem assinatura do velho ficheiro que me dizia respeito; como se tudo pudesse ser relegado para a esfera do apenas imaginado e nunca ocorrido, e decerto do involuntário; tudo metido no saco das figurações e das suspeitas e hipóteses, e até no dos meros e desatinados sonhos, acerca dos quais houve um insólito e quase permanente e universal consenso ao longo de todos os séculos de que há memória, conjecturada ou histórica, fabulada ou certa: não dependem da intenção daquele que sonha e este nunca é culpado do seu conteúdo. (...) A ideia que surgiu do onírico fica amiúde descartada ou invalidada por isso mesmo, pela sua proveniência titubeante e obscura, pela sua nublada origem nos fumos, mas nem sempre desaparece quando a consciência regressa, pelo contrário esta recolhe-a e por vezes até a nutre, e assim também convive com aquilo que não foi ela a gerar; admite-o no seu seio e nele cria-o, dá-lhe figura e até nome, e integra-o no seu mundo controlado e diurno mesmo rebaixando-o de categoria, atribuindo-lhe um carácter venial e encarando-o com paternalismo, como se todo o sonho sobrevivente na luz tivesse por força de ser acompanhado pelo comentário irónico de Sir Peter Wheeler quando se retirou por fim, escadas acima e para a esquerda, na noite de sábado do seu jantar buffet: «Que disparate» (...) Mas com toda essa condescendência em relação aos disparates, aprendi a temer não só tudo o que ocorre ao pensamento como o que o pensamento ainda ignora, porque vi quase sempre que tudo já estava ali, num sítio qualquer, antes de chegar a este ou cruzá-lo. Aprendi a temer, portanto, não só o que se concebe, a ideia, como o que a antecede ou lhe é prévio. De um modo semelhante aos simulacros e sonhos, percebemos e vivemos esse tempo entre parênteses da nossa ausência e tudo quanto nele está envolvido: as nossas façanhas ou crimes e todos os actos próprios e alheios; não só os que cometemos ou sofremos, também os que presenciamos ou provocamos, sem querer ou querendo; e nele nunca nada é demasiado sério, é o que pensamos.
Javier Marías (Dance and Dream (Your Face Tomorrow, #2))
Apaga, estrela, pra luz não ver os meus desígnios negros. Fique o olho cego à mão, porém insisto que o que ele teme, feito, seja visto. -Macbeth, Ato I Cena IV
William Shakespeare