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Um bom pintor pode ser visto como alguém que olha para ''a mesma coisa" que outra pessoa olha, vendo-a diferente e tornando-a visível para nós: o pintor revela - torna perceptível - algo que não havíamos visto antes. No caso de van Gogh, poderia ser a humanidade em um velho par de sapatos, no caso de Monet, poderiam ser as cores cintilantes em um jardim sob a influência de um sol quente de verão. Uma fotógrafa faz algo similar com luz e texturas: usa filmes, filtros, obturador de velocidades, e configurações de abertura para revelar algo que está lá - já está lá, esperando pura ser visto, de certo modo -, mas que não é visto sem sua ajuda.
Um músico novato se empenha em tocar as notas escritas na partitura, mais ou menos na velocidade correta, mas o consumado músico sutilmente revela, com a variação da velocidade e de tensão, as múltiplas melodias ou vozes implicitamente lá, naquelas mesmas notas (como na fuga de Bach).
Este pode ser um modo frutífero de pensar sobre o que nós, terapeutas, igualmente fazemos: revelamos algo que está ali - já está ali esperando para ser ouvido -, mas que não é ouvido sem nossa ajuda. Como um de meus pacientes colocou uma vez, seu desejo era como um sopro, um sopro no coração tão fraco que ninguém jamais havia ouvido antes, nem mesmo ele, até começar sua análise.
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Bruce Fink (Fundamentals of Psychoanalytic Technique: A Lacanian Approach for Practitioners)