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Enxergo em ti a capacidade de transformares a mim
Como o oleiro molda o vaso,
Digo de tua vontade,
De teu engenho,
De tua gana em ganhar o mundo...
Com a volúpia dos bandeirantes desbravadores
Ou com a febre dos corsários
Oprimes e esmagas com os pés
Outros pés iguais aos teus,
Escavas e arrancas com as mãos
Outras mãos idênticas às tuas,
Pensas que me dominas,
Pensas que de mim sabes tudo e eu...
Apenas digo de ti o que vejo
E o que escreveres em tintas de sangue e suor
Nas minhas páginas imaculadas e inéditas a cada dia novo.
Tentas esconder em minhas dobras teus feitos pouco gloriosos,
Tentas borrar com as pegadas de minha passagem
Tuas falhas imperdoáveis,
Buscas corrigir cometendo outros delitos,
Acertas errando e erras acertando.
Por que não te deixas levar simplesmente
Sentindo o pulsar essencial dentro de ti?
O que te impede de admirar o colorido da paisagem
Da humanidade do teu ser,
Sem a volúpia em transformar tudo em espelho?...
Qual a alavanca que te impulsiona a impor
Tuas crenças para todos os crentes,
Tuas leis para todos os viventes?
Refaz,
Repensa,
Reacalma...
Também vejo que por vezes me transcorres com paixão
E que quando realmente desejas,
Sabes pintar com brilhantes tons
Cada microssegundo de minhas páginas.
Sou homem quando me chamam minuto, segundo ou século.
Sou mulher quando me chama era, hora, aurora.
Sou eu quem contará aos teus
Os teus crepúsculos maiúsculos
Ou tuas alvoradas sem glórias.
Pensas que de mim podes escapar,
Sorrio de tua incansável mania em dominar-me
Com a garra de tua palma,
Pois tentas a todo custo retardar minha passagem.
Sigo,
Pois ao contrário de ti não tenho pressa
Não passo antes e nem depois
Transcorro agora
... pois sou o Kitembo
Tempo...
E sou eu, apenas eu
Quem narra esta história.
Pois eu passo...
...o amor, jamais.
E nada disse, digo ou direi de ti, que em ti não veja.
”
”