Afonso Cruz Quotes

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Encheremos o mundo de coisas preciosas. Serão tantas que os homens passarão por elas julgando-as banais.
Afonso Cruz (Para Onde Vão Os Guarda-Chuvas)
Sabe, sargento, a loucura, quando dá a um grande número de pessoas, chama-se sociedade contemporânea. Quando dá a uma pessoa só, interna-se essa pessoa.
Afonso Cruz (Jesus Cristo Bebia Cerveja)
Quando acordaram de manhã, na mesma cama, ela disse-lhe que queria ter um passado com ele. Não era um futuro, que é uma coisa incerta, mas um passado, que é isso que têm dois velhos depois de passarem uma vida juntos. Quando disse que queria ter um passado com alguém, queria dizer tudo. Não desejava uma incerteza, mas a História, a verdade.
Afonso Cruz (Jesus Cristo Bebia Cerveja)
Tal como deve ser escrito o amor: a tinta permanente.
Afonso Cruz (A Boneca de Kokoschka)
Não é a falta de pessoas à nossa volta que faz a solidão. São as pessoas erradas.
Afonso Cruz (Para Onde Vão Os Guarda-Chuvas)
Para uns, a raiz é a parte invisível que permite a árvore crescer. Para mim, a raiz é a parte invisível que a impede de voar como os pássaros. Na verdade, uma árvore é um pássaro falhado.
Afonso Cruz (Os Livros Que Devoraram o Meu Pai)
Porque viver não tem nada a ver com isso que as pessoas fazem todos os dias, viver é precisamente o oposto, é aquilo que não fazemos todos os dias.
Afonso Cruz (Flores)
Pegou numa corda e pendurou-se numa figueira. Foi o mais estranho fruto daquela árvore.
Afonso Cruz (Jesus Cristo Bebia Cerveja)
As rugas são as cicatrizes das emoções que vamos tendo na vida.
Afonso Cruz (Vamos Comprar um Poeta)
Os livros encostados uns aos outros, numa prateleira, são universos paralelos!
Afonso Cruz (Os Livros Que Devoraram o Meu Pai)
A solidão deve ser a única emoção que não conseguimos partilhar, se o fizermos ela desaparece.
Afonso Cruz (Flores)
A sabedoria vem com a idade, com a velhice, e suspeito que nos come os órgãos, pois quando mais sabemos das coisas, mais o fígado se queixa, mais os rins têm insuficiência, mais o coração pára. A sabedoria come tudo.
Afonso Cruz (Jesus Cristo Bebia Cerveja)
Porque um homem é feito dessas histórias, não é de adê-énes e músculos e ossos. Histórias.
Afonso Cruz
‏كان سجنه داخل ذهنه.. ففي الذهن يكون الناس إما أحراراً أو سجناء.
Afonso Cruz (الكتب التي التهمت والدي)
إن الكتب التي تسند ظهورها إلى كتب أخرى فوق الرفوف عبارة عن عوالم متوازية!
Afonso Cruz (الكتب التي التهمت والدي)
Para onde vão os guarda-chuvas? São como as luvas, são como uma das peúgas que formam um par. Desaparecem e ninguém sabe para onde. Nunca ninguém encontra guarda-chuvas, mas toda a gente os perde. Para onde vão as nossas memórias, a nossa infância, os nossos guarda-chuvas?
Afonso Cruz (Para Onde Vão Os Guarda-Chuvas)
‏ كان شخصاً غريباً.. منعزلاً، قليل الكلام ويتأبط الكتب باستمرار، وكلما نطق بكلام أقتبسه من أحد الكُتاب!
Afonso Cruz (الكتب التي التهمت والدي)
Só somos felizes quando já não sentimos os sapatos nos pés.
Afonso Cruz (O Pintor Debaixo do Lava-Loiças)
Procura uma resposta, mas as respostas são perguntas mortas. São as perguntas que nos fazem mexer. As certezas fazem-nos parar. As perguntas são a porta da rua. Quando nos interrogamos, quando duvidamos das nossas paredes, é porque estamos a passar pela porta.
Afonso Cruz (Para Onde Vão Os Guarda-Chuvas)
As palavras dela vinham cheias de cabelos brancos, podia sentir que havia elas muita vida vivida.
Afonso Cruz (Os Livros Que Devoraram o Meu Pai)
E que para ninguém nos compreenda, inventaremos a religião.
Afonso Cruz (Para Onde Vão Os Guarda-Chuvas)
Porque nós somos feitos de histórias, não de a-dê-énes e códigos genéticos, nem de carne e músculos e pele e cérebros. É de histórias.
Afonso Cruz (Os Livros Que Devoraram o Meu Pai)
um bom livro deve ter mais do que uma pele, deve ser um prédio de vários andares. O rés-do-chão não serve à literatura. está muito bem para a construção civil, é cómodo para quem não gosta de subir as escadas, útil para quem não pode subir as escadas, mas para a literatura há que haver andares empilhados uns em cima dos outros. Escadarias e escadarias, letras abaixo, letras acima.
Afonso Cruz (Os Livros Que Devoraram o Meu Pai)
Os desenhos recortam-se com tesouras. A alma recorta-se com palavras.
Afonso Cruz (A Queda De Um Anjo)
- Posso continuar cristão? Fazal Elahi coçou a barba e condescendeu: - Podes, desde que sejas um bom muçulmano.
Afonso Cruz (Para Onde Vão Os Guarda-Chuvas)
Os pássaros ficavam encolhidos a um canto, tentando evitar olhar para aquela porta aberta, desviavam os olhos da liberdade, que é uma das portas mais assustadoras. Só se sentiam livres dentro de uma prisão.
Afonso Cruz (A Boneca de Kokoschka)
As nossas memórias nunca são verdadeiras ou absolutamente verdadeiras, são apenas uma interpretação. Existem outras, e ao longo dos anos vamos vendo o passado a uma luz diferente. As nossas memórias vão sendo vistas de diferentes perspectivas, conforme aquilo que aprendemos e conforme aquilo que sentimos no instante em que as relembramos.
Afonso Cruz (Os Livros Que Devoraram o Meu Pai)
Se é difícil de explicar, é porque não é verdade, a verdade é algo muito simples.
Afonso Cruz (Para Onde Vão Os Guarda-Chuvas)
É isso que fazemos às pessoas de quem gostamos, recortamo-las do resto do mundo.
Afonso Cruz (Para Onde Vão Os Guarda-Chuvas)
التجاعيد هي ندوب العواطف التي تجتاحنا في الحياة
Afonso Cruz (Vamos Comprar um Poeta)
A felicidade é quando nos esquecemos da infelicidade em que vivemos.
Afonso Cruz (O Pintor Debaixo do Lava-Loiças)
O coração de um homem não está apenas dentro do seu peito, está também dentro das pessoas que ama, dentro da família, dentro dos amigos. O seu sangue não corre apenas dentro do seu corpo.
Afonso Cruz
A paixão é o sentimento que contém tudo, por isso, quando um homem se apaixona, dentro dele está tudo. desde a coisa mais pequena à coisa maior, que muitas vezes são a mesma coisa.
Afonso Cruz (O Pintor Debaixo do Lava-Loiças)
Sabia que ali dentro, naquele sótão, estava tudo cheio de letras a fingirem-se de mortas, mas — sei muito bem — basta que passemos os olhos por elas para saltarem cheias de vida.
Afonso Cruz (Os Livros Que Devoraram o Meu Pai)
Numa sociedade, se houver espaço, nunca há conflito
Afonso Cruz (Jesus Cristo Bebia Cerveja)
ليست ذكرايتنا حقيقية البتة، أو لنقل إنها ليست حقيقية بشكل مطلق، بل هي مجرد تأويل.
Afonso Cruz (الكتب التي التهمت والدي)
«Creio que o guarda-chuva é uma excelente invenção. Repare: não é um objecto que evita a chuva individualmente. Não gosto dela, mas não acabo com ela, não a destruo. O guarda-chuva é uma filosofia que usamos no quotidiano. A água continua a cair nos campos, apenas evito que me estrague o penteado. É um objecto bondoso, que não magoa ninguém.» Não há muita coisa assim.
Afonso Cruz (Flores)
Mesmo os lugares mais rarefeitos, como o espaço sideral e a estupidez humana, são preenchidos por alguma coisa: luz, metais leves, preconceitos, partículas e subpartículas dos átomos, radiações, chavões e telenovelas.
Afonso Cruz (Jesus Cristo Bebia Cerveja)
Nachiketa Mudaliar costumava sentar-se num banco, à espera de ver passar o comboio. Mas não havia ali nenhuma linha de comboio.
Afonso Cruz (Para Onde Vão Os Guarda-Chuvas)
Um instinto maternal, sabe como é com as mulheres: queimamos os sutiãs, mas não nos livramos das mamas. Continuamos a sentir vontade de proteger os homens.
Afonso Cruz (A Boneca de Kokoschka)
‏ أحياناً، يكون اعتقال نشال أسهل من اعتقال شخص مسؤول عن موت آلاف الكائنات البشرية.. فالحقيقة أن الناس دائماً ما يصنعون من هؤلاء المجرمين أبطالاً.
Afonso Cruz (الكتب التي التهمت والدي)
Um homem possiu três estômagos: um na barriga, outro no peito e outro na cabeça. O da barriga, toda a gente sabe para que serve; o do peito mastiga a respiração, que é a nossa comida mais urgente. Uma pessoa morre sem ar muito mais depressa do que sem água e pão. E por fim, o estômago da cabeça que se alimenta de palavras e de letras. Os primeiros dois estômagos do homem alimentam-se através da boca e do nariz, aopasso que o terceiro estômago se alimenta principalmente através dos olhos e dos ouvidos, apesar de usar tudo o resto de um modo mais subtil.
Afonso Cruz (O Pintor Debaixo do Lava-Loiças)
Rosa nunca se sente única. Isso nunca lhe acontece na vida. Todos os seus momentos são minimizados com um "isso também já me aconteceu". A vida de Rosa é partilhada por todos e não tem nada de único. Todos os seres humanos são únicos, menos Rosa. Ela pertence a todos, como o pão da missa que se divide pela humanidade.
Afonso Cruz (Jesus Cristo Bebia Cerveja)
As mães são as fiéis depositárias da nossa infância, dos primeiros anos. As tuas memórias mais importantes, mais formadoras, não são tuas, são dela. E quando a tua mãe morrer, levará consigo a tua infância, perderás os primeiros anos da tua vida. Por isso, trata-a bem.
Afonso Cruz (Flores)
Os melhores beijos são invisíveis, são como um pintor debaixo do lava-loiças. é por isso que os namorados se escondem do mundo e fecham os olhos.
Afonso Cruz (O Pintor Debaixo do Lava-Loiças)
Continuei a ler compulsivamente e julgo que acabei por encontrar o meu pai. Não por ter lido um sótão inteiro (e mais, muito mais), mas por ter-me tornado pai eu próprio.
Afonso Cruz (Os Livros Que Devoraram o Meu Pai)
Gosta da música, que é a mesma coisa que ouvir geometria
Afonso Cruz (Jesus Cristo Bebia Cerveja)
57.Quanto menor é a alma de um homem mais espaço ela ocupa. Não há espaço para ninguém ao seu lado.
Afonso Cruz (Para Onde Vão Os Guarda-Chuvas)
cada homem é um universo, se não fosse não caberia tanto sofrimento dentro da cabeça de cada um.
Afonso Cruz (Flores)
عليّ أن أقطع أميالا لأنام
Afonso Cruz (Vamos Comprar um Poeta)
Atravessar a Rússia significa percorrer onze fusos horários. Quando numa ponta do país é de dia, na outra é de noite. A Rússia é com a alma humana. se tem um lado luminoso, é porque a outra ponta está no escuro. Somos todos feitos desta estranha mistura de fusos horários.
Afonso Cruz (Os Livros Que Devoraram o Meu Pai)
Um homem chega perto dum rio e diz admirar os peixes porque nadam felizes. O outro pergunta-lhe assim: «Se não és peixe, como sabes que os peixes estão felizes?» E o primeiro responde: «E se tu não és eu, como sabes que eu não sei se os peixes estão felizes?
Afonso Cruz (Os Livros Que Devoraram o Meu Pai)
-Com licença, general, o meu primo, todos os anos visita a cerejeira de Tal Azizi, que árvore bonita, que milagre. Deita-se debaixo dela, mas diz que aquela árvore é como toda a religião: só nos impede de ver o céu.
Afonso Cruz (Para Onde Vão Os Guarda-Chuvas)
Quando somos novos somos eternos e, em vez de envelhecermos, crescemos. Depois é que começamos a, em vez de crescer, envelhecer.
Afonso Cruz (A Queda De Um Anjo)
O universo, ao expandir-se, arrefece. Está continuamente a arrefecer, raios partam o universo.
Afonso Cruz (Jesus Cristo Bebia Cerveja)
O meu avô diz que a felicidade é uma péssima corredora e que é fácil fugirmos dela. E a tristeza?, perguntei. É uma excelente corredora, respondeu ele.
Afonso Cruz (O Livro Do Ano)
Basta saber que um bom livro deve ter mais do que uma pele, deve ser um prédio de vários andares. O rés-do-chão não serve à literatura.
Afonso Cruz (Os Livros Que Devoraram o Meu Pai)
‏ذلك أننا نتشكل من الحكايات، وليس من الجينات ورموزها، ولا حتى من اللحم والجلد والعضلات والمخ.
Afonso Cruz (الكتب التي التهمت والدي)
‏" فكل شيء (أصبح) يخضع للكثرة، نحن نعيش في مملكة الكم، محاطين بالأشياء كي ننسى أنفسنا وما يجري هنا بدواخلنا.
Afonso Cruz (الكتب التي التهمت والدي)
A raiva aproxima as caras, os corpos, as bocas. Tal como a paixão, que também é um sentimento feito de corda, que ata as pessoas umas às outras, e que nasce na língua como um veneno.
Afonso Cruz (Para Onde Vão Os Guarda-Chuvas)
Margarida atingira os seus cinco anos. Uma idade fácil para as crianças, é aquela idade em que basta mostrar a mão aberta para dizer há quanto tempo calcorreia este mundo inabitado por Deus.
Afonso Cruz (Jesus Cristo Bebia Cerveja)
Um equilíbrio absurdamente/moralmente/curiosamente/esteticamente desequilibrado.
Afonso Cruz (Para Onde Vão Os Guarda-Chuvas)
É na inutilidade que está o altruísmo e aquilo que o ser humano considera naturalmente mais nobre.
Afonso Cruz (Vamos Comprar um Poeta)
إنّ العالم بأسره يشدنا نحو الأسفل، لكن أيدي مَن يحبّوننا تدفعنا نحو الأعلى، دون كلل
Afonso Cruz (O Pintor Debaixo do Lava-Loiças)
كيف للبحر الكبير جداً أن تحويه نافذة صغيرة جداً؟
Afonso Cruz (Vamos Comprar um Poeta)
إنّه لَمصدر سعادة كبيرة لنا أن نرى العالَم كلّما نظرنا إليه وكأننا نراه للمرة الأولى
Afonso Cruz (O Pintor Debaixo do Lava-Loiças)
لا شيء أفضع من رؤية باطن الإنسان، سواء تشريحيًّا أو أخلاقيًّ
Afonso Cruz (O Pintor Debaixo do Lava-Loiças)
الموت لا يأخذ الشخص فحسب، بل يأخذ كذلك صُوَرَه التي يحتفظ بها الآخرون في ذاكرتهم. الموت لا يترك أثرًا
Afonso Cruz (O Pintor Debaixo do Lava-Loiças)
ليس الخوف من الموت أمرًا سيّئًا، بل السيّئُ هو الخوف من الحياة
Afonso Cruz (O Pintor Debaixo do Lava-Loiças)
هل ثمة أكثر غباوة من حبنا كائناً بشرياً؟
Afonso Cruz (الكتب التي التهمت والدي)
‏ما هو نقيض القُبلة؟ ليس فعل الانفجار كما قد نتوقع، بل هو رؤية من نحب يُقبل شخصاً آخر.
Afonso Cruz (الكتب التي التهمت والدي)
Todos os homens vivos estão mortos, como prova o esqueleto dentro deles.
Afonso Cruz (Para Onde Vão Os Guarda-Chuvas)
- Como não falas, ouves mais. Isso é que faz a sabedoria. Os homens deviam ser mudos até certa altura e depois rebentavam. Seria uma coisa ensurdecedora. Um homem a explodir toda a sabedoria que havia acumulado durante a vida.
Afonso Cruz (Para Onde Vão Os Guarda-Chuvas)
Diz o judaísmo que o inefável nome de Deus é composto por quatro letras. Que esse nome é um tabu, que impronunciável. Digo-vos que eles têm razão, e que isto é ciência da mais profunda. As letras que compõe o nome de Deus são quatro: A, T, C, G. Adenina, timina, citosina e guanina. É isso que faz o nosso código, um código gigante, uma palavra tão grande que é impronunciável.
Afonso Cruz (Jesus Cristo Bebia Cerveja)
–Sabe qual é a diferença, a diferença cientificamente exata, entre Camões e um português médio? Sors encolheu os ombros, mostrando que não fazia ideia. –Camões distingue-se do português médio por ter menos uma pala nos olhos – disse o homem.
Afonso Cruz (O Pintor Debaixo do Lava-Loiças)
Uma relação de duas pessoas converteu-se numa de três, numa coisa mais triangular. Só uma relação que consegue formar um polígono consegue sobreviver, pensava Borja. Quando assenta em dois pontos, não resiste ao tempo, é um segmento de recta muito frágil. É um pontinho a olhar para outro pontinho, não tem a solidez do triângulo e, muito menos, da circunferência. Parte-se como um palito.
Afonso Cruz (Jesus Cristo Bebia Cerveja)
Uma criança recém-nascida, julga-se infinita. Não sabe onde é que acaba, onde é que tem os seus limites. Depois, descobre os pés e fica fascinada. É um bebé que se depara com os seus limites: Ah, é então aqui que finda o meu corpo. E, aos poucos, o mundo vai-se tornando maior, porque a criança se vai tornando mais pequena: antes era tudo e agora não vá além dos pés. Vai-se contraindo. O ego vai-se arrepiando num pontinho e deixando espaço para que as coisas possam existir à sua volta. Surge o Eu e o Tu. A criança cria essa distância, e o melhor que se pode esperar é que essa distância mantenha alguma proximidade. Mas tudo isto faz parte do crescimento, tal como faz parte do encolhimento e da expansão do universo.
Afonso Cruz (Jesus Cristo Bebia Cerveja)
O tempo, nas relações, não anda necessariamente de trás para a frente, do passado para o futuro. É fácil verificar que uma mulher nova pode ser muito mais velhas do que um velho, e que um homem de idade impressionante pode ser uma criança. Nas relações, o tempo comporta-se de maneira diferente. O único relógio que mede o passar destes tempos são os sentimentos.
Afonso Cruz (Jesus Cristo Bebia Cerveja)
As memórias são as cinzas das palavras, são mais pesadas do que os pensamentos e acabam por se deixar cair pelo corpo adentro, cinzeiro abaixo. As memórias devem ser procuradas, não na cabeça encanecida, mas no corpo. As memórias enraízam-se nos ossos, na pele, nas rugas.
Afonso Cruz (Jesus Cristo Bebia Cerveja)
Os caminhos são mais longos - disse um dia Elahi - para quem está sozinho. (...) Os dias esticam e ficam mais longos, o relógio diz que não, mas, com licença, o que sabem os relógios da alma humana? Não sabem nada, Alá me perdoe. O tempo demora mais a passar, muito mais, é assim que se sofre. Quando se está feliz, esse mesmo tempo passar a correr, parece que vai atrasado para uma festa, mas, se vê uma lágrima, para e fica a ver o acidente, dá voltas à nossa desgraça e não anda para a frente como os relógios dizem que ele faz. (...) Disse Ali: Não é a falta de pessoas à nossa volta que faz a solidão. São as pessoas erradas.
Afonso Cruz (Para Onde Vão Os Guarda-Chuvas)
- Para ganhar uma guerra - disse Sors -, há duas condições: não morrer e não matar. é só nesse caso que se pode sair vitorioso de uma guerra.
Afonso Cruz (O Pintor Debaixo do Lava-Loiças)
A verdade tem muitas perspectivas. Se nos limitamos a uma, estamos muito próximo do erro absoluto.
Afonso Cruz
Até sempre, Sr. Dresner. Encontramo-nos no infinito como fazem as rectas paralelas.
Afonso Cruz (A Boneca de Kokoschka)
Sim, mas as palavras também crescem, como as árvores, e vão mudando de significado ao longo da vida, começam por querer dizer uma coisa e acabam por dizer outra. Ninguém quer manter-se igual para sempre e até as lagartas começam a voar, um dia.
Afonso Cruz (Assim, Mas Sem Ser Assim)
Enquanto a água se pode guardar em garrafas, as histórias não podem ser engarrafadas sem que se estraguem rapidamente.” Nós também não devemos engarrafar as histórias e, principalmente, não devemos engarrafar as suas histórias, por serem tão belas e por ficarem a fazer parte de nós como qualquer boa história deve ficar.
Afonso Cruz (O Pintor Debaixo do Lava-Loiças)
Nem imagina como fico triste de cada vez que oiço um baloiço a ranger. Quando vejo as crianças a subirem pelos ares, caio de joelhos sobre o meu passado. Para mim, um baloiço era um sinónimo de felicidade. Um motor, uma máquina de fazer sorrir. Mas, de repente, como todas as máquinas, deixou de trabalhar. O baloiço enferrujou e acabou por desaparecer do meu mundo, como acontece à felicidade.
Afonso Cruz (O Pintor Debaixo do Lava-Loiças)
Nele, um homem chamado Dante (que também é o seu autor) viaja até ao Purgatório e até ao Paraíso. Esta viagem acontece em plena Idade Média, altura em que este tipo de turismo ainda era mais ou meno vulgar.
Afonso Cruz (Os Livros Que Devoraram o Meu Pai)
لم يكن راسكولنيكوف يذوق طعم النوم. كان يلتف في الفراش، محموماً، ويتقلّب من جهة إلى أخرى وهو يتصبّب عرقاً، وحين يغفو تجتاحه الكوابيس. لقد عاش جحيماً لأن ضميره ظلّ يؤرّقه. لم يكن سجنه في سيبيريا وسط الأعمال الشاقة، كان سجنه الحقيقي داخل ذهنه. ففي الذهن يكون الناس إمّا أحراراً أو سُجناء.
Afonso Cruz (Os Livros Que Devoraram o Meu Pai)
A sabedoria vem com a idade, com a velhice, e suspeito que nos como os órgãos, pois quanto mais sabemos das coisas, mais o fígado se queixa, mais os rins têm insuficiência, mais o coração pára. A sabedoria come tudo.
Afonso Cruz (Jesus Cristo Bebia Cerveja)
A vida das pessoas acaba assim e Matilde nem sequer tem consciência de que morreu uma das suas mortes. De cada vez que deixamos de ser percebidos, morremos. Quando somos enterrados deixamos de ser percebidos por toda a gente, mas quando os outros já não olham para nós, ficaram condenados para um número limitado de pessoas, a uma morte em tudo idêntica à outra. A nossa morte não acontece quando somos enterrados, acontece continuamente: os dentes caem, os joelhos solidificam, a pele engelha-se, os amigos partem. Tudo isso é a morte. O momento final é apenas isso, um momento.
Afonso Cruz (Jesus Cristo Bebia Cerveja)
é esse, aliás, o problema da liberdade: se é muita, tudo pode ser tudo, não há limites para nada, não há obstáculos, e o aborrecimento instala-se. [as fronteiras] fazem com que não percamos a nossa identidade. A liberdade é o maior inimigo da identidade e uma pessoa tem de arranjar um equilíbrio entre ambas.
Afonso Cruz (O Pintor Debaixo do Lava-Loiças)
O teu avô pisava as uvas para fazer vinho, não era? Quando se chega a esta idade somos uma uvas, pisadas a vida inteira. Um dia, Nosso Senhor transformar-nos-á em vinho. Sofremos tanto que já só podemos ressuscitar, já não nos sobra mais nada.
Afonso Cruz (Jesus Cristo Bebia Cerveja)
Morremos todos agarrados ao coração. Já vi muita gente morrer e sei o que digo. Morremos dezenas de vezes no momento fatídico, morremos por não termos dado um beijo a um filho, por não termos perdoado um irmão. Uma pessoa cai ao chão fulminada por um raio e morre estas mortes todas, morre por não ter dado a mão a um amigo, morre por ter espancado uma mulher, por ter insultado a mãe. Morremos todos assim, várias mortes enfiadas numa só morte, agarrados ao coração.
Afonso Cruz (Flores)
É no ácido desoxirribonucleico que devem procurar os vossos segredos. O homem é que é um Deus e no centro do universo tem um ácido impronunciável que, na verdade, é a abreviatura de uma das palavras mais longas do mundo, o nosso próprio nome, um código feito com quatro blocos, quatro letras, e que nos define enquanto persona, que nos caracteriza o Eu. O nosso Deus abscôndito não passa de um ácido.
Afonso Cruz (Jesus Cristo Bebia Cerveja)
Os governos não sabem que as pessoas existem, de tão em cima que estão. Falam do povo, mas é uma entidade abstrata, tal como nós falamos de Deus. Ninguém, lá do alto da governação, sabe se o povo realmente existe, é uma questão de fé. Chega-se até a descrever as suas caraterísticas e a temê-lo, mas nunca ninguém o viu, senão uns místicos que chegaram ao nosso nível e que acabam descredibilizados e ridicularizados. O místico diz que o povo sofre e que é preciso mais justiça e que cada pessoa tem uma vida e não são uma Unidade, mas que são, isso sim, pessoas realmente separadas umas das outras, com existência própria. Ele, como um profeta do fim dos tempos, avisa os seus congéneres de que o povo pode ser perigoso e pode derrubar coisas muito altas. É preciso não esquecer, diz ele com o dedo esticado para baixo, que, por mais alta que seja uma árvore, o seu tronco mantém-se ao alcance de um machado. Mas ninguém dá ouvidos ao místico e a sua carreira política termina imediatamente e de forma ultrajante.
Afonso Cruz (O Pintor Debaixo do Lava-Loiças)
- Ari, quando o vejo, lá no escuro (abro sempre uma fresta nos cortinados para espreitar), é uma luz na minha vida. - É da lanterna... - A sua lanterna ilumina-me a vida. - É muito simpática. Eu nem mereço, só aponto a lanterna para o lugar... - Só aponta a lanterna? Quem dera que na nossa vida houvesse um arrumador como o Ari, a apontar a lanterna para o lugar a que nos deveríamos dirigir, a iluminar o nosso caminho. Mas não, não temos ninguém. A minha mãe, que Deus a tenha, esperava isso do Senhor Jesus, mas nunca lhe vi a lanterna nem o vi arrumar coisa nenhuma.
Afonso Cruz (Jesus Cristo Bebia Cerveja)
- Acho que a conheço de algum lado. Tenho essa sensação. - Claro - disse ela, farta de ouvir aquilo. Mas quando olhou para ele, sentiu a mesma coisa. - Vou tocar agora - informou Korda, apontando para o palco com o polegar. - É músico? - Sou. Quer que toque alguma coisa especial? - Poderia tocar uma música chamada Tears? - Do Django? Claro. Gosta dessa música? - Para ser sincera, não a conheço. Mas sinto que devo forçar o destino.
Afonso Cruz (A Boneca de Kokoschka)
Melhoramos uma religião se o altar voltar a ser a mesa da refeição, tal como aconteceu na sua génese. Partilhar o pão para que, podendo todos ver a suas necessidades básicas cumpridas, se possam dedicar a encontrar Deus. Há dois tipos de Deus: o que nasce de barriga vazia, terroso, carnal, necessário para criar uma sensação de amparo e justiça num mundo em que não há nada disso. O segundo é um luxo, fruto de elucubrações. Não precisamos dele, mas ainda assim fazemo-lo existir. É feito de argumentos. Nasce de barrigas cheias. No primeiro acreditamos com o corpo, com o fígado, com o estômago, com os rins e com o sangue. No segundo acreditamos com a cabeça.
Afonso Cruz (Jesus Cristo Bebia Cerveja)
A felicidade sempre foi um negócio e uma obsessão. Os filósofos, desde que que existem, tentam mostrar-nos o caminho. Assim como os padres. E os monges. E os ditadores. E os samanas. E os gimnosofistas. E os cientistas. E os nossos pais. Toda a gente quer encontrar a felicidade e, não sendo eles próprios felizes, pretendem enfiar a beatitude que não conquistaram pela goela dos outros. Quer um copo de água para empurrar? Pegam em discursos, em actos, em ramos de flores, em educação, em dinheiro, em poemas e canções e servem-nos o caminho para a felicidade. Educam-nos com histórias que terminam com o singelo "foram felizes para sempre". E não me refiro só à Bíblia, mas também aos contos de fadas e de príncipes e princesas. E a obsessão é tão grande que até aos aleijados como eu lhes é servida a esperança: o fantasma da ópera, o corcunda de Notre-Dame, Cyrano de Bergerac, a Bela e o Monstro, Pinóquio, o sapo. Haja esperança para todos, incluindo batráquios que se tornam proeminentes membros da monarquia e se casam e, como quem se constipa, ficam com aquela doença do peito, o amor eterno. Nesse processo, há dor e alegria, mas não o estado de euforia permanente. As pessoas felizes não são as pessoas que vivem a abanar a cauda. As pessoas felizes choram e temem e caem e magoam-se e gritam e esfolam os joelhos, porque a sua felicidade independe da roda da fortuna, do acaso, das circunstâncias.
Afonso Cruz (Princípio de Karenina (Geografias, #1))
Há dois tipos de Deus: o que nasce da barriga vazia e o que nasce da barriga cheia. O primeiro é vazio, terroso, carnal, necessário para criar uma sensação de amparo e justiça num mundo em que não há nada disso. O segundo é um luxo, fruto de elucubrações. Não precisamos dele, mas ainda assim fazemo-lo existir. É feito de argumentos. Nasce de barrigas cheias. No primeiro, acreditamos com o corpo, com o fígado, com o estômago, com os rins e com o sangue. No segundo acreditamos com a cabeça. O primeiro tem mãos, unhas encardidas, barbas e relâmpagos no voz. O segundo não tem forma, nem corpo, nem nome.
Afonso Cruz (Jesus Cristo Bebia Cerveja)