Filme Ela Quotes

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as fotografias não mentem - esse instante existiu mesmo. Porém, a mentira consiste em pensa que esse instante é eterno, que dois amantes felizes e abraçados numa fotografia ficaram para sempre felizes e abraçados. (...) fotografias antigas: se alguma coisa que elas reflectem, não é a felicidade, mas sim a traição - quanto mais não seja, a traição do tempo, a traição daquele mesmo instante em que ali ficámos aprisionados no tempo. Suspensos e felizes, como se a felicidade se pudesse suspender carregando no botão "pausa" do filme da vida.
Miguel Sousa Tavares (No teu deserto)
Segundo algumas teorias, o universo que vivenciamos é apenas uma superfície quadridimensional em um espaço com dez ou onze dimensões. O filme Interestelar dá uma ideia de como isso funcionaria. Nós não veríamos essas dimensões extras porque a luz não se propagaria por elas, mas apenas pelas quatro dimensões do nosso universo.
Stephen Hawking (Buracos Negros: Palestras da BBC Reith Lectures)
Seja como for, as pessoas dedicadas à religião não querem reconhecer a realidade que contradiz o seu conto de fadas. Se realmente vivermos num universo sem Deus, elas perdem o emprego. O fluxo de dinheiro estagna. Por outro lado, há pessoas que escolhem viver a sua vida de uma forma completamente egocêntrica e homicida. Essas sentem que, se nada importa e elas podem fazer o que querem sem sofrer consequeências, vão fazê-lo. Mas também podemos ver as coisas de outra maneira: estamos nós e os outros todos, vivos e num barco salva-vidas, e temos de fazer as coisas da maneira mais decente possível para nós e para eles. A mim parece-me que esta seria uma forma de viver muito mais morale "cristã": reconhecermos a terrível verdade da existência humana e, perante isso, ainda escolhermos ser humanos decentes em vez de nos iludirmos sobre a existência de uma qualquer recompensa paradisíaca ou um qualquer castigo infernal. Parecia-me uma atitude muito mais nobre. Se há recompensa, castigo ou qualquer tipo de pagamento e agimos bem, então não estamos a fazer por razões muito nobres - os chamados princípios cristãos. É como os bombistas suicidas que agem alegadamente de acordo com princípios religiosos ou nacionais bastante nobres quando, na verdade, as suas famílias recebem uma recompensa em dinheiro e congratulam-se com um legado heróico - já para não falar da promessa de virgens para os perpetradores, embora me passe completamente ao lado como é que alguém prefere um grupo de virgens a uma mulher altamente experiente.
Woody Allen (Conversations with Woody Allen: His Films, the Movies, and Moviemaking)
Ele voltou para a cama, se deitou ao lado dela e lhe beijou o rosto. Ela estava triste antes, depois do filme, mas agora estava feliz. Estava nas mãos de Connell fazê-la feliz. Era algo que ele poderia simplesmente dar a ela, como dinheiro ou sexo.
Sally Rooney (Normal People)
Minhas primeiras experiências com amor, basicamente, foram com meus pais. Então o conceito de amor em si veio através da doutrinação da igreja no começo dos anos 50. Passei por uma porção de mudanças desde então. Mas olhando para quem nós somos como espécie, o amor parece realmente ser a única resposta. Então como alimentar isso? Como isso se desenvolve nos seres humanos? Em nossas ações, particularmente. Muitas vezes, eu penso em 'A ponte de San Luis Rey [The Bridge of San Luis Rey - cinco pessoas numa ponte, todas são mortas por um terremoto. O romance de Thornton Wilder e o filme de Mary McGuckian, de 2004, perguntam se suas mortes foram parte de algum plano cósmico ou meros acidentes]. Parece não haver nenhuma razão particular para elas estarem lá. A enfermeira, no final - creio eu que era uma freira -, esta cuidando de todas as outras vítimas e de repente pensa: E se não existir Deus? Então ela olha em torno e diz para si mesma: Eles precisam de sua ajuda de um jeito ou de outro, e volta diretamente para o trabalho. Essa é a beleza da coisa.
Martin Scorsese (Conversations with Scorsese)
Sim, devo ter sentido a pergunta sobre quais as formas de arte maiores e menores. Há uma corrente única de vida que atravessa todo o existente – incluídas portanto também as pedras. Mas tem sentido graduarem-se as formas que ela manifestar. Enquanto vida, ela é igual no homem ou numa minhoca. Mas diferencia-se pela sua complexidade. Não há menos arte, enquanto arte, numa tela de Rembrandt e numa cerâmica de Estremoz. Mas a complexidade de ambos fala uma voz diferente nesse ser complexo. E se compararmos um género de arte com outro? Um quadro com uma música ou um romance com um bailado, ou um filme com uma catedral? Onde se demarca a complexidade ou a carga humana que suportam? Qual deles diz mais? Qual deles diz melhor? Em que parte de nós isso se diferencia? Isso se afere? Não me perguntes. Porque a resposta está apenas no saldo que em ti ficou no que em ti existiu para elas. E ninguém sabe se o saldo maior não foi simplesmente o da música de um cego numa esplanada ao sol...
Vergílio Ferreira (Pensar)
- Por sorte, esquisitos como ela são raros. Sabemos como podar a maioria deles quando ainda são brotos, no começo. Não se pode construir uma casa sem pregos e madeira. Se você não quiser que se construa uma casa, esconda os pregos e a madeira. Se não quiser um homem politicamente infeliz, não lhe dê os dois lados de uma questão para resolver; dê-lhe apenas um. Melhor ainda, não lhe dê nenhum. Deixe que ele se esqueça de que há uma coisa como a guerra. Se o governo é ineficiente, despótico e ávido por impostos, melhor que ele seja tudo isso do que as pessoas se preocuparem com isso. Paz, Montag. Promova concursos em que vençam as pessoas que se lembrarem da letra das canções mais populares ou dos nomes das capitais dos estados ou de quanto foi a safra de milho do ano anterior. Encha as pessoas com dados incombustíveis, entupa-as tanto com "fatos" que elas se sintam empanzinadas, mas absolutamente "brilhantes" quanto a informações. Assim, elas imaginarão que estão pensando, terão uma sensação de movimento sem sair do lugar. E ficarão felizes, porque fatos dessa ordem não mudam. Não as coloque em terreno movediço, como filosofia ou sociologia, com que comparar suas experiências. Aí reside a melancolia. Todo homem capaz de desmontar um telão de tevê e montá-lo novamente, e a maioria consegue, hoje em dia está mais feliz do que qualquer homem que tenta usar a régua de cálculo, medir e comparar o universo, que simplesmente não será medido ou comparado sem que o homem se sinta bestial e solitário. Eu sei porque já tentei. Para o inferno com isso! Portanto, que venham seus clubes e festas, seus acrobatas e mágicos, seus heróis, carros a jato, motogiroplanos, seu sexo e heroína, tudo o que tenha a ver com reflexo condicionado. Se a peça for ruim, se o filme não disser nada, estimulem-me com o teremim, com muito barulho. Pensarei que estou reagindo à peça, quando se trata apenas de uma reação tátil à vibração. Mas não me importo. Tudo que peço é um passatempo sólido.
Ray Bradbury (Fahrenheit 451)
– Como está indo o seu seminário sobre desastres de carros? – Já examinamos centenas de colisões. Carros com carros. Carros com caminhões. Caminhões com ônibus. Motos com carros. Carros com helicópteros. Caminhões com caminhões. Meus alunos acham que esses filmes são proféticos. Que ilustram a tendência suicida da tecnologia. O impulso de suicidar-se, a sede incontrolável de suicídio. – O que você diz a eles? – De modo geral, são filmes classe B, feitos para a televisão, para passar em autocines do interior. Digo aos meus alunos que não devem procurar o apocalipse nesses filmes. Vejo esses desastres como parte de uma velha tradição de otimismo norte-americano. São eventos positivos, afirmativos. Cada desastre tenta ser melhor que o anterior. Há um aperfeiçoamento constante de instrumentos e perícia, desafios enfrentados. O diretor diz: “Quero uma jamanta virando duas cambalhotas e produzindo uma bola de fogo alaranjada com diâmetro de doze metros que dê para iluminar a cena”. Digo aos meus alunos que, se eles querem pensar em termos de tecnologia, têm que levar isso em conta, essa tendência a realizar atos grandiosos, a correr atrás de um sonho. – Um sonho? E como seus alunos reagem? – Igualzinho a você. “Um sonho?” Tanto sangue, vidro quebrado, borracha cantando? Tanto desperdício, tantos indícios de uma civilização em decadência? – E aí? – Aí eu lhes digo que o que eles estão vendo não é decadência, e sim inocência. O filme deixa de lado a complexidade das paixões humanas para nos mostrar uma coisa fundamental, cheia de fogo, barulho e ímpeto. É uma realização conservadora de desejos, uma ânsia de ingenuidade. Queremos voltar à pureza. Queremos voltar para trás na trajetória da experiência da sofisticação e das responsabilidades que ela implica. Meus alunos dizem: “Veja quantos corpos esmagados, membros amputados. Que raio de inocência é essa?”. – E o que você diz a eles? – Que não consigo encarar um desastre de carros num filme como um ato violento. É uma comemoração. Uma reafirmação de valores e crenças tradicionais. Eu associo esses desastres a feriados nacionais, como o Dia de Ação de Graças e o Dia da Independência. Nós não choramos os mortos nem celebramos milagres. Vivemos numa era de otimismo profano, de autocelebração. Vamos melhorar, prosperar, nos aperfeiçoar. Veja qualquer cena de desastre de carro de filme americano. É um momento de alegria, como uma cena de equilibrismo, de corda bamba. As pessoas que criam esses desastres conseguem captar uma serenidade, um prazer ingênuo do qual os acidentes de carro dos filmes estrangeiros não chegam nem perto. – O negócio é enxergar além da violência. – Justamente. Enxergar além da violência, Jack. E ver esse espírito maravilhoso de inocência e ludismo.
Don DeLillo (White Noise)
A maior dádiva dos escritores e roteiristas é exatamente essa: poder reescrever a própria vida como ela realmente deveria ter acontecido
Paula Pimenta (Fani em busca do final feliz (Fazendo meu filme, #4))
Todos nós somos capazes de perceber a tristeza no olhar do outro. Não permita que esta pessoa vá embora sem saber que você se importa. Caso ela não queira conversar sobre o assunto naquele momento, há outras formas para dizer que você está ali. Compre uma barra de chocolate, convide para almoçar ou jantar em um restaurante, assistam filmes divertidos ou simplesmente abrace-a sem lhe dizer uma palavra. Você não terá dito absolutamente nada, mas ela entenderá. Pois são as nossas ações que realmente importam.
Mikaela H
O que ela precisa são histórias. As histórias são uma forma de se preservar. Para ser lembrado. E para esquecer. As histórias vêm em muitas formas: em carvão e em canções, em pinturas, poemas, filmes. E livros. Livros, ela descobriu, são uma maneira de viver mil vidas - ou de encontrar força em uma vida muito longa.
V. E. Schwab
Como feminista, naturalmente quero perceber com clareza o modo como a defesa de certos privilégios penetra insidiosamente os mais diversos discursos, inclusive o literário. Quero distinguir os valores masculinos hegemônicos daqueles universais, se é que estes existem. No entanto, como mulher formada por essa cultura, preciso admitir que sou parte dela, que não há modo objetivo de isolar minha consciência feminina de todo o resto. Em outras palavras, não só ler literatura escrita por homens mas também ler como um homem — já que tantos livros foram escritos para eles — são experiências constitutivas do modo como entendo a mim mesma e o mundo. Para uma mulher, crescer em uma cultura predominantemente masculina significa ocupar um lugar esquisito, em que é preciso se tensionar entre sujeito e objeto. As narrativas a que somos expostas frequentemente nos esticam (ou nos dilaceram) entre duas práticas e atitudes: entre, de um lado, o gesto de calçar os sapatos de personagens e autores homens, vivendo — como leitoras, ouvintes e espectadoras — suas aventuras e desventuras, e, de outro, o movimento de nos colocarmos no nosso devido lugar, à parte desse mundo mágico ou, no caso heterossexual, na posição secundária de objetos de desejo dos sujeitos. A diferença entre querer ser e querer ter é só aparentemente simples. Eu me lembro bem do dia em que percebi o que há no meio do caminho. Tinha uns dezessete anos e estava no corredor da Faculdade de Direito, conversando com alguns dos rapazes da turma. Um deles fez, então, alguma piada grosseira e logo me pediu desculpas por falar aquilo na frente de uma garota. Outro colega, porém, disse para ele relaxar: “A Ligia é como a gente, não tem problema”. Eu queria, sim, ser como a gente — poder fazer e ouvir piadas grosseiras etc. —, mas também queria, e muito, ser como as garotas diante de quem não se fazem piadas grosseiras. Eram elas, afinal, que eles queriam beijar. No meu caso — uma menina nerd que gostava de submergir nos livros e no cinema, e que ouvia muito Bob Dylan e Chico Buarque —, romances, poemas, filmes e canções contribuíram bastante para eu viver esse lugar esquisito, de querer ser tanto o aventureiro que atravessa 2 mil quilômetros escondido em vagões de trem quanto a mulher fatal que faz com que ele finalmente se descuide e acabe morto. Queria ser o herói que tinha um cavalo que falava inglês e também a noiva do caubói. Ainda quero.
Ligia Gonçalves Diniz (O homem não existe: Masculinidade, desejo e ficção)
A falta de interesse pelo conhecimento gera ignorância, o que vemos berrante no cristianismo. Se trouxesse um cristão congelado da época de Jesus, como naqueles filmes da Sessão da Tarde, ele seria uma pessoa bem atualizada no que tange Deus, cristianismo, mas seria um completo retardado em tudo. Desde finanças, políticas e ciência básica, mas seria um homem de Deus, e poderia sem problemas concorrer ao cargo de presidente do país, com chances de ganhar somente berrando “Fiquem com Deus”, e soltar ocasionalmente passagens da bíblia.
Jorge Guerra Pires (Seria a Bíblia um livro científico?: Por que a Bíblia Sagrada não deve ser levada a sério e como argumentar contra ela (Inteligência Artificial, Democracia, e Pensamento Crítico) (Portuguese Edition))
Quando eu ouvi a estória de Noé, eu jurava que ele era o herói, similar à chinesa, de um homem defendendo a humanidade de um Deus covarde. Eu mantive essa visão positiva de Noé até iniciar meus estudos que gerou esse livro. Um dia comecei a pesquisar, pensando em Noé como o herói da estória e fiquei sem entender nada: Noé ficou do lado de Deus. Isso nunca daria um filme de Hollywood. Superman abriu mão de sua família para defender a terra. Em um dos filmes, Superman quebra o pescoço do general Zod que queria testar até que ponto Clark Kent (Kalenji) iria com sua fidelidade ao humanos. Ao se incapaz de parar o raio mortal do general Zod, ele toma a decisão de matar o general, que era sua única família de verdade. Esse tipo de problema aparece na filosofia, e tem sido inclusive fruto de experimentos. Como exemplo, um experimento famoso, pessoas precisam decidir se desencarrilham um trem matando todos no trem para salvar uma pessoa no trilho. O experimento evolve dois cenários: um com uma pessoa com nome similar à pessoa que decide, e outro com nome de alguma nação historicamente inimiga. Eles até acham um hormônio expressado no momento da decisão, seria “o hormônio da camaradagem”.
Jorge Guerra Pires (Seria a Bíblia um livro científico?: Por que a Bíblia Sagrada não deve ser levada a sério e como argumentar contra ela (Inteligência Artificial, Democracia, e Pensamento Crítico) (Portuguese Edition))
No filme, The Matrix, Neo finalmente encontra o criador da Matrix. Neo era “o escolhido”, e teria de definir quem vivia e quem morreria. Ele deveria aceitar a morte de todos, em nome de reiniciar a Matrix. O criador o colocou na condição de que ele decidiria o futuro de todos, em nome de uma causa maior, que seria reiniciar a Matrix rumo a uma Matrix. Similar fábula de Noé, o criador queria limpar a Matrix do fato de que deu errado de novo, e ele já havia feito isso antes, e dera errado também. O criador, decepcionado com sua criação, já havia destruído antes a Matrix. A Matrix era uma mentira contada aos habitantes. Eles vivem felizes, enquanto as máquinas os usavam como bateria humana. Neo, diferente dos outros, fez uma escolha diferente: ele voltou, não fugiu que nem Noé, covarde. Noé juntou algumas peças de animais e sua família, e ficou caladinho.
Jorge Guerra Pires (Seria a Bíblia um livro científico?: Por que a Bíblia Sagrada não deve ser levada a sério e como argumentar contra ela (Inteligência Artificial, Democracia, e Pensamento Crítico) (Portuguese Edition))
No filme Amelia 2.0 , Amelia é trazida de volta à vida usando inteligência artificial [118] . O filme, uma ficção científica sobre inteligência artificial, possui duas provocações. O filme brinca com estudos que sugerem que será possível transmitir consciência para redes neurais artificiais (o chatGPT é feito de redes neurais artificiais). Ver meu livro “ Redes Neurais em termos simples (pensamento computacional): como aprendemos, pensamos e modelamos ”. Primeiro, um senador religioso faz de tudo para barrar o projeto, o que ocorre no momento com células-tronco. Ele usa argumentações religiosas, similar ao que fazem quando querem barrar algo como estudos em células-troncos e aborto. Para mim, esse filme serve como uma reflexão futurística, mas bem real. Quando a religião invade o campo da ciência, e quer servir como tutela da ciência, isso nunca funciona. A ciência tem mecanismos éticos próprios, e são constantemente revisados e atualizados. Esses mecanismos éticos são baseados em discussões, não em imposições estáticas e atemporais.
Jorge Guerra Pires (Seria a Bíblia um livro científico?: Por que a Bíblia Sagrada não deve ser levada a sério e como argumentar contra ela (Inteligência Artificial, Democracia, e Pensamento Crítico) (Portuguese Edition))
Pelos arredores da Casa da Cultura existia um cinema pornô em que eu ia para dormir, porque o calor que fazia, na minha idade, sabe o calor, quando a minha tia me trazia do interior para um passeio, outro passeio, para o curso de datilografia, quando eu vim viver um tempo com ela, na Boa Vista, não tive medo de enfrentar os inferninhos refrigerados, a fila dos sertanejos em pé, atrás das poltronas manchadas, eu dormia, no começo, durante o filme, é verdade, mas deixava que repousassem em mim os paus dos mulatos, vendedores de roletes de cana, os camelôs de relógios, os baixinhos do córrego, hoje, juro, eu me sinto vingado, os cinemas, todos morreram, eu continuo vivo, e rio.
Marcelino Freire (Nossos Ossos)
A Manuela dissonava ao abraçar os antagonismos longe da frente. Enamorava-se sem estorvos por um E Tudo o Vento Levou, com as senhoras apresadas nos estilhaços das escaramuças dos homens. Abalava-se com um Casablanca, em que a subordinação face a outro povo traz um fantasma nostálgico que lamuria o hino da França. Cantarolava, de olhos gotejados, todo o Música No Coração, onde a perfídia nazi desalojava o núcleo central do filme. Tudo isto açucaradamente envolto em histórias de amor intemporais (simplórias), traziam-lhe distensões aos lábios, aparições de dentes alvos, clap clap, prantos de comoção. Para a Manuela a guerra não era mestiere de tecnologia, estratégia, tanques, carnificina, estropiados, tripas e sangue. Para a Manuela, também a guerra era um assunto de mulheres – cartas, lágrimas, saudade. A guerra era o reflexo no semblante da enfermeira, sombrio, inconfessado, a nuvem nos seus olhos, as vigílias de cotovelos no parapeito a aguardar o regresso do soldado. Às vezes a tua mãe resultava-me bastante obtusa. Então fi-la implodir e, como consequência, quase me vi sem ela. Não me tinha dado conta de que a sua força fosse tão marcescível.
Célia Correia Loureiro (Os Pássaros)
(carta ao cabrão insensível) Meu grandessíssimo cabrão: Escrevo-te para te dizer que és um idiota da pior espécie. Um burgesso. Um monte de bosta. Um pedaço de asno. Poderia, por isso, ficar por aqui nesta missiva – até porque o mais importante já está dito. Mas prefiro explicar-te, pacientemente, porquê. Quando gostares de alguém não tenhas medo. Não sejas cobarde. Não sejas poucochinho. Não te escondas em semi-palavras, em semi-actos. Quando gostares de alguém, vai com tudo, vai contigo todo, com tudo o que és, com tudo o que sentes, com tudo o que tens para dar. Sê romântico, sê piroso, sê incansável, sê sonhador e faz sonhar. Sê utópico – porque não? Faz planos em conjunto, imagina em conjunto. Faz como nos livros, faz como nos filmes: não acredites na treta do impossível, na treta do improvável. Não acredites na treta de que o amor é treta. Essa é a mentira que os toscos inventaram para poderem ser toscos. Vai com quem amas até ao fim do mundo todos os dias. Até à última gota não é uma forma de vida; é a única forma de vida. O resto é merda. Diz que amas se amas. Mostra que amas se amas. “Sim: eu amo” – qual é dificuldade de dizer isto? “Sim: eu quero-te” – qual é a dificuldade de dizer isto? “Sim: eu preciso de ti” – qual é a dificuldade de dizer isto? É tão simples ser feliz por dentro do amor. Tão simples. Basta amar e não temer amar. Amar só dói quando não se ama – qual é a dificuldade de entender isto? Não te escondas de todos os lados de ti. Não vás na cantiga do macho latino, do macho que não está habilitado a sentir – e que por isso tem de ser, por fora, intocável, sempre sólido. Sólidos são os calhaus. Sólidos são os cubos de gelo – e até esses, quando começam a aquecer, se derretem todos. Não queiras ser um bruto só porque te impingiram que tens de ser um bruto. Os brutos tendem a sofrer brutalidades – e a fazer sofrer brutalidades. Os brutos não fazem falta nenhuma ao mundo de ninguém. Os brutos não fazem falta nenhuma ao mundo todo. Se sentes, vai. Se queres, tenta. Se te apetece, inventa. Se um livro te faz chorar: chora. Chora porque és gente, porque és pessoa, porque tens muito mais do que um corpo. Se um abraço te emociona, leva-te nessa emoção, contagia-te e contagia, vai até ao final dos ossos, até ao começo das veias. Se és homem sente – qual é a dificuldade de entender isto? Só não sente quem nem sequer é gente. Esquece os preconceitos. Esquece as frases que te inculcaram como se fossem leis universais. A sociedade que vá dar banho ao cão se por causa dela perdes o que tanto queres. Entre a tua saúde e a saúde da sociedade não hesites: escolhe a tua. A sociedade adapta-se. A sociedade adapta-se sempre. É isso a História da Humanidade, nada mais: as pessoas a escolherem a sua própria sanidade, a escolherem a sua própria felicidade – e a sociedade, diligente, a correr atrás. Não corras atrás dela; deixa que ela corra atrás de ti. E é se quer. Se não quiser deixa-a ficar e vai à tua vida. Vai à tua vida: eis o segredo, eis a fórmula. Vai à tua vida. Quatro palavras, quatro simples palavras, e está tudo dito. Vai à tua vida. Vai sempre à tua vida. É ela que te importa. É sobretudo ela que tem de te importar. A tua vida e a vida de todos aqueles eleitos que fazem parte dela. Trata dela. Trata deles. Concentra-te no que importa. Guarda as forças para o que importa. O resto é merda. Tudo isto para te dizer, talvez já te tenhas esquecido, que és um idiota da pior espécie. Um burgesso. Um monte de bosta. Um pedaço de asno. Creio que já percebeste porquê, certo? Não mereces, por isso, um único pedacinho do meu amor. Mas já o tens todo.
Pedro Chagas Freitas (Prometo Perder)
Hazbin Hotel conta história da filha de Lúcifer que decide salvar as pessoas que estão no inferno. Então ela tenta. Depois de muito esforço, e interferência do pai, ela consegue um encontro com os encarregados de Deus. Um deles é Adão, o mesmo que rejeitou a ela um encontro com Deus. Ela questiona porque essas pessoas não merecem uma segunda chance, e porque essas pessoas são mortas constantemente. Ela fala do projeto, que é um hotel para que as pessoas possam se redimir dos pecados e ir para o paraíso. Na série, os anjos fazem uma limpeza constante no inferno. Ninguém sabe porque, ninguém questiona, os anjos simplesmente dessem para o inferno e descem o cacete em todos. Eles simplesmente matam, e odeiam as pessoas do inferno, sem qualquer motivo claro. Mesmo a filha de Lúcifer mostrando que uma das pessoas no inferno, um homossexual que fazia filmes pornô, mostrara traços de bondade, ainda assim a pessoa é condenada. Mesmo com o julgamento, ela não conseguiu parar a matança no inferno. A série descreve bem as pessoas religiosas.
Jorge Guerra Pires (Ciência para não cientistas: como ser mais racional em um mundo cada vez mais irracional (Vol. II: Religião) (Inteligência Artificial, Democracia, e Pensamento Crítico) (Portuguese Edition))
Eu pergunto a você, leitor(a): quantos filmes, desenhos e músicas você já entrou em contato que contavam a história de um príncipe que se casou com uma monstra e persistiu amando-a até que se tornasse uma princesa encantada? O que meninas e mulheres aprendem com esse tipo de tecnologia de gênero é que depende delas o tipo de homem que elas têm a seu lado e que, caso se esforcem muito, serão capazes de transformar qualquer “perebado” (em qual esfera for) em um príncipe encantado. Não é à toa que mulheres persistem tanto em relações abusivas.
Valeska Zanello (A Prateleira do Amor: Sobre Mulheres, Homens e Relações (Portuguese Edition))
Tenho um amigo cuja companheira, Rosa, era babá para uma família chique do 16º arrondissement de Paris. Mas ela quer ser professora de espanhol. Ela deixa essa família, anunciando sua decisão. Infelizmente seu projeto profissional vai por água abaixo e ela precisa voltar a ser babá. Ela encontra uma nova família em busca de alguém, mas que gostaria de conversar com a família anterior para saber como Rosa se comporta com as crianças, conhecer suas «referências». Ela não pode telefonar para a família que ela abandonou dizendo que está prestes a começar um novo trabalho. Meu amigo me liga para pedir que eu interprete, ao telefone, a mãe da família do 16º. Eu nego — sou péssima atriz. É finalmente Lila, uma outra amiga, que faz o papel ao telefone e que mantém esse diálogo improvável: ela é mãe em uma família com muitos filhos que vive no 16º arrondissement, ela descreve a vida deles, as atividades das crianças, dá detalhes, agrada a interlocutora. Ela entra no jogo dessa vida que ela não tem e que inventa durante a conversa. Na vida, Lila faz filmes que tomam o real de empréstimo, mas que se parecem com ficções. Ao inserir cenas escritas e interpretadas em situações reais, ela busca produzir emoções que os métodos do documentário não conseguiriam obter sozinhos. Essa mistura reorganiza as relações sociais ou joga luz sobre elas de um jeito diferente. Seus personagens desempenham frequentemente atitudes combativas, que recusam as determinações. Essa história de babá é interessante pois coloca Lila em uma situação de escrita e de jogo que ela conhece bem, em que a palavra é colocada numa partilha entre realidade e ficção, abrindo assim pistas políticas. No
Clara Schulmann (Cizânias - Vozes de mulheres (Portuguese Edition))
Ela não me permite contar a história no meu próprio ritmo. É como estar no cinema com uma criança que não te deixa em paz, que quer saber o que acontece em seguida no filme.
Clara Madrigano (Dodge)
A cada dia eu sei de mais coisas sobre as quais nunca saberei, os livros que me fariam um ser humano melhor, os filmes que mudariam minha vida, a melhor de todas as músicas, que nunca ouvirei. Quanto mais estudo, mais descubro a vastidão da minha ignorância. Minha burrice é uma África, minha ingenuidade é uma Ásia, minha estupidez, três Américas. Já minha sabedoria, esta é uma ilha da Páscoa, um pingo de terra firme batido sem piedade pelas ondas da incerteza e fustigado pelos ventos da amnésia, a milhares de quilômetros de qualquer porto seguro, nem mesmo sei ao certo se 'a milhares de quilômetros' se escreve assim, ou se este a tem agá ou crase. Nada disso importa. Só o que importa são teus olhos, tua boca, teu colo, teu corpo, tua presença luminosa que prenuncia um futuro de prazer, de aconchego e de amores incondicionais. Tudo isso foi o que eu pensei, mais ou menos, quando ela sorriu. O que eu disse foi 'estou gostando do curso', bem mais curto.
Jorge Furtado (Trabalhos de Amor Perdidos (Devorando Shakespeare, #1))
O SUICÍDIO É UMA FORMA DE ASSASSINATO – assassinato premeditado. Não é algo que se faz da primeira vez que se pensa em fazer. A gente precisa se acostumar com a ideia. E precisa dos meios, da oportunidade, do motivo. Um suicídio bem-sucedido exige boa organização e cabeça fria, coisas geralmente incompatíveis com o estado de espírito de quem quer se suicidar. É importante cultivar um distanciamento. Uma forma de fazer isso é imaginar-se morta ou morrendo. Havendo uma janela, deve-se imaginar o próprio corpo caindo da janela. Havendo uma faca, deve-se imaginar essa faca penetrando na própria pele. Havendo um trem que já vai chegar, deve-se imaginar o próprio corpo esmagado sob as rodas. Esses exercícios são essenciais para atingir o distanciamento necessário. O motivo é de suma importância. Sem um motivo forte, vai tudo por água abaixo. Meus motivos eram fracos: um trabalho de História Americana que eu não queria fazer e a pergunta que eu me propusera meses antes: “Por que não me matar?”. Morta, eu não precisaria fazer o trabalho. Nem precisaria ficar ponderando aquela pergunta. Essa ponderação me desgastava. Depois que a gente se faz uma pergunta dessas, ela não nos larga mais. Acho que muita gente se mata só para pôr fim ao dilema de se matar ou não. Tudo o que eu pensava ou fazia era imediatamente incorporado ao dilema. Fiz um comentário idiota – por que não me mato? Perdi o ônibus – melhor acabar com tudo. Até o que era bom entrava no jogo. Gostei desse filme – talvez eu não devesse me matar. Na verdade, eu só queria matar uma parte de mim: a parte que queria se matar, que me arrastava para o dilema do suicídio e transformava cada janela, cada utensílio de cozinha e cada estação de metrô no ensaio de uma tragédia. Só fui descobrir tudo isso, porém, depois de engolir cinquenta aspirinas.
Susanna Kaysen (Girl, Interrupted)
Não há falta de oportunidade, tem infinitas maneiras de se ganhar e quanto mais tecnologia mais infinitas maneiras de ganhar se tem. Só que é preciso parar e pensar, aquietar a mente. Não é preciso fazer meditação, não é nada esotérico, não há nada místico, nada disso, é só parar de forçar, se você parar de pensar nos problemas e deixar a mente vagar um pouquinho, escute uma música, veja um filme, tome um banho, se você parar de forçar, de preocupar-se com a coisa, as coisas começam a andar. A ideia que resolverá o problema, ela emergirá nos seus microtúbulos da sinapse e virá para o seu consciente. Lembra a psique que está embaixo na sua mente é única no Universo todo? Então, esta psique sabe que você pode fazer um produto ou prestar um serviço que a outra pessoa ali está precisando e esta mesma psique, a única, ela pode pegar aquela pessoa e colocar uma intuição para que procure algo que você preste o serviço, e aquele fica satisfeito, e você fica satisfeito, ele tem o que precisa e você também tem o que precisa.
Hélio Couto (Soltar, Individuação e Iluminação: Soltar é o maior poder que existe (Portuguese Edition))