Os Maias Quotes

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- Falhamos a vida, menino! - Creio que sim... Mas todo o mundo mais ou menos a falha. Isto é, falha-se sempre na realidade aquela vida que se planeou com a imaginação. Diz-se: «vou ser assim, porque a beleza está em ser assim». E nunca se é assim, é-se invariavelmente assado, como dizia o pobre marquês. Ás vezes melhor, mas sempre diferente.
Eça de Queirós (Os Maias)
Nada desejar e nada recear... Não se abandonar a uma esperança - nem a um desapontamento. Tudo aceitar o que vem e o que foge, com a tranquilidade com que se acolhem as naturais mudanças de dias agrestes e de dias suaves.
Eça de Queirós (Os Maias)
Aos políticos: «menos liberalismo e mais carácter»; aos homens de letras: «menos eloquência e mais ideia»; aos cidadãos em geral: «menos progresso e mais moral».
Eça de Queirós (Os Maias)
É extraordinário! Neste abençoado país todos os políticos têm «imenso talento». A oposição confessa sempre que os ministros, que ela cobre de injúrias, tem, à parte os disparates que fazem, um «talento de primeira ordem»! Por outro lado a maioria admite que a oposição, a quem ela contantemente recrimina pelos disparates que fez, está cheia de «robustíssimos talentos»! De resto todo o mundo concorda que o país é uma choldra. E resulta portanto este facto supracómico: um país governado «com imenso talento», que é de todos na Europa, segundo o consenso unânime, o mais estùpidamente governado! Eu proponho isto, a ver: que, como os talentos sempre falham, se experimentem uma vez os imbecis!
Eça de Queirós (Os Maias)
Assim acontece com as estrelas de acaso! Elas não são de uma essência diferente, nem contêm mais luz que as outras: mas, por isso mesmo que passam fugitivamente e se esvaem, parecem despedir um fulgor mais divino, e o deslumbramento que deixam nos olhos é mais perturbador e mais longo...
Eça de Queirós (Os Maias)
- Com mil raios! - exclamou de repente o Cruges, saltando de dentro da manta, com um berro que emudeceu o poeta, fez voltar Carlos na almofada, assustou o trintanário. O break parara, todos o olhavam suspensos; e, no vasto silêncio da charneca, sob a paz do luar, Cruges, sucumbindo, exclamou: - Esqueceram-me as queijadas!
Eça de Queirós (Os Maias)
O português nunca pode ser homem de ideias, por causa da paixão da forma. A sua mania é fazer belas frases, ver-lhes o brilho, sentir-lhes a música. Se for necessário falsear a ideia, deixa-la incompleta, exagera-la, para a frase ganhar em beleza, o desgraçado não hesita... Vá-se pela água abaixo o pensamento, mas salve-se a bela frase.
Eça de Queirós (Os Maias)
- Sintra não são pedras velhas, nem coisas góticas... Sintra é isto, uma pouca de água, um bocado de musgo... Isto é um paraíso!...
Eça de Queirós (Os Maias)
Se não aparecerem mulheres, importam-se, que é em Portugal para tudo o recurso natural. Aqui importa-se tudo. Leis, ideias, filosofias, teorias, assuntos, estéticas, ciências, estilos, indústrias, modas, maneiras, pilhérias, tudo nos vem em caixotes pelo paquete. A civilização custa-nos caríssima, com os direitos de alfândega:e é tudo em segunda mão, não foi feita para nós, fica-nos curta nas mangas...
Eça de Queirós (Os Maias)
- O quê!? Se tinha intenção de ofender o Dâmaso quando o ameacei de lhe arrancar as orelhas? De modo nenhum: tinha só intenção de lhe arrancar as orelhas!
Eça de Queirós (Os Maias)
colava o seu belo seio contra o peito dele; as suas mãos corriam-lhe os braços numa carícia lenta e quente, dos pulsos aos ombros; depois, com um lindo olhar, estendia-lhe os lábios. Pedro colhia neles um longo beijo, e ficava consolado de tudo
Eça de Queirós (Os Maias)
- Carlinhos da minha alma, é inútil que ninguém ande à busca da «sua mulher», e necessariamente tem de a encontrar. Tu estás aqui, na Cruz dos Quatro Caminhos, ela está talvez em Pequim: mas tu, aí a raspar o meu repes com o verniz dos sapatos, e ela a orar no templo de Confúcio, estais ambos insensivelmente, irresistivelmente, fatalmente, marchando um para o outro!...
Eça de Queirós (Os Maias)
Eu, palavra, gosto do Ega! Lá essas coisas de realismo e romantismo, histórias... Um lírio é tão natural como um percevejo... Uns preferem fedor de sargeta; perfeitamente, destape-se o cano publico... Eu prefiro pós de marechala num seio branco; a mim o seio, e, lá vai à vossa. O que se quer, é coração. E o Ega tem-no. E tem faisca, tem rasgo, tem estilo... Pois, assim é que eles se querem, e, lá vai à saúde do Ega!
Eça de Queirós (Os Maias)
Meninos, nada regenera uma nação como uma medonha tareia...
Eça de Queirós (Os Maias)
- Distingamos! Chafurdo por necessidade, como político: e troço por gosto, como artista!
Eça de Queirós (Os Maias)
- Diabo levem as mulheres, e a vida, e tudo!...
Eça de Queirós (Os Maias)
a renda que pediu o velho Vilaça, procurador dos Maias, pareceu tão exagerada a Monsenhor, que lhe perguntou sorrindo se ainda julgava a Igreja nos tempos de Leão X. Vilaça respondeu - que também a nobreza não estava nos tempos do Sr. D. João V.
Eça de Queirós (Os Maias)
Ainda têm um pedaço de pão e manteiga para lhe barrar por cima
Eça de Queirós (Os Maias)
Então Palma aconselhou um grande passo. - Vá você lá dentro, Silveira, entre pelo quarto, e assim sem mais nem menos, chegue-se ao pé dela... - E tapona? - perguntou Cruges, muito seriamente...
Eça de Queirós (Os Maias)
Ser ilhéu era isso mesmo: poder voar sem ter asas, só por vislumbrar o oceano; poder respirar fundo sem esforço, só por sentir o cheiro das criptomérias por perto. Mas ser ilhéu naquelas ínsulas dos Açores era bem mais que isso. Era também poder pisar a areia fina e cinzenta das praias e abrir os braços para as montanhas que a cuspiram, virar-lhes as costas e agora abraçar o mar imenso, bom e mau, calmo e tempestuoso, límpido e espumoso, dependendo da sua fúria ou da sua serenidade, dependendo do que a Mãe – aquela Natureza – lhe fazia sentir, tal qual um ser vivo, com o mesmo sentir de um animal. Tudo é vivo, tudo respira!
Pedro Almeida Maia (Bom Tempo no Canal: A Conspiração da Energia (John Mello, #1))
Enfim, exclamou o Ega, se não aparecerem mulheres, importam-se, que é em Portugal para tudo o recurso natural. Aqui importa-se tudo. Leis, ideias, filosofias, teorias, assuntos, estéticas, ciências, estilo, indústrias, modas, maneiras, pilhérias, tudo nos vem em caixotes pelo paquete. A civilização custa-nos caríssima com os direitos da alfândega: e é em segunda mão, não foi feita para nós, fica-nos curta nas mangas...
Eça de Queirós (Os Maias)
-Falhamos a vida, menino! - Creio que sim...Mas todo o mundo mais ou menos a falha. Isto é, falha-se sempre na realidade aquela vida que se planeou com a imaginação. [...] E nunca se é assim [...] Às vezes melhor, mas sempre diferente.
Eça de Queirós (Os Maias)
- Falhámos a vida, menino! - Creio que sim... Mas todo o mundo mais ou menos a falha. Isto é falha-se sempre na realidade aquela vida que se planeou com a imaginação. Diz-se: «vou ser assim, porque a beleza está em ser assim». E nunca se é assim, é-se invariavelmente assado, como dizia o pobre marquês. Ás vezes melhor, mas sempre diferente.
Eça de Queirós (Os Maias)
- Então que lhe ensinava você, abade, se eu lhe entregasse o rapaz? Que se não deve roubar o dinheiro das algibeiras, nem mentir, nem maltratar os inferiores, por que isso é contra os mandamentos da lei de Deus, e leva ao inferno, hein? É isso?... - Há mais alguma coisa... - Bem sei. Mas tudo isso que você lhe ensinaria que se não deve fazer, por ser um pecado que ofende a Deus, já ele sabe que se não deve praticar, por que é indigno dum cavalheiro e dum homem de bem... - Mas, meu senhor... - Ouça abade. Toda a diferença é essa. Eu quero que o rapaz seja virtuoso por amor da virtude e honrado por amor da honra; mas não por medo ás caldeiras de Pero Botelho, nem com o engodo de ir para o reino do céu...
Eça de Queirós (Os Maias)
Qual clássicos! O primeiro dever do homem é viver. E para isso é necessário ser são, e ser forte. Toda a educação sensata consiste nisto: criar a saúde, a força e os seus hábitos, desenvolver exclusivamente o animal, armá-lo duma grande superioridade física. Tal qual como se não tivesse alma. A alma vem depois... A alma é outro luxo. É um luxo de gente grande...
Eça de Queirós (Os Maias)
E não era a primeira vez que tinha destes falsos arranques de amor, ameaçando absorver, pelo menos por algum tempo, todo o seu ser e resolvendo-se em tédio, em "seca". Eram como os fogachos de pólvora sobre uma pedra; uma fagulha ateia-os, num momento tornam-se chama veemente que parece que vai consumir o Universo, e por fim fazem apenas um rastro negro que suja a pedra. Seria o seu um desses corações de fraco, moles e flácidos, que não podem conservar um sentimento, o deixam fugir, escoar-se pelas malhas de um tecido reles?
Eça de Queirós (Os Maias)
- Que pena que isto não pertença a um artista! murmurou o maestro. Só um artista saberia amar estas flores, estas árvores, estes rumores... Carlos sorriu. Os artistas, dizia ele, só amam na natureza os efeitos de linha e cor; para se interessar pelo bem-estar de uma tulipa, para cuidar de que um craveiro não sofra sede, para sentir magoa de que a geada tenha queimado os primeiros rebentões das acácias - para isso só o burguês, o burguês que todas as manhãs desce ao seu quintal com um chapéu velho e um regador, e vê nas árvores e nas plantas uma outra família muda, por que ele é também responsável...
Eça de Queirós (Os Maias)
Depois Carlos, outra vez sério, deu a sua teoria da vida, a teoria definitiva que ele deduzira da experiência e que agora o governava. Era o fatalismo muçulmano. Nada desejar e nada recear... Não se abandonar a uma esperança – nem a um desapontamento. Tudo aceitar, o que vem e o que foge, com a tranquilidade com que se acolhem as naturais mudanças de dias agrestes e de dias suaves. E, nesta placidez, deixar esse pedaço de matéria organizada que se chama o Eu ir-se deteriorando e decompondo até reentrar e se perder no infinito Universo... Sobretudo não ter apetites. E, mais que tudo, não ter contrariedades.
Eça de Queirós (Os Maias)
- Então, Cohen, diga-nos você, conte-nos cá... O empréstimo faz-se ou não se faz? E acirrou a curiosidade, dizendo para os lados, que aquela questão do empréstimo era grave. Uma operação tremenda, um verdadeiro episódio histórico!... O Cohen colocou uma pitada de sal à beira do prato, e respondeu, com autoridade, que o empréstimo tinha de se realizar absolutamente. Os emprestamos em Portugal constituíam hoje uma das fontes de receita, tão regular, tão indispensável, tão sabida como o imposto. A única ocupação mesmo dos ministérios era esta - cobrar o imposto e fazer o empréstimo. E assim se havia de continuar... Carlos não entendia de finanças: mas parecia-lhe que, desse modo, o país ia alegremente e lindamente para a banca-rota.
Eça de Queirós (Os Maias)
Pedro da Maia amava! Era um amor à Romeu, vindo de repente numa troca de olhares fatal e deslumbradora, uma dessas paixões que assaltam uma existência, a assolam como um furacão, arrancando a vontade, a razão, os respeitos humanos e empurrando-os de roldão aos abismos.
Eça de Queirós (Os Maias)
Tinha-se troçado muito a sua ideia, apresentada na Gazeta Medica, a prevenção das epidemias pela inoculação dos vírus. Consideravam-no um fantasista. E
Eça de Queirós (Os Maias)
Encurvados aos pés de um Cristo irado cheio de juízo e de fúria, eles apontam suas Bíblias como quem aponta uma pistola. Falam de almas perdidas, mas desejam o sangue e as vísceras. Revestem-se de uma autoridade divina que insistem ter recebido de Deus e falam em línguas estranhas, uma espécie de idioma sobrenatural que somente os escolhidos podem compreender. Tudo o que não está debaixo desse manto divino é maldito e condenado nos séculos vindouros a um inferno setorizado.
Ana Paula Maia (Enterre seus mortos)
Os Açores não são quatro estações num dia, são nove, todo o ano.
Pedro Almeida Maia (Nove Estações)
Aperaltou-se e desceu para um petit-déjeuner que libertasse o estômago da insuficiência matinal. Encheu dois pratos com pão caseiro, bolos lêvedos e torras de milho, para depois barrar com manteiga, doce de capucho e queijo fresco. Atestou a chávena com thé da Gorreana e misturou açúcar de beterraba. No fim do banquete, fechou os olhos para morder uma Queijada da Vila, quando a surpresa sentou-se à mesa.
Pedro Almeida Maia (Nove Estações)
Também conhecida por Ilha do Sol, a primeira ilha a ser oficialmente descoberta pelos navegadores portugueses brindava-os com uma estação mesclada, uma espécie de Primavera outonada. O ar morno e húmido bafejava debaixo de um engarrafamento de nuvens indecisas.
Pedro Almeida Maia (Nove Estações)
Dizem que a Terceira é a Ilha Lilás por culpa dos lilases. Os entendidos dizem Syringa vulgaris, mas os terceirenses consideram-na uma flor muito longe do vulgar.
Pedro Almeida Maia (Nove Estações)
Os sonhos são a nossa estrada. Infeliz daquele que não os tem.
Pedro Almeida Maia (Nove Estações)
Deixaram-se enamorar pelas ruas de Angra, as artérias palpitantes de vida e de amor. Cruzaram a Rua da Sé e viraram na Carreira dos Cavalos até à Rua da Rocha. Desceram ao areal cinzento e deixaram os pés descalços sentirem os grãos arrefecidos da Prainha. A ondulação macia oferecia-lhes a banda sonora mais ténue e compassada que pudesse orquestrar um luar iluminado.
Pedro Almeida Maia (Nove Estações)
Mas deviam atravessar ainda a memória mais triste, o escritório de Afonso da Maia. A fechadura estava perra. No esforço de abrir, a mão de Carlos tremia. E Ega, comovido também, revia toda a sala tal como outrora, com os seus candeeiros Carcel, dando um tom cor-de-rosa, o lume e crepitando, o reverendo Bonifácio sobre a pele de urso, e Afonso na sua velha poltrona, de casaco de veludo, sacudindo a cinza do cachimbo contra a palma da mão. A porta cedeu; e toda a emoção de repente findou, na grotesca, absurda surpresa de romperem ambos a espirrar, desesperadamente, sufocados pelo cheiro acre dum pó que lhes picava os olhos, os estonteava. Fora Vilaça, que, seguindo uma receita de almanaque, fizera espalhar às mãos-cheias, sobre os móveis, sobre os lençóis que os resguardavam, camadas espessas de pimenta branca! E estrangulados, sem ver, sob uma névoa de lágrimas, os dois continuavam, um defronte do outro, em espirros aflitivos que os desengonçavam.
Eça de Queirós (Os Maias)
As águas barrentas da Caldeira Velha. Os corpos que se namoram, alagados naquela sopa terapêutica, assistem a um espectáculo de ceifar a respiração, como se um pedaço do inferno tivesse sido plantado no céu!
Pedro Almeida Maia (Bom Tempo no Canal: A Conspiração da Energia (John Mello, #1))
Não vale a pena viver.
Eça de Queirós (Os Maias)
- Sou um ressequido! - disse ele sorrindo. - Sou um impotente de sentimento, como Satanás... Segundo os padres da Igreja, a grande tortura de Satanás é que não pode amar.
Eça de Queirós (Os Maias)
Dizia-se que tinha litteratura, e fazia phrases. O
Eça de Queirós (Os Maias, Episódios da Vida Romântica)
Se com efeito", escrevera ele ao Ega, "ela desceu de ti até ao Dâmaso , tens só a fazer como se fosse um charuto que te caísse à lama.
Eça de Queirós (Os Maias)
Portugal decidira arranjar-se à moderna: mas sem originalidade, sem força, sem carácter para criar um feitio seu, um feitio próprio, manda vir modelos do estrangeiro - modelos de ideias, de calças, de costumes, de leis, de arte, de cozinha... Somente, como lhe falta o sentimento da proporção, e ao mesmo tempo o domina a impaciência de parecer muito moderno e muito civilizado - exagera o modelo, deforma-o, estraga-o até à caricatura.
Eça de Queirós (Os Maias)
— Que sujeito mais idiota... quem cria uma enguia elétrica? — murmura Helmuth. — Será que foi preso? Bem, ele não fez de propósito, é um doido. Deve ter sido solto... Edgar Wilson permanece calado como se não ouvisse nada. Helmuth o chama pelo nome e o sacode. Percebe que Edgar está coberto de fibras, pelos e sangue. — Elas se ajoelham e choram — diz Edgar com a voz baixa, sonolento. — Do que você está falando? — As ovelhas. Elas te olham, se ajoelham e choram antes de morrer. Edgar Wilson dá uma longa tragada no cigarro. Enche os pulmões de fumaça e solta pelo nariz lentamente. — Quase não consegui. Tive que quebrar o pescoço de algumas primeiro, aí eu cobria os olhos delas e as degolava — conclui Edgar. — Você precisa de um banho — diz Helmuth.
Ana Paula Maia (De Gados e Homens)
Mas um dia, excessos e crises findaram. Pedro da Maia amava! Era um amor à Romeu, vindo de repente numa troca de olhares fatal e deslumbradora, uma dessas paixões que assaltam uma existência, a assolam como um furacão, arrancando a vontade, a razão, os respeitos humanos e empurrando-os de roldão aos abismos.
Eça de Queiroz
Os dois amigos lançaram o passo, largamente. E Carlos, que arrojára o charuto, ia dizendo na aragem fina e fria que lhes cortava a face: —Que raiva ter esquecido o paiosinho! Emfim, acabou-se. Ao menos assentamos a theoria definitiva da existencia. Com effeito, não vale a pena fazer um esforço, correr com ancia para coisa alguma... Ega, ao lado, ajuntava, offegante, atirando as pernas magras: —Nem para o amor, nem para a gloria, nem para o dinheiro, nem para o poder... A lanterna vermelha do «americano», ao longe, no escuro, parára. E foi em Carlos e em João da Ega uma esperança, outro esforço: —Ainda o apanhamos! —Ainda o apanhamos! De novo a lanterna deslisou e fugiu. Então, para apanhar o «americano», os dois amigos romperam a correr desesperadamente pela rampa de Santos e pelo Aterro, sob a primeira claridade do luar que subia.
Eça de Queirós (Os Maias - Volume II)
Se os Açores são ilhas vulcânicas, os açorianos são as suas cinzas espalhadas pelo mundo.
Pedro Almeida Maia (A Escrava Açoriana)
Caramba, rapazes, só a ideia dessas coisas me põe o coração negro! E como vocês podem falar nisso, a rir, quando se trata do país, desta terra onde nascemos, que diabo! Talvez seja má, de acordo, mas, caramba! é a única que temos, não temos outra! É aqui que vivemos, é aqui que rebentamos...
Eça de Queirós (Os Maias)
Ega triunfou, pulou de gosto na cadeira. Eis ali, no lábio sintético de Dâmaso, o grito espontâneo e genuíno do brio português! Raspar-se, pirar-se!... Era assim que de alto a baixo pensava a sociedade de Lisboa, a malta constitucional, desde El-Rei nosso Senhor até aos cretinos de secretaria!... - Meninos, ao primeiro soldado espanhol que apareça à fronteira, o país em massa foge como uma lebre! Vai ser uma debandada única na história!
Eça de Queirós (Os Maias)
Era ele que devia primeiro mandar padrinhos, lavar a sua honra. Havia pessoas na sala, quando o outro o insultou. Havia um urso, e uma tirolesa...
Eça de Queirós (Os Maias)
E enquanto a deixar-se varar por uma bala, não! Tinha mais direito a viver que o Cohen, que era um burguês, e um agiota... E ele era um homem de estudo e de arte! Tinha na cabeça livros, ideias, coisas grandes. Devia-se ao país, à civilização!... Se fosse ao campo, era para fazer a sua pontaria, e abater o Cohen, ali, como uma besta imunda...
Eça de Queirós (Os Maias)
Em que mosteiro queria ele entrar? Nenhum era congenere com o Ega! Para dominicano era muito magro, para trapista muito lascivo, muito palrador para jesuíta, e para benedictino muito ignorante... Era necessário criar uma ordem para ele! Craft lembrou a Santa Blague!
Eça de Queirós (Os Maias)
Ega protestou, com calor. Uma mulher com prendas, sobretudo com prendas literárias, sabendo dizer coisas sobre o Sr. Tiers, ou sobre o Sr. Zola, é um monstro, um fenómeno que cumpria recolher a uma companhia de cavalinhos, como se soubesse trabalhar nas argolas. A mulher só devia ter duas prendas: cozinhar bem e amar bem.
Eça de Queirós (Os Maias)
E de resto se não pudessem habitar, conjuntas na mesma cidade, as pessoas entre as quais tivesse havido atritos desagradáveis, as sociedades humanas tinham de se desfazer...
Eça de Queirós (Os Maias)
- Essa é outra! gritou Ega atirando os braços ao ar. É extraordinário! Neste abençoado país todos os políticos têm imenso talento. A oposição confessa sempre que os ministros, que ela cobre de injurias, têm, à parte os disparates que fazem, um talento de primeira ordem! Por outro lado a maioria admite que a oposição, a quem ela constantemente recrimina pelos disparates que fez, está cheia de robustíssimos talentos! De resto todo o mundo concorda que o país é uma choldra. E resulta portanto este facto supra-cómico: um país governado com imenso talento, que é de todos na Europa, segundo o consenso unânime, o mais estupidamente governado! Eu proponho isto, a ver: que como os talentos sempre falham, se experimentem uma vez os imbecis!
Eça de Queirós (Os Maias)
Nem Carlos nem ele queriam que o Dâmaso numa carta (que se podia tornar publica) declarasse «que caluniara por ser caluniador». Era necessário, pois, dar à calunia uma dessas causas fortuitas e ingovernáveis que tiram a responsabilidade ás acções. E que melhor, tratando-se dum rapaz mundano e femeeiro, do que estar bêbedo?... Não era vergonha para ninguém embebedar-se... O próprio Carlos, todos eles ali, homens de gosto e de honra, se tinham embebedado. Sem remontar aos romanos, onde isso era uma higiene e um luxo, muitos grandes homens na História bebiam de mais. Em Inglaterra era tão chic, que Pit, Fox e outros nunca falavam na Câmara dos comuns senão aos bordos. Musset, por exemplo, que bêbedo! Enfim a História, a Literatura, a Política, tudo fervilhava de piteiras... Ora, desde que o Dâmaso se declarava borracho, a sua honra ficava salva. Era um homem de bem que apanhara uma carraspana e que cometera uma indiscrição... Nada mais!
Eça de Queirós (Os Maias)
Por fim, em que consistia a diplomacia portuguesa? Numa outra forma da ociosidade, passada no estrangeiro, com o sentimento constante da própria insignificância. Antes o Chiado!
Eça de Queirós (Os Maias)
Ega, em suma, concordava. Do que ele principalmente se convencera, nesses estreitos anos de vida, era da inutilidade do todo o esforço. Não valia a pena dar um passo para alcançar coisa alguma na terra - porque tudo se resolve, como já ensinara o sábio do Eclesiastes, em desilusão e poeira.
Eça de Queirós (Os Maias)
Ora essa! exclamou Afonso. E porque não há de ser médico a sério? Se escolhe uma profissão é para a exercer com sinceridade e com ambição, como os outros. Eu não o educo para vadio, muito menos para amador; educo-o para ser útil ao seu país...
Eça de Queirós (Os Maias)
Para a maioria das pessoas, não perceber a presença do mal é um sinal de que tudo está bem. Para Edgar Wilson, é justamente o contrário. Não pressentir o mal não é sinônimo de que ele não existe ou desapareceu. São os opostos devidamente dosados que mantêm o sistema equilibrado e, assim, se o mal se ausentou, é provável que o bem também o tenha feito.
Ana Paula Maia (Enterre seus mortos)
Desde que os recolheu, tornou-se responsável por eles. De certa forma isso o faz se sentir menos miserável, porém não mais feliz.
Ana Paula Maia (Enterre seus mortos)
Era um peixe pequeno, um peixinho, com o comprimento de meio dedo, com escamas prateadas e nadadeiras delicadas, branquiadas, espelhadas e trêmulas. Um olho de peixe redondo e arregalado ao máximo mirou os dois por um instante como se sugerisse a Maia e Mati que todos nós, todos os seres vivos sobre este planeta, pessoas e animais, aves, répteis, larvas e peixes, na realidade nós estamos bem próximos uns dos outros, apesar de todas as muitas diferenças entre nós: pois quase todos nós temos olhos para ver formas, movimentos e cores, e quase todos nós ouvimos vozes e ecos, ou pelo menos sentimos a passagem da luz e da escuridão através da nossa pele. E todos nós captamos, sem parar, cheiros, gostos e sensações. Isso e mais: todos nós sem exceção nos assustamos às vezes e até mesmo ficamos apavorados, e às vezes todos ficamos cansados, ou com fome, e cada um de nós gosta de certas coisas e detesta outras, que nos inspiram temor ou aversão. Além disso, todos nós, pessoas répteis insetos e peixes, todos nós nos empenhamos muito para que fique tudo bem para nós, não muito quente nem frio, todos nós sem exceção tentamos a maior parte do tempo nos preservar e nos guardar de tudo que corta, morde e fura. Pois cada um de nós pode ser amassado com facilidade. E todos nós, pássaro e minhoca, gato menino e lobo, todos nós nos esforçamos a maior parte do tempo em tomar o máximo cuidado possível contra a dor e o perigo, e apesar disso nós nos arriscamos muito sempre que saímos para correr atrás de comida, atrás de uma brincadeira e também atrás de aventuras emocionantes.
Amos Oz (Suddenly in the Depths of the Forest)
Deus não habita na razão, tampouco na fantasia. Ele habita na verdade. Nem sempre é fácil lidar com ela, mas sempre será libertador.
KARINA MAIA (TODAS AS VEZES EM QUE DEUS FALOU COMIGO: Um livro para entender os sinais que recebemos o tempo todo (Portuguese Edition))