Dezembro Quotes

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É nas noites de dezembro, com uma temperatura de dez graus, que se pensa mais no sol.
Victor Hugo (Os miseráveis)
E avanço e avanço rumo ao que fomos.
José Luís Peixoto (Morreste-me)
O Cisne Foi em abril, eu me lembro, embora em meu espírito fosse dezembro, Que um pássaro ferido foi retirado da escuridão do lago, As penas brancas brilharam ao sol, e de sua boca escorreu a água negra, Enquanto por dentro minha voz gritava até pensar que meu coração iria se partir; Fui eu quem assistiu à sua morte, seguindo à deriva, à deriva, esperando em sua vigília Que Deus levasse sua alma.
John Harding (Florence & Giles)
Lutero traduziu o Novo Testamento inteiro em menos de três meses – do meio de dezembro de 1521 até o início de março de 1522. Que feito incrível! Depois de algumas revisões, o Novo Testamento em alemão foi publicado no dia 21 de setembro de 1522. A partir de então, Lutero continuou a revisá-lo e a traduzir o Antigo Testamento também. Em 1534, foi publicada a primeira edição de sua Bíblia completa em alemão, incluindo os apócrifos.
Alberto R. Timm (Meditações Diárias 2018 - Um Dia Inesquecível (Portuguese Edition))
[...]Creio que, depois desse funesto meteoro, podemos passar ao vinho, visto que é um trovão líquido, uma cólera potável e um trespasse que faz morrer os bêbados de saúde. Por mais abstinentes que sejamos, ele, o insensato, é a causa pela qual a definição dada por Aristóteles para o homem animal racional seja falsa; pelo menos, durante três meses ao ano pode-se dizer que é no cabaré que se vende a loucura em garrafas, e duvido mesmo que ele não tenha ido até os céus fazer com que o Sol cheire seus vapores, vendo como se deita tão cedo todos os dias. A Terra bebeu tanto no século de Copérnico que se pôs a dar piruetas e, se agora se move, são seguramente ss que a bebedeira lhe faz fazer. Não deixo, contudo, de gostar de ver a aguardente detestar seu pai, porque ele é para mim a testemunha de que o vinho foi forçado a perder o espírito. Ei-nos, portanto, (neste momento) condenados a morrer de sede, visto que nossa bebida está envenenada. Vejamos se as frutas se salvaram do furor de dezembro. Ai de mim! Por uma única [fruta] comida por Adão, cem mil pessoas morreram ainda sem existirem, e se tivesse começado uma segunda, teria infalivelmente expulsado a Terra trinta léguas mais longe. Toda a natureza, agora, está dedicada ao suplício de seus criminosos; ela mesma os coloca no patíbulo, a árvore os atira de ponta-cabeça, o vento os sacode, o Sol os desprende, e os pássaros se saciam com seus troncos apodrecidos. Depois, senhor, não achais errado que eu me irrite quando dizem: “Eis frutas em bom estado”, pois como pode estar em bom estado alguém que se enforcou pessoalmente? Aqui, todos os campos são limitados por vergéis, onde as pedradas respondem à oferta, e não será uma ocasião de dúvida de inocência de uma raça que vemos lapidada a cada momento? Considerando as perniciosas, eu não saberia imaginar o que podem ser senão diabos familiares mais gordos e mais agitados do que os outros; o bosque que os produz tem o cuidado de esconder tal pecado com folhas, como se não tivesse bastante descaramento para desnudar suas partes pudendas; mas agora que se desnudou e que sua verdura caiu, somente se vêem folhas na Universidade. Os vermes, as aranhas e as lagartas atingiram a cima das árvores e, mesmo sendo calvas, não deixam de ter parasitas na cabeça. Este é ainda, sem dúvida, mais um dos serviços do outono que, temendo que morrêssemos apenas de uma morte, após nos ter retirado os alimentos, deunos veneno. O que nos poderia restar de puro entre tantas coisas cujo uso nos é necessário senão, talvez, um pouco de ar; mas ele o sufocou com o contágio. Hoje, a peste (esta doença sem-fim) mantém a morte presa à sua própria; ela derruba a economia do mundo até fazer com que um miserável nascido entre andrajos morra coberto de púrpura, e julgai se o fogo com que nos ataca é ardente, quando basta um carvão sobre um homem para consumi-lo. (trecho de carta)
Cyrano de Bergerac (Voyage dans la Lune)
Não precisou de abrir a janela para identificar Dezembro. Descobriu-o nos seus próprios ossos.
Gabriel García Márquez (El coronel no tiene quien le escriba)
É a sensação de rodar, rodar, rodar sem saber exatamente para onde estava indo ou como se já estivesse no céu. Por que eu acredito totalmente que é pra lá que eu vou quando isso for decidido, quando for o momento. Eu não sabia o que estava acontecendo, porque eu não sabia como começou acontecer. Uma tarde de domingo, linda, maravilhosa, um sol belo, azul, 17h. Eu, ahn, ao contrário do que os homens pensam, dirijo muito bem. Porque pra dirigir Rio, São Paulo, Porto Alegre, precisa dirigir muito bem. Não tinha movimento e era incrível, era Domingo, era pra estar lotado de carros vindo da praia. Era verão. Dia 19 de dezembro de 1999, exatamente no dia que minha mãe se tivesse viva, estaria de aniversário. E eu estava muito feliz indo para Santa Isabel, aonde esses amigos maravilhosos numa turnê que eu fiz com terapia sexual e que eles se tornaram amigos íntimos. Estávamos indo eu e minha empresária, minha amiga querida, que hoje é minha amiga querida e não mais empresária, Berenice Lamonica, quando tudo começou a girar, girar, girar e eu disse: "Berenice, segura, nós vamos bater". Nada mais me lembro! Nada mais me lembro! Apenas que sei foram horas e horas e horas e horas de resgate porque pensaram que eu estava realmente morta.
Leila Gomes Lopes
É a sensação de rodar, rodar, rodar, sem saber exatamente pra onde estava indo ou como se já estivesse no céu. Por que acredito totalmente que é pra lá que eu vou quando isso for decidido, quando for o momento. Eu não sabia o que estava acontecendo, porque eu não sabia como começou acontecer. Uma tarde de domingo, linda, maravilhosa, um sol belo, azul, 17h. Eu, ahn, ao contrário do que os homens pensam, eu dirijo muito bem. Porque pra dirigir Rio, São Paulo, Porto Alegre, precisa dirigir muito bem. Não tinha movimento e era incrível, era Domingo, era pra estar lotado de carros vindo da praia. Era verão. Dia 19 de dezembro de 1999, exatamente no dia que minha mãe se tivesse viva, estaria de aniversário. E eu vinha muito feliz, e eu estava indo muito feliz pra Santa Isabel, aonde esses amigos maravilhosos numa turnê que eu fiz com terapia sexual e que eles se tornaram amigos íntimos. Estávamos indo eu e a minha empresária, minha amiga querida, que hoje é minha amiga querida e não mais empresária, Berenice Lamônica, quando tudo começou a girar, girar, girar, girar e eu disse: "Berenice, segura, nós vamos bater". Nada mais me lembro! Nada mais me lembro! Apenas sei que foram horas e horas e horas e horas de resgate porque pensavam que eu estava realmente morta! (...) Eu tive sete vértebras realmente feridas, não pude nem mais fazer a novela, não pude mais nem...Eu tive que...Era natal, tive que ir com aquelas macas da Varig e tal, e realmente foi uma coisa terrível e foram meses e meses na cama de recuperação, foi uma coisa terrível. (...) Ah, eu tenho certeza absoluta que foi ele que me salvou! Aliás, a minha vida, eu digo: é uma antes do acidente e outra pós-acidente (...) A oração, sobretudo, a oração é que te recupera. E ali começou uma nova Leila, uma nova Leila! É esse Deus que me tirou dali, são esses anjos, esse Jesus Cristo meu irmão que me tirou dali. E um bom carro também, né, se pode falar! Se eu tivesse de um fusquinha que tem que empurrar - me desculpe os fusquinhas, acho ótimo - eu não estaria lá, com certeza. Não estaria mais aqui, eu seria também um anjo, tenho certeza. Porque tudo que eu faço na minha vida, sem pieguice, é tentar ser boa!
Leila Lopes
No Werther, Goethe mostra também com particular clareza as duas frentes entre as quais vive a burguesia. “O que mais me irrita”, lemos na anotação de 24 de dezembro de 1771, “é nossa odiosa situação burguesa. Para ser franco, sei tão bem como qualquer outra pessoa como são necessárias as diferenças de classe, quantas vantagens eu mesmo lhes devo. Apenas não deviam se levantar diretamente como obstáculos no meu caminho.” Coisa alguma caracteriza melhor a consciência de classe média do que essa declaração. As portas debaixo devem permanecer fechadas. As que ficam acima têm que estar abertas. E como todas as classes médias, esta estava aprisionada de uma maneira que lhe era peculiar: não podia pensar em derrubar as paredes que bloqueavam a ascensão por medo de que as que a separavam dos estratos mais baixos pudessem ceder ao ataque.
Norbert Elias (The Civilizing Process)
Atiradas na calçada, uma mãe e duas crianças pequenas pediam esmolas. No fim das contas, a felicidade — essa capacidade que às vezes temos de nos sentirmos bem e em paz e alegres e vibrantes, ignorando todo o sofrimento existente neste mundo —, a felicidade talvez seja a maior desumanidade possível. Dei dez reais à mulher. Era tudo o que eu podia dar. Ela, então, olhou para mim e, para terminar de me devastar, disse o seguinte: — Boas festas! E de todos os “boas-festas” que recebi nesse dia 23 de dezembro, é justamente esse, o dessa mulher, que faço questão de pegar emprestado para oferecer ao leitor. O “boas-festas” da gente sem eira nem beira. O “boas-festas” que nos acusa a todos. Para que não nos esqueçamos de que, afinal, cá estamos, todos nós, integrando esta sociedade doente, onde nenhuma alegria, nem mesmo a menorzinha das alegrias, deixa de ter aspecto indecente. Para que não nos esqueçamos de que, afinal, cá estamos, todos nós, mergulhados num contexto social que vai de mal a pior, onde há muito tempo a comemoração tornou-se absolutamente obscena. Para que percamos por completo a fome em plena ceia de Ano-Novo, incapazes de esquecer aqueles que não têm o que comer. Para que percamos por completo o sono, incapazes de esquecer aqueles que não têm onde dormir. Para que percamos por completo a vontade de sorrir, incapazes de esquecer aqueles que só têm motivos para chorar. Boas festas.
José Falero (Mas em que mundo tu vive? (Portuguese Edition))
Quão rapidamente flui a corrente de janeiro a dezembro! Somos levados de roldão pela torrente das coisas que se tornaram tão familiares que não projetam nenhuma sombra.
Virginia Woolf (To the Lighthouse / The Waves)
Em dezembro de 1986 a Câmara Municipal de São Paulo aprovou a Lei 10.209 cujo artigo 1 permitia que os proprietários de terrenos ocupados por favelas – ou outros de sua propriedade - poderiam solicitar alterações nos respectivos índices urbanísticos mediante pagamento de contrapartida econômica para a construção de habitações de interesse social (HIS) destinadas às famílias que seriam desalojadas. Esta contrapartida econômica correspondia à valorização obtida pelo terreno – na verdade apenas parte dela - por receber direitos adicionais de construção, ou seja, o princípio da outorga onerosa tornava-se uma realidade prática. Esta Lei que ficou também conhecida como Lei das Operações Interligadas ou do “desfavelamento” e representou o primeiro instrumento de captura sistemática de mais valias urbanas em São Paulo e de certa maneira em todo Brasil (1). Pela primeira vez também, empresários imobiliários começaram a pagar por direitos adicionais de construção obtidos de forma legal e institucional. Anteriormente alcançavam tal objetivo sem pagar, tudo dependendo do tráfico de influências junto à membros do Executivo e do Legislativo pela obtenção de mudanças pontuais de normas urbanísticas na Lei de Zoneamento. Apesar do pagamento por direitos adicionais de construção não constituir pratica habitual entre os empresários imobiliários, a percepção de que o sistema era vantajoso, pouco a pouco foi se estabelecendo entre eles uma vez que: a) terrenos eventualmente ocupados por favelas seriam liberados e, b) receberiam direitos adicionais de construção pelos quais pagariam pelo menos 50% da valorização. Ou seja, pagariam menos do que se tivessem que adquirir lotes adicionais (desocupados de favelas) para utilizar um maior potencial construtivo em seus terrenos.
Paulo Sandroni (CONCENTRAÇÃO DA TERRA URBANA, CAPTURA DE MAIS VALIAS E ESPECULAÇÃO: OUTORGA ONEROSA E CEPACS NA CIDADE DE SÃO PAULO - Ensaios teóricos, empíricos e ficcionais (Portuguese Edition))
Dezembro. Nossa, como eu amava esse mês simplesmente com todas as minhas forças.
Bruna Souza (O Natal Me Levou A Você (Portuguese Edition))
Samuel Johnson (1709-1784), falecido em 13 de dezembro de 1784, sugeriu inteligentemente que a “linguagem é a roupa do pensamento”.
Alberto R. Timm (Meditações Diárias 2018 - Um Dia Inesquecível (Portuguese Edition))
É muito difícil entrar no clima de natal quando você mora em um país onde, em dezembro, faz quarenta graus na sombra. Sinto outra gota de suor quente descendo pelas minhas costas enquanto tento sobreviver no ônibus lotado a caminho do curso de inglês.
Vitor Martins (Todas as Cores do Natal)
Táticas de terra arrasada costumam enfraquecer o apoio da oposição, pois amedrontam e afastam os moderados. E elas unificam as forças pró-governo, pois mesmo dissidentes dentro do partido cerram fileiras diante de uma oposição intransigente. E, quando a oposição joga sujo, ela proporciona ao governo justificativa para reprimir.41 Foi isso que aconteceu na Venezuela de Hugo Chávez. Embora os primeiros poucos anos de Chávez na presidência tenham sido democráticos, os opositores se apavoraram com seu discurso populista. Temerosos de que Chávez fosse guiar a Venezuela para um socialismo ao estilo Cuba, eles tentaram removê-lo preventivamente – e por quaisquer meios que se fizessem necessários. Em abril de 2002, os líderes da oposição apoiaram um golpe de Estado, o qual não apenas fracassou como acabou com sua imagem de democratas. Não dissuadida, a oposição lançou uma greve geral em dezembro de 2002, tentando paralisar o país até que Chávez renunciasse. A greve durou dois meses, custou à Venezuela um montante estimado em 4,5 bilhões de dólares e, no fim das contas, fracassou.42 As forças anti-Chávez boicotaram então as eleições legislativas de 2005, mas isso apenas permitiu que os chavistas conquistassem o controle do Congresso. Em suma, as três estratégias saíram pela culatra.43 Elas não só falharam em remover Chávez, mas desgastaram o apoio público da oposição, permitiram a Chávez marcar seus rivais como antidemocráticos e deram ao governo uma desculpa para expurgar o Exército, a polícia e os tribunais, prender ou exilar dissidentes e fechar espaços de mídia independentes.44 Enfraquecida e desacreditada, a oposição nada pôde fazer para evitar a decadência subsequente do regime rumo ao autoritarismo.
Steven Levitsky (Como as democracias morrem)
De Agosto a Dezembro eu estive aprisionado em cadeias invisíveis que enganaram meu coração. E o que é o coração simbólico senão a redoma que aprisiona a simulação dos amores enganosos da juventude?
Br Reader Br - (As Horas: Esboços do Tempo)
27 de dezembro [1936] O presente mais lindo não é o mais caro, é o mais frágil – a caixa de cubos com os quais as mãozinhas inexpertas poderão formar um prado florido, dois cachorrinhos brincando, a galinha branca, orgulhosa dos pintainhos. Há ainda a bola de sete cores como um arco-íris de borracha, a piorra cantadeira e o pelotão de chumbo pregado no papelão. Paro um instante comovido – ah, a roda da vida, roda da vida rangente ou azeitada! Quando acordei, acordei general – trinta e seis soldadinhos me esperavam ao pé da cama, túnica azul, calça vermelha, baionetas em riste. As trincheiras foram abertas debaixo das begônias, as roseiras deixavam cair as pétalas sobre os heróis, todo o jardim sofreu com as batalhas delirantes, enquanto Madalena fazia comidinhas para a nova boneca e Emanuel folheava, no alpendre, o livro de gravuras de Rabier. Deposito o último brinquedo com cuidado, não fosse despertá-las. Porejadas de suor, as crianças dormem. Na parede, como prego, dorme também o pernilongo, pesado de sangue que também é um pouco meu, apesar da incredulidade rancorosa de Mariquinhas.
Marques Rebelo (O Trapicheiro)
24 de dezembro A estrela da tarde está subindo no céu com o seu brilho mais puro. Um momento de tréguas na crueza de nossas vidas!
Marques Rebelo (O Trapicheiro)
24 de dezembro [1941] A árvore, embora atarracada, não ocupa muito espaço – um canto de sala, o canto menos acessível, do qual foi removido o musgoso vaso com espadas-de-são-jorge, que alem de decorativas, segundo Felicidade, nos protegem do mau-olhado. O chacareiro queria um dinheirão por um pinheirinho de seis palmos, Luísa descalçou a bota na loja de novidades. Trouxe-a embrulhada em papel pardo como volumosa sombrinha, e armá-la foi uma operação fácil e divertida. — Veja! – e Luísa exibiu-a, eriçada como um imenso paliteiro. Meus olhos se anuviaram – as invenções deviam ter limites. A imitação infunde desprezo, mudo desprezo, a quem amou as árvores do Trapicheiro, ardentemente esperou por elas e substituiu o amor e a espera pela saudade. É duma substância assim como o celulóide, lustrosa como escama de cobra, dum verde horripilante, com frutinhos vermelhos, na ponta dos galhos, que lembravam os olhinhos dos ratos-brancos, que Pinga-Fogo criava e trazia ao ombro, sob o nojo e a reprovação de Mariquinhas, tão artificial quanto o mito que propaga. Não pus na sua ornamentação, bastante carregada, com um odioso cometa no cimo, os meus dedos descrentes, tão hábeis para respingar pela ramaria antiga as velinhas multicores, as lanterninhas, o algodão como se fosse neve. Deixei a tarefa para as mãos de Luísa e das crianças, neófitas aranhas, que alegremente se emaranhavam na teia de fios prateados que espalhavam pela galharia dura e simétrica. Quando ficou pronta, e ao pé dela as crianças plantavam os ávidos sapatinhos, Luísa perguntou radiante: — Não ficou linda? (Não destruamos as ilusões dos amadores. Pelo menos algumas. Que culpa têm de que o tempo prático e mercantil ofereça um material tão reles e sem seiva?): — Sim, está muito bonita. — E serve para muito tempo! (Ó desalentadora durabilidade!): — É ótimo. E a sensação me invade, não sei se de tédio ou de derrota.
Marques Rebelo (A Mudança)
23 de dezembro [1939] Antevéspera chuvosa de Natal, sem que o calor aplaque. Peregrinação de pés molhados por lojas superlotadas na morosa demanda de presentes que satisfaçam ao gosto e ao preço, mormente ao preço, que os presenteados são muitos e as finanças estão arrebentadas. Ninguém foi esquecido. Nos casos de dúvida, livro é sempre uma boa solução. O presente mais fácil foi o de Felicidade – colar de galalite arlequinhalmente multicor. Chegamos derreados. Eurico nos esperava com a lata de talco mais estapafúrdia que vi na minha vida, desculpando-se por não ter trazido Lenarico e Eurilena. Levou uma gravata, leve, de verão.
Marques Rebelo (O Trapicheiro)
25 de dezembro [1940] As luzes tão débeis das velinhas coloridas derretem a escura neve que a fieira dos dias acumula nos corações. Vera e Lúcio são como retratos do passado – o mesmo espanto, os mesmo gritos! E os olhos sentem que foram criados para o êxtase das bolas multicores, das estrelas brilhantes, dos brinquedos ricos ou pobres. O verde da Árvore é o verde da esperança. Invisíveis pássaros de paz fazem ninho nos ramos enfeitados. Poderemos ouvir os seus cantos de paz. Perdão para os nossos inimigos, perdão para os nossos amigos, perdão para nós próprios. Gosto de amor na boca. Boca – espelho do coração
Marques Rebelo (A Mudança)
Planícies de oliveiras num horizonte azulíssimo. Tamanho é o frio que não se formam nuvens, será isso. Estamos a ir para Campo Criptana, desde o século XVI terra de moinhos, daqueles redondos e brancos com velas negras. Foi aqui que Quixote os combateu. Eram 30 ou 40 contra um. Agora são dez, no cimo de uma colina, com a aldeia aos pés. Deixamos o carro junto ao mais alto, e quando saímos é como se nos dessem um golpe na cabeça. Já estava frio, mas agora está frio com pazadas de vento. Nem na Sibéria, em dezembro, me doeu tanto. Avançamos com os cachecóis por cima da cara e as mangas puxadas até a ponta dos dedos, a segurar caderno e caneta. — Está ali um homem – gritas tu. — Vamos lá – grito eu. O homem são dois, Anastasio e Crisanto, nomes que quem-nos-dera, mesmo Cervantes chamava-lhes um figo. Um tem 75, o outro 68 e sentam-se como na praia ao poente. De tanto para aqui virem, o vento já nem lhes toca. Este é o melhor moinho de todos, dizem eles, “nem demasiado largo, nem torto.” Chama-se Burleta. Os velhos do mar têm barcos. Os velhos de Campo Criptana têm moinhos.
Alexandra Lucas Coelho (E a Noite Roda)