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Francesca, que tinha deixado de ter orgasmos há anos, agora os tinha em longas sequências, com um meio homem, meio outra criatura. Ficou imaginando-o e sua resistência e ele lhe disse que conseguia chegar a esses lugares em sua mente, assim como os físicos. E que os orgasmos da mente tinham sua característica própria e especial.
Ela não tinha ideia do que ele queria dizer. Tudo que sabia era que ele a puxara com uma amarra de algum tipo e passara aquilo ao redor dos dois, com tanta força, que ela teria sufocado, se não fosse pela própria liberdade que sentia.
A noite prosseguiu e, com ela, a grande dança espiral. Robert Kincaid descartava o sentido de qualquer coisa linear e se deslocava para uma parte de si que só lidava com forma, som e sombra. E seguia pelos caminhos dos modos antigos, encontrando sua direção nas velas de gelo banhadas pelo sol, derretendo sobre a grama do verão e as folhas vermelhas de outono.
Ouvia as palavras que sussurrava para ela, como se fossem ditas por outra voz, não a sua. Fragmentos de um poema de Rilke: — Ao redor da antiga torre… Eu tenho circulado há mil anos. — Frases de um cântico Navajo ao sol. Ele sussurrou as visões que ela lhe trazia — de sopro de areia e de vento magenta, de pelicanos marrons nas costas de golfinhos, seguindo ao norte, pela costa da África.
Sons pequenos, sons incompreensíveis que vinham dos lábios dela, enquanto ela se arqueava em sua direção. Uma linguagem que ele compreendia inteiramente e, naquela mulher embaixo dele, com sua barriga contra a dela, profundamente dentro dela, a longa busca de Robert Kincaid tinha chegado ao fim.
E ele, afinal, soube o significado de todas as pegadas em todas as praias desertas por onde já havia caminhado, de todas as cargas secretas transportadas pelos navios nunca navegados, de todos os rostos cortinados que o observaram passando por ruas curvas de cidades crepusculares. E, como o grande caçador antigo que viajara longas distâncias e agora avistava as luzes das fogueiras de seu lar, sua solidão havia se dissipado. Enfim. Enfim. Ele tinha chegado tão longe… tão longe. E ele estava deitado sobre ela, perfeitamente formado e inalteradamente completo em seu amor por ela. Enfim.
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