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As mãos de Zahara apertaram fortemente a saia.
- Vais infligir-me a humilhação de ser eu a dizê-lo?
Lochan levantou-se.
- Jamais desejaria que te humilhasses. Eu sei, sei-o há já demasiado tempo.
Zahara sentiu o coração pular.
- Se o sabes, porque nunca…
- Esquece-me, Zahara, pois não sinto o mesmo – interrompeu ele.
Ela recuou.
- Mentes… Porquê? Eu sei… O modo como me tratas, como me olhas. Eu sei que gostas de mim, vejo-o no teu olhar, vejo-o neste instante!
Lochan sentiu os olhos dela mergulharem nos seus.
- Durante anos foram-me apresentados pretendentes das mais nobres famílias – ouviu – Todos me dariam o conforto a que estava habituada, todos me cobririam de jóias, de vestidos luxuosos... no entanto, eu recusava-os. Recusava-os porque não via nada no seu olhar. Para eles, eu seria como um troféu, serviria apenas para provocar inveja.
Uma nuvem cobriu o sol, deixando-os na sombra.
- Inconscientemente tornei-me arrogante, altiva, somente para os afastar de mim, para que não desejassem casar-se com alguém como eu… Mas tu, tu viste para além da máscara que construí. Naquele dia, na capital, tu viste o que ninguém foi capaz de ver: o meu coração.
- Zahara…
- Não acredito que não sintas qualquer amor por mim.
Lochan voltou-lhe as costas.
- Não quero saber se és pobre, não me importo com o teu passado. O que sinto por ti é o que sempre desejei sentir – ouviu.
O silêncio envolveu-os por momentos.
- Lamento…
Zahara correu para a frente dele. No seu olhar era visível desespero.
- Não te agrado, é isso?
Ele limitou-se a desviar o rosto.
- Responde-me!
- Como poderia ficar indiferente a alguém como tu – disse voltando a olhar nos olhos dela.
- Então porquê, porquê?
Lochan agarrou-lhe nos ombros, assustando-a.
- Esquece-me por favor. Odeia-me. Odeia-me por isto com todas as tuas forças, mas não me ames, nunca me ames, Zahara.
Lochan largou-lhe os ombros. Ela ficou sem reacção, e as lágrimas voltaram a molhar o seu rosto.
- Não me faças isto… - implorou.
O olhar dele tornou-se gélido. O seu rosto mostrava-se agora tão indecifrável, como o de uma estátua.
- Odeia-me pelo sofrimento que te acabo de causar e depois esquece-me – disse deixando-a só.
Zahara viu-o desaparecer por entre as colunas do palácio.
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Susana M. Almeida (O Renascer (Estrela de Nariën, #2))