Ilha Quotes

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A loucura, objeto dos meus estudos, era até agora uma ilha perdida no oceano da razão; começo a suspeitar que é um continente.
Machado de Assis (O Alienista)
quero encontrar a ilha desconhecida, quero saber quem sou quando nela estiver, Não o sabes, Se não sais de ti, não chegas a saber quem és.
José Saramago (The Tale of the Unknown Island)
É necessário sair da ilha para ver a ilha, que não nos vemos se não nos saímos de nós.
José Saramago
Nenhum homem, afirmou Donne, é uma ilha, mas estava errado. Se não fôssemos ilhas, perder-nos-íamos, afogados nas tragédias uns dos outros.
Neil Gaiman (American Gods (American Gods, #1))
Ele parece alguma coisa jogada de um helicóptero: sabe como é, o cara perfeito para uma garota necessitada em uma ilha deserta. A garota sendo eu, e a ilha deserta, a minha vida.
Meg Cabot (Queen of Babble (Queen of Babble, #1))
As ilhas são lugares de solidão e nunca isso é tão nítido como quando partem os que apenas vieram de passagem e ficam no cais, a despedir-se, os que vão permanecer. Na hora da despedida, é quase sempre mais triste ficar do que partir e, numa ilha, isso marca uma diferença fundamental, como se houvesse duas espécies de seres humanos: os que vivem na ilha e os que chegam e partem.
Miguel Sousa Tavares (Equador)
Na minha opinião toda a gente tem direito a um milagre. Provavelmente nunca serei atingido por um relâmpago, nem ganharei um Prémio Nobel, nem me tornarei ditador de uma pequena nação nas ilhas do Pacífico... Mas se juntarmos todas as coisas improváveis, é provável que pelo menos uma delas aconteça a cada um de nós.
John Green (Paper Towns)
E enquanto houver um reino nesta ilha varrida pelo vento, haverá guerra. Portanto não podemos nos encolher para longe da guerra. Não podemos nos esconder de sua crueldade, de seu sangue, do fedor, da malignidade ou do júbilo, porque a guerra virá para nós, desejemos ou não. Guerra é destino, e o destino é inexorável.
Bernard Cornwell (Sword Song (The Saxon Stories, #4))
As lágrimas começaram a correr-lhe pelas faces e soluços sacudiram-no. Pela primeira vez, desde que chegara à ilha, entregou-se ao choro; grandes e convulsivos espasmos de tristeza pareciam torcer todo o seu corpo. Sua voz elevou-se sob a fumaça negra diante dos restos incendiados da ilha; contagiados por aquela emoção, os outros meninos começaram a tremer e a soluçar. No meio deles, com o corpo sujo, cabelo emaranhado e nariz escorrendo, Ralph chorou pelo fim da inocência, pela escuridão do coração humano e pela queda no ar do verdadeiro e sábio amigo chamado Porquinho. O oficial, cercado por todo esse ruído, ficou emocionado e um pouco embaraçado. Virou-se para dar tempo a que se recuperassem. Esperou, deixando os olhos fixos no garboso cruzador a distância.
William Golding (Lord of the Flies)
Ava, se você for ouvir tudo que as pessoas esperam de você, vai viver a vida que elas querem. Várias pessoas vão achar que você é só músculo e nenhum cérebro, mas você tem de se perguntar se isso é real. A impressão que elas têm de você não é a verdade. Não é o respeito delas que vai fazer você melhor ou pior! O que os outros acham de você não a define, e sim como você se vê, a forma como pensa de si mesma.
Bárbara Morais (A Ilha dos Dissidentes (Anômalos, #1))
As dunas separavam a casa da aventura. Esculpidas pelo vento, pareciam reinventar-se todos os dias. Com o tempo, muito tempo, milhares de anos, podem solidificar. Pedras arenosas. Connosco o processo é inverso, cristalizamos antes de arejarmos o suficiente.
Pedro Rui Sousa (Sem Água Não Existem Ilhas)
Deitãose fóra das ilhas de Angitur, seguem por mar que até então Portuguezes nunca tinhão visto nem navegado.
Fernão Mendes Pinto (Peregrinação)
O império de Blefuscu é uma ilha situada ao nordeste de Lilipute, e está dele separada apenas por um canal, que tem quatrocentas toesas.
Jonathan Swift (Viagens de Gulliver)
era de tarde ainda e um cabrito declamava o seu mé poético. talvez em seu voo sonoro ele cantasse a ilha, talvez buscasse pontes para o outro lado de todas as águas. dentro do cabrito uma rã despertou, e ele - lento, moroso, adormecido - esvaiu-se nos caminhos do vento, com estórias de desafio à racionalidade, vendendo destinos a quem soubesse escutá-lo. sinto-o ir, mas ao vento não.
Ondjaki (Sonhos Azuis pelas Esquinas)
Luís Bernardo deixou-se ficar até ao fim, sozinho, mais sozinho do que nunca, como se toda a ilha se tivesse despovoado de repente e, por entre os sinais de abandono e de solidão, ele buscasse os sinais da passagem de Ann para não morrer de loucura.
Miguel Sousa Tavares (Equador)
A moral é de modo geral uma expressão da história e da geografia. Qualquer coisa vale, mas não em toda parte. Os hindus não podem beber, mas têm várias mulheres, os cristãos podem se embriagar quantas vezes quiserem, mas estão presos, como disse Saki, "ao costume ocidental de uma mulher e quase nenhuma amante". Nos EUA, em 1933 era errado brindar o aniversário de Washington, mas em 1934 era um gesto patriótico. Nas ilhas Fiji, na década de 1830, até o canibalismo era socialmente aceitável, separando-se o cérebro, como um petisco, para as mulheres.
Richard Gordon (The Alarming History of Medicine: Amusing Anecdotes from Hippocrates to Heart Transplants)
Foram então procurar a KiBebucha, na casa dela da Ilha, onde ela gostava de não ficar dentro de casa, mas lá no quintal-rua, início do passeio da casa dela, onde espreitava o mar – vício dos olhos dela desde pequena. Num te falei?, isto é só grandes coisas, efeitos da natureza nas pessoas mesmo: céu, mar, lua, sol, coisas assim enormes não escapam nas vias do coração, meu. Qual é a tua inclinação? Nada, nada mesmo? Pra ti pôr do sol e pôr de merda nenhuma é a mesma coisa? E a lua de noite? Nada mesmo? Porra, meu, dás pena, quer dizer, estás neste mundo só pra o que der e vier, não queres meter o corpo e o coração nele?
Ondjaki (Quantas Madrugadas Tem a Noite)
Em dia de S. Miguel passou acaso voando por cima de nós um milhano, quo vinha de trás de um cabeço que a ilha fazia contra a parte do sul, e peneirando no ar com azas estendidas, lhe cahio das unhas um mugem fresco, de quasi um palmo do comprido, e dando junto d'onde estava Antonio de Faria, o fez ficar um pouco confuso e indeterminado,
Fernão Mendes Pinto (Peregrinação)
Se o senhor algum dia vir um campo de extermínio, doutor, procure-me novamente para falar de sentimentos em relação a Deus.
Dennis Lehane (Ilha do medo (Portuguese Edition))
Trabalhas sem alegria para um mundo caduco, onde as formas e as ações no encerram nenhum exemplo. Praticas laboriosamente os gestos universais, sentes calor e frio, falta de dinheiro, fome e desejo sexual. Heróis enchem os parques da cidade em que te arrastas, e preconizam a virtude, a renúncia, o sangue-frio, a concepção. À noite, se neblina, abrem guarda-chuvas de bronze ou se recolhem aos volumes de sinistras bibliotecas. Amas a noite pelo poder de aniquilamento que encerra e sabes que, dormindo, os problemas de dispensam de morrer. Mas o terrível despertar prova a existência da Grande Máquina e te repõe, pequenino, em face de indecifráveis palmeiras. Caminhas entre mortos e com eles conversas sobre coisas do tempo futuro e negócios do espírito. A literatura estragou tuas melhores horas de amor. Ao telefone perdeste muito, muitíssimo tempo de semear. Coração orgulhoso, tens pressa de confessar tua derrota e adiar para outro século a felicidade coletiva. Aceitas a chuva, a guerra, o desemprego e a injusta distribuição porque não podes, sozinho, dinamitar a ilha de Manhattan.
Carlos Drummond de Andrade (Sentimento do Mundo)
O tédio é um câncer, uma poeira pela qual passamos sem ver, mas que respiramos, comemos e bebemos, e que termina por cobrir-nos o rosto e as mãos. É preciso sacudir essa chuva de cinza.
Paulo Mendes Campos (O homem que odiava ilhas: Crônicas de Paulo Mendes Campos)
Nenhum homem é uma ilha isolada; cada homem é uma partícula do continente, uma parte da terra; se um torrão é arrastado para o mar, a Europa fica diminuída, como se fosse um promontório, como se fosse a casa dos teus amigos ou a tua própria; a morte de qualquer homem diminui-me, porque sou parte do género humano. E por isso não perguntes por quem os sinos dobram; eles dobram por ti.
John Donne
Quanto a Horácio Capitão, o Eu-Não-Vos-Disse, passa as tardes num bar decrépito, na Ilha, bebendo cerveja, e discutindo política, na companhia do poeta Vitorino Gavião, de Artur Quevedo e de mais duas ou três velhas carcaças dos tempos do caprandanda. Ainda hoje não reconhece a Independência de Angola. Acha que assim como o comunismo acabou, um dia a Independência também acabará. Continua a criar pombos.
José Eduardo Agualusa (A General Theory of Oblivion)
Não nasce de definições a tranquilidade. A qualquer hora, há muita sombra em nós, sinal de que muitos corpos luminosos deixam de banhar-nos com a sua luz desejável, sinal de que nos faltam felicidades, de que muitos sóis necessários se interromperam.
Paulo Mendes Campos (O homem que odiava ilhas: Crônicas de Paulo Mendes Campos)
Sem dúvida, ninguém pode buscar na exclusividade, individualmente. Esta busca solitária poderia traduzir-se em um ter mais, que é uma forma de ser menos. Esta busca deve ser feita com outros seres que também procuram ser mais e em comunhão com outras consciências, caso contrário se faria de umas consciências, objetos de outras. Seria "coisificar" as consciências. Jaspers disse: "Eu sou na medida em que os outros também são." O homem não é uma ilha. É comunicação. Logo, há uma estreita relação entre comunhão e busca.
Paulo Freire
Um dia que já lá vai D. João o Segundo, nosso rei, perfeito de cognome e a meu ver humorista perfeito, deu a certo fidalgo uma ilha imaginária, diga-me você se sabe doutro país onde pudesse ter acontecido uma história como esta, E o fidalgo, que fez o fidalgo, foi ao mar à procura dela, gostaria bem que me dissessem como se pode encontrar uma ilha imaginária. A tanto não chega a minha ciência, mas esta outra ilha, a ibérica, que era península e deixou de o ser, vejo-a eu como se, com humor igual, tivesse decidido meter-se ao mar à procura dos homens imaginários.
José Saramago (The Stone Raft)
A coisa mais misericordiosa do mundo, creio eu, é a incapacidade da mente humana em correlacionar todo o seu conteúdo. Vivemos numa plácida ilha de ignorância em meio a negros mares de infinito, e não está escrito pela Providência que devemos viajar longe. As ciências, cada uma progredindo em sua própria direção, têm até agora nos causado pouco dano; mas um dia a junção do conhecimento dissociado abrirá visões tão terríveis da realidade e de nossa apavorante situação nela, que provavelmente ficaremos loucos por causa dessa revelação ou fugiremos dessa luz mortal rumo à paz e à segurança de uma nova Idade das Trevas.
H.P. Lovecraft (The Call of Cthulhu)
É pra você”, diz A.J. “É…” Ele se apoia sobre um joelho, segura a mão dela entre as suas e tenta não se sentir um impostor, como um ator numa peça. “Vamos nos casar?”, ele diz com uma expressão quase dolorosa. “Sei que estou preso nessa ilha, que sou pobre, pai solteiro e tenho um negócio pouco lucrativo. Eu sei que sua mãe me odeia, e que sou uma porcaria de anfitrião pra eventos com autores.” “Que pedido estranho”, ela diz. “Comece com as qualidades, A.J.” “Tudo que posso dizer é… Tudo que posso dizer é que vamos dar um jeito, juro. Quando leio um livro, quero que leia ao mesmo tempo. Quero saber o que Amelia acharia dele. Quero que seja minha. Posso prometer livros e conversas e todo o meu coração, Amy.
Gabrielle Zevin (The Storied Life of A.J. Fikry)
Lavo a cara com água abundante e olho para o espelho. Deteto uma ponta de pele descolada por cima da sobrancelha, puxo por ela. Dói, mas continuo e uma película do tamanho da face começa a sair. Uma máscara com cola. Retiro-a e, com ela na mão, encaro o espelho. Estou igual, inclusive com uma ponta de pele. Puxo-a e repito o processo várias vezes. Nada muda.
Pedro Rui Sousa (Sem Água Não Existem Ilhas)
A vida dela até aquele momento tinha parecido tão original, um conto tecido elegantemente, com um elenco brilhante de personagens - ela: a princesa sem mãe de um palácio vertical, o apartamento de quatro andares na Ilha Victoria; eles: amigos fervorosos e glamurosos de seu pai, os empregados; ele: o rei viúvo do castelo. Se tivesse tido uma morte apropriada à vida deles como ela a conhecia - em um acidente de carro, por exemplo, em seu amado Deux Chevaux, ou de câncer de fígado ou pulmão, até o fim fumando Caos e engolindo rum -, ela poderia ter tolerado a perda. Teria ficado em luto. Teria se descoberto uma órfã em um apartamento de quatro andares, depois de perder ambos os pais aos treze anos, mas teria sido, enlutada dessa forma, uma coisa que ela reconheceria (trágica) em vez daquilo que se tornou: uma parte da história (genérica).
Taiye Selasi (Ghana Must Go)
O som dos timorenses a rezar em coro Ave Maria em português, dentro de um cemitério e enquanto os indonésios os matavam, teve um efeito psique nacional.Não era já um povo distante, desconhecido e pouco familiar que os indonésios estavam a aniquilar. Era um povo que falava português, rezava como os portugueses aos domingos nas missas, parecia português. Eram portugueses sobretudo isso, eles eram portugueses. Os indonésios estavam a matar portugueses.
José Rodrigues dos Santos (A Ilha das Trevas)
Proto-Oceanic is the theoretical mother tongue of the Oceanic peoples and the language from which all the Oceanic languages are thought to descend. It is a huge family, encompassing more than 450 languages, including those spoken on all the islands of Polynesia, most of the smaller islands of Melanesia, and all the islands of Micronesia except two. It is itself a branch of the larger Austronesian language family, a truly stupendous grouping of more than a thousand languages, which includes, in addition to all the Oceanic languages, those of the Philippines, Borneo, Indonesia, Timor, the Moluccas, and Madagascar. The very oldest Austronesian languages—and thus, in a sense, their geographic root—are a group of languages known as Formosan, a few of which are still spoken by the indigenous inhabitants of Ilha Formosa (Beautiful Island), an old Portuguese name for the island of Taiwan. Thus, at least from a linguistic point of view, the path back from Polynesia to the ultimate homeland proceeds through the Melanesian and Southeast Asian archipelagoes to an island off the coast of China, where the trail goes cold around 5000 or 6000 B.C.
Christina Thompson (Sea People: The Puzzle of Polynesia)
guia, Sra. Saeki, tem cerca de 45 anos e é magra. É também alta em comparação às demais mulheres da sua geração. Usa vestido verde com um cardigã creme claro jogado sobre os ombros. Seu porte é elegante. Seus cabelos, longos, estão arrebanhados frouxamente na nuca. O rosto é delicado e inteligente. Tem olhos bonitos. E também um sorriso suave como uma sombra brincando sempre em seus lábios. Um sorriso que não sei descrever direito, mas que me parece conclusivo. Lembra uma pequena e ensolarada poça de luz, de formato único e que só se encontra em lugares secretos. No jardim de minha casa em Nogata, havia um cantinho e uma poça semelhantes, e desde muito pequeno sempre os amei. A Sra. Saeki desperta em mim uma sensação forte, mas, ao mesmo tempo, de comovente nostalgia. Como seria bom se ela fosse minha mãe, penso eu. O mesmo pensamento me ocorre toda vez que vejo uma mulher bonita (ou apenas simpática) de meia-idade. Como seria bom se ela fosse minha mãe… Mas nem é preciso dizer, a chance da Sra. Saeki ser minha mãe é praticamente nula. Mas do ponto de vista teórico a possibilidade existe, embora mínima. Afinal, não conheço nem o rosto nem o nome da minha mãe. Em outras palavras, não existe nenhuma razão para ela não ser minha mãe. Da visita guiada participamos apenas eu e um casal de meia-idade proveniente de Osaka. A mulher é rechonchuda e usa óculos de grau forte. O marido é magro e seu cabelo, duro, parece ter sido deitado à força com cerdas de ferro. Os olhos finos e as maçãs de rosto largas trazem à mente certas figuras esculpidas de ilhas meridionais, sempre a fitar o horizonte com intensa ferocidade. A mulher assume a maior parte do diálogo; o marido apenas murmura respostas automáticas. Além disso, acena a cabeça em concordância, emite exclamações admiradas e vez ou outra resmunga palavras soltas, ininteligíveis. O vestuário de ambos é mais apropriado para escalar montanhas do que para visitar bibliotecas: colete impermeável cheio de bolsos, sapatos de meio-cano fechados
Haruki Murakami (Kafka à Beira-Mar)
Também conhecida por Ilha do Sol, a primeira ilha a ser oficialmente descoberta pelos navegadores portugueses brindava-os com uma estação mesclada, uma espécie de Primavera outonada. O ar morno e húmido bafejava debaixo de um engarrafamento de nuvens indecisas.
Pedro Almeida Maia (Nove Estações)
Dizem que a Terceira é a Ilha Lilás por culpa dos lilases. Os entendidos dizem Syringa vulgaris, mas os terceirenses consideram-na uma flor muito longe do vulgar.
Pedro Almeida Maia (Nove Estações)
Gostou de pensar que também os seus pés eram duas pequenas ilhas dessas, e que muito perto delas outras duas repousavam, e que as quatro juntas podiam compor, compunham, tinham composto um arquipélago perfeito, se a perfeição já é deste mundo e o lençol da cama o oceano onde quis ser ancorada.
José Saramago (The Double)
Entregar-se a Deus é muito diferente de apenas fugir do mundo. Apesar das tragédias, apesar da culpa.
Rodrigo Duarte Garcia (Os invernos da ilha)
Contudo, dois anos após a morte de Marco Polo, em 1329, algo aconteceu nas estepes para onde ele viajara, e no vale do rio Amarelo chinês, que fez com que tudo mudasse. Uma estranha epidemia estava a dizimar vastos números de pessoas. Em 1345, chegara à costa chinesa. Em 1346, estava na Crimeia, onde o pai e o tio de Marco haviam negociado e iniciado a sua viagem épica. No ano seguinte, a Peste Negra, transportada em navios e provavelmente por ratos, propagou-se ao Mediterrâneo. Em Março de 1348, os venezianos morriam à razão de seiscentos por dia. Barcaças seguiam para as ilhas remotas carregadas de cadáveres para serem sepultados. A maioria dos médicos já morrera também. Esse mesmo intercâmbio de mercadorias, gente e histórias que possibilitara a ascensão da impiedosa república marítima estava agora a cobrar vingança. Estima-se que tenham morrido três quintos de todos os venezianos e que cinquenta das suas famílias aristocratas se tenham extinguido para sempre.
Andrew Marr (História do Mundo (Vol. 3))
A coisa mais misericordiosa do mundo é, segundo penso, a incapacidade da mente humana em correlacionar tudo o que sabe. Vivemos em uma plácida ilha de ignorância em meio a mares negros de infinitude, e não fomos feitos para ir longe.
H.P. Lovecraft (Os melhores contos de H.P. Lovecraft)
Portanto, uma nova classe global vem surgindo, “com, digamos, passaporte indiano, castelo na Escócia, apartamento em Manhattan e ilha particular no Caribe”. O paradoxo é que os membros dessa classe global “jantam privativamente, compram privativamente, veem obras de arte privativamente, tudo é privativo, privativo, privativo”. Criam assim um mundo-vida só seu para resolver um problema hermenêutico angustiante; como explica Todd Millay, “as famílias ricas não podem apenas ‘convidar os outros e esperar que entendam o que é ter 300 milhões de dólares’”. Então, quais são seus contatos com o mundo em geral? São de dois tipos: negócios e filantropia (proteger o meio ambiente, combater doenças, apoiar as artes etc.). Esses cidadãos globais vivem em geral na natureza mais pura, seja caminhando na Patagônia, seja nadando nas águas translúcidas de ilhas particulares.
Slavoj Žižek (Primeiro como tragédia, depois como farsa (Portuguese Edition))
Tínhamos que encarar o rosto obsceno daquela realidade que nos tocou no destino. Aquele barquinho naufragado estava cheio de somalis, essa era realidade! Cheio de homens e mulheres, de seres humanos reduzidos a larvas. Aquela embarcação de papel estava cheia de gente com o nariz como o meu, com a boca como a minha, com os meus cotovelos. Todos nós da diáspora somali, no dia em que ficamos sabendo dessa notícia, não sabíamos o que fazer com os nossos corpos. Os que morreram nas costas da ilha de Lampedusa tinham provocado não somente uma comoção sem igual, mas um mal-estar. Por que eles morreram e nós estávamos vivos? Por que o destino nos dividiu em dois? A estação melhorou muitíssimo nos últimos anos. De uma parte, houve a restauração feita pela prefeitura, de outra, várias comunidades migrantes também se organizaram. Há lojinhas de todo tipo. Quer colocar aplique no cabelo? Quer um pouco de cardamomo para os chás condimentados do seu recanto? Quer um tecido com a história da rainha de Sabá para pendurar nas paredes de casa? Em Termini, encontram-se coisas fantásticas: de saris a raiz de rummay para escovar os dentes, e até goiabada que os brasileiros comem com queijo e chamam romanticamente de 'Romeu & Julieta'. E também quantidades infinitas de eenjera e zighinì. Moha, em sua época de ouro, pintou e bordou. Eu e minha mãe éramos espectadoras mudas das confusões que ele armava. Por um período, ele teve até três nomes. Louis para as mulheres que achavam que ele fosse sul-americano, Ali para as brancas que não sabiam pronunciar seu verdadeiro nome (e todas as vezes lhe diziam 'Que massa, como Ali Babá', e Amedeo para as mais duras na queda e experientes. Só disse seu nome verdadeiro à mulher que se tornou, por fim, a mulher da sua vida. 'Eu não queria estragar o nome. É o que me sobrou da Somália, além de vocês.
Igiaba Scego (La mia casa è dove sono)
Fisicamente, habitamos um espaço, mas, sentimentalmente, somos habitados por uma memória. Memória que é a de um espaço e de um tempo, memória no interior da qual vivemos, como uma ilha entre dois mares: um que dizemos passado, outro que dizemos futuro. Podemos navegar no mar do passado próximo graças à memória pessoal que conservou a lembrança das suas rotas, mas para navegar no mar do passado remoto teremos de usar as memórias que o tempo acumulou, as memórias de um espaço continuamente transformado, tão fugidio como o próprio tempo
José Saramago
Fisicamente, habitamos um espaço, mas, sentimentalmente, somos habitados por uma memória. Memória que é a de um espaço e de um tempo, memória no interior da qual vivemos, como uma ilha entre dois mares: um que dizemos passado, outro que dizemos futuro. Podemos navegar no mar do passado próximo graças à memória pessoal que conservou a lembrança das suas rotas, mas para navegar no mar do passado remoto teremos de usar as memórias que o tempo acumulou, as memórias de um espaço continuamente transformado, tão fugidio como o próprio tempo
José Saramago
Fisicamente, habitamos um espaço, mas, sentimentalmente, somos habitados por uma memória. Memória que é a de um espaço e de um tempo, memória no interior da qual vivemos, como uma ilha entre dois mares: um que dizemos passado, outro que dizemos futuro. Podemos navegar no mar do passado próximo graças à memória pessoal que conservou a lembrança das duas rotas, mas para navegar no mar do passado remoto teremos de usar as memórias que o tempo acumulou, as memórias de um espaço continuamente transformado, tão fugidio como o próprio tempo
José Saramago
E assim, me foi reservado o verdadeiro significado da palavra terror, porque naquele dia eu morri pela terceira vez!
Luke Negreiros (No olho da Ilha)
A mais sutil oscilação de cada coisa chegava até mim, até que eu me tornasse cada coisa.
Luke Negreiros (No olho da Ilha)
Eu era a luz que preenchia o lugar e inundava cada brecha numa eterna luta contra a escuridão.
Luke Negreiros (No olho da Ilha)
(...) uma rocha que se afastava da ilha. O dedo de Deus era apenas um de vários, enfileirados numa sequência correta demais para ser natural;
Luke Negreiros (No olho da Ilha)
Eu era estrangeiro numa terra única. Isolada de um continente que não exercia mais sua influência. Eu era o calço, o elo entre dois mundos e estava prestes a sentir o cheiro da morte para todos os lados que eu apontasse.
Luke Negreiros (No olho da Ilha)
As Guerras de Independência na América Latina As revoluções na França e na América do Norte, juntamente com as ideias liberais do Iluminismo, também inspiraram as colônias espanholas nas Américas a lutar por independência. De 1808 a 1825, a independência foi proclamada em toda a América do Sul e em quase toda a América Central, onde a Espanha continuou controlando apenas as ilhas de Cuba e Porto Rico (que permaneceram sob seu domínio até 1898). Os conflitos foram desencadeados em 1808, quando José Bonaparte, irmão de Napoleão, depôs a monarquia espanhola durante a Guerra Peninsular (também conhecida como Invasões Francesas). A ocupação francesa destruiu a administração espanhola, que se fracionou em juntas provinciais, e uma confusão geral se estabeleceu. Muitas das colônias espanholas se consideraram capazes de nomear suas próprias juntas, o que acabou provocando conflitos entre os patriotas, que propunham a autonomia, e os monarquistas, que ainda acreditavam na autoridade da Espanha.
Emma Marriott (A História do Mundo Para Quem Tem Pressa: Mais de 5 Mil Anos de História Resumidos em 200 Páginas! (Série Para quem Tem Pressa, Livro 1))
Ode no cinquentenário do poeta brasileiro Esse incessante morrer que nos teus versos encontro é tua vida, poeta, e por ele te comunicas com o mundo em que te esvais. Debruço-me em teus poemas e nelo percebo as ilhas em que nem tu nem nós habitamos (ou jamais habitaremos!) e nessas ilhas me banho num sol que não é dos trópicos, numa água que não é das fontes mas que ambos refletem a imagem de um mundo amoroso e patético. Tua violenta ternura, tua infinita polícia, tua trágica existência no entanto sem nenhum sulco exterior – salvo tuas rugas, tua gravidade simples, a acidez e o carinho simples que desbordam em teus retratos, que capturo em teus poemas, são razões por que te amamos e por que nos fazes sofrer… Certamente não sabias que nos fazes sofrer. É didícil explicar esse sofrimento seco, sem qualquer lágrima de amor, sentiment de homens juntos, que se comunicam sem gesto e sem palavras se invadem, se aproximam, se compreendem e se calam sem orgulho. Não é o canto da andorinha, debruçada nos telhados da Lapa, anunciando que a tua vida passou à toa, à toa. Não é o médico mandando exclusivamente tocar um tango argentino, diante da escavação no pulmão esquerdo e do pulmão direito infiltrado. Não são os carvoeirinhos raquíticos voltando encarapitados nos burros velhos. Não são os mortos do recife dormindo profundamente na noite. Nem é tua vida, nem a vida do major veterano da guerra do Paraguai, a de Bentinho Jararaca ou a de Christina Georgina Rossetti: és tu mesmo, é tua poesia, tua pungengente, inefável poesia, ferindo as almas, fogo celeste, ao visitá-las; é o fenômeno poético, de que te constituíste o misterioso portador e que vem trazer-nos na aurora o sopro quente dos mundos, das armadas exuberantes e das situaçãoes exemplares que não suspeitávamos. Por isso sofremos: pela mensagem que nos confias entre ônibus, abafada pelo pregão dos jornais e mil queixas operárias; essa insistente mas discreta mensagem que, aos cinquenta anos, poeta, nos trazes; e essa fidelidade a ti mesmo com que nos apareces sem uma queixa, no rosto entretanto experiente, mão firme estendida para o aperto fraterno - o poeta acima da guerra e do ódio entre os homens -, o poeta ainda capaz de amar Esmeraldas embora a alma anoiteça, o poeta melhor que nós todos, o poeta mais forte - mas haverá lugar para a poesia? Efetivamente o poeta Rimbaud fartou-se de escrever, o poeta Maiakovski suicidou-se, o poeta Schmidt abastece de água o Distrito Federal… Em meio a palavras melancólicas, ouve-se o surdo rumor de combates longínquos (cada vez mais perto, mais, daqui a pouco dentro de nós). E enquanto homens suspiram, combatem ou simplesmente ganham dinheiro, ninguém perecebe que o poeta faz cinquenta anos, que o poeta permanece o mesmo, embora alguma coisa de extraordinário se houvesse passado, alguma coisa encoberta de nós, que nem os olhos traíram nem as mãos apalparam, susto, emoção, enternecimento, desejo de dizer: Emanuel, disfarçado na meiguice elática doa abraços,e uma confiança maior no poeta e um pedido lancinante para que não nos deixe sozinhos nesta cidade em que nos sentimos pequenos à espera dos maiores acontecimentos. Que o poeta nos encaminhe e nos proteja e que o seu canto confidencial ressoe para consolo de muitos e esperança de todos, os delicados e os oprimidos, acima das profissões e dos vãos disfarces do homem. Que o poeta Manuel Bandeira escute este apelo de um homem humilde.
Carlos Drummond de Andrade (Sentimento do Mundo)
- Escuta o teu coração Luna! Quando segues o que o teu coração te diz, mesmo que o desfecho não seja o que tu esperas, nunca te vais arrepender das decisões que tomas.
Laura Guimarães (O GRITO DE KYRA (Portuguese Edition))
Sex just once in his mother’s sweltering apartment and that would be it. When they opened the door, however, the apartment wasn’t sweltering at all. It was cool, the air-conditioning humming in every room, though Emma was certain she had turned it off before leaving for Ilha Grande. Raquel must have come by and forgotten to turn it off, Marcus said. Come here. He pulled at her hips until she tilted toward him. If they’d been standing anywhere but in front of her author’s bookshelves, the titles she’d run her fingers over for years like sacred scrolls, Emma was sure she would have had more restraint, would not be lifting her own dress this way over her head. When Marcus slid her polka-dot underwear down over her knees, she murmured something about thinking about this a little more. But she didn’t want to think. She wanted to fling her underwear down the hall with her toe. So she did, and the motion was divine. Now there was nothing in the way.
Idra Novey (Ways to Disappear)
Livre, como um pássaro que foge no final de outono. Voo em pensamentos cheios de sentimentos que me levam ao isolamento. Isolamento total e fatal da minha pobre alma. Pobre alma sem esperança de dias melhores. No momento, Sem esperança crer em mim é difícil. Dificílimo, estou frágil como um barco em um naufrágio. Vivo em uma ilha deserta de emoções Ilha cheia de enigma, Enigmas inacessíveis. Sinto-me em uma porta dos fundos, onde vivo um dilema. Entro ou saio? Vivo ou morro? Posso sair. Mas e os vestígios da minha vida? Alguém se lembrará de mim? Eu que nada sou nesse momento, E luto todo dia para ser Também, Posso entrar e continuar vivendo sendo o nada Nada que ninguém conhece nada quem ninguém pergunta Apenas um nada de vida, Nada de historia, nada de vestígio Um nada.
Davi Abramovich
Não sei se sou eu que vencerei as ilhas, ou elas que me vencerão a mim.
Miguel Sousa Tavares (Equador)
Pese a muitas consciências instaladas em maus hábitos ou em maus princípios, a razão porque me ofereci para defender dois réus indefesos e a razão porque estou aqui como governador das ilhas é uma e a mesma: porque eu, e muita gente comigo, entende que chegou a altura de Portugal ser, não apenas um país colonizador, mas também um país civilizador. Que podemos e devemos colher os frutos do nosso trabalho e da nossa riqueza colonial que devemos aos nossos antepassados, mas que nada nos desobriga de trazer em troca o progresso e a civilização.
Miguel Sousa Tavares (Equador)
Poesia é uma ilha rodeada de palavras por todos os lados
Cassiano Ricardo
Portanto, é necessário que cada qual lisonjeie e adule a si mesmo, fazendo a si mesmo uma boa coleção de elogios, em lugar de ambicionar os de outrem. Finalmente, a felicidade consiste, sobretudo, em se querer ser o que se é. Ora, só o divino amor próprio pode conceder tamanho bem. Em virtude do amor próprio, cada qual está contente com seu aspecto, com seu talento, com sua família, com seu emprego, com sua profissão, com seu país, de forma que nem os irlandeses desejariam ser italianos, nem os trácios atenienses, nem os citas habitantes das ilhas Fortunadas. Oh surpreendente providência da natureza! Em meio a uma infinita variedade de coisas, ela soube pôr tudo no mesmo nível. E, se não se mostrou avara na concessão de dons aos seus filhos, mais pródiga se revelou ainda ao conceder-lhes o amor próprio. Que direi dos seus dons? É uma pergunta tola. Com efeito, não será o amor próprio o maior de todos os bens?
Erasmus (Elogio da Loucura)
Mas si así era, no era acaso renovar el error del primer pecador querer violar la virginidad de la Isla? Justamente, quizá la Providencia habíale querido casto testigo de una belleza que no habría debido turbar jamás. No era ésta la manifestación del amor más cabal, tal y como se lo profesaba a su Señora, amar de lejos renunciando al orgullo del dominio? Es amor el que aspira a la conquista? Si la Isla debía aparecérsele como una cosa sola con el objeto de su amor, a la Isla debía el mismo recato que a éste había donado." Capítulo 10. Geografía La Más Curiosa
Umberto Eco (A Ilha do Dia Antes)
Até onde o olhar alcança, tudo é como uma pianola de cores, onde claramente predominam os tons de um verde que varia segundo a luz solar ou as sombras que pairam sobre a paisagem nalgumas horas do dia. Trata-se de um longo espanto de beleza, de um ponto de exclamação!
João de Melo (Açores, O Segredo das Ilhas)
O pobre sozinho, sem um cavalo, fica no seu, permanece, feito numa crôa ou ilha, em sua beira de vereda. Homem a pé, esses Gerais comem.
João Guimarães Rosa (Grande Sertão: Veredas)
Mulheres são como ilhas: sempre longe, mas ofuscando todo o mar em redor
Mia Couto (Jesusalém)
A redondura das ilhas, dizia, é o mar que faz. A beleza dessa menina, meu sobrinho, é você que lhe põe. As mulheres são muito extensas, a gente viaja-lhes, a gente sempre se perde.
Mia Couto (Every Man Is a Race)
Um cego semelha uma ilha: navegante à espera de viagem, um silêncio frente ao espelho.
Mia Couto (Vinte e zinco)
Daniel era como o manuscrito de um romance não terminado, todo rabiscado e desconexo, esquecido dentro de uma gaveta e jamais encontrado. Nem ele tinha o manual necessário para decifrar seus pensamentos. Era uma ilha jamais descoberta, submersa no mar da solidão
Ben Oliveira (Escrita Maldita)
Quando cheguei à ilha pela primeira vez — ela continua —, logo de cara tudo me pareceu tão familiar. Isso é possível?
Nikki St. Crowe (The Dark One (Vicious Lost Boys, #2))
Sabes que eu nasci nesta ilha, muito pequena. A vida inteira decorre ali em dois universos sobrepostos: um, é minúsculo, com seis, não chega a sete quilómetros se acompanhas o voo duma gaivota quando se monta na brisa contra o poente; o outro, é incomensurável, é uma sanduiche de mar e céu, um despropósito de azuis que te arrebata e transporta, às vezes para muito longe.
Jose Garrido (As estranhas sombras da Argânia)
mas quero encontrar a ilha desconhecida, quero saber quem sou quando nela estiver," "Não o sabes," "Se não sais de ti, não chegas a saber quem és
José Saramago (The Tale of the Unknown Island)
Absorveu a ilha sofregamente, como se fosse o vinho que nunca lhe era permitido beber. Era tão aditiva e perigosa quanto este.
Alex Aster (Lightlark (Lightlark, #1))
[...] um professor de matemática e seu aluno conversam em torno de cálices de vodca norte-vietnamita: [...] "Um reacionário não anda cem metros em Cuba sem ser apanhado. E sabe quem vai pegá-lo? Eu, ele ali, aquele garçom, o motorista que está na porta, sentado à direção do carro. Quer dizer, o povo.
Fernando Morais (A Ilha)
desfez. Os chefes da Ilha de Yap que recusaram as pedras baratas de Rai de O’Keefe entenderam o que a maioria dos economistas modernos não consegue captar: um dinheiro que é fácil de produzir não é dinheiro, e o dinheiro fraco não torna a sociedade mais rica; pelo contrário, torna-a mais pobre, colocando toda sua riqueza adquirida a duras penas em troca de algo fácil de produzir.
Saifedean Ammous (O Padrão Bitcoin (Edição Brasileira): A Alternativa Descentralizada ao Banco Central (Portuguese Edition))
é deste modo que o destino costuma comportar-se conosco, já está mesmo atrás de nós, já estendeu a mão para tocar-nos o ombro, e nós ainda vamos a murmurar, Acabou-se, não há mais que ver, é tudo igual.
José Saramago (O conto da ilha desconhecida)
[...] quando da invasão da baía dos Porcos, em 1961. Estella Menendez, funcionária pública, hoje com 45 anos, conta como se incorporou às milícias populares que foram a baía: "Eu era recém-casada, tinha um bebê de poucos meses. Entreguei meu filho à mãe de meu marido — ele já lutava na praia Girón —, peguei uma metralhadora e fui para a luta. Como eu, milhares de mulheres fizeram o mesmo. [...] em 72 horas o ataque mercenário foi dominado por nós — o Exército e o povo.
Fernando Morais (A Ilha)
O Logan do mundo real normalmente evitava homossexuais latentes e homofóbicos como praga. O Andrew do mundo real nunca chuparia o pau de um “homo”. Nenhum desses homens existia na ilha.
Alessandra Hazard (Just a Bit Wrecked (Straight Guys, #11))
A maior parte dos interrogadores voltava de mãos vazias dia após dia. “Nenhuma informação obtida da fonte”, era o que os interrogadores informavam todas as semanas. E exatamente como ■■■■■■■■■■■■■■ tinha dito, o ■■■■■■■■■■ estava desesperado para fazer os detentos falar. Assim, ■■■■■■■ montou um mini■■■■■■■■■ dentro da organização maior. Essa força-tarefa, que englobava gente do Exército, da Marinha, dos Fuzileiros Navais e civis, tinha como missão arrancar informações dos detentos. A operação foi cercada de máximo sigilo. ■■■■■■■■■■ era um personagem de destaque nesse subgrupo ■■■■■■ . Embora ■■■■■■■ fosse uma pessoa inteligente, davam a ele o serviço mais sujo da ilha e, por meio de uma espantosa lavagem cerebral, o levavam a crer que estava fazendo a coisa certa. ■■■■■■ estava sempre envolto num uniforme que o cobria da cabeça aos pés, porque ■■■■■■■■■ tinha consciência de que ele estava cometendo crimes de guerra contra detentos indefesos. ■■■■■■■■■■■■ era A Coruja da Noite, O Adorador do Diabo, O Homem da Música Alta, o Cara da Antirreligião, o interrogador por excelência. Cada um desses apelidos se justificava. ■■■■■■ tinha por hábito “entreter” os detentos que não estavam autorizados a dormir. Privou-me de sono durante cerca de dois meses, ao longo dos quais tentou subjugar minha resistência mental, sem sucesso. Para me manter acordado, ele resfriava ao máximo a temperatura de onde eu me achava, me obrigava a escrever todo tipo de coisa sobre minha vida, me dava água sem parar e às vezes me fazia ficar a noite inteira de pé. Um dia, me deixou pelado com ajuda de um carcereiro ■■■■■■■■■ para me humilhar. Outra noite, me pôs numa sala gelada cheia de fotos propagandísticas dos Estados Unidos, inclusive uma foto de George W. Bush, e me fez ouvir mil vezes o hino nacional americano. ■■■■■■ cuidava de diversos detentos ao mesmo tempo. Eu ouvia muitas portas batendo, música alta e detentos indo e vindo, o barulho das pesadas correntes denunciando sua presença. ■■■■■ punha os detentos numa sala escura com imagens que supostamente representavam demônios. Fazia os detentos ouvir música de ódio e fúria, e a música “Let the Bodies hit the Floor” mil vezes, a noite inteira, na sala escura. Ele era muito explícito sobre seu ódio ao islã, e proibia terminantemente qualquer prática islâmica, inclusive as orações e a recitação do Corão.
Mohamedou Ould Slahi (Guantánamo Diary: Restored Edition)
MÃOS DADAS Não serei o poeta de um mundo caduco. Também não cantarei o mundo futuro. Estou preso à vida e olho meus companheiros. Estão taciturnos mas nutrem grandes esperanças. Entre eles, considero a enorme realidade. O presente é tão grande, não nos afastemos. Não nos afastemos muito, vamos de mãos dadas. Não serei o cantor de uma mulher, de uma história, não direi os suspiros ao anoitecer, a paisagem vista da janela, não distribuirei entorpecentes ou cartas de suicida, não fugirei para as ilhas nem serei raptado por serafins. O tempo é a minha matéria, do tempo presente, os homens presentes, a vida presente.
Carlos Drummond de Andrade (Sentimento do Mundo)
Àdham esteve prestes a perguntar-lhe se era por isso que ele fizera prisioneiro o senhor das Ilhas em Tantallon, que ficava a menos de um dia de viagem desde o Castelo de Edimburgo. Contudo conteve-se porque Fin havia dito mais do que uma vez que, embora muitas vezes se havia arrependido do seu discurso, nunca se havia lamentado do seu silêncio.
Amanda Scott (The Reluctant Highlander (Highland Nights, #1))
A cada dia eu sei de mais coisas sobre as quais nunca saberei, os livros que me fariam um ser humano melhor, os filmes que mudariam minha vida, a melhor de todas as músicas, que nunca ouvirei. Quanto mais estudo, mais descubro a vastidão da minha ignorância. Minha burrice é uma África, minha ingenuidade é uma Ásia, minha estupidez, três Américas. Já minha sabedoria, esta é uma ilha da Páscoa, um pingo de terra firme batido sem piedade pelas ondas da incerteza e fustigado pelos ventos da amnésia, a milhares de quilômetros de qualquer porto seguro, nem mesmo sei ao certo se 'a milhares de quilômetros' se escreve assim, ou se este a tem agá ou crase. Nada disso importa. Só o que importa são teus olhos, tua boca, teu colo, teu corpo, tua presença luminosa que prenuncia um futuro de prazer, de aconchego e de amores incondicionais. Tudo isso foi o que eu pensei, mais ou menos, quando ela sorriu. O que eu disse foi 'estou gostando do curso', bem mais curto.
Jorge Furtado (Trabalhos de Amor Perdidos (Devorando Shakespeare, #1))
Não, meu coração não é maior que o mundo, É muito menor, Nele não cabem nem as minhas dores. Por isso gosto tanto de me contar. Por isso me dispo, por isso me grito, por isso frequento os jornais, me exponho cruamente nas livrarias: preciso de todos. (...) Outrora viajei países imaginários, fáceis de habitar, ilhas sem problemas, não obstante exaustivas e convocando ao suicídio. Meus amigos foram às ilhas. Ilhas perdem o homem.. Entretanto alguns se salvaram e trouxeram a notícia de que o mundo, o grande mundo está crescendo todos os dias, entre o fogo e o mar. Então, meu coração também pode crescer. Entre o amor e o fogo, entre a vida e o fogo, meu coração cresce dez metros e explode.
Carlos Drummond de Andrade (Sentimento do Mundo)
Os fabricantes de cocaína colombianos protegeram os seus lucros apertando o controlo das suas cadeias de abastecimento, dentro da mesma linha que a Walmart. Os cartéis mexicanos expandiram-se numa base de franchising, com o mesmo sucesso que a McDonald’s. Em El Salvador, os gangues de rua tatuados, outrora inimigos figadais, descobriram que o conluio por vezes pode ser mais rentável que a concorrência. Os criminosos caribenhos usam as prisões fétidas das ilhas como centros de emprego, resolvendo assim os seus problemas em matéria de recursos humanos.
Tom Wainwright (Narconomics: How to Run a Drug Cartel)
Visando estender sua dominação mais ao leste do reino tributário coreano de Goryeo (918 - 1392), esta anterior a Choson (Joseon), Kublai Khan enviou um emissário ao Japão em 1268, após uma primeira tentativa fracassada dois anos antes, exigindo submissão e tributos. As exigências do Grande Khan foram ignoradas pela corte japonesa em Quioto e pelo bakufu em Kamakura. A rejeição foi considerada como um insulto a ser resolvida com uma invasão às ilhas [50
Emiliano Unzer (História do Japão: Uma introdução)
Okinawa, Japão (principalmente no norte): essa ilha consegue ter a maior expectativa média de vida do mundo, superior, inclusive, à média nacional. É o lugar onde as mulheres têm a existência mais longa e livre de doenças. A dieta local inclui muitas verduras e tofu, e seus habitantes comem em pratos pequenos. Além da filosofia Ikigai, os habitantes de Okinawa praticam seriamente o conceito de moai, que diz sobre o convívio com grupo de amigos muito próximos.
Marcelo Pimenta (Economia da Paixão: Como ganhar dinheiro e viver mais e melhor fazendo o que ama (Portuguese Edition))
Em abril de 1185, Yoshitsune no Minamoto perseguiu e derrotou definitivamente as forças rivais na batalha naval de Dan-no-ura, na região ocidental da ilha de Honshu. Antoku, o pequeno imperador de apenas seis anos de idade, que tinha sido levado no colo de sua avó, a viúva de Kiyomori, foi levado ao suicídio ao mar no Estreito de Shimonoseki. Um impressionante relato desse evento evidencia o forte senso de fatalismo da época, quando a avó de Antoku explica ao seu neto o seu destino [37]: Vossa Majestade não sabe que renasceu neste mundo para o trono imperial, em resultado do mérito das Dez Virtudes que praticou em vidas anteriores. Agora, porém, há um carma que vos reclama. (...) O Japão é pequeno como um grão de milho, mas é agora um vale de misérias. Há uma terra pura de felicidade sob as ondas, uma outra capital onde não existe sofrimento. É para lá que vou levar o meu Soberano. (Tradução nossa)
Emiliano Unzer (História do Japão: Uma introdução)
«Noites há em que sonho com uma biblioteca inteiramente anónima em que os livros não têm títulos nem ostentam autores, formando uma corrente narrativa contínua. Nessa biblioteca, o herói d’O Castelo embarcaria no Pequod, em busca do Santo Graal, acostaria numa ilha deserta e, usando fragmentos dados à costa, reconstruiria a sociedade a partir das suas ruínas, relataria o seu primeiro encontro centenário com o gelo e recordaria, em penoso pormenor, como se recolhia cedo à cama.» — Alberto Manguel
Alberto Manguel (A biblioteca à noite (Portuguese Edition))
There is a small rock island, Ilha da Queimada Grande, off the coast of Southern Brazil that is home to roughly 1 snake per square meter.
Charles Klotz (1,077 Fun Facts: To Leave You In Disbelief)
Passar quatro dias e quatro noites em casa, vendo o carnaval passar; ou não vendo nem isso, mas entregue a uma outra e cifrada folia, que nesta quarta-feira de cinzas abre suas pétalas de cansaço, como se também tivéssemos pulado e berrado no clube. Não ligar a televisão, esquecer-se do rádio; deixar os locutores falando sozinhos, na ânsia de encher de discurso uma festa à base de movimento e de canto. Perceber apenas o grito trêmulo, trazido e levado pelo vento, de um samba que marca realidade lúdica sem nos convidar à integração. Beneficiar-se com a ausência de jornais, que prova a inexistência provisória do mundo como arquitetura de notícias. Ter como companheiro o irmão gato Crispim, exemplo de abstenção sem sacrifício, manual de silêncio e sabedoria, aventureiro que experimentou a vertigem da luta-livre nos telhados e homologa a invenção da poltrona. Penetrar no vazio do tempo sem obrigações, como num parque fechado, aproveitando a ausência de guardas, e descobrindo nele tudo que as tabuletas omitem. Aceitar a solidão; escolhê-la; desfrutá-la. Sorrir dos psiquiatras que falam em alienação do mundo e recomendam a terapêutica de grupo. Estimar a pausa como valor musical, o intervalo, o hiato. O instante em que a agulha fere o disco sem despertar ainda qualquer som. Andar de um quarto para outro sem ser à procura de objetos: achando-os. Descobrir, sem mescalina, as cores que a cor esconde; os timbres entrelaçados no ruído. Olhar para as paredes, ou melhor, olhar as paredes em torno dos quadros. Sentir a casa como um todo e como partículas densas, tensas, expectantes, acostumadas a viver sem nós, à nossa revelia, contra o nosso desdém. Habitar realmente a casa, quatro dias: como ilha, fortaleza, continente; infinito no finito; reconsiderar os livros, arrumá-los primeiro com método, depois com voluptuosidade, fazendo com que cada prateleira exija o maior tempo possível; verificar que antes é preciso tirar a poeira de um, remover a boba capa de celofane que envolve a encadernação de outro. Reler dedicatórias, abrir ao acaso livros de poetas que preferimos e que infelizmente não são os mais modernos, nem os mais célebres; copiar meia estrofe por onde corre arrepio verbal; separar volumes que não nos falam mais nada e que devem tentar seu destino em outras casas. Sentir chegada a hora dos álbuns de pintura com pouco ou nenhum texto, e dos volumes iconográficos que nos contam Paris ou a vida de Mallarmé. Viajar em fotografias; sentir-se imagem flutuando entre imagens; a terra domesticada em figura, tornada familiar sem perda de sua essência enigmática. Reconhecer que muitos livros comprados a duras penas, pedidos ao estrangeiro ou longamente minerados nos sebos, não têm mais do que essa oportunidade de comunicação durante o ano; deixar que fiquem a sós conosco e nos confiem seu segredo. Admitir a fome, sem exigência de horário, e matá-la com o que houver à mão; renunciar à idéia de almoço e jantar, com reverência ao sagrado direito que assiste a todos, inclusive e principalmente às cozinheiras, de brincarem o seu carnaval; achar mais gosto nessa comida, porque não é regulamentar nem é seguida de nada: todas as obrigações estão suspensas, e só valem as que soubermos traçar a nós mesmos. Descortinar na preguiça um espaço incomensurável, onde cabe tudo; não enchê-lo demais; devassá-lo à maneira de um explorador que não quer ser muito rico e tanto sente prazer em descobrir como em procurar. Assim vosso cronista passou o carnaval: sem fugir, sem brincar, divertido em seu canto umbroso.
Carlos Drummond de Andrade (A Bolsa e a Vida)
Os pequenos prazeres da vida, doces e excelentes em seu momento, não deveriam ser a finalidade de toda a existência. Os mandamentos divinos deveriam ser buscados e seguidos; a vida celestial deveria começar aqui na Terra.
L.M. Montgomery (Anne da ilha (Anne de Green Gables, #3))
E tanto a Grã-Bretanha quando o mundo sabiam que a revolução lançada nestas ilhas não só pelos comerciantes e empresários como através deles, cuja única lei era comprar no mercado mais barato e vender sem restrição no mais caro estava transformando o mundo. Nada poderia detê-la. Os deuses e os reis do passado eram impotentes diante dos homens de negócios e das máquinas a vapor do presente.
Eric J. Hobsbawm (The Age of Revolution, 1789–1848)
Você sabe por que o mar é tão grande? Tão imenso, tão poderoso? É porque teve a humildade de colocar-se alguns centímetros abaixo de todos os rios. Sabendo receber, tornou-se grande. Se quisesse ser o primeiro, centímetros acima de todos os rios, não seria mar, mas sim uma ilha. Toda sua água iria para os outros e estaria isolado. A perda faz parte. A queda faz parte. A morte faz parte. É impossível vivermos satisfatoriamente. Precisamos aprender a perder, a cair, a errar e a morrer. Impossível ganhar sem saber perder. Impossível andar sem saber cair. Impossível acertar sem saber errar. Impossível viver sem saber viver. Se aprenderes a perder, a cair, a errar, ninguém mais o controlará. Porque o máximo que poderá acontecer a você é cair, errar e perder. E isto você já sabe. Bem-aventurado aquele que já consegue receber com a mesma naturalidade o ganho e a perda, o acerto e o erro, o triunfo e a queda, a vida e a morte.
Jose Sebastiao (Líder Quântico: e seus nove poderes internos (Portuguese Edition))
Fisicamente, habitamos um espaço, mas, sentimentalmente, somos habitados por uma memória. Memória que é a de um espaço e de um tempo, memória no interior da qual vivemos, como uma ilha entre dois mares: um que dizemos passado, outro que dizemos futuro. Podemos navegar no mar do passado próximo graças à memória pessoal que conservou a lembrança das suas rotas, mas para navegar no mar do passado remoto teremos de usar as memórias que o tempo acumulou, as memórias de um espaço continuamente transformado, tão fugidio como o próprio tempo. Esse filme de Lisboa, comprimindo o tempo e expandindo o espaço, seria a memória perfeita da cidade. O que sabemos dos lugares é coincidirmos com eles durante um certo tempo no espaço que são. O lugar estava ali, a pessoa apareceu, depois a pessoa partiu, o lugar continuou, o lugar tinha feito a pessoa, a pessoa havia transformado o lugar.
José Saramago
Escurecia rápido, o navio afastava-se do poente. A lembrança da sombra no rosto de Marina tornava mais fácil aceitar a morte. Uma fita triangular de navegação tremulava no meio de uma corda tesa, gorda do vento, como uma língua de réptil. O corpo estava frio, sem pulso nem sinal algum, completamente largado sobre o seu. Já não havia quem observasse o pôr do sol, não havia o que olhar, apenas uma faixa de luz parda que se diluía sobre o horizonte, cada vez mais turva, indistinta do oceano. Completava-se o abandono lento em seus braços, sob o sorriso da portuguesa enternecida pelo aconchego da moça no ombro do marido. Era a suavidade da morte pública e despercebida. Ele tentava olhar adiante. Teria sido outra história se Marina tivesse se jogado ao mar. Cinquenta, sessenta, setenta metros de altura. Ele teria que se jogar também, arriscar a vida para ter o que enterrar, e iria junto, ninguém mergulha de um navio supondo que sobrevive, muito menos que salvará alguém. Se tivesse que se matar, haveria de ser como um prazer, o prazer que em vida lhe era torto. Deixaria o corpo boiar sobre o oceano, sem peso, ao sabor das correntes, o sono mais pesado e completo que alguém já teve. Talvez o prazer de jogar o corpo no vazio fosse ainda maior. Deixaria o ar limpar os pulmões e os pensamentos, purificar a vida que ficava para trás, no alto da amurada. Seria outro por um lapso, não haveria tempo para pensar no impacto. Talvez o mar restaurasse o sono, a onda fria embalasse as costas, o oceano como o único lugar em que os insones não são insones, embora lhes falte imaginação para sabê-lo. Tinha a impressão de que nunca mais adormeceria, enquanto ela dormiria para sempre, egoísta no sono final, a soberba daquele que reaprende a dormir e deixa o outro na vigília. Teria sido pior se ela tivesse esperado a volta para se matar. Ele aguentaria a náusea de cada milha. Agora podia abandonar o barco. Nada de Ilhas Canárias, Cádiz, Sevilha, nada do balanço que o torturava no convés ou na cabine. Olhava a distância em direção à noite e via o corpo desembarcar em Cabo Verde, sobrevoar o mar até Lisboa, voltar ao Brasil sobre o mesmo mar, as mesmas ilhas escassas do Atlântico. Dois, três dias com o corpo frio e rígido, rigor mortis, velava-o pelos ares, um fardo em plena leveza de nuvens, a dor que alçava ao sol dentro de um saco impermeável, um caixote de metal. Estariam no céu, um corpo que apodrece, um homem que chora, um amor que já não é mais. Alguém se aproximou, parou ao lado da amurada. O uniforme branco e impecável usado pelos tripulantes, certa familiaridade de hospital. — Preciso da sua ajuda. — What can I do for you, sir? — Minha mulher está morta.
Mauricio Lyrio (Memória da Pedra)
Não sei, minha querida Esmeralda, se alguma vez encontrarás no teu coração espaço para compreenderes ou perdoares o que fiz. Não te censuro não encontrares, porque eu também não encontro. Ainda hoje me interrogo sobre o que aconteceu, sobre as nossas opções perante o destino, sobre o facto de que não passamos de meros peões das circunstancias, joguetes num tabuleiro cujo as regras não compreendemos nem dominamos. O fantasma da Isabelinha, o eco das suas derradeiras palavras e a imagem de uma menina a baixar a cabeça para o acto final, tudo tinha sido uma presença constante no meu espírito nos últimos dezanove anos. Frequentemente dou comigo a pensar como teriam sido as nossas vidas se as coisas fossem diferentes, se as circunstancias tivessem ido noutro sentido. E senão tivesse havido a invasão Indonésia, teríamos vivido felizes em Timor ? E se tivéssemos saído de Timor quando se tornou evidente que iria haver invasão, teríamos sido felizes na Austrália ou em Portugal ? E senão tivéssemos separado no Remexio, teríamos os três acabado por ir para a Jacarta e sobrevividos juntos ? (...) Tantas interrogações, tantas dúvidas, tantos fins diferentes, tantos "ses
José Rodrigues dos Santos (A Ilha das Trevas)
Ninguém precisa ir a parte alguma. Como seria bom que todos soubessem disso! Se apenas soubesse quem realmente sou, deixaria de proceder como penso que sou. E se parasse de me comportar como penso ser, saberia quem sou. Se ao menos o MANIQUEÍSTA que penso ser me permitisse ser o que de fato sou, o "sim" e o "não" viveriam reconciliados na abençoada aceitação da experiência de Ser Único.
Aldous Huxley (A Ilha)
As flores do campo e as paisagens, advertiu, têm um grave-defeito: são gratuitas. O amor à natureza não estimula a atividade de nenhuma fábrica. Decidiu-se que era preciso aboli-lo, pelo menos nas classes baixas;
Aldous Huxley (A Ilha)
tudo me leva para ti, como se tudo o que existe, aromas, luz, metais, fossem pequenos barcos que navegam até às tuas ilhas que me esperam.
Pablo Neruda (Poemas de Amor)
— O que é a família? — É o acto sexual praticado com um cadáver. — O que é o surrealismo? — É a morte dos séculos projectando uma sombra muito longa debaixo da água do sonho. — O que é a loucura? — É a base de todas as paisagens. — O que é o suplício de Tântalo? — É uma luz muito íntima que me aquece à noite. ... — O que é o sonho? — É o simulacro da melancolia. — O que é o destino? — É o amor a todo o comprimento. -- O que é a infância? — É uma ilha que emerge ràpidamente. ... ... Ouviu-se então, e sabe-se lá donde vinha, uma canção de embalar: dorme dorme meu menino dorme no mar dos sargaços que mais vale o mar a pino que as serpentes dos meus braços E então a paisagem alongou-se extraordinariamente, enquanto os cavalos marinhos acenavam com grandes lenços vermelhos. ... Comuniquei estas e outras experiências a um homem magro que aparece por aí e disse-lhe que, se eu desaparecesse, desejava que fossem aos Açores (dei as indicações necessárias) e numa ilha, que nomeei, escavassem a rocha, depondo nela a última prova de laboratório: um negativo em que, por detrás das asas, figura um objecto de solidão.
Mário Cesariny (Antologia do Cadáver Esquisito)
Antes de concluir este capítulo, fui à janela indagar da noite por que razão os sonhos hão de ser assim tão tênues que se esgarçam ao menor abrir de olhos ou voltar de corpo, e não continuam mais. A noite não me respondeu logo. Estava deliciosamente bela, os morros palejavam de luar e o espaço morria de silêncio. Como eu insistisse, declarou-me que os sonhos já não pertencem à sua jurisdição. Quando eles moravam na ilha que Luciano lhes deu, onde ela tinha o seu palácio, e donde os fazia sair com suas caras de vária feição, dar-me-ia explicações possíveis. Mas os tempos mudaram tudo. Os sonhos antigos foram aposentados, e os modernos moram no cérebro da pessoa. Estes, ainda que quisessem imitar os outros, não poderiam fazê-lo; a ilha dos sonhos, como a dos amores, como todas as ilhas de todos os mares, são agora objeto da ambição e da rivalidade da Europa e dos Estados Unidos.
Machado de Assis (Dom Casmurro)