O'que Significa Quotes

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En un agujero en el suelo, vivía un hobbit. No un agujero húmedo, sucio, repugnante, con restos de gusanos y olor a fango, ni tampoco un agujero seco, desnudo y arenoso, sin nada en que sentarse o que comer: era un agujero-hobbit, y eso significa comodidad.
J.R.R. Tolkien (The Hobbit, or There and Back Again (The Lord of the Rings, #0))
Sempre quis saber o que aconteceu com as crianças depois que voaram para longe... Eram apenas gente de mentira, não de verdade. Mas não significa que não tenham histórias.
Neil Gaiman
As separações são o que mais custa, Tim! É muito difícil aceitá-las, principalmente quando gostávamos dessa pessoa. A separação significa que depois disso nunca mais somos os mesmos, que perdemos qualquer coisa, uma parte de nós mesmo que nunca mais reencontramos nem pode ser substituída. Mas temos de passar por muitas separações, Tim, porque fazem parte da vida, tal e qual como conhecer pessoas novas.
Colleen McCullough (Tim (Grands romans))
Michel Foucault tem uma obra fantástica, Vigiar e punir, na qual afirma que essa sociedade de mercado em que vivemos só considera o ser humano útil quando está produzindo. Com o avanço do capitalismo, foram criados os instrumentos de deixar viver e de fazer morrer: quando o indivíduo para de produzir, passa a ser uma despesa. Ou você produz as condições para se manter vivo ou produz as condições para morrer. O que conhecemos como Previdência, que existe em todos os países com economia de mercado, tem um custo. Os governos estão achando que, se morressem todas as pessoas que representam gastos, seria ótimo. Isso significa dizer: pode deixar morrer os que integram os grupos de risco. Não é ato falho de quem fala; a pessoa não é doida, é lúcida, sabe o que está falando.
Ailton Krenak (O Amanhã Não Está à Venda)
Uma pessoa nunca é boa ou ruim per se, o que significa que amá-las ou odiá-las tem necessariamente em sua base um elemento subjetivo e talvez ilusionista.
Alain de Botton (On Love)
TUS ACTOS SON TUS MONUMENTOS. Este precepto significa que se nos debería recordar por las cosas que hacemos. Las cosas que hacemos son las cosas más importantes de todas. Son más importantes que lo que decimos o que nuestro aspecto. Las cosas que hacemos duran más que nuestras vidas. Las cosas que hacemos son como los monumentos que la gente construye para honrar a los héroes cuando ya han muerto. Son como las pirámides que construyeron los egipcios para honrar a los faraones. Pero en lugar de estar hechas de piedra, las cosass que hacemos están hechas de los recuerdos que la gente tiene de ti. Por eso tus actos son como tus monumentos. Están construidos con recuerdos y no con piedra.
R.J. Palacio (Wonder (Wonder, #1))
Tomei a amizade como uma versão adulta e vacinada do amor, o que significa que transferi para a casa dela a artilharia pesada do meu batalhão de afectos. Substituí o Príncipe Encantado pelo Amigo Maravilhoso que eras tu.
Inês Pedrosa (Fazes-me Falta)
As minhas primeiras emoções tinham sido a melancolia mais pura e a compaixão mais sincera, mas na mesma proporção em que o desamparo de Bartleby crescia na minha fantasia, aquela melancolia se transformava em medo, e a compaixão, em repulsa. É tão verdadeiro e ao mesmo tempo tão terrivel o fato de que, ao vermos ou presenciarmos a miséria, os nossos melhores sentimentos são despertados até um cer to ponto; mas, em certos casos especiais, não passam disso. Erram os que afirmam que é devido apenas ao egoísmo inerente ao coração humano. Na verdade, provém de uma certa impotência em remediar um mal excessivo e orgânico. Para uma pessoa sensivel, a piedade é quase sempre uma dor. Quando afinal percebe que tal piedade não significa um socorro eficaz, o bom senso compele a alma a desvencilhar-se dela. O que vi naquela manhã convenceu-me de que o escrivão era vítima de um mal inato e incurável. Eu podia dar esmolas ao seu corpo, mas o seu corpo não lhe doía; era a sua alma que sofria, e ela estava fora do meu alcance.
Herman Melville (Bartleby the Scrivener)
Casar-se de maneira geral significa colocar a mão dentro de um saco sem ver o que há dentro dele e esperar tirar uma enguia de um emaranhado de serpentes.
Arthur Schopenhauer (L'arte di insultare)
Só quando alguém teu conhecido morre é que começas a apreciar a vida e o que ela significa
Maria Capitão
...ser corajoso não significa não ter medo. Ser corajoso significa estar com medo, muito medo, mas mesmo assim fazer o que é certo.
Neil Gaiman (Coraline)
Este livro é o que é, o que significa que ele pode não ser o livro que você espera que seja.
Caitlín R. Kiernan (The Drowning Girl)
Quando eu uso uma palavra', disse Humpty Dumpty num tom bastante desdenhoso, 'ela significa exatamente o que eu quero que signifique: nem mais nem menos
Lewis Carroll (As Aventuras de Alice no País das Maravilhas, part 1/2)
Quisiera aclarar algo, 100% de responsabilidad no quiere decir culpable o que seas un pecador. Significa que eres responsable por las memorias que pasan dentro tuyo.
Mabel Katz (El Camino Mas Facil Edicion Especial)
Ser honesto não significa dizer tudo o que queremos, sempre que queremos. Significa que aquilo que escolhemos dizer é verdade.
Veronica Roth
– Ele se inclinou e deu um beijo de leve nos lábios dela. – Eu tenho você – murmurou –, e não vou desperdiçar nem um segundo que temos juntos. Os lábios de Kate se abriram num sorriso. – O que isso significa? – Significa que o amor não tem nada a ver com o medo de que tudo acabe, mas com encontrar alguém que o complete, que faça de você um ser humano melhor do que jamais sonhou ser.
Julia Quinn (The Viscount Who Loved Me (Bridgertons, #2))
se você considera qualquer homem em quem você não confia como você confia em si mesmo como sendo um amigo, você está muito enganado e você não entende o suficiente o que significa verdadeira amizade.
Seneca (Cartas de um Estoico, Volume I (Portuguese Edition))
E o que significa a palavra qualidade? Para mim significa textura. Este livro tem poros. Tem feições. Este livro poderia passar pelo microscópio. Você encontraria vida sob a lâmina, emanando em profusão infinita. Quanto mais poros, quanto mais detalhes de vida fielmente gravados por centímetro quadrado você conseguir captar numa folha de papel, mais "literário" você será. Pelo menos essa é minha definição. Detalhes reveladores. Detalhes frescos. Os bons escritores quase sempre tocam a vida. Os medíocres apenas passam rapidamente a mão sobre ela. Os ruins a estupram e a deixam para as moscas. Entende agora por que os livros são odiados e temidos? Eles mostram os poros no rosto da vida. Os que vivem no conforto querem apenas rostos com cara de lua de cera, sem poros nem pêlos, inexpressivos.
Ray Bradbury (Fahrenheit 451)
Que las condiciones no sean a tu gusto o que no te sientas preparado todavía no significa que estés libre de actuar. Si quieres cobrar impulso, tendrás que crearlo ya poniéndote de pie y dando el primer paso.
Ryan Holiday (El obstáculo es el camino: El arte inmemorial de convertir las pruebas en triunfo (Para estar bien) (Spanish Edition))
Uma das bases do preconceito (talvez a mais visível) é a ignorância. Literal e etimologicamente, ignorar significa "não saber". O que não conhecemos nos provoca medo. Nos campos da Espiritualidade e da Religião não deveria haver espaço para o medo, mas, sim, para o respeito e o dialogo, seja interna ou externamente. No âmbito interno, cada vez mais se repensam responsabilidades e atitudes, a fim de se vivenciar a fraternidade, e não o autoritarismo e o "bullyng espiritual". No âmbito externo, o dialogo inter religioso se pauta tanto pela compreensão e pela caridade quanto pela consciência dos direitos individuais e civis
Ademir Barbosa Júnior (O livro essencial de Umbanda)
Se nós retemos na memória aquilo que nos lembramos, e se nos é impossível, ao ouvir a palavra esquecimento, compreender o que ela significa, a não ser que nos lembremos, conclui-se que a memória retém o esquecimento.
Augustine of Hippo
As mulheres sabem o que significa ter um corpo. Compreendem suas dificuldades e fragilidades, suas glórias e seus prazeres. Os homens tratam o corpo como coisa só sua. Cuidam dele privadamente, mesmo quando estão em público.
Jeffrey Eugenides (Middlesex)
Meu nome é Alice, mas...' 'Um nome bem bobo!' Humpty Dumpty a interrompeu com impaciência. 'O que significa?' 'Um nome deve significar alguma coisa?' Alice perguntou ambiguamente 'Claro que deve', Humpty Dumpy respondeu com uma risada curta.
Lewis Carroll
Falamos com indignação ou com entusiasmo; falamos sobre opressão, crueldade, crime, devoção, abnegação, virtude e nada sabemos, além de palavras. Ninguém sabe o que significa sofrimento ou sacrifício – exceto, talvez, as vítimas do misterioso propósito dessas ilusões.
Joseph Conrad ('An Outpost of Progress' and 'The Outstation')
Quando alguém está a viajar, tudo parece mais luminoso e mais agradável, o que não significa que seja mais luminoso e mais agradável, significa apenas que o lar terno e aprazível sofre em comparação com lugares desconhecidos aprimorados, com tudo o que têm de melhor à mostra.
Catherynne M. Valente (The Girl Who Circumnavigated Fairyland in a Ship of Her Own Making (Fairyland, #1))
A fotografia, mais recentemente, transformou-se num divertimento tão praticado como o sexo e a dança, o que significa que, como todas as formas de arte de massas, a fotografia não é praticada pela maioria das pessoas como arte. É sobretudo um rito social, uma defesa contra a ansiedade e um instrumento de poder.
Susan Sontag (On Photography)
Penso no que a minha mãe me disse: que a pessoa deve sentir-se grata pelo que tem em vez de passar o tempo à procura do que pensa que quer. Aqui sentada no campus que ele frequentou noutros tempos, julgo que percebi finalmente o que ela queria dizer. Julgo que percebi finalmente o que significa desistir enquanto se vai na frente.
Gayle Forman (Just One Day (Just One Day, #1))
Mientras ambos respiréis, siempre tendrás la esperanza de que esté ahí, al doblar la esquina o al subir a un autobús, o que vuelva a buscarte. Sin embargo, eso no significa que tengas que estar toda la vida esperando.El mundo es demasiado grande y puede que nunca volváis a encontraros. No hagas como yo, no persigas fantasmas eternamente
NOT A BOOK
Olavismo. 1. Estilo de pensamento filosófico muito peculiar, que substitui o argumento pelo xingamento e o conceito pelo palavrão. 2. Fruto da expansão dos meios tecnológicos de informação, que, utilizando selfies e vídeos autoproduzidos, deixam aparecer na rede pessoas como se fossem “professores” e “intelectuais”, posando nas telas ao terem no fundo estantes decoradas com livros mal lidos e mal compreendidos. 3. Nome de uma corrente de fake-pensamento. "4. Expressão oriunda da composição de “Olá” e “revanchismo”, combinando alguém que chega de repente para dar a ideia aos governantes sem ideias de en-direitar o país com rifles e rifas e quem se sentiu a vida toda complexado por nunca ter conseguido entender o que é uma ideia e muito menos uma filosofia. 5. Nome da corrente ideológica que seduz, encanta e lidera o bando de ressentidos do país. 6. Uma forma bem específica de saudosismo: saudades da era medieval, saudades da teocracia, saudades de D. Pedro, saudades dos bons costumes. 7. Modo borrágico de expressar opiniões que procuram, em tese, chocar o senso comum, mas que nada mais fazem além de corroborar o pior dos sensos (o qual, infelizmente, muitas vezes é comum e quase sempre predominou ao longo da história). 8. Movimento de desespero final de quem quer encontrar uma identidade para chamar de sua e um líder para chamar de seu. 9. Espécie de fanatismo religioso que cultua o ódio e a intolerância travestidos de intelectualismo. 10. Seita seguida por pessoas particularmente vulneráveis a uma retórica violenta e macabra, mas perigosamente sedutora. 11. Doutrina do ter-razão-em-tudo quando não se tem razão em nada. Atribuindo a base dessa doutrina do ter-razão-em-tudo ao filósofo alemão Arthur Schopenhauer, é fácil constatar como olavistas não possuem o menor conhecimento nem de alemão e nem de filosofia, tendo (mal) entendido o próprio nome de Schopenhauer como “chope raro”, que, bebido, gera mal-entendidos dos princípios básicos da erística e da dialética. Com bases em erros fundamentais, o olavismo derivado desse “chope raro” (confundido com Schopenhauer) desenvolveu uma errística dislética, que se vale de argumentos nefastos (do latim nefas que significa ilícito) para destruir as questões mais lícitas do pensamento, da sociedade e da cultura. 11. Tradução google para o português bolsonarista da tradução google para o inglês trumpista da tradução google russa do resumo dos clássicos da extrema direita europeia, assinada por Dugin, ideólogo de Putin.
Luisa Buarque (Desbolsonaro de Bolso)
Celebração das contradições/1 Como trágica ladainha a memória boba se repete. A memória, viva, porém, nasce a cada dia, porque ela vem do que foi e é contra o que foi. Aufheben era o verbo que Hegel preferia, entre todos os verbos do idioma alemão. Aufheben significa, ao mesmo tempo, conservar e anular; e assim presta homenagem à história humana, que morrendo nasce e rompendo cria.
Eduardo Galeano (The Book of Embraces)
PRODO -explicó- es algo que no podemos ver, que no distinguimos o que nuestra mente no nos deja observar porque creemos que es un problema de otro. Eso es lo que significa PRODO. Problema de Otro. El cerebro se limita solamente a perfilarlo, es como un punto ciego. Si se mira directamente no se ve, a menos que se sepa qué es exactamente. La única esperanza consiste en percibirlo por sorpresa con el rabillo del ojo.
Douglas Adams (Life, the Universe and Everything (The Hitchhiker's Guide to the Galaxy, #3))
Finalmente, há outro fato que se deve ter em mente como capaz de levar os sonhos a serem esquecidos, a saber, que a maioria das pessoas têm muito pouco interesse pelos seus sonhos. Qualquer um, como um pesquisador científico, que preste atenção aos seus sonhos por certo período de tempo, terá mais sonhos do que habitualmente - o que, sem dúvida, significa que ele se recorda dos seus sonhos com maior facilidade e frequencia.
Sigmund Freud (The Interpretation of Dreams)
- O que você faz exatamente com um livro? - Você lê. - "Oh", disse ela. "E o que significa 'ler'?" Balancei a cabeça. Então comecei a virar as páginas do livro que estava segurando e disse: - "Essas marcações aqui representam sons. E os sons formam palavras. Você olha para as marcações e se lembra dos sons, e aí você pratica bastante, e elas começam a soar como se você estivesse ouvindo uma pessoa falando. Falando - mas em silêncio.
Walter Tevis (Mockingbird)
Assim, se um disser: “Isso significa o que eu entendo”, e outro: “Não: o que eu entendo”, eu julgo mais pio dizer: “Por que não ambos, então, se ambos são verdadeiros, e se alguém enxergar nessas palavras um terceiro sentido, ou um quarto ou qualquer outro que seja verdadeiro, por que não acreditar que os viu todos aquele mediante o qual Deus uno temperou as Sagradas Escrituras para que as interpretações de muitos vissem nelas verdades diferentes?
Agostinho de Hipona (Confissões)
Ele me revelou um lado melhor do meu ser. Quer dizer, não falo apenas do talento para literatura. Refiro-me principalmente à sensibilidade, à liberdade para sentir intensamente e não ter mais vergonha disso. Falo de chorar quando a vontade vem, de fazer um gesto de carinho quando isso é tudo o que importa. Falo de ser humano quando isso significa conhecer nossos defeitos e limites, cientes de que nós somos sempre capazes de nos aprimorar, capazes de aprender a ser mais gente!
Camilo Gomes Jr. (Em memória)
Ficar concentrado em relação aos outros significa, antes de tudo, ser capaz de ouvir. Muitas pessoas ouvem as outras, e até dão conselhos, sem ouvir realmente. Não levam a sério o que a outra pessoa fala, nem também levam a sério suas próprias respostas. Em consequência, a conversação deixa-as cansadas. Têm a ilusão de que ficariam ainda mais fatigadas se ouvissem com concentração. A verdade, porém, é o oposto. Qualquer atividade, se feita de maneira concentrada, toma-nos mais despertos
Erich Fromm (The Art of Loving)
-- Não brinco, não. Digo apenas o que percebi. Os conhecimentos podem ser transmitidos, mas nunca a sabedoria. Podemos achá-la; podemos vivê-la; podemos consentir em que ela nos norteie; podemos fazer milagres através dela. Mas não nos é dado pronunciá-la e ensiná-la. (...) Uma percepção me veio, ó Govinda, que talvez te afigure novamente como uma brincadeira ou uma bobagem. Reza ela: "O oposto de cada verdade é igualmente verdade". Isso significa: uma verdade só poderá ser comunicada e formulada por meio de palavras, quando for unilateral. Ora, unilateral é tudo quanto possamos apanhar pelo pensamento e exprimir pela palavra. Tudo aquilo é apenas um lado das coisas, não passa de parte, carece de totalidade, está incompleto, não tem unidade. Sempre que o augusto Gautama nas suas aulas nos falava do mundo, era preciso que o subdividisse em Sansara e Nirvana, em ilusão e verdade, em sofrimento e redenção. Não se pode proceder de outra forma. Não há outro caminho para quem quiser ensinar. Mas o próprio mundo, o ser que nos rodeia e existe no nosso íntimo, não é nunca unilateral. Nenhuma criatura humana, nenhuma ação é inteiramente Sansara nem inteiramente Nirvana. Homem algum é totalmente santo ou totalmente pecador. Uma vez que facilmente nos equivocamos, temos a impressão de que o tempo seja algo real. Não, Govinda, o tempo não é real, como verifiquei em muitas ocasiões. E se o tempo não é real, não passa tampouco de ilusão aquele lapso que nos parece estender-se entre o mundo e a eternidade, entre o tormento e a bem-aventurança, entre o Bem e o Mal.
Hermann Hesse (Siddhartha)
– O que viver no presente significa para você? – pergunto. – Apenas que ficar se prendendo e planejando é besteira – ele diz. – Se você fica se prendendo no passado, não consegue seguir em frente. Se passa muito tempo planejando o futuro, você se empurra pra trás ou fica estagnada no mesmo lugar a vida toda. – Seus olhos encontram os meus. – Viva o momento – ele diz, como se estivesse dizendo algo sério – aqui, onde tudo está certo, vá com calma e limite suas más lembranças e você chegará ao seu destino, seja qual for, muito mais rápido e com menos acidentes de percurso.
J.A. Redmerski (The Edge of Never (The Edge of Never, #1))
Isso significa que os pobres ficam mais pobres, os ricos ficam mais ricos, e a verdadeira divisão de classes é entre os que podem pedir dinheiro emprestado e os que não podem. Porque não importa o quanto uma pessoa ganhe, ela ainda não consegue dormir direito no fim do mês por conta da preocupação com dinheiro. Todos olham para o que seus vizinhos têm e se perguntam: “Como eles podem pagar por isso?”, porque todos estão vivendo além dos seus recursos. Portanto, nem mesmo pessoas realmente ricas se sentem realmente ricas, porque no final a única coisa que você pode comprar é uma versão mais cara de algo que você já tem. Com dinheiro emprestado.
Fredrik Backman (Gente ansiosa (Portuguese Edition))
Quando uma solteirona solitária transfere sua afeição para animais, ou um solteirão se torna um entusiástico colecionador, quando um soldado defende um farrapo de pano colorido - uma bandeira - com o sangue de sua vida, quando a pressão extra de um aperto de mão significa bem-aventurança para aquele que ama, ou quando, em Otelo, um lenço perdido precipita uma explosão de cólera - tudo isso constitui exemplos de deslocamentos psíquicos, aos quais não levantamos nenhuma objeção. Mas, quando ouvimos que uma decisão quanto ao que alcançará nossa consciência e o que será mantido fora dela - o que pensaremos, em suma - tenha sido alcançada da mesma forma e sobre os mesmos princípios, temos a impressão de um fato patológico e, se tais coisas ocorrerem na vida de vigília, nós a descreveremos como erro de pensamento.
Sigmund Freud (The Interpretation of Dreams)
Assim como no regime da criação, Shakti é o criador e Shiva é o testemunho de todo o jogo, no tantra a mulher tem o estado do guru e o homem do discípulo. A tradição tântrica é atualmente passada da mulher para o homem, na prática tântrica, é a mulher quem inicia. É só por seu poder que o ato de maithuna acontece. Todas as preliminares são feitas por ela. Ela coloca a marca na testa do homem e fala pra ele meditar. Na relação ordinária, quem controla é o homem e a mulher participa. Mas no tantra eles trocam de papéis. A mulher torna-se a operadora e o homem o seu intermédio. Ela tem que ser capaz de despertá-lo. então, no momento certo, ela deve criar o bindu para que ele possa praticar vajroli. Se o homem perde seu bindu, significa que a mulher não conseguiu realizar suas funções adequadamente. No tantra se diz que Shiva é incapaz sem Shakti. Shakti é a sacerdotisa. Portanto, quando Vama marga é praticado, o homem deve ter uma atitude absolutamente tântrica com a mulher. Ele não pode comportar-se com ela como os homens geralmente fazem com outras mulheres. Normalmente, quando um homem olha uma mulher, ele torna-se apaixonado, mas durante o maithuna ele não deve. Ele deve vê-la como a mãe divina, a Devi, e aproximar-se dela como uma atitude de devoção e entrega, não com luxúria. De acordo com o conceito tântrico, as mulheres são mais dotadas de qualidades espirituais e seria uma coisa sábia se elas assumissem posições elevadas na área social. Então, haveria maior beleza, compaixão, amor e compreensão em todas as esferas da vida. O que estamos discutindo aqui não é sociedade patriarcal versus matriarcal, mas tantra. No relacionamento entre marido e mulher, por exemplo, há dependência e posse, enquanto que no tantra cada parceiro é independente, um para si mesmo. Outra coisa difícil na sadhana tântrica é cultivar a atitude de impassionalidade. O homem tem de se tornar praticamente um bramacharya, a fim de libertar a mente as emoções dos pensamentos sexuais e da paixão, que normalmente surgem na presença de uma mulher. Ambos os parceiros devem ser absolutamente purificados e controlados interna e externamente antes de praticar o maithuna. É difícil para a pessoa comum compreender isto porque para a maioria das pessoas a relação sexual é o resultado da paixão e da atração emocional ou física, tanto para a procriação quanto para o prazer. É somente quando você está purificado que estes instintos sexuais estarão ausentes. Isto acontece porque, de acordo com a tradição, o caminho do Dakshina marga deve ser seguido por muitos anos antes do caminho do Vama marga poder ser iniciado. Então, a interação do maithuna não acontece por uma gratificação física. O propósito é muito claro – o despertar de sushumna, o aumento da energia de Kundalini no mooladhara chakra e a explosão nas áreas inconscientes do cérebro. Se isto não ficar claro, quando você praticar os kriyas e sushumna se tornar ativa, você não será capaz de confrontar o despertar. Sua cabeça vai ficar quente e você nãos será capaz de controlar a paixão e o excitamento, porque você não tranqüilizou seu cérebro. Portanto, em minha opinião, somente aqueles que são adeptos no yoga estão qualificados para o Vama marga. Este caminho não é para ser usado indiscriminadamente como um pretexto para a auto-indulgência. Ele se destina para os sadhakas maduros e chefes de família sérios, que são evoluídos, que têm praticado sadhana para despertar o potencial energético e atingir o samadhi Eles devem utilizar este caminho como um veículo para o despertar, caso contrário torna-se um caminho de queda.
Satyananda Saraswati (Kundalini Tantra)
A este propósito, pergunta-se muitas vezes: “Como pode afirmar-se que a matéria existiu sempre? Quando nasceu? Não é de admirar que se pergunte. Durante toda a sua vida, o homem constata que todas as coisas têm um começo e um fim, e pergunta a si próprio: quem criou a matéria? A ciência responde-lhe: A matéria existiu sempre em toda a eternidade. Como provar esta importante dedução? Muitos factos o confirmam. Por exemplo a lei da conservação da massa, enunciada por Lomonossov e Lavoiser: na natureza, nenhum corpo, nenhum elemento não poderia nem desaparecer sem deixar vestígios, nem aparecer do nada. E se admitir que houve um tempo em que não havia matéria, ela não poderia ter aparecido de parte nenhuma, nem do nada. Mas como a matéria existe, isto significa que ela nunca nasceu, que sempre existiu e que existirá sempre. É eterna e imortal. Também nunca pôde ser criada: não se saberia criar o que não se saberia aniquilar.
Alexander Spirkin (Dialectical Materialism)
— Ótimo. — Kemmer se sentou. Um processo trabalhoso e doloroso, mas, quando Dan se mexeu para ajudar, Kemmer o dispensou com um gesto. — O que você chama de sonho duplo é bem conhecido para os psiquiatras e mereceu o interesse especial dos junguianos, que chamam de falso despertar. O primeiro sonho geralmente é lúcido, o que significa que o sonhador sabe que está sonhando... — Sim! — gritou Dan. — Mas o segundo... — O sonhador acredita estar acordado — disse Kemmer. — Jung deu grande importância a isso, chegando até a imputar poderes pré-cognitivos a esses sonhos... mas é claro que a gente é mais esperto que isso, não é, Dan? — Claro — concordou Dan. — O poeta Edgard Allan Poe descreveu o fenômeno do falso despertar muito antes de Carl Jung ter nascido. Escreveu: “Tudo o que vemos ou parecemos não passa de um sonho dentro de um sonho.” Será que respondi à sua pergunta? — Acho que sim. Obrigado. — Não tem de quê. Agora quero um pouco de suco. De maçã, por favor.
Stephen King (Doutor Sono (O Iluminado, #2))
A primeira: você sabe por que livros como este são tão importantes? Porque têm qualidade. E o que significa a palavra qualidade? Para mim significa textura. Este livro tem poros. Tem feições. Este livro poderia passar pelo microscópio. Você encontraria vida sob a lâmina, emanando em profusão infinita. Quanto mais poros, quanto mais detalhes de vida fielmente gravados por centímetro quadrado você conseguir captar numa folha de papel, mais “literário” você será. Pelo menos, esta é a minha definição. Detalhes reveladores. Detalhes frescos. Os bons escritores quase sempre tocam a vida. Os medíocres apenas passam rapidamente a mão sobre ela. Os ruins a estupram e a deixam para as moscas. Entende agora por que os livros são odiados e temidos? Eles mostram os poros no rosto da vida. Os que vivem no conforto querem apenas rostos com cara de lua de cera, sem poros nem pelos, inexpressivos. Estamos vivendo num tempo em que as flores tentam viver de flores, e não com a boa chuva e o húmus preto.
Ray Bradbury (FARENHIET 451)
-Sé qué quieres decir […], pero tal vez fueron realmente años felices para él. Era libre; tenía un trabajo que le gustaba, promocionaba a jóvenes bailarines, había dado un nuevo rumbo a la compañía y estaba preparando una de sus coreografías más importantes. Él y el bailarín danés… -Erik Bruhn. -Exacto. Él y Bruhn seguían juntos, o al menos lo estuvieron un tiempo más. Tenía lo que probablemente jamás había soñado: dinero, fama, libertad de creación, amor, amistad, y todavía era lo bastante joven para disfrutar de ello. […] A mí me parece una vida feliz. Los dos se quedaron callados un rato. -Pero estaba enfermo -dijo Willem al fin. -Entonces no -le recordó Jude.- Al menos no de forma manifiesta. -No, tal vez no. Pero se estaba muriendo. Jude le sonrió. -Oh, morir -dijo restándole importancia-. Todos moriremos algún día. Él solo supo que la muerte le llegaría antes de lo previsto. Pero eso no significa que no fueran unos años felices para él o que no tuviera una vida feliz.
Hanya Yanagihara (A Little Life)
Apesar de tudo, de tal modo é diferente o mundo em que se vive durante o sono que aqueles que têm dificuldade em adormecer procuram antes de tudo sair do nosso. Depois de ter desesperadamente, durante horas, de olhos fechados, remoído pensamentos semelhantes aos que teriam de olhos abertos, recobram ânimo se se apercebem de que o minuto precedente esteve prenhe de um raciocínio em contradição formal com as leis da lógica e a evidência do presente; essa breve “ausência” significa que está aberta a porta pela qual poderão talvez escapar-se imediatamente da percepção do real, indo fazer alto mais ou menos longe dele, o que lhes dará um sono mais ou menos “bom”. Mas já está dado um grande passo quando voltamos as costas ao real, quando atingimos os primeiros antros em que as “autossugestões” preparam como feiticeiras a infernal beberagem das doenças imaginárias ou a recrudescência das doenças nervosas, e espiam a hora em que as crises emergidas durante o sono inconsciente se desencadearão com a força suficiente para fazê-lo cessar.
Marcel Proust (The Guermantes Way)
Espírito" vem da palavra latina que significa "respirar", O que respiramos é o ar, que é certamente matéria, por mais fina que seja. Apesar do uso em contrário, não há na palavra "espiritual" nenhuma inferência necessária de que estamos falando de algo que não seja matéria (inclusive aquela de que é feito o cérebro), ou de algo que esteja fora do domínio da ciência. De vez em quando, sinto-me livre para empregar a palavra. A ciência não é só compatível com a espiritualidade; é uma profunda fonte de espiritualidade. Quando reconhecemos nosso lugar na imensidão de anos-luz e no transcorrer das eras, quando compreendemos a complexidade, a beleza e a sutileza da vida, então o sentimento sublime, misto de júbilo e humildade, é certamente espiritual. Como também são espirituais as nossas emoções diante da grande arte, música ou literatura, ou de atos de coragem altruísta exemplar como os de Mahatma Gandhi ou Martin Luther King. A noção de que a ciência e a espiritualidade são de alguma maneira mutuamente exclusivas presta um desserviço a ambas.
Carl Sagan (The Demon-Haunted World: Science as a Candle in the Dark)
O que vim fazer aqui? Vim ser terrível. Os senhores dizem que sou um monstro. Não, sou o povo. Sou uma exceção? Não, sou todo mundo. A exceção são os senhores. Os senhores são a quimera, e eu, a realidade. Sou o Homem. Sou o medonho Homem que Ri. Que ri do quê? Dos senhores. Dele mesmo. De tudo. O que é esse meu riso? É o crime dos senhores e é meu próprio suplício. Esse crime, eu lhes jogo na cara; esse suplício, eu lhes cuspo no rosto. Eu rio, e isso quer dizer: eu choro. [...] – Esse riso que está em meu rosto foi posto aí por um rei. Esse riso exprime a desolação universal. Esse riso significa ódio, silêncio forçado, raiva, desespero. Esse riso é um produto da tortura. Esse riso é um riso de violência. Se Satã tivesse esse riso, esse riso condenaria Deus. Mas o Eterno não se assemelha aos efêmeros; sendo o absoluto, ele é justo; e Deus abomina o que fazem os reis. Ah! Os senhores me consideram uma exceção! Eu sou um símbolo. Ó imbecis todo-poderosos, abram seus olhos. Eu encarno tudo. Represento a humanidade tal qual foi feita por seus mestres. O homem é um mutilado. O que fizeram a mim fizeram ao gênero humano.
Victor Hugo (The Man Who Laughs)
Façamos um pequeno cálculo. Como integrante da espécie humana, tenho uma identidade genética específica. Existem cerca de trina mil genes ativos no genoma humano. Cada um tem pelo menos duas variantes, ou "alelos", de modo que o número de identidades geneticamente distintas que o genoma pode codificar é de pelo menos dois elevado à trigésima milésima potência - o que equivale mais ou menos ao número um seguido de dez mil zeros. É o número de pessoas possíveis permitido pela estrutura do nosso DNA. E quantas dessas pessoas possíveis chegaram realmente a existir? Estima-se que cerca de quarenta bilhões de seres humanos nasceram desde o surgimento de nossa espécie. Vamos arredondar para cem bilhões, só para ficar numa estimativa moderada. Isso significa que a fração de seres humanos geneticamente possíveis que nasceram é menor que 0,00000... 000001 (acrescente cerca de 9.979 zeros a mais no intervalo). A esmagador a maioria desses seres humanos geneticamente possíveis é de fantasmas que não nasceram. Foi essa a fantástica loteria que eu - e você - tivemos de ganhar para aparecer no cenário". Jim Holt - Por Que o Mundo Existe?
Jim Holt (Why Does the World Exist?: An Existential Detective Story)
Duas vezes foi criado o mundo: quando passou do nada para o existente; e quando, alçado a um passo mais sutil, fez-se palavra. O caos, portanto, não cessou com o aparecimento do universo; mas quando a consciência do homem, nomeando o criado, recriando-o, portanto, separou, ordenou, uniu. A palavra, porém, não é o símbolo ou reflexo do que significa, função servil, e sim o seu espírito, o sopro na argila. Uma coisa não existe realmente enquanto não nomeada: então, investe-se da palavra que a ilumina e, logrando identidade, adquire igualmente estabilidade. Porque nenhum gêmeo é igual a outro; só o nome gêmeo é realmente idêntico ao nome gêmeo. Assim, gêmea inumerável de si mesma, a palavra é o que permanece, é o centro, é a invariante, não se contagiando da flutuação que a circunda e salvando o expresso das transformações que acabariam por negá-lo. Evocadora a ponto de um lugar, um reino, jamais desaparecer de todo, enquanto subsistir o nome que os designou (Byblos, Carthago, Suméria), a palavra, sendo o espírito do que - ainda que só imaginariamente - existe, permanece ainda, por incorruptível, como o esplendor do que foi, podendo, mesmo transmigrada, mesmo esquecida, ser reintegrada em sua original clareza. Distingue, fixa, ordena e recria: ei-la.
Osman Lins
Quando visitamos empresas, geralmente nos deparamos com o banner de valores. E, em alguns, podemos ler: HONESTIDADE, CRIATIVIDADE, TRANSPARÊNCIA; em seguida, o invariável: FOCO NO RESULTADO. Um fato interessante é que a palavra foco inevitavelmente vem acompanhada da palavra resultado, como se fosse uma obviedade. Não sei também se você, Cortella, já refletiu sobre a bobagem que é fazer uma lista em que um dos itens tem a palavra foco. Porque nesse caso ficam anulados os outros itens. Se o oftalmologista diz: “Foque a terceira letra”, todas as outras letras perdem o foco. Cortella – Na escola é o plano pedagógico que costuma ficar em evidência para que todos possam vê-lo. Clóvis – Toda vez que o foco está em alguma coisa, fica descaracterizada a ideia de complexidade, diversidade, pluralidade. O que quero dizer com isso? Se houver um conflito entre honestidade e resultado – conflito mais do que provável, porque é possível, para fazer uma venda a qualquer preço, mentir sobre o produto ou sobre o serviço prestado –, então, a resposta está no banner: o foco é no resultado. Se houver conflito com qualquer outro valor, o foco está no resultado. E isso significa o quê? Fazer o que for preciso para obter resultado, mesmo que isso implique mentir, enganar, ludibriar e assim por diante.
Anonymous
A história de uma família parece mais com um mapa topográfico do que com um romance, e uma biografia é a soma de todas as eras geológicas que você atravessou. Escrever-se a si mesma significa lembrar que você nasceu com raiva e que foi um despejo de lava denso e contínuo, antes que sua crosta endurecesse e rachasse para deixar aflorar uma espécie de amor, ou que a força inútil do perdão viesse polir e achatar qualquer formação de um vale em você. Reler-se a si mesma significa inventar aquilo pelo que você passou, detectar cada estrato de que está composta: os cristais de júbilo ou de solidão no fundo, as consequências de uma lembrança que evaporou, tudo o que foi escavado e depois inundado, apenas para se dar conta de que não é verdade que o tempo cura — há uma fratura que jamais será preenchida. A única coisa que o tempo faz é carregar consigo o pó e ervas daninhas, de modo que aquela fissura seja coberta até se transformar numa paisagem distinta, distante, quase de fábula, na qual se fala um idioma que não se conhece mais, tão verossímil quanto o élfico. Paisagens sobre as ruinas da sua família, e você se dá conta de que algumas palavras foram apagadas, mas outras salvas, algumas desapareceram, enquanto outras farão sempre parte da sua reverberação, e então finalmente se chega à margem do seu pai e da sua mãe, depois de anos acreditando que morrer ou enlouquecer fosse o único jeito de estar à altura deles. É lá então que você entende que tudo no seu sangue é uma chamada e você é somente eco de uma mitologia pregressa.
Claudia Durastanti (La straniera)
A vida não é tão original assim, sabe? Tem esse jeito misterioso de nos lembrar que, mesmo sem um Deus, em retrospecto pode haver um lampejo de esplendor no modo como o destino dá suas cartas. Ele não oferece as cinquenta e duas; ele dá, digamos, umas quatro ou cinco, que, no fim, são as mesmas com as quais nossos pais e avós e bisavós jogaram, já bem gastas e dobradas. A escolha de sequências é limitada: em algum momento, as cartas vão se repetir, raramente, na mesma ordem, mas sempre segundo um padrão que parece misteriosamente familiar. Às vezes, a última nem chega a ser jogada por aquele cuja vida terminou. O destino nem sempre respeita o que acreditamos ser o fim de uma vida. Ele dará a última cartada da sua existência para aqueles que ainda estão por vir. É por isso que eu acho que todas as vidas são condenadas a permanecer inacabadas. Essa é a verdade deplorável com a qual todo mundo precisa conviver. Chegamos ao fim e nossa vida não se conclui, não chega nem perto disso! Deixamos por toda parte projetos que mal começamos, questões malresolvidas. Viver significa morrer com vários arrependimentos entalados na garganta. Como diz o poeta francês: Le temps d’apprendre à vivre il est déjà trop tard, até aprendermos a viver, já é tarde demais. Mas, ainda assim, deve existir alguma alegriazinha em descobrir que cada um de nós está em posição de completar as vidas de outras pessoas, de fechar o livro-razão que elas deixaram aberto e jogar por elas sua última cartada. O que poderia ser mais gratificante do que saber que sempre caberá a outra pessoa completar e concluir nossa vida? Alguém que amamos e que nos ama o bastante.
André Aciman (Find Me (Call Me By Your Name, #2))
Não é com a mente aquisitiva e possessiva, acumulação de conhecimentos intelectuais, que se chega à Sabedoria. A mente aquisitiva aumenta a erudição, mas a Sabedoria não é erudição. Pode-se ser erudito e não sábio, e sábio sem ser erudito. Nossa mente, através dos tempos, adquiriu grande experiência em defender e proteger o eu, criando um sistema de segurança em todos os setores de nossa atividade: física, material, econômica, afetiva e intelectual, através de nossos apegos a conceitos, credos, teorias, sistemas filosóficos etc. Essas acumulações nada significam, são limitações do nosso pensamento vinculado a condicionamentos. É imprescindível que a mente possa receber o novo, o desconhecido, sem pretender amoldá-lo, ajustá-lo aos condicionamentos do passado. O apego às acumulações do passado, significa condicionamento ao tempo, e jamais, dentro do tempo, se poderá compreender o Eterno (Incondicionado). Só quando a mente se libertar de toda e qualquer acumulação do passado, o pensamento poderá ser criador, capaz de reto pensar e chegar à Sabedoria. Pela ignorância, a idéia de apego surge no homem comum não esclarecido, porque o ego, pela insatisfatoriedade, tende sempre a se preencher, se completar e se expandir. Assim, preenchemos e completamos nosso ego psicologicamente pela esposa, filhos (os filhos pelos pais), amigos, pelo clube a que pertencemos, pelo país em que vivemos etc. Todos nós nos completamos psicologicamente porque somos dependentes uns dos outros. Porém esta união, que nos completa, que nos traz felicidade, é algo muito precário. Pela natureza impermanente desta existência, não se pode manter esta união e felicidade indefinidamente, mais cedo ou mais tarde há uma separação inevitável e isto é sofrimento. Porém, quando, pelo autoconhecimento e progresso espiritual, vamos compreendendo gradativamente as Quatro Nobres Verdades, os fenômenos que caracterizam a existência (Impermanência, Insatisfatoriedade e Impessoalidade), o que é a Sabedoria, então não vamos mais nos completar psicologicamente. Continuaremos a amar os outros de uma maneira mais correta, e o apego irá se manifestando cada vez mais fracamente. O amor no homem comum está sempre ligado ao apego, há sempre a idéia de propriedade: "meu filho", "meu marido", "minha esposa", "meu pai", etc. Este amor é inseparável do apego. Quando, pelo desenvolvimento da Sabedoria, vamos ganhando essa capacidade de amar sem nos apegar, há verdadeira felicidade, porque amamos sem nos escravizar aos outros e às coisas. Gradativamente, nos tornamos a nossa própria lanterna, não mais dependendo dos outros para nos completar psicologicamente.
Georges da Silva (Budismo: Psicologia do Autoconhecimento)
O outro não é apenas um duplo especular, ao modo de um espelho do Eu. Para começar, o outro tem dois olhos, não apenas um. Então em qual ponto de vista devemos nos colocar? Se os olhos piscam ao mesmo tempo, a imagem permanece ainda que não esteja em presença. Mas, se alternamos o piscar entre um olho e outro, o objeto começa a se movimentar, em função de um efeito de ilusão chamado paralaxe. Ou seja, o fato de nós termos uma visão binocular e supormos no outro um único ponto de vista corresponde a uma diferença estrutural entre o eu e o outro. Isso ocorre também porque há um ponto de ausência na visão, bem no centro do cone ótico, chamado mácula. Além disso, a visão, tomada nesse sentido geométrico, equivale à audição, não à escuta. Para escutar e não só ouvir, assim como olhar e não só ver, é preciso subtrair a representação antecipada que fazemos do outro, da imagem, e que não é uma ilusão ótica, mas uma ilusão cognitiva. Quando alguém começa a aprender a arte do desenho, uma das primeiras lições, e talvez a mais importante, no sentido inaugural, é que você deve se ater ao que objetivamente está vendo, não ao que se “sabe” sobre o formato de uma maçã ou das arestas de um cubo. Isso significa que, para que os dois olhos colaborem na apreensão de uma única imagem, é preciso pensar a partir do quadro, colocar-se no lugar do outro, mas também supor o que o quadro “ignora” sobre sua própria composição. Por exemplo, o tamanho, a disposição e a distribuição dos volumes impõem involuntariamente ao observador que se coloque no ponto exato em que o quadro forma uma boa imagem. Se nos colocamos a menos de um palmo ou a mais de cem metros da Mona Lisa, sua experiência estética simplesmente será outra. Ocorre que, nesse ponto, ao qual nos ajustamos automaticamente – como ajustamos a distância exata à qual um bebê é capaz de formar seu foco visual, sem que ninguém tenha nos ensinado isso –, emerge outro fenômeno: nos vemos sendo vistos. Nossa percepção é a de que fazemos parte da tela e estamos imersos no espaço do museu. Ou seja, recebemos nossa própria imagem, que nos enxerga ali onde não nos vemos. É assim também com a escuta. Reconhecemos o que o outro não escuta, o que ele mesmo diz, e não adianta simplesmente dizer isso, gritar ou se exasperar, porque ele não escuta. E isso acontece porque, no fundo, “não pode escutar”, pois aquilo foi feito para ficar nessa zona cinzenta do não escutado. Não obstante, há restos – penumbras, zonas de transição, rastros daquilo que não se escuta perfeitamente –, mas que se denunciam como ruídos, particularmente em distorções, exageros, inibições e excepcionalidades da sua expressividade. O senso comum tenta eliminar tais ruídos entendendo que atrapalham a funcionalidade das relações. A psicanálise dá atenção a essas bobagens e imperfeições comunicativas, pois presume que nelas falta o que não pode ser realmente escutado e que de fato está determinando impasses relacionais.
Christian Dunker (A arte de amar (Portuguese Edition))
A Etimologia tentou separar duas raízes: de um lado a raiz-lua que, com men (lua) e mensis (mes) pertence a raíz ma do sacrifício mas; e de outro, a raiz sânscrita manas, com menos (grego), mens (latim) etc., que representa o espirito por excelência. Da raiz-espírito brota uma ampla ramificação de sentidos espirituais significativos: menos, espirito, coração, alma, coragem, ardor; menoinan, considerar, meditar, desejar; memona, ter em mente, pretender; mainomai pensar e também perder-se em pensamentos e delirar, a qual pertence mania, loucura, possessão e também manteia, profecia. Outros ramos da mesma raiz-espírito são menis, menos, raiva, menuo, indicar, revelar; meno, permanecer, demorar-se, manthano, aprender; menini, lembrar; e mentiri, mentir. Todas essas raízes-espírito originam-se de uma raiz original sânscrita Mati-h, que significa pensamento, intenção. Em nenhum lugar, seja ele qual for, essa raiz foi colocada em oposição a raiz-lua, men, lua; mensis, mes; mas, que e ligado a ma, medir. Dessa raiz origina-se não só matra-m, medida, mas também metis, inteligência, sabedoria; matiesthai, meditar, ter em mente, sonhar; e, mais ainda, para nossa surpresa, verificamos que essa raiz-lua, pretensamente oposta a raiz-espírito, e da mesma maneira derivada da raiz sânscrita mati-h, significando medida, conhecimento. Em conseqüência, a única raiz arquetípica subjacente a esses significados e espírito-lua, que se expressa em todas as suas ramificações diversificadas, revelando-nos assim sua natureza e seu significado primordial. O que emana do espírito-lua e um movimento emocional relacionado de perto com as atividades do inconsciente. Na erupção ativa e um espirito igneo: coragem, cólera, possessão e ira; sua auto-revelação conduz a profecia, cogitação e mentira, mas também a poesia. Junto com essa produtividade ignea, no entanto, coloca-se outra atitude mais “ medida “ que medita, sonha, espera e deseja, hesita e se retarda, que se relaciona com a memória e o aprendizado, e cujo efeito e a moderação, a sabedoria e o significado. Discutindo o assunto em outro lugar, mencionei, como uma atividade primaria do inconsciente, o Einfall, isto e, o pressentimento ou o pensamento que “ estala “ na cabeça. O aparecimento de conteúdos espirituais que penetram na consciência com suficiente forca persuasiva para fascina-la e controla-la, representa provavelmente a primeira forma de emergência do espirito no homem. Enquanto numa consciência ampliada e num ego mais forte esse fator emergente e introjetado e concebido como uma manifestação psíquica interna, no começo parece atingir a psique “ de fora “, como uma revelação sagrada e uma mensagem numinosa dos “ poderes “ ou deuses. O ego, ao experimentar esses conteúdos como vindos de fora, mesmo quando os chama de intuitos ou inspirações, recebe o fenômeno espiritual espontâneo com a atitude característica do ego da consciência matriacal. Porque ainda e verdade, como sempre foi, que as revelações do espírito-lua são recebidas mais facilmente quando a noite anima o inconsciente e provoca a introversão do que a luz brilhante do dia.
Erich Neumann (The Fear of the Feminine and Other Essays on Feminine Psychology)
Três coisas estão faltando. A primeira: você sabe por que livros como este são tão importantes? Porque têm qualidade. E o que significa a palavra qualidade? Para mim significa textura. Este livro tem poros. Tem feições. Este livro poderia passar pelo microscópio. Você encontraria vida sob a lâmina, emanando em profusão infinita. Quanto mais poros, quanto mais detalhes de vida fielmente gravados por centímetro quadrado você conseguir captar numa folha de papel, mais “literário” você será. Pelo menos, esta é a minha definição. Detalhes reveladores. Detalhes frescos. Os bons escritores quase sempre tocam a vida. Os medíocres apenas passam rapidamente a mão sobre ela. Os ruins a estupram e a deixam para as moscas. Entende agora por que os livros são odiados e temidos? Eles mostram os poros no rosto da vida. Os que vivem no conforto querem apenas rostos com cara de lua de cera, sem poros nem pelos, inexpressivos. Estamos vivendo num tempo em que as flores tentam viver de flores, e não com a boa chuva e o húmus preto. Mesmo os fogos de artifício, apesar de toda a sua beleza, derivam de produtos químicos da terra. No entanto, de algum modo, achamos que podemos crescer alimentando-nos de flores e fogos de artifício, sem completar o ciclo de volta à realidade. Você conhece a lenda de Hércules e Anteu, o gigantesco lutador cuja força era invencível desde que ele ficasse firmemente plantado na terra? Mas quando Hércules o ergueu no ar, deixando-o sem raízes, ele facilmente pereceu. Se não existe nessa lenda nenhuma lição para nós hoje, nesta cidade, em nosso tempo, então sou um completo demente. Bem, aí temos a primeira coisa de que precisamos. Qualidade, textura da informação. — E a segunda? — Lazer. — Ah, mas já temos muitas horas de folga. — Horas de folga, sim. Mas e tempo para pensar? Quando você não está dirigindo a cento e sessenta por hora, numa velocidade em que não consegue pensar em outra coisa senão no perigo, está praticando algum jogo ou sentado em algum salão onde não pode discutir com o televisor de quatro paredes. Por quê? O televisor é “real”. É imediato, tem dimensão. Diz o que você deve pensar e o bombardeia com isso. Ele tem que ter razão. Ele parece ter muita razão. Ele o leva tão depressa às conclusões que sua cabeça não tem tempo para protestar: “Isso é bobagem!”. — Somente a “família” é “gente”. — Como disse? — Minha mulher diz que os livros não são “reais”. — Graças a Deus que não. Você pode fechá-los e dizer: “Espere um pouco aí”. Você faz com eles o papel de Deus. Mas quem consegue se livrar das garras que se fecham em torno de uma pessoa que joga uma semente num salão de tevê? Ele dá a você a forma que ele quiser! É um ambiente tão real quanto o mundo. Ele se torna a verdade e é a verdade. Os livros podem ser derrotados com a razão. Mas com todo o meu conhecimento e ceticismo, nunca consegui discutir com uma orquestra sinfônica de cem instrumentos, em cores, três dimensões, e ao mesmo tempo estar e participar desses incríveis salões. Como você vê, meu salão não passa de quatro paredes de gesso. E veja. — Faber exibiu dois pequenos tampões de borracha. — Para minhas orelhas, quando ando nos jatos subterrâneos. — O Dentifrício Denham; eles não tecem, nem fiam — disse Montag, os olhos cerrados. — E para onde vamos? Os livros nos ajudariam? — Só se nos fosse dada a terceira coisa necessária. A primeira, como eu disse, é a qualidade da informação. A segunda, o lazer para digeri-la. E a terceira, o direito de realizar ações com base no que aprendemos da interação entre as duas primeiras.
Ray Bradbury (Fahrenheit 451)
O conhecimento bíblico é necessário para que os cristãos compreendam sua identidade em Cristo (i.e., o que significa ser santo) e para que sejam melhores cidadãos do céu aqui na Terra (Ef 2.19; Fp 3.20). p. 152
Kevin J. Vanhoozer (The Pastor as Public Theologian: Reclaiming a Lost Vision)
Partilhar não significa dar algo que valorizamos e não receber nada em troca. Isso é o que acham todas as crianças que se recusam a partilhar. Partilhar meios apropriadamente significa estabelecer um comércio. Uma criança que não partilha, que não negoceia, não pode ter amigos, porque ter amigos é uma forma de comércio.
Jordan B. Peterson (12 Rules for Life: An Antidote to Chaos)
você pensa que seus pais são             à prova de destruição até que um dia descobre que             eles não são. – o que perder a inocência significa de verdade.
Amanda Lovelace (The Princess Saves Herself in This One (Women Are Some Kind of Magic, #1))
Desse modo se compreenderdes que, quando buscamos o prazer tem de existir dor, poderão muito bem viver desse modo, mas com plena consciência do facto. Se, entretanto, desejarem pôr fim ao prazer, o que significa pôr fim à dor, então devem usar de completa atenção para com a estrutura total do prazer. Todavia, não devem repeli-lo, como fazem os monges... que não olham para uma mulher por acharem que é pecado, e assim destroem a vitalidade da própria compreensão. O que importa é perceber todo o significado e sentido do prazer. Desse modo, habilitar-se-ão a descobrir uma alegria infinita no viver. Não se pode pensar na alegria. A alegria há de ser imediata, e se nela pensarmos iremos transforma-la em prazer. Viver no presente significa a percepção imediata da beleza e da enorme alegria que nela se encontra, sem dela procurar extrair prazer.
J. Krishnamurti
No mundo de Leonardo ainda não existe uma separação clara entre «ciência» e «arte». São a mesma coisa. O artista analisa friamente a forma, a perspectiva e o efeito da distância sobre as cores, o que conferirá o impacto às suas imagens. O artista utiliza lentes, aprende a fundir metais e opera as suas equações de forma a determinar como apoiar a cúpula de uma nova igreja. Para Verrocchio e Leonardo, «ciência» significa simplesmente aprendizagem e compreensão; é a preparação prática que permite que edifícios, esculturas e pinturas sejam devidamente produzidos. Esta sede de conhecimento, nomeadamente o seu interesse pelas forças e pela engenharia, por coisas como alavancas, fez com que Leonardo fosse considerado o primeiro «homem do Renascimento». A imagem que se insinua na nossa ideia do próprio Leonardo é a do seu nu de proporções perfeitas que se inscreve no interior de um quadrado e de um círculo, o Homem Vitruviano, o ser humano completo, desenhado por volta de 1487.
Andrew Marr (História do Mundo (Vol. 3))
(...) Ou então, se quiseres aprofundar só um pouco mais, podemos falar sobre a natureza da liberdade propriamente dita. Será que liberdade significa que tens permissão para fazer o que queres? Ou podemos falar de todas as influências limitadoras que se opõem activamente à tua liberdade. Ou da herança genética da tua família, o teu ADN específico, a especificidade do teu metabolismo, as questões quânticas que ocorrem a um nível subatómico e onde eu sou a única observadora omnipresente. Ou da intrusão da doença que inibe a tua alma e te deixa manietado, ou das influências sociais que te rodeiam, ou dos hábitos que criaram ligações sinápticas no teu cérebro. E há também a publicidade, as campanhas de propaganda e os paradigmas. No meio desta confluência de inibidores multifacetados - concluiu, suspirando - o que é, de facto, a liberdade?
William Paul Young
— O conhecimento é o que nos modela, pequenos irmãos — disse ele aos alunos, dessa vez sem um sorriso e com um tom de total seriedade. — É o que nos torna quem somos. O que sabemos afeta o que fazemos e cada decisão que tomamos. Pensem bastante nos próximos dias no que aprenderam aqui. Não somente nos nomes e nas datas: pensem nas razões, pensem no significado. Tudo o que lhes contei é a soma de nossa Ordem, o que ela significa, o que ela faz. O Teste do Conhecimento é o mais difícil que muitos de vocês farão. Nenhum outro teste expõe a alma de um garoto. — Tornou a sorrir, de maneira grave, e então retomou o humor habitual. — E agora, os últimos prêmios para meus pequenos guerreiros. — Pegou um saco grande de doces, passando pela fila e depositando alguns nas palmas viradas para cima. — Aproveitem, rapazinhos. A doçura é uma coisa rara na vida de um irmão. — Virou-se com um suspiro fundo e voltou com seu gingado lento para o depósito, fechando a porta ao passar.
Anthony Ryan
Quando uma pessoa está sozinha, quando uma pessoa vive sozinha e ainda para mais no estrangeiro, repara demasiado no caixote do lixo, porque pode chegar a ser a única coisa com a qual mantém uma relação constante, ou melhor, uma relação de continuidade. Cada saco de plástico preto, novo, brilhante, liso, por estrear, produz o efeito da limpeza absoluta e da infinita possibilidade. Quando o colocamos no caixote, à noite, é já a inauguração ou a promessa do novo dia: tudo pode acontecer. Esse saco, esse caixote, são por vezes as únicas testemunhas do que acontece durante a jornada de um homem sozinho, e é ali que se vão depositando os restos, os rastos desse homem ao longo do dia, a sua metade descartada, o que decidiu não ser nem tomar para si, o negativo do que comeu, do que bebeu, do que fumou, do que utilizou, do que comprou, do que produziu e do que veio até si. No fim do dia, o saco, o caixote, estão cheios e são confusos, mas ele viu-o crescerem, transformarem-se, formarem-se numa amálgama indiscriminada da qual, no entanto, esse homem não apenas conhece a explicação e a ordem, como a própria e indiscriminada amálgama é a ordem e a explicação do homem. O saco e o caixote são a prova de que esse dia existiu e se foi acumulando e foi ligeiramente diferente do dia anterior e do que se lhe seguirá, embora também seja uniforme e o nexo visível entre ambos. É o único registo, a única constância ou prova do transcorrer desse homem, a única obra que esse homem verdadeiramente levou a cabo. São o fio da vida, e também o seu relógio. De cada vez que uma pessoa se aproxima do caixote e atira algo lá para dentro, volta a ver e a ter contacto com as coisas que atirou nas horas prévias, e é isso que lhe dá um sentido de continuidade. (...) Tudo se vai apertando e concentrando, cobrindo e confundindo, convertendo-se assim no traço percetível - material e sólido - do desenho dos dias da vida de um homem. Fechar e dar um nó no saco e deitá-lo fora significa comprimir e encerrar a jornada, que talvez apenas tenha sido pontuada por essas ações, a ação de deitar fora detritos e cascas, a ação de prescindir, a ação de escolher, a ação de discernir o que é inútil. O resultado do discernimento é essa obra que impõe o seu próprio fim: quando o caixote transborda pode dar-se por concluída, e então, mas só então, o seu conteúdo é desperdício.
Javier Marías (All Souls)
Decisão certa? O que é isso? Certo e errado são conceitos sobrevalorizados e que causam ansiedade e tensão desnecessários. Hoje, optas por um caminho. Isso significa que nunca saberás o que resultaria do outro. É impossível saber qual é a melhor decisão a longo prazo. O mais importante é perceberes com que decisão dormirás melhor esta noite...
Cátia Vieira (Lola)
O que os mapas digitais podem proporcionar deve ser exatamente o oposto, menos ficção e maior flexibilidade para tratar os casos concretos em suas especificidades. Um mapa pode apontar exatamente o estado de um ambiente em dado momento, permitindo contextualizar com maior clareza o comportamento dos agentes. O fato do agente poder visualizar informações em um mapa não significa que deseja causar um resultado lesivo porque pode estimar com mais exatidão o risco envolvido em uma ação. Um risco é a medida da possibilidade, não parece censurável a conduta daquele que apenas explora as possibilidades do ambiente, o que indica um estado subjetivo diferente daquele que persegue a produção da lesão.
Adérica Campos (Diálogos sobre Tecnologia e Direito)
Mas quando os cuidadores ignoram as necessidades da criança, ou até suportam mal a sua existência, ela aprende a antecipar a rejeição e a frieza. Faz o que pode para bloquear a hostilidade ou a negligência da mãe, como se isso não tivesse importância, mas o seu corpo permanecerá, provavelmente, num estado de alerta, preparado para suster alguns golpes, privações ou abandono. A dissociação significa saber e não saber ao mesmo tempo.
Bessel van der Kolk (The Body Keeps the Score: Brain, Mind, and Body in the Healing of Trauma)
Civilização não significa mais acumulação de capital em si; na verdade, significa o que a acumulação de capital permite humanos atingirem, o florescimento e a liberdade para buscar maiores sentidos na vida quando suas necessidades básicas estão asseguradas e os perigos mais imediatos estão sob controle. Existem
Saifedean Ammous (O Padrão Bitcoin (Edição Brasileira): A Alternativa Descentralizada ao Banco Central (Portuguese Edition))
Uma das leis fundamentais da economia é a lei da diminuição da utilidade marginal, o que significa que adquirir mais de qualquer bem reduz a utilidade marginal de cada unidade extra deste bem. Dinheiro, que não é guardado por si só, mas para ser trocado por outros bens, terá sua utilidade marginal diminuída num ritmo menor que qualquer outro bem, porque ele sempre pode ser trocado por outro bem.
Saifedean Ammous (O Padrão Bitcoin (Edição Brasileira): A Alternativa Descentralizada ao Banco Central (Portuguese Edition))
Toca procesar que quizás has dejado atrás los años de una despreocupación más fácil, y tus compromisos, que un día abrazaste con pasión, ahora se tiñen también de rutina, y en ocasiones de una cierta melancolía pensando en todo lo que has dejado atrás. Toca hacer balances de éxitos y fracasos, y quizás pesan más las lagunas que las ganancias; quizás los logros profesionales no son los que esperabas, y te ves ya a mitad de la carrera de fondo que es la vida, en una posición algo peor de la que un día imaginaste; tal vez los hijos han dejado atrás la edad en que era más fácil manejarlos, y su rebeldía o displicencia de ahora te muerde más de lo que quieres reconocer, porque en el fondo late la terrible duda de si ellos te quieren como tú a ellos. Quizás el amor está más asentado en un punto de monotonía y costumbre, y en ocasiones, añorando otras épocas de mayor emoción o despreocupación, te preguntas qué has hecho mal, sin darte cuenta de que esto de ahora también es amor, solo que de otra manera. Entonces te preguntas si ha merecido la pena. Entonces tienes que reconocer que algunos de tus sueños se han quedado en eso, en deseos que no han llegado a materializarse, por falta de oportunidad, de coraje o de acierto. Esto no quiere decir que no estés contento. Tampoco significa que hayas fracasado o que quisieras renunciar a la vida que llevas. No es una traición a tu pareja, a tus hijos o a tu vocación. Es solo que descubrir el paso del tiempo en la vida es un acontecimiento solitario, que nadie puede hacer por ti. Y el día que llega te descoloca. Es ese día en que reconoces que te has hecho mayor. ¡Qué descubrimiento tan contundente! Y tan relativo, pues para otros sigues siendo un chaval. La perspectiva del tiempo es
José María Rodríguez Olaizola (Bailar con la soledad)
Não importa o que eu faça e quanto ainda fique por fazer, eu sou bom o bastante. Significa deitar todas as noites pensando: Sim, sou imperfeito e vulnerável, às vezes fico com medo, mas isso não muda o fato de que sou corajoso e digno de amor e de aceitação. Os dois primeiros livros são como um “chamado
Brené Brown (A coragem de ser imperfeito / Mais forte do que nunca / Eu achava que isso só acontecia comigo)
Una de las tareas más importantes en sanar la manera de pensar dañada que resulta del abuso sexual es identificar las mentiras y reemplazarlas con la verdad. En capítulos anteriores identificamos algunas de las mentiras: «No tengo valor alguno», «Soy responsable», «Lo merezco». Hay muchísimas más. Algunos de ustedes creen que el amor y la intimidad siempre van a terminar en abuso, así que no permiten que nadie se les acerque nunca. «Yo he construido una pared que ni siquiera Dios puede penetrar». Algunos creen que enfrentar la verdad en cuanto a su vida los heriría y destrozaría antes que hacerlos libres. «No puedo mirar; el dolor sería demasiado grande». Algunos creen que el amor solo es posible cuando hacen todas las cosas bien. «Nunca me han amado por ser quien soy, solo por lo que hago. He aprendido a desempeñarme para que me amen». Otros creen la mentira de que si las personas supieran quiénes son en realidad, se alejarían disgustadas. «Yo trabajaba con desesperación para ganarme la admiración y el respeto de todos los que conocía. Creía que sería capaz de controlar mis relaciones y evitar que conocieran mi verdadera personalidad». La cosa más triste de todo esto es que termina viviendo la vida basada en mentiras. Se necesita mucha energía a fin de mantener la mentira de que en realidad no ocurrió el abuso, o que no fue una cosa del otro mundo. Esa energía jamás se libera para usarse en otras cosas. La mentira de que usted es basura o bien significa que vive de una forma que cumple eso o que trabaja en exceso para aparentar lo contrario de manera que nadie se dé cuenta. La mentira de que debe hacer algo para que le amen significa que jamás puede dejar de hacerlo. Y así sigue. Es una prisión triste y terrible. A usted no lo crearon para que viva así.
Diane Langberg (En el umbral de la esperanza: Una puerta abierta hacia la sanidad de los sobrevivientes de abusos sexuales (Spanish Edition))
o Brasil possui a última cadeia completa do ocidente, o que significa dizer que somos o único país ocidental que tem a capacidade de realizar, dentro de seu próprio território nacional, todas as etapas da cadeia produtiva necessárias para a confecção dos itens de moda, desde a extração da matéria prima, a produção, a venda, o consumo e o descarte.
JUSTA MODA (DIREITO DA MODA: Introdução ao Direito da Moda (Portuguese Edition))
El rol primero de una mujer es ser esposa, madre y ama de casa. El papel primero del hombre es ser guía, protector y proveedor. Esto no significa que la mujer no pueda tener un trabajo o que el hombre no deba cocinar o cambiar un pañal.
Henry Makow (Estafa Cruel - Feminismo y el Nuevo Orden Mundial (Spanish Edition))
O livro faz-nos sentir. Depois tens de descobrir os sentimentos por ti. Tens de refletir. Discutir. Reler. E se o fizeres como deve ser, tens uma catarse. Que deve fazer-te sentir melhor. É uma depuração da alma! Uma purificação. É o que o termo catarse significa em grego.
Matthew Quick in As Coisas Mais Delicadas
Todos tenemos una persona que lo significa todo para nosotros o que fue el primero que nos influyó, nos formó o nos dirigió. Nadie logra el éxito solo. Nadie.
Gary Keller (Lo único: La sencilla y sorprendente verdad que hay detrás del éxito (Spanish Edition))
Eu não sou um capitalista, Eu não sou comunista, Eu não sou socialista, Eu não sou um tradicionalista. Uma espécie infantil e clinicamente sectária como a sua não consegue entender o que eu sou. Isso significa que não sou da mesma espécie que você? Claro que sou, mas de uma dimensão diferente, de uma dimensão diferente no tempo, de uma dimensão diferente na mente, onde o intelecto é apenas uma ferramenta, não uma tortura - onde a fé é apenas uma escolha, não uma obrigação - onde o dinheiro é apenas um meio, não um patrão - onde a unidade é fundamental, não a ficção.
Abhijit Naskar (Monge Cientista (Portuguese Edition))
Como feminista, naturalmente quero perceber com clareza o modo como a defesa de certos privilégios penetra insidiosamente os mais diversos discursos, inclusive o literário. Quero distinguir os valores masculinos hegemônicos daqueles universais, se é que estes existem. No entanto, como mulher formada por essa cultura, preciso admitir que sou parte dela, que não há modo objetivo de isolar minha consciência feminina de todo o resto. Em outras palavras, não só ler literatura escrita por homens mas também ler como um homem — já que tantos livros foram escritos para eles — são experiências constitutivas do modo como entendo a mim mesma e o mundo. Para uma mulher, crescer em uma cultura predominantemente masculina significa ocupar um lugar esquisito, em que é preciso se tensionar entre sujeito e objeto. As narrativas a que somos expostas frequentemente nos esticam (ou nos dilaceram) entre duas práticas e atitudes: entre, de um lado, o gesto de calçar os sapatos de personagens e autores homens, vivendo — como leitoras, ouvintes e espectadoras — suas aventuras e desventuras, e, de outro, o movimento de nos colocarmos no nosso devido lugar, à parte desse mundo mágico ou, no caso heterossexual, na posição secundária de objetos de desejo dos sujeitos. A diferença entre querer ser e querer ter é só aparentemente simples. Eu me lembro bem do dia em que percebi o que há no meio do caminho. Tinha uns dezessete anos e estava no corredor da Faculdade de Direito, conversando com alguns dos rapazes da turma. Um deles fez, então, alguma piada grosseira e logo me pediu desculpas por falar aquilo na frente de uma garota. Outro colega, porém, disse para ele relaxar: “A Ligia é como a gente, não tem problema”. Eu queria, sim, ser como a gente — poder fazer e ouvir piadas grosseiras etc. —, mas também queria, e muito, ser como as garotas diante de quem não se fazem piadas grosseiras. Eram elas, afinal, que eles queriam beijar. No meu caso — uma menina nerd que gostava de submergir nos livros e no cinema, e que ouvia muito Bob Dylan e Chico Buarque —, romances, poemas, filmes e canções contribuíram bastante para eu viver esse lugar esquisito, de querer ser tanto o aventureiro que atravessa 2 mil quilômetros escondido em vagões de trem quanto a mulher fatal que faz com que ele finalmente se descuide e acabe morto. Queria ser o herói que tinha um cavalo que falava inglês e também a noiva do caubói. Ainda quero.
Ligia Gonçalves Diniz (O homem não existe: Masculinidade, desejo e ficção)
A mulher clitoridiana torna-se a figura da consciência feminina: “para desfrutar plenamente do orgasmo clitoridiano, a mulher deve encontrar uma autonomia psíquica”. A reivindicação da diferença sexual significa menos o confinamento em um esquema binário que a desconstrução do conceito de igualdade. As feministas radicais não procuram ser tratadas como iguais aos homens, mas ser consideradas – e antes de tudo se considerar – elas mesmas como o que são “autenticamente”, diferentes. Reconhecer-se como clitoridiana era na época um verdadeiro coming out. Com a “mulher clitoridiana”, a diferença saía do armário. Para Lonzi, a crítica da construção heteronormativa da sexualidade feminina (ainda não é do ponto de vista temático uma questão de teoria do gênero) também supõe evidentemente uma rejeição da psicanálise freudiana e de sua equação entre clitóris e imaturidade, que transformam as mulheres em “aspirantes vaginais”. A recusa da psicanálise freudiana é semelhante à rejeição da dialética hegeliana. O feminismo, para as mulheres, toma o lugar da psicanálise para os homens. Na psicanálise, o homem encontra as razões que o tornam inatacável […]. No feminismo, a mulher encontra a consciência feminina coletiva que elabora os temas de sua liberação. A categoria de repressão na psicanálise equivale à do senhor-escravo no marxismo [e no hegelianismo]: ambos visam a uma utopia patriarcal que vê a mulher como o último ser humano reprimido e subjugado para sustentar o esforço grandioso do mundo masculino que rompe as correntes da repressão e da escravidão. Questão fundamental da autoconsciência feminista, o clitóris marca doravante a distância irredutível entre submissão e responsabilidade. Mas como evitar, entre mulheres, a reconstituição da potência fálica? A redução da distância? Em seu diário, Lonzi evoca dolorosamente as dificuldades que encontra com Ester, sua companheira, que se sente dominada por ela. Com Ester, só posso me calar. Ela está furiosa consigo mesma e não suporta isso. Agora, ousa dizer o que nunca havia dito, o que era impensável: que, em nossa relação, eu sou o homem e ela é a mulher. É assim que a dicotomia vaginal versus clitoridiana retorna, e nem o feminismo poderá pôr um fim nisso.
Catherine Malabou (Il piacere rimosso. Clitoride e pensiero)
Isso significa encontrar o propósito da sua vida. Encontrar o que você é apaixonado. E depois focando nisso.
Susan Anderson (O Sentido Da Vida: Como Encontrar O Propósito Da Sua Vida Para Que Você Possa Viver Com Significado Realizando Os Seus Sonhos Ainda Hoje (Portuguese Edition))
Um metafísico é alguém que, quando você lhe diz que dois vezes dois são quatro, ele quer saber o que você entende por vezes, o que significa dois, e o que quer dizer são e por que isto dá quatro. Por fazerem tais perguntas, os metafísicos desfrutam um luxo oriental nas universidades e são respeitados como homens educados e inteligentes.
H.L. Mencken
A idéia do eterno retorno é uma idéia misteriosa, e uma idéia com a qual Nietzsche muitas vezes deixou perplexos outros filósofos: pensar que tudo se repete da mesma forma como um dia o experimentamos, e que a própria repetição repete-se ad infinitum! O que significa esse mito louco? De um ponto de vista negativo, o mito do eterno retorno afirma que uma vida que desaparece de uma vez por todas, que não retorna, é feito uma sombra – sem peso, morta de antemão; quer tenha sido horrível, linda ou sublime, seu horror, sublimidade ou beleza não significam coisa alguma. Uma tal vida não merece atenção maior do que uma guerra entre dois reinos africanos no século XIV, uma guerra que nada alterou nos destinos do mundo, ainda que centenas de milhares de negros tenham perecido em excruciante tormento. Algo se alterará nessa guerra entre dois reinos africanos do século XIV, se ela porventura repetir-se sempre, retornando eternamente? Sim: ela se tornará uma massa sólida, constantemente protuberante, irreparável em sua inanidade. Se a Revolução Francesa se repetisse eternamente, os historiadores franceses sentiriam menos orgulho de Robespierre. Como, porém, lidam com algo que jamais se repetirá, os anos sangrentos da Revolução transformaram-se em meras palavras, teorias e discussões; tornaram-se mais leves que plumas, incapazes de assustar quem quer que seja. Há uma diferença infinita entre um Robespierre que ocorre uma única vez na história e outro que retorna eternamente, decepando cabeças francesas. Concordemos, pois, em que a idéia do eterno retorno implica uma perspectiva a partir da qual as coisas mostram-se diferentemente de como as conhecemos: mostram-se privadas da circunstância atenuante de sua natureza transitória. Essa circunstância atenuante impede-nos de chegar a um veredicto. Afinal, como condenar algo que é efêmero, transitório? No ocaso da dissolução, tudo é iluminado pela aura da nostalgia, até mesmo a guilhotina. Não faz muito tempo, flagrei-me experimentando uma sensação absolutamente inacreditável. Folheando um livro sobre Hitler, comovi-me com alguns de seus retratos: lembravam minha infância. Eu cresci durante a guerra; vários membros de minha família pereceram nos campos de concentração de Hitler; mas o que foram suas mortes comparadas às memórias de um período já perdido de minha vida, um período que jamais retornaria? Essa reconciliação com Hitler revela a profunda perversidade moral de um mundo que repousa essencialmente na inexistência do retorno, pois, num tal mundo, tudo é perdoado de antemão e, portanto, cinicamente permitido. Se cada segundo de nossas vidas repete-se infinitas vezes, somos pregados à eternidade feito Jesus Cristo na cruz. É uma perspectiva aterrorizante. No mundo do eterno retorno, o peso da responsabilidade insuportável recai sobre cada movimento que fazemos. É por isso que Nietzsche chamou a idéia do eterno retorno o mais pesado dos fardos (das schwerste Gewicht). Se o eterno retorno é o mais pesado dos fardos, então nossas vidas contrapõem-se a ele em toda a sua esplêndida leveza. Mas será o peso de fato deplorável, e esplêndida a leveza? O mais pesado dos fardos nos esmaga; sob seu peso, afundamos, somos pregados ao chão. E, no entanto, na poesia amorosa de todas as épocas, a mulher anseia por sucumbir ao peso do corpo do homem. O mais pesado dos fardos é, pois, simultaneamente, uma imagem da mais intensa plenitude da vida. Quanto mais pesado o fardo, mais nossas vidas se aproximam da terra, fazendo-se tanto mais reais e verdadeiras. Inversamente, a ausência absoluta de um fardo faz com que o homem se torne mais leve do que o ar, fá-lo alçar-se às alturas, abandonar a terra e sua existência terrena, tornando-o apenas parcialmente real, seus movimentos tão livres quanto insignificantes. O que escolheremos então? O peso ou a leveza? (...) Parmênides respondeu: a leveza é positiva; o peso, negativo. Tinha ou não razão?
Milan Kundera
o progresso significa sermos impelidos para a frente – mas pela polícia.
G.K. Chesterton (O que há de errado com o mundo)
Aceitei-me. Estou, porém, convencido que não estás em posição de compreender o significado pleno e total desta afirmação. Embora fazendo apelo a toda a simpatia, e mesmo à compaixão, que possas sentir por mim, apelando mesmo para a piedade em sentido humano e em sentido religioso, tu não poderás entender o que significa, para um homem como eu, aceitar-se. Terei de fazer, portanto, uma longa digressão: falar-te de mim em relação à solidão. Responde-me: ser-te-á alguma vez possível conceber que, até ao meu encontro com Roberto, eu nunca, absolutamente nunca, tivesse dito uma palavra de mim, sobre mim, a ninguém deste mundo? Responde-me: serás deveras capaz de avaliar a violência a que um ser humano, em boa saúde física e com um temperamento exuberante, tem de submeter-se para calar, para calar toda a sua vida? (...) A minha mãe (...) observava-me com um olhar que... sim, sentia naquele seu olhar uma interrogação, que aumentava até ao delírio a minha vontade de abrir a boca, de falar, de contar... mas calava-me! Houve um período em que me perguntava sem rodeios: qual seria para ti o supremo bem na vida? E, também sem rodeios, respondia: conseguir dizer a alguém aquilo que sou!
Carlo Coccioli
Admiramo-nos de ver ladrões jactando-se da sua habilidade, prostitutas da sua corrupção e assassinos da sua insensibilidade. Se, porém, nos admiramos, é porque estas espécies de indivíduos são restritas, e porque se movem em círculos e em atmosferas que não têm contacto com os nossos. Já não nos surpreende, por exemplo, ver homens ricos orgulharem-se da sua riqueza; — isto é, de roubo ou de usurpação — ou ainda ver os poderosos orgulharem-se do seu poder, o que significa violência e crueldade. Não notamos a maneira como a concepção natural da vida é desvirtuada por esta gente, assim como o é a primitiva significação de bem e de mal, e não só o não notamos, como não nos admiramos. E isto unicamente porque o número daqueles que partilham essa perversa concepção é grande, e porque nos achamos compreendidos nesse número.
Leo Tolstoy (Resurrection)
Meus olhos se enchem de lágrimas quando olho para uma bela pintura, mas não quando olho para os meus filhos. Isso não significa que não os ame, pois os amo do fundo do coração, significa apenas que o que eles me trazem não é suficiente para dar sentido à vida. Ao menos não à minha.
Karl Ove Knausgård
Se Deus não pode enganar ou mentir, segue-se que o [sacramento] realiza tudo o que significa (...) Se ele nos desse apenas pão e vinho, deixando a realidade espiritual para trás, não teria sido sob falsas cores que essa ordenança foi instituída?
João Calvino
se puede aceptar con sencillez que todos somos una compleja combinación de luces y de sombras. El otro no es sólo eso que a mí me molesta. Es mucho más que eso. Por la misma razón, no le exijo que su amor sea perfecto para valorarlo. Me ama como es y como puede, con sus límites, pero que su amor sea imperfecto no significa que sea falso o que no sea real. Es real, pero limitado y terreno.
Pope Francis (Amoris laetitia: exhortación apostólica postsinodal sobre el amor en la familia)
O que significa exatamente inverter a narrativa causal de Freud e pensar as disposições primárias como efeitos da lei? No primeiro volume de A História da Sexualidade, Foucault critica a hipótese repressiva por ela pressupor um desejo original (não "desejo" nos termos de Lacan, mas gozo) que conserva integridade ontológica e prioridade temporal em relação à lei repressiva. Essa lei, segundo Foucault, silencia ou transmuda subsequentemente esse desejo em uma forma ou expressão secundária e inevitavelmente insatisfatória (deslocamento). Foucault argumenta que o desejo, que tanto é concebido como original quanto como recalcado, é efeito da própria lei coercitiva. Consequentemente, a lei produz a suposição do desejo recalcado para racionalizar suas próprias estratégias auto-ampliadoras; e ao invés de exercer uma função repressiva, a lei jurídica deve ser reconcebida, aqui como em toda parte, como uma prática discursiva produtora ou regenerativa- discursiva porque produz a ficção linguistica do desejo recalcado para manter a sua própria posição como instrumento teleológico. O desejo em questão assume o significado de recalcado na medida em que a lei constitui sua estrutura de contextualização: na verdade, a lei identifica e faz vigorar o desejo recalcado como tal, dissemina o termo e, com efeito, cava o espaço discursivo para a experiência constrangida e linguisticamente elaborada chamada "desejo recalcado".
Judith Butler
Nosso povo adquiriu o direito ao voto sem saber exatamente o que isto significa, e manipulado por esta classe dirigente corrupta, se encontra refém da sua própria ignorância.
Luís Alexandre Ribeiro Branco (O Pessimismo Nacional "à la mode brésilianne")
Compreende, será que o meu prezadissimo senhor compreende o que significa não ver mais nenhuma porta onde bater? Porque é necessário ter uma porta onde bater
Fyodor Dostoevsky (Crime and Punishment)
Nas pernas escuras da moça havia muitas cicatrizes brancas pequeninas. E pensei: Será que essas cicatrizes estão no seu corpo inteiro, como as luas e estrelas no seu vestido? Achei que isso também seria bonito, e peço-lhe neste instante que faça o favor de concordar comigo que uma cicatriz nunca é feia. Isto é o que aqueles que produzem as cicatrizes querem que pensemos. Mas você e eu temos de fazer um acordo e desafiá-los. Temos de ver todas as cicatrizes como algo belo. Combinado? Este vai ser nosso segredo. Porque, acredite em mim, uma cicatriz não se forma num morto. Uma cicatriz significa: “Eu sobrevivi.
Anonymous
Nem é preciso dizer que os praticantes mais sutis do duplipensamento são aqueles que inventaram o duplipensamento e sabem que ele é um vasto sistema de logro mental. Em nossa sociedade, aqueles que estão mais informados sobre o que ocorre são também os que estão mais longe de ver o mundo como ele é. Em geral, quanto maior a compreensão, maior o engodo; quanto maior a inteligência, maior a sanidade mental. Uma ilustração clara disso é o fato de que a histeria de guerra ganha intensidade a medida que o cidadão sobe na escala social. Aqueles cuja atitude em relação à guerra é preponderantemente racional são os povos dominados dos territórios em disputa. Para essas pessoas, a guerra nada mais é que uma calamidade contínua que passa e volta sobre seus corpos como a água das marés. Para eles, não tem a menor importância saber qual dos lados está ganhando. Sabem que uma alteração da supremacia significa apenas que continuarão desempenhanndo as mesmas tarefas de antes para novos senhores, que hão de tratá-los exatamente como eram tratados.
George Orwell (1984)
Esses lugares de parada, onde a alma estaciona temporariamente para absorver determinados aprendizados e se libertar da cadeia de reações geradas pelas ações equivocadas do passado, são o que chamamos de karma. Essa palavra sânscrita significa literalmente “ação”, mas se refere a uma lei cósmica – a lei de causa e efeito (ação e reação), que determina que todo efeito tem uma causa: tudo que se manifesta agora em nossas vidas é um produto das nossas ações do passado.
Sri Prem Baba (Propósito - A Coragem de Ser Quem Somos)
Pecar, portanto, é "tomar de Deus o que é dele", o que significa roubar dele e, assim, desonrá-lo.
John R.W. Stott (The Cross of Christ)
Como você prova para uma criança que o homem-aranha é ficção? Uma forma é mostrar para ele que existe uma pessoa por trás das estórias, imaginação humana. Mesmo se aplica à bíblia, foram pessoas que escreveram, não foi Deus. Poderia apontar a impossibilidade, uma vez que misturar a genética humana e das aranhas é impossível. Vamos lembrar que a toda a população da terra veio de duas pessoas, somente: Adão e Eva, que depois tiveram filhos. Geneticamente, pessoas próximas quando têm filhos, existem inúmeras complicações genéticas, devido ao alto grau de parentesco, da proximidade genética. Homem-aranha faz mais sentido do que Adão e Eva: o nosso código genético é o mesmo das aranhas, o que muda são os genes expressados. Isso significa que em teoria podemos sim nos transformamos em aranhas. Estudos prometem explorar a capacidade das salamandras de regenerar membros.
Jorge Guerra Pires (Ciência para não cientistas: como ser mais racional em um mundo cada vez mais irracional (Vol. II: Religião) (Inteligência Artificial, Democracia, e Pensamento Crítico) (Portuguese Edition))
Eis o que eu penso. A morte jamais deveria causar infelicidade. O destino de todos nós é morrer um dia. A razão deste meu pensamento é simples: se a morte de uma pessoa for motivo de infelicidade, isso significa que nós, seres humanos, nascemos para ser infelizes. Muito pelo contrário, isso está longe de ser verdade. As pessoas sempre nascem para ser felizes. Sempre.
Toshikazu Kawaguchi (Antes que o Café Esfrie 3: A morte não precisa ser o fim da vida (Portuguese Edition))
(…) Contemplando o rio, Iñe-e e o menino sentiram, cada um ao seu modo, um sentimento assombroso de não estarem no lugar certo e ficaram ambos tão agitados que o passeio fora encurtado. Mas por maravilhoso que fosse, o rio de algum modo soube compreender Iñe-e, porque todos os rios sabem todas as línguas do mundo, e desde aquele dia sua voz inaudível à maioria chegava, não obstante, aonde quer que ela estivesse. A menina, entretida no silêncio que era seu, começou a perceber a voz densa do rio, apurando aos ouvidos, colocando-os entre as conchas das mãos, para escutá-lo melhor, tentando entender o que dizia. A voz atravessava distâncias, grossas paredes, massas de ar gelado. No começo, não havia nenhum som que pudesse distinguir como palavra, fluss-fluss-fluss, era o que ouvia, som comum de correnteza. Mas não demorou para eu as águas se fizessem minimamente inteligíveis. Pode me chamar de rio, odo, Fluss, river, rivière, flumine, fluxo de água rasgando a terra com a trajetória de sangue em um corpo animal. Pode me chamar de água. E água é tudo e está em tudo que compõe este mundo. Aqui, neste lugar, me chamam Isar, Isar Fluss. Esse nome significa torrente, e por ser torrente um nome de mulher eu sou Isar, rio-fêmea. E, embora os homens pouco atentem a isso quando nos nomeiam, há outros rios fêmea como eu, como o seu Paranáhuazú. Fossem as mulheres a dar nomes às coisas, cidades, rios, passagens, montanhas, talvez percebessem melhor que nem tudo no mundo é definido como macho.
Micheliny Verunschk (O Som do Rugido da Onça)
olhos de Sofia estavam rasos de lágrimas. Ela não desejava nada daquilo, seu impulso era procurar atender a suas vontades, seus desejos, como reencontrar Acabe, e descansar, se refazer bem devagar. Mas Emílio conhecia bem os impulsos negativos dela, e ponderou: ​– Você vai aprender a controlar seus impulsos negativos, renovar seus valores, reconstruir suas crenças em bases verdadeiras. Vai descobrir como as leis divinas regem o universo em imenso amor e passará a amá-las, confiar e se submeter a elas, para que seja realmente feliz. Você é forte, tem muita intensidade em tudo o que faz e a que se dedica. É inteligente, já desenvolveu muito seu intelecto, mas precisa aprender a amar e a ser humilde. – Ele abriu um sorriso iluminado e finalizou: – Você vai aprender a ser feliz de verdade, Sofia. Prometo. ​Ao toque da energia serena e amorosa de Emílio, ela sorriu e concordou. ​– Está certo. O que devo fazer? ​– Entregue-se. ​– O que isso significa? ​– Desista de tentar controlar a tudo e a todos. Aprenda a confiar em
Sandra Carneiro (Todas as flores que eu ganhei (Portuguese Edition))