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Para Mannoni, o protótipo do colonizador não era um conquistador como Cristóvão Colombo, mas sim um náufrago, como Robinson Crusoe, que se encontrava cercado por homens e mulheres “selvagens”. Acometido por um senso de inferioridade, ameaçado por uma ansiedade de castração, ele busca estabelecer sua superioridade por meio de um ato de projeção psíquica, retratando o colonizado como seu oposto fraco, efeminado e inferior, de modo que pudesse voltar a se sentir um homem. Ao apresentar esse argumento, Mannoni se apoiava não em Freud mas em Alfred Adler, um membro dissidente do Círculo de Viena que defendia que o principal impulso entre os europeus não é a libido, mas a necessidade de superar um complexo de inferioridade enraizado nos medos da infância de vulnerabilidade física. Essa necessidade, sugeriu ele, resultou em uma afirmação compulsiva de superioridade, e uma perigosa vontade de poder. A dominação colonial, afirmava, oferecia aos colonizadores europeus perpetuamente inseguros um tipo de terapia coletiva, um meio de exorcizar seus medos de inferioridade e castração. Nativos desregrados pagavam o preço, nos atos de “fabuloso sadismo” por meio dos quais os europeus os lembravam de seu poder total.
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