Fez Quotes

We've searched our database for all the quotes and captions related to Fez. Here they are! All 100 of them:

It's a fez. I wear a fez now. Fezes are cool.
Steven Moffat
River Song: Right then. I have questions, but number one is this - what in the name of sanity have you got on your head? The Doctor: It's a fez. I wear a fez now. Fezzes are cool.
Steven Moffat
. . . You seem upset, Charlie. Is something wrong? Charlie: No, no, I’m okay, I just had to take directions from a mute beaver in a fez to get here, it’s unsettling.
Christopher Moore (A Dirty Job (Grim Reaper, #1))
He could wear hats. He could wear an assortment of hats of different shapes and styles. Boater hats, cowboy hats, bowler hats. The list went on. Pork-pie hats, bucket hats, trillbies and panamas. Top hats, straw hats, trapper hats. Wide brim narrow brim, stingy brim. He could wear a fez. Fezzes were cool. Hadn't someone once said that fezzes were cool? He was pretty aur ether had. And they were. They were cool.
Derek Landy (Kingdom of the Wicked (Skulduggery Pleasant, #7))
O Diabo, invejoso, fez o homem confundir fé com religião e amor com casamento.
Machado de Assis
Woman’s role in creation should be parallel to her role in life. I don’t mean the good earth. I mean the bad earth too, the demon, the instincts, the storms of nature. Tragedies, conflicts, mysteries are personal. Man fabricated a detachment which became fatal. Woman must not fabricate. She must descend into the real womb and expose its secrets and its labyrinths. She must describe it as the city of Fez, with its Arabian Nights gentleness, tranquility and mystery. She must describe the voracious moods, the desires, the worlds contained in each cell of it. For the womb has dreams. It is not as simple as the good earth. I believe at times that man created art out of fear of exploring woman. I believe woman stuttered about herself out of fear of what she had to say. She covered herself with taboos and veils. Man invented a woman to suit his needs. He disposed of her by identifying her with nature and then paraded his contemptuous domination of nature. But woman is not nature only. She is the mermaid with her fish-tail dipped in the unconscious.
Anaïs Nin
Deve-se a construção do convento de Mafra ao rei D. João V, por um voto que fez se lhe nascesse um filho, vão aqui seiscentos homens que não fizeram filho nenhum à rainha e eles é que pagam o voto, que se lixam, com perdão da anacrónica voz.
José Saramago (Baltasar and Blimunda)
Deus, para a felicidade do homem, inventou a fé e o amor. O Diabo, invejoso, fez o homem confundir fé com religião e amor com casamento.
Machado de Assis (Ressurreição (Classicos Da Literatura Brasileira))
É extraordinário! Neste abençoado país todos os políticos têm «imenso talento». A oposição confessa sempre que os ministros, que ela cobre de injúrias, tem, à parte os disparates que fazem, um «talento de primeira ordem»! Por outro lado a maioria admite que a oposição, a quem ela contantemente recrimina pelos disparates que fez, está cheia de «robustíssimos talentos»! De resto todo o mundo concorda que o país é uma choldra. E resulta portanto este facto supracómico: um país governado «com imenso talento», que é de todos na Europa, segundo o consenso unânime, o mais estùpidamente governado! Eu proponho isto, a ver: que, como os talentos sempre falham, se experimentem uma vez os imbecis!
Eça de Queirós (Os Maias)
Dalva poderia tantas coisas se pudesse. Mas só pôde o que fez. Quem vê de fora faz arranjos melhores, mas é dentro, bem no lugar que a gente não vê, que o não dar conta ocupa tudo.
Carla Madeira (Tudo é Rio)
- Com mil raios! - exclamou de repente o Cruges, saltando de dentro da manta, com um berro que emudeceu o poeta, fez voltar Carlos na almofada, assustou o trintanário. O break parara, todos o olhavam suspensos; e, no vasto silêncio da charneca, sob a paz do luar, Cruges, sucumbindo, exclamou: - Esqueceram-me as queijadas!
Eça de Queirós (Os Maias)
Marley fez-me pensar no carácter efémero da vida, nas suas alegrias passageiras e oportunidades perdidas. Fez-me lembrar que só temos uma chance de chegar ao ouro, sem repetições.
John Grogan
Fácil é julgar pessoas que estão sendo expostas pelas circunstâncias. Difícil é encontrar e refletir sobre seus erros, ou tentar fazer diferente algo que já fez muito errado. E é assim que perdemos pessoas especiais
Carlos Drummond de Andrade
Deus fez-nos cheios de buracos na alma e o nosso dever é tapá-los todos para navegar. O homem é um bêbedo sempre encostado à parede ou uma criança a fazer tem-tem. Toda a grandeza é um investimento em nós próprios e é por isso que os grandes têm uma grande solidão.
Vergílio Ferreira
Então Jesus compreendeu que viera trazido ao engano como se leva o cordeiro ao sacrifício, que a sua vida fora traçada para morrer assim desde o princípio dos princípios, e, subindo-lhe à lembrança o rio de sangue e de sofrimento que do seu lado irá nascer e alagar toda a terra, clamou para o céu aberto onde Deus sorria, Homens, perdoai-lhe, porque ele não sabe o que fez.
José Saramago (The Gospel According to Jesus Christ)
Pelos ossos de Deus, Tom, o diabo fez um serviço ruim quando trepou com sua mãe.
Bernard Cornwell (The Archer's Tale (The Grail Quest, #1))
Tenho sonhado mais que o que Napoleão fez. Tenho apertado ao peito hipotético mais humanidades do que Cristo, Tenho feito filosofias em segredo que nenhum Kant escreveu. Mas sou, e talvez serei sempre, o da mansarda, Ainda que não more nela; Serei sempre... o que não nasceu para isso; Serei sempre... só o que tinha qualidades; Serei sempre o que esperou que lhe abrissem a porta ao pé de uma parede sem porta, E cantou a cantiga do Infinito numa capoeira, E ouviu a voz de Deus num poço tapado. Crer em mim? Não, nem em nada.
Fernando Pessoa
A experiência de ser acordada de um sono profundo pela peça – e logo depois lançada a uma certeza tão intensa do poder das mulheres, das pessoas e do mundo, por conta dos movimentos que gerou – fez com que eu, artista, me tornasse ativista política.
V (formerly Eve Ensler) (The Vagina Monologues)
Is anyone ever really the same after being pushed through an opening the size of a donut hole only to end up wearing a fez?
Dakota Cassidy (The Accidental Genie (Accidentally Paranormal #7))
Nunca nada é igual. Nunca nada se repete. O tempo não espera por ninguém e a vida também não. E quem não consegue fazer escolhas, um dia acorda e percebe que a vida já as fez todas, é impossível voltar atrás.
Margarida Rebelo Pinto (O Amor é Outra Coisa)
If Aphrodite chills at home in Cyprus for most of the year, then Fez must be the goddess’s playground.
Raquel Cepeda (Bird of Paradise: How I Became Latina)
‎Chove. Que fiz eu da vida? Fiz o que ela fez de mim... De pensada, mal vivida... Triste de quem é assim!
Fernando Pessoa
O mundo não se fez para pensarnos nele (pensar é estar doente dos olhos) mas para olharmos para ele e estarmos de acordo...
Alberto Caeiro
The Crusaders lead to the Knights Templar; the Knights Templar lead to the Masons; and the Masons lead to the Shriners, a secret society that controls world government, toys with our banking system, and single-handedly keeps the fez industry afloat.
Stephen Colbert (I Am America (And So Can You!))
Title 'Yikin heykellerimi' ->'Destroy and shatter the statues you have built of me' O nation I am Kemal Mustafa If my thoughts and beliefs are not of this day and age If my wisdom isn't still the most authentic mentor Then let my tongue cleave to the roof of my palate I apoligize Forget everything I said Destroy and shatter the statues you have built of me If freedom isn’t still the supreme value If you’d rather have slaves stay chained Forget everything I said Destroy and shatter the statues you have built of me If you see no sense in living a civilized life If you want to be sent back in time to the middle ages and wish to put a crown on the head of a man who spits into the face of art Forget everything I said Destroy and shatter the statues you have built of me If the pain of war violence was not enough If peace at home, peace in the world has no meaning If to be awarded requires an arms race Forget everything I said Destroy and shatter the statues you have built of me If you miss the fez and the veil and prefer to light the night If you’re still hoping to find healing from a dervish, a sheik or an amulet Forget everything I said Destroy and shatter the statues you have built of me If you say women should not be equal to men and should be covered in black sheets in order to flee from the wrath of bigots If you say you don’t want to see our women and daughters to get an education just because you believe this is their fate Forget everything I said Destroy and shatter the statues you have built of me If freedom and democracy is too much for you to handle If you have a longing for the sultan of the Sultanate and are still not able to determine the significance of being a nation Be servants, stay on the path of religion and wait for şeyhülislam to lay down the law for you Forget everything I said Destroy and shatter the statues you have built of me And LEAVE ME ALONE… -Musafa Kemal Atatürk
Suleyman Apaydin
Zionism would free the Arab race from “the veil, the fez, the sickness, the filth, the lack of education.” This narrative of a barbaric Palestine plagued by filth and chaos, as contrasted with an ostensibly pristine and orderly West, has never faded.
Ta-Nehisi Coates (The Message)
Era o que nos contavam. O medo atravessou o tempo e fez parte de nossa história desde sempre.
Itamar Vieira Junior (Torto Arado)
Ela fez uma bagunça completa dentro de mim, que, estranhamente, faz todo sentido do mundo.
A.C. Meyer
Reclamar do tédio é fácil, difícil é levantar da cadeira para fazer alguma coisa que nunca se fez.
Martha Medeiros (Doidas e santas)
Não se fazem mais cimitarras como antigamente Eu sou uma hecatombe Não foi nem Deus nem o Diabo Que me fez um vingador Fui eu mesmo Eu sou o Homem Pênis Eu sou o Cobrador
Rubem Fonseca (O Cobrador)
Raça por mim tão amada, Desta feita morrerás!» Júpiter daí a nada Fez-se menos ferrabrás.
Jean de la Fontaine (Fábulas de La Fontaine (Portuguese Edition))
Fez as glandes a fome saborosas; 150 Água em néctar tornou da sede a ardência.
Dante Alighieri (30 Obras-Primas da Literatura Mundial [volume 1])
Inchallah" (God willing.)- MISCHIEF IN FEZ
Eleanor Hoffmann
O que você fez pela ciência hoje? Pare de fazer coisas por Deus, ele se intitula todo-poderoso, não precisa de você. Faça algo pela ciência, pelo amor de Deus!
Mehmet Murat ildan
Por exemplo, Picasso fez um quadro sobre umas prostitutas, que designou "Les Demoiselles d’Avignon", e desenhou o rosto de uma delas todo deformado. Isto porquê? Porque quis fazer o 'mimesis' da sua alma, não da sua face aparente. A prostituta pode ser bela por fora, mas está podre por dentro.
José Rodrigues dos Santos
A senhora deve saber se sou ou não sou. Sou o que a senhora me fez. Se todos os méritos são seus, a culpa também é; se todos os sucessos são seus, os fracassos também são. Em uma palavra, eu sou isso.
Charles Dickens (Great Expectations)
guardo dela o cheiro de um vestido que ela usava quando me pegou no colo certa vez. era de malha fria e aquele abraço me acolheu como só deitar na grama fez por mim anos depois. mais adiante, procurei o afago em algumas lojas de tecido mas nenhum tinha o pano tão fresco e em todos faltava a pele da minha vó.
Aline Bei (Pequena Coreografia do Adeus)
...e, subindo-lhe à lembrança o rio de sangue e de sofrimento que do seu lado irá nascer e alagar toda a terra, clamou para o céu aberto onde Deus sorria, Homens, perdoai-lhe, porque ele não sabe o que fez.
José Saramago (The Gospel According to Jesus Christ)
Quando falo com ele, só tem memórias para me dizer. Acima de tudo, coisas que não fez. Se não passeou com ele, com o nosso cabritinho, com o Salim, é isso que ele conta. Eu, dantes, julgava que as nossas memórias eram feitas de coisas que tínhamos vivido, mas não. Mas não. O que nos dói são as memórias do que não vivemos.
Afonso Cruz (Para Onde Vão Os Guarda-Chuvas)
Guardar a raiva é envenenar-se. Ela nos consome por dentro. A gente costuma pensar que o ódio é uma arma contra a pessoa que nos fez mal. Mas a lâmina do ódio é curva. E o mal que fazemos com ele, nós fazemos a nós mesmos.
Mitch Albom (As cinco pessoas que você encontra no céu (Portuguese Edition))
Daqui a 50 anos eu ainda vou saber seu nome e vou me lembrar de todas as vezes que você me fez sorrir. Na minha memória, tão congestionada - e no meu coração - tão cheio de marcas e poços - você ocupa um dos lugares mais bonitos.
Caio Fernando Abreu
Podemos ter, na vida, no máximo, uma grande experiência, e o segredo da vida está em repeti-la com a maior frequência possível. A Duquesa fez uma pausa. - Mesmo quando essa experiência nos fere, Harry? -Especialmente quando nos fere.
Oscar Wilde (The Picture of Dorian Gray)
Lo pasé fatal, pero los miedos prestados siempre son más llevaderos que los propios. De ahí que haya tanto fóbico fan del cine
Desirée de Fez (Reina del grito: Un viaje por los miedos femeninos)
De repente do riso fez-se o pranto Silencioso e branco como a bruma E das bocas unidas fez-se a espuma E das mãos espalmadas fez-se o espanto. De repente da calma fez-se o vento Que dos olhos desfez a última chama E da paixão fez-se o pressentimento E do momento imóvel fez-se o drama. De repente, não mais que de repente Fez-se de triste o que se fez amante E de sozinho o que se fez contente. Fez-se do amigo próximo o distante Fez-se da vida uma aventura errante De repente, não mais que de repente.
Vinicius de Moraes
De todas as pessoas que conheci, Federico vem em primeiro lugar. Não falo nem de seu teatro nem de sua poesia, falo dele. A obra-prima era ele. Parece inclusive difícil imaginar alguém comparável. Quer ao piano imitando Chopin, quer improvisando uma pantomima, um esquete teatral, era irresistível. Podia ler qualquer coisa, a beleza sempre jorrava de seus lábios. Ele tinha a paixão, a alegria, a juventude. Era uma labareda. Quando o conheci, na Residência dos Estudantes, eu era um atleta provinciano bem tacanho. Pela força da nossa amizade, ele me transformou, me fez conhecer outro mundo. Devo a ele mais do que consigo dizer. Seus restos mortais nunca foram encontrados. Lendas circularam sobre sua morte, e Dalí – de um jeito bem ignóbil – chegou a falar em crime homossexual, o que é totalmente absurdo. Na realidade, Federico morreu porque era poeta. Nessa época, do outro lado, ouvia-se gritar: “Morte à inteligência!
Luis Buñuel (Mi último suspiro (Spanish Edition))
Aquela imagem parada fez emergir outras e a mente de Alice juntou-as recriando o movimento, os fragmentos de sons, farrapos de sensações. Sentiu-se invadida por uma nostalgia lancinante, mas agradável. Se pudesse escolher um momento a partir do qual recomeçar escolheria precisamente esse: ela e Mattia num quarto silencioso, com as suas intimidades que hesitavam tocar-se mas cujos contornos coincidiam exactamente.
Paolo Giordano (The Solitude of Prime Numbers)
Onde é que dói na minha vida, para que eu me sinta tão mal? quem foi que me deixou ferida de ferimento tão mortal? Eu parei diante da paisagem: e levava uma flor na mão. Eu parei diante da paisagem procurando um nome de imagem para dar à minha canção. Nunca existiu sonho tão puro como o da minha timidez. Nunca existiu sonho tão puro, nem também destino tão duro como o que para mim se fez. Estou caída num vale aberto, entre serras que não têm fim. Estou caída num vale aberto: nunca ninguém passará perto, nem terá notícias de mim. Eu sinto que não tarda a morte, e só há por mim esta flor; eu sinto que não tarda a morte e não sei como é que suporte tanta solidão sem pavor. E sofro mais ouvindo um rio que ao longe canta pelo chão, que deve ser límpido e frio, mas sem dó nem recordação, como a voz cujo murmúrio morrerá com o meu coração...
Cecília Meireles
Não se dirá: Quando a nogueira balançou no vento Mas sim: Quando o pintor de paredes esmagou os trabalhadores. Não se dirá: Quando o menino fez deslizar a pedra lisa pela superfície da correnteza Mas sim: Quando prepararam as grandes guerras. Não se dirá: Quando a mulher foi para o quarto Mas sim: Quando os grandes poderes se uniram contras os trabalhadores. Não se dirá: Os tempos eram negros E sim: Por que seus poetas silenciaram?
Bertolt Brecht
Ei! Sorria... Mas não se esconda atrás desse sorriso... Mostre aquilo que você é, sem medo. Existem pessoas que sonham com o seu sorriso, assim como eu. Viva! Tente! A vida não passa de uma tentativa. Ei! Ame acima de tudo, ame a tudo e a todos. Não feche os olhos para a sujeira do mundo, não ignore a fome! Esqueça a bomba, mas antes, faça algo para combatê-la, mesmo que se sinta incapaz. Procure o que há de bom em tudo e em todos. Não faça dos defeitos uma distancia, e sim, uma aproximação. Aceite! A vida, as pessoas, faça delas a sua razão de viver. Entenda! Entenda as pessoas que pensam diferente de você, não as reprove. Ei! Olhe... Olhe a sua volta, quantos amigos... Você já tornou alguém feliz hoje? Ou fez alguém sofrer com o seu egoísmo? Ei! Não corra. Para que tanta pressa? Corra apenas para dentro de você. Sonhe! Mas não prejudique ninguém e não transforme seu sonho em fuga. Acredite! Espere! Sempre haverá uma saída, sempre brilhará uma estrela. Chore! Lute! Faça aquilo que gosta, sinta o que há dentro de você. Ei! Ouça... Escute o que as outras pessoas têm a dizer, é importante. Suba... faça dos obstáculos degraus para aquilo que você acha supremo, Mas não esqueça daqueles que não conseguem subir a escada da vida. Ei! Descubra! Descubra aquilo que há de bom dentro de você. Procure acima de tudo ser gente, eu também vou tentar. Ei! Você... não vá embora. Eu preciso dizer-lhe que... te adoro, simplesmente porque você existe.
Charlie Chaplin
O BEIJO E A LÁGRIMA Quero um beijo, pediu ela. Um sismo abalou o peito dele. E devotou o calor de lava dos seus lábios, entontecida água na cascata. Entusiamado, ele se preparou para, de novo, duplicar o corpo e regressar à vertigem do beijo. Mas ela o fez parar. Só queria um beijo. Um único beijo para chorar. Há anos que não pranteava. E a sua alma se convertia em areia do deserto. Encantada, ela no dedo recolheu a lágrima. E se repetiu o gesto com que Deus criou o Oceano.
Mia Couto (Idades Cidades Divindades)
Se tem uma coisa que o Brasil não precisa é de moral cristã e ordem militar. Tudo o que a gente teve até hoje é porrada e missa. E a gente é a prova viva do fracasso de ambos. Ninguém no Brasil nunca fez merda em nome do Capeta, da Maconha ou da Sacanagem. Toda vez que mataram, escravizaram e torturaram no Brasil foi em nome de Deus, da Pátria e da Família.
Esther Solano (O Ódio como Política: A Reinvenção das Direitas no Brasil)
Isso a fez pensar que era curioso o quão mais agradável uma pessoa aparentava ser quando sorria
Frances Hodgson Burnett
Ela olhou-me nos olhos e fez-me sentir arrebatada e, nessa noite, ao dar-se a si mesma, deu-me um bebé.
Taylor Jenkins Reid (The Seven Husbands of Evelyn Hugo)
Vale a pena e ninguém nunca fez nada importante se deixando vencer pelo medo.
Josh Malerman (A House at the Bottom of a Lake)
Entre as recordações de cada pessoa, há coisas que ela não conta para qualquer um, somente para os amigos. Há também aquelas que ela não conta nem para os amigos, somente para sim mesma, e isso secretamente. Mas, finalmente, há também aquelas que o indivíduo tem medo de revelar até para si mesmo, e um homem respeitável tem tais coisas acumuladas em grande quantidade. E pode ser assim mesmo: quanto mais respeitável ele é, mais coisas desse tipo ele tem acumuladas. Eu, pelo menos, só recentemente tomei coragem para recordar algumas das minhas aventuras passadas, as quais até agora tinha evitado com uma certa inquietação. E agora, quando não só recordei, como até me decidi a escrevê-las, agora exatamente quero tirar a prova: é possível alguém ser inteiramente sincero consigo mesmo e não temer toda a verdade? A propósito: Heine afirma que é quase impossível existirem autobiografias sinceras, porque na certa o ser humano mentirá, falando de si mesmo. Na opinião dele, por exemplo, Rousseau sem dúvida mentiu sobre si mesmo em suas 'Confissões' e fez isso até deliberadamente, por vaidade. Estou convencido de que Heine está certo; entendo perfeitamente como, às vezes, alguém pode confessar uma série de crimes por pura vaidade e percebo até muito bem de que tipo pode ser essa vaidade.
Fyodor Dostoevsky
certa vez, ele me disse que histórias podem tornar uma pessoa imortal desde que haja alguém disposto a escutá-las. quero que ele me mantenha vivo do mesmo jeito que ele fez com a minha mãe.
Adam Silvera (They Both Die at the End (They Both Die at the End, #1))
Sonhamos com o amanhã mas esse dia não chega; Sonhamos com a glória que de facto não queremos. Sonhamos com um novo dia quando já amanheceu. Fugimos da batalha que sabemos ter de travar. Todd parou e fez sinal aos outros, que leram: «E ainda assim dormimos». Todd continuou: Esperamos o chamamento mas não estamos atentos, Esperamos um futuro que não passa de planos. , Sonhando com o conhecimento que cada dia evitamos, Rezamos por um salvador quando a redenção está nas nossas mãos. E ainda assim dormimos. E ainda assim dormimos. E ainda assim rezamos. E ainda assim tememos... Fez uma pausa e acrescentou, tristemente: «E ainda assim dormimos»
Todd Clube dos Poetas Mortos
Admirava a impotência do espírito, do raciocínio e do coração em operarem a mínima conversão, em resolverem uma só dessas dificuldades, que em seguida a vida, sem que se saiba ao menos como o fez, tão facilmente soluciona.
Marcel Proust (In the Shadow of Young Girls in Flower)
Para mim cada poema é um mundo próprio, um habitat bizarro de memórias, pessoas, sentimentos, conclusões. Cada verso é um retrato, um objecto precioso, um pedaço que recolho do mundo e visto com palavras. Devolver essas palavras aos seus bizarros habitats fez-se mais que um desafio, uma vontade: a de ver os meus poemas com outros olhos, e aí descobri-los como pela primeira vez. Um projecto (imagem d'escrita) que me mostrou a poesia sem palavras, tal como ela é...
Roberto Leandro (imagem d'escrita)
Posso acreditar em coisas que são verdade e posso acreditar em coisas que não são verdade. E posso acreditar em coisas que ninguém sabe se são verdade ou não. Posso acreditar no Papai Noel, no coelhinho da Páscoa, na Marilyn Monroe, nos Beatles, no Elvis e no Mister Ed. Ouça bem... Eu acredito que as pessoas evoluem, que o saber é infinito, que o mundo é comandado por cartéis secretos de banqueiros e que é visitado por alienígenas regularmente -uns legais, que se parecem com lêmures enrugados, e uns maldosos, que mutilam gado e querem nossa água e nossas mulheres. Acredito que o futuro é um saco e que é demais, e acredito que um dia a Mulher Búfalo Branco vai ficar preta e chutar o traseiro de todo mundo. Também acho que todos homens não passam de meninos crescidos com profundos problemas de comunicação e que o declínio da qualidade do sexo nos Estados Unidos coincide com o declínio dos cinemas drive-in de um Estado ao outro. Acredito que todos os políticos são canalhas sem princípios, mas ainda assim melhores do que as outras alternativas. Acho que a Califórnia vai afundar no mar quando o grande terremoto vier, ao mesmo tempo em que a Flórida vai se dissolver em loucura, em jacarés, em lixo tóxico. Acredito que sabonetes antibactericidas estão destruindo nossa resistência à sujeira e às doenças, de modo que algum dia todos seremos dizimados por uma gripe comum, como aconteceu com os marcianos em Guerra dos Mundos. Acredito que os melhores poetas do século passado foram Edith Sitwell e Don Marquis, que o jade é esperma de dragão seco, e que há milhares de anos em uma vida passada eu era uma xamã siberiana de um braço só. Acho que o destino da humanidade está escrito nas estrelas, que o gosto dos doces era mesmo melhor quando eu era criança, que aerodinamicamente é impossível pra uma abelha grande voar, que a luz é uma onda e uma partícula, que tem um gato em uma caixa em algum lugar que está vivo e que está morto ao mesmo tempo (apesar de que, se não abrirem a caixa algum dia e alimentarem o bicho, ele no fim vai ficar só morto de dois jeitos), e que existem estrelas no universo bilhões de anos mais velhas do que o próprio universo. Acredito em um deus pessoal que cuida de mim e se preocupa comigo e que supervisiona tudo que eu faço, em uma deusa impessoal que botou o universo em movimento e saiu fora pra ficar com as amigas dela e nem sabe que estou viva. Eu acredito em um universo vazio e sem deus, um universo com caos causal, um passado tumultuado e pura sorte cega. Acredito que qualquer pessoa que diz que o sexo é supervalorizado nunca fez direito, que qualquer um que diz saber o que está acontecendo pode mentir a respeito de coisas pequenas. Acredito na honestidade absoluta e em mentiras sociais sensatas. Acredito no direito das mulheres à escolha, no direito dos bebês de viver, que, ao mesmo tempo em que toda vida humana é sagrada, não tem nada de errado com a pena de morte se for possível confiar no sistema legal sem restrições, e que ninguém, a não ser um imbecil, confiaria no sistema legal. Acredito que a vida é um jogo, uma piada cruel e que a vida é o que acontece quando se está vivo e o melhor é relaxar e aproveitar.
Neil Gaiman (American Gods (American Gods, #1))
Era a típica paisagem universitária durante o intervalo do almoço. E, no entanto, ao observar aquela cena familiar, dei-me conta de uma coisa. Todas as pessoas, cada uma à sua maneira, pareciam felizes. Não saberia dizer se estavam realmente felizes da vida ou se não passava de uma encenação. Em todo o caso, naquele agradável início de tarde em finais de setembro, toda a gente parecia satisfeita, e isso fez com que me sentisse ainda mais solitário. Como se fosse eu o único a destoar na paisagem.
Haruki Murakami (Norwegian Wood)
Criança Cabecinha boa de menino triste, de menino triste que sofre sozinho, que sozinho sofre, — e resiste, Cabecinha boa de menino ausente, que de sofrer tanto se fez pensativo, e não sabe mais o que sente... Cabecinha boa de menino mudo que não teve nada, que não pediu nada, pelo medo de perder tudo. Cabecinha boa de menino santo que do alto se inclina sobre a água do mundo para mirar seu desencanto. Para ver passar numa onda lenta e fria a estrela perdida da felicidade que soube que não possuiria.
Cecília Meireles
Primeiro surgiu o homem nu de cabeça baixa. Deus veio num raio. Então apareceram os bichos que comiam os homens. E se fez o fogo, as especiarias, a roupa, a espada e o dever. Em seguida se criou a filosofia, que explicava como não fazer o que não devia ser feito. Então surgiram os números racionais e a História, organizando os eventos sem sentido. A fome desde sempre, das coisas e das pessoas. Foram inventados o calmante e o estimulante. E alguém apagou a luz. E cada um se vira como pode, arrancando as cascas das feridas que alcança.
Fernando Bonassi (Passaporte)
Não é desejável cultivar o respeito às leis no mesmo nível do respeito aos direitos. (...) A lei nunca fez os homens sequer um pouco mais justos; e o respeito reverente pela lei tem levado até mesmo os bem-intencionados a agir quotidianamente como mensageiros da injustiça.
Henry David Thoreau (Civil Disobedience)
merlin chair assotted, reading her Evening World. To see is it smarts, full lengths or swaggers. News, news, all the news. Death, a leopard, kills fellah in Fez. Angry scenes at Stormount. Stilla Star with her lucky in goingaways. Opportunity fair with the China floods and we hear these rosy rumours.
James Joyce (Finnegans Wake)
Malinalli, como Quetzalcóatl, ao confrontar-se com o seu lado obscuro ganhou consciência da sua luz. A sua vontade de ser una com o cosmos fez com que os limites do seu corpo desaparecessem. Os seus pés, em contacto com a água inundada pela luz da lua, foram os primeiros a experimentar a mudança. Deixaram de a conter. O seu espírito fundiu-se com o da água e derramou-se pelo ar. A sua pele expandiu-se ao máximo, permitindo-lhe mudar de forma e integrar-se com tudo o que a rodeava. Foi nardo, foi laranjeira, foi pedra, foi aroma de copal, foi milho, foi peixe, foi ave, foi sol, foi lua. Abandonou este mundo.
Laura Esquivel (Malinche)
Minha mente então fez seu primeiro esforço sério para lembrar o que lhe haviam ensinado a respeito do céu e do inferno. E pela primeira vez recuou, confusa. E pela primeira vez, olhando para trás, para os lados e para frente, viu ao seu redor um incomensurável abismo. Sentiu que havia apenas um ponto de apoio: o presente.
Charlotte Brontë
Olha, dona”, interrompeu Salu antes que a mulher continuasse sua pregação, “eu não tenho muita letra nem estudo, mas quero que a senhora entenda uma coisa. Eu não sou a única a morar nesta terra. Muitos desses moradores que vocês querem mandar embora chegaram muito antes de vocês. Vocês não eram nem nascidos. Muitos nasceram aqui. Tenho filhos e netos, todos nasceram em Água Negra. Também não posso dizer o que cada um pensa dela, tim-tim por tim-tim, porque não estou nos pensamentos de ninguém. Mas falo por mim: eu nasci em Bom Jesus, mas também nasci de alguma forma nesta terra. Cheguei aqui moça e jovem. Aqui vivi, criei meus filhos, labutei com meu marido, vi meus vizinhos e compadres serem enterrados, lá no cemitério que vocês fecharam. Fui parida, mas também pari esta terra. Sabe o que é parir? A senhora teve filhos. Mas sabe o que é parir? Alimentar e tirar uma vida de dentro de você? Uma vida que irá continuar mesmo quando você já não estiver mais nesta terra de Deus? Não sei se a senhora sabe, mas eu peguei em minhas mãos a maioria desses meninos, homens e mulheres que a senhora vê por aí. Sou mãe de pegação deles. Assim como apanhei cada um com minhas mãos, eu pari esta terra. Deixa ver se a senhora entendeu: esta terra mora em mim”, bateu com força em seu peito, “brotou em mim e enraizou.” “Aqui”, bateu novamente no peito, “é a morada da terra. Mora aqui em meu peito porque dela se fez minha vida, com meu povo todinho. No meu peito mora Água Negra, não no documento da fazenda da senhora e de seu marido. Vocês podem até me arrancar dela como uma erva ruim, mas nunca irão arrancar a terra de mim.
Itamar Vieira Junior (Torto Arado)
Em dia de S. Miguel passou acaso voando por cima de nós um milhano, quo vinha de trás de um cabeço que a ilha fazia contra a parte do sul, e peneirando no ar com azas estendidas, lhe cahio das unhas um mugem fresco, de quasi um palmo do comprido, e dando junto d'onde estava Antonio de Faria, o fez ficar um pouco confuso e indeterminado,
Fernão Mendes Pinto (Peregrinação)
Quando se segue um caminho, rumo a uma mudança na nossa vida, não vale a pena parar para cheirar as rosas, digam os famosos livros de auto-ajuda o que disserem. As rosas têm espinhos, e cheirá-las pode ter muito maus resultados. Uma pessoa pode auto-mutilar-se ao fim de anos sem o fazer e acabar por passar a noite no chão da casa de banho, demasiado fraca para se mexer. Parar para cheirar as rosas pode enterrar essa pessoa debaixo de toneladas de memórias de tempos e de coisas que fez que preferia esquecer. Pode acabar por se lembrar que tem um propósito na vida e obrigar-se a voltar ao plano inicial, sabendo, no entanto, que, se não se tivesse distraído com as rosas, já poderia ter alcançado os seus objectivos.
Dorothy Koomson (The Ice Cream Girls (Poppy & Serena, #1))
-Eu acho o seguinte: todos nós estamos conectados, todo mundo na Terra - digo. Ela passa as pontas dos dedos sobre os meus. -Até as pessoas ruins? -É. Mas todo mundo tem pelo menos um pouquinho de coisa boa. -Não é verdade. -Certo - admito- Mas todo mundo fez pelo menos uma coisa boa na vida. Concorda? Ela pensa e confirma devagar com a cabeça. Continuo: -Acho que todas as nossas partes boas estão conectadas em algum nível. A parte que divide com outra pessoa o último biscoito de chocolate do pacote, que faz a doação para uma instituição de caridade, que dá um dólar para um músico de rua, que trabalha como voluntária, que chora com os comerciais da Apple, que diz eu te amo ou eu te perdoo. Acho que isso é Deus. Deus é a conexão com a melhor parte de nós.
Nicola Yoon (The Sun Is Also a Star)
Há essa presunção em quem se sente predestinado às artes, sobretudo à literatura: trabalha-se como alguém que tivesse recebido uma investidura, mas de fato ninguém jamais nos investiu de coisa nenhuma, fomos nós que demos a nós mesmos a autorização para sermos autores, mas lamentamos quando os outros dizem: essa ninharia que você fez não me interessa, aliás, me entedia, quem lhe deu o direito.
Elena Ferrante (The Lost Daughter)
Eu disse para Kevin: - Você teve a chance de perguntar a Sophia sobre seu gato morto? - Eu fiz a pergunta por sarcasmo, mas Kevin, para minha surpresa, virou a cabeça e respondeu, sério: - Tive. - O que foi que ela disse? - perguntei. Inalando profundamente e segurando com força o voltante, Kevin respondeu: - Ela disse que MEU GATO MORTO... - Ele fez uma pausa e falou mais alto: - MEU GATO MORTO ERA BURRO. Eu tive que rir. David idem. Ninguém havia pensado em dar a Kevin essa resposta antes. O gato viu o carro e correu para cima dele, não o contrário; ele havia mergulhado direto na roda dianteira direita do carro, feito uma bola de boliche. - Ela disse - disse Kevin - que o universo possui regras muito definidas, e que essa espécie de gato, o tipo que corre e se joga de cabeça em carros em movimento, não existe mais. - Bem - eu disse -, falando de um modo pragmático, ela tem razão.
Philip K. Dick (VALIS)
Rodolphe ouvira tantas vezes dizer tais coisas que elas nada mais tinham de original para ele. Emma assemelhava-se a todas as suas amantes; e o encanto da novidade, caindo pouco a pouco como uma veste, deixava ver a nu a eterna monotonia da paixão que tem sempre as mesmas formas e a mesma linguagem. Aquele homem tão experiente não distinguia mais a diferença dos sentimentos sob a igualdade das expressões. Porque lábios libertinos ou venais lhe haviam murmurado frases semelhantes, ele mal acreditava em sua candura; era preciso, pensava, descontar suas palavras exageradas, escondendo as afeições medíocres: como se a plenitude da alma não transbordasse algumas vezes nas metáforas mais vazias, já que ninguém pode algum dia exprimir exatamente suas necessidades ou seus conceitos, nem suas dores e já que a palavra humana é como um caldeirão rachado, no qual batemos melodias próprias para fazer danças os ursos quando desejaríamos enternecer as estrelas. Porém, com a superioridade crítica de quem, em qualquer compromisso, se mantém na retaguarda, Rodolphe percebeu naquele amor a possibilidade de explorar outros gozos. Julgou todo pudor como algo incômodo. Tratou-a sem cerimonia. Fez dela algo de maleável e de corrompido. Era uma espécie de afeto idiota cheio de admiração para ele, de volúpia para ela, uma beatitude que a entorpecia; e sua alma afundava naquela embriaguez e nela se afogava, encarquilhada (...)
Gustave Flaubert (Madame Bovary)
Quando escrever o fim do livro, Monique, deixe bem claro que não sinto apego por este apartamento, que não estou nem aí para todo o dinheiro que tenho, que não faz a menor diferença que as pessoas me achem uma lenda, que a adoração de milhões de pessoas nunca me fez sentir menos sozinha. Quando escrever o fim do livro, Monique, diga para todo mundo que aquilo que me faz falta são as pessoas. Conte tudo o que fiz de errado. Que fiz escolhas equivocadas na maior parte das vezes.
Taylor Jenkins Reid (The Seven Husbands of Evelyn Hugo)
- Obedecer à sociedade? ... - replicou a marquesa, mostrando-se horrorizada. - É daí, senhor, que provêm todos os males. Deus não fez nem uma só lei para a nossa desgraça. Porém, os homens, reunindo-se, falsearam a sua obra. Nós, as mulheres, somo mais maltratadas pela civilização do que fomos pela natureza. Esta impõe-nos penas físicas que os homens não suavizaram, e a civilização desenvolveu sentimentos que eles enganam incessantemente. A natureza sufoca os seres fracos, os homens condenam-nos a viver para lhes oferecerem uma constante desgraça. O casamento, instituição em que hoje se funda a sociedade, faz-nos sentir todo o seu peso: para o homem a liberdade, para as mulheres os deveres. Nós lhes devemos toda a nossa vida, eles devem-nos apenas raros instantes. (...) Pois bem, o casamento, tal como hoje se efetua, afigura-se-me uma prostituição legal. Daí provieram todos os meus sofrimentos. (...) Fui a própria autora do mal, tendo desejado esse casamento.
Honoré de Balzac (La Femme De Trente Ans)
Na margem do rio Piedra... Eu me sentei e chorei. Conta a lenda que tudo que cai nas águas deste rio - as folhas, os insetos, as penas das aves - se transforma nas pedras do seu leito. Ah, quem dera eu pudesse arrancar o coração do meu peito e atira-lo na correnteza, e então não haveria mais dor, nem saudade, nem lembranças. Ás margens do rio Piedra eu me sentei e chorei. O frio do inverno fez com que eu sentisse as lágrimas em meu rosto, e elas se misturaram com as aguas geladas que correm diante de mim. Em algum lugar este rio se junta com outro, depois com outro, até que - distante dos meus olhos e do meu coração - todas estas águas se misturam com o mar. Que as minhas lágrimas corram assim para bem longe, para que meu amor nunca saiba que um dia chorei por ele. Que minhas lágrimas corram para bem longe, e então eu esquecerei do rio Piedra, do mosteiro, da igreja nos Pirineus, da bruma, dos caminhos que percorremos juntos. Eu esquecerei as estradas, as montanhas, e os campos de meus sonhos - sonhos que eram meus, e que eu não conhecia.
Paulo Coelho (A orillas del rio piedra me senté y lloré)
Qualquer um, independentemente das habilitações que tenha, ao menos uma vez na sua vida fez ou disse coisas muito acima da sua natureza e condição, e se essas pessoas pudéssemos retirar do quotidiano pardo em que vão perdendo os contornos, ou elas a si próprias por violência se retirassem de malhas e prisões, quantas mais maravilhas seriam capazes de obrar, que pedaços de conhecimento profundo poderiam comunicar, porque cada um de nós sabe infinitamente mais do que julga e cada um dos outros infinitamente mais do que neles aceitamos reconhecer.
José Saramago
En lo sentimental, La posesión me dejó claras tres cosas que, con más o menos suerte, intenté aplicar después de aquella relación infernal: huye de lo que no quieras, no le busques justificación a todo, no te culpabilices sistemáticamente y esquiva la exigencia de explicaciones
Desirée de Fez (Reina del grito: Un viaje por los miedos femeninos)
The women showed off new tunic sets and caftans, fringed scarves at their waists or wrapped around their heads like fanciful turbans. Faded traces of their recent henna night lingered on their hands. Silver earrings jangled, kohled eyes flashed, and bangles jostled and clinked with merriment.
Kay Hardy Campbell (The Sons of Fez: A Moroccan Time Travel Adventure)
Eu costumava achar que os finais tinham que ser ou felizes ou tristes. Que as histórias eram ou felizes ou tristes. Que as pessoas eram ou felizes ou tristes. E sempre imaginei que o final da minha história seria triste. Ele teve vontade de abraçá-la, mas deixou que ela continuasse: – Aí eu conheci você. E você me fez pensar, pela primeira vez, que havia uma falha no meu raciocínio. Talvez as pessoas pudessem ser felizes e tristes. Talvez as histórias fossem complicadas e caóticas. Talvez os finais nem sempre tenham soluções que encerram tudo perfeitamente. Mas isso não significa necessariamente que serão trágicos.
Ali Hazelwood (Not in Love (Not in Love, #1))
Tinha então pouco mais de dezessete... Aqui devia ser o meio do livro, mas a inexperiência fez-me ir atrás da pena, e chego quase ao fim do papel, com o melhor da narração por dizer. Agora não há mais que levá-la a grandes pernadas, capítulo sobre capítulo, pouca emenda, pouca reflexão, tudo em resumo. Já esta página vale por meses, outras valerão por anos, e assim chegaremos ao fim. Um dos sacrifícios que faço a esta dura necessidade é a análise das minhas emoções dos dezessete anos. Não sei se alguma vez tiveste dezessete anos. Se sim, deves saber que é a idade em que a metade do homem e a metade do menino formam um só curioso. Eu era um curiosíssimo, diria o meu agregado José Dias, e não diria mal. O que essa qualidade superlativa me rendeu não poderia nunca dizê-lo aqui, sem cair no erro que acabo de condenar; a análise das minhas emoções daquele tempo é que entrava no meu plano. Posto que filho do seminário e de minha mãe, sentia já, debaixo do recolhimento casto, uns assomos de petulância e de atrevimento; eram do sangue, mas eram também das moças que na rua ou da janela não me deixavam viver sossegado. Achavam-me lindo, e diziam-mo; algumas queriam mirar de mais perto a minha beleza, e a vaidade é um princípio de corrupção.
Machado de Assis (Dom Casmurro)
O motorista fez uma curva fechada à esquerda, saiu da pista e entrou numa estradinha de terra, no meio de algumas árvores, parando em seguida. Ele nos jogou para fora do carro e ordenou que o seguíssemos. Obedecemos. Tínhamos uma arma apontada para nosso rosto. Não era a casa de papai, era o fim da linha. Aguardava-me uma morte súbita, violenta, matinal - no dia em que pisei na terra dos meus antepassados. Uma morte não de todo dessemelhante à que eu provocara, não fazia muito tempo. Seria justo, certo? Um carma honesto e quase instantâneo. Eu me perguntava se sairíamos nos jornais ingleses, se minha mãe forneceria fotos nossas.
Hanif Kureishi (Something to Tell You)
- Haverá momentos na sua vida em que você vai se perguntar se fez alguma coisa certa na vida - ele disse. - Isso é muito normal. Também é uma pergunta difícil. Por volta de cento e oitenta quilos, acho. Mas é uma que tem resposta. Ela em geral aparece tarde na vida da gente. Não sei se Selma e eu estaremos vivos nessa época. Por isso te digo agora: quando for a hora, quando essa pergunta aparecer e você não souber o que dizer na hora, então lembre que você deu muita alegria à sua vó e a mim, alegria suficiente para dar e vender. Quanto mais velho fico, mais acredito que fomos inventados apenas para você. E se houver um bom motivo para ser inventado, então esse motivo é você.
Mariana Leky (Was man von hier aus sehen kann)
Nenhuma regra moral genérica pode indicar o que devemos fazer; não existem sinais outorgados no mundo. Os católicos replicarão: "Mas claro que há sinais". Admitamos, sou eu mesmo, em todo caso, que escolho o significado que eles têm. Quando eu estava preso, conheci um homem impressionante, que era jesuíta. Ele tinha entrado na ordem da seguinte forma: havia passado por uma série de infortúnios bastante dolorosos; ainda criança, seu pai foi morto, deixando-o pobre. Ele foi recebido como bolsista em uma instituição religiosa onde constantemente lhe repetiam que ele tinha sido aceito por caridade; consequentemente, ele não recebeu muitas das distinções honoríficas com que as crianças são gratificadas; depois, por volta dos dezoito anos, - coisa pueril, mas que foi a gota d'água que fez o vaso transbordar - ele foi reprovado em sua preparação militar. Portanto, esse rapaz podia achar que tudo tinha dado errado para ele; era um sinal, mas um sinal de quê? Ele podia refugiar-se na amargura ou no desespero, mas avaliou, muito habilmente para seu próprio bem, que esse era o sinal de que ele não fora feito para os triunfos seculares, e que só os êxitos da religião, da santidade e da fé é que estavam ao seu alcance. Assim, viu nisso uma mensagem divina e ingressou nas ordens. Quem não vê que a decisão do sentido do sinal foi tomada exclusivamente por ele?
Jean-Paul Sartre
Respondendo a uma pergunta que me fez Conseil sobre a duração do crescimento daquelas barreiras colossais, causei-lhe grande espanto dizendo-lhe que os sábios calculavam esse desenvolvimento em cerca de um oitavo de polegada por século. — Logo, para erguer tudo — disse-me ele —, foram precisos... — Cento e noventa e dois mil anos, meu caro Conseil, o que dilata muito singularmente os dias bíblicos. Além disto, a formação do carvão de pedra, isto é, a mineralização das florestas unidas por inundações, tem exigido um espaço de tempo ainda muito mais considerável. Devo, porém, acrescentar que os dias da Bíblia são apenas épocas e não intervalos que correm entre dois ocasos do sol, porque, segundo a própria Bíblia, o sol não data do primeiro dia da Criação.
Dante Alighieri (30 Obras-Primas da Literatura Mundial [volume 1])
A mí, Hasan, hijo de Mohamed el alamín, a mí, Juan León de Médicis, circuncidado por la mano de un barbero y bautizado por la mano de un papa, me llaman hoy el Africano, pero ni de África, ni de Europa, ni de Arabia soy. Me llaman también el Granadino, el Fesí, el Zayyati, pero no procedo de ningún país, de ninguna ciudad, de ninguna tribu. Soy hijo del camino, caravana es mi patria y mi vida la más inesperada travesía. Mis muñecas han sabido a veces de las caricias de la seda y a veces de las injurias de la lana, del oro de los príncipes y de las cadenas de los esclavos. Mis dedos han levantado mil velos, mis labios han sonrojado a mil vírgenes, mis ojos han visto agonizar ciudades y caer imperios. Por boca mía oirás el árabe, el turco, el castellano, el beréber, el hebreo, el latín y el italiano vulgar, pues todas las lenguas, todas las plegarias me pertenecen. Mas yo no pertenezco a ninguna. No soy sino de Dios y de la tierra, y a ellos retornaré un día no lejano. Y tú permanecerás después de mí, hijo mío. Y guardarás mi recuerdo. Y leerás mis libros. Y entonces volverás a ver esta escena: tu padre, ataviado a la napolitana, en esta galera que lo devuelve a la costa africana, garrapateando como mercader que hace balance al final de un largo periplo. Pero no es esto, en cierto modo, lo que estoy haciendo: qué he ganado, qué he perdido, qué he de decirle al supremo Acreedor? Me ha prestado cuarenta años que he ido dispersando a merced de los viajes: mi sabiduría ha vivido en Roma, mi pasión en el Cairo, mi angustia en Fez, y en Granada vive aún mi inocencia.
Amin Maalouf (Leo Africanus)
Brianna olhou para seu relógio, ainda surpresa em vê-lo ali. Ainda faltava meia hora. Se pudessem evitar derramamento de sangue até... Um grito lancinante vindo de cima e ela fez uma careta. A ajudante, menos preparada, deixou cair sua prancheta de anotações com um gritinho. - MAMÃE! - Jem, em tom de queixa. - O QUE FOI? - ela rugiu em resposta. - Estou OCUPADA! -Mas mamãe! Mandy me BATEU! -veio o relato indignado do alto da escada. Erguendo os olhos, ela podia ver a parte de cima de sua cabeça, a luz da janela brilhando em seus cabelos. - É mesmo? Bem... - Com uma VARINHA! - Que tipo de... - De PROPÓSITO! - Bem, não acho... - E... - uma pausa antes do desfecho incriminador - ELA NÃO PEDIU DESCULPAS! O construtor e sua ajudante desistiram de procurar larvas de caruncho para acompanhar a emocionante narrativa, e agora ambos olhavam para Brianna, sem dúvida esperando algum decreto salomônico. Brianna fechou os olhos por um instante. - MANDY - ela berrou. - Peça desculpas! - Não! - veio uma recusa estridente de cima. - Sim, tem que pedir! - veio a voz de Jem, seguida de ruídos de luta. Brianna dirigiu-se às escadas, com um olhar assassino. Assim que botou o pé no degrau, Jem emitiu um grito agudo. - Ela me MORDEU! - Jeremiah Mackenzie, nem PENSE em devolver a mordida! - gritou. - Vocês dois, parem com isso agora mesmo! Jem enfiou uma cabeça desgrenhada pelo corrimão, os cabelos arrepiados. Usava uma brilhante sombra azul nos olhos e alguém aplicara batom cor-de-rosa em uma forma tosca de boca de uma orelha à outra. - Ela é uma pestinha - ele informou furiosamente aos fascinados espectadores embaixo. - Meu avô disse.
Diana Gabaldon (A Breath of Snow and Ashes (Outlander, #6))
Ouvi uma vez contar que, na região de Náucratis, no Egipto, houve um velho deus deste país, deus a quem é consagrada a ave que chamam Íbis, e a quem chamavam Thoth. Dizem que foi ele que inventou os números e o cálculo, a geometria e a astronomia, bem como o jogo das damas e dos dados e, finalmente, os caracteres gráficos (escrita). Nesse tempo, todo o Egipto era governado por Tamuz, que residia no sul do país, numa grande cidade que os gregos designam por Tebas do Egipto, onde aquele deus era conhecido pelo nome de Ámon. Thoth encontrou-se com o monarca, a quem mostrou as suas artes, dizendo que era necessário dá-las a conhecer a todos os egípcios. Mas o monarca quis saber a utilidade de cada uma das artes e, quanto o inventor as explicava, o monarca elogiava ou censurava, consoante as artes lhe pareciam boas ou más. Foram muitas, diz lenda as considerações que sobre cada arte Tamuz fez a Thoth quer condenando, quer elogiando, e seria prolixo enumerar todas aquelas considerações. Mas, quando chegou a vez da invenção da escrita, exclamou Thoth: «Eis, oh rei, uma arte que tornará os egípcios mais sábios e os ajudará a fortalecer a memória, pois com a escrita descobri o remédio para a memória.» - «Oh, Thoth, mestre incomparável, uma coisa é inventar uma arte, outra julgar os benefícios ou prejuízos que dela advirão para os outros! tu, neste momento e como inventor da escrita, esperas dela, e com entusiasmo, todo o contrário do que ela pode vir a fazer! ela tornará os homens mais esquecidos, pois que, sabendo escrever, deixarão de exercitar a memória, confiando apenas nas escrituras, e só se lembrarão de um assunto por força de motivos exteriores, por meio de sinais, e não dos assuntos em si mesmos.»
Plato
Durante o segundo ano sofreu uma mudança. Tinha-se mudado para dentro do colégio e este começou a assimilá-lo. Talvez passasse os dias como dantes, mas quando os portões se fechavam sobre ele à noite iniciava-se um novo processo. Mesmo quando ainda era caloiro fez a importante descoberta de que os homens crescidos comportam-se educadamente uns com os outros, se não houver qualquer motivo em contrário. (...) As atitudes dos professores eram mais extraordinárias ainda. Maurice estava mesmo só a precisar de um ambiente assim para acalmar. Não lhe agradava ser bruto e grosseiro. Era contra a sua natureza. Mas isso tinha sido necessário no colégio ou ele não teria aguentado, e julgara que comportamentos assim seriam ainda mais necessários no maior campo de batalha que era a Universidade. ----------------------------------------------------- p.32, MAURICE, E.M. FORSTER
E.M. Forster (Maurice)
Minha querida Gloria, Volta? Atravessei um deserto nestes últimos dias. Meu corpo não aguentou, minha cabeça ainda dói, ainda sinto sede, mas estou do outro lado. Cheguei. Ainda não sei o que fazer daqui pra frente, desconheço este lugar em que me encontro agora, mas estou descobrindo. Quero descobrir. Preciso descobrir. Sinto sua falta, imensamente, e posso ver sua ausência em todos os espaços. Em mim, sobretudo. No entanto, se não quiser voltar, minha querida Gloria, se acha que deve seguir daí, vai. Eu te liberto porque foi exatamente o que você fez comigo. Vai e não sinta culpa, nem olhe para trás. Eu te amo, Gloria. Eu só não sabia como sentir. Estive na Guida nesta última semana, mas amanhã volto para a pousada. Caso decida voltar, estarei à tua espera. Com o peito mais aberto que o mar de Jeri — como quase diz a canção. Um beijo. Ou quantos quiseres. P.S.: Pedi demissão do trabalho. Estou livre.
Lorena Portela (Primeiro Eu Tive Que Morrer (Portuguese Edition))
A razão de isto ser é que a existência é para todos o que há de preferível e o bem que mais se ama. Nós existimos na e através da actividade (de uma operação específica) (accionada pelo viver e pelo agir), e o trabalho é em certo sentido qem o fez pela actividade da sua produção. É por isso que ele ama o seu trabalho porque ama o trazer à existência. Isto enraiza fundo na natureza das coisas. O que existe como possibilidade é revelado pelo trabalho na sua efectividade. Portanto, se o prazer for acrescentado a qualquer dos bens faz deles uma escolha preferencial, por exemplo ao ser acrescentado ao cumprimento da justiça ou da temperança, isto é, aumenta o que de si já tem uma característica de bem. Este enunciado parece mostrar que o prazer é um bem entre outros, mas não que está acima de qualquer outro. Pois qualquer bem se torna uma escolha preferencial quando está em conexão com qualquer outro bem, mais do que quando se apresenta isoladamente.
Aristóteles (Ética a Nicómaco (Spanish Edition))
Suponho que as nações foram por muito tempo como eu, que apenas se instruíram tarde, que durante séculos não se preocuparam senão com o momento presente, pouco com o passado e nada com o futuro. Andei quinhentas ou seiscentas léguas no Canadá; não encontrei um só monumento, ninguém ali sabe nada sobre o que fez o bisavô. Não seria este o estado natural do homem? A espécie humana deste continente parece-me superior à do outro. O seu ser tem aumentado de há muitos séculos para cá, graças às artes e aos conhecimentos. Será por terem barba na cara e Deus a ter negado aos americanos? Não o creio, porque os chineses não têm barba e cultivam as artes há mais de cinco mil anos. Com efeito, se eles têm mais de quatro mil anos de história, é necessário que a nação viva unida e florescente há mais de cinquenta séculos. O que mais me impressiona nesta antiga história da China é que tudo nela seja verosímil e natural. Admiro-a por nada ter de maravilhoso. Porque é que todas as nações se atribuem origens fabulosas? Os antigos cronistas da história da França, que ainda assim não são muito antigos, dizem que os franceses descendem de um Francus, filho de Heitor; os Romanos dizem-se originários de um frígio, conquanto não haja na língua deles uma só palavra que tenha a mais pequena relação com a língua frígia. Os deuses habitaram dez mil anos no Egipto e os diabos na Sítia, onde engendraram os Hunos. Antes de Tucídides, não vejo senão romanos parecidos com o Amadis e muito menos divertidos do que ele. Por toda a parte há aparições, oráculos, metamorfoses, sonhos explicados, sobre que assenta o destino dos maiores impérios e dos mais pequenos Estados. Aqui há animais que falam, além animais que se adoram, deuses transformados em homens e homens transformados em deuses. Ah! Se temos de recorrer às fábulas, que essas fábulas sejam, pelo menos, o emblema da verdade! Gosto das fábulas dos filósofos, rio-me das fábulas das crianças e odeio as dos impostores.
Voltaire
Deste modo, o Dataísmo ameaça fazer ao Homo sapiens o que este fez a todos os outros animais. No decurso da História, os humanos criaram uma rede global e avaliaram tudo de acordo com a função que cada coisa desempenhava dentro da rede. Durante milhares de anos, isto estimulou o orgulho da humanidade e os seus preconceitos. Visto que as funções mais importantes da rede eram desempenhadas por humanos, era-nos fácil reclamar para nós o mérito pelos feitos da rede e vermo-nos como o auge da criação. As vidas e as experiências dos outros animais eram subvalorizadas porque esses desempenhavam funções menos importantes e, sempre que um animal deixava de ter qualquer função, acabava por se extinguir. Porém, assim que os humanos perderem a sua importância funcional para a rede, chegaremos à conclusão de que, afinal de contas, não somos o auge da criação. Os critérios por nós consagrados irão condenar-nos a cair no esquecimento onde já estão os mamutes e o boto chinês. Em retrospectiva, a humanidade revelar-se-á uma pequena ondulação no fluxo cósmico de dados.
Yuval Noah Harari (Homo Deus A Brief History of Tomorrow By Yuval Noah Harari & How We Got to Now Six Innovations that Made the Modern World By Steven Johnson 2 Books Collection Set)
uma tarde, isto em julho, quando pensava que o meu marido em Espanha com a outra e o facto de o meu marido em Espanha com a outra não cessa de doer-me, não queria que doesse e não cessa de doer-me, não tenho culpa, há sensações que se agarram, ao encontrar-te na porta fiz-lhe algum mal por acaso e tu a arrumares no braço livros arrumados não, a corares, a recuares um passo, a mentires estou com pressa, a parares junto à cerca um café em cinco minutos serve-lhe e servia-me, não foram cinco minutos, quarenta na mesma mesa com o truque dos guardanapos entre nós não a separar-nos, a unir-nos, as minhas mãos longe, as tuas a pouco e pouco mais próximas, não prestes a tocarem as minhas, a conversarem somente, a maçada das aulas, a família, a bicicleta do teu irmão mais velho, um surdo ata titi ata e eu intrigada com o surdo, a operação ao peito, de passagem, numa frase casual e eu a amar-te ainda mais, que esforço não te abraçar nesse instante, pegar-te ao colo, embalar-te, o teu marido de passagem igualmente, um hipopótamo chamado Ernesto de que ao princípio não descobri o papel e me fez interromper-te, um hipopótamo, até realizar que pequeno e de pano, disse adorava ser pequena e de pano e arrependi-me logo com a pausa embaraçada e o pacote de açúcar torcido nos dedos, eu, a emendar de imediato, adorava ser um boneco de pano porque não conheci nenhum triste, tu, a medires-me as palavras, não sei, e eu, para mim mesma, talvez me tenha salvo
António Lobo Antunes (Não é Meia Noite Quem Quer)
Ele aproxima-se dela. Pergunta-lhe de que descansa, que cansaço é aquele. Sem responder, sem mesmo olhar, ela levanta a mão e acaricia-lhe o rosto por cima dela, os lábios, o contorno dos lábios, ali onde gostaria de beijar; o rosto resiste, ela continua a acariciar, os dentes serram-se, o rosto recua. E a mão dela cai. Ele pergunta se é a esse contrato que ele fez da presença dela perto dele que ela chama sono. Ela hesita e diz que talvez, sim, que é assim que ela deve ter entendido a coisa, ou seja, que ele desejava tê-la perto mas escondida pelo sono, com o rosto anulado pela seda preta como se fosse por outro sentimento. Ele ri, confuso por ter percebido a que ponto a conivência entre os dois era grande. Depois bruscamente vê que ela já não ri, que o deixa, que o olha como se ele fosse adorável, ou estivesse morto. E depois vê que ela regressa. Ainda tem no olhar um brilho de perdição que acaba de atravessar na presença dele. Não falam daquele medo. Ela sabe menos do que ele que se passou qualquer coisa.Ficam muito tempo longe um do outro, tentando reencontrar o que aconteceu quando se olharam, esse terror de que ainda não tinham nenhum conhecimento. Ela diz que sempre que ele fala em se ir embora ela ouve os cães da morte na cabeça e à volta da casa. Ela pergunta-lhe: Para o estrangeiro, fazer o quê? Ele não sabe, talvez nada, talvez um livro. Talvez encontrar alguém. Espera como se fosse por um último encontro antes de morrer. Ela dorme. Ele fala-lhe enquanto ela dorme.
Marguerite Duras (Blue Eyes, Black Hair)
Olha, dona”, interrompeu Salu antes que a mulher continuasse sua pregação, “eu não tenho muita letra nem estudo, mas quero que a senhora entenda uma coisa. Eu não sou a única a morar nesta terra. Muitos desses moradores que vocês querem mandar embora chegaram muito antes de vocês. Vocês não eram nem nascidos. Muitos nasceram aqui. Tenho filhos e netos, todos nasceram em Água Negra. Também não posso dizer o que cada um pensa dela, tim-tim por tim-tim, porque não estou nos pensamentos de ninguém. Mas falo por mim: eu nasci em Bom Jesus, mas também nasci de alguma forma nesta terra. Cheguei aqui moça e jovem. Aqui vivi, criei meus filhos, labutei com meu marido, vi meus vizinhos e compadres serem enterrados, lá no cemitério que vocês fecharam. Fui parida, mas também pari esta terra. Sabe o que é parir? A senhora teve filhos. Mas sabe o que é parir? Alimentar e tirar uma vida de dentro de você? Uma vida que irá continuar mesmo quando você já não estiver mais nesta terra de Deus? Não sei se a senhora sabe, mas eu peguei em minhas mãos a maioria desses meninos, homens e mulheres que a senhora vê por aí. Sou mãe de pegaçã deles. Assim como apanhei cada um com minhas mãos, eu pari esta terra. Deixa ver se a senhora entendeu: esta terra mora em mim”, bateu com força em seu peito, “brotou em mim e enraizou.” “Aqui”, bateu novamente no peito, “é a morada da terra. Mora aqui em meu peito porque dela se fez minha vida, com meu povo todinho. No meu peito mora Água Negra, não no documento da fazenda da senhora e de seu marido. Vocês podem até me arrancar dela como uma erva ruim, mas nunca irão arrancar a terra de mim.
Itamar Vieira Junior (Torto Arado)
O tempo desapareceu; é a Eternidade que reina, uma eternidade de delícias! Mas uma batida terrível, pesada, fez estremecer a porta e, como em um pesadelo infernal, senti ter levado uma agulhada na boca do estômago. E em seguida um Espectro entrou. Um funcionário que vem me torturar em nome da lei; uma concubina infame que vem chorar misérias e acrescentar as trivialidades da sua vida às dores da minha; ou ainda o faz-tudo enviado pelo diretor do jornal a exigir a entrega do manuscrito. O quarto paradisíaco, o ídolo, a soberana dos sonhos, a Sílfide, como dizia o grande René, toda essa magia desapareceu com a batida brutal do Espectro. Que horror! Agora lembro, lembro! Sim! Esse pardieiro, residência do tédio eterno, é bem o meu. Aí está a mobília vulgar, coberta de pó, lascada; a lareira sem chama e sem brasa, imunda de escarros: as melancólicas janelas em que a chuva cavou sulcos na poeira; os manuscritos, riscados ou incompletos; o calendário onde o lápis ressaltou as datas fatídicas! E esse perfume de outro mundo, no qual eu me embriagava com uma refinada sensibilidade, ai de mim! Foi substituído pelo cheiro fedorento de tabaco misturado a sabe-se lá que tipo de mofo. Respira-se já aqui o ranço da desolação. Nesse mundinho pequeno, mas farto de desgosto, só um objeto conhecido me sorri: a garrafinha de láudano; velha e espantosa amiga; como todas as amigas, aliás! Fértil em carícias e traições. Ah, sim! O Tempo está de volta, o Tempo reina agora soberano; e junto com o velho repugnante retornou o seu cortejo demoníaco de Lembranças, de Arrependimentos, de Espasmos, de Medos, de Angústias, de Pesadelos, de Cóleras, de Neuroses. Eu lhes asseguro que todos os segundos são agora forte e solenemente acentuados, e cada um deles, brotando do pêndulo, diz: – Sou a Vida, insuportável, implacável!
Charles Baudelaire (Paris Spleen)
Com as próprias mãos ela deu fim à existência. Talvez fosse melhor poupar-vos dos detalhes mais dolorosos, pois os fatos lastimáveis não se desenrolaram em vossa presença. Contudo sabereis o que sofreu Jocasta, até onde eu puder forçar minha memória. Quando a infeliz transpôs a porta do seu quarto lançou-se como louca ao leito nupcial; com as duas mãos ela arrancava seus cabelos. Depois fechou as portas violentamente, chamando aos gritos Laio há tanto tempo morto, gritando pelo filho que trouxera ao mundo para matar o pai e que a destinaria a ser a mãe de filhos de seu próprio filho, se merecessem esse nome. Lamentava-se no leito mesmo onde ela havia dado à luz — dizia a infeliz — em dupla geração aquele esposo tido de seu próprio esposo e os outros filhos tidos de seu próprio filho! Como em seguida ela morreu, não sei contar. Aos gritos Édipo acorreu, mas também ele não pôde presenciar a morte da rainha. Os nossos olhos não se despregavam dele correndo como um louco em todos os sentidos, pedindo em altos brados que um de nós lhe desse logo um punhal, gritando-nos que lhe disséssemos onde se achava sua esposa (esposa não, mas a mulher de cujo seio maternal saíram ele próprio e todos os seus filhos). Em seu furor não sei que deus fê-lo encontrá-la (não foi nenhum de nós que estávamos por perto). Então, depois de dar um grito horripilante, como se alguém o conduzisse ele atirou-se de encontro à dupla porta: fez girar os gonzos, e se precipitou no interior da alcova. Pudemos ver, pendente de uma corda, a esposa; o laço retorcido ainda a estrangulava. Ao contemplar o quadro, entre urros horrorosos o desditoso rei desfez depressa o laço que a suspendia; a infeliz caiu por terra. Vimos, então, coisas terríveis. De repente o rei tirou das roupas dela uns broches de ouro que as adornavam, segurou-os firmemente e sem vacilação furou os próprios olhos, gritando que eles não seriam testemunhas nem de seus infortúnios nem de seus pecados: “nas sombras em que viverei de agora em diante”, dizia ele, “já não reconhecereis aqueles que não quero mais reconhecer!” Vociferando alucinado, ainda erguia as pálpebras e desferia novos golpes. O sangue que descia em jatos de seus olhos molhava toda a sua face, até a barba; não eram simples gotas, mas uma torrente, sanguinolenta chuva em jorros incessantes. São ele e ela os causadores desses males, e os infortúnios do marido e da mulher estão inseparavelmente entrelaçados. Ambos provaram antes a felicidade, herança antiga; hoje lhes restam só gemidos, vergonha, maldição e morte, ou, em resumo, todos os males, todos, sem faltar um só!
Sophocles (Oedipus Rex (The Theban Plays, #1))
MÁRIO DE SÁ-CARNEIRO (1890-1916) Atque in perpetuum, frater, ave atque vale! CAT . Morre jovem o que os Deuses amam, é um preceito da sabedoria antiga. E por certo a imaginação, que figura novos mundos, e a arte, que em obras os finge, são os sinais notáveis desse amor divino. Não concedem os Deuses esses dons para que sejamos felizes, senão para que sejamos seus pares. Quem ama, ama só a igual, porque o faz igual com amá-lo. Como porém o homem não pode ser igual dos Deuses, pois o Destino os separou, não corre homem nem se alteia deus pelo amor divino; estagna só deus fingido, doente da sua ficção. Não morrem jovens todos a que os Deuses amam, senão entendendo-se por morte o acabamento do que constitui a vida. E como à vida, além da mesma vida, a constitui o instinto natural com que se a vive, os Deuses, aos que amam, matam jovens ou na vida, ou no instinto natural com que vivê-la. Uns morrem; aos outros, tirado o instinto com que vivam, pesa a vida como morte, vivem morte, morrem a vida em ela mesma. E é na juventude, quando neles desabrocha a flor fatal e única, que começam a sua morte vivida. No herói, no santo e no génio os Deuses se lembram dos homens. O herói é um homem como todos, a quem coube por sorte o auxílio divino; não está nele a luz que lhe estreia a fronte, sol da glória ou luar da morte, e lhe separa o rosto dos de seus pares. O santo é um homem bom a que os Deuses, por misericórdia, cegaram, para que não sofresse; cego, pode crer no bem, em si, e em deuses melhores, pois não vê, na alma que cuida própria e nas coisas incertas que o cercam, a operação irremediável do capricho dos Deuses, o jugo superior do Destino. Os Deuses são amigos do herói, compadecem-se do santo; só ao génio, porém, é que verdadeiramente amam. Mas o amor dos Deuses, como por destino não é humano, revela-se em aquilo em que humanamente se não revelara amor. Se só ao génio, amando-o, tornam seu igual, só ao génio dão, sem que queiram, a maldição fatal do abraço de fogo com que tal o afagam. Se a quem deram a beleza, só seu atributo, castigam com a consciência da mortalidade dela; se a quem deram a ciência, seu atributo também, punem com o conhecimento do que nela há de eterna limitação; que angústias não farão pesar sobre aqueles, génios do pensamento ou da arte, a quem, tornando-os criadores, deram a sua mesma essência? Assim ao génio caberá, além da dor da morte da beleza alheia, e da mágoa de conhecer a universal ignorância, o sofrimento próprio, de se sentir par dos Deuses sendo homem, par dos homens sendo deus, êxul ao mesmo tempo em duas terras. Génio na arte, não teve Sá-Carneiro nem alegria nem felicidade nesta vida. Só a arte, que fez ou que sentiu, por instantes o turbou de consolação. São assim os que os Deuses fadaram seus. Nem o amor os quer, nem a esperança os busca, nem a glória os acolhe. Ou morrem jovens, ou a si mesmos sobrevivem, íncolas da incompreensão ou da indiferença. Este morreu jovem, porque os Deuses lhe tiveram muito amor. Mas para Sá-Carneiro, génio não só da arte mas da inovação nela, juntou-se, à indiferença que circunda os génios, o escárnio que persegue os inovadores, profetas, como Cassandra, de verdades que todos têm por mentira. In qua scribebat, barbara terrafuit. Mas, se a terra fora outra, não variara o destino. Hoje, mais que em outro tempo, qualquer privilégio é um castigo. Hoje, mais que nunca, se sofre a própria grandeza. As plebes de todas as classes cobrem, como uma maré morta, as ruínas do que foi grande e os alicerces desertos do que poderia sê-lo. O circo, mais que em Roma que morria, é hoje a vida de todos; porém alargou os seus muros até os confins da terra. A glória é dos gladiadores e dos mimos. Decide supremo qualquer soldado bárbaro, que a guarda impôs imperador. Nada nasce de grande que não nasça maldito, nem cresce de nobre que se não definhe, crescendo. Se assim é, assim seja! Os Deuses o quiseram assim. Fernando Pessoa, 1924.
Fernando Pessoa (Loucura...)