Homem Mais Velho Quotes

We've searched our database for all the quotes and captions related to Homem Mais Velho. Here they are! All 31 of them:

O tempo, nas relações, não anda necessariamente de trás para a frente, do passado para o futuro. É fácil verificar que uma mulher nova pode ser muito mais velhas do que um velho, e que um homem de idade impressionante pode ser uma criança. Nas relações, o tempo comporta-se de maneira diferente. O único relógio que mede o passar destes tempos são os sentimentos.
Afonso Cruz (Jesus Cristo Bebia Cerveja)
Oh, sim! O Tempo está de volta; O Tempo reina como um rei agora; e junto dele aquele velho homem com seu arsenal demoníaco de Memórias, Arrependimentos, Espasmos, Medos, Ansiedades, Pesadelos, Raivas, e Neuroses. Eu lhe asseguro que os segundos são mais fortes agora, solenemente acentuados, e cada um, saltando do relógio, diz assim, Eu sou a Vida, intolerável, implacável!
Charles Baudelaire (Paris Spleen)
- Julga, por acaso, que o homem seja capaz de fazer alguma coisa a não ser por propósitos egoístas? - Julgo. - É impossível que assim seja. Quando ficar velho, compreenderá que a coisa mais necessária para tornar este mundo um lugar tolerável é reconhecer o inevitável egoísmo da humanidade.
W. Somerset Maugham
E, no caminho para casa, obcecado com esta visão, tentei analisar minha súbita tristeza, dizendo para mim: o que eu vi foi o próprio quadro do velho homem de letras que sobreviveu a geração que ele, outrora, brilhantemente entreteu; do velho poeta sem amigos, sem família, sem crianças, degradado pela sua pobreza e pela ingratidão do público, de pé na tenda que o ingrato mundo não mais deseja entrar!
Charles Baudelaire (Paris Spleen)
- Sim, é talvez tudo uma ilusão... E a Cidade a maior ilusão! Tão facilmente vitorioso redobrei de facúndia. Certamente, meu Príncipe, uma ilusão! E a mais amarga, porque o Homem pensa ter na Cidade a base de toda a sua grandeza e só nela tem a fonte de toda a sua miséria. (...) Na Cidade perdeu ele a força e beleza harmoniosa do corpo, e se tornou esse ser ressequido e escanifrado ou obeso e afogado em unto, de ossos moles como trapos, de nervos trémulos como arames, com cangalhas, com chinós, com dentaduras de chumbo, sem sangue, sem febra, sem viço, torto, corcunda - esse ser em que Deus, espantado, mal pode reconhecer o seu esbelto e rijo e nobre Adão! Na Cidade findou a sua liberdade moral: cada manhã ela lhe impõe uma necessidade, e cada necessidade o arremessa para uma dependência: pobre e subalterno, a sua vida é um constante solicitar, adular, vergar, rastejar, aturar; e rico e superior como um Jacinto, a Sociedade logo o enreda em tradições, preceitos, etiquetas, cerimónias, praxes, ritos, serviços mais disciplinares que os de um cárcere ou de um quartel... A sua tranquilidade (bem tão alto que Deus com ela recompensa os santos ) onde está, meu Jacinto? Sumida para sempre, nessa batalha desesperada pelo pão, ou pela fama, ou pelo poder, ou pelo gozo, ou pela fugidia rodela de ouro! Alegria como a haverá na Cidade para esses milhões de seres que tumultuam na arquejante ocupação de desejar - e que, nunca fartando o desejo, incessantemente padecem de desilusão, desesperança ou derrota? Os sentimentos mais genuinamente humanos logo na Cidade se desumanizam! Vê, meu Jacinto! São como luzes que o áspero vento do viver social não deixa arder com serenidade e limpidez; e aqui abala e faz tremer; e além brutamente apaga; e adiante obriga a flamejar com desnaturada violência. As amizades nunca passam de alianças que o interesse, na hora inquieta da defesa ou na hora sôfrega do assalto, ata apressadamente com um cordel apressado, e que estalam ao menor embate da rivalidade ou do orgulho. E o Amor, na Cidade, meu gentil Jacinto? Considera esses vastos armazéns com espelhos, onde a nobre carne de Eva se vende, tarifada ao arratel, como a de vaca! Contempla esse velho Deus do Himeneu, que circula trazendo em vez do ondeante facho da Paixão a apertada carteira do Dote! Espreita essa turba que foge dos largos caminhos assoalhados em que os Faunos amam as Ninfas na boa lei natural, e busca tristemente os recantos lôbregos de Sodoma ou de Lesbos!... Mas o que a cidade mais deteriora no homem é a Inteligência, porque ou lha arregimenta dentro da banalidade ou lha empurra para a extravagância. Nesta densa e pairante camada de Idéias e Fórmulas que constitui a atmosfera mental das Cidades, o homem que a respira, nela envolto, só pensa todos os pensamentos já pensados, só exprime todas as expressões já exprimidas: - ou então, para se destacar na pardacenta e chata rotina e trepar ao frágil andaime da gloríola, inventa num gemente esforço, inchando o crânio, uma novidade disforme que espante e que detenha a multidão como um monstrengo numa feira. Todos, intelectualmente, são carneiros, trilhando o mesmo trilho, balando o mesmo balido, com o focinho pendido para a poeira onde pisam, em fila, as pegadas pisadas; - e alguns são macacos, saltando no topo de mastros vistosos, com esgares e cabriolas. Assim, meu Jacinto, na Cidade, nesta criação tão antinatural onde o solo é de pau e feltro e alcatrão, e o carvão tapa o céu, e a gente vive acamada nos prédios como o paninho nas lojas, e a claridade vem pelos canos, e as mentiras se murmuram através de arames - o homem aparece como uma criatura anti-humana, sem beleza, sem força, sem liberdade, sem riso, sem sentimento, e trazendo em si um espírito que é passivo como um escravo ou impudente como um Histrião... E aqui tem o belo Jacinto o que é a bela Cidade! (...) -Sim, com efeito, a Cidade... É talvez uma ilusão perversa!
Eça de Queirós (A Cidade e as Serras)
É claro que tudo o que sabemos, incluindo o que respeita à dialéctica da natureza, sabêmo-lo por intermédio do nosso cérebro, das nossas ideias e da nossa praxis social, determinados pelas nossas condições sociais. Mas este facto evidente em nada impede que possamos saber – e verificar, e ver confirmado por provas práticas múltiplas – que a vida é mais velha do que o pensamento humano; que a terra é mais velha do que a vida; que o universo é mais velho do que a terra; que todo o movimento é um movimento independente da acção e da existência do homem ou do seu espírito; que o próprio pensamento humano é o produto desse movimento; o pensamento é a matéria que toma conhecimento dela própria. É este o sentido que tem a noção: “dialéctica materialista”.
Ernest Mandel (Introdução ao marxismo)
Ponto final dos paneleiros de sobretudo inglês que a levavam a almoçar ao Serendipity, e nos velhos industriais de cosméticos devassos com a baba a escorrer pelo queixo à mesa do jantar de cem dólares no Le Pavillon. Não, chegara enfim a figura que durante tantos anos povoara os seus sonhos, um homem capaz de ser bom para a mulher e os filhos... um judeu. E que judeu! Primeiro come-a, e depois, logo a seguir, desliza pelo corpo dela acima e começa a falar e a explicar coisas, a fazer juízos a torto e a direito, a indicar-lhe que livros há-de ler e em quem há de votar, a dizer-lhe como deve e não deve viver-se a vida. «Como é que sabes?», costumava ela perguntar, desconfiada. «Quer dizer, isso é só a tua opinião, mais nada.» «Qual opinião qual quê - não é a minha opinião, menina, é a verdade.»
Philip Roth (Portnoy’s Complaint)
Ian permaneceria na aldeia por alguns dias, para se certificar de que Hiram e o povo de Pássaro estavam de comum acordo. No entanto, Jamie não estava absolutamente certo de que o senso de responsabilidade de Ian fosse sobrepujar seu senso de humor - de certa forma, o senso de humor de Ian tendia para o lado dos índios. Uma palavra da parte de Jamie poderia, portanto, vir a calhar, só por precaução. - Ele tem mulher - Jamie disse a Pássaro, indicando Hiram com um movimento da cabeça, o qual agora estava empenhado em uma conversa séria com dois dos índios mais velhos. - Acho que ele não gostaria de uma mulher em sua cama. Ele pode ser indelicado com ela, não compreendendo o gesto de cortesia. - Não se preocupe - Penstemon disse, ouvindo a conversa. Olhou para Hiram e seu lábio curvou-se com desdém. - Ninguém iria querer um filho DELE. Agora, um filho SEU, Matador-de-Urso... - Ela lhe lançou um longo olhar por baixo das pestanas e ele riu, saudando-a com um gesto de respeito. Era uma noite perfeita, fria e revigorante, e a porta foi deixada aberta para que o ar pudesse entrar. A fumaça da fogueira erguia-se reta e branca, fluindo na direção do buraco no teto, seus fantasmas móveis parecendo espíritos ascendendo de alegria. Todos haviam comido e bebido ao ponto de um agradável estupor, e houve um silêncio momentâneo e uma difusa sensação de paz e felicidade. - É bom para os homens comerem como irmãos - Hiram observou para Urso-em-Pé, em seu titubeante tsalagi. Ou melhor, tentou. E afinal, Jamie refletiu, sentindo suas costelas rangerem sob a tensão, era realmente uma diferença muito pequena entre "como irmãos" e "seus irmãos". Urso-em-Pé deu um olhar pensativo a Hiram e afastou-se disfarçadamente para longe dele. Pássaro observou isso e, após um momento de silêncio, virou-se para Jamie. - Você é um homem muito engraçado, Matador-de-Urso - ele repetiu, sacudindo a cabeça. - Você venceu.
Diana Gabaldon (A Breath of Snow and Ashes (Outlander, #6))
Tocou a campainha da porta. — Adeus — despediu-se Subdinski. Demorei-me aqui na conversa e são capazes de precisar de mim na repartição. — Não vás ainda — pediu Oblomov. — Queria pedir-te conselho. Tive dois aborrecimentos... — Não, não, volto outro dia mais cedo e depois conversamos — disse o visitante, saindo do quarto. «Está metido nisto até às orelhas», pensou Oblomov, vendo-o partir. «Está cego, surdo e mudo a tudo o que não seja a repartição. Mas há-de progredir, chegará a ser um tipo importante e mais tarde ou mais cedo há-de alcançar um alto cargo no funcionalismo... Está destinado a fazer carreira! Mas é a ruína de um homem: não se carece nem de inteligência, nem de vontade, nem de sensibilidade; essas coisas são consideradas meros luxos! Chegará a velho sem ter conhecido sequer o que a vida tem de melhor. E trabalha do meio-día às cinco na repartição, das oito até ao meio-dia em casa... Desgraçado homem!» Apoderou-se dele uma pacífica satisfação à ideia de que podia ficar na cama das nove da manhã às três da tarde e das oito da noite às nove da manhã, e sentiu-se orgulhoso por não ter necessidade de ir todos os dias a uma repartição qualquer redigir relatórios ou preencher minutas, por lhe ser possível dar pulso livre aos seus sentimentos e à sua imaginação.
Ivan Goncharov (Oblomov)
Aproximávamo-nos agora da floresta enquanto a estrada ia descrevendo uma volta quando demos pelas pegadas de um homem. Depois de outro homem que trazia botas. As marcas mostravam ligeiros sinais de chuva e parámos o carro para ver melhor a pé. - Tu e eu – disse a Ngui. - Sim – disse ele com um sorriso – Um deles tem pés grandes e caminha como se estivesse cansado. - Um está descalço e anda como se a espingarda fosse pesada demais para ele. Pára o carro – disse a Mthuka. Descemos. - Olha – disse Ngui. – Um anda como se fosse muito velho e mal pudesse ver. O que está calçado. - Olha – disse eu – O que está descalço anda como quem tem cinco mulheres e vinte vacas. Gastou uma fortuna em cerveja. - Não vão chegar a lado nenhum – disse Ngui – Olha, o que vai calçado anda como se fosse morrer de um momento para o outro. Vai a cambalear com o peso da espingarda. - Que achas que andam a fazer por estes lados? - Como é que hei-de saber? Olha, o dos sapatos agora está mais forte. - Está a pensar na shamba – disse Ngui. - Kwenda na shamba. - Ndio – confirmou Ngui – Que idade dás tu ao mais velho, o dos sapatos? - Não tens nada com isso – disse eu. Dirigimo-nos para o carro e quando ele se aproximou subimos e eu indiquei a Mthuka a orla da floresta. O condutor ria-se e abanava a cabeça. - Que é que andavam os dois ali a fazer a seguir as vossas pegadas? – disse Miss Mary – Já sei que era muito engraçado porque todos se estavam a rir. Mas pareceu-me bastante parvo
Ernest Hemingway (True at First Light)
- Ora bem, minha filha, ouve-me. Muitas vezes, as jovens julgam-se notáveis, imagens encantadoras, figuras ideais, e inventam ideias fantasiosas sobre os homens, sobre os sentimentos, sobre o mundo. Depois atribuem inocentemente a um indivíduo as qualidades com que sonharam e confiam nele. Amam no homem da sua escolha aquela criatura imaginária, mas mais tarde, quando já não há hipótese de se libertarem da infelicidade, a enganadora aparência que elas embelezaram, o seu primeiro ídolo, transforma-se, por fim, num esqueleto odioso. Julie, preferia saber-te apaixonada por um velho a ver-te amar o coronel. Ah, se pudesses imaginar-te daqui por dez anos, darias valor à minha experiência! Conheço Victor: a sua alegria é uma alegria sem alma, uma alegria de caserna. Não tem talento e é perdulário. É daqueles homens que o céu criou para tomar e digerir quatro refeições por dia, dormir, amar à primeira vista e desinteressar-se. Não entende a vida. O seu bom coração, porque tem bom coração, levá-lo-á provavelmente a oferecer a sua bolsa a um infeliz, a um camarada, mas é negligente, mas não é dotado da delicadeza de coração que nos torna escravos da felicidade de uma mulher, mas é ignorante, egoísta... São demasiados mas. - No entanto, meu pai, precisou de talento e de recursos para se tornar coronel... - Minha querida, Victor será coronel toda a vida. Ainda não conheci ninguém que me parecesse digno de ti - replicou o velho pai com algum entusiasmo. Parou um momento, olhou para a filha e acrescentou: - Mas, minha pobre Julie, és ainda muito jovem, muito frágil, muito delicada para suportar as tristezas e as preocupações do casamento. D'Aiglemont foi mimado pelos pais, tal como tu o foste pela tua mãe e por mim. Como esperar que possam entender-se um ao outro quando possuem caracteres tão diferentes, cujos caprichos serão inconciliáveis? Serás vítima ou impiedosa. Qualquer das alternativas comporta semelhante grau de infelicidade na vida de uma mulher. Mas és delicada e modesta, serás a primeira a submeter-se. Enfim - exclamou, com a voz alterada -, possuis uma delicadeza de sentimentos que será ignorada, e então... Não conseguiu terminar, as lágrimas dominaram-no.
Honoré de Balzac (A Woman Of Thirty)
Anahata chakra desperta no cérebro refinando as emoções e seu despertar é caracterizado por um sentimento universal de amor ilimitado por todos os seres. Claro que existem muitas pessoas no mundo que praticam bondade e caridade, mas eles têm egoísmo. Sua caridade não é uma expressão espiritual e de compaixão do Anahata chakra, ele é compaixão humana. Quando você tem compaixão humana você abrir hospitais e centros de alimentação ou então, dar roupas, dinheiro e medicina por caridade, mas é caridade humana. Como podemos ver a diferença entre caridade humana e caridade espiritual? Na caridade humana, há sempre um elemento de egoísmo. Se eu quiser fazer-te um hindu dando-lhe coisas, esta é uma manifestação da caridade humana. Ou se eu quiser fazer-te meus seguidores eu posso mostrar-lhe uma grande bondade, mas a bondade humana. No entanto, quando Anahata desperta todas as suas ações são controladas e governadas por altruísmo e você desenvolve compaixão espiritual. Você entende que o amor não envolve negociação, é livre de expectativa. Toda forma de amor é contaminada pelo egoísmo, mesmo o amor que você tem com Deus, porque você está esperando alguma coisa Dele. Talvez, neste mundo, o amor com um mínimo de egoísmo é um amor de mãe. Claro que não é totalmente altruísta, mas porque o sacrifício de uma mãe é tão grande, seu amor tem um mínimo de egoísmo. ... Uma vez um santo tinha quase concluído esta peregrinação, e estava carregando uma vasilha cheia de água do Ganges. No momento em que ele entrou no recinto do templo, onde foi para o banho Shivalingam , encontrou um burro que estava desesperadamente precisando de água. Imediatamente ele abriu o seu recipiente e deu água para o burro. Seus companheiros de viagem gritaram, "Ei, o que você está fazendo? Você trouxe essa água de tão longe para dar banho ao Senhor Shiva e quando chega aqui você o dá a um animal ordinário!" Mas o santo não viu dessa forma. Sua mente estava trabalhando em uma freqüência diferente e mais elevada. Aqui está outro exemplo: uma vez Senhor Buda estava indo para um passeio à noite. Ele deparou-se com um homem velho e ficou muito comovido pelo sofrimento da velhice. Em seguida ele viu uma pessoa morta, e novamente ele ficou muito comovido. Quantas vezes é que vamos ver homens velhos? Será que ficaremos comovidos como ele ficou? Não, porque as nossas mentes são diferentes. O despertar de um chakra altera a freqüência da mente e imediatamente influencia o nossos relacionamentos com as pessoas no dia-a-dia e o nosso ambiente.
Satyananda Saraswati (Kundalini Tantra)
Stendhal, desde infância, amou as mulheres sensualmente; projetou nelas as aspirações de sua adolescência; imaginava-se de bom grado salvando de algum perigo uma bela desconhecida e conquistando-lhe o amor. Chegando a Paris, o que desejava mais ardentemente era "uma mulher encantadora; nós nos adoraremos, ela conhecerá minha alma"... Velho, escreve na poeira as iniciais das mulheres que mais amou. "Creio que foi o devaneio que preferi a tudo", confia-nos ele. E são imagens de mulheres que lhe alimentaram os sonhos; a lembrança delas anima as paisagens. "A linha de rochedos aproximando-se de Arbois, creio, e vindo de Dôle pela estrada principal, foi para mim uma imagem sensível e evidente da alma de Métilde." A música, a pintura, a arquitetura, tudo o que amou, amou-o com uma alma de amante infeliz; quando passeia em Roma, a cada página, uma mulher aparece; nas saudades, nos desejos, nas tristezas, nas alegrias que elas suscitaram-lhe, conheceu o gosto do próprio coração; a elas é que deseja como juizes. Freqüenta-lhes os salões, procura mostrar-se brilhante aos seus olhos, deveu-lhes suas maiores felicidades, suas penas; foram sua principal ocupação. Prefere seu amor a toda amizade e sua amizade à dos homens; mulheres inspiram seus livros, figuras de mulheres os povoam; é em grande parte para elas que escreve. "Corro o risco de ser lido em 1900 pelas almas que amo, as Mme Roland, as Mélanie Guibert..." As mulheres foram a própria subsistência de sua vida. De onde lhe veio esse privilégio? Esse terno amigo das mulheres, e precisamente porque as ama em sua verdade, não crê no mistério feminino; nenhuma essência define de uma vez por todas a mulher; a idéia de um "eterno feminino" parece-lhe pedante e ridículo. "Pedantes repetem há dois mil anos que as mulheres têm o espírito mais vivo e os homens, mais solidez; que as mulheres têm mais delicadeza nas idéias e os homens, maior capacidade de atenção. Um basbaque de Paris que passeava outrora pelos jardins de Versalhes concluía, do que via, que as árvores nascem podadas." As diferenças que se observam entre os homens e as mulheres refletem as de sua situação. Por exemplo, por que não seriam as mulheres mais romanescas do que seus amantes? "Uma mulher com seu bastidor de bordar, trabalho insípido que só ocupa as mãos, pensa no amante, enquanto este galopando no campo com seu esquadrão é preso se faz um movimento em falso." Acusam igualmente as mulheres de carecerem de bom senso. "As mulheres preferem as emoções à razão; é muito simples: como em virtude de nossos costumes vulgares elas não são encarregadas de nenhum negócio na família, a razão nunca lhes ê útil.. . Encarregai vossa mulher de tratar de vossos interesses com os arrendatários de duas de vossas propriedades; aposto que as contas serão mais bem feitas do que por vós." Se a História revela-nos tão pequeno número de gênios femininos é porque a sociedade as priva de quaisquer meios de expressão: "Todos os gênios que nascem mulheres estão perdidos para a felicidade do público; desde que o acaso lhes dê os meios de se revelarem, vós as vereís desenvolver os mais difíceis talentos." O pior handicap que devem suportar é a educação com que as embrutecem; o opressor esforça-se sempre por diminuir os que oprime; é propositadamente que o homem recusa às mulheres quaisquer possibilidades. "Deixemos ociosas nelas as qualidades mais brilhantes e mais ricas de felicidade para elas mesmas e para nós." Aos dez anos, a menina é mais fina e viva do que seu irmão; com vinte, o moleque é homem de espírito e a moça "uma grande idiota desajeitada, tímida e com medo de urna aranha"; o erro está na formação que teve. Fora necessário dar à mulher exatamente a mesma instrução que se dá aos rapazes.
Simone de Beauvoir (The Second Sex)
Enquanto eu crescia, via minhas amigas passarem por vários meninos, um após o outro, e sempre acharem uma razão para descartá-los, se sentindo insatisfeitas, frustradas ou usadas. Eu olhava para elas e pensava que não queria ser assim. E essas meninas, elas estão todas solteiras agora, e parece que vão continuar assim para sempre, porque estão sempre em busca do príncipe encantado. Elas têm uma imagem de quem ele é, como ele é, o que ele faz e como se comporta. E é uma fantasia, uma total fantasia. As mesmas besteiras que falam para as mulheres desde... sempre. Príncipe encantado. O homem perfeito. O boneco Ken. O espécime perfeito. O Solteirão. O marido ideal. Porque esses caras, os incrivelmente bonitos, os charmosos, os que viram seu mundo de cabeça para baixo, os que parecem bons demais para ser verdade, bem, eles costumam ser bons demais para ser verdade. É uma outra palavra para conquistador, uma descrição mais apropriada. Sociopata. É impressionante quantas mulheres se apaixonam por caras assim, caem no mesmo papo, mil e uma vezes, e então amaldiçoam o dia em que o conheceram. O jogo da sedução... é um dos truques mais velhos que existem. E na realidade é o que é: Um jogo de sorte. Sabe aquele jogo em que uma pessoa coloca uma pedra ou uma bolinha embaixo de um de três ou quatro copos e os embaralha sem parar até você adivinhar sob qual copo a pedra está? Observe os copos se moverem e tente adivinhar qual contém o homem certo. Jogue este jogo e você vai perder. Sempre. É certo. Ninguém quer acreditar que está ligado ao outro, especialmente no amor. Porque isso dói pra cacete. Talvez mais do que qualquer outra coisa no mundo. Te atinge no peito. Te faz sentir enjoada. Te faz sentir burra. Muito, muito burra. Então a melhor coisa que alguém tem a fazer numa situação destas é: Fingir que não foi pega de surpresa. Fingir que sempre soube de tudo. Fingir que nunca aconteceu. Começar tudo outra vez. E desta vez, dizer para si mesmas, nunca mais. Nunca vou cair no mesmo truque de novo. Mas vão. Vão cair porque não sabem o que querem da vida e, até saberem, estão fadadas a repetir padrões de tempos em tempos, destinadas a repetir os mesmos erros. Porque estão buscando uma fantasia inalcançável. Ou o homem perfeito. O marido perfeito. O amante perfeito. E a vida não é assim. Realmente não é. Não é mesmo. Pessoas não são assim. E isso não se aplica somente a mulheres. Homens são vítimas de seu próprio autoengano também. Os mais sensíveis, pelo menos. Os que são evoluídos o suficiente para pensar em mulheres como mais do que apenas um receptáculo para seu gozo. Às vezes, eles são muito evoluídos. Eles pensam muito. Eles colocam as mulheres em um pedestal, idealizam a companheira perfeita num nível que ninguém pode atingir. Pelo menos, eu sei que eu não posso. E para mim, isso apenas parece ser a receita para uma vida de decepção e relacionamentos fracassados. De procurar incessantemente pela pessoa certa e sempre acabar com a errada. Muito errada. Este é o jogo do amor. Um jogo em que todos perdem. Você vai dizer, isso é horrível. Eu digo, realista. Eu não estou dizendo que não acredito em amor, porque eu acredito. E, se duvidar, sou capaz de admitir que é a única coisa em que eu acredito. Nada de Deus, dinheiro, pessoas. Somente no amor. E eu não estou sugerindo que ninguém abaixe seu nível de exigência, ou se contente com pouco. Longe disso.
Sasha Grey (The Juliette Society (The Juliette Society, #1))
- Mas um homem não deixa de ser homem, quando morre? Não deixa de ser homem quando morre, não senhor; lembras-te do nosso avô?, o nosso avô era um cão velho entre flores, e morreu assim, como um cão velho a apreciar as flores, e a gente agora lembra-se dele porque era um velho sem deixar de ser homem, sem deixar de apreciar as coisas que fazem a vida de um homem, a valentia, isso era como as flores para os cães velhos, os cães velhos dos campos, quando pressentem que estão à morte, procuram as terras onde há flores para morrerem mais à vontade, a valentia é isso e um homem deixa de ser homem quando perde essa valentia, valente é o homem que está cheio de medo daquilo que lhe vai acontecer, mas avança, é como o cão a avançar para as flores, ele sabe que vai morrer mas procura o sítio ideal para morrer; quando um homem está para morrer as pessoas devem respeitar isso. O cão quando vai a caminho das flores, deixa um rasto pela terra porque vai de patas abatidas, o homem também o deixa, como o avô; ora não é verdade que estamos pràqui a falar dele e já faz uma porção de tempo que ele foi enterrado?
Armando Baptista-Bastos
Curioso notar as diferentes formas de morrer, o gradiente completo entre resignação e desespero. No extremo da resignação, pensemos num cachorro morrendo de velho. Ele se recolhe num canto de muro, embaixo de um arbusto, e fica em silêncio, com os olhos tristes, rosnando pra qualquer ser vivo que se aproxime, até que morre, deitadinho. No extremo do desespero, não há como não lembrar de um porco sendo carneado. Porcos sendo carneados berram enlouquecidamente até o último instante possível. É um espetáculo chocante, mas inspirador. Já as ovelhas morrem sempre em silêncio, mesmo que seja na ponta da faca. Morrem com o orgulho que nenhum homem jamais terá no instante da morte. Elefantes morrem de maneira mais racional: vão até os cemitérios de elefante, morrer resignados, mas já no lugar certo, poupando os vivos da imagem de sua morte. Seres humanos morrem de forma mais irracional: vão para um hospital, extrair inúteis e moribundos instantes de vida, multiplicando a dor de todos os envolvidos, nutrindo um pouco mais a angústia de todos nós.
Daniel Galera (Dentes Guardados)
Se o indivíduo cede ao menor choque das circunstâncias, é porque o estado em que a sociedade se encontra fez dele uma vítima sob medida para o suicídio. Vários fatos confirmam essa explicação. Sabemos que o suicídio é excepcional na criança e que diminui no velho que chega aos últimos limites da vida; é que, em ambos, os homem físico tende a tornar-se o homem todo. A sociedade ainda está ausente da criança, que ela não teve tempo de formar à sua imagem; começa a retirar-se do velho ou, o que dá na mesma, ele se retira da sociedade. Por conseguinte, eles se bastam mais. Tendo menos necessidade de se completar com outra coisa que não eles próprios, ambos também estão menos sujeitos a sentir falta do que é necessário para viver.
Émile Durkheim (Suicide: A Study in Sociology)
Quando fosse homem, caminharia assim, pesado, cambaio, importante, as rosetas das esporas tilintando. Saltaria no lombo de um cavalo brabo e voaria na catinga como pé de vento, levantando poeira. Ao regressar, apear-se-ia num pulo e andaria no pátio assim torto, de perneiras, gibão, guarda-peito e chapéu de couro com barbicacho. O menino mais velho e Baleia ficariam admirados.
Graciliano Ramos (Vidas secas)
Jesus, o benfeitor amorável, convoca cooperadores para o saneamento das esferas sombrias do mundo espiritual. O Espiritismo inaugurou a era em que se abrem as portas para que o homem encarnado enxergue a extensão de sua família espiritual pelos sagrados laços da alma. Bem-aventurado o servidor do bem que acende uma tocha de luz nas furnas da escuridão. Bem-aventuradas as caravanas da bondade que se desprendem do corpo material durante a noite para secar as lágrimas dos atormentados pela solidão. Padecimentos mentais e dores da alma são aliviados nos espíritos sofridos quando os raios da oração alcançam os tenebrosos vales do desespero. Velhos grilhões da obsessão são rompidos ao propiciar aos vingadores enlouquecidos um momento de sossego. Que o manto luminoso de Maria de Nazaré recaia sobre os umbrais e transforme a dor em renascimento no berço carnal. Nossos laços afetivos têm raízes concretas com os abismos astrais, arquivados em nossa vida mental. Ampliemos nossos conceitos arraigados para entendermos as realidades que se desenrolam nas furnas da maldade organizada. Lá, onde reside nossa família espiritual, também é a casa de Deus. A regeneração planetária tão desejada é uma estrada luminosa que passa pelos desfiladeiros expiatórios. Um mundo melhor depende da canalização da misericórdia celestial para esses lugares de tanta carência e desorientação. Nesse momento, em que os tutores celestes lançam seus olhares e suas ações para que as trevas sejam iluminadas pela força do amor, os aprendizes do Evangelho são chamados para se alistarem nas frentes destemidas de trabalho e socorro. A inclusão espiritual dos umbrais é insubstituível medida de amor para os tempos novos da Terra. A luz raiou nas mais insensíveis organizações da maldade, anunciando os tempos novos até para aqueles que têm o coração voltado para a tirania e o ódio. “O povo que estava assentado em trevas viu uma grande luz;”. A mediunidade cristã, orientada pela caridade e pela abnegação, constitui-se numa ponte entre o céu e o inferno, unindo planos distintos da vida numa dinâmica de apoio e redenção. Que a coragem dos trabalhadores espíritas transponha o muro dos conceitos endurecidos e permita que muitas frentes de serviço e socorro estendam generosas oferendas de consolo, alívio, esperança e luz aos queridos irmãos paralisados nesses lugares sombrios. Se Jesus Se encontra nessa tarefa de purificar os pântanos astrais, na base da atual transição planetária, nós, que dizemos amá-Lo, devemos seguir Seus passos. Apressemo-nos em oferecer nossa humilde colaboração. Que o Mestre nos permita depositar sobre a mesa espiritual de muitos grupos mediúnicos, em sintonia com essa proposta de amor, o pergaminho que celebre a parceria na ampliação das frentes de serviço pela regeneração de nossa casa terrena. Muita paz aos meus filhos amados e que o Senhor da vinha lhes cubra de alegrias no esforço de cada dia.
Wanderley Oliveira (O lado oculto da Transição Planetária)
Fiquei a olhar durante algum tempo para a cabra e para os amantes absortos, e depois fui até ao cais, onde um velho marinheiro idiota, de barba branca, estava sentado com os pés dentro de água. O seu olhar fixo num Argos distante era o de um homem que esperava avistar o velo de ouro. Na sua solidão, no seu sonho de amor ou de ausência de amor, os que se perdem vão sempre ter à beira de água. Na imensa deriva da noite, o estertor da agonia dos aflitos é abafado pelo rumor da mais pequena ondulação. O espírito, vazio de tudo, excepto do rumor das ondas, serena. Rolando com as águas, a alma até então atormentada desdobra as asas. As águas da terra! Que nivelam, sustentam, reconfortam! Águas baptismais! A seguir à luz, são elas o elemento mais misterioso da criação. Tudo passa com o tempo. As águas ficam.
Henry Miller
O solo era arenoso, um céspede brilhante e líquido brotava entre as raízes do tojo, e nada mais comovente para Amélia do que o ruído dos passos que pisavam a agulha seca, a gorda folhagem da chorina, a açucarada contextura da areia pálida e húmida. Ela marchava devagar, com o seu ligeiro pisar, próprio das pessoas a quem o movimento assusta e que vivem sedentariamente; era a segunda vez que andava sozinha no pinhal circundado por esteios de pedra onde se prendia velho arame farpado; e, como acontece com as mulheres caprichosas, gostava de contemplar‑se no seu retrato bucólico e triste, guardando, porém, no fundo do coração, a certeza duma breve comédia e dum desfrute da natureza sem qualquer convicção. Quando se extrai uma surpresa duma insignificância, isso equivale a receber uma lição gratuita aparentemente, mas em cujo acaso não se acredita. Tal é a alma do homem — duvida sempre da simplicidade dos factos sucedidos no âmbito do seu próprio ser; o natural não acontece senão no reino bruto, a razão não nos incita ao que é natural, mas ao que é possível.
Augustina Bessa Luis
O filho perdido e o filho fiel: o "filho pródigo — 11Disse ainda: "Um homem tinha dois filhos. 12O mais jovem disse ao pai: 'Pai, dá-me a parte da herança que me cabe'. E o pai dividiu os bens entre eles. 13Poucos dias depois, ajuntando todos os seus haveres, o filho mais jovem partiu para uma região longínqua e ali dissipou sua herança numa vida devassa. 14E gastou tudo. Sobreveio àquela região uma grande fome e ele começou a passar privações. 15Foi, então, empregar-se com um dos homens daquela região, que o mandou para seus campos cuidar dos porcos. 16Ele queria matar a fome com as bolotas que os porcos comiam, mas ninguém lhas dava. 17E caindo em si, disse: 'Quantos empregados de meu pai têm pão com fartura, e eu aqui, morrendo de fome! 18Vou-me embora, procurar o meu pai e dizer-lhe: Pai, pequei contra o Céu e contra ti; 19já não sou digno de ser chamado teu filho. Trata-me como um dos teus empregados'. 20Partiu, então, e foi ao encontro de seu pai. Ele estava ainda ao longe, quando seu pai viu-o, encheu-se de compaixão, correu e lançou-se-lhe ao pescoço, cobrindo-o de beijos. 21O filho, então, disse-lhe: 'Pai, pequei contra o Céu e contra ti; já não sou digno de ser chamado teu filho'.22Mas o pai disse aos seus servos: 'Ide depressa, trazei a melhor túnica e revesti-o com ela, ponde-lhe um anel no dedo e sandálias nos pés. 23Trazei o novilho cevado e matai-o; comamos e festejemos, 24pois este meu filho estava morto e tornou a viver; estava perdido e foi reencontrado!' E começaram a festejar. 25Seu filho mais velho estava no campo. Quando voltava, já perto de casa ouviu músicas e danças. 26Chamando um servo, perguntou-lhe o que estava acontecendo. 27Este lhe disse: 'É teu irmão que voltou e teu pai matou o novilho cevado, porque o recuperou com saúde'. 28Então ele ficou com muita raiva e não queria entrar. Seu pai saiu para suplicar-lhe. 29Ele, porém, respondeu a seu pai: 'Há tantos anos que eu te sirvo, e jamais transgredi um só dos teus mandamentos, e nunca me deste um cabrito para festejar com meus amigos. 30Contudo, veio esse teu filho, que devorou teus bens com prostitutas, e para ele matas o novilho cevado!' 31Mas o pai lhe disse: 'Filho, tu estás sempre comigo, e tudo o que é meu é teu. 32Mas era preciso que festejássemos e nos alegrássemos, pois esse teu irmão estava morto e tornou a viver; ele estava perdido e foi reencontrado!
Various (Bíblia de Jerusalém: Bíblia Sagrada)
Na Valáquia, um homem que assinava como Wladislaus Dragwlya foi aclamado pelo papa e por metade da Cristandade pelas suas vitórias contra Mehmed II em 1459 e 1462. Este líder cristão vivera em rapaz na corte otomana como refém enviado pelo pai, juntamente com o irmão mais novo. O irmão convertera-se ao Islão e servira os Otomanos; o mais velho aprendera o Corão e turco, mas virara-se contra o Islão. Mais conhecido hoje como Drácula, ou Vlad, o Empalador, revelou-se um tremendo combatente de guerrilha e uniu a Transilvânia contra os invasores, sobrevivendo ao cativeiro na Hungria antes de morrer em batalha na Roménia em 1467. No entanto, o seu deleite em executar prisioneiros, criminosos e rivais por empalação abalou-lhe a popularidade. A dado momento, Drácula tinha expostos em torno da sua capital 20 mil inimigos moribundos e mortos, varados pelo ânus com estacas afiadas. Os boiardos, príncipes locais, começaram a sentir que uma ocupação muçulmana relativamente humana talvez fosse preferível a uma liberdade cristã paranoica e sádica.
Andrew Marr (História do Mundo (Vol. 4))
Os dois professores que esperávamos entraram logo depois, e fomos os quatro juntos para a salinha do jantar, onde encontramos o jovem de quem já me falara. Fizeram-lhe rasgados cumprimentos e o trataram com um respeito tão profundo quanto o de um escravo ao seu senhor; perguntei a causa a meu gênio, que me respondeu que era por sua idade, porque naquele mundo os velhos rendiam toda espécie de honra e deferência aos jovens; mais ainda, que os pais obedeciam a seus filhos tão logo que, na opinião do Senado dos filósofos, tivessem atingido a idade da razão. “Espantai-vos”, continuou ele, “com um hábito tão contrário ao de vosso país? Todavia ele não repugna à sã razão, pois, em consciência, dizeime, quando um homem jovem e ardente possui a força de imaginar, julgar e executar, não é mais capaz de cuidar de uma família do que um fraco sexagenário? Este pobre embotado, cuja neve dos sessenta invernos enregelou a imaginação, guia-se pelo exemplo dos felizes resultados e todavia foi a sorte que os tornou possíveis contra todas as regras e toda a administração da prudência humana. Quanto ao julgamento, ele também é pouco, embora o comum dos homens em vosso mundo faça dele um apanágio da velhice; e para tirá-lo do engano, ele precisa saber que o que se chama prudência num velho não é mais do que um temor pânico, um medo horrível, que o obseda de empreender alguma coisa. Assim, meu filho, quando não enfrentou um perigo no qual um jovem se lançou, não é porque tivesse prejulgado a catástrofe, mas porque não possuía fogo suficiente para acender esses nobres impulsos que nos fazem ousar, e a audácia naquele jovem era como um penhor da vitória de seu desígnio, porque aquele ardor que faz a prontidão e a facilidade de uma execução era a que o impelia a empreendê-la. Quanto ao fato de executar, eu faria injustiça a vosso espírito se me esforçasse por convencê-lo com provas. Sabeis somente que a juventude é própria para a ação; e se não estais totalmente persuadido disso, dizei-me, peço-vos, quando respeitais um homem corajoso, não será porque ele pode vingar-vos de vossos inimigos ou de vossos opressores? Por que então ter-lhe ainda consideração senão pelo hábito, quando um batalhão de setenta janeiros tiver gelado seu sangue e o frio todos os nobres entusiasmos que animam as pessoas jovens diante da justiça? Quando tendes consideração pelo forte, não será para que vos seja agradecido por uma vitória de que não poderíeis disputar-lhe? Por que então submeter-vos a ele quando a preguiça tiver abatido seus músculos, debilitado suas artérias, evaporado seus espíritos e sugado a medula dos seus ossos! Se adorásseis uma mulher, não seria pela sua beleza? Por que então continuar as vossas genuflexões depois que a velhice fez dela um fantasma a ameaçar de morte os que estão vivos? Enfim, quando honráveis um homem de espírito, era porque com a vivacidade de seu gênio compreendia uma questão complicada e a esclarecia, porque distraía com sua fala elegante uma assembléia de elite, porque ordenava as ciências com um só pensamento, e porque nunca uma bela alma teve mais violentos desejos de a ele se assemelhar. E, contudo, continuais a homenageá-lo, quando seus órgãos gastos tornam sua cabeça imbecil e pesada e quando, em meio a um grupo, parecia mais, pelo seu silêncio, a estatueta de um Deus lar do que um homem capaz de pensar.
Cyrano de Bergerac (Voyage dans la Lune)
Ode no cinquentenário do poeta brasileiro Esse incessante morrer que nos teus versos encontro é tua vida, poeta, e por ele te comunicas com o mundo em que te esvais. Debruço-me em teus poemas e nelo percebo as ilhas em que nem tu nem nós habitamos (ou jamais habitaremos!) e nessas ilhas me banho num sol que não é dos trópicos, numa água que não é das fontes mas que ambos refletem a imagem de um mundo amoroso e patético. Tua violenta ternura, tua infinita polícia, tua trágica existência no entanto sem nenhum sulco exterior – salvo tuas rugas, tua gravidade simples, a acidez e o carinho simples que desbordam em teus retratos, que capturo em teus poemas, são razões por que te amamos e por que nos fazes sofrer… Certamente não sabias que nos fazes sofrer. É didícil explicar esse sofrimento seco, sem qualquer lágrima de amor, sentiment de homens juntos, que se comunicam sem gesto e sem palavras se invadem, se aproximam, se compreendem e se calam sem orgulho. Não é o canto da andorinha, debruçada nos telhados da Lapa, anunciando que a tua vida passou à toa, à toa. Não é o médico mandando exclusivamente tocar um tango argentino, diante da escavação no pulmão esquerdo e do pulmão direito infiltrado. Não são os carvoeirinhos raquíticos voltando encarapitados nos burros velhos. Não são os mortos do recife dormindo profundamente na noite. Nem é tua vida, nem a vida do major veterano da guerra do Paraguai, a de Bentinho Jararaca ou a de Christina Georgina Rossetti: és tu mesmo, é tua poesia, tua pungengente, inefável poesia, ferindo as almas, fogo celeste, ao visitá-las; é o fenômeno poético, de que te constituíste o misterioso portador e que vem trazer-nos na aurora o sopro quente dos mundos, das armadas exuberantes e das situaçãoes exemplares que não suspeitávamos. Por isso sofremos: pela mensagem que nos confias entre ônibus, abafada pelo pregão dos jornais e mil queixas operárias; essa insistente mas discreta mensagem que, aos cinquenta anos, poeta, nos trazes; e essa fidelidade a ti mesmo com que nos apareces sem uma queixa, no rosto entretanto experiente, mão firme estendida para o aperto fraterno - o poeta acima da guerra e do ódio entre os homens -, o poeta ainda capaz de amar Esmeraldas embora a alma anoiteça, o poeta melhor que nós todos, o poeta mais forte - mas haverá lugar para a poesia? Efetivamente o poeta Rimbaud fartou-se de escrever, o poeta Maiakovski suicidou-se, o poeta Schmidt abastece de água o Distrito Federal… Em meio a palavras melancólicas, ouve-se o surdo rumor de combates longínquos (cada vez mais perto, mais, daqui a pouco dentro de nós). E enquanto homens suspiram, combatem ou simplesmente ganham dinheiro, ninguém perecebe que o poeta faz cinquenta anos, que o poeta permanece o mesmo, embora alguma coisa de extraordinário se houvesse passado, alguma coisa encoberta de nós, que nem os olhos traíram nem as mãos apalparam, susto, emoção, enternecimento, desejo de dizer: Emanuel, disfarçado na meiguice elática doa abraços,e uma confiança maior no poeta e um pedido lancinante para que não nos deixe sozinhos nesta cidade em que nos sentimos pequenos à espera dos maiores acontecimentos. Que o poeta nos encaminhe e nos proteja e que o seu canto confidencial ressoe para consolo de muitos e esperança de todos, os delicados e os oprimidos, acima das profissões e dos vãos disfarces do homem. Que o poeta Manuel Bandeira escute este apelo de um homem humilde.
Carlos Drummond de Andrade (Sentimento do Mundo)
Ao abrir a caixa, encontrei um não-sei-quê de metal quase completamente igual aos nossos relógios, cheio de um número infinito de pequenas molas e de maquinismos imperceptíveis. Na verdade, é um livro, mas é um livro milagroso que não possui folhas nem letras; enfim, é um livro em que, para aprender, os olhos são inúteis; só precisamos de orelhas. Portanto, quando alguém deseja ler, com uma grande quantidade de chaves ele liga essa máquina, depois gira a agulha para o assunto que deseja ouvir, e ao mesmo tempo sai desse bojo, como da boca de um homem ou de um instrumento de música, todos os sons distintos e diferentes que servem, entre os grandes habitantes lunares, para a expressão de linguagem. “Quando refleti sobre aquela milagrosa invenção de fazer livros, não mais me espantei ao ver que os jovens daquela região possuíam maiores conhecimentos aos dezesseis e dezoito anos do que os velhos encanecidos da nossa; pois, como sabem ler logo depois de saber falar, não ficam sem leitura; no quarto, ao passear, na cidade, em viagem, a pé, a cavalo, podem ter no bolso, ou dependurados nos arções de suas selas, uns trinta daqueles livros dos quais basta ligar uma mola para ouvir só um capítulo, ou então vários se estão com disposição de escutar um livro inteiro; tendes assim, eternamente ao vosso redor, todos os grandes homens, tanto mortos como vivos, que vos entretêm de viva voz.
Cyrano de Bergerac (Voyage dans la Lune)
Era um rio podre, contudo eu ainda via alguma graça ali onde ele fazia a curva, no modo peculiar daquela curva, penso que a curva é o gesto de um rio. E assim o reconheci, como às vezes se reconhece num homem velho o trejeito infantil, mais lento apenas.
Chico Buarque (Leite derramado (Portuguese Edition))
Leonardo tirou partido do saber transmitido através do mundo muçulmano – por exemplo, na ótica – e da riqueza trazida para a Europa meridional pelas novas rotas comerciais. A Europa cristã progredira não apenas mediante os seus próprios esforços, mas devido a mudanças para lá das suas fronteiras, da aniquilação por Gengis Khan do centro do Islão asiático até às invenções produzidas na China sob a dinastia Song e um novo pensamento acerca de Deus e do mundo que surgiu em Al-Andalus. Leonardo não se tornou somente o arquétipo do homem renascentista, mas também do espírito europeu no que tinha de mais ousado e optimista. Contudo, o Ocidente evoluiu do seu velho estatuto de diversidade lamacenta muito antes de ele ter pegado pela primeira vez num pincel. Estava agora pronto para explodir para o exterior.
Andrew Marr (História do Mundo (Vol. 3))
As árvores são como nunca vi no Velho Mundo. Tão altas que parecem tocar na porta do Paraíso. Animais de muitas cores e formas, e estes índios. Como pode o Espanhol, Português, Francês ou quem quer que seja fazer-lhes mal? O Homem é um animal ainda mais perigoso do que os que se escondem dentro desta sombria vegetação…" Excerto do diário de Frei Bartolomeu de Las Casas
Fernando Fernandes (Paititi - O Último Segredo dos Incas)
Mais tarde, numa hora de calma, um novo e estranho pensamento fulminou-me o espírito como um raio e, subitamente, veio-me à mente outra explicação. Suponhamos que várias pessoas estejam falando de um homem desconhecido. Suponhamos ainda que fiquemos surpresos ao ouvir algumas dessas pessoas dizerem que tal homem é demasiadamente alto, enquanto outros afirmam ser ele muito baixo; uns censuram sua excessiva gordura, e outros criticam-nos pela sua magreza; uns julgam-no sombrio e circunspecto, ao passo que outros julgam-no extrovertido. Uma explicação possível, já cogitada: talvez esse homem tivesse uma compleição deveras estranha; há, porém, outra maneira de explicar o caso. Talvez ele não tivesse nada de estranho. Os homens excessivamente altos consideravam-no baixo; os homens muito baixos consideravam-no alto. Os velhos mercadores, que frequentemente engordam, achá-lo-iam magro, ao passo que os esbeltos achá-lo-iam tão gordo a ponto de ultrapassar os estreitos limites da elegância. Talvez os suecos o chamassem de moreno, enquanto os negros o julgariam loiro. Talvez, resumindo, o que era considerado extraordinário não passasse de uma coisa comum; pelo menos normal, o centro. Talvez, depois de tudo, o Cristianismo é que fosse o são, e os seus críticos, os loucos – de diversas maneiras. Tentei, então, investigar a exatidão dessa ideia, perguntando a mim mesmo se haveria, à volta de qualquer dos acusadores, algo de mórbido que pudesse justificar essa acusação. Fiquei espantado ao constatar que a chave ajustava-se perfeitamente à fechadura. Por exemplo, era de fato estranho que o mundo moderno acusasse o Cristianismo por ter austeridade com o corpo e, ao mesmo tempo, por ter refinamento artístico. Também era estranho, muito estranho mesmo, que o próprio mundo moderno procurasse conciliar a excessiva luxúria carnal com a excessiva ausência de refinamento artístico. O homem moderno considerava demasiadamente ricas as vestes de [São Tomás] Becket e demasiadamente pobres as suas refeições. Mas, neste caso, o homem moderno seria, realmente, uma exceção na História: nenhum homem tinha, anteriormente, degustado tão lautos jantares, vestindo roupas tão feias. O homem moderno considerava a Igreja demasiadamente simples, exatamente porque a vida moderna é demasiadamente complexa; ele julga a Igreja demasiadamente faustosa, porque a vida moderna é tão destituída de brilho. [...] Analisei todos os casos e verifiquei que a chave continuava a ajustar-se perfeitamente. O fato de Swinburne irritar-se com a infelicidade e, ainda mais, com a felicidade dos cristãos era facilmente explicável. [...] As restrições dos cristãos entristeciam-no só porque ele era mais hedonista do que deve ser um homem saudável. A fé dos cristãos enfurecia-o, porque ele era mais pessimista do que um homem saudável deve ser. Da mesma forma, os malthusianos atacavam, instintivamente, o Cristianismo, não porque haja qualquer coisa especialmente antimalthusiana no Cristianismo, mas porque há alguma coisa um pouco anti-humana no Malthusianismo.
G.K. Chesterton (Orthodoxy)
Sim, meus senhores, o homem inteligente do século xix deve, é sua obrigação moral, ser uma criatura, por excelência, sem caráter; afinal, o homem com caráter, o homem de ação, é uma criatura por excelência limitada. É a minha convicção, aos quarenta anos de idade. Tenho agora quarenta anos e, afinal, quarenta anos é toda uma vida; a rigor, é a velhice mais acabada. Viver mais de quarenta anos é indecente, vulgar, imoral! Quem é que vive mais de quarenta anos? Respondam com sinceridade, com honestidade. Vou lhes dizer quem é que vive: os imbecis e os canalhas. Eu digo isso na cara de todos os mais velhos, todos esses velhos respeitáveis, todos esses velhos perfumados e de cabelos cor de prata! Vou dizer isso na cara de todo mundo! Tenho o direito de falar assim, porque eu mesmo vou viver até os sessenta. Vou viver até os setenta! Vou viver até os oitenta!… Esperem um pouco! Deixem-me tomar fôlego…
Fyodor Dostoevsky (Memórias do subsolo (Portuguese Edition))