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No entanto, há quem viva essa solidão como desamparo, com imenso mal-estar, e que assim recue dela, não podendo vivê-la bem. Por consequência, essas pessoas tendem a excluir o outro, a não ficar na paixão e muito menos no amor, na tentativa de se defender do encontro com a solidão que advém do amor.
No isolamento, então, o sujeito manda o outro embora. Às vezes de modo mais sutil, às vezes de modo mais escrachado, às vezes montando fileiras intermináveis de pessoas que manda embora, ainda que possa não reconhecer que faz isso. Uma pessoa pode se tornar insuportável sem perceber e depois se queixar que o outro nunca fica, sempre vai embora. Essa pessoa se faz ficar sozinha. Outros não se envolvem, ou, quando percebem que estão se envolvendo, dão no pé. Talvez muito do que se tem chamado de ghosting (quando um casal começa a se formar e de repente um deles desaparece completamente, sem nenhuma briga, mal-estar compartilhado ou explicação sobre o sumiço) nos dias de hoje tenha relação com esses isolamentos. Com frequência, um dos integrantes do par, diante do enigma do sumiço do outro, ou mesmo do afastamento do outro ali onde se pensava que as coisas estavam indo muito bem para o laço se estreitar, acha que o que viveu não tocou o possível parceiro, quando foi o contrário: podemos fugir justamente de onde nos sentimos tocados em demasia. Amar é um exercício trabalhoso, nem todos estão dispostos a isso.
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